Dia do Jovem: Presidente do Juventude 23 analisa preocupações e desafios de jovens
11 de abril de 2025Manchete-Home,Mais Notícias,cidadania 23,Juventude 23,Dia do JovemFAP,Notícias,fap,Fundação Astrojildo Pereira,posição_1
Geovanna Machado observa dificuldades de engajamento político e alerta para necessidade de se aprender cidadania
Comunicação FAP
Novas relações com o mercado de trabalho, qualidade de vida, liberdade e realização de sonhos que conciliem bem-estar pessoal e carreira profissional estão entre os grandes desafios na vida dos jovens. Por outro lado, eles também enfrentam a batalha de formar uma parcela da população mais suscetível à depressão e ansiedade. A socialização e o engajamento político ocorrem, sobretudo, por meio das mídias sociais, com enorme volume de informações. A análise é da presidente nacional do Juventude 23, Geovana Machado, de 26 anos, líder do grupo do Cidadania 23, ao qual a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) é vinculada.
Para celebrar o Dia do Jovem, 13 de abril, a paranaense e advogada eleitoral compartilhou suas impressões por ter contato com centenas de jovens no país, observando que as novas relações com o mercado de trabalho estão no topo das preocupações da juventude. Ela afirma que os sonhos e as aspirações dos jovens, bem como a dificuldade de concretizá-los, diferem significativamente das gerações anteriores, que, segundo ela, tinham a vida mais pautada por cobranças como a da busca por sucesso profissional.
"Patamar diferente"
“Hoje, os jovens não se submetem a qualquer condição e não toleram mais a mesma pressão que as gerações passadas. Eles almejam patamar diferente e, talvez, não tenham a mesma ambição de outrora”, analisa a presidente do Juventude 23.
Na avaliação de Geovanna, é necessária uma reflexão sobre o significado da juventude contemporânea. Segundo ela, o momento atual representa uma “fase de transição” que molda uma geração, marcada por novidades e pela aceleração dos tempos e que reúne duas juventudes em uma só.
“Se antes as gerações se definiam a cada década, hoje esse período se reduziu a cinco anos, em média, com mudanças cada vez mais rápidas. Vivencio essa geração de transição, marcada por conceitos diversos. A mudança conceitual é notável, principalmente em relação à qualidade de vida, emprego, renda e sonhos”, ressalta.
Sonhos
A questão dos sonhos, de acordo com a presidente do Juventude 23, é crucial e se difere entre os jovens de hoje. “Eles almejam liberdade para realizar seus planos, mas também buscam estabilidade, não necessariamente um emprego fixo, mas, sim, uma estabilidade de vida”, observa.
“A preocupação com a saúde é evidente, com jovens que não fumam, não bebem, se dedicam a um estilo de vida mais saudável e, muitas vezes, são religiosos. Ao mesmo tempo, buscam aproveitar o melhor da vida, com amigos e família”, destaca.
Essa mudança de paradigma geracional também reflete na forma de relação dos jovens com o trabalho. “Os jovens não querem se esgotar em seus empregos. Desejam trabalhos que ofereçam satisfação financeira e permitam aproveitar a vida, viajar, estar com amigos e ter lazer”, pondera.
Obstáculos
A busca por esse estilo de vida, no entanto, enfrenta obstáculos de ordem comportamental. “O Brasil tem muitos casos de ansiedade, devido ao excesso de informação e às infinitas possibilidades de caminhos. Se antes as pessoas tinham poucas escolhas, hoje os jovens se deparam com a infinidade de opções e a necessidade de refletir sobre seus desejos. O trabalho se torna o mínimo necessário para a sobrevivência, querendo buscar tempo para as atividades que realmente os fazem felizes”, diz.
Na vida política, conforme observa Geovana, o engajamento ocorre principalmente nas redes sociais, com curtidas, compartilhamentos e outras formas de interação. “Políticos jovens utilizam as redes sociais para tentar engajar o público, que precisa de outros atrativos, como dancinhas e sensacionalismo, a fim de atrair jovens que não se aprofundam em debates”, acentua.
“Influenciadores digitais representam uma parcela significativa da juventude, mas será que isso é exercer a cidadania? Antes de exercer a cidadania, é preciso aprendê-la. A política se torna cada vez mais distante, refletindo uma socialização antissocial e uma sociedade líquida e dispersa, que produz jovens ansiosos e com outras prioridades”, afirma.
Radicalização aumenta e pode paralisar as votações da Câmara
11 de abril de 2025Justiça,Partidos,Memória,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,posição_1,Manchete-HomeMais Notícias,POLÍTICA HOJE 2,Notícias,congresso,Brasília,política,governo
O catalisador de um grande confronto é a cassação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ), aprovada pelo Conselho de Ética. O parlamentar resolveu fazer greve de fome
Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, está tendo crescentes dificuldades para manter sua agenda, inclusive a pauta prioritária que anunciou no decorrer desta semana: a Proposta de Emenda Constitucional da Segurança Pública. Segundo ele, há uma convergência entre as lideranças de partidos para dar urgência aos debates sobre o tema. Entretanto, as articulações para aprovação de uma anistia aos condenados pelo envolvimento na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 prosseguem, e o clima de radicalização na Casa pode esquentar ainda mais devido à aprovação do pedido de cassação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ) pelo Conselho de Ética da Câmara.
Desde quando recebeu o novo projeto da PEC da Segurança Pública, na terça-feira, das mãos dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Motta vem reiterando que sua prioridade é a questão da violência e do combate à criminalidade. “Daremos total prioridade para a discussão desse texto. Vamos analisar e propor as mudanças necessárias o quanto antes, porque o Brasil tem pressa para avançar com essa pauta”, garantiu.
O problema, porém, é que a bancada do PL está mobilizada para outra agenda: a anistia dos golpistas. Segundo o líder do partido, Sóstenes Cavalcante (RJ), a oposição já está perto de conseguir as 257 assinaturas para fazer o texto tramitar. “Estamos apostando no diálogo com os colegas parlamentares, que vêm se sensibilizando com essa pauta de justiça, de humanidade e de pacificação nacional”, disse Sóstenes em seu perfil no X. Como a agenda da segurança é uma prioridade para a chamada “bancada da bala”, o PL suspendeu a obstrução que fazia em plenário.
Entretanto, o voto dissidente do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira, para absolver todos os 17 réus denunciados por envolvimento nos atos antidemocráticos realizados na capital federal levou água para o moinho dos articuladores da anistia. Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a Corte, no julgamento, Mendonça divergiu do voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que foi seguido pelos ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino e Dias Toffoli. O ministro Nunes Marques acompanhou o voto de Mendonça.
Para Mendonça, o nível de evidência probatória exigida para a condenação difere daquele para “simples recebimento da denúncia” e, no caso dos réus que estão sendo julgados, “não foi atingido”. O ministro votou por absolver os envolvidos de todas as acusações formuladas nas ações em julgamento. Em seu voto, Alexandre de Moraes condenou os acusados a 1 ano de reclusão com prestação de serviços à comunidade e realização de curso sobre Estado e democracia; também proíbe o uso de redes sociais, determina multa, suspende o passaporte e revoga o pedido ou porte de arma dos réus.
Greve de fome
Mas o fato que pode ser o catalisador de um grande confronto na Câmara é a cassação do deputado Glauber Braga, aprovada pelo Conselho de Ética. Em protesto, o parlamentar do PSol resolveu fazer uma greve de fome, que já dura três dias e pode se estender até a próxima semana. Na terça-feira, quando a maioria dos deputados estará de volta a Brasília, Glauber estará completando uma semana de jejum alimentar, uma situação de risco.
Leia ainda: Sob ameaça de cassação, deputado Glauber Braga anuncia greve de fome
O Conselho de Ética aprovou a cassação do mandato na quarta-feira, por 13 votos a 5. A acusação, motivada por uma representação do Partido Novo, refere-se a um incidente ocorrido em abril de 2024, quando Braga teria expulsado, com empurrões e chutes, o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) Gabriel Costenaro, que participava de uma manifestação na Câmara. O deputado afirma que a iniciativa é uma perseguição política.
