O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva apresenta seu indicado ao ministério da Fazenda, Fernando Haddad, no CCBB, sede do governo de transição - Pedro Ladeira/Folhapress

Lula assume com economia fraca, incerteza sobre inflação e recuperação menor do emprego

Folha de São Paulo*

Um cenário econômico que analistas costumam chamar de desafiador aguarda o novo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.

Para o próximo ano, as projeções indicam um crescimento menor do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, que tende a desacelerar devido a uma combinação de fatores.

Juros altos, perda de ritmo da economia mundial, fim do estímulo da reabertura após as restrições na pandemia e endividamento das famílias fazem parte dessa lista.

Com o possível freio do PIB, a expectativa é de um desempenho morno para o mercado de trabalho, enquanto as previsões sinalizam inflação ainda pressionada no país.

É claro que esse cenário pode mudar —para melhor ou pior— a partir das decisões do próximo governo. Por ora, analistas aguardam mais sinalizações sobre a política econômica de Lula e suas diretrizes na área fiscal.

O temor de elevação de gastos durante a gestão petista já provocou ruídos no mercado financeiro e segue como motivo de alerta para parte dos economistas.

Outro ponto de atenção é o cenário externo, especialmente em relação ao rumo da política monetária nos EUA.

"O cenário para 2023 é de crescimento mais baixo do que neste ano", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. A MB projeta avanço de 0,5% para o PIB do próximo ano, após previsão de alta de 3% em 2022.

O especialista menciona que a agropecuária tende a colher uma "safra excelente" em 2023, mas o campo, sozinho, não deve garantir um avanço mais expressivo para a atividade econômica.

Com isso, a taxa de desemprego deve ficar "mais estabilizada", segundo o economista, após o ciclo de queda que levou o indicador a 8,3% no trimestre até outubro, o mais recente com dados disponíveis.

"O que traz a taxa de desemprego para baixo é o crescimento econômico. Então, é provável que ela fique rondando 8% ou 9%."

O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, projeta taxa de desocupação entre 9% e 10% no próximo ano, com uma alta "gradual", e "não abrupta".

Mercadante também aponta que o efeito defasado dos juros elevados deve frear a atividade econômica em 2023.

A Rio Bravo estima avanço de 0,7% para o PIB no próximo ano, mas não descarta um aumento de até 1%, após uma alta prevista de 3,1% em 2022.

"A atividade econômica vai crescer, mas bem menos do que neste ano, principalmente pelo efeito da política monetária", afirma.

"Tem outros pontos que merecem destaque, como o bom desempenho da agropecuária. A safra de grãos vai ser muito boa no ano que vem. A gente também deve ter alguma resiliência do mercado de trabalho. O rendimento, que ficou mais alto, deve ter impacto na atividade", diz.

O C6 Bank prevê um resultado mais baixo para o PIB de 2023. A estimativa do banco é de estagnação da atividade econômica, com o indicador marcando 0%, após avanço de 2,8% em 2022.

"A gente já vê sinais de desaceleração", aponta a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

Ela avalia que a provável perda de fôlego pode ser atribuída a pelo menos três fatores: o fim do processo de reabertura da economia, a desaceleração global e o impacto dos juros altos.

O C6 Bank também projeta que a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechará o próximo ano em 5,9%, depois dos efeitos dos cortes tributários que devem levar o indicador para 5,6% em 2022.

Assim, 2023 marcaria o terceiro ano consecutivo de estouro da meta de inflação no país. "É um quadro de preços ainda pressionados", diz Moreno.

A Rio Bravo, por sua vez, prevê IPCA de 5,2% em 2023, depois de avanço de 6% estimado para 2022. A MB Associados projeta inflação de 5,3% no próximo ano, após alta de 6% em 2022.

Para esfriar a economia e tentar conter o aumento dos preços no país, o BC (Banco Central) elevou os juros básicos (Selic) a 13,75% ao ano. Analistas avaliam que a taxa só deve começar a cair a partir de meados de 2023.

O que pode atrasar o início dos cortes, diz Sergio Vale, da MB, é o risco fiscal. "O ponto-chave é entender qual será a regra fiscal a ser criada no primeiro semestre do ano que vem."

José Pena, economista-chefe da Porto Asset Management, está com uma projeção de crescimento mais otimista para 2023, de 1%, mas afirma que o número tende a ser revisto para baixo em breve. Essa possível revisão se deve a um nível de incerteza maior, no cenário interno e externo, em relação ao que se esperava há um ou dois meses.

O quadro atual é de risco de aumento das expectativas de inflação, com indicações de crescimento do gasto público para sustentar uma demanda que ainda é relativamente forte, em meio a uma baixa ociosidade, o que posterga o cenário de corte de juros.

O que pode ajudar a manter viva a expectativa de redução da taxa básica Selic em um futuro não tão distante seria uma reversão do ciclo de alta de juros no exterior, especialmente nos EUA, e a continuidade do processo de normalização das cadeias globais de suprimento.

"Se começar a se materializar uma perspectiva de que o Fed [banco central dos EUA] está prestes a acabar seu ciclo de alta, isso vai nos ajudar. Se o Fed surpreender com uma alta maior, isso vai punir ainda mais os ativos de risco mundo afora, os brasileiros entre eles", afirma Pena.

Texto publicado originalmente na Folha de São Paulo.


Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, veio ao Brasil no início de dezembro para se reunir com Lula - Ricardo Stuckert

Agenda externa de Lula mira retomada de protagonismo e diálogo nivelado com potências

Alex Mirkhan*, Brasil de Fato

Com as primeiras viagens internacionais já definidas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já iniciou sua missão de reconstruir a imagem internacional do Brasil, profundamente arranhada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Na opinião de especialistas, embora acumule prestígio e amizades estrangeiras após dois mandatos bem sucedidos na agenda externa, o presidente eleito precisará se equilibrar sobre um novo tabuleiro geopolítico.

A cerimônia de posse presidencial, em 1o de janeiro, terá a presença de pelo menos 17 chefes de Estado, um número recorde e simbólico. Mas é durante viagens ao exterior que Lula costuma atrair holofotes e alianças estratégicas, como fez em novembro. Já eleito presidente, participou da 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27, no Egito, e visitou o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa.

A primeira viagem após eleito será à vizinha Argentina, onde o petista se encontrará com o aliado Alberto Fernández, após presenciar a reunião da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Ainda no primeiro trimestre, os destinos confirmados são as duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e China. Compromissos considerados indispensáveis.

“O Brasil tem relações comerciais mais fortes com a China, relações históricas com os EUA, que se consolidaram ao longo do século XX, e com a Argentina, o nosso parceiro mais próximo. São relações estruturais, a mudança de governo não muda muito isso. A diferença será a qualidade dessas relações com esses três em especial”, projeta Vinícius Müller, professor de história econômica na ESEG (Escola Superior de Engenharia e Gestão).

Para James Onnig, professor do Laboratório de Pesquisas em Relações Internacionais da Faculdade de Campinas (Facamp), os primeiros compromissos do próximo presidente indicam sua intenção de reativar fóruns regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a própria Celac. “É praticamente a volta do Brasil à cena. Essa reunião de Lula dia 24 de janeiro em Buenos Aires é a nova entrada do Brasil ao jogo internacional. Como se disséssemos ‘voltamos à mesa’”, comenta.

“Reputação leva anos para construir, mas é fácil de perder”

Mais do que surfar no carisma internacional de que desfruta Lula, que já foi chamado de “o cara” pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, há um plano de longa duração. Sob as batutas de de Vieira e Maria Laura da Rocha — que será a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária-geral do Itamaraty — o objetivo é retomar a tradição secular da política externa brasileira e cultivada por diplomatas egressos do Instituto Rio Branco.

Uma agenda pautada na defesa da igualdade jurídica entre as nações, perspectiva inaugurada por Rui Barbosa em seu discurso na segunda Conferência de Haia, em 1907. É o que aponta Antônio Jorge Ramalho da Rocha, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que acredita na continuidade da desconfiança do mundo perante ao Brasil.

“A minha impressão é que não se pode criar expectativa demais, porque a agenda interna vai ser muito difícil também. O presidente não terá a mesma disponibilidade nem energia para se dedicar aos assuntos internacionais que teve nos seus primeiros mandatos”, pondera Rocha.

:: "Nosso isolamento é consequência das escolhas políticas do governo", diz pesquisador:: 

Na sua avaliação, o Brasil abriu mão do seu papel no ambiente internacional de forma arbitrária pelo governo Bolsonaro. Além do esvaziamento da diplomacia e da agenda externa, o atual presidente que ainda não reconheceu a derrota eleitoral também destilou ofensas pessoais contra a esposa do presidente francês Emmanuel Macron, contra a ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet, além de enviar sinais trocados na esfera ambiental, especialmente no que tange a preservação da Amazônia.
 
“Ninguém se esquece do discurso do chanceler (Ernesto) Araújo em que ele negou uma série de prioridades da política externa brasileira, mas nunca foi capaz de dizer o que queria colocar no lugar. Desde então, a atual gestão do chanceler Carlos França aparenta tentar apenas conter danos e imprimir alguma fachada de normalidade a uma política externa que já foi muito respeitada no mundo”, acrescenta. Só restariam a Bolsonaro fazer alianças com poucos expoentes da extrema-direita mundial, como Hungria, Polônia e os Estados Unidos, enquanto Donald Trump ocupava a presidência.

Para Onnig, seria lógico Lula buscar o apoio de outros países em desenvolvimento, como os sul-americanos, a partir do Mercosul, somados ao de Rússia, Índia, China e África do Sul, que compõem o BRICS. Assim, faria parte de um movimento, talvez com papel de protagonista, que poderia aos poucos reequilibrar a conjuntura geopolítica, reduzindo o poder exercido pelos países membros do Conselho de Segurança da ONU—- Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China.

