Meu amigo cinepoeta Sérgio Muniz

Lilia Lustosa*, crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL)Suíça.

Neste agosto, o cineasta Sérgio Muniz foi cinepoetar em outras bandas. Partiu de forma serena, como sempre havia desejado. Foi encontrar os companheiros Maurice Capovilla, Geraldo Sarno, Thomaz Farkas, Glauber Rocha e tantos outros nomes do nosso cinema estrelado.

Sérgio, que foi tantos – cineasta, poeta, acadêmico, gestor público, militante – é agora mais uma estrela no firmamento. E que estrela! Um homem-astro, que ainda nos anos 60, participou ativamente do que mais adiante seria chamado de Caravana Farkas[1]. Um grupo de jovens cineastas reunidos em torno do fotógrafo e produtor Thomaz Farkas, um visionário que resolveu desbravar o interior do Brasil, registrando a cultura popular por meio de câmeras leves e gravadores portáteis recém-chegados do estrangeiro. Eram os primórdios do cinema-direto no Brasil, que conseguia trazer para as capitais as realidades "desconhecidas" deste nosso imenso país-colcha-de-retalhos.

Sérgio-cineasta-militante participava de passeatas, movimentos contra a ditadura, tendo tido até a ousadia de realizar clandestinamente um documentário que abalou as estruturas: Você Também Pode Dar um Presunto Legal (1971/2006). Um filme sobre a ação do Esquadrão da Morte e do Delegado Fleury, chefe do DOPS, naqueles duros anos de ditadura militar. Os negativos tiveram que ser levados para Cuba e o filme foi  editado e finalizado entre a Ilha, a França e a Itália, ficando pronto apenas em 1974[2]. Na ocasião, a conselho de amigos, Sérgio achou por bem não exibi-lo no Brasil, para não colocar em risco sua vida, tampouco a das outras figuras envolvidas em sua produção. Ainda assim, era preciso mostrar, denunciar! O cineasta-militante resolveu, então, distribuir o filme de forma gratuita e clandestina. E, por via das dúvidas, guardou uma cópia VHS bem escondida em um baú.

Nos anos 80, Sérgio-cineasta-acadêmico atravessou fronteiras e se tornou o primeiro Diretor Acadêmico da utópica Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, em Cuba. Uma instituição criada pelo argentino Fernando Birri – “pai do Novo Cinema Latino-americano”–, pelo grande escritor colombiano Gabriel García Marquez e por outros cineastas latino-americanos de peso. Tudo com o aval de Fidel Castro, claro.

Após a experiência cubana, Sérgio-cineasta-gestor-público foi trabalhar com Marilena Chauí, quando a filósofa ocupava a Secretaria Municipal de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989 – 1992). Trabalhou também na Secretaria do Estado, onde desenvolveu projetos de ensino de audiovisuais para o Museu da Imagem e Som (MIS), tendo sido ainda consultor para a área de cinema do Memorial da América Latina.

De lá pra cá, muitas foram as realizações deste homem múltiplo, tanto dentro como fora do campo cinematográfico. No ano passado, por exemplo, do alto de seus 87 anos, colocou uma máscara para se proteger do coronavírus e foi para as ruas protestar em favor da democracia. O homem era danado de forte e nada o impedia de seguir o rumo de sua militância pela justiça social!

Sérgio era forte sim, mas também extremamente sensível. Era poeta e escrevia livros… Entre eles, "En San Antonio y São Paulo ou…" (1997), que tive o privilégio de receber autografado em Santa Fe, Argentina, em um belo encontro sobre os protagonistas do Brasil Verdade (1968) - conjunto de documentários produzidos entre 1964 e1965 por uma equipe de argentinos e brasileiros[3]. Foi a partir daquele encontro santafesino que nasceu nossa amizade. Assim como nasceu também nosso desafio poético. A ideia, saída de sua cabeça jovem e sonhadora, era a de fazer releituras de trechos de poemas já conhecidos. Para mim, um presente dos Sérgios!

Sérgio-cineasta-poeta-acadêmico-gestor-público-militante foi, finalmente, um dia de sol na vida de muita gente. Além do fantástico exemplo de como se realizar filmes em um país mergulhado nas águas turvas da ditadura, foi ainda uma lição de ética, coerência, criatividade, talento e, mais que tudo, de ombro amigo.

Vá em paz, Sérgio-amigo! Que o “más-allá" te receba de braços abertos!

¡Hasta siempre, amigo!


[1] Nome cunhado por Eduardo Escorel nos anos 90.

[2] Em 2006, Sérgio Muniz digitalizou o filme, substituindo a narração antiga por uma mais atual, e acrescentando alguns novos materiais, como recortes de jornais e revistas, imagens de televisão, e ainda transcrição de depoimentos de pessoas torturadas e fragmentos das obras de teatro "A Resistível Ascensão de Arturo Ui" (Bertold Brecht) e "O Interrogatório" (Peter Weiss).

[3] Estes quatro documentários estão na origem da futura “Caravana Farkas”.


Capa do livro De Oscar a Niemeyer, de Ivan Alves Filho

Ivan e Niemeyer: a beleza arquitetônica de uma amizade

Eduardo Rocha*

“A sabedoria se torna loucura, prazer e dor”.

 Gueorgi Plekhanov

“(...) a práxis como atividade material do homem transforma o mundo natural e social para fazer dele um mundo humano”.

Adolfo Sanches Vasques

Acabei de ler prazerosamente o recente livro do historiador e jornalista Ivan Alves Filho, intitulado De Oscar a Niemeyer: meu convívio com o maior arquiteto contemporâneo. Este meu pobre, modesto e curto texto não cobre, não expressa, com certeza, a grandiosidade humana do texto escrito por este intelectual da mais fina, sensível e bela flor vermelha pecebista - que é autor de vários livros que desnudam alguns e decisivos episódios da realidade histórica brasileira.

Intelectual este com quem tive o prazer de ladeá-lo na mesa durante as comemorações dos gloriosos 100 Anos do PCB, organizadas pelo Cidadania (sucessor legítimo do PCB-PPS) e pela Fundação Astrojildo Pereira, e feitas no clima-calor agradável de 25 de março de 2022 na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, berço físico-político-histórico do PCB – portanto, comemorações estas realizadas na mesma data do primeiro congresso do PCB, onde então estiveram presentes apenas nove delegados representando 73 comunistas de todo Brasil.

Lembro que em 2002 visitei onde fora a “sede” do local onde fora fundado o PCB em 25 de março de 1922 – era, em 1922, uma casa que pertencia à família de Astrojildo Pereira. Foi ali onde se realizou o Primeiro Congresso do PCB. Passaram-se décadas e aquele “espaço” tinha se transformado, lá em Niterói, num estacionamento. Que fim levou este patrimônio histórico!

Mas compreendamos: a vida do PCB nunca foi fácil. Era o ano de 2002. E estávamos, na cidade de Niterói, lançando então a chapa PPS-PDT, composta por Ciro Gomes (presidente) e Leonel Brizola (vice-presidente) para as eleições presidenciais de então.

Lembro que tinha uma placa no muro frente ao estacionamento (e aí tiramos uma foto) que dizia que ali fora fundado o PCB. Tirei até uma foto frente a esta placa ao lado de Salomão Malina, Francisco Inácio Almeida, Roberto Percinoto, Paulo Eliziário, Luzia Ferreira e George Gurgel.

Não sei onde está esta foto.

Deve estar perdida por aí.

Mas está em minha memória. Aproveitando a estadia em Niterói, outros camaradas, após o término da convenção eleitoral, também visitaram a “sede congressual” e também tiraram fotos.