O processo ainda permite recurso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, posteriormente, será submetido ao plenário da Casa. Na comissão, Glauber pode ter alguma chance. Seu novo presidente é o deputado Paulo Azi (União-BA), eleito com 54 votos. Houve apenas um voto em branco. Ao assumir a presidência, Azi anunciou que dará atenção especial às propostas do Poder Executivo, “que tem a obrigação de implantar e propor políticas públicas para as quais foi eleito”. É uma sinalização de que o pedido de cassação de Glauber pode ir para a geladeira.
Não é a primeira vez que deputados realizam greves de fome na Câmara. Em junho de 2010, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) realizou uma greve de fome em protesto contra a decisão do diretório nacional do PT de apoiar a candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão. Durante o protesto, ele permaneceu no plenário da Câmara.
Outro caso ocorreu em 2009, quando o ex-deputado José Edmar realizou uma greve de fome em defesa do imposto único. À época, ele era filiado ao PR e utilizou o protesto para chamar atenção para sua proposta tributária. O ex-deputado João Correia (PMDB-AC) também recorreu à greve de fome em 2010, após ser acusado de envolvimento no escândalo dos “sanguessugas”. Foi inocentado pela Conselho de Ética da Câmara.
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Trump dobra a aposta contra a China e causa pânico nos mercados
8 de abril de 2025Trump,Tecnologia,EUA,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,comunicação,Exportações,Imposto,japão,posição_1,Mais NotíciasNotícias,Economia,política,Europa,Memória
Teme-se um período de recessão econômica sem que se saiba como e quando se sairá dela. A retaliação chinesa mirou as empresas de tecnologia dos Estados Unidos
Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou a China com tarifas adicionais de 50%, se Pequim não retirar suas taxas retaliatórias de 34% sobre os EUA. A escalada da guerra tarifária entre os dois gigantes da economia mundial provocou queda generalizada nas bolsas de valores de todo o mundo, principalmente na Ásia e na Europa. No Brasil, o Ibovespa, principal índice de desempenho das ações, abriu o mercado em queda de 1,7%, encerrando o dia com perda de 1,38%, enquanto o dólar fechou em alta, sendo vendido a R$ 5,91.
Nos EUA, fecharam em queda o Dow Jones, de 0,91%, e o S&P 500, de 0,23%. O Nasdaq de alta tecnologia reagiu e registrou pequena alta de 0,10%, entretanto o S&P 500 VIX, o chamado “índice do medo”, fechou com alta de 3,69%, em 46,98 pontos. Historicamente, os maiores patamares desse índice foram registrados na crise da Rússia, em agosto de 1998, quando fechou em 44,28; na crise financeira norte americana, em setembro de 2008, quando o tradicional banco de investimentos Lehman Brothers foi à falência e o índice fechou em 59,89; e na pandemia de covid-19, em março de 2020, quando chegou a 53,54.
O S&P 500 VIX é chamado de “índice do medo” porque tem a capacidade de refletir o sentimento dos investidores em relação à incerteza e à turbulência do mercado nos EUA e, sobretudo, mundo afora. No estresse financeiro, é uma resposta rápida à seguinte pergunta: você prefere deixar de ganhar um determinado valor ou arriscar perdê-lo mediante a possibilidade de um bom rendimento? A primeira opção é a resposta da maioria das pessoas. O índice VIX procura mostrar ao mercado essa aversão ao risco.
Esse comportamento, comum do ser humano, foi estudado pelo economista Richard Thaler. Segundo ele, quando as pessoas estão em uma situação mais favorável, preferem não mudar nada e manter o que já têm. Isso só muda quando há algo importante para resolver e não se tem o direcionamento para isso. O VIX (sigla para volatility index) é um índice de volatilidade criado pela Bolsa de Valores de Chicago. Esse indicador reflete o desempenho das ações das empresas que compõem o S&P 500 por 30 dias seguidos.
Valores mais altos indicam uma expectativa de maior oscilação de preços e incerteza, enquanto valores mais baixos sugerem maior confiança e estabilidade. Por isso, em tempos de crise, o VIX serve para medir a volatilidade esperada do mercado de ações, o sentimento dos investidores em relação à incerteza, o risco e a turbulência à frente no mercado de ações. Por isso mesmo, orienta para a tomada de decisões em momentos de crise financeira.
Perdas trilionárias
Como na situação desta segunda-feira, quando as quedas nas bolsas foram generalizadas: Nikkei 225 (Japão): -6,5%; Shanghai Composite (China continental): -6,4%; ASX 200 (Austrália): -3,8%; Kospi (Coreia do Sul): -5,2%; Taiex (Taiwan): -9,7%; STI (Singapura): -7,5%; Nifty 50 (Índia): -4,0%; Sensex (Índia): -3,7%.
Diante desses resultados, logo cedo, Trump foi às redes pedir para as pessoas não serem fracas e estúpidas. Não adiantou muito, a Dax da Alemanha caiu quase 10% no início do pregão, enquanto o FTSE 100 do Reino Unido tinha uma redução de quase 6% e o índice Cac 40 da França estava registrando queda de 7%.
Trump atirou na China, mas acertou os principais aliados dos Estados Unidos na Ásia, Japão e Coreia do Sul, além da Austrália. Toyota, Honda e Nissan estão entre as empresas mais atingidas. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, ao mesmo tempo em que se aproximou da China, ainda tenta um acordo com Trump. O Japão é o maior investidor estrangeiro nos Estados Unidos.
China e Estados Unidos produzem quase metade dos bens globais. Com a ameaça desta segunda-feira, Trump escalou mais ainda a crise: “Se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até esta terça-feira, 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão tarifas adicionais à China de 50%, com efeito em 9 de abril”, publicou em sua rede social.
Na conversa com jornalistas na Casa Branca, estabeleceu um horário: a China tem até o meio-dia de hoje para recuar. É um ultimato que ainda pode fazer desta terça-feira um dia de pânico nos mercados financeiros. Uma guerra comercial generalizada é temida por governos e empresas porque pode provocar uma onda inflacionária mundial, com aumento de matérias-primas, bens de consumo e serviços.
Teme-se um período de recessão econômica sem que se saiba como e quando se sairá dela. A retaliação chinesa mirou as empresas de tecnologia dos Estados Unidos, ao aumentar o controle sobre a exportação de terras raras para os EUA. Samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio são matérias-primas utilizadas na fabricação de chips para celulares, computadores, cartões e outros produtos tecnológicos.
Na sexta-feira, Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla, as gigantes da tecnologia, já acumulavam perdas de US$ 1,8 trilhão. Ao todo, empresas listadas no mercado norte-americano perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado em apenas dois dias.
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Número de mortes por parto deveria ser nulo, diz Luiz Santini, um dos criadores do SUS
7 de abril de 2025TD-destaque,sus,pni,posição_1,Manchete-Home,Mais Notícias,cidadania 23Dia Mundial da Saúde,Notícias,fap,democracia,Temas & Debates,TEMAS & DEBATES
Conselheiro da FAP destaca Programa Nacional de Imunização em análise no Dia Mundial da Saúde
Comunicação FAP
Um dos criadores do Sistema Único de Saúde (SUS), o médico Luiz Santini disse que a mortalidade materna “nem deveria existir no Brasil”. “O número de mortes por parto ou procedimento obstétrico deveria ser nulo, mas ainda há nas regiões mais pobres, sobretudo no Norte e nos bolsões do Nordeste, taxa de mortalidade materna além do desejável. Se houver uma morte, significa que houve falha do sistema em algum momento”, alertou, nesta segunda-feira (7/4), Dia Mundial da Saúde.
Em alusão à data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou nesta segunda-feira uma campanha, com duração prevista de um ano, em favor do bem-estar materno e neonatal. O tema escolhido é “Começos saudáveis, futuros esperançosos”. Segundo a OMS, quase 300 mil mulheres perdem a vida todos os anos em razão da gravidez ou do parto, enquanto mais de dois milhões de bebês morrem ao longo do primeiro mês de vida e outros dois milhões são natimortos (bebês que morrem após 20 semanas de gestação no útero ou durante o parto).