Rocha, por sua vez, identifica um novo momento histórico, que estaria ocorrendo desde meados da década passada. “Estamos vendo esse processo chamado de desglobalização, em que há uma diminuição da intensidade das trocas das economias e sociedades. Há uma ausência de uma governança adequada. Então o Brasil teria aí uma grande oportunidade e tem competência diplomática para fazer, historicamente. É isso que se espera de um país como o Brasil, como ele fez na OMC (Organização Mundial do Comércio)”, identifica Rocha.

Mesmo assim, na avaliação de Müller, seria temerário retomar a política de investimentos em países estratégicos ou considerados amigos, especialmente na América Latina e na África. O historiador alerta que esse tipo de política externa “com contornos imperialistas” poderia estimular a oposição à medida que o Brasil enviasse recursos via BNDES para países com “proximidade ideológica” ou que “não sejam muito zelosos com os preceitos democráticos”.

Brasil poderá intermediar conflitos e selar acordos

A nova relação com os Estados Unidos que já começou a ser costurada com Joe Biden. No último dia 5, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, se reuniu com Lula no hotel em que está hospedado em Brasília. Dentre os temas de maior destaque, está a possível aproximação norte-americana com a Venezuela de Nicolás Maduro, ancorada na necessidade do comércio de petróleo. 

Lula terá a oportunidade de intermediar essa reaproximação e ajudar a enterrar de vez o reconhecimento que fora dado a Juan Guaidó como presidente interino do país latino. Também é de interesse em comum do futuro governo brasileiro e de Biden fortalecer as instituições que regem suas democracias e, principalmente, liderar uma agenda ambiental e preocupada com o aquecimento global.

“Eu acho que o Lula vai chegar em Washington com a seguinte bandeira: nós vamos ter que trazer a COP-30 para o Brasil. Se nós queremos realmente discutir as questões ambientais, nós vamos estar no topo dessa discussão, não só pela biodiversidade, mas pela capacidade que temos de oferecer ao mundo soluções minimamente condizentes com a biodiversidade”, conjectura Onnig, mencionando o etanol brasileiro como exemplo, além de outras parcerias na transição energética que se avizinha.

:: Quem é Mauro Vieira? Conheça perfil do próximo Ministro das Relações Exteriores do Brasil ::

No entanto, há de se considerar um panorama mais amplo, incluindo as preferências e caminhos traçados pela China. Para Müller, o gigante asiático tende a ser refratário a esse tipo de discurso sob o argumento de “não fazer sentido pagar a conta da poluição gerada pelo Ocidente”, tornando-se um possível foco de tensão.

Mesmo assim, o historiador considera que Lula tem “tudo na mão” para formular um plano que insira o Brasil em um debate de alto nível. “Para isso, ele vai ter que se entender internamente com o agronegócio na questão ambiental, e externamente escapar dessas questões que podem afastar da China e da posição protecionista europeia, que é o fundamento da dificuldade no acordo Mercosul-União Europeia”, aponta.

O Brasil também pode sofrer pressões para abandonar sua neutralidade no longevo conflito entre Rússia e Ucrânia, especialmente por parte dos países membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Onnig discorre sobre a complexidade do tema e a solução que prevista a curto prazo.

“De um lado existem forças perigosas dentro da Ucrânia, e de outro há contestações muito sérias ao governo Putin. Porém, sabemos que a Rússia é nossa parceira dentro do BRICS e isso gera uma saia justa. Portanto, o Itamaraty deve manter sua neutralidade propositiva. Nós não vamos interferir na situação que está acontecendo, mas que devemos buscar a paz imediata. O Brasil deve buscar essa solução”, afirma Onnig.

Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.


© OMM/Bosko Hrgic Embora 2022 não tenha quebrado recordes globais de temperatura, houve vários recordes nacionais de calor em muitas partes do mundo

Alterações no clima este ano mostram necessidade de mais ações em 2023

ONU News*

Este ano, os impactos da mudança climática induzida pelos seres humanos se intensificaram. Desastres climáticos como inundações extremas, calor e seca afetaram milhões de pessoas e custaram bilhões de dólares.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, OMM, esses fenômenos mostram claramente a necessidade de se fazer muito mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além de fortalecer a adaptação às mudanças climáticas, por meio do acesso universal a alertas precoces.

Recorde de calor

A agência da ONU destaca que os últimos oito anos podem se converter nos mais quentes já registrados. Os números da temperatura global em 2022 serão divulgados em meados de janeiro.

Devido ao La Niña, agora em seu terceiro ano, 2022 não será o mais quente. Mas esse impacto de resfriamento será de curta duração e não reverterá a tendência de aquecimento de longo prazo causada por níveis recordes de gases de efeito estufa que retêm o calor na atmosfera.

Este será o décimo ano consecutivo em que as temperaturas atingiram pelo menos 1°C acima dos níveis pré-industriais. A probabilidade de, temporariamente, quebrar o limite de 1,5°C do Acordo de Paris está aumentando com o tempo.

Para 2023, a previsão é que a temperatura global fique entre 1,08 °C e 1,32 °C, acima da média do período pré-industrial.

Paquistão, China, Europa, Américas e África

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, citou os desastres climáticos deste ano que destruíram vidas, infraestruturas e meios de subsistência como a inundação do Paquistão, as ondas de calor recorde na China, Europa, América do Norte e América do Sul, e a longa seca no Chifre da África que corre o risco de virar uma catástrofe humanitária.

Taalas ressaltou a necessidade de aumentar a preparação para esses eventos extremos e alcançar a meta da ONU de alertas prévios para todos nos próximos cinco anos.

Prioridades para o próximo ano

Além dos alertas, entre as prioridades para 2023, há um aumento do investimento no sistema básico de observação global e construção de resiliência a climas e climas extremos.

A OMM também vai promover uma nova maneira de monitorar fontes de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Isso permite uma melhor compreensão do comportamento dos principais gases de efeito estufa na atmosfera.

Derretimento de geleiras e aumento do nível do mar

Os níveis recordes dos gases de efeito estufa são apenas um dos indicadores climáticos. Nível do mar, conteúdo de calor oceânico e acidificação também estão na lista. A taxa de aumento do nível do mar dobrou desde 1993, aumentando quase 10 mm desde janeiro de 2020, atingindo um novo recorde este ano.

Somente os últimos dois anos e meio representam 10% do aumento geral do nível do mar desde que as medições por satélite começaram há quase três décadas.

E 2022 teve um impacto excepcionalmente pesado nas geleiras dos Alpes europeus, com indicações iniciais de derretimento recorde. A camada de gelo da Groenlândia perdeu massa pelo 26º ano consecutivo e choveu, em vez de nevar, no cume pela primeira vez em setembro.

Um ano seco e quente

Embora 2022 não tenha quebrado recordes globais de temperatura, houve vários recordes nacionais de calor em muitas partes do mundo.

Grandes partes do Hemisfério Norte estiveram excepcionalmente quentes e secas. A Índia e o Paquistão registraram calor recorde em março e abril. A China teve a onda de calor mais extensa e duradoura desde o início dos registros nacionais e o segundo verão mais seco já registrado.

Grandes partes da Europa tiveram repetidos episódios de calor extremo. O Reino Unido notificou um novo recorde nacional em 19 de julho, quando a temperatura ultrapassou os 40°C pela primeira vez. Isso foi acompanhado por secas e incêndios florestais persistentes e prejudiciais. Portugal foi um dos países afetados, especialmente no norte.

Chuvas fora do normal

Na África Oriental, a precipitação tem estado abaixo da média em quatro estações chuvosas consecutivas, a mais longa em 40 anos, desencadeando uma grande crise humanitária que afeta milhões de pessoas, devastando a agricultura e matando o gado, especialmente na Etiópia, no Quênia e na Somália.

A chuva recorde em julho e agosto levou a grandes inundações no Paquistão. Houve pelo menos 1,7 mil mortes e 33 milhões de pessoas afetadas. 7,9 milhões de pessoas foram deslocadas.

A inundação ocorreu logo após uma onda de calor extrema em março e abril na Índia e no Paquistão.

Uma grande área na parte centro-norte da Argentina, e também no sul da Bolívia, no centro do Chile e na maior parte do Paraguai e Uruguai, experimentou temperaturas recordes durante duas ondas de calor consecutivas no final de novembro e início de dezembro de 2022.

Texto publicado originalmente no portal da ONU News.


Nova legislatura, que terá início em fevereiro, terá várias pautas bolsonaristas para debater. Foto Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Deputados bolsonaristas deixam 72 projetos de lei ideológicos em tramitação

O ano de 2022 termina sem que os deputados federais da tropa de choque bolsonarista tenham conseguido transformar em leis as principais pautas ideológicas protocoladas na atual legislatura. Porém, levantamento feito pela Lupa mostra que ao menos 72 projetos polêmicos seguem em tramitação. As iniciativas incluem desde medidas que flexibilizam requisitos para aquisição de armas de fogo até a destituição de Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira. 

Inviabilizar o combate à desinformação também está no radar. O deputado federal Nelson Barbudo (PL-MT) protocolou o Projeto de Lei (PL) nº 127/2021, que obriga verificadores de fatos a notificar o responsável pelo conteúdo classificado como falso ou parcialmente falso e dá prazo de cinco dias úteis para manifestação antes de a checagem ser divulgada (página 2 da proposta).