Desta mesa das comemorações dos 100 Anos do PCB, da qual o Cidadania generosamente me convidou a compô-la, estava também, para minha alegria pessoal e também contribuindo para o enriquecimento intelectual-cultural-político do evento, a meu lado e ao lado de Ivan Alves Filho, outro intelectual da matriz de 1922, o camarada Martin Cesar Feijó, autor da biografia do fundador do PCB, intitulada O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural. Assinale-se que Martin Cezar Feijó tem também larga e multifacetada produção bibliográfica.

Eu era o expositor menor, o mais simples.

Falei sobre a trajetória da Juventude Comunista na história do PCB.

Foi a tarefa que me incumbiram.

Minha fala foi uma modesta e curta.

Ivan Alves Filho e Martin Cesar Feijó deram um show de história partidária e de reflexões sobre política cultural.

Voltando ao livro.

Em seu mais recente trabalho, narrando sua amizade com Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907-2012), Ivan Alves Filho, transferindo o seu intelecto memorial às letras, expressa muito mais que política, expressa muito mais que as artes da arquitetura, expressa muito mais que as moléculas comprometedoras e decisivas da história brasileira e mundial, expressa muito mais que memórias humano-geográficas diversas e inapagáveis que ele presenciou: expressa, isto sim, uma amizade sincera, carinhosa, leal, afetuosa e de camaradagem (dentro da maravilhosa tradição solidário-humana do Partidão que eu vivi) e relatada com fraternidade, precisão, honestidade e sinceridade num texto extremamente agradável.

A verdade é sempre concreta (ela nunca é abstrata – um elefante não voa, não bate asas!), mas precisará sempre de uma aliada imprescindível para posicionar-se dignamente perante o mundo e vencer a mentira, que roda o mundo mesmo antes da verdade calçar as sua sandálias: a consciência honesta. E a verdade Ivan Alves Filho a tem como companheira desde o berço. Cada letra sua nesta sua obra está assentada materialmente pela verdade histórica realmente vivida por ele.

Seu recente trabalho histórico expressa a beleza e o carinho da arquitetura memorial social-intelectual-humana de uma sólida amizade entre dois seres humanos histórica, inequívoca e irrevogavelmente vinculados à raiz do legado histórico de 1922 – cada um, claro, entrando no PCB a seu tempo, a seu modo, a seu motivo e cada um cumprindo seu papel histórico diante das turbulências vividas pelo PCB.

E ambos (Oscar e Ivan) cumpriram bem seus papeis históricos.

Ivan, por ser mais jovem, ainda tem mais a dar à inteligência histórica brasileira.

É jovem!

E pode ainda mais ajudar a todos os que creem na verdade científico-concreta a sairmos do reino da ignorância-religiosa e entramos na República do conhecimento-científico libertador da humanidade do reino da necessidade.

Não posso deixar de parabenizar Ivan Alves Filho por sua obra, que fala de um inigualável do nosso Partido de origem, o PCB, Oscar Niemeyer e, também, de um inigualável ser humano em todo o mundo.

Não é todo dia que nasce, se forja e se apresenta ao mundo um ser humano com esses atributos humano-intelectuais e, justo dizer, revolucionários: Oscar Niemeyer.

Como nos informa Ivan Alves Filho, Niemeyer sempre, juntamente com sua arte, levantou sua voz a favor dos oprimidos, dos pobres, dos miseráveis, dos explorados, dos excluídos e sempre se posicionou a favor dos que sofrem no regime capitalista.

Niemeyer nunca vacilou.

Sempre teve um lado.

Digno defensor da paz, da democracia e do socialismo.

Defensor da dignidade humana.

A beleza arquitetônica concretizada, objetivada, realmente existente, realiza na prática (desde a arquitetura chinesa, passando pela greco-romana e muito antes os desenhos rupestres de aproximadamente 40.000 anos atrás) a beleza criativa da inteligência humana e proporciona a beleza da contemplação-cognitiva conquistada e apreciada pela humanidade.

A inteligência humana criou belezas arquitetônicas, a exemplo do que fizeram os persas, fenícios, egípcios, hititas, celtas, hebreus, cartagineses e os povos originários da América (sejam os povos da Norte, da Central, do Caribe ou do Sul) , como os incas, astecas, maias, guaranis, tupinambás, apaches, shawees, navajos e, assim como os povos africanos e asiáticos.

A beleza emancipacionista-libertária do espírito rebelde-crítico de Niemeyer, a riqueza de sua alma criativa da beleza humano-arquitetônica, de sua solidariedade ao PCB, de seu domínio da ciência da arte do desenho humano e da natureza, tudo isso é revelado pelas letras conscientes de Ivan Alves Filho, em tão poucas e ricas e nutritivas linhas históricas.

Com seu texto, Ivan Alves Filho não nos fala da fria arquitetura do concreto, não nos fala das fórmulas matemáticas complexas que a presidem (o que, em si, é também uma beleza, desde Pitágoras), e que proporcionaram a construção de grandes obras que a inteligência humana criou nos últimos milênios.

Não!

Ivan Alves Filho, com o seu De Oscar a Niemeyer, não nos leva à frieza e certeira das chamadas ciências duras (física, química, biologia, geologia, astronomia e botânica).

Oscar tanto Niemeyer e quanto Ivan Alves Filho sempre estiveram do mesmo do lado: a favor de todo o multifacético progresso social do ser humano. Por isso, não causa espanto Ivan Alves Filho descrever a beleza da arquitetura humana calorosa de Oscar Niemeyer pela vida, pelo justo, pelo bem, pela amizade sincera, pela solidariedade internacional dos povos.

Oscar Niemeyer projetou arquitetonicamente muitas obras que foram concretamente realizadas, mas seu pensamento concreto foi o de contribuir para a arquitetura humana de uma humanidade pacífica, democrática, harmoniosa, economicamente desenvolvida, ambientalmente humano-sustentável, justa socialmente, culturalmente avançada e universal, cientificamente desenvolvida, humanamente solidária, livre de preconceitos, autoritarismos, ignorâncias, misticismos e obscurantismo.

Seu texto claro, suave, calmo, memorial e sincero nos brinda com informações que expressam não apenas a sua amizade político-histórica-pessoal-familiar vivida com Oscar Niemeyer (um privilégio para poucos), mas revela também momentos cruciais e decisivos da vida nacional brasileira e internacional – e porque também não dizer, de um lado, dos momentos difíceis vividos pela vida real-concreta pelo próprio autor (que sofreu com os dentes e hálitos horrorosos da hiena da ditatura de 64) e, de outro, de momentos que as circunstâncias históricas compensaram  todo o seu sofrimento pessoal – pela sua coerência política, ética e ideológica.

Muitas informações passadas pelo seu livro eu mesmo as desconhecia. O conhecimento não se apreende de supetão, de imediato.  Foi Lenin quem disse que a apreensão da realidade se dá por longas e tortuosas aproximações sucessivas, progressivas à realidade concreta e, partir daí, originam-se interpretações e posições para as ações concretas.  

Não é fácil apreender o real.

Nem todo intelecto ao interpretar a realidade resulta numa posição progressista, pois os interesses de classe, em ultima instância, determinam a consciência e sua relação com o ser social.

Temos nos herdeiros de 1922 (PCB-PPS-Cidadania), uma missão: temos de colaborar para extirpar pela raiz as bases sociais, econômicas, culturais e ideológicas que levam parcelas do povo brasileiro em crerem em “mitos”, sejam eles quais forem – tragédias essas que vitaminam o nazi-fascismo tupiniquim.

E o lulopetismo também não é solução para os gigantes desafios histórico-estruturais que devem ser enfrentados e superados pela democracia brasileira - o lulopetismo é o atraso inverso do bolsonarismo. 

O Brasil precisa de forças democráticas que operem democraticamente transformações estrutural-democráticas dentro da democracia e da República a favor da maioria do nosso povo brasileiro.