Mortalidade
De acordo com Santini, a mortalidade infantil no Brasil caiu, mas ainda há desafios. “Há mortalidade de nascituro elevada em determinadas regiões por falta de apoio tecnológico e de suporte a crianças nascidas abaixo do peso ou com alguma doença congênita e que não tenham suporte tecnológico necessário, até que seja possível alguma intervenção médica”, afirmou. Ele também é conselheiro da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ligada ao Cidadania 23, e pesquisador de saúde pública no Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A OMS estabeleceu como meta reduzir a taxa global de mortalidade materna para 70 mortes a cada 100 mil nascidos até 2030. Hoje, esse número é de 223 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. No Brasil, em 2021, esse índice foi de 117 mortes, impulsionado principalmente pela pandemia de covid-19.
Vacinação
Na avaliação do professor, um dos grandes aliados da saúde pública no país é o Programa Nacional de Imunizações (PNI), iniciativa do governo brasileiro que oferece vacinas gratuitas à população. É uma política pública que ajuda a proteger toda a população, inclusive mães e crianças, que são consideradas prioridade absoluta pela Constituição Federal.
“O PNI é universal, incluindo a vacinação desde o nascimento, com a BCG, a primeira aplicada, até o calendário integral, hoje com mais de 30 vacinas. Nesse aspecto, na atenção materno-infantil, o SUS propiciou evolução muito grande no país”, disse, lembrando que o sistema completará 35 anos em 2025, depois de ser criado pela Constituição de 1988 e implementado pela Lei 8.080, de 1990.
Para Santini, o país também precisa considerar outras questões ligadas a mulher, em razão de sua fertilidade e de sua decisão de continuidade ou não à gravidez, considerando, inclusive, o acesso aos meios de evitá-la, por meio da utilização de medicamentos durante o período fértil. Em outros casos, segundo ele, é preciso que haja oferta de medicação que possa impedir a gestação, considerando as hipóteses previstas na lei. “O Ministério da Saúde oferece programas, mas há regiões mais excluídas, principalmente Norte e Nordeste”, observou.
Violência obstétrica
O pesquisador também analisou uma situação que aterroriza mulheres no país, nas redes pública e privada de saúde. “Há relatos de violência obstétrica cada vez mais frequentes, o que é muito lamentável”, disse. “É reflexo de um comportamento machista, dominador, de desnível e de hierarquia e às vezes a pessoa se sente hierarquicamente superior e tende a provocar situações como essa”, acrescentou.
Segundo ele, a continuidade de denúncias de violência obstétrica é ruim por confirmar que esses casos ainda persistem. No entanto, acrescentou, é positiva porque as mulheres têm consciência da necessidade de proteção da sua integridade física e mental, durante a gravidez, o parto e o puerpério. “É direito da mulher ter, nesse período da sua vida, maior cuidado e carinho”, afirmou.
Para a maior efetividade de oferta de atendimento em saúde pública no país, Santini reforçou a importância da expansão de programas de saúde da família e de todos os demais que visam garantir atenção básica, perto da população, inclusive com especialistas. “Muitas vezes, a pessoa tem acesso ao atendimento básico, mas depois encontra dificuldade no atendimento especializado por vários motivos”, asseverou.
Apesar dos desafios, o pesquisador entende que o país tem muito potencial por causa do Sistema Único de Saúde. “O diferencial do SUS é a abrangência do sistema. É um dos poucos sistemas, mesmo comparado com países europeus, que é universal, por considerar que todas as pessoas têm direito ao atendimento em saúde, o que inclui todos os componentes da saúde, desde a atenção primária”, ponderou, ressaltando a importância da defesa desse modelo como instrumento do próprio regime democrático. “Democracia é saúde. Sem democracia, não há sistema de saúde popular, universal, equânime. Com democracia, é muito difícil; sem democracia, é impossível”.
Trump aposta no “efeito elefante” para manter hegemonia dos EUA
6 de abril de 2025posição_1,Mais Notícias,Notícias,Estados Unidos,TrumpPOLÍTICA HOJE,PH-destaque
O tarifaço levou o banco JP Morgan Chase a elevar de 40% para 60% a probabilidade de recessão nos EUA e, por consequência, na economia mundial
Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense
Os mercados globais encerraram a semana com previsões de nova recessão mundial, devido ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao adotar a reciprocidade tarifária, a reação da China à sobretaxa, que começou a valer para 185 países, fez as bolsas desabarem e o preço das commodities caíram. O cenário global lembra a teoria do caos, um ramo da matemática e da física que estuda sistemas dinâmicos que são extremamente sensíveis às condições iniciais.
Essa sensibilidade significa que pequenas variações no ponto de partida podem levar a resultados drasticamente diferentes. É daí que vem a ideia do “efeito borboleta” – o conceito de que o bater de asas de uma borboleta em um lugar pode, eventualmente, causar um furacão do outro lado do mundo. Entretanto, estamos diante de uma espécie de “efeito elefante”, desculpe-me a analogia com o símbolo dos republicanos, mas tem tudo a ver com Trump na Casa Branca.
O tarifaço levou o banco JP Morgan Chase a elevar de 40% para 60% a probabilidade de recessão na economia americana e, por consequência, global. “As políticas disruptivas dos EUA foram reconhecidas como o maior risco para as perspectivas globais durante todo o ano”, afirmou Bruce Kasman, economista-chefe do banco norte-americano. Esse choque macroeconômico não foi previsto nem por governos nem por empresas.
Na “teoria do caos” não existe desordem total, mas uma nova ordem complexa e imprevisível. Os sistemas caóticos – como o clima, o trânsito e o mercado financeiro – seguem leis matemáticas, mas têm comportamento aleatório. É impossível prever com precisão o que vai acontecer depois de certo ponto, ou seja, o que vai acontecer a partir de agora.
Trump toma decisões ou faz declarações imprevisíveis, que surpreendem até seus aliados; suas ações e comentários desencadeiam reações em cadeia nos mercados, na política externa e nas redes sociais; e sua resistência ao controle, característica dos sistemas caóticos, coloca em xeque a institucionalidade da economia mundial e a própria democracia americana.
A democracia se estrutura a partir de atores racionais e previsíveis. Trump rompe esse paradigma no confronto direto com o status quo. Seu tarifaço pode sepultar de vez o que ainda restava do Acordo de Bretton Woods, de 1944. É a segunda grande crise desse sistema, que buscava estabelecer uma ordem econômica estável após a Segunda Guerra Mundial, com base em taxas de câmbio fixas atreladas ao dólar americano e ao padrão-ouro (35 dólares por onça-troy).
Desglobalização
Na década de 1970, o sistema entrou em crise. Os EUA gastavam mais do que arrecadavam, devido à Guerra do Vietnã; muitos países começaram a acumular dólares e houve uma corrida para o ouro, num ambiente de inflação global com taxas de câmbio engessadas. A antiga União Soviética, de um lado, e o Japão, Alemanha, França e Inglaterra, de outro, ameaçavam a hegemonia americana.
Em 15 de agosto de 1971, o presidente Richard Nixon virou a mesa: suspendeu a conversibilidade do dólar em ouro (fim do padrão-ouro) e regulou preços e salários nos EUA. O câmbio passou a variar com base em oferta e demanda, o que trouxe mais volatilidade ao comércio internacional. A confiança no sistema monetário passou a depender da credibilidade dos governos.
A crise do sistema coincidiu com choques do petróleo (1973 e 1979), que gerou “estagflação”: alta inflação com baixo crescimento. Com maior instabilidade cambial e crises, o FMI ganhou importância como agente de apoio a países em dificuldades financeiras. O fim do câmbio fixo afetou diretamente os países que dependiam de um sistema relativamente estável para importar bens e pagar dívidas.
Somada à instabilidade cambial e choques do petróleo, a crise mundial contribuiu para o início de um longo ciclo inflacionário no Brasil, que só terminaria com o Plano Real, em 1994. A estabilização da nossa moeda, no governo Fernando Henrique Cardoso, coincidiu com um novo ciclo de expansão da economia mundial, protagonizado pelos Estados Unidos e a China, que aceitou as novas regras do jogo estabelecidas por Ronald Reagan (EUA) e Margareth Thatcher (Reino Unido).
A partir do Consenso de Washington, a globalização intensificou relações econômicas, culturais, políticas e tecnológicas, formou-se uma rede de interdependência e conexão em escala mundial, com cadeias de valor integradas e uma nova divisão internacional do trabalho.
