Day: dezembro 25, 2021

Ascânio Seleme: O centro morreu, viva o centro

Ascânio Seleme / O Globo

O centro democrático brasileiro não ganha uma eleição no Brasil desde Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, o centro que elegeu FHC era híbrido. O PSDB, ainda fresco, tinha epidermicamente uma camada de tinta rosa que lhe dava um ar social-democrata. Quem puxou para o centro aquela chapa que venceu duas eleições no primeiro turno foi o PFL, filhote do PDS e da Arena da ditadura. Depois, tivemos dois presidentes eleitos e reeleitos pela esquerda e um eleito pela direita. O centro com poder eleitoral encolheu por falta de apelo e discurso, mas continuou governando com Lula, Dilma e Bolsonaro.

Na verdade, desde a instalação da República, quem governa o Brasil é o centro. Nos governos do PT, as alianças com PP e PL, e depois com o MDB, transformaram o que deveria ser um governo de orientação socialista. Lula (mais) e Dilma fizeram as alianças necessárias para governar e implementar o que podiam da sua pauta original. Mas para isso foram obrigados a ceder, e não apenas ministérios, diretorias de estatais e cargos superiores da administração pública. O PT foi de esquerda nas questões sociais e liberal na economia. Além, claro, de permitir avanços sobre os cofres públicos.

O PT governou com o Centrão desde o dia 1º de janeiro de 2003. Dando mesadas com dinheiro público e atendendo outras demandas dos líderes dos partidos aliados, mesmo as não republicanas. Quando tentou se afastar do centro, com Dilma, caiu por falta de apoio no Congresso. A sessão de cassação da ex-presidente serviu como aula da política que se pratica no Brasil. Os deputados que apoiaram com todo o empenho e todas as benesses os dois mandatos de Lula e o primeiro da própria Dilma votaram pela sua cassação com discursos libertários. No dia seguinte, alinharam-se confortavelmente no governo Temer.

Com Bolsonaro, o centro foi se imiscuindo no governo até dominá-lo. Do leão de extrema-direita eleito em 2018 restou apenas um gato magro que bebe leite na mão do Centrão e tenta rugir para seu público radical. O presidente, que imaginou conseguir governar sem respaldo político, apenas com o aval dos eleitores, poderia e deveria ter sido cassado pelos inúmeros crimes que cometeu ao longo dos seus três anos de mandato. Não foi, por falta de coragem de um presidente da Câmara e por interesse político de outro. Com Arthur Lira, Bolsonaro foi enquadrado. Afastou seus ministros mais abusados e nomeou a turma do Centrão.

Claro que o centro no poder não significa sucesso do governo. Apesar de estar sitiado pelo Centrão, Bolsonaro é rejeitado, seu governo é considerado ruim ou muito ruim pela maioria, e todas as pesquisas mostram que se a eleição fosse hoje perderia talvez já no primeiro turno. Mas, por ser democrático, o centro afasta os governantes dos extremos. Foi assim com Lula e Dilma, tem sido assim com Bolsonaro. E não digam que o Centrão não é democrático. É, sim. Ele pode não ser honesto, mas democrático ele é. Não por ideologia, e sim por interesse. Com a democracia, eles dividem o poder e dele se beneficiam; sem ela, viram satélites em torno de tecnocratas nomeados por ditadores.

De acordo com apuração dos repórteres Marianna Holanda, Julia Chaib e Mateus Vargas, o Centrão impôs uma mudança de discurso do presidente contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas e o fez suspender seus ataques antidemocráticos contra as instituições. Foi sua condição para embarcar no poder. Será assim com Lula, se ele efetivamente ganhar a eleição do ano que vem. Não que Lula tenha um discurso radical, nada se compara à retórica golpista de Bolsonaro. Mas o PT já tentou censurar a imprensa, inventando um certo controle externo da atividade jornalística que, obviamente, seria feito por um comitê de notáveis amigos do partido. É bom não se esquecer disso. E quem não se lembra de José Dirceu afirmar que o objetivo do partido é “tomar o poder, o que é diferente de ganhar eleição”?

Por ser forte no Congresso, mesmo sendo fraco em eleições majoritárias, o centro segue politicamente protagonista. Formado por parlamentares de diversos partidos, de alguns novatos até o veterano MDB, ele é a âncora que transfigura partidos ideológicos depois de assumirem o poder, impedindo que exerçam amplamente suas pautas originárias. E é o centro também que não permite desvios totalitários de qualquer tom. O centro morreu, viva o centro.

No mais, boas festas para todos.

Lula X Dilma

Por vezes, as pessoas mais próximas de Lula até se constrangem diante do tom empregado pelo ex-presidente quando se refere à sua sucessora, Dilma Rousseff. Lula não esconde dos íntimos a má vontade que tem com Dilma. Por vezes, usa até palavrões para designar a “companheira”.

O golpista voltou

José Dirceu anda com uma desenvoltura de fazer gosto nos arredores da pré-campanha de Lula. Alguns dos líderes partidários já relatam o incômodo que ele causa. Mas todos são muito cuidadosos ao tratar do assunto, já que o PT, cheio de dedos (sem piada, por favor), tem problema em responsabilizar quadros históricos por malfeitos políticos. Entendem que atacar Dirceu enfraquece o projeto do terceiro mandato de Lula, e vão aguentando.

Os democratas

Há dois tipos de políticos obrando no Brasil por estes dias. Os democratas e os outros. Os democratas, que são maioria, podem ser de esquerda, de centro ou de direita e são capazes de sacrificar até mesmo projetos políticos pessoais ou partidários para defender a democracia. Os outros também podem estar em qualquer canto do espectro político, mas são sabotadores da estabilidade, querem ocupar todos os espaços e não mudam de camisa para dar um golpe contra a democracia. Os democratas podem salvar o Brasil de bolsonaros e dirceus. Por isso, e talvez só por isso, faça sentido a aliança de Alckmin com Lula.

Esquerda

A onda de esquerda que neste ano culminou com a eleição de Gabriel Boric, no Chile, parece ser mais um freio na tendência de direitaque começou há alguns anos na Europa e por aqui mesmo na América Latina, e ganhou força depois da eleição da Donald Trump, nos Estados Unidos. No ano que vem tem mais.

Nosso Rio

Vem aí um prêmio para iniciativas positivas e criativasque favoreçam o Rio. Trata-se de uma ideia do think tank cRio ESPM e vai conceder três prêmios: para estudos e pesquisas realizadas no Rio entre 2017 e 2021; para empreendimentos criativos, que contemplem produtos e modelos de negócios inovadores; e para projetos inovadores na cultura da saúde. As inscrições estarão abertas até o dia 25 de fevereiro.

Fernanda e Chico

O vereador Chico Alencar publicou no Youtube uma singela homenagem ao Natal. Texto de sua autoria, com narração dele e de Fernanda Montenegro, o vídeo pode ser visto em https://youtu.be/3liF5DJ9Djg.

Orçamento antieleitoral

Imagino que estejam enganados os que pensam que Jair Bolsonaro vai se dar bem eleitoralmente em razão do orçamento bisonho que aprovou para o ano que vem. Há pouco dinheiro para investimentos em obras de infraestrutura que melhoram o país e geram emprego e renda. Há algum dinheiro para recomprar um apoio que ele já tem, que é a verba para aumentar salários de policiais. Há muito dinheiro para deputados e senadoresdo Centrão distribuírem em seus currais, mas estes estão prontos para deixar a base de Bolsonaro ainda no primeiro semestre do ano que vem. Há dinheiro nunca antes visto para campanhas partidárias. Não há dinheiro para melhorar a vida dos pobres de maneira estrutural, apenas as bolsas, importantes, mas paliativas.

Base de Bolso

A base sólida do presidente para a eleição de 2022 cabe num dos bolsos do seu paletó. É formada sobretudo por policiais, fardados ou não, militares das três Forças e milicianos. Bolsonaro tem ainda o apoio de uma parcela dos empresários paulistas, como se viu na sua visita à Fiesp na semana passada, e da parte mais atrasada do agronegócio. Não dá 20% do eleitorado. E quando este índice cair para baixo desse patamar nas pesquisas, vai começar a debandada.

Olavetes fora

Bolsonaro, quem diria, está prestes a perder o apoio de três valorosos mosqueteiros, os ex-ministros mais sórdidos que teve, Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Salles. Eles participaram da entrevista de Olavo de Carvalho em que este atacou o presidente no YouTube. Os “olavetes” ouviram contritos a bronca do guru e ficaram calados.

Vacina em crianças

Se você achava que ainda faltava alguma coisa para o inacreditável Jair Bolsonarofazer, acho que agora se convenceu de que não falta mais nada.

CPI da Covid

E o relatório da CPI? Alguém o viu por aí? Parece que foi visto pela última vez na Procuradoria-Geral da República.