Seu texto revela detalhes da solidariedade militante concreta de sua vida pessoal e com o seu internacionalismo impregnado/gestado desde criança por seu pai (Ivan Alves) – não apenas do autor, que se mantém honesta e dignamente na sua posição histórica diante das cruciais curvaturas da vida nacional - mas do nosso maior arquiteto a todos os que se dispuseram a revolucionar democraticamente o Brasil e o mundo; suas linhas escritas expressam a convivência humanista de vida e ideais revolucionários não só entre dois fraternos amigos, mas, complementarmente, entre dois responsáveis camaradas cúmplices de sonhos, lutas, inteligências, articulações, convicções e esperanças empenhadas na construção de um Brasil e de um mundo melhor.

Ivan Alves Filho rememora personagens históricos que projetaram e construíram o concreto teórico-ideológico-político-organizacional material-concreto do PCB e outras forças democráticas que deram corajosa substância humana à conquista da democracia, sepultando assim as trevas inauguradas em 1964, e relembra mesmo personagens – que se tornaram seus amigos - que são caros à conquista da independência da Argélia frente à França, por exemplo.

Ivan Alves Filho, em seu livro, faz uma referência justa e honesta para o imprescindível Francisco Inácio Almeida, secretário de Luís Carlos Prestes em Moscou, na então União Soviética, e um dos mais destacados e competentes dirigentes do PCB-PPS-Cidadania.

Ele diz: “Talvez, em toda a minha vida, eu só tenha convivido com uma outra pessoa com as mesma generosidade de Oscar, o meu querido amigo Francisco Inácio de Almeida, figura fundamental na história das lutas sociais do Brasil, cearense de Baturité”.

Francisco Inácio Almeida é um ser humano solidário que eleva o espírito humano a torna-se universalmente humano-solidário.

O autor revela também seu aprendizado político-humanista recebido pelo artista-humanista de Brasília e da arquitetura do humanismo universal (parece Ivan colocar-se sempre humildemente como um jovem permanente aprendiz diante de um generoso sábio Oscar Niemeyer).

Nas suas linhas descreve os momentos que lhe marcaram pessoalmente – momentos material-políticos difíceis que o autor vivenciou no Brasil e no exílio durante os anos do regime ditatorial vindo às trevas em 1964 até momentos de sofisticação intelectual proporcionado não só pelo amigo, mas pelas suas andanças políticas, culturais e acadêmicas pelos países que conheceu, pelas universidades que cursou, pelos livros que leu, pelos livros que escreveu, pelos acontecimentos que assistiu e com as pessoas das mais diversas matrizes teórico-ideológicas com que conviveu e apreendeu, professou e moldaram sua consciência generosamente humana.

Muitos já escreveram sobre Oscar Niemeyer, um Singular magistralmente Universal, devido sua Particularidade criativa. Esta obra de Ivan Alves Filho não navega nas frias, matematizadas e inanimadas curvas arquitetônicas do concreto projetadas e construídas no Brasil e mundo afora, com o suor de operários, que sempre mereceram seu carinho, amor, e solidariedade militante.

O que encontraremos nesta obra são curvas, linhas, projeções, ângulos, significados imaginário-humanos que Niemeyer objetivou, concretizou, materializou em sua universal subjetividade impregnada da modernidade suave e da beleza da inteligência humanista que ele sempre portou.

As curvas literárias trabalhadas por Ivan Alves Filho são as curvas humano-históricas da vida humana em sua multifacetada beleza e crueldade em momentos difíceis pelos seres humanos que lutaram pela humanidade\ – a contradição da vida, sempre presente até mesmo numa curva, que é a negação da reta!

Marx diz que o gênero humano, agindo sobre a natureza exterior à sua consciência natural-humana e modificando-a materialmente, muda sua própria natureza humana, isto é, ele muda sua natureza física e intelectual e, com  isso, seu próprio mundo social.

A consciência humana, aprendi isso, não age apenas sobre a natureza inorgânica e orgânica – uma necessidade histórica inegociável à preservação da vida humana, há que produzir comida e as condições mínimas para a existência humana -, mas age também sobre a sua própria natureza sócio intelectual, age sobre si mesma, num processo doloroso de luta pela sobrevivência material-intelectual da vida concreta, na luta pelo conhecimento humano-universal contra a ignorância múltipla (repleta de ignorância místico-religiosa) e sedenta de sabedoria científica-libertadora das trevas, que deve enfrentar o ser social material e realmente existente, esta galáxia de pensamentos nada inocentes, pois revelam o grau desigual atingido de consciência social pela humanidade.

Recomendo a leitura de De Oscar a Niemeyer: meu convívio com o maior arquiteto contemporâneo, de  Ivan Alves Filho.

É um belíssimo trabalho que deve ser lido e nutrir as novas gerações que a vida democrática e pluralista vale a pena, que a solidariedade humana vale a pena, que a inteligência científico-criativa vale a pena, que lutar pela transformação do mundo para sair do reino da ignorância e do reino da necessidade para o reino da liberdade vale a pena.

E por fim, para não me alongar e tomar mais o tempo do leitor, a obra de Ivan mostra que a amizade verdadeira, leal, sincera, honesta e real deve ser sempre vivida, lembrada, valorizada e eternizada.

É uma práxis (esta atividade humana intelectual-material) perante a realidade do ser social que cerca o gênero humano e o determina e o leva, sob determinadas circunstâncias, a transformar objetivamente este mundo num mundo que faça a humanidade feliz.

Fica o meu modesto registro de congratulações não só ao autor como também ao eterno camarada Oscar Niemeyer.

Eduardo Rocha, Guarulhos, SP, domingo, 30/07/2023

Referências Bibliográficas

  1. Alves Filho, Ivan. De Oscar a Niemeyer: meu convívio com o maior arquiteto contemporâneo / Ivan Alves Filho, -- 1º ed. – Tiradentes, Minas Gerais, Brasil: Aquarius, 2023. 86 p.

  • Feijó, Martim Cezar. O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo. Editora Boitempo Editorial, 2022. 256 p.

Eduardo Rocha é economista pela Universidade Mackenzie, pós-graduado com especialização em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), articulista da Voz da Unidade, órgão oficial de imprensa do PCB, e secretário de Salomão Malina, último secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e dirigente Nacional do Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB.


Cidadania, um espaço de atuação antenado com os novos tempos

Francisco Inácio de Almeida e Ivan Alves Filho

Agremiação política formada em 2019, como resultado da transformação que atingiu o Partido Popular Socialista (PPS), o Cidadania23 tem por objetivo contribuir para mudar a vida dos brasileiros em seus múltiplos aspectos.

Posicionando-se como herdeiro das lutas libertárias do nosso povo, as quais tiveram, em diferentes períodos, no decorrer do século XX, a participação decisiva dos anarquistas, dos socialistas e dos comunistas, o Cidadania23 tem consciência, contudo, de que vivemos um momento historicamente novo, o qual se pauta pela emergência de novos campos de reflexão e de luta.

As mudanças na esfera produtiva, com os avanços possibilitados pela automação, a inteligência artificial e o trabalho por conta própria, já deixam marcas profundas na nossa maneira de fazer política.

Se o movimento anarquista correspondeu a uma fase da organização da indústria, mais artesanal, e o movimento comunista representava a fase da indústria pesada, com uma maior separação entre o capital e o trabalho, hoje entramos em uma nova era industrial ou até mesmo pós-industrial, com ênfase na sociedade do conhecimento e no trabalho imaterial. Somos Cidadania!

O Cidadania é um movimento em diálogo permanente com a sociedade, transformando e se transformando na luta por uma nova hegemonia política que assegure a ampliação e consolidação da democracia brasileira na busca de uma nova economia, com inclusão social, preservadora do meio ambiente e dos nossos valores culturais, os valores do Humanismo.

É natural que uma outra política se faça necessária, a partir das transformações que se operam na base material da nossa sociedade. O mundo do trabalho, o mundo da cultura e a Democracia formam o tripé da nossa atuação política renovada.

