Alberto Aggio

Mario Lavia: Bertolucci, quando o PCI não entendeu o Novecento

Os comunistas não gostaram do “Novecento” de Bertolucci. Em particular, o filme não agradou aos antigos líderes do PCI. Giorgio Amendola, que naqueles anos conduzia uma pesquisa histórica pessoal que inevitavelmente se entrelaçava com sua biografia, avaliou negativamente a obra-prima de Bertolucci num conhecido programa da época, “Ring”. Da mesma forma, Giancarlo Pajetta também recusou a leitura bertolucciana do que depois seria chamado de “século breve”.

Naqueles anos o PCI dedicava-se arduamente a reconstruir uma narrativa inteiramente evolutiva da experiência italiana, a salvo de horrores e atrocidades ou mesmo só de espíritos primitivos de vingança. A leitura da história italiana era uma sucessão de avanços e conquistas, elemento decisivo no credenciamento do PCI como partido nacional de governo. O antifascismo, na narrativa dos comunistas italianos, não era apenas uma página gloriosa, de redenção moral e progresso político, mas também uma elegia heroica, irmanadora e profundamente humana, próxima da redenção cristã. Os grandes líderes antifascistas, por isso, não podiam suportar que dele se fizesse uma representação certamente elegíaca, mas crua, heroica, mas trágica e até cruel, como a que Bernardo Bertolucci, comunista fora dos esquemas comunistas, fizera com a épica de “Novecento”, lançado precisamente em 1976, o ano da legitimação do PCI como partido do governo.

É provável que Bertolucci tenha se agastado. Para ele, o PCI significava o mesmo que para milhões de italianos: um pai ou uma mãe. Uma escola ou uma igreja. A “grande árvore sob a qual se abrigar”, como escrevera o guia de Bernardo, Pier Paolo Pasolini. Amendola, Pajetta… vale dizer, os mestres da política. E ainda bem que Togliatti já estava morto há anos, ele teria massacrado “Novecento”, um filme muito fora dos esquemas propagandístico-zhdanovianos a que estava ligado.

Quando é que – teria dito Togliatti – os camponeses processaram os agrários, onde é que o povo destroçou o velho fascista (Donald Sutherland), como é possível que um rapaz antifascista (Gerard Depardieu) fosse amigo de um rebento dos ricos (Robert De Niro)? A Resistência não tinha sido isso! Mas Bertolucci botara tais coisas no quadro magnífico da resistência moral e da Resistência política. Do ponto de vista histórico tinha razão. E, sobretudo, do ponto de vista literário e poético (a influência do pai, o grande poeta Attilio): porque o “epos” do século XX não teria sido assim se não tivesse sido – também – um emaranhado de paixões e contradições e se o sujeito italiano por antomásia, os camponeses, não fosse portador de uma “cultura” feroz e de paixões primitivas, assim como vira, mais uma vez, Pasolini.

Mas, enfim, deve-se dizer que o mundo comunista não era apenas o dos velhos líderes. Depois deles surgia uma nova geração que da Resistência apenas havia ouvido falar ou lido nos livros, jovens que amavam mais a Pasolini, Bertolucci, Godard do que a Rossellini e De Sica. Nas palavras de Walter Veltroni: “Eu ainda tenho na cabeça a projeção com Amendola e Pajetta. Assim que terminou, houve uma discussão muito dura, na qual Pajetta especialmente expressou um julgamento negativo, as coisas que ele não gostou foram aquelas que amávamos no filme. Precisamente, o fato de que o filme misturava a declaração de fé política com a inspiração poética, a estrutura do romance popular com a alegoria, com o melodrama… Pajetta contestou a maneira pela qual o filme contava a Libertação, dizia que os fatos não tinham sido exatamente assim”.