Caso o verificador não cumpra a legislação, poderá receber advertência, multa de até 10% do faturamento, suspensão temporária e proibição do exercício da atividade. O projeto foi apensado (juntado) ao PL nº 283/2020, que por sua vez foi apensado ao PL nº 2.712/2015 e ao PL nº 1.676/2015 para, enfim, ser juntado ao PL nº 2.630/2020 (institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet), de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Hoje, a proposta aguarda criação de Comissão Especial pela Mesa Diretora.

Limitar a luta contra a desinformação é apenas uma das pautas mais polêmicas. Chama atenção o PL nº 232/2021, de autoria de Carla Zambelli (PL-SP) e Major Fabiana (PL-RJ), que obriga a apresentação de Boletim de Ocorrência com exame de corpo de delito positivo que ateste a veracidade de estupro para realização de aborto decorrente de violência sexual. A iniciativa foi apensada ao PL nº 6.022/2013 e aguarda parecer do relator na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.

Destaque também para projeto de Daniel Silveira (PTB-RJ) que obriga a realização de exame toxicológico periódico de ocupantes de cargos na administração pública; proposta de Bibo Nunes (PL-RS) que proíbe a cassação da autorização ao porte de armas para quem for acusado de infrações e crimes ambientais; e iniciativa de Otoni de Paula (MDB-RJ) que proíbe a participação de atletas transsexuais em eventos esportivos no país.

A pandemia da Covid-19 é um dos assuntos que mais mobilizaram os deputados federais bolsonaristas. Daniel Silveira, por exemplo, protocolou uma proposta que torna facultativa a vacinação para crianças e adolescentes, Caroline de Toni (PL-SC) apresentou projeto que veda a exigência de passaporte vacinal contra o novo coronavírus, e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) propõe anistia às multas aplicadas a todos estabelecimentos comerciais que foram classificados como essenciais ou não essenciais. 

Há ainda a intenção de mudar a forma como ocorrem as eleições. Caroline de Toni defende a extinção da reserva mínima de 30% das vagas para candidaturas mulheres; enquanto Sanderson (PL-RS), General Girão (PL-RN) e outros parlamentares pretendem vedar a divulgação de pesquisas eleitorais no período de 15 dias antes do pleito.

Extirpar Paulo Freire da condição de Patrono da Educação Brasileira é outro projeto de Caroline de Toni. A mesma parlamentar deseja inscrever o nome de Olavo de Carvalho no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Curiosamente, Bia Kicis (PL-DF) também protocolou a mesma proposta. Ambos foram apensados ao PL nº 90/2022, de Zambelli, que apresentou a iniciativa antes de suas colegas.

Para entender o legado que o bolsonarismo deixará para o país, a Lupa analisou os projetos de lei protocolados por alguns dos nomes mais conhecidos do grupo na Câmara dos Deputados, que incluiu Soraya Manato (PTB-ES), Filipe Barros (PL-PR), Chris Tonietto (PL-RJ), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), entre outros. 

As propostas foram organizadas em temas, como, por exemplo: Covid-19, STF, armas de fogo, internet, educação, comunismo e nazismo, questões de gênero e bandeira nacional. Para essa reportagem, foram selecionados apenas os projetos que seguem em tramitação e que são identificados como pautas que estão no radar do bolsonarismo, como aborto, liberdade de expressão, eleições, entre outros. 

Chama atenção o fato de que pouquíssimas propostas do grupo foram aprovadas na Casa. Helio Lopes (PL-RJ), por exemplo, protocolou 96 projetos de lei nos últimos quatro anos e teve apenas dois aprovados na Câmara, que não possuem relação com pautas defendidas pelo bolsonarismo. É o caso do PL nº 805/2019, que cria o Ranking Nacional Esportivo das Instituições de Ensino Superior Brasileiras, e o PL nº 4.626/2020 (possui coautoria de outros parlamentares), que estabelece penas maiores para casos de abandono de incapaz. Ambos aguardam apreciação do Senado.

A maioria das pautas ideológicas foi apensada em outras propostas ou está parada em alguma comissão. Ou seja, os textos devem ser debatidos pela próxima legislatura, que inicia em fevereiro de 2023. Abaixo, confira alguns desses projetos bolsonaristas que podem se tornar leis.

Comunismo e nazismo

PL 4.425/2020
Altera a redação da Lei nº 7.170/1983 e da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), criminalizando a apologia ao nazismo e comunismo
Autor: Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
Situação: Aguarda despacho do presidente da Câmara dos Deputados

PL 254/2022
Prevê o crime de falsa acusação de nazismo.
Autores: Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Bibo Nunes (PL-RS) e outros
Situação: Aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)

PL 4.159/2020
Equipara o tratamento jurídico dispensado aos regimes totalitários nacional-socialistas (nazistas) e comunistas em território nacional, vedando sua apologia e propaganda.
Autores: Carla Zambelli (PL-SP), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Carlos Jordy (PL-RJ) e outros
Situação: Aguarda despacho do presidente da Câmara dos Deputados

PL 5.233/2019
Institui o Dia Nacional em memória das vítimas do Comunismo no Brasil.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 4.762/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Cultura)

Antifascistas

PL 3.019/2020
Tipifica os grupos “antifas” (antifascistas) como organizações terroristas.
Autores: Daniel Silveira (PTB-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP)
Situação: Apensado ao PL 5.065/2016 e PL 149/2003 (aguardando designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

Exigência de exame toxicológico

PL 2.934/2020
Obriga a realização de exame toxicológico periódico dos ocupantes de cargos, empregos e funções públicas, membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 543/2019PL 6.791/2017PL 5.903/2016 e PL 5.431/2016 (aguarda parecer do relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público)

Armas de fogo

PL 2.126/2022
Altera a Lei nº 10.826/2003 para autorizar o porte de arma de fogo para as mulheres sob medida protetiva decretada por ordem judicial ou sob qualquer ação ou omissão baseada no sexo que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Autor: Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
Situação: Apensado ao PL 2.747/2021 e PL 6.278/2019 (pronta para pauta na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher)

PL 2.852/2021
Permite o livre porte de arma de fogo para integrantes das entidades de desporto, caçadores e colecionadores de armas de fogo.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 909/2021PL 481/2021PL 1.019/2019PL 986/2015 e PL 3.722/2012 (pronto para entrar na pauta de votações no Plenário)

PL 5.305/2019
Proíbe a cassação da autorização de porte e de posse de armamento para quem for acusado de infrações ambientais ou crimes ambientais.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 7.301/2014PL 5.604/2009PL 5.041/2005PL 3.941/2004PL 9.433/2017 (aguarda parecer do relator na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado) 

PL 2.080/2019
Permite a posse e o porte de armas de fogo legalmente registradas em veículos de passeio ou comerciais
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 771/2015 e PL 3.722/2012 (pronto para pauta no Plenário)

PL 2.842/2022
Autoriza a doação de armas de fogo utilizada durante o serviço ativo, aos integrantes das polícias federal e rodoviária federal, civis e militares das unidades federativas, polícia penal e guardas municipais, quando passarem para a inatividade
Autor: Sargento Fahur (PSD-PR)
Situação: Apensado ao PL 339/2020PL 1.920/2015PL 591/2015PL 6.970/2013PL 3.722/2012 (pronto para pauta no Plenário)

PL 3.213/2020
Inclui entre os direitos dos advogados a aquisição e o porte de armas de fogo para defesa pessoal, em todo o território nacional.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 343/2019PL 7.282/2014PL 6.970/2013 e PL 3.722/2012 (pronto para pauta no Plenário)

PL 1.831/2021
Flexibiliza os requisitos para aquisição de armas de fogo, fazendo com que a comprovação de idoneidade restrinja apenas aqueles que cometeram ou respondem por crimes praticados mediante violência ou grave ameaça.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Apensado ao PL 506/2015PL 7.283/2014 e PL 3.722/2012 (pronto para Pauta no Plenário)

Covid-19

PL 3.847/2019
Concede automaticamente registro aos medicamentos que já tenham sido autorizados por autoridades sanitárias de outros países.
Autores: Eduardo Bolsonaro (PL-SP), General Peternelli (UB-SP), Otoni de Paula (MDB-RJ) e outros
Situação: Apensado ao PL nº 2.036/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família - CSSF)

PL 4.380/2021
Veda a exigência de comprovante de vacinação em estabelecimentos privados em território nacional.
Autor: Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
Situação: Apensado ao PL 3.702/2021 e PL 4.966/2020 (aguarda designação de relator na Comissão de Seguridade Social e Família - CSSF) 

PL 2.795/2020
Anistia multas aplicadas a todos estabelecimentos comerciais cujas atividades foram classificadas como essenciais e não essenciais.
Autor: Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
Situação: Apensado ao PL 1.919/2020 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família - CSSF)

PL 4.650/2020
Revoga o uso obrigatório de máscaras de proteção individual.
Autor: Bia Kicis (PL-DF)
Situação: Apensado ao PL 4.646/2020 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

PL 536/2022
Dispensa a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção individual em decorrência da pandemia de covid-19.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 3.780/2021 e PL 4.646/2020 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

PL 118/2022
Veda a exigência de passaporte vacinal contra covid-19 como condição para o exercício de direitos.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 3.026/2021 e PL 4.966/2020 (aguarda a designação de relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

PL 4.672/2020
Obriga apenas as pessoas que apresentarem sintomas de covid-19 a usarem máscaras de proteção individual em espaços públicos e privados acessíveis ao público.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 4.646/2020 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

PL 149/2021
Veda a caracterização de justa causa para a dispensa do empregado que opta por não receber a vacina contra o novo coronavírus, bem como caracteriza como discriminatória a dispensa sem justa causa, que comprovadamente tenha como motivação a recusa do empregado à imunização contra a covid-19.
Autores: Carla Zambelli (PL-SP) e Mara Rocha (MDB-AC)
Situação: Aguardando Parecer do Relator na Comissão de Seguridade Social e Família