O Cidadania23 entende a Democracia como um valor civilizatório, com desdobramentos nos terrenos econômico, social e institucional. Ou seja, a Democracia como meio e como fim. Alguns setores revelam mais sensibilidade na abordagem da Democracia econômica, outros avançam mais na compreensão da Democracia social ou política.

Mas o chão democrático comum pode uni-los. E a linha divisória se dá entre Democracia e Autoritarismo. Ou, se preferirmos, entre Civilização e Barbárie.

Cumpre um papel importante neste processo de retomada da Democracia o pleno entendimento do que o Estado representa de fato na vida contemporânea. Este entendimento repousa em dois pilares. De um lado, é preciso afirmar sempre sua dimensão pública, lutando contra a sua privatização ou submissão a interesses particulares.

De outro, é necessário que o Estado se submeta, aí sim, aos interesses maiores da sociedade. A esfera pública só assim poderá ser realmente contemplada. Um partido político contemporâneo tem que ser o representante da sociedade no Estado e não o contrário.

Mais: a contradição não se dá entre Estado e mercado, mas entre capital e interesse social. O conteúdo público de uma determinada propriedade é dado não por seu caráter formal, mas por sua gestão. Estatização não é sinônimo de socialismo, nem mercado sinônimo de capitalismo.

O mundo está em acelerada transformação. As fronteiras entre as classes sociais, os modos de vida se deslocam constantemente, assim como se alteram a nossa visão de mundo e a relação do homem com a natureza. Daí a necessidade imperiosa de alinharmos alguns eixos de ação, a saber:

a) exame do desenvolvimento atual das forças produtivas, com foco na automação, na inteligência artificial, no empreendedorismo e na nanobiotecnologia;

b) análise dos impasses atuais impostos ao meio ambiente e à sobrevivência da espécie humana;

c) aprofundamento do conhecimento da cultura brasileira e internacional (regionalismo, dimensão identitária, miscigenação, papel da contra elite cultural, a contribuição ou presença feminina, a relação com as instâncias institucionais);

d) e, por fim, estudo permanente e acurado da Democracia, entendida como uma conquista da própria Humanidade.

Repensar, em suma, o caráter de massas da Democracia, democratizar a própria Democracia, afinando os instrumentos de representatividade, nos quais têm um valor central o trabalho colegiado e a rotatividade em todas as esferas do poder.

Um denominador comum possível talvez seja a cidadania. Seu vínculo com o mundo do trabalho pode ser feito por intermédio da Constituição. Sua ligação com cada um de nós, individualmente falando, pode ser realizada por meio das lutas identitárias, incluindo aí a cultura como pertencimento. Seu elo com as liberdades pode se dar pela defesa dos direitos de ir e vir das pessoas.

A cidadania pode ser o grande fator estruturante da participação popular pelas mudanças. Ela perpassa o sistema de classes; como conquista do processo civilizatório não é monopólio de classe alguma. É um patrimônio de todos. A lógica do lucro atinge a toda a sociedade, e não apenas a quem nela trabalha. A cidadania, nesse sentido, concerne a todos os membros dela. É unificadora das mais diferentes sensibilidades.

A luta social ensina que precisamos de duas grandes ferramentas. São elas um programa e o instrumento para sua colocação em prática. A reflexão e a ação, dialeticamente irmanadas.

O Cidadania23 é motivo de orgulho para quem quer fazer política de alto nível, num país em que a atividade política não é praticada como deveria, sobretudo por não levar em conta os interesses maiores da sociedade.

Em toda a nossa rica e longa trajetória, oriundos que somos do Partido Popular Socialista e do Partido Comunista Brasileiro, cujo centenário ocorreu há um ano, nós nos reinventamos sempre que a realidade nos coloca esta necessidade, sempre agregando personalidades e cabeças pensantes de relevo nas ciências (sobretudo sociais e políticas), na cultura e nas atividades sociais e políticas, particularmente homens e mulheres que desejam um Brasil melhor e para todos, e não apenas para uma minoria.

Nesta nova realidade, somos o partido que primeiro se articulou com os movimentos sociais, surgidos de atividades organizadas através das redes sociais, particularmente as engajadas nas tecnologias modernas da internet, como o WhatsApp.

Além do mais, objetivando bons resultados para os brasileiros, estamos abertos ao diálogo com todas as forças políticas, evidentemente que não com as que defenderam o Governo Bolsonaro e sua postura antidemocrática contra as instituições e seus membros.

Destaque-se que nenhum grupo politico fez mais por este país do que o nosso partido, de que é exemplo o seu permanente empenho na defesa da democracia e de oportunidades iguais para todos. Exemplo maior nesse sentido foi sua batalha para que fosse feita uma Reforma Agrária no país.

Para tanto, teve a iniciativa de estimular e colaborar para a criação de sindicatos rurais, por todo o território nacional. Foi também o principal responsável pela criação da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), em 1961, assim como da fundação, em 1963, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (a famosa Contag).

A campanha O Petróleo é Nosso, um dos maiores e mais consequentes movimentos de massa a dominar as ruas do país, teve apoio decisivo nosso. Isso desde meados dos anos 40 e que se tornou vitorioso, em outubro de 1953, quando o presidente Getúlio Vargas criou a Petrobras – Empresa Brasileira de Petróleo.

A luta sistemática e permanente em defesa da mulher, dos seus direitos e evitando-se que ela seja escanteada do seu espaço político natural, também começou por iniciativas de nosso partido, nas primeiras dezenas do século passado.

Ressalte-se que uma das maiores ativistas do Bloco Operário Camponês seria Rosa de Bittencourt, que trabalhava como tecelã em Petrópolis e representaria a mulher brasileira no Congresso Mundial da Mulher, em 1930, na antiga União Soviética. Rosa foi a primeira mulher a aderir ao Partido, ainda em 1922.

Era um período de grande efervescência social e as mulheres não permaneciam alheias a isso. Havia uma dedicação total ao PCB. Uma dessas mulheres, Laura Brandão, poetisa alagoana, vivendo à época no Rio de Janeiro incorporou-se, em 1925, ao lado de Astrojildo Pereira e Otávio Brandão, ao comitê de redação do jornal A Classe Operária.

Desde os anos 30, seus militantes participam da luta na defesa dos índios e tiveram papel central na demarcação e preservação das terras indígenas, atuando em estreita ligação com o marechal Candido Rondon e os irmãos sertanistas Villas-Boas, na primeira metade do século passado.

O Partido também incorpora, desde sua fundação, cidadãos negros, por entender que não havia nem há como garantir um projeto de mudanças para o Brasil sem o combate ao racismo e à exclusão social.

Em 1930, o Partido lançou um operário negro Minervino de Oliveira, do Bloco Operário e Camponês (Boc), como candidato à Presidência da República.

Destaque-se também que o primeiro deputado negro no Brasil foi, em 1945, o operário Claudino José da Silva, do Rio de Janeiro, e que o I Congresso do Negro Brasileiro, realizado em 26 de agosto de 1950, teve a participação decisiva do antropólogo Edison Carneiro, filiado ao nosso Partido.

Nosso Partido conquistou para suas fileiras, desde os anos 1930, a figura singular de Luiz Carlos Prestes, que teve rica expressão na vida política brasileira, assim como outros dirigentes de grande importância nacional, cabeças políticas de alto nível, que deram rica contribuição ao Brasil e revelaram-se líderes partidários exemplares, dentre outros Giocondo Dias, Salomão Malina, Armênio Guedes e Roberto Freire.

A questão judaica também mereceu atenção especial do Partido, desde o seu surgimento nos anos 1920, chegando a conquistar e a incorporar judeus em sua atuação partidária de que são exemplo Jacob Gorender, Salomão Malina, Marcos Jaimovich, Helena Bessermann e Dina Lida Kinoshita.