EXEMPLO CASEIRO

O governador do Acre, Gladson Cameli, alvo de buscas da PF por corrupção e lavagem de dinheiro, tem pedigree. Seu tio, Orleir Cameli, ex-governador do estado de 1995 a 1999, respondeu a acusações por corrupção, narcotráfico e trabalho escravo. O tio de Gladson também ficou conhecido por ter sete CPFs. Está claro que escola familiar de bandidagem não ocorre apenas no plano federal.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/o-centro-morreu-viva-centro-25331705


João Gabriel de Lima: A lição da sociedade chilena

João Gabriel de Lima / O Estado de S. Paulo

Em 2011, no Chile, estudantes saíram às ruas para reivindicar melhorias no sistema de ensino. A dimensão do movimento foi comparável à das manifestações que se espalharam pelo Brasil em 2013. O dado mais interessante do levante chileno é que, para conseguir seus objetivos, os jovens que saíram às ruas entraram, posteriormente, para a política. 

A presidente da Federação dos Estudantes e líder das manifestações de 2011, Camila Vallejo, elegeu-se deputada em 2014 e está no Congresso até hoje. Seu sucessor na presidência da Federação, Gabriel Boric, acaba de se tornar presidente do Chile. Depois de eleito, Boric se reuniu com seu antecessor, Sebastián Piñera, para combinar uma transição civilizada. 

Boric é de esquerda, Piñera – presidente que se notabilizou por fazer do Chile um exemplo de vacinação na pandemia – é de direita. A alternância entre os dois lados do espectro ideológico é normal e saudável nas democracias. A batalha eleitoral mais importante, atualmente, não é entre direita e esquerda. É entre candidatos democratas e autoritários.

Vivemos uma era onde os autoritários, em vez de dar golpes, concorrem em pleitos e, eleitos, corroem a democracia por dentro. Aconteceu na Venezuela e na Nicarágua, à esquerda, e na Hungria e na Turquia, à direita. 

No início do mês, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realizou uma “cúpula da democracia”. Foi criticado, com razão, porque sua lista de convidados privilegiava os interesses geopolíticos americanos – a Polônia, por exemplo, cujo governo frequentemente atenta contra as liberdades civis, participou da cúpula.

A clivagem que Biden sugere – entre democratas e autoritários – é, no entanto, legítima.

Biden reivindica a liderança de um bloco amplo. “A defesa das democracias aproxima os Estados Unidos da União Europeia”, diz o português António Costa Pinto, que deu aulas em Stanford e Georgetown e leciona hoje na Universidade de Lisboa. “Trata-se da grande causa do Ocidente desde 1945 e hoje enfrenta novos desafios, com a ascensão da China e dos populismos.” Costa Pinto, um dos maiores especialistas mundiais em ditaduras, é o entrevistado no mini-podcast da semana.

A troca de experiências é saudável para as democracias, que também se fortalecem quando os movimentos da sociedade civil buscam a via institucional. Tal fenômeno, como observou o advogado Pedro Abramovay em artigo para o Estadão, representa a valorização da política. 

Fora da política não existe solução democrática para os problemas de um país. Esta é a lição da sociedade chilena para o Brasil.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,a-licao-da-sociedade-chilena,70003934921


Demétrio Magnoli: Genuína felicidade

Demetrio Magnoli / Folha de S. Paulo

"Fui afortunado na vida. Como regra, meus interesses pessoais coincidiram com os interesses da sociedade —e é isso, provavelmente, que constitui a genuína felicidade", escreveu Mikhail Botvinnik no outono de sua existência. Há exatos 30 anos, no 25 de dezembro de 1991, outro Mikhail, Gorbachev, renunciou à Presidência da URSS, no ato final do colapso do Estado Soviético. A "maior catástrofe geopolítica do século 20", segundo Putin, deve ser celebrada porque, depois dela, a linguagem empregada por Botvinnik perdeu, para sempre, sua justificação filosófica.

O enxadrista Botvinnik, sexto campeão mundial, dono da coroa de Caíssa entre 1948 e 1963, com duas breves interrupções, criou a Escola Soviética de Xadrez, fonte de incontáveis grandes mestres e de uma supremacia absoluta que perdurou até 1972. "Eu não estava só; na luta pelos interesses da sociedade, tive apoio". O patriarca ingressou no Partido Comunista na pré-adolescência e, desde seu triunfo num forte torneio em 1935, tornou-se "o escolhido".

A direção do Estado-partido decidiu que Botvinnik seria o representante máximo da URSS no campo de batalha internacional do xadrez. Dali em diante, obteve privilégios inimagináveis para outros enxadristas geniais. A coincidência entre seus "interesses pessoais" e os "interesses da sociedade" manifestou-se, ainda, nas pressões sofridas por rivais soviéticos para aceitar empates precoces que favoreceriam o escolhido na classificação final de torneios e na hostilidade oficial contra os compatriotas desafiantes nas disputas pelo título máximo de 1951 e 1960/61.

O "afortunado" nunca foi indigno. Cortês, ascético, incansável, rigoroso, desempenhou o papel de mestre dos futuros campeões Karpov, Kasparov e Kramnik. Ao que parece, nunca entregou-se à bajulação exagerada das autoridades e jamais sujou as mãos nas tramoias destinadas a solidificar seu predomínio. Além disso, circundou habilmente a "solicitação" dirigida aos grandes enxadristas soviéticos em 1976 para que subscrevessem uma carta infame que denunciava como "traidor" o auto-exilado Korchnoi. (Bronstein e Spassky recusaram-se explicitamente a assiná-la).

Botvinnik, porém, acreditava sinceramente na equivalência entre os interesses gerais e os dele mesmo. Nessa crença, que não era exclusividade sua, encontra-se a raiz da imoralidade fundamental dos sistemas totalitários.

"Nem todos com os quais me associei foram tão afortunados quanto eu. Os interesses pessoais de alguns divergiam dos da sociedade –e essas pessoas interferiram com meu trabalho. Então, surgiam conflitos." O patriarca tinha o péssimo costume de fazer referência a maléficos sujeitos ocultos ("alguns", "essas pessoas"). Mas o que importa aqui é a legitimação da diferença: meu privilégio deriva dos interesses da sociedade.

Os diagnósticos do campeão exprimem uma lógica desenvolvida em duas etapas. A primeira não requer interpretação: seus interesses pessoais e os da sociedade são a mesma coisa. A segunda exige tradução: os interesses da sociedade são iguais ao do regime, ou seja, o Estado-partido funciona como imagem espelhada da sociedade.

Arendt registrou que Eichmann era um burocrata suave, "nem pervertido nem sádico", mas "terrivelmente normal". Botvinnik, que não deve ser comparado ao criminoso nazista, exprime o modo de pensar "terrivelmente normal" do cidadão soviético. O campeão mundial teve privilégios excepcionais pois era uma peça de propaganda política. Mas, em escala miniaturizada, todos os fieis ao partido podiam contar com confortos vedados aos demais –e justificá-los por meio de argumentos similares.

Os crimes sanguinários do totalitarismo soviético foram descritos em muitas obras. Pouco se fala, contudo, do crime incruento, cotidiano: a corrupção moral de uma sociedade que se acredita idêntica a um partido.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2021/12/genuina-felicidade.shtml


Marcus Pestana: O Natal e a renovação da esperança

Marcus Pestana / Congresso em Foco

É Natal! Associamos esta data especial a sentimos nobres que fazem a vida ganhar sentido: esperança, solidariedade, caridade, amor ao próximo, perdão. Coisas tão em falta no mundo contemporâneo. Tudo aquilo que Cristo tentou semear. O menino lançou luzes sobre a travessia humana. E como quis o poeta Fernando Brant: “Toda vez que a bruxa me assombra/O menino me dá a mão/E me fala de coisas bonitas/Que eu acredito não deixarão de existir/Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade/Alegria e amor”.

Nenhum outro acontecimento conseguiu dividir a história como o que estamos celebrando hoje: antes de Cristo, depois de Cristo. Em Lucas, 1:30-33, está dito na Bíblia: “Mas o anjo lhe disse: ‘Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu reino jamais terá fim”. E sobrevive vinte séculos depois. Um reino que nasceu numa simples manjedoura, não teve palácios e tesouros, e viveu da palavra e das sementes plantadas.

O Natal de 2021 é o fecho de um ano de muitas provações. O mundo mergulhou num surto pandêmico que levou milhões de vidas. Só no Brasil foram mais de 618 mil vidas perdidas. Às vezes, mergulhados no individualismo e na indiferença, esquecemos que não estamos sozinhos, que dependemos uns dos outros, que as misérias humanas e as desigualdades não são parte de uma ordem natural inevitável. É de cortar o coração saber que 19 milhões de brasileiros serão assombrados pela fome neste Natal.