PL 4.369/2021
Torna facultativa a vacinação contra o Sars-Cov-2 para crianças e adolescentes (acompanhados dos tutores legais), nos termos da legislação.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 3.026/2021 e PL 4.966/2020 (aguarda a designação de relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

PL 158/2021
Proíbe o empregador de exigir que o trabalhador seja vacinado contra a Covid-19 para fins de admissão ou manutenção do emprego.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 149/2021 (aguarda parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família)

Questões de gênero

PL 3.396/2020
Estabelece o sexo biológico como o único critério para definir o gênero dos atletas em competições organizadas pelas entidades de administração do desporto no Brasil
Autores: Bia Kicis (PL-DF), Soraya Manato (PTB-ES), Paula Belmonte (Cidadania-DF) e outros
Situação: Apensado ao PL 2.596/2019 e PL 2.200/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

PL 2.146/2022
Determina o sexo biológico como definidor das modalidades femininas e masculinas nas competições esportivas no território brasileiro.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 2.596/2019 e PL 2.200/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

PL 2.578/2020
Determina que tanto o sexo biológico como as características sexuais primárias e cromossômicas definem o gênero do indivíduo no Brasil.
Autores: Filipe Barros (PL-PR) e Major Fabiana (PL-RJ)
Situação: Aguardando designação de relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias

PL 3.769/2021
Proíbe a participação de atleta identificado como "transexual" em eventos esportivos disputados em território nacional.
Autor: Otoni de Paula (MDB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 2.200/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

PL 4.036/2021
Veda a adaptação, a implantação e a utilização de banheiros públicos que determinem o livre uso de pessoas de sexos biologicamente diferentes em estabelecimentos Públicos Federais, Estaduais ou Municipais ou estabelecimentos privados de circulação, permanência ou concentração de grande número de pessoas.
Autor: Sargento Fahur (PSD-PR)
Situação: Apensado ao PL 4.019/2021 (pronto para entrar na pauta de votações na Comissão de Desenvolvimento Urbano)

PL 2.639/2019
Estabelece o sexo biológico como critério exclusivo para a definição do gênero em competições esportivas oficiais no Brasil.
Autor: Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)
Situação: Apensado ao PL 2.596/2019 e PL 2.200/2019 (aguarda parecer do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

STF

PL 3.593/2020
Proíbe a atividade advocatícia de cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, de Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Apensado ao PL 9.862/2018 (pronto para pauta no Plenário)

PL 5.173/2020
Disciplina a concessão de decisões monocráticas pelo Supremo Tribunal Federal
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 11.270/2018 (aguarda parecer do Relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

PL 1.988/2021
Estabelece a desnecessidade de prévia autorização judicial para a instauração de investigação envolvendo ministros do Supremo Tribunal Federal.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 7.987/2010 e PL 8.045/2010 (aguarda criação de Comissão Temporária pela Mesa)

Policiais

PL 6.253/2019
Permite que integrantes de forças policiais possam exercer atividades profissionais fora do horário de expediente de sua atividade policial.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Aguardando Parecer do Relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público

PL 5.610/2019
Determina que o cidadão, ao ser abordado por um policial, deve: atender às ordens do policial, deixar as mãos livres e visíveis, não realizar movimentos bruscos, não tocar no policial e manter uma distância mínima de um metro do policial.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Aguardando designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania

Anistia

PL 1.102/2022
Concede anistia a todos aqueles que, no período de 1º de janeiro de 2019 e 21 de abril de 2022, tenham praticado atos que sejam investigados ou processados sob a forma de crimes de natureza política ou conexos.
Situação: Aguardando designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)
Autores: Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP), Soraya Manato (PTB-ES), Sanderson (PL-RS) e outros

Educação

PL 1.192/2019
Altera a Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e prevê que os alunos condenados administrativamente ou judicialmente em casos de depredação do patrimônio público sejam expulsos da escola e sejam impedidos de se matricular em outros estabelecimentos oficiais de ensino.
Autor: Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
Situação: Aguardando designação de relator na Comissão de Educação (CE)

PL 5.854/2019
Dispõe sobre a necessidade de autorização por escrito de pais ou responsáveis para que menores de dezesseis anos participem de manifestações durante o horário de aula.
Autor: Helio Lopes (PL-RJ)
Situação: Apensados ao PL 9.957/2018 e PL 7.180/2014 (aguarda constituição de comissão temporária pela Mesa) 

PL 3.674/2019
Altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para vedar apologias e ideologias dentro dos órgãos públicos e estabelecimentos de ensino.
Autor: Helio Lopes (PL-RJ)
Situação: Apensado ao PL 7.180/2014 (aguarda constituição de comissão temporária pela Mesa) 

PL 947/2019
Regra o policiamento ostensivo nas instituições superiores de ensino público.
Autor: Helio Lopes (PL-RJ)
Situação: Apensado ao PL 8299/2017 e PL 708/2015 (pronto para pauta na Comissão de Educação)

PL 3.262/2019
Prevê que a educação domiciliar (homeschooling) não configura crime de abandono intelectual.
Autores: Chris Tonietto (PSL-RJ), Bia Kicis (PSL-DF), Caroline de Toni (PSL-SC) e outros
Situação: Pronta para pauta no Plenário

PL 246/2019
Institui o "Programa Escola sem Partido".
Autores: Bia Kicis (PL-DF), Chris Tonietto (PL-RJ), Carla Zambelli (PL-SP) e outros
Situação: Apensado ao PL 867/2015 e PL 7.180/2014 (aguarda constituição de Comissão Temporária pela Mesa)

PL 5.385/2020
Garante aos estudantes brasileiros o direito ao aprendizado da língua portuguesa e proíbe a “linguagem neutra” na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 5.248/2020 e PL 5.198/2020 (aguarda parecer do relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público)

PL 6/2020
Torna ilegal a progressão continuada em escolas de todo país, abolindo a organização por ciclos.
Autor: Carla Zambelli (PL-SP)
Situação: Pronto para pauta na Comissão de Educação

PL 4.887/2019
Estabelece a obrigatoriedade da aplicação do modelo cívico-militar a todas as escolas públicas da educação básica.
Autor: Carla Zambelli (PL-SP)
Situação: Devolvido ao autor

PL 5.412/2019
Criminaliza a promoção, incentivo, estímulo ou permissão de apresentações e danças com conteúdo erótico ou sensual para crianças e adolescentes nas escolas de educação básica.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Apensado ao PL 8.907/2017PL 8.876/2017PL 8.744/2017PL 2.415/1996PL 2.134/1996 e PL 5.269/2001 (aguarda a criação da comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 4.756/2019
Determina que policiais militares são responsáveis pelo policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública nas instituições superiores de ensino público federais e estaduais.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Apensado ao PL 8.299/2017 e PL 708/2015 (pronto para pauta na Comissão de Educação)

PL 1.112/2021
Cria novas regras para o processo de escolha dos dirigentes das universidades federais.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 4.104/2012 e PL 2.699/2011 (pronto para entrar na pauta de votações na Comissão de Educação)

PL 5.136/2019
Veda a promoção automática no ensino fundamental e médio.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Pronto para pauta na Comissão de Educação

PL 3.168/2020
Veda o desenvolvimento de atividades político-partidárias no âmbito das instituições públicas de educação superior.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 9.957/2018 e PL 7.180/2014 (aguarda Constituição de Comissão Temporária pela Mesa)

Bandeira Nacional

PL 5.082/2019
Obriga a presença permanente de uma Bandeira Nacional em cada sala de aula, de escolas públicas e particulares, e, diariamente, antes do início da primeira aula, os alunos terão que prestar um juramento à nação.
Autores: Felipe Francischini (UB-PR), Pedro Lupion (PP-PR), Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 1.131/2019 (aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

PL 2.100/2022
Prevê como crime a prática de condutas ultrajantes à Bandeira Nacional.
Autores: Carla Zambelli (PL-SP), General Girão (PL-RN), Major Fabiana (PL-RJ) e outros
Situação: Apensado ao PL 3113/2020PL 5033/2016 e PL 3174/1997 (aguarda parecer do relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

Heróis da Pátria

PL 95/2022
Inscreve o nome de Olavo de Carvalho no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Autor: Bia Kicis (PL-DF)
Situação: Apensado ao PL 90/2022 (aguarda a designação de relator na Comissão de Cultura)

PL 140/2022
Inscreve o nome de Olavo de Carvalho no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 90/2022 (aguarda a designação de relator na Comissão de Cultura)

PL 90/2022
Inscreve no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria o nome de Olavo de Carvalho.
Autor: Carla Zambelli (PSL-SP)
Situação: Aguarda a designação de relator na Comissão de Cultura

Patronos

PL 2.589/2019
Revoga a Lei nº 12.612/2012, que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 1.930/2019 (aguardando parecer do relator na Comissão de Educação)

Eleições

PL 4.213/2020
Extingue a reserva mínima de 30% das vagas para mulheres nas candidaturas para mandatos eletivos preenchidos pelo sistema proporcional.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 4.497/2012 (aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

PL 5.301/2020
Veda a divulgação de pesquisas eleitorais no período dos 15 dias que antecedem as eleições, e responsabiliza os institutos de pesquisas pela divulgação e realização de pesquisas fraudulentas.
Autores: Sanderson (PL-RS), General Girão (PL-RN), Carla Zambelli (PL-SP) e outros
Situação: Apensado ao PL 4.574/2012 e PL 96/2011 (pronto para entrar na pauta de votações no Plenário)