No movimento editorial, temos Ênio Silveira, Moacyr Félix, Caio Prado Junior, Renato Guimarães, Raul Mateos Castell, dentre outros, e na história da literatura brasileira agregam-se nomes comunistas da qualidade de Astrojildo Pereira, Anibal Machado, Alvaro Moreira, Bandeira Tribuzzi, Bernardo Élis, Ferreira Gullar, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Oswald de Andrade, Solano Trindade e tantos outros, assim como os historiadores Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré e Joel Rufino dos Santos.

Nas artes plásticas, destacam-se nomes como Candido Portinari, Tarsila do Amaral, Abelardo da Hora, Villanova Artigas, Di Cavalcanti, Ana de Holanda, Aparecida Azedo; e no cinema, figuras como Nelson Pereira dos Santos, João Batista de Andrade, Ruy Santos, Alex Vianny, Lima Duarte, Bete Mendes, Vladimir Carvalho, Silvio Tendler e Zelito Viana.

No teatro e na televisão, nomes como os de Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Glauce Rocha, Dina Sfat, Procópio Ferreira, Mário Lago, Oduvaldo Viana Filho e Stepan Nercessian.

Na música, clássica ou popular, nomes como os maestros Claudio Santoro, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Brasileira, e Francisco Mignone; compositores como Arnaldo Estrela, Camargo Guarnieri, Candeia, Carlos Lira, Jards Macalé, Jorge Goulart, José Carlos Capinam, Noca da Portela, Noel Rosa, Paulinho da Viola, Gonzaguinha (Luiz Gonzaga Junior), Sidney Miller.

No jornalismo, Élio Gáspari, Vladimir Herzog, Eneida de Moraes, Sergio Cabral, Milton Coelho da Graça, Noé Gertel, Ivan Alves e Odalves Lima.

O impacto das transformações técnicas e científicas, a partir da robótica, da telemática e dos meios de comunicação de massa, afetou a sociedade moderna e toda a vida política, econômica e social contemporânea.

As organizações políticas, econômicas, sociais, culturais e espirituais se transformaram e continuam sendo impactadas com este processo em andamento que integra e fragmenta a sociedade moderna.

As organizações político-partidárias são parte integrante deste processo de transformação. No caso concreto, o PCB-PPS e atual Cidadania23 procurou e continua procurando adaptar-se a este novo cenário político, econômico e social.


Mulheres negras debatem preservação da Amazônia em live da FAP

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizará nesta terça-feira (1/8), das 18h às 19h, uma live para debater as “sabenças de mulheres negras, com autonomia e afetos na Amazônia". Durante o encontro virtual, elas discutirão ações importantes para a preservação do bioma, que é um dos mais ricos em biodiversidade do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=_fBIS7JKHHU

A live terá transmissão em tempo real no site da FAP, na página da entidade no Facebook e no canal da instituição no Youtube. O público poderá enviar perguntas por meio das próprias plataformas digitais.

De acordo com a diretora executiva da FAP e mediadora do debate, Jane Monteiro Neves, chama atenção para o “desmatamento indiscriminado das florestas”. Ela também é mestre em Enfermagem de Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Pará (UEPA).

Participantes

Josanira Rosa da Luz: Bacharel em Administração, conselheira do Centro de Cultura Negra, secretária geral do Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional e Conselheira do Consea.

Bianca Pereira da Silva: Bacharel em Serviço Social, integrante dos coletivos ALAGBARA e Oorun Ombirin de mulheres negras e quilombolas e da comissão de heteroidentificação racial da UFT E Cesgranrio.

Angélica Albuquerque da Silva: Mulher negra e gorda, museóloga, educadora popular e patrimonial e consultora de imagem e estilo.


Cineclube terá debates sobre filmes com temas relevantes da atualidade

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e a Biblioteca Salomão Malina, mantida pela entidade, lançarão no dia 31 de julho um novo projeto cultural para discutir temas relevantes e de interesse público a partir de temas abordados em filmes. De acordo com a direção executiva da instituição, a ideia é realizar debates on-line toda última segunda-feira do mês, às 19h30, com participantes do Cineclube Vladimir Carvalho.

O lançamento do projeto ocorrerá com a discussão sobre o tema da escravidão contemporânea, a propósito do Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas, celebrado no dia 30 de julho. O público em geral pode participar dos debates do cineclube.

A primeira sugestão é o filme Os Sete Prisioneiros, de Alexandre Morato, com Rodrigo Santoro, produção de Fernando Meirelles (Ensaio sobre a Cegueira) e Ramon Bahrani (Tigre Branco). A abertura da discussão será feita pela crítica de cinema Lilia Lustosa.

Em busca de uma vida melhor, Mateus, um rapaz humilde de uma cidade pequena, e outros jovens aceitam trabalhar em um ferro velho em São Paulo. No entanto, todos logo percebem que foram enganados e caíram em uma rede de trabalho escravo. Olhando para esse cenário, Mateus decide se unir ao seu captor e se tornar seu braço direito, mesmo sofrendo com grandes conflitos morais.

Veja, abaixo, o trailer do filme:

https://www.youtube.com/watch?v=Mr2vNNe-qk8

As propostas de filmes do projeto são apresentadas, previamente, em um coletivo do Cineclube Vladimir Carvalho. As pessoas interessadas em participar do projeto devem entrar em contato com a Biblioteca Salomão Malina, por meio do WhatsApp oficial (61 984015561) e solicitar acesso ao grupo de discussão.

Biblioteca Salomão Malina

Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008, a Biblioteca Salomão Malina se tornou um importante espaço de incentivo à produção do conhecimento em Brasília. Localizada no Conic, tradicional ponto de cultura urbana próximo à Rodoviária do Plano Piloto, a biblioteca foi reinaugurada em 8 de dezembro de 2017, após ser revitalizada. Isso garantiu ainda mais conforto aos frequentadores do local e reforçou o compromisso da biblioteca em servir como instrumento para análise e discussão das complexas questões da atualidade, aberta a todo cidadão.

Adolescente pesquisando um livro para leitura/ Arte: FAP
Visitante da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Os colaboradores Thalyta e Alexandre/ Arte: FAP
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livro disponível para empréstimo/ Arte: FAP
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Auditório da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina
Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
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Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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O espaço integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), mantida pelo Cidadania, e conta com quase 5 mil títulos para empréstimos, que são constantemente atualizados por meio de doações e pela aquisição de obras de pensadores contemporâneos. O acervo é especializado em Ciências Sociais e Humanas, contando também com livros da literatura que fazem menção à crítica social e dos costumes, na transição do Brasil rural para o urbano.


Krav Magá: abertas inscrições para novo curso de defesa pessoal em Brasília

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) abriu as inscrições para o curso de defesa pessoal com técnicas de Krav Magá, a ser realizado, a partir de 12 de junho, no Espaço Arildo Dória, na parte superior da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, região central de Brasília. As instrutoras Verônica Gomes e Hevellyn Larissa Santos ministrarão as aulas presenciais, às segundas e quartas, das 12h30 às 13h30. A mensalidade custa 60 reais.

Para saber mais informações, envie mensagem para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina (61 984015561)

O objetivo do curso é capacitar públicos vulneráveis para ter habilidade em defesa pessoal e gerar rede de apoio a vítimas de violência urbana e doméstica. As aulas também vão trabalhar autoconfiança, autoestima, empoderamento e senso de comunidade, por meio de técnicas Krav Magá e sua filosofia.

Krav Maga é uma arte marcial para defesa pessoal criada por Imi Lichtenfeld, em Israel, nas décadas de 1960 e 1970. Após sua aposentadoria do Exército, diante da história de seu povo, Imi decidiu desenvolver uma arte marcial que fosse possível de ser utilizada por qualquer cidadão para se defender. Todos os golpes e movimentos do Krav Magá foram pensados para que qualquer pessoa, sem importar gênero, idade ou compleição física, fosse capaz de se defender eficazmente em situações de risco.