Os valores e os ensinamentos cristãos foram amplamente difundidos. Mas as escolhas são nossas. O Brasil vive momentos tensos. A liberdade ameaçada, a inflação tornando mais pobres os já muito pobres, o desemprego alimentando a desesperança, as desigualdades se ampliando. Que as escolhas futuras se inspirem no espírito do Natal. A miséria, a pobreza e a fome no Brasil não devem ser banalizadas, pois são a negação das coisas bonitas que nos fala o menino e que o Natal tenta nos relembrar.

Papai Noel nasceu longe do Polo Norte, na Turquia. Teve origem em São Nicolau, bispo católico do século IV, homem bondoso que presenteava as crianças no dia do seu aniversário. A figura do bom velhinho virou um personagem. Mas foi cooptada pela sociedade de consumo. A roupa vermelha foi uma invenção da Coca-Cola. O Polo Norte foi uma estratégia para estimular o turismo do governo finlandês, que construiu uma vila na Lapônia, que se tornaria o lar do bom velhinho. Noël em francês significa Natal. O Papai Noel foi adaptação para o português. A troca de presentes carrega uma simbologia de amor aos próximos. Nada errado estimular a fantasia das crianças e trocar presentes, desde que o sentido original do Natal não se perca.

Fiquemos com João Cabral de Melo Neto em seu “Cartão de Natal”: “Pois que reinaugurando essa criança/pensam os homens reinaugurar a sua vida/e começar novo caderno/fresco como o pão do dia/pois que nestes dias a aventura/parece em ponto de voo/ e parece que vão enfim poder explodir suas sementes:/ que desta vez não se perca esse caderno/sua atração núbil para o dente/que o entusiasmo conserve vivas suas molas/e possa enfim o ferro comer a ferrugem/o sim comer o não”.   

*Marcus Pestana, Presidente do Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)   

Fonte: Congresso em Foco
https://congressoemfoco.uol.com.br/blogs-e-opiniao/colunistas/o-natal-e-a-renovacao-da-esperanca/


Fernando Gabeira: A passagem dos bárbaros

Fernando Gabeira / O Estado de S. Paulo

As pesquisas de opinião deste fim de ano revelam, entre outras, uma situação difícil para Bolsonaro. Ele é rejeitado pela maioria e é considerado o pior presidente da história por quase metade dos entrevistados. Tudo isso num momento em que o Chile se volta para a esquerda, como já se voltaram Argentina, Peru e Bolívia. Nas suas circunstâncias, Estados Unidos e Alemanha também mudaram e desenham um quadro desfavorável para a extrema direita.

Nesta virada de ano, existe uma esperança real de que Bolsonaro seja varrido do mapa. No entanto, há todo o ano de 2022 para carregar e nem todas as suas perspectivas parecem boas. O ano termina com mais uma batalha entre o negacionismo oficial e a ciência. Depois de negar a gravidade do vírus, o número de mortos, a importância da vacina, a vacinação de adolescentes, o passaporte sanitário, Bolsonaro bloqueia, com sua ignorância, a vacinação das crianças.

Com uma boa performance na imunização de seu povo, o Brasil conseguiu respirar um pouco no segundo semestre. Mas a pandemia não acabou. A variante Ômicron que atingiu a Europa e os Estados Unidos tem um grande poder de contaminação, embora, ao que tudo indica, não seja tão letal. Os últimos números na cidade de São Paulo indicam um crescimento de internações e a metrópole é uma referência para o Brasil, que, em algumas cidades, vive também um surto de influenza.

O Orçamento aprovado no apagar das luzes revela também muitas das aberrações do atual governo. Emendas de relator, as mesmas que originaram o orçamento secreto, continuam abocanhando R$ 16 bilhões. E há o famoso fundo eleitoral, inicialmente orçado em R$ 5,7 bilhões, vetado de mentirinha por Bolsonaro e reavivado pelos deputados e senadores. Reduziram para R$ 4,9 bilhões, mas não a ponto de ofuscar o escândalo de gastar tanto dinheiro com partidos no momento em que a fome, o desemprego e a recessão econômica se instalam no País.

Tornando-se um aliado objetivo da pandemia, sem dinheiro para investimentos com tantos gastos politiqueiros, Bolsonaro só tem uma carta na manga para tentar sobreviver: o auxílio de R$ 400. É muito pouco para sua insensatez. Por mais que ganhe um votinho aqui, outro ali, em termos políticos é um elefante numa loja de cristais.

Em resposta aos adversários que costuram uma frente mais ampla para derrotá-lo, Bolsonaro

aparece dançando um funk que chama as mulheres de esquerda de cadelas. Na verdade, nunca se interessou pelo voto feminino e não compreende como as mulheres não só podem derrotar certos candidatos, como construir uma vitória. Se ouvisse o discurso de Gabriel Boric na Plaza Italia, em Santiago, talvez tivesse uma pequena luz sobre a força das mulheres. Mas Bolsonaro não ouve adversários, muito menos seria capaz de cumprimentá-los como o fez José Antonio Kast, o líder da direita no Chile.

O ano que passou foi marcado também pela Conferência de Glasgow. Isolado, o Brasil se comprometeu a reduzir o desmatamento na Amazônia. O que vimos? O nível de destruição da floresta foi o maior em dez anos. Centenas de barcas de garimpeiros ocuparam o Rio Madeira e deixaram um rastro de destruição: mercúrio nas águas, mercúrio no corpo dos ribeirinhos.

Não quero traçar um cenário mais catastrófico ainda. Mas a fúria destruidora de Bolsonaro pode se acentuar este ano, na medida em que antevê sua derrota, com aliados saltando do barco, apoiadores como Olavo de Carvalho admitindo que a briga está perdida. Essa é uma variável importante.

Embora falte um ano, para muitos observadores, Bolsonaro já perdeu as eleições. A única coisa que pode impedir que destrua o que resta do País é fazê-lo sentir as consequências. Há muitos inquéritos sobre Bolsonaro: influência indevida na Polícia Federal, no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fake news sobre as eleições, associação da vacina contra covid com o vírus da aids. Esses inquéritos, embora óbvios, demoram muito para ser concluídos. Bolsonaro apenas acumula acusações sem responder objetivamente por nenhuma delas. É importante detê-lo no momento em que se sentir acuado. Detê-lo com medidas da justiça e ameaças concretas de prisão. Sua última performance na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) dizendo que rifou funcionários do Iphan, porque se opuseram à construção de uma loja da Havan, é bastante típica. Empresários o aplaudiram porque fazem parte dessa conspiração da barbárie. Aplaudem a destruição do meio ambiente, aplaudem a resistência às medidas contra a pandemia, aplaudem tudo que favorece seu lucro, apesar do Brasil. Não são todos os empresários que pensam assim. Os trogloditas que o apoiam não o salvarão da cadeia e, o mais importante, vão ver a queda de seus lucros quando clientes e consumidores forem informados de sua simpatia pela pura destruição dos recursos naturais, da memória e identidade nacionais.

Não se trata de uma visão revanchista. Apenas uma advertência para o que pode ser o último ano de barbárie, uma tentativa de contê-la no seu desespero, quando o naufrágio parecer inevitável.

O Brasil precisa cuidar do que resta, para sonhar com um futuro.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,a-passagem-dos-barbaros,70003934431


Evandro Milet: A arte de escrever, nas palavras de quem entende

Evandro Milet / A Gazeta

Em Soneto de Natal, Machado de Assis conta a situação de um homem, ao relembrar os dias de pequeno, tentando colocar em uma folha branca, na noite de Natal, as sensações de sua idade antiga na forma de um soneto, mas a inspiração não vem e sem conseguir escrever indaga: Mudaria o Natal ou mudei eu?

Escrever não é coisa fácil, e não é só inspiração. Livros ou artigos, ficção ou relatos verídicos, romances ou biografias, há que cuidar de muitos aspectos. Nada como ouvir o que pensam os grandes autores sobre a arte de escrever. Se não temos condição e nem a pretensão de conseguir ler muito do que eles escreveram, muito menos de chegar perto do que eles fizeram, pelo menos podemos tentar aprender o que eles disseram em frases e pensamentos marcantes. Afinal, eles entendem do assunto.

Começamos com um frasista de renome, o jornalista norte-americano H. L. Mencken, dizendo uma verdade que muitos não entendem: “Não há assuntos chatos, apenas escritores chatos”. O texto pode tratar de coisas banais ou muito técnicas e mesmo assim ser agradável de ler. Tem a ver com estilo que pode ser algo positivo ou visto com restrições. O escritor W. Somerset Maugham dizia que “um bom estilo não deveria mostrar nenhum sinal de esforço. O que é escrito deveria parecer um feliz acidente”. Porém, o nosso Mário Quintana adverte, certamente para prevenir a chatice: “Estilo é a deficiência que faz um sujeito escrever sempre do mesmo jeito.”