Internet, redes sociais e comunicação em tempo real; o transporte aéreo e marítimo mais rápido e barato; e inovação fluindo entre países com mais velocidade, bem como ideias, músicas, filmes, marcas; hábitos, estilos e valores estrangeiros, tudo globalizado.
Isso parecia ser uma tendência irreversível, após o fim da antiga União Soviética e da guerra fria, ainda mais depois da integração da China e do Vietnã às regras do jogo do comércio mundial como economias de mercado. Entretanto houve aumento das desigualdades e do desemprego nos Estados Unidos, tanto quanto na Europa e na América Latina.
Trump é uma resposta à perda de protagonismo dos Estados Unidos diante da China. Seu lema “America First” aposta na desglobalização de sua economia, diante de um mundo que se tornara mais interdependente. É uma cartada de alto risco.
Fonte: Correio Braziliense
Cenário político pode caminhar para pulverização de candidaturas, diz Alberto Aggio
3 de abril de 2025posição_1,Manchete-Home,Mais Notícias,Notícias,EVENTOS FAP,Alberto Aggiodemocracia,EF-destaque
Reflexões e especulações marcaram, em São Paulo, lançamento do livro Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos
Comunicação FAP
O historiador Alberto Aggio alertou para a possibilidade de pulverização de candidaturas presidenciais nas eleições de 2026. Essa análise marcou, na quarta-feira (2/4), em São Paulo, o lançamento do livro A Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos (232 páginas), de sua autoria. A obra foi editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23, e pela Annablume. Segundo o autor, o cenário político, marcado pela erosão da popularidade do presidente Lula e pelos imbróglios judiciais do ex-presidente Bolsonaro, favorece o surgimento de diversas candidaturas, o que, acrescentou, pode apresentar riscos, assim como a polarização.
“O cenário político caminha para pulverização de candidaturas diferenciadas, e, talvez, as eleições de 2026 possam ser semelhantes às de 1989, quando se apresentaram 11 candidaturas”, disse o autor do livro, que é parte do projeto 40 anos de democracia no Brasil, organizado pela FAP e pelo partido. Aggio é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente e titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também tem pós-doutorado pela Universidade de Valência, na Espanha, e pela Universidade Roma Tre, na Itália.










Antipetismo
O professor lembra as eleições de 2018, quando a prisão de Lula impulsionou a candidatura de Bolsonaro, que, de acordo com o autor, não foi resultado de pulverização, mas do antipetismo. “O grande líder do petismo estava preso, e a candidatura de Bolsonaro apareceu como a mais viável para impedir a reprodução do petismo. Era o antipetismo, ainda existente, que predominava, mesmo antes das eleições, da apresentação das candidaturas", acentuou.
A erosão da popularidade de Lula, segundo o autor, pode dificultar a candidatura do petista em 2026. "Se as pesquisas mostrarem que a erosão vai se aprofundar, poderá ficar difícil para Lula ser candidato”, analisa. Além do antipetismo, de acordo com ele, outro elemento importante é a definição de possíveis nomes que poderiam derrotar o presidente e o seu partido. “Podem aparecer vários candidatos, e a tendência, se Lula não for candidato, se o antipetismo não for elemento importante na disputa eleitoral, é que várias facções vão dizer que seus candidatos representam o futuro melhor para o país", acrescentou.
No entanto, o historiador destacou que tanto a polarização quanto a pulverização de candidaturas são negativas para a democracia. "A polarização já mostrou que é ruim, mas a pulverização também é. São dois cenários: um que a gente já conhece, que é o da polarização e bloqueia o debate. Na polarização entre Lula e Bolsonaro, entre Bolsonaro e petismo, ninguém ouve ninguém", afirmou Aggio.
"Ruído geral"
"Se formos para o terreno da pulverização, o que teremos são muitas falas simultaneamente. Haverá uma espécie de ruído geral, mas na política não tem vazio. Alguém vai se sobressair. No cenário de pulverização, os dois que vão para o segundo turno representarão cerca de 20% do eleitorado brasileiro cada um deles, tomando como referência o cenário de 1989 vivido no país. Nesse caso, os dois candidatos não vão representar a maioria do eleitorado. O restante ficou fora", disse.
O professor afirmou, ainda, que o sistema político eleitoral está deixando de representar fielmente os interesses da maioria da população. “O cenário da polarização é de bloqueio. Na pulverização, corre-se o risco de uma representação muito baixa dos que vão para o segundo turno", ressaltou, para enfatizar que o momento exige cautela e atenção. "Estamos em um momento em que, por diversas razões, fomos parar nessa circunstância. Vamos ver como os candidatos irão se apresentar e como o cenário político vai se configurar", pondera.
Live e lançamentos
Aggio vai participar, na terça-feira (8/4), a partir das 19 horas, da live "Como compreender os 40 anos da Nova República?", que será realizada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas para o Fortalecimento da Democracia (IEPFD), com transmissão no canal do instituto no Youtube.
Novo lançamento do livro está previsto para o dia 24 de abril, em Recife. Também há previsão de ser lançado, em maio, no Rio de Janeiro. Assim como em São Paulo, o trabalho já foi lançado em Brasília, em 14 de março deste ano, um dia antes da data de celebração do fim da ditadura militar no país.
O processo de construção democrática dos últimos 40 anos no Brasil, segundo o texto, defronta-se hoje com um cenário global no qual os desafios à democracia são cada vez mais evidentes. “Tal situação produz mal-estar e desorientação ao conjunto da sociedade brasileira”, diz um trecho.
Desaprovação do governo Lula está perto do não retorno
3 de abril de 2025política,governo,Partidos,trabalho,Memória,juventude,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,comunicação,Imposto,posição_1,NotíciasManchete-Home,Economia,Mais Notícias,Brasília,desemprego,Eleições
A superexposição de Lula por meio de entrevistas e eventos não neutralizou a percepção negativa que a população tem da economia. A causa é a inflação
Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense
Por onde quer que se olhe, o apoio da população ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua em queda livre. Apesar de o governo adotar medidas com o propósito de melhorar a própria imagem, como o empréstimo consignado para assalariados, a bolsa de estudos Pé-de-Meia para jovens adolescentes de baixa renda e a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até cinco salários-mínimos, Lula não consegue estancar a sua queda nas pesquisas.
A Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, mostra que a desaprovação do governo Lula subiu de 49% para 56% entre 25 de janeiro e 25 de março, enquanto a aprovação caiu de 47% para 41%. Os números são brutos. O esforço de marketing realizado pelo ministro Sidônio Palmeira (Comunicação Social) até agora não surtiu efeito. A tese de que o problema do governo era sobretudo não se comunicar com a sociedade está sendo posta em xeque pelas pesquisas.
Parece o caso da velha máxima do gerenciamento estratégico: quando um projeto está dando errado, se as mesmas coisas continuarem a ser feitas, continuará dando errado. A quase universalidade dos números negativos reflete um mal-estar generalizado da sociedade com o governo federal.
A queda na aprovação ocorre em todas as regiões do país. No Nordeste, principal reduto eleitoral de Lula, a vantagem que era de 35 pontos percentuais (pp) caiu para 6 pontos entre dezembro e março, e a desaprovação subiu para 23 pp maior que a aprovação. No Sul, a diferença é de 30 pp. Entre as mulheres, é a primeira vez que a desaprovação chega a 53% e supera a aprovação, que está em 43%.
Sem o apoio maciço do Nordeste, da maioria das mulheres e dos brasileiros de baixa renda, o projeto de reeleição do Lula estará irremediavelmente comprometido. A aprovação está em 34% para quem tem renda familiar de mais de 5 salários-mínimos, em 36% para quem tem renda de 2 a 5 SM e chegou a 52% para quem tem renda de até 2 salários. A vantagem estratégica de Lula entre os eleitores de até 2 SM já foi de 43 pp em julho de 2024; agora, está em apenas 7 pp.
A desaprovação ao governo Lula chegou a 26% entre os seus próprios eleitores, ou seja, 25% de sua base de apoio. Isso significa um deslocamento muito além daqueles que votaram em Lula no segundo turno para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Esse percentual abarca muitos que votaram em Lula no primeiro turno, o que é ainda mais preocupante para o Palácio do Planalto. O nome disso é frustração de expectativas.