No PCI, Pietro Ingrao, grande cinéfilo, talvez tenha sido o mais sensível àquela nova narrativa cinematográfica. Também neste terreno houve uma luta cultural e política que se entrelaçou com a luta maior de modernização do PCI. Também neste sentido Bernardo Bertolucci representou uma virada inovadora e um novo modo de pensar a história italiana.

Tradução: Alberto Aggio
Revisão: Luiz Sérgio Henriques


Alberto Aggio: “A alternância no poder se fará com legitimidade e democraticamente”

Ao analisar a vitória do candidato do PSL Jair Bolsonaro, eleito neste domingo (28) o 42º presidente do Brasil com uma diferença de mais de 10 milhões de votos sobre seu adversário, Fernando Haddad (PT), o professor e historiador Alberto Aggio disse que “a alternância no poder se fará com legitimidade e democraticamente”, operando uma “mudança grande” representada pela volta da direita ao governo federal – depois de “alijada do poder com o final da ditadura militar” -, ao derrotar todas as forças que participaram do processo de democratização do Brasil.

“Hoje a extrema direita emerge travestida de um populismo de perfil iliberal que tem vigência mundial”, disse Aggio, ao comentar o resultado da eleição presidencial (veja abaixo) para o Portal do PPS. O historiador também fala da reação do PT à derrota nas urnas, da fragmentação partidária dos governos estaduais e que o “Brasil está vivo. E, a despeito de tudo, ‘por si mouve’!”.

“A eleição acabou…

Bolsonaro venceu com mais de 10 milhões de votos de diferença. Não houve a virada de ultima hora que o PT imaginou. O Brasil tem um novo presidente. A alternância no poder se fará com legitimidade e democraticamente. Ela, de fato, vai operar uma mudança grande: a direita que havia sido alijada do poder com o final da ditadura militar retorna a ele, batendo todas as forças que participaram da democratização.

Mas o tempo não passou em vão. Hoje a extrema direita emerge travestida de um populismo de perfil iliberal que tem vigência mundial. Derrotado, o PT não alterou seu posicionamento. Não reconheceu a vitoria do seu opositor, pelo menos nos primeiros momentos. E, ato contínuo, Haddad afirmou um discurso que reproduz a divisão “nós contra eles”: Haddad assumiu a perspectiva de uma “outra nação” que vai precisar de “coragem” para enfrentar um suposto governo baseado exclusivamente da repressão a tudo e a qualquer coisa. Um irrealismo.

Por fim, no plano dos governos estaduais, não houve surpresa nenhuma. O resultado é de muita fragmentação, com diferentes partidos, os tradicionais e os novos (PSL e Novo), conquistando posições importantes. O PT se fixou no Nordeste, dividindo o poder principalmente com o PSB, e o restante está distribuído no território nacional. O PSDB venceu em Estados importantes, especialmente em São Paulo. Mas atenção: com Doria haverá um aggiornamento do PSDB, sob sua liderança. Esse é um ato democrático e é preciso não rejeitar, de saída, essa mudança.

O fato é que nem o MDB sofreu derrotas definitivas. Contudo, é preciso saber se haverá nova composição e um novo equilíbrio diante de tanta fragmentação. Quem diria: o Brasil está vivo. E, a despeito de tudo, ‘por si mouve’!

 


Alberto Aggio: Dias de espanto

Entre a catástrofe e o desastre, nossa frágil democracia terá de resistir para sobreviver

Aos homens é facultada, sob determinadas circunstâncias, a escolha de como viver e, surpreendentemente, de experimentar também formas de como morrer. Mais precisamente, de como morrer num sentido especulativo resultante de escolhas no transcurso da vida.