A prolixidade é outra coisa que afasta o leitor. “Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade” reconhece o filósofo Arthur Schopenhauer, corroborado por ninguém menos que William Shakespeare: “O poder de síntese é a alma da inteligência”. Outro erro clássico, que tem a ver com a capacidade de síntese, é tema da advertência de Voltaire para não tentar tratar de muita coisa no mesmo texto e deixar alguma coisa para a imaginação do leitor: “O segredo para ser entediante é dizer tudo”.

Um conselho de muitos deles trata da importância da leitura. O escritor e filósofo espanhol, ou mais precisamente basco, Miguel de Unamuno ensina: “Ler muito é um dos caminhos para a originalidade. Uma pessoa será tão mais original e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros”. Stephen King, mestre do suspense e do terror, vai na mesma toada: “Se você não tem tempo para ler, você não tem tempo (ou as ferramentas) para escrever. Simples assim.”

William Faulkner, prêmio Nobel de Literatura em 1949, é contundente quanto a isso: "Leia, leia, leia. Leia tudo - lixo, clássicos, bons e maus, e veja como eles fazem. Assim como um carpinteiro que trabalha como aprendiz e estuda o mestre. Leia! Você vai absorver isso. Depois escreva. Se estiver bom, você descobrirá. Se não estiver, jogue fora pela janela". Para Faulkner, escrever é forma de organizar o pensamento: “Não sei o que penso sobre alguma coisa até ter lido o que escrevi”.

Dominar a língua é fundamental: “Os limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento", diz o austríaco Ludwig Wittgenstein, para quem a linguagem é o tema principal de reflexão como filósofo.

Para suavizar as ideias siga Charles Baudelaire em sutileza e poesia: “Seja sempre um poeta, mesmo em prosa.” E, terminando, quem gosta de ler vai concordar com o mago da ficção científica Carl Sagan: “Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia” e com outro mago da literatura, Jorge Luis Borges: “Que os outros se orgulhem das páginas que escreveram. Eu me orgulho das que li”.

Um Feliz Natal para todos!

Fonte: A Gazeta
https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/a-arte-de-escrever-nas-palavras-de-quem-entende-1221


Nazin Hikmet era integrado ao Partido Comunista Turco, diz historiador

João Vitor*, equipe FAP

Condenado diversas vezes por propagar ideias marxistas e, também, pertencer ao Partido Comunista Turco, o poeta Nazin Hikmet (1902 - 1963) passou mais de 15 anos da sua vida encarcerado. É o que diz o historiador Ivan Alves Filho, licenciado pela Universidade Paris-VIII (Sorbonne), em artigo produzido para a revista Política Democrática online de dezembro (38ª edição). “Plenamente integrado ao Partido Comunista”, afirma.

A revista é editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. A instituição disponibiliza, gratuitamente, em seu portal, todo o conteúdo da publicação mensal na versão flip. No artigo, Ivan destaca que o dramaturgo foi uma das primeiras vozes, em seu país, a se insurgir contra o massacre dos armênios pelos turcos, em 1915.

Veja a revista Política Democrática online de dezembro!

O historiador lembra que Hikmet foi preso em 1932, anistiado em 1935 e encarcerado mais uma vez em 1938 por ter “incitado a Marinha à insurreição”. “O poeta parte para o exílio na Polônia, então socialista. Nazin Hikmet faleceria em Moscou, a cidade de seus sonhos de juventude, em 1963”, observa Filho.

Segundo o autor do artigo, apenas em 2009 as autoridades devolveram, simbolicamente, a nacionalidade turca ao poeta. “Somente quarenta anos após sua morte é que os livros de Nazin Hikmet obteriam autorização para serem editados na Turquia”, ressalta.

Para Hikmet, conforme analisa o historiador, a poesia era “a mais sangrenta das artes”. “Isso talvez se devesse ao fato de que Nazin Hikmet, mais do que ninguém, conhecesse os perigos que rondavam a liberdade de expressão”, analisa.

Veja arquivos em PDF de todas as edições da revista Política Democrática online!

De acordo com o historiador, o escritor viveu uma vida de romance. “Nazin Hikmet soube ser a voz da Turquia moderna”, afirma, para acrescentar que ele se colocava como representante de operários, camponeses, oprimidos. “De todos, Nazin Hikmet talvez tenha sido aquele de vida mais trágica e bela”, diz. 

Ivan avalia que as poesias de Nazin Hikmet, marcadas por intenso lirismo, comovem pela candura e inabalável fé no homem. “Se eu não ardo, se tu não ardes, se nós não ardemos, como é que das trevas faremos claridade?”, diz um trecho de sua poesia.

A íntegra do artigo de Ivan Alves Filho pode ser conferida na versão flip da revista, disponível no portal da FAP, gratuitamente.

A nova edição da revista da FAP também tem reportagem especial sobre a variante Ômicron da covid-19entrevista especial com Hussein Kalout, além de artigos sobre política, economia e cultura.

Veja lista de autores da revista Política Democrática online de dezembro!

Compõem o conselho editorial da revista o diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado, Caetano Araújo, o jornalista e escritor Francisco Almeida e o tradutor e ensaísta Luiz Sérgio Henriques. A Política Democrática online é dirigida pelo embaixador aposentado André Amado.

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João Vitor*, da equipe FAP

Doutora em História e Estética do Cinema pela Universidade de Lausanne, na Suíca, Lilia Lustosa afirma que o filme 7 prisioneiros, dirigido por Alexandre Moratto, mostra sistema perverso de exploração cujas raízes profundas mostram as dores e as feridas geradas por desigualdade social abissal. “7 Prisioneiros choca, agride e revolta”, diz ela em artigo para a revista Política Democrática online de dezembro (38ª edição).

A revista é editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. A instituição disponibiliza, gratuitamente, em seu portal, todo o conteúdo da publicação mensal na versão flip. Lançado em setembro no catálogo da Netflix, 7 prisioneiros foi laureado como o melhor filme em língua estrangeira no Festival de Veneza deste ano. 

Veja a revista Política Democrática online de dezembro!

Lilia, que também é especialista em marketing, afirma que o cinema tem sido imprescindível na missão de falar, repetir e gritar que a escravidão de seres humanos, em qualquer forma, tem de acabar.

A autora do artigo destaca que os personagens, aparentemente simples no início, vão se tornando mais complexos a cada cena, trazendo novas camadas de reflexão para o filme. “Deixando-nos surpresos, revoltados e decepcionados com a natureza humana”, afirma.

“Ao mesmo tempo, impotentes, tristes e angustiados ao vermos ali tão bem exposta a intrincada rede de injustiças que leva tantas pessoas a 'perderem o coração' ao longo da caminhada. Tudo isso, sem se deixar cair na armadilha do maniqueísmo simplista, em que só reinam mocinhos e bandidos”, observa a doutora.

Segundo a especialista, o filme é um “espelho” que reflete sobre o papel que cada um desempenha na cadeia predatória que urge ser desmantelada para que datas como a do “Dia Internacional para a Abolição da Escravatura” não sejam mais necessárias no calendário nem na cinematografia.

Desde 1986, a cada 2 de dezembro, o mundo celebra o “Dia Internacional para a Abolição da Escravatura”, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de pôr fim à escravidão de seres humanos.

Veja arquivos em PDF de todas as edições da revista Política Democrática online!

“Parece inacreditável, quase uma piada de mal gosto, que até hoje precisemos de uma data para lembrar-nos que escravidão é uma violação dos direitos humanos. No Brasil, um crime previsto no Artigo 149 do Código Penal”, diz Lilia.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), ainda existem cerca de 40 milhões de pessoas em situação análoga à escravidão em todo o mundo. É, como Lilia chama, escravidão contemporânea, presente em várias partes do planeta, aparecendo cruelmente em nosso território, tanto em fazendas do interior, como em metrópoles tais como Rio e São Paulo.

A autora do artigo elenca filmes que têm abordagem parecida a 7 Prisioneiros, como o Patrão: Radiografia de um Crime, produzido pela Argentina em 2013. “Conta a história real de um homem vindo do norte do país para a capital Buenos Aires, em busca de melhores condições de vida, mas que acaba se deparando com uma realidade nada bonita, em que se torna escravo do dono do açougue onde trabalha”, explica.

A íntegra do artigo de Lilia Lustosa pode ser conferida na versão flip da revista, disponível no portal da FAP, gratuitamente.

A nova edição da revista da FAP também tem reportagem especial sobre a variante Ômicron da covid-19entrevista especial com Hussein Kalout, além de artigos sobre política, economia e cultura.

Veja lista de autores da revista Política Democrática online de dezembro!