Força de inércia
Com esses resultados, é o caso de Lula ir para o divã e avaliar a sustentabilidade de seu projeto de reeleição. É preciso encontrar as causas profundas desse descontentamento, que não está sendo revertido por medidas que o governo julgava capazes de alavancar a sua popularidade. O alcance dos projetos não atingiu a escala que se esperava.
O programa Pé-de-Meia, por exemplo, além das dificuldades de controle sobre a sua execução nos municípios, para que realmente chegue aos que devem ser beneficiados, exibe um aspecto que precisa ser mais bem avaliado pelo governo: ninguém vai convencer os pais dos alunos que não recebem a bolsa de que seus filhos não têm igualmente esse direito, se estudam na mesma escola pública do jovem com Pé-de-Meia.
O crédito consignado, o empréstimo do Lula, é um indiscutível sucesso de bilheteria: até 24 de março de 2025, mais de 5 milhões de assalariados haviam solicitado o consignado CLT, totalizando mais de R$ 50 bilhões. Entretanto, a maioria pega o empréstimo para quitar ou renegociar dívidas com os bancos e operadoras de cartão de crédito. Ou seja, o programa é bem-vindo, mas não impacta de imediato o custo de vida.
Até agora, a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil também não surtiu o efeito esperado; como só valerá para o próximo ano, pode ser que ainda traga resultados efetivamente positivos no futuro. A maioria da população tem a percepção de que a economia piorou e o governo caminha na direção errada: são 56% em ambos os quesitos.
A superexposição de Lula por meio de entrevistas e eventos foi alicerçada nesses programas, porém não neutralizou essa percepção negativa que a população tem da economia. A causa principal é a inflação, sobretudo o preço dos alimentos nos supermercados e dos combustíveis nos postos de gasolina. Lula subestima a inflação como fez no Plano Real, em 1994, quando estava na oposição e combatia o ajuste fiscal.
O poder de compra da população decaiu nesses dois quesitos, apesar da redução do desemprego e do aumento da renda média. Isso poderia ser compensado pelos programas sociais do governo, porém, 67% da população de baixa renda identifica esses programas como direito adquirido. É o caso do Bolsa Família.
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Primeiro autista a tornar público diagnóstico no Congresso preside sessão
2 de abril de 2025Mais Notícias,cidadania 23,Amom Mandel,TEA,Transtorno do Espectro Autista,NotíciasPOLÍTICA HOJE,PH-destaque,posição_1,Manchete-Home
Em dia histórico, Amom Mandel, relembra soluções legislativas que estão em tramitação avançada e mostra desafios com “apagão de dados” sobre a população com TEA no Brasil
Amom Mandel (Cidadania-AM), primeiro deputado federal a tornar público diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Congresso Nacional, presidiu a sessão solene em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado nesta quarta-feira (02/04). Pela primeira vez, um parlamentar autista comanda a homenagem feita na Casa para discutir os desafios enfrentados por essa parcela da população. A tônica da solenidade foi o clamor por inclusão real, respeito e efetividade nas políticas públicas.
Mandel ressaltou que a burocracia vivida por pessoas autistas no acesso a direitos básicos ocorre diariamente. Por isso, instituir a Carteira Nacional de Identidade da Pessoa com Deficiência (CNIPCD), relatado pelo parlamentar no plenário da Câmara dos Deputados, é uma solução para padronizar a comprovação das pessoas com deficiência e retirar obstáculos desnecessários a serviços e benefícios.
“A inclusão não pode ser só uma palavra vazia. Ela precisa partir de cada um de nós e se transformar em prática diária. Minha luta é para que cada um deles tenha o direito de viver com dignidade”, afirmou o parlamentar.
O “apagão de dados” oficiais sobre a população autista no Brasil foi outro tema levantado na tribuna por Amom. O limbo de informações detalhadas sobre esse grupo social dificulta, principalmente, a implementação de políticas públicas. “A ausência de um registro unificado contribui para a invisibilidade dessas pessoas, comprometendo seu acesso a direitos fundamentais”, disse.
Simplificar para população
Como membro da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD), Amom se comprometeu a ser linha de frente na criação do Código Brasileiro de Inclusão. A ideia é consolidar todas as leis federais sobre PCDs em um único lugar, tornando-as mais acessíveis à própria população e, portanto, mais eficazes na promoção da inclusão. Legislações referentes aos direitos das pessoas com deficiência estão dispersas, o que dificulta a compreensão e aplicação.
“Junto ao presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, deputado Duarte Júnior, iniciamos debates, realizamos audiências públicas e estabelecemos diálogos contínuos com especialistas, autoridades e famílias, visando identificar e implementar soluções concretas para os desafios enfrentados pela comunidade autista”, disse.
Fonte: Cidadania 23
Brasil não deve despertar velhos ressentimentos dos paraguaios
2 de abril de 2025cultura,Guerra,Literatura,Memória,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,Militares,paraguai,posição_1,Manchete-HomeMais Notícias,Notícias,Brasília,política,violência,governo
Funcionário da Abin revela que a agência fez invasões de hacker a sistemas do Congresso, da Presidência e de autoridades do Paraguai envolvidas nas negociações de Itaipu
Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense
Segundo volume da coleção Plenos Pecados, da Editora Objetiva, Xadrez, Truco e Outras Guerras, do escritor José Roberto Torero, é inspirado na Guerra do Paraguai (1865-1870), o maior conflito armado em que o Brasil esteve envolvido no continente. Os demais livros, sem spoiler, são Mal Secreto, de Zuenir Ventura (Inveja); O Clube dos Anjos, de Luís Fernando Verissimo (Gula); A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro (Luxúria); Canoas e Marolas, de João Gilberto Noll (Preguiça); Terapia, de Ariel Dorfman (Avareza); e Voo da Rainha, de Tomás Eloy Martínez (Soberba).
O livro de Torero é uma sátira meio macabra envolvendo pessoas em conflitos durante a Guerra do Paraguai. Seu pecado capital é a ira. O livro narra de forma ficcional a implacável perseguição ao Mariscal (marechal) Francisco Solano López, o ditador do Paraguai, de mando do príncipe francês Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, capitão de cavalaria na Guerra Hispano-Marroquina e comandante-chefe do exército imperial na Guerra do Paraguai, casado com a Princesa Isabel, a herdeira do trono brasileiro. O trauma dessa guerra até hoje alimenta ressentimentos dos paraguaios. Morreram 90% dos homens acima de 20 anos do Paraguai.
Nesta terça-feira, o governo do Paraguai convocou o embaixador do Brasil no país, José Antônio Marcondes, para cobrar explicações sobre o suposto monitoramento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a sistemas do governo paraguaio. Em depoimento à Polícia Federal, um funcionário da Abin informou que a atual gestão da agência teria mantido operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai e de autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
A denúncia é mais uma dor de cabeça para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o governo está em fase de negociações com o Paraguai sobre o Anexo C do acordo de construção da usina de Itaipu, que define as condições de comercialização da energia gerada. O chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez, afirmou que as autoridades do país classificam o tema como “delicado” e disseram que o Brasil precisa explicar qual foi o resultado da interferência. O ministro de Indústria e Comércio, Javier Giménez García de Zúñiga, que negocia o acordo, afirmou que os debates sobre o tema estão suspensos até que a questão seja esclarecida.
A Polícia Federal investiga o vazamento de informações no âmbito do inquérito sobre a chamada “Abin paralela”, que teria utilizado ferramentas e serviços da agência para a prática de ações ilícitas. No depoimento, o funcionário da Abin afirmou que a atual gestão da agência manteve operações de invasão hacker a sistemas governamentais do país vizinho, inclusive do Congresso, da Presidência da República e de autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
A ação foi iniciada ainda no governo Jair Bolsonaro, mas continuou durante o governo Lula, com suposta autorização expressa do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Teria como objetivo obter dados sigilosos sobre valores em negociação no Anexo C do Tratado de Itaipu. Uma tremenda trapalhada.