No final da década de 90 do século passado, o antropólogo mexicano Roger Bartra escreveu um pequeno artigo que toca nesse tema. A partir do contexto latino-americano, Bartra sugere quatro formas de experimentar a morte intelectual. A primeira é buscar a fama a qualquer custo, num campo específico de atuação ou na mídia. A segunda é tornar-se um especialista e conselheiro profissional. A terceira é o que ele chama de “morte mercantil”, uma opção assumida pelos escritores dos best-sellers do momento. Em todas se verifica a presença do vírus democrático (ou a massificação da cultura) na causa mortis. Por fim, a morte lenta, que ataca os intelectuais de esquerda que perderam seus referenciais depois do colapso do “comunismo histórico”. Eles continuam sua pregação utópica, mas demarcada por um pragmatismo cada vez mais explícito. Sem condescendência, Bartra termina o artigo brincando com os leitores a respeito da “sua morte intelectual”. Diz ele: “Eu já escolhi a minha... Mas não direi qual é!”.

Evidentemente, existem outras formas de vivenciar a morte intelectual. Há de tudo, desde a voz solitária do tribuno republicano pregando a refundação do Estado até os velhos líderes estudantis que se tornam gourmets famosos e apreciam viajar pelo mundo. Embora no campo da esquerda quase todos os intelectuais vivenciem, de alguma maneira, essa experiência, há situações drásticas como, por exemplo, a de Fernando Haddad, que decidiu experimentar a sua morte intelectual de maneira explícita e em praça pública quando assumiu, na atual campanha eleitoral, o papel de fantoche de Lula, preso em Curitiba por corrupção e com mais processos a serem julgados de gravidade similar à daquele que o condenou.

Em nosso tempo, não só os intelectuais experimentam a diversidade de formas de se aproximar ou consumar a “sua morte”. Hoje sabemos, pelo livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt Como as Democracias Morrem (Zahar, 2018), que também as democracias morrem não apenas por golpes de força, como antigamente. Embora as críticas feitas ao livro por Marcus André Melo em artigos recentes mereçam atenta leitura, especialmente sua crítica a respeito do desconhecimento da situação brasileira pelos autores, notadamente do papel desestabilizador da democracia promovido pelo PT.

Acontece que, ainda não estando consumada a sua morte, há atores, personalidades e mesmo partidos que começam a flertar vivamente com a experiência da morte política. A recente campanha eleitoral e seus resultados exibiram essa aproximação. O Brasil foi revolvido de cima a baixo. O resultado do primeiro turno não deixa dúvidas: acabaram-se os pactos que foram construídos durante a resistência ao regime ditatorial e mesmo os que foram estabelecidos com a democratização. Não há dúvida que os alicerces da chamada Constituição cidadã estão sendo atacados sem pena. A lúcida orientação de composição de frentes e alianças políticas articuladas em torno do centro político fracassou e isso denota o fim de uma era, sem que saibamos precisamente se está a nascer algo minimamente próximo do que foi a nossa experiência democrática até aqui. A tentativa de construção de um centro político afirmativo e autônomo não se consumou por muitas razões, a começar pela desconfiança nessa ideia mesma. Não são poucos os que entendem, apesar de ser um argumento anacrônico, que o centro é apenas um território de passagem entre a direita e a esquerda, os polos substantivos da política organizada.

Os atores que ganharam corpo desde 2013 e especialmente em 2015/2016 resolveram sair à luz do dia e disputar um jogo que cada vez mais se foi definindo como de soma zero, no qual o vencedor leva tudo. Os extremos predominaram, mas o eleitor não os sancionou em função de seus projetos para o País. O “fora isso” ou “fora aquilo” e o “nós contra eles” produziram um campo de hostilidades que fez vicejar a intolerância e o ódio. O rechaço aos políticos e aos partidos ganhou corações e mentes e instaurou o reino da antipolítica em suas diferentes versões: das visões plebeias às neoliberais, todos passaram a buscar um mundo à sua imagem e semelhança. É a vitória da cultura narcísica e a derrota da cultura democrática.

A chegada de dois polos excêntricos ao segundo turno não foi um raio em céu azul. O colapso do centro político acabou produzindo uma situação paradoxal: ele passa a ser o objeto de desejo dos dois extremos. O centro está morto. Viva o centro! Sua conquista será o que vai definir o segundo turno. E, no caso brasileiro, não apenas a futura governabilidade, mas a possibilidade real de o País continuar a viver em democracia.