Compõem o conselho editorial da revista o diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado, Caetano Araújo, o jornalista e escritor Francisco Almeida e o tradutor e ensaísta Luiz Sérgio Henriques. A Política Democrática online é dirigida pelo embaixador aposentado André Amado.

*Integrante do programa de estágios da FAP, sob supervisão do jornalista e editor de conteúdo Cleomar Almeida

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Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção

Mariana Gutiérrez / WWF-Brasil

O Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (IEMA) em parceria com o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF) anunciaram a aprovação do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Capixaba-Gerais (PAT Capixaba-Gerais) para 113 municípios, sendo 78 no ES e 35 em MG.

O PAT Capixaba-Gerais possui uma abordagem territorial e é direcionado para espécies da fauna e da flora citadas nas Listas Nacionais e Estaduais de espécies ameaçadas de extinção na categoria Criticamente em Perigo (CR), que não possuem registros de ocorrência conhecidos em Unidades de Conservação (UC) - exceto as Áreas de Proteção Ambiental (APA) - e não foram contempladas em planos ou projetos de conservação.

O território do PAT Capixaba-Gerais abrange uma diversidade de ambientes como bacias hidrográficas de ambos estados e com divisa no Rio de Janeiro, além de floresta nativa, savânica, rochosa e área de transição.

São 216 espécies-alvo de fauna (30) e flora (186) de diversos grupos como anfíbios, aves, invertebrados, peixes, répteis, angiospermas, briófitas e licófitas. Além dos critérios já mencionados para a seleção das espécies, também foram levadas em consideração avaliações mais recentes pelo Centro Nacional de Conservação da Flora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ) e avaliação de especialistas durante a elaboração do PAT Capixaba-Gerais.

Sua construção se deu de forma participativa, com as necessárias adaptações devido à crise sanitária ocasionada pela Pandemia da COVID 19. As oficinas, realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2020, em ambiente virtual, contaram com a presença de representantes dos governos estaduais e federal; de instituições de pesquisa e ensino; de organizações não governamentais; além de gestores de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).


Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Paulo Gonell/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Pedro Flaschi/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Daniel Mello/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Reprodução
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Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Paulo Gonell/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Pedro Flaschi/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Daniel Mello/WWF Brasil
Mais de 200 espécies de flora e fauna da Mata Atlântica contam com proteção. Foto: Reprodução
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Savana de Freitas Nunes, analista ambienta do IEMA e coordenadora do PAT Capixaba-Gerais, reforça a relevância da elaboração de Planos de Ação Territoriais:

“Os planos de ação são importantes ferramentas de gestão pois possuem um caráter participativo e interinstitucional. Tendo em vista o grande número de espécies ameaçadas de extinção registradas para o estado do Espírito Santo, considero muito importante que elas não sejam apenas parte de uma “Lista Vermelha”, mas que ações sejam realizadas visando a redução dos impactos aos ambientes e às espécies e possam contribuir na regressão do nível de ameaça. Se conseguirmos implementar esse Plano de Ação Territorial, executando as ações indicadas em planejamento colaborativo, acredito que daremos um passo importante rumo a conservação de espécies e melhoria da qualidade do ambiente e da vida da sociedade no território”.

Implementar medidas de conservação da sociobiodiversidade no Território do PAT Capixaba-Gerais, que reduzem as ameaças sobre as espécies e promovam a manutenção dos serviços ecossistêmicos com engajamento da sociedade é objetivo direcionador da Matriz de Planejamento que possui 7 objetivos específicos que vão desde a priorização de áreas para a implementação, promoção de boas práticas ambientais do uso da terra, prevenção e conscientização até o monitoramento de incêndios florestais, entre outros.

Os objetivos e ações estabelecidas, além dos resultados esperados, prazos, articuladores e colaboradores envolvidos podem ser verificados na Matriz de Planejamento que se encontra no Sumário Executivo do PAT.

"O PAT Capixaba Gerais é o primeiro em que atuamos na coordenação em conjunto com outro Estado, no caso com o IEMA, do Espírito Santo, uma vez que nossa experiência anterior e ainda em curso com o PAT Espinhaço Mineiro abrange área localizada apenas em Minas Gerais. E ela tem sido bem rica desde os primeiros passos, seja por poder promover essa troca de experiências governamentais, seja por podermos ter contato com atores da sociedade civil, de instituições de pesquisa e do setor produtivo de ambas as unidades de federação", de acordo com Cézar Cruz, Diretor de Conservação e Recuperação de Ecossistemas do IEF.

Para acompanhar, monitorar, avaliar e auxiliar na implementação do PAT Capixaba-Gerais durante todo o seu ciclo de vigência de 5 anos, instituiu-se o GAT formado por representantes de diferentes organizações que possuíam conexão com os objetivos específicos ou com as ações.

"A definição e a implementação das ações respeitarão os recortes territoriais previstos pelos articuladores e colaboradores envolvidos, mas a própria discussão e monitoramento no Grupo de Assessoramento Técnico, o GAT, traz perspectivas que podem colaborar para sua consecução. Digo isso porque, independentemente das contribuições se referirem exatamente para aquela ação ou localidade, há atores que estão presentes em mais de uma frente de ação e que contribuem para ampliar também esse intercâmbio”, afirma Cruz.

O IEMA publicou a Instrução Normativa N°07-N, de 08 de novembro de 2021, no Diário Oficial do Estado (DOE), que aprova o PAT Capixaba-Gerais e a Instrução de Serviço N°209-S, de 16 de dezembro de 2021, que institui o Grupo de Assessoramento Técnico. Por tratar-se de um PAT realizado em parceria, o IEF também publicou a Portaria N° 75, de 18 de novembro de 2021.

Para mais informações sobre o PAT Capixaba-Gerais, consulte o Sumário Executivo, sites de instituições envolvidas ou entre contato com a coordenação geral, pelo e-mail pat.capixabagerais@gmail.com

Sobre o Projeto Pró-Espécies

O Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção é financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora.

O projeto trabalha em conjunto com 13 estados do Brasil (MA, BA, PA, AM, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES) para desenvolver estratégias de conservação em 24 territórios, totalizando 9 milhões de hectares. E prioriza a integração da União e estados na implementação de políticas públicas, assim como procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) e que não contam com nenhum instrumento de conservação.

Fonte: WWF Brasil
https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?81268/Mais-de-200-especies-de-flora-e-fauna-da-Mata-Atlantica-contam-com-protecao


‘Não fazer nada é perpetuar os privilégios brancos e o racismo’

Ana Paula Boni / O Estado de S.Paulo

Coca-Cola, Magalu, Gerdau e Nestlé têm muitas coisas em comum, mas, para além de serem grandes empresas atuantes no Brasil, são algumas das 47 signatárias do Movimento pela Equidade Racial, o Mover, criado no ano passado e formalizado em junho deste ano. Na figura de seus presidentes e CEOs, essas empresas se comprometeram a gerar 10 mil postos de trabalho de alta liderança para profissionais negros até 2030, com o impacto adicional da transformação das culturas interna e externa, influenciando a sociedade.

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Para que não seja da boca para fora e para que as ações ajudem a reter talentos negros em ambientes corporativos inclusivos, as organizações contribuem com de R$ 250 mil a R$ 500 mil por ano (de acordo com o porte da empresa). Para 2022, o Mover já tem R$ 15 milhões para, por meio de cursos, capacitações, ações de letramento, eventos e oferta de vagas, ajudar a reduzir o gap que separa negros de altos cargos executivos.

Para Marina Peixoto, diretora-executiva do Mover, “a luta pela igualdade racial, assim como a luta por uma sociedade mais justa, tem de ser de todos”, independentemente de a qual grupo você pertença, sendo homem, mulher, branco ou negro. “Tenho privilégios, como a maioria das pessoas brancas. E justamente por termos esse privilégio temos a responsabilidade de mover a estrutura”, diz. “Fazer nada é corroborar com perpetuar o racismo. Então, a gente precisa entrar nessa luta.”

Segundo a pesquisa “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil”, do Instituto Ethos, realizada em 2016 (a mais recente), apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por profissionais negros; na base, negros são 35,7%, enquanto são a maioria da população brasileira (54%). Neste ano, entre as vagas ofertadas pelas empresas do Mover em eventos, foram 1.132, sendo 26% para cargos de supervisor e coordenador e 9% para gerente e diretor - proporção que o movimento deve corrigir nas próximas ações.

Engenheira de produção, Marina Peixoto migrou cedo para marketing e administração, tendo em sua carreira a agenda de propósito como pano de fundo. Executiva com quase 20 anos de Coca-Cola, liderou campanhas que traziam impacto social quando o termo ESG ainda nem era falado. Nos últimos anos, após ter uma filha diagnosticada com síndrome de Down, passou a atuar com diversidade e inclusão, até que estava em Atlanta, nos Estados Unidos, quando George Floyd foi assassinado por policiais, em maio de 2020.