O massacre
Solano López morreu na Batalha de Cerro Corá ou Aquidabanigui, a última da guerra, a 454km ao nordeste de Assunção. Os paraguaios tinham sido derrotados na Batalha de Campo Grande (16 de agosto de 1869), pelas tropas imperiais. O exército paraguaio estava, desde então, reduzido a uns 400 ou 500 combatentes, sobretudo velhos, adolescentes e crianças, famintos, esfarrapados e mal armados.
Em 26 de fevereiro de 1870, o general brasileiro José Antônio Correia da Câmara, no comando de mais de 2 mil homens bem armados e bem alimentados, seguiu em direção ao acampamento paraguaio de Cerro Corá. Na manhã de 1º de março, uma terça-feira, as forças imperiais atacaram em duas frentes. Em 15 minutos, a linha de resistência sucumbiu. Juan Francisco, o Panchito, filho de Solano López, de 15 anos, lutou de sabre na mão, até ser fulminado por tiro.
O presidente paraguaio fugiu a cavalo, acompanhado de três oficiais. A versão oficial conta que López acabou cercado por dois soldados e resistiu, empunhando seu espadim de cerimônia, sendo revidado com um golpe na cabeça. O cabo José Francisco Lacerda, de 22 anos, conhecido como Chico Diabo, transpassou López com a lança, de baixo para cima, atingindo a virilha direita e alcançando as entranhas. O que aconteceu depois tem várias versões, todas tendo o general Correia da Câmara no comando.
López morreu em combate ou foi executado? A hipótese de execução é corroborada pela profanação do seu cadáver, que teve sua orelha esquerda cortada, os dentes quebrados a coronhadas de fuzis, um dedo arrancado e um pedaço do couro cabeludo escalpelado, tudo seguido de um massacre da população civil. Somente em 4 de março, o Conde d’Eu foi informado da morte de Solano López; estava longe dos combates, a bordo de um navio.
A espada do López foi enviada por Correia da Câmara ao imperador D. Pedro II. O general presenteou o visconde de Rio Branco com a condecoração que López portava e ficou com o relógio do Mariscal, que a seguir doaria a um museu. Chico Diabo, o matador de López, tomou para si a faca de prata e ouro, com as iniciais FL (Francisco López).
O canhão “El Cristiano” (o cristão, em português), com 12 toneladas, que está exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, foi feito com o metal dos sinos das igrejas de Assunção, onde ajudou a conter o avanço das tropas brasileiras por dois anos. Até hoje o Paraguai espera sua prometida devolução.
Fonte | Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo
Lula destaca 40 anos de democracia ao lembrar golpe de 1964
1 de abril de 2025violência,Justiça,Partidos,terrorismo,Memória,POLÍTICA HOJE,PH-destaque,Militares,posição_1,Mais NotíciasNotícias,congresso,Brasília,política,Luiz Carlos Azedo
É importante a reflexão sobre 1964 para que os fatos não se repitam como tragédia, ou seja, para que outra tentativa de golpe não tenha êxito
Luiz Carlos Azedo, Entrelinhas/Correio Braziliense
Desde a redemocratização, há 40 anos, nunca foi tão importante relembrar o golpe de 1964. Embora nossas instituições democráticas tenham revelado resiliência ao debelar a intentona de 8 de janeiro de 2023, o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dos envolvidos na conspiração golpista, entre os quais o ex-presidente Jair Bolsonaro, três generais de Exército e um almirante de esquadra, não é um tema pacífico no Congresso Nacional, mesmo tendo sido um dos palácios invadidos e depredados por bolsonaristas inconformados com a eleição do petista.
As articulações para aprovação de uma anistia aos envolvidos, o que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível, são a comprovação de que o passado sombrio precisa ser levado em conta no presente. Foi o que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, sem alimentar ressentimentos em relação às Forças Armadas, que foram fundamentais para que fracassasse a tentativa de o destituir, uma semana após a posse.
“Hoje é dia de lembrarmos da importância da democracia, dos direitos humanos e da soberania do povo para escolher nas urnas seus líderes e traçar o seu futuro. E de seguirmos fortes e unidos em sua defesa contra as ameaças autoritárias que, infelizmente, ainda insistem em sobreviver”, escreveu Lula no seu perfil do X.
“Não existe, fora da democracia, caminhos para que o Brasil seja um país mais justo e menos desigual. Não existe um verdadeiro desenvolvimento inclusivo sem que a voz do povo seja ouvida e respeitada. Não existe justiça sem a garantia de que as instituições sejam sólidas, harmônicas e independentes”, acrescentou.
Lula completou: “Nosso povo, com muita luta, superou os períodos sombrios de sua história. Há 40 anos, vivemos em um regime democrático e de liberdades, que se tornou ainda mais forte e vivo com a Constituição Federal de 1988. Esta é uma trajetória que, tenho certeza, continuaremos seguindo. Sem nunca retroceder.”
“Lembrai-vos de 64”, perdão pelo trocadilho com o título do livro de Ferdinando Carvalho sobre a atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), publicado pela Biblioteca do Exército, em 1981, mas é o caso. O general é autor de mais duas obras sobre o mesmo tema, porém ficcionais: Os Sete Matizes do Rosa e Os Sete Matizes do Vermelho, ambos de 1977.
Seus livros até hoje alimentam o discurso de ódio dos saudosistas do regime militar, principalmente aqueles que tomaram de assalto o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo com objetivo de provocar uma intervenção militar e destituir o presidente Lula. Carvalho escreveu Lembrai-vos de 35 (Biblioteca do Exército) com o objetivo de conter a abertura política durante o governo do general João Baptista Figueiredo, após a anistia de 1979 e o restabelecimento das eleições diretas para governadores, marcadas para 1982.
Radicalização política
Enfraquecido na Presidência pelo avanço da oposição, que vencera as eleições proporcionais de 1974 e 1978, Figueiredo era desafiado pelos porões do próprio regime militar, de onde partiam os atentados terroristas em bancas de jornais, gráficas, até contra a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que clamavam por democracia e liberdade.
A disposição terrorista dos militares envolvidos com sequestros, torturas e assassinatos de oposicionistas nos quartéis, que também haviam sido beneficiados pela anistia, não tinha limites. Até que deu errada a ação terrorista promovida por membros do DOI-Codi e setores da linha dura militar em 30 de abril de 1981.
Durante um show de MPB com 20 mil pessoas, no Rio Centro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma bomba explodiu acidentalmente em um veículo, matou um sargento e feriu um capitão do Exército, enquanto outro artefato, posicionado no gerador, não foi detonado.
O caso expôs divisões nas Forças Armadas e intensificou o movimento por mudanças democráticas. A imprensa teve um papel fundamental na denúncia de abusos e na luta pela verdade histórica durante a transição, sua atuação na cobertura desse atentado é um marco do jornalismo brasileiro.
Alguns jovens cadetes e oficiais influenciados àquela época pelas obras de Carvalho voltariam ao poder com a eleição de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência, em 2018, entre eles o ex-ajudante de ordens do general Silvio Frota e general de Exército Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, com destacada liderança militar.
A matéria-prima dos livros de Carvalho é o Inquérito Policial Militar (IPM) nº 7.098 (1964-1966), do qual foi responsável, para apurar as atividades do PCB no território nacional. Muito do que a direita ideológica brasileira fala hoje sobre a esquerda no Brasil reproduz suas teses.
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‘Claramente, há uma doença na alma americana agora’, diz o cientista político Mark Lilla
31 de março de 2025posição_1,Manchete-Home,Mais Notícias,Notícias,TEMAS & DEBATES,TD-destaquecientista político,mark lilla
Autor de livros sobre o pensamento reacionário diz que Donald Trump quer liderar uma contrarrevolução e decreta a morte do conservadorismo
Por Guilherme Evelin/Estadão
Cientista político, historiador das ideias e ensaísta, Mark Lilla, professor de Humanidades da Universidade Columbia, em Nova York, é um dos mais argutos observadores das mudanças econômicas, sociais e políticas nos Estados Unidos que levaram Donald Trump a conquistar a presidência do país por duas vezes.
Lilla vê o fenômeno Trump como resultado de transformações — uma delas, o aumento do individualismo na sociedade americana — iniciadas com o reaganismo, o movimento criado a partir da primeira eleição de Ronald Reagan para a Casa Branca em 1980. Para Lilla, agora, está claro, porém, que o populismo de Trump representa a morte do conservadorismo encarnado por Reagan, o que criou, segundo ele, um vácuo na política americana, difícil de ser preenchido.