PL 484/2019
Extingue o financiamento público de campanhas eleitorais.
Autor: Bibo Nunes (PL-RS)
Situação: Apensado ao PL 7.690/2017PL 5.277/2009PL 4.883/2009PL 1.538/2007 e PL 5.924/2016 (aguarda parecer do relator na Comissão de Finanças e Tributação)

PL 1.348/2021
Permite que o eleitor possa votar em qualquer seção eleitoral do município no qual estiver inscrito.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 2.265/2003PL 470/2003PL 4.405/2001PL 3.780/1997 (pronto para entrar na pauta de votações no Plenário)

PL 5.430/2020
Estabelece a possibilidade de suspensão da proclamação dos resultados das eleições no caso de identificação de violação indevida, por mecanismos cibernéticos, das estruturas de segurança das urnas eletrônicas.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)

Internet

PL 246/2021
Dispõe sobre a responsabilidade civil de provedores de aplicações de internet pela atividade de moderação, na forma de rotulagem de conteúdo que expresse a opinião de usuário, e assim caracterize exercício de liberdade fundamental.
Autor: Caroline de Toni (PL-SC)
Situação: Apensado ao PL 127/2021PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (Aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 291/2021
Veda a retirada de mensagens de usuários por provedor de aplicação em desacordo com as garantias constitucionais de liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento.
Autores: Daniel Silveira (PL-RJ), Major Fabiana (PL-RJ), Bia Kicis (PL-DF) e outros
Situação: Apensado ao PL 3.395/2020PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 3.573/2020
Determina que o provedor de aplicações de internet não poderá retirar conteúdo gerado por terceiro, exceto por ordem judicial ou com a indicação expressa do crime que se está cometendo mediante a divulgação do conteúdo retirado.
Autores: Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP)
Situação: Apensado ao PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 3.395/2020
Proíbe os provedores de plataformas digitais de remover conteúdos publicados por seus usuários, salvo por força de cumprimento de ordem judicial.
Autores: Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), General Girão (PL-RN) e outros
Situação: Apensado ao PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 127/2021
Obriga que o verificador de fatos - que classificar determinado conteúdo como falso ou parcialmente falso - a notificar o autor responsável pelo conteúdo dessa interpretação antes de tornar a classificação pública.
Autor: Nelson Barbudo (PL-MT)
Situação: Apensado ao PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 1.362/2021
Regra a liberdade de expressão e informação na internet, com o objetivo de proteger o exercício da cidadania e coibir abusos.
Autor: Daniel Silveira (PTB-RJ)
Situação: Apensado ao PL 246/2021PL 127/2021PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

PL 213/2021
Altera o Marco Civil da Internet para possibilitar a indisponibilização de conteúdo por provedor de aplicações de internet somente devido a ordem judicial.
Autores: Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Filipe Barros (PL-PR), Helio Lopes (PL-RJ) e outros
Situação: Apensado ao PL 3.573/2020PL 283/2020PL 2.712/2015PL 1.676/2015 e PL 2.630/2020 (aguarda criação de comissão especial pela Mesa Diretora)

Aborto

PL 232/2021
Torna obrigatório a apresentação de Boletim de Ocorrência com exame de corpo de delito positivo que ateste a veracidade do estupro, para realização de aborto decorrente de violência sexual.
Autores: Carla Zambelli (PL-SP) e Major Fabiana (PL-RJ)
Situação: Apensado ao PL 6.022/2013 (aguarda parecer do relator na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher)

PL 3.415/2019
Agrava a pena para a venda de remédios abortivos e aumenta o valor da multa para quem faz propaganda de medicamentos proibidos que provoquem aborto.
Autor: Filipe Barros (PL-PR)
Situação: Aguarda parecer do relator na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher

Questões indígenas

PL 5.386/2020
Regula o direito de realocação de não índios ocupantes de terras tradicionalmente ocupadas por índios.
Autor: Nelson Barbudo (PL-MT)
Situação: Apensado ao PL 2.311/2007 e PL 490/2007 (pronto para pauta no Plenário)

PL 3.045/2019
Permite o exercício de atividades econômicas em terras indígenas.
Autor: Nelson Barbudo (PL-MT)
Situação: Apensado ao PL 2.395/2015 (aguarda parecer do relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias)

Fiscalização ambiental

PL 5.724/2019
Inviabiliza a destruição ou queima de instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados em infração ambiental.
Autor: Nelson Barbudo (PL-MT)
Situação: Apensado ao PL 4.690/2019PL 4.023/2015PL 4.489/2008PL 1965/2007 e PL 6443/2013 (aguarda a designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania)

Texto publicado originalmente no portal LUPA.


REUTERS | BBC News Brasil

Explosivo em Brasília: o que se sabe sobre o caso e a preocupação com a posse de Lula

BBC News Brasil*

A mensagem de Dino, publicada em rede social no dia do Natal, veio depois que um homem de 54 anos foi preso no Distrito Federal após a polícia encontrar e detonar artefato explosivo que estava em um caminhão na capital.

A seguir, entenda o que se sabe até agora sobre o caso.

Bomba é encontrada em caminhão em Brasília

A Polícia Militar do Distrito Federal disse que foi acionada por volta de 8h do sábado (24) para atender uma ocorrência envolvendo suposto artefato explosivo e que, no local, fez a desativação. Isso ocorreu em via que dá acesso ao Aeroporto de Brasília.

Depois, o material foi entregue para perícia pela Polícia Civil.

Segundo a imprensa local, quem chamou a polícia foi o motorista do caminhão onde o artefato estava - e a participação dele no crime foi descartada pela Polícia Civil.

Pelo Twitter, Dino disse que foi encontrado no material "emulsão de pedreira" (produto explosivo e usado por mineradoras em escavações). Ele disse que a equipe de transição acompanha o caso, e que investigações estão sendo feitas pela Polícia Civil do Distrito Federal.

Quem é o homem investigado?

No sábado, a polícia prendeu George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, em um apartamento alugado no Sudoeste.

Sousa foi autuado em flagrante por terrorismo, depois de confessar que montou artefato explosivo instalado em caminhão de combustível. A polícia apura a participação de outras pessoas.

Depois, a Justiça do Distrito Federal determinou que ele permaneça preso por tempo indeterminado.

Segundo a Polícia Civil, Sousa é empresário e viajou do Pará a Brasília para participar de atos realizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) defronte ao quartel-general do Exército.

Na residência de Souza a polícia encontrou diversas armas e munições, segundo a imprensa local - espingardas, cartelas de munição, além de revólveres, artefatos explosivos e uniformes camuflados.

Embora ele tenha alegado que tirou licenças de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), também segundo a imprensa local, os documentos estavam irregulares e ele também foi autuado por posse e porte ilegal de arma de fogo e de uso restrito.

Segundo a Folha de S.Paulo, Sousa afirmou à Polícia Civil que as "palavras" de Bolsonaro o encorajaram a adquirir o arsenal de armas apreendido em seu poder.

A reportagem atribui a seguinte fala ao investigado: "O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: 'Um povo armado jamais será escravizado'."

De acordo com a reportagem Souza teria relatado aos policiais planos de um outro ataque coordenado com objetivo de instaurar um caos na capital federal.. Esses planos envolveriam um segundo ataque à bomba em uma estação de energia visando interromper o fornecimento de eletricidade.

A BBC News Brasil não localizou a defesa de Sousa.

O que disse o governo Bolsonaro?

O atual ministro da Justiça, Anderson Torres, publicou no Twitter que o ministério "oficiou a @policiafederal para acompanhar a investigação e, no âmbito de sua competência, adotar as medidas necessárias quanto ao artefato encontrado ontem (24) em Brasília". Em seguida, escreveu: "Importante aguardarmos as conclusões oficiais, para as devidas responsabilizações".

Até a manhã desta segunda-feira (26/12), o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o caso.

O que diz a Lei antiterrorismo

Segundo a Lei antiterrorismo, é um ato de terrorismo "usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa". A pena prevista na lei é de reclusão de 12 a 30 anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência.

Texto publicado originalmente na BBC News Brasil.


Plano real economia Brasil | Imagem: rafapress/Shutterstock

Revista online | O debate ausente: o desequilíbrio externo persistente da economia brasileira

José Luis Oreiro*, professor de Economia da UnB, especial para a revista Política Democrática online (50ª edição | Dezembro de 2022)

O período que sucedeu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais foi marcado pelas controvérsias sobre o “estouro do teto de gastos” previsto pela “PEC da Transição”. Na versão aprovada pelo Senado Federal no dia 07 de dezembro de 2022, ficou estabelecido que o governo federal poderá gastar até R$ 145 bilhões “fora do Teto” para executar políticas como a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 com acréscimo de R$ 150 por filho, recompor o orçamento do programa farmácia popular, entre outras políticas sociais e assistenciais. Muitos economistas, a maioria deles ligada direta ou indiretamente ao mercado financeiro, se opuseram publicamente a essa medida alegando que a “farra fiscal” (sic) iria produzir uma fuga de capitais do país, a interrupção do financiamento da dívida pública por parte do mercado, uma maxidesvalorização cambial e o recrudescimento da inflação ao longo do ano de 2023, o que levaria a uma queda do salário real e a um agravamento da situação de fome e pobreza no país. 

Confira a versão anterior da revista Política Democrática online

Não é a primeira vez que esse tipo de cenário apocalíptico é desenhado. Em 2020, durante a pandemia da covid-19, não foram poucos os que disseram que o Brasil caminhava para um “abismo fiscal” devido aos gastos excessivos com o auxílio emergencial, os quais levariam a relação dívida pública/PIB para perto de 100% em 2022 e que, devido a algum mecanismo mágico, a economia brasileira entraria numa espécie de “buraco negro” com consequências catastróficas para a economia do país. Como sabemos, nada disso ocorreu. Graças, em larga medida, ao auxílio emergencial, a economia brasileira teve uma contração modesta em 2020 (de apenas 3,3%) na comparação com os Estados Unidos e os países da União Europeia. Além disso, a relação dívida pública/PIB no Brasil deve fechar em torno de 78% em 2022, muito abaixo do cenário desenhado pelos profetas do apocalipse.