O caso de Floyd, homem negro, detonou mundialmente e também no Brasil o combate ao racismo e os programas de inclusão racial nas empresas. Foi assim que Marina voltou dos EUA para assumir a área de Diversidade e Inclusão (D&I) na Coca-Cola, criando um movimento paralelo com oito empresas na luta pela equidade racial. No dia 23 de novembro do ano passado, lançava um compromisso público então com 13 empresas, até que o Mover foi formalizado juridicamente como associação em junho deste ano e hoje agrega 47 empresas. 

Há pouco mais de dois meses Marina se desligou do seu emprego na Coca-Cola para estar em tempo integral à frente do movimento, ao lado de dois diretores executivos: Carlos Domingues (da Pepsico) e Hellen Andrade (da Nestlé). Além deles, 200 voluntários das empresas participantes integram os comitês do Mover. Entre parceiros externos, estão o ID_BR (Instituto Identidades do Brasil) e o Fundo Baobá, entidades do movimento negro que ajudam com suporte a cursos e letramento racial.

Para que o Mover funcione, pontua Marina, o envolvimento dos CEOs é crucial, para impactar os funcionários de cima para baixo. Assim, há encontros mensais com CEOs, além de reuniões mensais com os conselheiros (também CEOs) e quinzenais com outras lideranças, entre outras dinâmicas. “Cada empresa tem seus desafios e níveis de letramento. Todas vão chegar a um mesmo lugar, mas as jornadas devem ser diferentes. E quanto mais empresa no movimento melhor. A gente quer ampliar e influenciar a sociedade como um todo”, fala Marina.

As 47 empresas hoje associadas são: Alcoa, Aliansce Sonae, Ambev, Americanas S.A, Arcos Dorados-McDonald’s, Atento, Bain & Company, BRF, Cargill, Coca-Cola Brasil, Colgate-Palmolive, CSN, Danone, Descomplica, DHL Supply Chain, Diageo, Disney, EF, General Mills, Gerdau, GPA, Grupo Carrefour Brasil, Heineken, JBS, Kellogg, Klabin, Kraft Heinz, L’Oréal Brasil, Lojas Renner, Magalu, Manserv, Marfrig, MARS, Michelin, Mondelëz International, Moove, Nestlé, PepsiCo, Petz, RD - Raia Drogasil, Sodexo, Tenda Atacado, UnitedHealth Group Brasil, Vale, Via, XP Inc. e 3M.


Foto: AFP
Foto: AFP
Foto: Olivier Doullery / AFP
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
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 Foto: AFP
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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
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Confira abaixo trechos da entrevista com Marina Peixoto.

Como se sente sendo uma mulher branca liderando um movimento pela igualdade racial no mercado?

A luta pela igualdade racial, assim como a luta por uma sociedade mais justa, tem de ser de todos, independentemente de você participar de um grupo minoritário. Todos deveriam lutar por isso. A causa não pode ficar somente dentro daquele grupo que sofre com o racismo, o machismo ou o capacitismo. Todos nós temos um papel de fazer evoluir a sociedade. 

Especificamente na questão racial, que estou liderando aqui no Mover ao lado de outros dois diretores, todos temos lugar de fala, só que são lugares diferentes. Aproveitando o que (a filósofa) Djamila Ribeiro fala, as perspectivas são distintas. Eu não vou ter a perspectiva de uma pessoa negra que passa pelo racismo. Eu vou ter a perspectiva de uma pessoa branca que teve, sim, seus privilégios, como a maioria das pessoas brancas. E justamente por termos esse privilégio temos a responsabilidade de mover a estrutura. 

Se hoje os cargos de liderança ainda são majoritariamente ocupados por pessoas brancas, cabe a elas mexer, cabe a elas tomar decisões com esse olhar de busca pela igualdade. No Fórum Brasil Diverso, eu citei a frase da professora Cida Bento sobre o pacto narcísico da branquitude, que é quando as pessoas brancas tendem a evitar falar do assunto ou achar que isso não tem nada a ver com elas porque não se acham racistas.

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racismo é estrutural e precisa de uma solução estruturante e, para mexer a estrutura, é preciso de todos, principalmente das pessoas que estão hoje no poder, que são brancas. A sociedade está pedindo (mudança), o mercado financeiro também, mas é uma luta que vai demorar anos. Se a gente (brancos) não entra, a velocidade vai ser diferente. E se a gente não se coloca nesse papel de responsável, a gente vai ser corresponsável por perpetuar algo que já existe. Se a gente não faz nada, fazer nada é corroborar com perpetuar esses privilégios, com perpetuar esse racismo. Então, a gente precisa entrar nessa luta.

Isso não quer dizer, então, que vocês não vão trazer pessoas negras para o movimento.

Exato. A gente não quer ser um movimento de pessoas brancas construindo ações para pessoas negras. A gente sempre falou de fazer “com”, e não apenas “para”. Hoje, como está a nossa governança? Em relação aos CEOs, ainda são majoritariamente brancos e majoritariamente homens. Temos três CEOs que se autodeclaram negros, entre as 47 empresas que fazem parte do Mover.

Na nossa governança, temos uma assembleia de associados, formado por CEOs - brancos. No Conselho Deliberativo, temos seis CEOs e três pessoas da sociedade civil, que são pessoas do movimento negro, para termos essa visão de fora do mundo empresarial e também trazer representatividade negra para a tomada de decisão. Não podemos citar ainda nomes, pois estamos registrando tudo em cartório.

Ter visões complementares foi uma preocupação que a gente desde sempre quis construir. Ter um olhar do terceiro setor, um olhar da Academia, um olhar do empreendedorismo, um olhar mais de inovação, formando uma lente multidisciplinar também.

No dia a dia executivo, somos eu e outros dois diretores, que são pessoas negras, Carlos Domingues (Pepsico) e Hellen Andrade (Nestlé). A partir disso, formamos comitês estratégicos em cima de cada pilar de atuação, para gerar 10 mil posições de liderança até 2030 para pessoas negras.

Carlos Domingues, Pepsico
Carlos Domingues, gerente-executivo de Diversidade e Inclusão da Pepsico Brasil, também diretor executivo do Mover.  Foto: Divulgação

O comitê de ações internas, por exemplo, vai ajudar a criar as diretrizes, garantir que todas as empresas participantes estejam fazendo censo demográfico, treinamentos, letramento. E o comitê de ações externas está conectado com o pilar de capacitação e empregabilidade, para formação com bolsas de estudos, de graduação. Ao mesmo tempo, a gente também tem que mudar as políticas de recrutamento e seleção, para que se tenha uma linguagem mais inclusiva e processos que mitiguem os vieses inconscientes.

Como pode ser feita a conexão com o mercado de trabalho?

Não é só a conexão com as 47 empresas do movimento, mas queremos ser um grande conector com toda a cadeia de valor, com fornecedores, com clientes. Tem uma parcela de profissionais com gap de formação, sim, mas por outro lado a gente também tem uma parcela da população negra extremamente capacitada, com alto nível de formação, que não está chegando nas empresas. E daí a empresa fala: ‘Ah, eu não encontro (profissional negro)’. É porque não está procurando no lugar certo.

Com esse comitê de capacitação a gente vai ajudar a formar aqueles que tenham essa diferença de formação, que não tiveram a mesma oportunidade, mas por outro lado também conectar com quem está ali já na porta do gol, para quem falta fazer só essa aproximação.

Neste ano, estivemos no AfroPresença, evento do Ministério Público do Trabalho com o Pacto da ONU, ofertamos 300 e poucas vagas selecionadas das 47 empresas, a maioria para cargos de liderança. Também fomos para a Conferência Juntos, da McKinsey, e ofertamos 400 e poucas vagas, além de 100 bolsas de estudos da Descomplica, uma das nossas associadas, e tivemos 70 e poucos voluntários das empresas para formar o programa de mentoria da McKinsey, que será dado a profissionais negros.

Helen Andrade, Nestlé
Helen Andrade, head de Diversidade e Inclusão da Nestlé no Brasil, também diretora-executiva do Mover.  Foto: Tibiko/zerolux

No Fórum ID_BR, na sequência, foram cerca de 700 vagas, algumas exclusivas (para negros) e outras intencionadas, muitas para cargos de gerente e diretor. Agora queremos lançar no próximo ano no nosso site um Classificados com oferta de vagas para aproximar cada vez mais as empresas dos talentos negros.

Mas hoje o site do Mover já tem a oferta de vagas das 47 associadas, não?