Em 2016, na primeira eleição de Trump, Lilla causou polêmica com um artigo em que atribuía a derrota de Hillary Clinton às políticas identitárias que transformaram o Partido Democrata num porta-voz de grupos minoritários, mas com pouca conexão com o restante da sociedade. Agora, ele avalia que um certo desleixo com que o governo democrata de Joe Biden tratou a questão da imigração ilegal foi fundamental para o retorno de Trump. Lilla participou recentemente de um evento sobre os 40 anos da redemocratização no Brasil organizado pela Fundação Astrojildo Pereira.
Leia a seguir os principais trechos de entrevista que ele deu ao Estadão.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz pronunciamento na Casa Branca: presidente tem tomado inúmeras decisões por decreto. O senhor acha que Donald Trump no poder representa o auge de um processo de declínio do conservadorismo americano que começou depois do governo Ronald Reagan. Pode explicar essa ideia?
O conservadorismo americano é diferente do conservadorismo na Europa ou na América Latina, onde os países foram profundamente marcados pela história da Igreja Católica e pela existência de uma aristocracia com terras. Os Estados Unidos são um país de imigrantes, de comércio e que sempre foi individualista. Aqui, desenvolveu-se um conservadorismo “fusion”, que fundiu o individualismo do livre mercado e a defesa da ordem econômica liberal com os valores sociais tradicionais relacionados à família, aos papéis de homens e mulheres na sociedade, ao lugar da religião na sociedade. Esse foi um casamento muito estranho, com uma grande tensão, porque o individualismo na esfera econômica pode se esparramar para a cultura da sociedade e afetar a moralidade. Mas ele prosperou ao longo do século 20, e o governo Ronald Reagan foi a coroação desse conservadorismo que acreditava nas instituições e em mudanças lentas.
Essa tradição, porém, não tinha como se defender do populismo que ascendeu após Reagan por várias razões. Muito tem a ver com o que aconteceu no mundo do rádio e da televisão. Havia uma regra de radiodifusão nos EUA que dizia, por exemplo, que cada estação de rádio tinha que apresentar os dois lados de uma questão política. Isso foi abolido durante os anos Reagan. O que ocorreu em seguida foi que surgiram locutores de rádio que ganharam fama e ficaram ricos alimentando ideias populistas radicais. Também,por alguma razão, aqueles que estão na direita realmente perderam a cabeça por causa de Bill Clinton. Clinton era, de muitas maneiras, conservador. Fiscalmente, ele era conservador e tirou pessoas dos programas de assistência social. Mas, por ele ser jovem e moderno, isso, por alguma razão, afetou profundamente as pessoas de direita. A outra coisa que ocorreu foi o Nafta, o acordo de livre comércio com o Canadá e México.
Então, todas essas coisas se juntaram, e a velha tradição conservadora, naquele momento representada pela família Bush, nunca se reproduziu, nunca teve filhos, ideologicamente falando. No primeiro debate da eleição de 2016 entre os pré-candidatos republicanos, houve aquele contraste incrível entre Jeb Bush (ex-governador da Flórida), que era um dos filhos de George Bush, e Trump.
Trump entendia de televisão, entendeu que a nação havia mudado e simplesmente destruiu Bush. Hoje, podemos dizer que o conservadorismo americano morreu, porque Trump e seus seguidores não são conservadores, apesar de serem muitas vezes chamados assim. São populistas reacionários que querem fazer uma contrarrevolução na política e na sociedade. Ao contrário do que se pensava, a era Reagan não representou um rejuvenescimento do conservadorismo americano,mas o início do seu fim.
Quais foram as razões materiais para essa transformação do conservadorismo em populismo?
Acho que três coisas podem ser mencionadas. A primeira foi o Nafta, que destruiu áreas do país onde as pessoas eram tradicionalmente democratas, como em Detroit, onde eu cresci. As pessoas começaram a votar nos republicanos para presidente, enquanto permaneciam democratas em outros aspectos. De repente, todos esses homens perderam seus empregos e não podiam mais sustentar suas famílias. Suas esposas arrumaram empregos e passaram a ganhar mais dinheiro do que eles. Então, isso gerou uma grande crise social e muita raiva.
O abuso de drogas aumentou em todo o país. A segunda coisa é que a economia mudou no sentido de que a indústria passou a importar cada vez menos, e você passou a precisar de um diploma para ter uma vida de classe média, o que não era o caso antes. Então, você tem um grande grupo de pessoas insatisfeitas. Nem é uma classe econômica, mas um grupo de pessoas presas nessa situação insatisfatória. A última coisa a ser mencionada, obviamente, é a internet e como ela, em vez de moderar a opinião política, apenas inflama as paixões das pessoas.
A morte do conservadorismo deixou um vácuo na política americana. Vê alguma possibilidade desse vácuo ser preenchido no futuro?
Apenas em um futuro distante. Não há nenhum democrata importante agora que possa fazer isso, e enquanto Trump estiver por perto, nenhum republicano o fará. Então, minhas energias agora estão sendo dirigidas para tentar criar programas de educação para criar uma nova elite democrata que não seja progressista de esquerda ou radical de esquerda, mas moderada e centrista.
Os conservadores e agora os “trumpistas” têm todas essas escolas de verão em todo o país, pagas por fundações, aonde jovens, seja no ensino médio ou na faculdade, vão por duas semanas, estudam grandes livros, encontram políticos e ingressam num pequeno mundo. Isso nunca aconteceu do lado democrata, e então estou interessado em buscar isso. Temos que começar do zero.
O ex-presidente Joe Biden é um democrata centrista. No entanto, seu governo não conseguiu impedir o retorno de Donald Trump ao poder. Quais foram os principais motivos desse fracasso? A inflação durante o governo Biden ou a política identitária seguida pelos setores mais esquerdistas do Partido Democrata?
Tudo isso foi importante, mas a primeira coisa a mencionar é a imigração. O governo Biden teve o instinto suicida de deixar mais e mais pessoas cruzarem ilegalmente do México para os EUA. O problema da imigração não é a imigração em si, mas o fato de que ela deixa, para as pessoas com mentalidade populista, mais visíveis todos os problemas pelas quais estão chateadas e acumulam raiva, como a perda de seus empregos, o multiculturalismo e uma sensação de desrespeito porque os imigrantes têm acesso a serviços sociais que pessoas da classe trabalhadora deixaram de ter. Biden não conseguiu ver isso. Seu declínio mental já era evidente no primeiro ano após sua eleição, e ele realmente entregou a maior parte do trabalho às pessoas do seu governo. Ele não prestou atenção à imigração e não a controlou. Kamala Harris também não viu problema com a imigração.
O senhor acha então que a chamada política identitária seguida pelo Partido Democrata teve um peso menor na derrota de 2024 do que na primeira eleição de Trump, em 2016, quando o senhor escreveu um artigo de grande repercussão, criticando o “identitarismo”?
Certamente, essa foi uma questão de fundo, mas os democratas tentaram, de alguma forma, “limpar” sua imagem. A convenção nacional que nomeou Kamala Harris como candidata presidencial não colocou ênfase na questão identitária e se esmerou em mostrar bandeiras americanas tremulando. Mas o partido ainda se organizava de acordo com grupos de identidade. Quando as pessoas que concorriam ao Congresso saíam à busca dos eleitores, ainda usavam essa linguagem.
Mais do que isso, desde que escrevi sobre os problemas da política identitária, ela se institucionalizou nas universidades e nas corporações e começou a parecer que seria uma característica permanente da vida americana. Quando eu conversava sobre isso com meus colegas democratas, eles diziam: “Você está exagerando só porque escreveu um livro sobre isso”. Mas desde que Trump foi reeleito, ele se concentrou em acabar com os programas de ação afirmativa em todas essas instituições e está sendo aplaudido pela direita e pela base de seu partido. Isso claramente importa para eles.
Quão séria o senhor considera a ameaça do governo Donald Trump à democracia nos EUA? O país está em um caminho para o autoritarismo, como alegam alguns críticos de Trump?