Mas não será nenhuma mudança cosmética que garantirá a conquista do centro político. Os dois polos têm obsessões indisfarçáveis de visíveis inclinações autoritárias. À esquerda, não será a ancilosada noção de “frente única” (uma “frente de esquerda” ao velho estilo) o que vai angariar apoio em defesa da democracia. Haddad não passa de um construto enganoso de Lula. Não representa nem une os democratas brasileiros. Bolsonaro é a regressão aos anos pré-democracia e uma ameaça iliberal evidente.

Entre a catástrofe e o desastre, nossa frágil democracia terá de resistir para seguir respirando e ganhar sobrevida. É um momento difícil, no qual somente nos serve o “pessimismo da razão”. E o mais trágico é que não há nenhum locus facilmente reconhecível que vocalize algum “otimismo da vontade”. Atônitos, os brasileiros seguem os sinais de alerta buscando evitar, de alguma maneira, uma aproximação com a morte da democracia.


Alberto Aggio apresenta a política cultural do PPS em evento da Universidade de São Paulo

O professor Alberto Aggio, representando o Partido Popular Socialista (PPS), é um dos convidados para o Seminário “A Política Cultural dos Partidos Políticos”, organizado pela Universidade de São Paulo (USP) por meio da Escola de Comunicações e Artes (ECA), nesta quarta-feira (3/10), com o apoio da Folha de São Paulo. O evento, que tem o objetivo de discutir as políticas culturais dos partidos políticos brasileiros, será realizado no Auditório Lupe Cotrim da ECA, no campus da USP, em São Paulo, das 9h às 17h (com intervalo) e ocorre um dia antes do prazo final concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para debates.

A dinâmica do seminário tem como base a formação de mesas com quatro representantes de partidos (prevê-se um total de doze) e um coordenador, professor da USP, cabendo a ele fazer uma breve exposição do tema. Cada partido terá quinze minutos para ler o texto programático. Após isso, os participantes da mesa podem fazer perguntas, bem como a plateia. Haverá uma terceira mesa, reunindo os três coordenadores, um jornalista e um representante da plateia escolhido na ocasião. Caberá a essa mesa fazer uma síntese crítica e apresentar propostas. O evento será transmitido pelo IPTV da USP.

Inscrições
As inscrições são feitas exclusivamente por meio do formulário acessível pelo link abaixo:
» https://goo.gl/forms/gBrxmOE362wgnCLl2

» Outras informações sobre o Seminário  “A Política Cultural dos Partidos Políticos” podem ser conferidas no site oficial do evento.


Partidos Políticos com participação confirmada:

Partido Popular Socialista – PPS

Política Cultural do PPS

Alberto Aggio é Historiador e Professor Titular da UNESP, com mestrado e doutorado pela USP. Pós-doutorado em Valencia (Espanha) e na Roma3 (Itália). Foi professor visitante em Santiago do Chile (USACH) e em Santiago de Compostela (Espanha). É autor de Democracia e socialismo: a experiência chilena (1993 e 2002), Frente Popular, radicalismo e revolução passiva no Chile (Annablume, 1999), Uma nova cultura política (FAP, 2008), Um lugar no mundo – ensaios de história política latino-americana (FAP/Contraponto,2015) e Itinerários para uma esquerda democrática (FAP/Verbena, 2018). É organizador de Gramsci: a vitalidade de um pensamento (UNESP, 1998), coautor de Política e sociedade no Brasil, 1930-1964 (Annablume, 2002), e co-organizador de Pensar o Século XX (UNESP, 2003) e Gramsci no seu tempo (FAP/Contraponto, 2010). É colaborador de O Estado de São Paulo e diretor da Fundação Astrojildo Pereira (FAP).


Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB

Política Cultural do PSDB

Ronaldo Bianchi é formado em Administração Pública pela FGV, Mestre em Administração pela PUC-SP, MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e Conselheiro Certificado pelo IBGC; Atividades atuais: Diretor da Bianchi& Associados. Conselheiro: do COINFRA da FIESP e da Revista Interesse Nacional. Docente de Politicas Públicas de Cultura no Curso de Pós-Graduação FAAP – Gerente de Cidades. Exerceu as seguintes funções executivas: Diretor Executivo do Instituto Lina Bo Bardi (2016), Diretor da Animus consultoria de (2012 a 2013), Diretor Executivo da OS Pensarte (2012-2013), Vice-Presidente de Gestão da TV Cultura (2010-2012), Secretário Adjunto do Estado da Cultura em São Paulo (2007-2010), Vice-Presidente do Itaú Cultural (2001-2006), Superintendente Geral do Museu de Arte Moderna – MAM – São Paulo (1998-2006), Gerente Administrativo do Memorial da América Latina (1997-1998). Conselheiro: SESI São Paulo, Fundação de Desenvolvimento da Educação, Conselho Estadual da Cultura de São Paulo.


Partido Democrático Trabalhista – PDT

Política Cultural do PDT

Roberto Viana Jr., fortalezense, tem sua militância dedicada a causas sociais. É fundador e participante do movimento Educação Já, que foi liderado pelo Senador Cristovam Buarque. Dirigente do Centro Acadêmico de Direito de sua faculdade, onde iniciou sua militância em projetos ligados a juventude, ações populares e artísticas. Também é músico, letrista  e compositor, além de produtor cultural. É autor do Festival de Música da Juventude de Fortaleza. Presidente Estadual do Conselho Regional de Juventude do Ceará. Já foi conselheiro nacional de juventude, na cadeira da Cultura. Filiado ao Partido Democrático Trabalhista desde 2005, foi refundador da Juventude Socialista do PDT em seu estado e Tesoureiro Nacional da instituição. Foi assessor especial na câmara federal. Atuou como chefe de gabinete na Secretaria Municipal de Esportes de Fortaleza. Atua, hoje, na executiva nacional do PDT, como Presidente Nacional do Movimento Cultural Darcy Ribeiro, além de ter alguns artigos publicados.


Rede Sustentabilidade – REDE

Política Cultural da REDE

Alexandre Turri Zeitune, um dos fundadores da Rede Sustentabilidade; primeiro porta-voz da Rede Sustentabilidade eleito do Elo São Paulo; ex-membro do elo Nacional; membro do elo estadual; eleito vice-prefeito da Cidade de Guarulhos com a expressiva votação de 481 mil votos ou 83,5% dos votos válidos; foi secretário da Secel – Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Guarulhos com resultados expressivos; é advogado licenciado e professor de Direito da Fig-Unimesp; pós-graduado em diversas áreas do direito e MBA banking; mestre em direito difuso pela UNIMES; doutorando pela UMSA da Argentina; e aluno especial no doutorado da USP em Sustentabilidade campus USP Leste.


Partido Socialista Brasileiro – PSB

Política Cultural do PSB

Luis Sobral, graduado em Administração de Empresas pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie, hoje é o atual Presidente da FDE – Fundação para Desenvolvimento da Educação. Foi Diretor Executivo da APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte, Presidente da ABRAOSC – Associação Brasileira das Organizações Sociais de Cultura e atuante junto ao Fórum Brasileiro pelos Direitos Culturais. Foi Presidente da Comissão de Avaliação das Organizações Sociais de Cultura na Secretária Estadual de Cultura do Estado de São Paulo, onde, anteriormente atuou como Secretário Adjunto e Secretário Interino de Cultura do Estado. Pelo período de uma década, assim como diversos cargos públicos. Foi também Coordenador de parcerias Institucionais no Instituto Itaú Cultural.