Sim, mas hoje eu clico lá na empresa e vejo todas as vagas daquela empresa. A gente quer poder filtrar só os cargos de liderança, ou por área, cargos de finanças, marketing. De modo que seja mais fácil encontrar a vaga, não importa a empresa. Se eu sou economista e quero uma vaga nessa área, em vez de entrar em cada uma das 47, eu vou usar os filtros: vagas de finanças, cargo de coordenador para cima etc. A gente vai fazer essa melhoria em torno do segundo pilar, de conectar vagas com esse público.

Além desses dois pilares e seus respectivos comitês, tem mais algum que orienta o trabalho do Mover?

Sim, um terceiro. Os comitês estão formados em cima dos pilares estratégicos. Então, no primeiro, a gente tem a meta dos 10 mil cargos de liderança. Para chegar na liderança, tem toda a construção de base, não é só recrutar. Se eu chego lá e não tenho um ambiente inclusivo, você não retém esses talentos. Então esse pilar, que inclui um trabalho interno, vai trabalhar toda essa parte de mudança cultural das empresas.

No segundo pilar, a gente tem 3 milhões de oportunidades em conexão com o mercado de trabalho. Envolve um comitê externo porque é voltado para fora das empresas. E o terceiro pilar estratégico, o nosso terceiro compromisso, é para contribuir com a conscientização da sociedade em torno do tema, por meio de um comitê de comunicação. É um grupo de trabalho que não só vai comunicar os avanços do Mover mas também ajudar a estruturar ações que ajudem na conscientização.

Aqui dentro, a gente treinou todos os quase 200 voluntários, com letramento por meio do curso ABC da Raça, do ID_BR. Dentro das empresas, a gente deixa que cada um contrate o parceiro que preferir (para consultoria de inclusão e letramento), mas vamos garantir que eles façam esse letramento de forma massiva.

A gente fez uma ação icônica agora em novembro (perto do Dia da Consciência Negra),  quando completamos um ano do nosso primeiro compromisso como movimento, e a gente chamou todos os colaboradores para assistir à live Dia do Mover. Porque não adianta só os 200 voluntários ou CEOs, mas todos os colaboradores das empresas têm de estar envolvidos. Todos eles vão, nas suas diferentes áreas, influenciar para que essa cultura seja formada.

E a gente, enquanto Mover, também está trabalhando com fornecedores negros, agências de comunicação, equipe de suporte (como contador, jurídico), além de ID_BR, Baobá. A gente tem de ser consistente para influenciar a política de fornecedores das empresas.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://economia.estadao.com.br/noticias/sua-carreira,nao-fazer-nada-e-perpetuar-privilegios-brancos-e-o-racismo,70003934285


Vacina para crianças estimula ativismo de bolsonaristas contra o imunizante

Levy Teles e Gustavo Queiroz, O Estado de S.Paulo

Após a Anvisa aprovar, na semana passada, a vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, deputados federais bolsonaristas intensificaram uma postura de combate à imunização e ao passaporte vacinal. A investida ocorre principalmente por meio de mensagens, convocações de atos ou mesmo informações falsas ou sem evidências científicas em grupos antivacina no aplicativo de troca de mensagens Telegram.

A discussão já saiu do ambiente virtual em ao menos 11 capitais brasileiras, com a realização de manifestações nos Legislativos – algumas com episódios de violência. Ativistas antivacina já provocaram uma tentativa de invasão à Assembleia do Rio (Alerj), troca de agressões na Câmara Municipal de Porto Alegre e dois casos em que vereadoras – uma também da capital gaúcha e outra em Campinas – registraram boletim de ocorrência por injúria racial.

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No caso mais divulgado, em outubro, houve troca de socos entre manifestantes antivacina e vereadores em sessão do Legislativo de Porto Alegre que discutia o veto ao passaporte municipal na capital gaúcha. Uma manifestante se dirigiu à vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB), negra, e a chamou de empregada. Na mesma plenária, um dos ativistas exibiu um cartaz com reprodução da suástica nazista.

A retórica contra o passaporte vacinal e a imunização tem eco na Câmara Federal, conforme levantamento feito pelo Estadão com os 513 deputados federais. A reportagem perguntou, entre outubro e dezembro, a todos os parlamentares da Casa se eles tomaram a vacina contra a covid-19 e se eram a favor ou contra o projeto de lei 5610/2020, que propõe obrigatoriedade na imunização dos congressistas. Do total que respondeu (243), um em cada três preferiu não se manifestar ou se disse contrário à obrigatoriedade vacinal.

Ao Estadão, quatro deputados confirmaram que até agora não tomaram a vacina contra a covid-19: Carla Zambelli (PSL-SP), Junio Amaral (PSL-MG), Marcio Labre (PSL-RJ) e Sargento Fahur (PSD-PR). Fahur defendeu que o imunizante deve ser disponibilizado só para quem quiser. “Se o não vacinado for uma ameaça ao vacinado é sinal que a vacina falhou”, argumentou.

Gráficos que mostram a evolução dos casos de infectados e óbitos por covid-19 no Brasil revelam uma relação direta entre a diminuição dos números de ambos os índices e o aumento da vacinação na população.


Motociata de Santa Cruz do Capibaribe para Caruaru. Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Leilão 5G. Foto: Isac Nóbrega/PR
Reunião com o Emir de Dubai, Mohammed bin. Foto: Alan Santos/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Bolsonaro participa de cerimônia do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Cerimônia em Memória dos Pracinhas. Foto: Alan Santos/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
05/11/2021 Cerimônia de Anúncios do Governo Federal ao Estado
Motociata na cidade de Piraí do Sul com destino a Ponta Grossa. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR
Reunião com o representante para Política Externa e de Segurança da União Europeia e Vice-Presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell Fontelles. Foto: Alan Santos/PR
Apoiadores na rampa do Palácio do Planalto. Foto: Marcos Corrêa/PR
Encontro com o Presidente da Funai, Marcelo Xavier e lideranças indígenas. Foto: Isac Nóbrega/PR
Visita à Estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte - CE Foto: Marcos Corrêa/PR
Cerimônia Militar em Comemoração ao Aniversário de Nascimento do Marechal do Ar Alberto Santos-Dumont. Foto: Marcos Corrêa/PR
Solenidade Militar de Entrega de Espadins aos Cadetes da Força Aérea Brasileira. Foto: José Dias/PR
Missa com parlamentares e familiares. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro bate um pênalti na Arena da Condá, Chape, em Chapecó. Foto: Alan Santos/PR
Presidente, ministros e aliados posam para fotografia nos trilhos da FIOL. Foto: Marcos Corrêa/PR
Motociata de Santa Cruz do Capibaribe para Caruaru. Foto: Marcos Corrêa/PR
Inauguração das novas instalações da Escola de Formação de Luthier e Archetier da Orquestra Criança Cidadã (Recife-PE). Foto: Marcos Corrêa/PR
Motociata pelas avenidas de Goiânia. Foto: Alan Santos/PR
Operação Formosa - 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Centenário da Convenção de Ministros e Igrejas Assembléia de Deus no Pará. Foto: Isac Nóbrega/PR
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Motociata de Santa Cruz do Capibaribe para Caruaru. Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Leilão 5G. Foto: Isac Nóbrega/PR
Reunião com o Emir de Dubai, Mohammed bin. Foto: Alan Santos/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Bolsonaro participa de cerimônia do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Cerimônia em Memória dos Pracinhas. Foto: Alan Santos/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
05/11/2021 Cerimônia de Anúncios do Governo Federal ao Estado
Motociata na cidade de Piraí do Sul com destino a Ponta Grossa. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
 Cúpula de Líderes do G20. Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR
Reunião com o representante para Política Externa e de Segurança da União Europeia e Vice-Presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell Fontelles. Foto: Alan Santos/PR
Apoiadores na rampa do Palácio do Planalto. Foto: Marcos Corrêa/PR
Encontro com o Presidente da Funai, Marcelo Xavier e lideranças indígenas. Foto: Isac Nóbrega/PR
Visita à Estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte - CE Foto: Marcos Corrêa/PR
Cerimônia Militar em Comemoração ao Aniversário de Nascimento do Marechal do Ar Alberto Santos-Dumont. Foto: Marcos Corrêa/PR
Solenidade Militar de Entrega de Espadins aos Cadetes da Força Aérea Brasileira.  Foto: José Dias/PR
Missa com parlamentares e  familiares. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro bate um pênalti na Arena da Condá, Chape, em Chapecó. Foto: Alan Santos/PR
Presidente, ministros e aliados posam para fotografia nos trilhos da FIOL. Foto: Marcos Corrêa/PR
Motociata de Santa Cruz do Capibaribe para Caruaru. Foto: Marcos Corrêa/PR
Inauguração das novas instalações da Escola de Formação de Luthier e Archetier da Orquestra Criança Cidadã (Recife-PE). Foto: Marcos Corrêa/PR
Motociata pelas avenidas de Goiânia. Foto: Alan Santos/PR
 Operação Formosa - 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Centenário da Convenção de Ministros e Igrejas Assembléia de Deus no Pará. Foto: Isac Nóbrega/PR
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Deputados que se manifestaram contra ou não têm uma resposta definitiva sobre o tema deram diferentes justificativas para o posicionamento. Bosco Saraiva (Solidariedade-AM) afirmou que as vacinas estão “em fase experimental”, dr. Luiz Ovando (PSL-MS) argumentou que é mais fácil ser imunizado contraindo o vírus do que pela vacina – afirmações que não têm comprovação científica – e Reinhold Stephanes Jr. (PSL-PR) disse apenas ter “nojo da esquerda”.