Clique aqui e veja eventos realizados pela Biblioteca Salomão Malina

O Krav Magá tem ganhado cada vez mais popularidade no mundo todo, o que pode ser atribuído à crescente preocupação com a violência urbana, em especial a doméstica e a gerada por discursos de ódio e intolerância. Com o treinamento, os participantes vão adquirir habilidades para se protegerem de situações de violência e se tornarem mais confiantes para enfrentar potenciais ameaças.

Para além, a própria filosofia do Krav Magá gera mudanças na perspectiva de seus praticantes diante dos desafios da vida. O equilíbrio emocional gerado pela prática no tatame, os exercícios para enfrentar os medos pessoais, os movimentos que ajudam no controle da mente que culminam no controle do estresse e da tensão física e mental cotidianos, a capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes em situações de risco, o aumento da autoestima e da confiança pessoal são características trabalhadas pelo Krav Magá que ajudam no desenvolvimento pessoal.

Instrutoras

Verônica Gomes é faixa azul, graduada e licenciada pelo Grão Mestre Yaron, ainda diplomada em técnicas da água, uso e defesa contra faca, bastão, arma de fogo, defesa contra múltiplos agressores, entre outras técnicas exigidas pela escola aos seus professores.

A instrutora tem capacitações na área de Defesa Pessoal ministradas por órgãos policiais e instituições privadas, sendo habilitada a conduzir os alunos a atingirem o melhor de suas capacidades em autodefesa. Leciona pela Bukan, desde 2020, e é responsável pelo Tatame Bukan do Serviço Social do Comércio (SESC) no Gama.

Hevellyn Larissa Santos é faixa azul, praticante de Krav Maga desde 2016 e licenciada pela Bukan desde 2019. Participou de diversos cursos, incluindo treinos especiais para mulheres, defesa contra múltiplos agressores, defesa contra faca, bastão e outros.

Ela tem experiência com o público infanto-juvenil. Leciona desde 2021 na Academia de Lutas 1RM Fit, em Águas Claras, e já participou de diversos projetos externos relacionados à divulgação do Krav Magá e à conscientização do público feminino sobre as muitas possibilidades de utilização de técnicas voltadas à autodefesa e proteção da mulher.


Economia 2023 | Imagem: xalien/Shutterstock

Economia informal e saúde fiscal: a contradição em busca da superação(1)

Eduardo Rocha*, economista pela Universidade Mackenzie

“O verdadeiro não se encontra na superfície visível.

Singularmente naquilo que deve ser científico,

a razão não pode dormir e é preciso usar a reflexão.”

Hegel[1]

“(...) toda a ciência seria supérflua se houvesse coincidência

imediata entre a aparência e a essência das coisas”.

Marx[2]

O inferno está vazio, pois todos os demônios estão presentes na “guerra” em curso nos bastidores da República brasileira sobre os fundamentos da futura reforma tributária e do novo marco fiscal ou arcabouço fiscal ou âncora fiscal.

Essas expressões (distantíssimas do pobre que paga altos impostos frente ao rico que paga pouco imposto) dizem respeito à engenharia política que definirá as diretrizes de como recompor as receitas disciplinando as despesas públicas.

Trata-se, num primeiro momento, de mudar o teto fiscal, mas isso não basta. Isso é espuma frente às necessidades do país. A estrutura do rio está mais embaixo: está na reforma tributária, expressão de lutas de grandes interesses.

Neste debate, não faltam malabarismos tecnocrático-herméticos e desfiles linguístico-exibicionistas – alguns absurdos - que defendem o arrocho social e levantam-se contra o arrocho aos privilégios, como via para melhorar as finanças públicas e a vida do povo.

E os privilégios a grupos econômicos são vastos. Vamos a eles.

Num interessante artigo (O dreno financeiro que paralisa o país: a farsa do déficit[3]), Ladislau Dowbor, professor de Economia nas pós-graduações da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), aponta o que ele chama de “drenos financeiros” que desnutrem o Estado.

Dentre os quais se destacam:

  1. dreno dos juros da dívida pública, em 2022 terão sido entre 600 e 700 bilhões drenados;
  2. dreno dos juros praticados no Brasil, que, em 2016, tiravam um trilhão de reais da economia real (16% do PIB);
  3. dreno da evasão fiscal: “em 2020, o Brasil perdeu R$ 562 bilhões devido a práticas ilícitas para evitar o pagamento de impostos”;
  4. dreno das renúncias fiscais, que segundo informe da Câmara dos Deputados, “as renúncias de impostos concedidos pela União a parcelas da sociedade devem chegar a R$ 456 bilhões em 2023, ou 4,29% do Produto Interno Bruto (PIB)”;
  5. dreno dos lucros e dividendos distribuídos que, no Brasil, não pagam impostos. Ou seja, diz Dowbor, “os 290 bilionários que aparecem na Forbes de 2022 são isentos de impostos, com a justificativa de que as empresas que possuem já os pagaram”;
  6. dreno dos impostos de exportação que permite, por exemplo, que  a produção exportada pela Vale do Rio Doce, gere dividendos aos acionistas, mas não receitas para o Estado - trata-se da Lei Kandir, de 1996, que isenta de tributos a produção de bens primários e semielaborados destinados à exportação e
  7. dreno do Imposto Territorial Rural (ITR), onde reina a sonegação irrestrita e declarações fraudulentas, que reduzem ao mínimo do mínimo a arrecadação fiscal.

Há, contudo, nesta pluritemática fiscal, um tema ausente, que é incontornável e desafia a inteligência político-intelectual-fiscal. É o tema da economia informal e os prejuízos fiscal-públicos que ela traz a municípios, Estados e União.

Em 2022, a economia informal brasileira atingiu 17,8% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos formalmente pelo país, que chegou a R$ 9,9 trilhões) - algo próximo a R$ 1,7 trilhões de reais.

É o que mostra o Índice da Economia Subterrânea (IES), cálculo feito pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, o ETCO, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

ETCO e IBRE-FGV conceituam a economia subterrânea como “a produção de bens e serviços não reportada ao governo deliberadamente, com o objetivo de sonegar impostos, evadir contribuições para a seguridade social, driblar o cumprimento de leis e regulamentações trabalhistas e evitar custos decorrentes da observância às normas aplicáveis a cada atividade”[4].

Qual o impacto negativo da informalidade na arrecadação dos entes federados em proporção ao PIB? Quanto ela prejudica a economia e a sociabilidade brasileira como um todo? O que fazer diante deste “buraco negro fiscal”?

Em 2018, União, Estados e municípios deixaram de arrecadar R$ 382 bilhões em tributos devido à economia subterrânea, o equivalente a 5,6% do PIB. Os dados constam de levantamento feito pela economista Vilma da Conceição Pinto, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV)[5].

Não há inocentes neste debate sobre a reforma tributária e o marco/arcabouço/âncora fiscal; seja ele um debate acadêmico, parlamentar, partidário ou, principalmente, quando travado no chamado mercado - pois o dinheiro, sob certas circunstâncias, transforma o não em sim e o sim em não.

O debate não é técnico (ainda que contenha inevitavelmente esses elementos, claro!), ele é um debate político, que determinará quem se apropria da renda nacional e quem concentra e exerce de fato o poder político – expressão concentrada da economia.

A saúde fiscal do Estado brasileiro, em suas três dimensões (União, Estados e municípios), tem, assim, vários inimigos por todos os lados e de diversas cepas que lhe atacam e lhe desnutrem financeiramente e, simultaneamente, aumentam a concentração da riqueza e o bem estar social nas mãos de poucos – mantendo a triste e injusta distribuição de renda no Brasil e a infelicidade de milhões de cidadãos e cidadãs.

É necessário o debate que busque soluções para possibilitar a que os entes da Federação (União, Estados e municípios) tenham condições financeiras sustentáveis para promover as políticas públicas previstas constitucionalmente.