Está claro que a situação fiscal no Brasil está longe de ser confortável, mas a dívida pública brasileira (% do PIB) é similar a de países como Índia e China. Se o próximo governo for capaz de desenhar uma nova regra fiscal para pôr no lugar do teto de gastos, que seja capaz de conciliar o espaço fiscal necessário para o aumento do investimento público em infraestrutura e dos gastos assistenciais com a redução da dívida pública como proporção do PIB no médio prazo, para um patamar em torno de 65% do PIB, não há razão para acreditar que o crescimento econômico possa ser restrito pelo lado fiscal. 

Uma ausência gritante, para não dizer escandalosa, no debate econômico brasileiro é o desequilíbrio externo. Conforme verificamos na figura 1 abaixo, a partir de maio de 2008, no acumulado em 12 meses, o Brasil começou a apresentar déficit crescente na conta de transações correntes do balanço de pagamentos, o qual atingiu a marca de 4,25% do PIB em outubro de 2015. Esse desequilíbrio externo resultou numa desvalorização da taxa real efetiva de câmbio de 17,12% entre janeiro e dezembro de 2015, contribuindo de forma decisiva para a aceleração da inflação neste ano e para a elevação da taxa básica de juros por parte do Banco Central, amplificando a recessão que havia começado no segundo semestre de 2014. 

Fonte: Ipeadata. Elaboração do autor 

Graças à forte desvalorização cambial e à queda de mais de 8% do PIB entre o segundo semestre de 2014 e o último trimestre de 2016, o déficit em conta corrente se reduziu para 0,894% do PIB em março de 2018. Embora déficits em conta corrente inferiores a 1% do PIB não sejam preocupantes do ponto de vista do financiamento externo, chama atenção que, após a maior recessão dos últimos 40 anos e de uma forte desvalorização da taxa de câmbio, a economia brasileira se mostrou incapaz de voltar a gerar superávits em conta corrente, como no período de junho de 2003 a dezembro de 2007. Mais grave ainda é o fato de que, uma vez passados os efeitos da grande recessão brasileira (2014-2016), o déficit em conta corrente como proporção do PIB no acumulado em 12 meses volta a se elevar atingindo 3,52% do PIB em junho de 2020, já no período da pandemia do covid-19. 

De fevereiro de 2020 a maio de 2021, a taxa real efetiva de câmbio se desvaloriza em 30,75%, e a economia se encontra em recessão. Apesar da enorme mudança de preços relativos e da queda do nível de atividade econômica, o déficit em conta corrente no acumulado em 12 meses se reduz para apenas 1,90% em agosto de 2021, apresentando desde então nova tendência a elevação. 

Veja, a seguir, galeria:

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Os dados apresentados parecem apontar para o retorno da rigidez estrutural do balanço de pagamentos, situação na qual a desvalorização cambial se mostra incapaz de resolver o desequilíbrio externo devido ao perfil da pauta de exportações. A desindustrialização precoce da economia brasileira resultou numa reprimarização da pauta de exportações, reduzindo assim a sensibilidade das exportações ao câmbio. Nesse contexto, o crescimento do PIB a um ritmo mais robusto será inevitavelmente estrangulado pelo aumento explosivo do déficit em conta corrente, que termina sempre desencadeando uma crise cambial, com maxidesvalorização do câmbio, elevação da inflação e da taxa de juros, abortando assim a retomada do crescimento. 

Sobre o autor

*José Luis Oreiro é professor do Departamento de Economia da UnB. E-mail: joreiro@unb.br.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2022 (50ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

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O Ibama desativou garimpos ilegais de ouro e cassiterita em dois parques nacionais da Amazônia, no sudoeste do Pará

Na mira do governo Lula, garimpo ilegal deixa rastro de pobreza na Amazônia

Murilo Pajolla/Brasil de Fato

Acabar com o garimpo ilegal é uma propostas do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Amazônia. Os defensores da atividade dizem que a mineração gera riqueza e aumenta a qualidade de vida da população. A realidade, porém, é justamente o contrário.

Um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que as consequências vão além da devastação ambiental e da violação de direitos humanos, especialmente de povos indígenas. O ISA comprovou que o garimpo ilegal derruba os indicadores sociais das regiões afetadas.

Reportagem especial | Serra Pelada vive à míngua do ouro

A expansão do garimpo ilegal no bioma foi uma das marcas do governo de Jair Bolsonaro (PL). O presidente estimulou a atividade, com o discurso de que a riqueza mineral do solo deve ser apropriada pelos habitantes da Amazônia, que concentra mais de 90% das áreas de garimpagem no país.

Garimpo ilegal no Rio Madeira. Foto: Bruno Kelly/Greenpeace
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Garimpo ilegal no Rio Madeira. Foto: Bruno Kelly/Greenpeace
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Garimpo ilegal no Rio Madeira. Foto: Bruno Kelly/Greenpeace
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Entenda o impacto social do garimpo

A média do Índice de Progresso Social (IPS) dos municípios com garimpo na Amazônia é 52,4, menos do que a média para a Amazônia, que é 54,5, e bem abaixo da média nacional, de 63,3.

O Índice de Progresso Social é um indicador internacional que leva em consideração três dimensões: "necessidades básicas de sobrevivência", "fundamentos do bem-estar" e "oportunidades".

"Onde há garimpo, o impacto negativo faz com que municípios e governos estaduais acabem tendo gastos públicos adicionais para lidar com a degradação ambiental, a desconfiguração dos recursos hídricos, o uso intensivo de mercúrio e a sonegação de impostos", diz Antônio Oviedo, pesquisador do Instituto Socioambiental e um dos autores do estudo.

A ex-garimpeira que tenta tirar famílias da mineração ilegal

Maria do Rosário é integrante da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), organização social ligada à Igreja Católica, e vive em um dos polos de extração ilegal de ouro no Brasil, o município de Itaituba, no Pará.

Ela contou ao Brasil de Fato que chegou a trabalhar no garimpo quando veio do Maranhão, mas logo abandonou a atividade. Hoje, ela faz trabalho social com famílias pobres que dependem do garimpo para sobreviver e luta para que elas deixem a atividade.

"A economia de Itaituba é ouro e minério. A cidade não dispõe de emprego para todo mundo. Não tem saneamento básico, nem estação de tratamento de esgoto. Tem um lixão a céu aberto a 17 km da cidade. Infelizmente esse lixão vem contaminando a malha dos córregos e trazendo todo resíduos de contaminação para o rio Tapajós", afirma.

Empresários lucram alto

Para muitas famílias, a extração de ouro é a única alternativa à pobreza e à miséria. Maria do Rosário diz que a mineração ilegal gera sim muita riqueza, mas apenas para os grandes empresários do garimpo.

"Muitos garimpeiros não têm sequer casa para morar. Moram em casa alugada ou vivem em barracos. E, quando chegam com o ouro do garimpo, a venda não dá para comprar uma casa para morar. Por aí se vê que [o garimpo] não dá lucro. Já os donos das dragas [balsas de garimpo ilegal], esses têm casa, tem mansão, tem fazenda", afirmou.


Governo Lula | Arte: Maurenilson Freire

Nas entrelinhas: Qual a natureza do governo Lula?

Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense

Uma das dificuldades para compreender o atual cenário político é a lulofobia da elite política e econômica do país, que majoritariamente apoiou a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. O hegemonismo do PT na montagem do governo, porém, fortalece esse sentimento nos setores que só apoiaram o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno, mas tiveram um papel decisivo na derrota de Bolsonaro e seu projeto autoritário. A chave para resolver essa contradição é ampliar a base de sustentação do petista incorporando essas forças ao governo. Lula fará um governo democrático, com certeza, ao contrário da gestão Bolsonaro. Mas com que amplitude?

A resposta é a nomeação da senadora Simone Tebet para a equipe ministerial. Havia uma expectativa de que ela fosse indicada para o Ministério do Desenvolvimento Social, que gerencia o Bolsa Família, mas essa é uma marca do governo Lula, em grande parte responsável pela sua volta ao poder, graças às mulheres e aos mais pobres, sobretudo nordestinos. Portanto, não é nenhum absurdo que o cargo venha a ser ocupado pelo ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT), que comandou o seu estado por quatro mandatos e foi um dos articuladores políticos da transição, sobretudo nas negociações com o Senado, para o qual acaba de ser eleito novamente.

O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), foi o principal fiador da candidatura de Simone Tebet à Presidência e defende sua participação no governo desde o início da transição, ao lado de mais dois ministros do MDB, um indicado pelo Senado e outro pela Câmara. Entretanto, há uma disputa na bancada do Senado pela indicação, entre Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL). Ao escolher Dias para o Desenvolvimento Social, Lula deu o recado de quem escala o time é ele, que venceu as eleições, mas isso não significa a exclusão de Simone Tebet. Nos bastidores do novo governo, ontem, ela estava cotada para ser ministra do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que é um cargo muito importante, mas sem o mesmo apelo social. Ela ainda reluta.