'Liberdade'

Em sua maioria, os parlamentares usam como justificativa a “liberdade individual”. Numa discussão em um grupo com 6 mil membros no Telegram, uma usuária disse que, para evitar o rótulo de negacionista, a comunidade deve falar que é a favor “da liberdade” em vez de se manifestar abertamente contra o passaporte.

Esse discurso extrapola o aplicativo e alcança os perfis oficiais de deputados bolsonaristas nas redes sociais. Parlamentares como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, compartilharam publicações divulgadas em grupos antivacina no Telegram – a principal delas é a associação, sem evidência científica, de casos de problemas cardíacos atribuídos indiretamente à vacinação contra a covid-19.

Investigada no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para apurar a divulgação de fake news, Bia Kicis (PSL-DF) é ativa na divulgação de mensagens antivacina. No Twitter, a deputada já compartilhou conteúdo de influenciadores contra o imunizante – um deles divulgou um vídeo em grupo com 6 mil seguidores em que uma mulher afirma, sem qualquer comprovação científica, que seu braço foi “magnetizado” após tomar a vacina contra a covid-19.

A pesquisadora no Departamento de Comunicação e Mídia da Universidade de Liverpool, Patrícia Rossini, aponta que a divulgação de informações sem evidência científica por parlamentares pode ser mais nociva. “Figuras públicas têm um grande alcance perante ao público em geral e também perante à imprensa, que acaba repercutindo essas narrativas, ou seja, o risco é de esses conteúdos falsos chegarem até os discursos mais ‘mainstream’”, disse.

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro disse que a vacina só poderia ser aplicada “com receita médica” e consentimento dos pais. Já o ministro da Saúde Marcelo Queiroga defendeu que as mortes nessa faixa etária pela doença não demandam “decisões emergenciais”. Até agora, 1.148 crianças de 0 a 9 anos já morreram de covid no Brasil. Em nota, a Anvisa reforçou que “seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas”.

Câmara dos Deputados

  • 513 deputados federais foram perguntados se são a favor ou contra a imunização contra a covid e ao projeto de lei que adota o passaporte antivacina entre parlamentares do Congresso Nacional.
  • 242 deputados responderam à enquete feita pelo Estadão.
  • 153 deputados se declararam favoráveis à proposta de implantar o passaporte vacinal entre os congressistas.
  • 54 deputados são contrários ao projeto de lei.
  • 36 deputados se declararam indecisos ou disseram que preferem não se manifestar sobre  o assunto.
  • 4 deputados federais (Carla Zambelli, Junio Amaral, Marcio Labre e Sargento Fahur) responderam que não se vacinaram nem pretendem se vacinar contra a covid-19.

COLABORARAM GABRIEL FALEIRO, GABRIELA BRUMATTI, JORGE CARRASCO, LAILA NERY, RAFAEL NASCIMENTO E VICTOR FARIAS, ESPECIAIS PARA O ESTADÃO

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,vacina-para-criancas-estimula-ativismo-de-bolsonaristas-contra-o-imunizante,70003934960


Eleições 2022: Caminhos tortuosos aguardam Bolsonaro

Ingrid Soares e Taísa Medeiros

O ano de 2022 não será fácil para Jair Bolsonaro. Pré-candidato à reeleição, o presidente da República sabe que a permanência no Palácio do Planalto depende de uma reação na corrida eleitoral — há risco de a candidatura nem chegar ao segundo turno — e da superação de obstáculos complicados para o governo. Além de força eleitoral para vencer adversários como Luiz Inácio Lula da Silva e Sergio Moro, entre outros, Bolsonaro precisará convencer os brasileiros de que reúne condições para recuperar a economia, após dois anos de pandemia da covid-19.

Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam, no entanto, que o presidente tenderá a repetir a postura de 2018. Eles acreditam que o presidente subirá ainda mais o tom contra os principais adversários e acenará cada vez mais ao eleitorado mais fiel.

"Eu vislumbro um cenário de acirramento das posturas, declarações e narrativas que fizeram e fazem de Bolsonaro a figura política que conhecemos, com características que encontraram eco em grande parte do eleitorado em 2018", afirma Ricardo Caichiolo, cientista político do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Distrito Federal (IBMEC - DF).

Segundo Caichiolo, os bolsonaristas convictos serão fundamentais para melhorar a performance do presidente na tentativa de reeleição. Não é uma tarefa trivial. Os índices de descontentamento com o governo estão elevadíssimos. Uma pesquisa divulgada no último dia 14 pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (Ipec) mostra que a rejeição ao governo Bolsonaro atingiu 55%. Trata-se do maior percentual desde o início do mandato, em 2019. No levantamento anterior, em setembro, a reprovação estava em 53%. Já a aprovação ficou em 22%. O estudo do Ipec mostra que o ex-presidente Lula (PT) tem 48% das intenções de voto para a Presidência da República em 2022, enquanto Bolsonaro reúne 21%. Com esses números, o atual titular do Planalto corre o risco de ser abandonado pela base composta pelo Centrão.

Arte Corrida de obstáculos
Corrida de obstáculos / Autor: Valdo Virgo

É o que acredita o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ). O parlamentar define o Centrão como "pragmático". "Havendo qualquer possibilidade mais real de inviabilidade eleitoral do Bolsonaro, não tenho a menor dúvida de que o Centrão migrará para outra campanha, provavelmente a de Lula, já que a do Moro é uma candidatura muito semelhante", analisa.

O cientista político André Rosa ressalta as dificuldades que se apresentam ao chefe do Executivo. "Até mesmo a reeleição de Dilma Rousseff ilustra uma turbulência menor, apesar das denúncias do petrolão. Portanto, mesmo com o poder da máquina pública e com a viabilidade do Auxílio Brasil, algumas candidaturas já fazem Bolsonaro ficar mais fragilizado na disputa", avalia. Rosa observa que, assim como o antipetismo levou Bolsonaro à cadeira palaciana em 2018, o antibolsonarismo pode tirá-lo do Planalto em 2023.

O analista acredita que, até o primeiro turno, o foco de Bolsonaro será direcionado à candidatura de Sergio Moro, concorrente que vem tirando votos do presidente de maneira expressiva. Para enfrentar essa batalha, Bolsonaro deverá atuar em duas frentes: na desconstrução do ex-juiz e em programas sociais na tentativa de reverter a queda na popularidade. "Ao que tudo indica, Bolsonaro não tem uma estratégia definida para conter a debandada do setor empresarial, a única estrutura que ainda o sustenta é a figura já fragilizada de Paulo Guedes", avalia Rosa.

Freixo afirma que Bolsonaro se encontra em situação difícil, pois não pode mais lançar o discurso antigoverno, que funcionou em 2018. "Ele não pode ser candidato negando o governo que teve, comportando-se como inovação sobre um governo que é dele mesmo, o que é estapafúrdio. O grande problema é que ele não consegue apresentar resultados. Há uma crise muito profunda, os números não são bons e a perspectiva não é boa", opina o parlamentar.

Ricardo Ismael, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), analisa que as perspectivas são desafiadoras para o titular do Planalto.

"O ano de 2022 é emblemático. Bolsonaro ainda é um candidato competitivo para ir ao segundo turno, mantém pouco mais de 20% de intenção de votos. Mas será uma tarefa árdua tentar reduzir a rejeição e chegar ao segundo turno com condições de vencer. O ano termina com Bolsonaro tendo que pensar em como reduzir sua rejeição, principalmente nos grupos de menor renda onde o presidente Lula tem grande vantagem. Precisará ter cuidado, pois, com a entrada de Moro, uma boa parte do eleitorado que votou nele, pode migrar para o ex-juiz, tornando mais difícil a trajetória de Bolsonaro daqui para a eleição do próximo ano", analisa.

Ismael também vê o presidente, neste momento, mais preocupado com seu ex-ministro. "Bolsonaro vai lutar para tentar recuperar prestígio junto ao eleitorado de baixa renda e começará a subir o tom contra Moro na tentativa de desconstrução. Isso já se verifica nas redes", avalia.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/12/4973315-eleicoes-2022-caminhos-tortuosos-aguardam-bolsonaro.html