O perigo maior é que nos tornemos mais oligárquicos. Se você olhar para a foto das pessoas que estavam na posse de Trump, não havia nada além de bilionários atrás dele. Há também os favores especiais que estão sendo dados a Elon Musk e à Tesla. Trump está promovendo uma grande quebra da estrutura do Estado e isso vai gerar muito caos. Sobre a questão do autoritarismo, na verdade não saberemos a resposta para essa pergunta até vermos como os tribunais respondem. Vários casos estão percorrendo o sistema judiciário, mas ainda não sabemos como os juízes decidirão. Eventualmente, as principais questões terão que ser decididas pela Suprema Corte. Lá, podemos ter certeza de que dois dos juízes votarão com Trump, não importa o quê.
O senhor se refere aos juízes Samuel Alito e Clarence Thomas?
Sim.
Como vê a postura adotada até agora contra o governo Donald Trump pelo Partido Democrata, que parece estar passando por uma espécie de crise existencial?
Bem, há posturas e ações. Posturas, não estou interessado agora. Estou interessado em ação. Há muitas pequenas manifestações em todo o país, mas ninguém organizou uma marcha em Washington ainda, o que é muito surpreendente para mim. O problema dos democratas é que eles não têm um candidato presidencial forte ou um ex-presidente que possa aproveitar o momento.
E é desesperador que Chuck Schumer (que votou a favor de extensão do Orçamento apresentada pelos republicanos no Congresso americano) seja o líder da oposição no Senado. Muitas pessoas estão impulsionando Alexandra Ocasio-Cortez, a deputada de esquerda de Nova York, para assumir um papel de líder. Ela é jovem. Ela é enérgica. Ela é persuasiva em certas questões. Mas ela não é alguém que pode falar com a América média. Tê-la como líder significaria também desistir de uma política externa forte, porque ela, à sua maneira, é uma espécie de isolacionista.
Vê algum papel do Congresso na resistência a possíveis planos autoritários de Trump?
Não vejo. A resistência teria que vir dos republicanos. Os democratas podem votar contra Trump o quanto quiserem, mas se Trump tiver maioria, ele será protegido pelo Congresso. O que está faltando são precisamente vozes conservadoras que se preocupam com a República. Uma das minhas primeiras memórias políticas é o caso Watergate e assistir às audiências sobre as investigações no Congresso.
Havia, pelo menos,um terço dos republicanos, desde o início, que queriam que Richard Nixon renunciasse ou pensavam que havia problemas que deveriam ser investigados. E eles defenderam as instituições democráticas. Não há hoje um único republicano no Congresso que faria isso agora. A última foi Liz Cheney (ex-deputada por Wyoming, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, que votou pelo impeachment de Trump após a invasão do Capitólio) , e ela foi expulsa do partido
Qual é a razão para tal domínio do Partido Republicano por Trump?
Trump entrou na eleição de 2016 por uma espécie de projeto de vaidade pessoal. Mesmo na noite da eleição, ele não esperava vencer. Melania (a primeira-dama) ficou chocada e deprimida quando ele venceu. Mas ele começou a soar como um demagogo clássico, um tribuno do povo, e um culto de personalidade se desenvolveu em torno dele. Então, essa coisa foi colocada no colo de Trump por uma grande parte do público americano. Então,não é só o que há de errado com Trump. A pergunta é: o que há de errado com os americanos?
Qual é sua resposta para essa pergunta?
Há muitas coisas erradas com a América, que se encontram em outros países, certo? O que é mais profundamente perturbador para mim e sobre o qual escrevi em meu livro “Ignorance and Bliss” (sem tradução no Brasil) é a falta de vontade das pessoas de aceitar a ciência, a razão e as evidências ao tomar suas decisões. Isso afetou sua visão da política e do engajamento político. Um número significativo de eleitores republicanos agora diz que ficaria feliz com um regime militar. Houve uma quebra do patriotismo e da responsabilidade cívica nesse grande grupo de pessoas brancas insatisfeitas. A podridão já estava lá, mas no momento em que Trump apareceu e foi eleito, as pessoas se alinharam atrás dele. Então, claramente, há alguma doença na alma americana agora.
Como professor de Columbia, em Nova York, como viu a decisão da direção da universidade de concordar com exigências da administração Trump para restaurar fundos de US$ 400 milhões cortados pelo governo, sob a alegação de que estudantes judeus não foram protegidos de assédio durante protestos contra a guerra na Faixa de Gaza. Viu uma capitulação a uma pressão indevida?
O governo Trump não cortou os fundos apenas pelo que aconteceu durante as manifestações. O caso inclui também o programa de estudos do Oriente Médio, iniciado por Edward Said(intelectual palestino, um dos fundadores dos estudos pós-coloniais) ,que se tornou um lugar hostil especialmente para estudantes israelenses que vieram estudar em Columbia após o serviço militar, devido a professores que eram muito antissionistas e traziam suas opiniões para a sala de aula. Isso tem sido um fato da vida em Columbia há muito tempo.
Na minha opinião, não cabe ao governo federal intervir nisso. Mas eles usaram a lei de direitos civis para justificar a intervenção. Imagine todo o aparato administrativo que foi criado para lidar com a discriminação no campus e para proteger estudantes negros.Todas essas regras podem ser usadas para proteger judeus e judeus israelenses, mas não estavam sendo aplicadas. Algo deveria ter sido feito internamente na universidade em relação a este departamento e essas manifestações, porque se houvesse um departamento onde estudantes negros se sentissem desconfortáveis em estudar, isso seria intolerável. Uma intervenção não deveria ter vindo do governo federal e isso, de fato, é uma capitulação.
A questão é saber se a universidade não tínha outra escolha a não ser capitular, porque não são apenas os US$ 400 milhões. Se não aceitasse os termos do governo, todo o financiamento de Columbia poderia ser interrompido, caso em que a universidade teria que fechar imediatamente. Então, é uma situação muito complicada.
O governo Trump está travando uma guerra contra as universidades de elite dos EUA e Columbia foi o primeiro alvo nessa guerra?
Sim. Há uma guerra total agora. JD Vance (o vice-presidente) disse uma frase, agora famosa: “A universidade é nosso inimigo”. Há um ativista político, Christopher Rufo, que tem sido o principal responsável por fazer com que políticos da direita usem todos os meios possíveis para punir universidades que, em sua opinião, se tornaram “woke” (termo em inglês, hoje usado de forma pejorativa para designar tentativa de imposição de ideias progressistas) . Há um esforço em duas frentes: um é tirar o financiamento de universidades que seriam progressistas; o outro é criar universidades separadas – há algumas na Flórida agora e em outros lugares – que seriam oficialmente não “woke”.
Como vê as consequências dessa mudança nos EUA para o futuro da democracia no mundo?
Há duas coisas a serem ditas. Uma é que Trump está fornecendo um manual para tipos ditatoriais em outros países imitá-lo. Os governantes muitas vezes se imitam. Quando Luís XIV construiu Versalhes, isso despertou muita inveja em outros reis, que passaram a tentar construir pequenas Versalhes em toda a Europa. Agora, líderes de outros países estão tentando imitar Trump - Bolsonaro no Brasil, especialmente.
Então, Trump é especialmente tóxico para o Brasil neste momento. Por outro lado, os americanos– especialmente aqueles que são conservadores – têm a impressão de que o mundo não faz nada além de reclamar da América. Eles simplesmente não estão cientes do fato de que, abaixo de algumas críticas superficiais, as pessoas querem vir para os Estados Unidos, não apenas por razões econômicas, mas porque gostam da ideia de autogoverno, de viver sob um Estado de direito, sem que a autoridade seja usada arbitrariamente contra eles.
Então, quaisquer que sejam as reclamações que possam ser feitas sobre a política externa americana na ONU e em outros fóruns internacionais, pessoas comuns em todo o mundo ainda veem nos EUA coisas que as inspiram. Isso não vai desaparecer da noite para o dia, mas é difícil crer que o efeito do governo Trump no resto do mundo será bom. Por outro lado, com a retirada dos EUA da Europa, os países europeus terão que encontrar seus recursos internos para serem exemplos de democracia e terem sua própria política externa. Algo novo e talvez bom saia disso.