Protesto em São Paulo (SP). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75
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Protesto em São Paulo (SP). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75
Protesto em São Paulo (SP). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75
Protesto contra Bolsonaro em Maceió (AL). Foto: Gustavo Marinho/Fotos Públicas
Protesto contra Bolsonaro em Maceió (AL). Foto: Gustavo Marinho/Fotos Públicas
Protesto contra Bolsonaro em Maceió (AL). Foto: Gustavo Marinho/Fotos Públicas
Protesto contra Bolsonaro em Maceió (AL). Foto: Gustavo Marinho/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto:Caco Argemi/CPERS/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto:Caco Argemi/CPERS/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
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Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto: Maí Yandara/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto:Caco Argemi/CPERS/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto:Caco Argemi/CPERS/Fotos Públicas
Grito dos Excluídos em Porto Alegre (RS). Foto:Caco Argemi/CPERS/Fotos Públicas
Grito dos excluídos/Protesto em São Paulo (SP). Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Grito dos excluídos/Protesto em São Paulo (SP). Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Grito dos excluídos/Protesto em São Paulo (SP). Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Protesto em São Paulo (SP). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75
Protesto em São Paulo (SP). Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75
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Lula tem dito a interlocutores que vai nomear petistas para metade do governo e compartilhar a outra metade com os aliados. Entre os petistas, tem descartado os senadores com mais experiência e influência na Casa presidida por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é o seu aliado principal no Congresso. O Senado é uma trincheira para conter o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). E prestigiado aqueles que foram mais solidários com ele durante a sua prisão e/ou exerceram peso eleitoral muito importante na campanha. Tropas de assalto, porém, não são boas tropas de ocupação, diz um velho jargão militar. Lula sabe disso.

O núcleo dirigente do PT é o círculo mais próximo de Lula: Gleisi Hoffmann, a presidente do partido, que permanecerá na Câmara, ao lado do deputado Rui Falcão. Aloizio Mercadante foi indicado para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômica e Social (BNDES), o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva é cotado para a Secretaria de Comunicação da Presidência. Lula cercou-se de petista e aliados com grande experiência administrativa: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad na Fazenda, o ex-governador da Bahia Rui Costa na Casa Civil, o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB) na Justiça e o ex-presidente do tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, um político conservador, na Defesa.

Coalizão democrática

Se considerássemos apenas os nomes anunciados até agora, com boa vontade, teríamos um governo popular, com o perfil de frente única da esquerda tradicional na década de 1930. Mas Lula deve anunciar hoje os nomes dos demais ministros, cuja divulgação adiou para esperar a votação da PEC da Transição na Câmara. A simples nomeação de Simone Tebet para um ministério importante já mudará a natureza do governo, que ganha o caráter de coalizão democrática de centro-esquerda. As possibilidades de ampliar ainda mais o governo seriam entregar o Ministério da Fazenda a um representante do sistema financeiro, opção já descartada, ou um pedaço suculento da Esplanada, principalmente o Ministério da Saúde, a Arthur Lira. O indicado era o relator da PEC da Transição, Elmar Nascimento (União-BA), mas Lula não aceitou. Mais pela forma como a proposta foi feita, na base do dá ou desce, do que pela intenção de excluir o PP.

A votação da PEC na Câmara, ontem, mostrou um racha no Centrão, com o PL de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro fora do acordo feito por Lira com os líderes de bancada. O racha no Centrão é alvissareiro para Lula, principalmente se levarmos em conta a composição futura da Câmara, na qual o PL terá a maior bancada, com 99 deputados. A federação PT-PCdoB-PV terá 80 deputados (PT com 68, PCdoB com 6 e PV com 6). A terceira opção para ampliar o governo seria a incorporação da federação PSDB-Cidadania, mas o PSDB, ao contrário do Cidadania, já se pôs na oposição. E tenta ampliar a federação com o Podemos para servir de cabeça de ponte à candidatura do governador gaúcho eleito Eduardo Leite em 2026. Obviamente, uma carroça à frente dos bois.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-qual-a-natureza-do-governo-lula/

Maurenilson Freire

Nas entrelinhas: Do iliberalismo de Bolsonaro à partidocracia do Centrão

Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense

Nas negociações em curso no Congresso para a aprovação da PEC da Transição, corremos o risco de pular da banha quente da frigideira para cair na panela com água fervendo. Explico: interromper o curso do projeto iliberal do presidente Jair Bolsonaro, porém ser aprisionado por uma partidocracia comandada pelo Centrão. Duas decisões judiciais tentaram interromper esse processo, aquela na qual o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria de 6 a 5, aprovou o parecer de sua presidente, ministra Rosa Weber, e considerou inconstitucional o chamado orçamento secreto; e a liminar do ministro Gilmar Mendes que possibilita a edição de medida provisória extraordinária para a concessão do Bolsa Família no valor R$ 600 e mais R$ 150 por criança de até seis anos.

Entretanto, as duas decisões serviram para acelerar a aprovação da PEC. As do Supremo representaram uma invertida no todo-poderoso presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que estava chantageando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para que o relator da PEC, deputado Elmar Nascimento (União-BA), fosse nomeado ministro da Saúde. Mas há mais coisas entre o céu e a terra do que os aviões de carreira, como diria o humorista Barão de Itararé. O pacto perverso, fisiológico e provinciano do colégio de líderes com Lira falou mais alto. A própria bancada do PT, que se antecipou ao presidente eleito no apoio à reeleição de Lira, foi uma das forças interessadas em manter a PEC e aprová-la a toque de caixa. Negociaram um pagamento extra de R$ 16,3 milhões em emendas parlamentares para cada deputado e senador em troca da aprovação da PEC.

O empoderamento do Congresso durante o governo Bolsonaro, do ponto de vista do Orçamento da União, era funcional para o governo que se encerra, porque não havia programa de desenvolvimento. O eixo do governo era desmonte das políticas públicas universalistas e o retrocesso institucional. Por que se preocupar com as emendas, se a reeleição permitiria a venda da Petrobras e outras estatais para fazer caixa e daria a Bolsonaro, com a adoção de um regime iliberal, o poder de recorrer aos instrumentos de coerção do Estado para intimidar, não somente a oposição, mas o próprio Congresso? Agora, com a eleição de Lula, a situação é outra no Executivo; porém, teremos um Parlamento ainda mais fisiológico e conservador a partir do próximo ano.

O perigo nessa conjuntura é a consolidação da partidocracia em formação no Congresso, sob a hegemonia do Centrão e a liderança de Lira. Esse fenômeno surgiu com a formação de grandes legendas de massa e se consolidou na década de 70, em alguns países da Europa, que adotaram o financiamento público da política. Isso fortaleceu os principais líderes das siglas e sua burocracia, porém a participação da sociedade civil na vida política foi progressivamente bloqueada, a começar pelos próprios partidos. O fortalecimento da partidocracia se dá quando os recursos do financiamento público são gerenciados sem orçamento e controle público, sem critérios justos de distribuição dos recursos entre seus diretórios e candidatos.

Captura

Além disso, o fortalecimento do poder financeiro das cúpulas partidárias, em detrimento da difusão de sua política e incorporação da sociedade às suas atividades, também se dá por meio da distribuição de funções remuneradas e da ocupação de cargos públicos. Isso leva à formação de profissionais da política que se mantêm por si mesmo, que vivem da política, e não para a política, como Max Weber havia previsto na sua célebre palestra A política como vocação, na Universidade de Munique, em 1919. Num país de forte tradição patrimonialista, uma herança do nosso passado colonial e escravocrata, onde velhas oligarquias ainda têm grande peso no Parlamento, o resultado desse fenômeno é o distanciamento do Congresso das instituições da sociedade e a ojeriza do cidadão comum à política, aos partidos e a seus políticos de forma generalizada.

Desde 2013, existe um conflito latente entre o mundo da política e a vida real dos cidadãos, que se traduziu em grandes manifestações e na contestação geral ao nosso sistema político-partidário. Como não é um privilégio do Brasil, em todos os países, esse conflito tem resultado no fortalecimento da extrema direita e dos projetos iliberais. Bolsonaro perdeu o poder e o apoio momentâneo do Centrão, mas ninguém deve se iludir quanto à força que ainda tem na opinião pública e numa base eleitoral que se articula pelas redes sociais. Quando uma pesquisa mostra que 32% dos eleitores são a favor de uma intervenção militar, não estão só os malucos e fanáticos que tentam contato com extraterrestres, adoram pneus e rezam ajoelhado na chuva à porta dos quartéis, sem medo de raios e trovoadas.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva se equilibra numa corda bamba, embora tenha a legitimidade da eleição e o poder concentrado do governo nas mãos. O seu problema agora é a captura do PT pela lógica da partidocracia, como ocorreu no mensalão e nos escândalos da Petrobras, e que levou Lula à prisão. Como lidar com a força do Centrão sem ser tragado, como negociar com o Arthur Lira sem fazer concessões que possam comprometer o sucesso do próprio governo? Não será com um orçamento que inviabiliza programas de investimentos e as prioridades do governo. O que está se decidindo agora, na largada do novo governo, é estratégico. Pode levar Lula ao sucesso ou ao desastre.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-do-iliberalismo-de-bolsonaro-a-partidocracia-do-centrao/

Novo livro Longa Jornada até a Democracia ajuda a pensar o Brasil

Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP

O presidente nacional do Cidadania 23, Roberto Freire, e o diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), Marco Marrafon, disseram na noite desta terça-feira (20/12) que o livro Longa Jornada até a Democracia, do escritor e jornalista político Carlos Marchi, é registro histórico imprescindível para refletir o Brasil de hoje. Eles e dezenas de outros convidados prestigiaram, em Brasília, o lançamento do livro, editado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP).

Marchi conta que recebeu o pedido de escrever o livro como um “difícil” desafio, apesar de sua experiência como escritor. Ele também é biógrafo do jornalista Carlos Castelo Branco (Todo aquele imenso mar de liberdade) e do senador Teotônio Vilela (Senhor República).

Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi | Foto: Cleomar Almeida/FAP
Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi | Foto: Cleomar Almeida/FAP

“Foi um livro difícil de fazer. Me deram a encomenda de escrever sobre os 100 anos do Partido Comunista Brasileiro, e eu tinha seis meses para escrever o livro, um prazo muito curto, mas acho que consegui um bom resultado”, disse. “A visão que este livro dá sobre o PCB tem grande vantagem, cobre de 1922 a 1968, praticamente a história toda do partido até o Sexto Congresso”, ressaltou.

O presidente nacional do Cidadania destaca a capacidade de apuração do autor, que, conforme acrescenta, resultou em uma obra de altíssima qualidade com registro da luta pela democracia no país. “A fundação está trazendo uma contribuição para a nossa história e para a história do Brasil”, afirmou.

Carlos Marchi lançará livro Longa Jornada até a Democracia, em Brasília

Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi, será lançado em São Paulo

O diretor-geral da FAP lembrou que o livro é apenas o primeiro de dois volumes que abordam os 100 anos do PCB, comemorados em março deste ano. “Marchi fez um livro primoroso, muito bem escrito, que não é apenas um registro histórico, mas um olhar contemporâneo. Este livro é uma obra-prima e, também, ajuda a pensar o futuro. Marchi é um escritor e grande parceiro da fundação”, asseverou Marrafon.

Veja, abaixo, vídeo sobre o evento:



O jornalista Walter Sotomayor diz que o livro ganha ainda mais relevância ao aliar resgate histórico do PCB à oportunidade de conscientização da população sobre a luta pela democracia. “Primeiro é a recuperação histórica de pessoas que acreditaram nos seus ideais, lutaram por eles, e essa luta deve ser mostrada para gerações futuras”, acentuou.

A obra, segundo o jornalista José Natal, também é um alerta sobre o momento pelo qual o país passa. “É um documento histórico muito importante nesta época que estamos vivendo, com a democracia sob constantes ameaças E estamos agora passando por um momento decisivo e definitivo. Este livro fatalmente vai ajudar o povo brasileiro a conhecer a história da nossa democracia”, afirmou.

O historiador Arnor Brito disse que a obra o fez lembrar dos tempos da ditadura no Brasil. “Na ditadura, não podia fazer quase nada. Para o pessoal mais novo, é bom ler [o livro] para saber o que é a democracia. Muitos estão pedindo a volta da ditadura sem saber o que é”, observou.

Na capital federal, o livro teve seu segundo lançamento presencial. O primeiro foi realizado em São Paulo, no último dia 12, também com a presença do autor e de dezenas de convidados.

Confira, a seguir, galeria de foto do lançamento:

Foto: Cleomar Almeida/FAP
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Interessados em adquirir exemplares do Longa Jornada até a Democracia podem enviar solicitação diretamente para o e-mail da FAP (fundacaoastrojildo@gmail.com) ou ligar para 61 3011-9300.

O segundo volume sobre o centenário do PCB está em fase de produção e deverá ser lançado no próximo ano pelo jornalista Eumano Silva. A obra será uma continuidade histórica até os dias atuais, com a transformação para o Cidadania 23.


PCB protagonizou luta pela democracia | Imagem: Caio Gomez

Nas entrelinhas: PCB, da luta armada à defesa da democracia

Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense

Biógrafo do jornalista Carlos Castelo Branco (Todo aquele imenso mar de liberdade) e do senador Teotônio Vilela (Senhor República), o escritor e jornalista político Carlos Machi lança hoje o seu mais novo livro: Longa jornada até a democracia (Fundação Astrojildo Pereira), o primeiro volume de uma história dos 100 de fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desde as ideias que lhe dariam origem, em 1922, até a realização do VI Congresso, em dezembro de 1967. Será às 19h, no Beirute, tradicional reduto de estudantes, jornalistas e boêmios de esquerda, na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília.

Quem imagina uma obra apologética e maniqueísta, irá se surpreender. O livro conta a história do PCB como quem prepara o peixe com um olho no gato e o outro na frigideira. O duplo olhar de Marchi contextualiza o papel do PCB na história do Brasil e, ao mesmo tempo, mostra as contradições de seus dirigentes com a antiga União Soviética, e entre eles próprios. Um processo no qual uma das vítimas foi o próprio fundador do partido, o jornalista e escritor Astrojildo Pereira, que caiu em desgraça após uma viagem a Moscou, em 1930, mesmo depois de capitular diante dos dirigentes do Comintern, que consideravam muito próxima uma revolução comunista no Brasil.

Carlos Marchi lançará livro Longa Jornada até a Democracia, em Brasília

Livro Longa Jornada até a Democracia, de Carlos Marchi, será lançado em São Paulo

Havia, sim, uma revolução em gestação, mas era a de 1930, liderada por Getúlio Vargas, com adesão dos líderes tenentistas. Entretanto, não obteve apoio de Luiz Carlos Prestes, que havia se aproximado dos comunistas. Astrojildo lhe entregara uma mala de obras marxistas durante o exílio do comandante da Coluna Prestes na Bolívia. Por pura ironia, Prestes voltaria ao Brasil anos depois, para fazer a tal revolução, enquanto Astrojildo amargava o ostracismo político: vendia bananas e escrevia críticas literárias e ensaios sobre a sociedade brasileira.

O livro tem um olhar crítico sobre a atuação de Prestes, sem embargo de reconhecer seu papel decisivo na história do Brasil. O líder comunista teve o destino do país nas mãos em 1930, quando recusou o comando da Revolução, e em 1945, quando saiu da cadeia e decidiu apoiar Vargas, na redemocratização. Quando o ex-ditador voltou ao poder, eleito em 1950, os comunistas lhe fizeram oposição. Só foram defendê-lo depois do suicídio, em agosto de 1954.

A tórrida paixão entre Prestes e Olga Benário, a judia alemã treinada pelos serviços de inteligência do Exército Vermelho e escalada para fazer sua segurança, chamava atenção. Era um casal improvável: ele, baixinho; ela, muito alta — razão pela qual a volta de Prestes de Moscou para o Brasil foi uma longa viagem, que durou quatro meses e virou lua de mel. Percorreram várias capitais europeias, atravessaram o Atlântico até Nova York, de onde desceram para Montevidéu. A entrada clandestina no Brasil, com escalas em Buenos Aires e Florianópolis, foi rocambolesca.

Aggiornamento

Marchi põe o holofote nas divergências na cúpula do Comintern sobre a linha a ser adotada por Prestes e no papel de um agente inglês infiltrado no grupo de revolucionários que o assessorava. O alemão Johann De Graaf, que era oficial do Exército Vermelho, desembarcou no Brasil com o nome falso de Franz Paul Gruber. Foi encarregado de montar uma caixa-forte que explodiria com os documentos de Prestes e os planos da insurreição, mas isso não aconteceu. Johann manteve os serviços de inteligência britânicos informados sobre tudo e chegou a receber uma carta de agradecimento de Vargas. Olga, grávida quando foi presa com Prestes, foi deportada para a Alemanha. Morreu num campo de concentração nazista, onde nasceu Anita Leocádia Prestes.

Ao longo do livro, o foco de Marchi é o progressivo “aggiornamento” do PCB, da opção pela armada, em 1935, ao compromisso com a democracia, na Declaração de Março de 1958. Como bom repórter, revela, em primeira mão, a localização do “aparelho” no qual foi realizado o 6º Congresso do PCB, em São Paulo, em 1967, quando o partido adotou a linha de ampla frente democrática para a redemocratização do país e rechaçou a opção pela guerrilha urbana contra o regime militar, defendida pelo líder comunista Carlos Marighela e alguns dirigentes históricos do PCB, sem a menor chance de dar certo.

Contraditoriamente, na preparação do congresso, o dirigente comunista Salomão Malina, ex-integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e herói da tomada de Montese, na Itália, durante a II Guerra Mundial (recebeu a Cruz de Combate de 1ª Classe), perdeu os dedos da mão direita e teve o pulmão perfurado ao desativar uma granada defeituosa. Em coma, foi operado clandestinamente no Hospital das Clínicas de São Paulo.

Sapador, Malina estava encarregado de garantir a fuga de Prestes caso o congresso fosse localizado pelos órgãos de segurança do regime militar. Mais tarde, seria o último secretário-geral do partido e, em 1991, apoiaria a mudança do nome e da sigla do PCB para PPS, atual Cidadania.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-pcb-da-luta-armada-a-defesa-da-democracia/

Arte: João Rodrigues/FAP

Eliseu Neto: “Educação é único o caminho para o combate à homofobia”

João Rodrigues, da equipe da FAP

Muita luta e um total retrocesso para ser enfrentado. Assim pode ser resumida a expectativa da população LGBTQIA+ para o novo governo. “O desafio principal é na escola, que deve ser inclusiva, onde os professores saibam seus papeis de educadores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) determina que a escola deve preparar para a vida e para o trabalho. E isso deve ser um dos principais pontos de atenção do novo governo”, analisa o psicanalista Eliseu Neto.

Para analisar as principais demandas do movimento LGBTQIA+ para o governo eleito, o podcast Rádio FAP desta semana conversa com ele que é professor, psicólogo e coordenador nacional do Diversidade23. Conselheiro da FAP, Eliseu Neto liderou a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão no Supremo Tribunal Federal que resultou na criminalização da homofobia no Brasil, considerando-a crime de racismo.



A importância da capacitação gratuita e inserção de pessoas transgêneras (transexuais, travestis, não binários) no mercado de trabalho por meio de políticas e a necessidade de denúncias em casos de LGBTfobia também estão entre os temas do programa. O episódio conta com áudios do jornal O Povo Online, Lil Rock Beats e Poder360.

O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google PodcastsAnchorRadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues.

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