Proponho que a questão de como anular e superar os prejuízos fiscais originados pela informalidade econômica seja considerado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo Congresso Nacional. Que criem uma comissão com especialistas e com todos que trabalham na informalidade para debater isso.

A economia informal deve entrar de fato no debate nacional-fiscal, pois há, sim, mecanismos para trazê-la, pelo menos em parte, ao mundo fiscal formal. E será isso que abordaremos nos próximos textos.


[1] Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Lecciones sobre la filosofia de la historia universal. 6º ed. Madrid, España. Alianza Universidad: 1997. p. 45

[2] Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Tomo 3. p. 1080.

[3]    Dowbor, Ladislau. O dreno financeiro que paralisa o país: a farsa do déficit.  2023. Disponível em:    https://sul21.com.br/opiniao/2023/02/o-dreno-financeiro-que-paralisa-o-pais-a-farsa-do-deficit-por-ladislau-dowbor/ . Acesso em: 14 de abril de 2023.

[4] Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – ETCO . Economia Subterranea. https://www.etco.org.br/economia-subterranea/ . Acesso em 14 de abril de 2023.

[5] Este cálculo, diga-se, teve por base o crescimento Produto Interno Bruto (PIB) de 1,3% em 2018. No entanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou o cálculo anterior e anunciou que PIB brasileiro de 2018 passou de 1,3% para 1,8%. Portanto, num cálculo grosso, e obedecendo ao percentual de 5,6% do PIB da economista Vilma da Conceição Pinto, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV, e o matematizarmos aos 1,8%, dá, conservadoramente, uma perda fiscal de R$ 392,2 bilhões. Valor este que prejudica o Brasil nas esferas da educação, saúde, infraestrutura e ciência e tecnologia.

Sobre o autor

Eduardo Rocha é pós-Graduado com Especialização em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

** Artigo produzido para a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da revista nem da FAP.


O que esperar do novo filme ¡Qué Viva México!

Com o mesmo título do famoso filme inacabado de Sergei Eisenstein, de 1932, o cineasta mexicano Luis Estrada lançou, no mês de março, seu próprio ¡Qué Viva México!, longa-metragem de mais de três horas de duração e que é uma sátira bem ácida da política mexicana atual.

Sátira, aliás, que não é novidade na filmografia do diretor, já que, a cada sexênio, ele lança um filme que detona o governo da atualidade, fazendo ainda uma análise (quase sempre cruel) da "mexicanidade”, ou seja, das idiossincrasias e incoerências do povo mexicano. Isso acontece desde A Lei de Herodes (1999), quando analisava e anarquizava os governos do Partido Revolucionário Institucional (PRI ). Em seguida, com seu Um Mundo Maravilhoso (2006), satirizando o governo de Vicente Fox. Em 2010, com O Inferno, cuja vítima principal era o presidente Felipe Calderón, e, mais recentemente, em 2014, com A Ditadura Perfeita, em que atirava pedras na administração do presidente Enrique Peña Neto. Enfim, há toda uma tradição guerrilheira que faz com que a espera pelo lançamento de seus filmes seja algo prazeroso para alguns e bem incômodo para outros.

¡Que Viva México! não foge à tradição e ataca de frente o governo do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, vulgo AMLO, do partido MORENA (Movimento Regeneração Nacional). Um político que se diz de esquerda, à favor do povo e contra a corrupção de qualquer natureza, mas que se rende (como todos) às armadilhas do poder, tendo uma ótima relação com os presidentes dos Estados Unidos, incluindo com o ex Donald Trump. Não podemos esquecer que os vecinos norteamericanos são os maiores parceiros comerciais do México, com as remessas de dólares vindas de lá para cá (dos imigrantes) representando 4% do PIB nacional.

A trama do filme gira em torno de Pancho Reyes (Alfonso Herrera), um homem de classe média (em ascensão), que trabalha dia e noite para atender os caprichos da esposa e dos filhos. De origem humilde, ele prefere esquecer e deixar bem escondido esse passado, até o dia em que recebe, porém, o telefonema de seu pai Rosendo (Damián Alcázar, que atua na pentalogia completa de Estrada), informando que o avô falecera e que era aguardado em seu pueblo para o enterro e para a leitura do testamento.

O que vemos, então, é o retorno à pobreza natal de Pancho, uma viagem ao México profundo, cheio de poeira, pobreza, mas também de alegria, camaradagem, comilanças, bebedeiras, mariachis e, claro, corrupção e espertezas. Tudo é paroxismo, é crítica, é desacato. Um verdadeiro show do politicamente incorreto, que tem irritado muitos espectadores mexicanos, sobretudo, os "Whitexicans" (elite branca do país), que não gostam nada de se ver assim representados na telona.

Mas, verdade seja dita, Estrada não poupa ninguém e aponta sua metralhadora para todos os atores do México contemporâneo, desviando-se assim do modelo maniqueísta que representa pobres como bons e ricos como maus, ou ainda políticos como os únicos seres corruptos e corruptíveis. Em seu filme, ele desenha um microcosmos capaz de representar as várias camadas da sociedade desse país, com seus defeitos e qualidades, mas, principalmente, com suas incoerências. Não à toa, ¡Qué Viva México! vem desagradando priistas, morenistas, panistas, etc, gente de esquerda, de direita e até de centro. Quase uma unanimidade!

Pelos olhos de uma estrangeira, residente no México há pouco menos de três anos, o que vejo é um retrato ácido da sociedade local, obviamente, levado ao extremo. Importante ter em mente que estamos aqui, porém, diante de uma sátira e que, por isso mesmo, os personagens, bem como as situações, são sim exagerados, artificiais e caricatos. Não se pode levar tudo a sério, nem querer interpretar cada diálogo ao pé da letra. O próprio cenário, a trilha e os filtros amarelados usados para representar o México quente e perigoso – como os gringos costumam fazer –, corroboram os excessos da história ali contada. Ao mesmo tempo que vão de encontro à campanha #UnfilterMexico, que a marca de cerveja Corona lançou há pouco, junto com o diretor de fotografia mexicano Emmanuel “Chivo" Lubezki, com o objetivo de acabar justamente com esse estereotipo no cinema.

Por outro lado, entendo a indignação de alguns mexicanos, pois olhar-se no espelho nem sempre é fácil, mesmo que, tantas vezes, necessário. Nosso Brasil bem que precisava de um louco Estrada para espelhar na telona, a cada quadriênio, uma sátira de nossos presidentes e da evolução (ou involução) de nossa sociedade.

Saiba mais sobre a autora

*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL)Suíca.


Capa do livro De Oscar a Niemeyer, de Ivan Alves Filho

Ivan Alves Filho publica livro De Oscar a Niemeyer

Comunicação FAP

O historiador, jornalista e documentarista Ivan Alves Filho publicou, nesta quinta-feira (27/4), o seu mais novo livro, De Oscar a Niemeyer, editado pela Aquarius Produções Culturais. Na obra, ele relata o “convívio com o maior arquiteto contemporâneo”. A publicação tem apoio cultural da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e do Instituto Cultural Biblioteca do Ó.

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Para adquirir o novo livro do historiador, entre em contato com a editoria, por meio de seu perfil no Facebook ou Instagram.

“Convivi com Oscar Niemeyer boa parte da minha vida. Eu o conheci ainda guri; meu pai se tornara seu amigo durante o tempo da construção de Brasília”, afirma o autor. “Oscar foi, para mim, um exemplo de criador e humanista, acima de tudo”, acrescenta. A capital federal completou 63 anos na última sexta-feira (21/4).

O autor conta que manteve contato com o arquiteto praticamente o tempo todo, desde que o conheceu, inclusive no exterior. “Lá em casa, nós o considerávamos um membro da nossa família, tamanha a nossa aproximação com ele”, diz, para acrescentar: “Sempre comentei com os amigos que Oscar explica o Niemeyer – e não o contrário. No centro de tudo, o homem”.

De acordo com o historiador, de fato, poucos trabalharam tanto na vida quanto Niemeyer, morto praticamente em cima de uma prancheta, poucos dias antes de completar 105 anos de idade. O aniversário seria em 15 de dezembro de 2012.

Niemeyer morreu no Rio às 21h55 do dia 5 de dezembro de 2012. Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul.


Governo Lula: FAP realiza webinar sobre rumos da economia

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) realizará, nesta quarta-feira (26/4), a partir das 19 horas, webinar sobre os rumos do governo Lula na economia. O evento online será transmitido em tempo real, no site e nas redes sociais (Youtube e Facebook) da entidade, para todas as pessoas interessadas.

https://www.youtube.com/watch?v=AWXZ2ACU8ko

Clique aqui e veja série de eventos da FAP

Nova obra destaca propostas para desenvolvimento com inclusão social

Participam do debate o economista Benito Salomão, conselheiro da FAP e doutor em economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e a ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) Vanessa Petrelli, que também foi secretária municipal de Agricultura e Abastecimento de Uberlândia. Os dois são professores de economia e relações internacionais na UFU.

Otaviano Canuto, professor na Elliott School of International Affairs da George Washington University, também está confirmado para o debate. Ele ainda é professor afiliado na Universidade Politécnica Mohamed VI e do Center for Macroeconomics and Development em Washington.

A mediação é de Cezar Rogelio Vasquez, engenheiro de Produção pela UFRJ, mestre em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ e membro do Conselho Curador da FAP.

Estadão | Pesquisadores lançam propostas para retomada do desenvolvimento com inclusão social

Correio Braziliense | Livro debate desenvolvimento em várias frentes técnicas e ideológicas


Saiu na Veja | Rede descoberta

Por José Casado, publicado na revista Veja

“Eu sou Victor Muller Ferreira, nasci o 04 de abril de 1989 no Riode-Janeiro, em Niteroi” — dizia o documento encontrado num dos dispositivos eletrônicos apreendidos com o passageiro deportado da Holanda para o Brasil, em março do ano passado.

Descontados os erros na escrita, não sobrava uma única verdade nas dezesseis palavras iniciais de um roteiro tosco sobre um homem que nunca existiu, mas morou em Niterói, Brasília, São Paulo e Baltimore (EUA) nos últimos onze anos.

Victor era Sergey na vida real. Jamais foi Muller Ferreira, como identificado no passaporte brasileiro. Erab Vladimirovich Cherkasov, informavam certidões russas. Nascera trinta e sete anos atrás em Kaliningrado, antiga Königsberg do filósofo Immanuel Kant. É um enclave do tamanho do Recife, entre a Polônia e a Lituânia, base naval da Rússia no Mar Báltico.

Detido no aeroporto de Guarulhos por identidade falsa, Cherkasov está preso em Brasília. Semana passada começou a ser processado nos Estados Unidos como agente de espionagem do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia. Ele nega. O governo de Vladimir Putin pediu sua extradição, qualificando-o como um mafioso moscovita.

Cherkasov é caso exemplar das dificuldades dos espiões do século XXI para criar histórias de vida coerentes no mundo digital e burlar sistemas de vigilância biométrica nas fronteiras.

Já era complicado na Europa de oito décadas atrás, quando Leopold Trepper vestiu a pele do industrial canadense Adam Milker e começou a montar a Orquestra Vermelha, a maior rede de espionagem soviética durante a II Guerra Mundial.

No fim de 1939, conta Trepper no livro O Grande Jogo (Fundação Astrojildo Pereira), chegaram à Bélgica quatro agentes russos que deveria infiltrar nos Estados Unidos. Todos estavam com passaportes uruguaios, confeccionados num birô moscovita de falsificações — a “sapataria”, no jargão da época. Para entrar nos Estados Unidos como cidadãos sul-americanos, precisavam de endosso do consulado de seu país em Bruxelas. O problema era que, dos quatro “uruguaios”, só um falava espanhol e sabia alguma coisa sobre o Uruguai.

Falhas em Moscou expõem espiões no Brasil, na Argentina e na Europa

A Orquestra Vermelha tornou-se lenda da espionagem soviética pelos êxitos. Um deles foi no outono de 1941, quando Hitler reuniu seus generais para decidir a ofensiva contra Moscou. Não levou muito tempo para o Kremlin conhecer, em detalhes, a opção pelo cerco à capital soviética — o estenógrafo do Estado-Maior da Wehrmacht na reunião era um dos “músicos” de Trepper.

Nas sombras da guerra de Putin na Ucrânia, os serviços secretos da Rússia agora parecem sitiados por falhas de informação e de segurança. Desde a invasão, dezenas de agentes russos mantidos sob cobertura diplomática foram expulsos por governos europeus. Estão perdendo, também, agentes treinados e custeados na vida encoberta no exterior.

Nos últimos doze meses foram descobertos três deles com identidades e residências no Brasil e dois na Argentina. As ações antiespionagem foram públicas, com indícios de coordenação entre treze governos.

Sergey Cherkasov foi identificado como oficial da inteligência militar russa e barrado na Holanda, em março do ano passado, depois de uma temporada na Universidade Johns Hopkins (EUA), onde viabilizara seu grande jogo: um estágio no Tribunal Penal de Haia, que investigava crimes de guerra na Ucrânia.

Deportado e preso em São Paulo, foi mapeado até nos locais onde escondia arquivos eletrônicos para coleta por outros agentes. Um deles numa ruína no mato, no quilômetro 34 da Rodovia Raposo Tavares, em Cotia (SP).

Na época da prisão de Cherkasov, a Grécia identificou a agente russa Irina Alexandrovna Smireva. Ela é casada com outro agente que vivia no Brasil na pele do empresário carioca Gerhard Daniel Campos Wittich.

Seis meses depois, em outubro, a Noruega prendeu o coronel russo Mikhail Valeriyevich Mikushin, o José Assis Giammaria no passaporte brasileiro, infiltrado num grupo de pesquisas no Ártico. Às vésperas do Natal, a Eslovênia deteve um casal de espiões, com passaportes argentinos em nome de María Rosa Mayer Muñoz e Ludwig Gisch.

Essa inusitada fragilidade na rede de agentes de Moscou com vidas falsas construídas no Brasil e na Argentina foi tema do vice-diretor da CIA, David Cohen, em visita aos governos do Mercosul na semana passada.

Fonte: Artigo publicado na Veja.


Aniversário de Brasília: Cineclube Vladimir Carvalho exibe filme O Céu Perdeu a Cor

Comunicação FAP

Às vésperas do aniversário de 63 anos de Brasília, a Biblioteca Salomão Malina exibirá, nesta quarta-feira (19/4), a partir das 15 horas, no Cineclube Vladimir Carvalho, o longa-metragem O Céu Perdeu a Cor, dirigido pelo cineasta Gustavo Serrate, com roteiro de Rodrigo Huagha. A entrada é franca. O espaço fica no Conic, na região centro da capital federal.

https://youtu.be/zTdv4WXtPwk

Com duração de 72 minutos e exibido em preto e branco, o longa conta com uma narrativa fragmentada por lapsos de tempo. O filme, um drama com classificação indicativa para pessoas a partir de 10 anos de idade, é resultado de um projeto independente realizado em Brasília e finalizado no período da pandemia.

O longa tem como personagem principal a cidade de Brasília e conta a história de quatro personagens todos quebrados pela vida. Um homem negro, ex-trompetista cansado da vida, já não consegue mais trabalhar e está a ponto de desistir. Pablo, enfrenta a perda de um amor. Nadja retorna à cidade depois de uma longa ausência sem dar notícias a seus conhecidos. E Clarice, uma dançarina que busca uma maneira de incorporar os movimentos da epilepsia em sua dança.