Solidariedade – SD

Política Cultural do SD

Diógenes Sandim Martins, médico – formado pela Escola de Ciência Médica de Volta Redonda – RJ (1975); especialização em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP; especialização em Medicina do Trabalho pelo Instituto Superiore di Sanitá – Roma, Itália; especialização em Homeopatia pela Associação Paulista de Homeopatia APH; especialização em Homotoxologia pela Probios – Heel, Baden-Baden – Alemanha. Foi membro titular do Conselho Nacional de Saúde (1994–2003), Ministério da Saúde; médico sanitarista da Secretaria de Estado da Saúde (1977–2011); Secretário Municipal de Saúde de Embu das Artes (1996–1998); Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo (2010); Subprefeito de São Miguel Paulista (2009) e do Itaim Paulista (2004-2008). Recebeu o prêmio Mario Covas “SEBRAE Prefeito Empreendedor 2008”, na categoria subprefeitura; e foi classificado no 2º lugar do 7º Benchmarking Ambiental Brasileiro, entre os melhores casos de gestão sócio ambiental corporativo.


Partido Verde – PV

Política Cultural do PV

André “Pomba” Cagni é Coordenador da Unidade de Fomento da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Formado em Gestão Pública é o responsável pelos programas ProAC e Pontos de Cultura. Produtor cultural há mais de 30 anos, “Pomba” é músico (baixista do grupo de heavy metal Vodu) e um dos principais DJs da noite paulistana. Foi fundador da Associação Cultural Dynamite e membro da diretoria executiva de 2004 a 2014, OSCIP especializada em formação cultural e apoio à artistas independentes. Eleito membro do comitê de diversidade do MinC em 2016, da câmara setorial de música do Conselho Estadual de Cultural em 2013 e do conselho municipal LGBT de São Paulo em 2010, re-eleito em 2012. Foi curador da área de música da Campus Party 2011 e da Feira Cultural LGBT no Anhangabau em 2010. Atua como produtor cultural em dezenas de projetos, como Dia Mundial do Rock, Semana do Orgulho LGBT, Virada Cultural, Prêmio Dynamite de Música Independente, Festival Mix Music e Arquivo do Rock Brasileiro.


Partido dos Trabalhadores – PT

Política Cultural do PT

Tião Soares é mestre em educação, doutor em Ciências Sociais e está atualmente como secretário estadual de cultura do PT São Paulo.

 

 

 


Partido Social Democrático

Política cultural do PSD

Luiz Alberto Machado, economista pelo Mackenzie, é mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal). Foi professor das Faculdades de Economia da FAAP, do Mackenzie e da São Judas. Assessor da Fundação Espaço Democrático. Sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas. Conselheiro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e da Fundação Educacional Inaciana “Padre Sabóia de Medeiros” – FEI. Autor dos livros: Como enfrentar os desafios da carreira profissional (Trevisan Editora, 2012) e Das quadras para a vida (Trevisan Editora, 2018), do capítulo sobre o Brasil do livro Latin American Business Cultures (Chicago, IL: Prentice Hall, 2005) e organizador do livro Para onde vamos: Política, economia e segurança pública no mundo contemporâneo (Espaço Democrático, 2017).


 

Leia, a seguir, o texto de apresentação de Alberto Aggio no Seminário “A Política Cultural dos Partidos Políticos”

Em primeiro lugar, entendemos ser absolutamente essencial para a democracia brasileira que os partidos políticos se reúnam e possam discutir, especialmente na Universidade, mas não apenas nela, as questões que envolvem as relações entre cultura e política na contemporaneidade e em nosso país. O Partido Popular Socialista (PPS), por meio da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), participa desse seminário com o espirito aberto, valorizando a pertinência dessa discussão que, esperamos, possa mobilizar produtivamente nossas melhores energias por meio de sugestões e formulações afirmativas de uma política cultural democrática.

Creio ser importante advertir, antes de mais nada, que o PPS não tem o que se poderia chamar de uma “política cultural” definitiva e acabada. Entende que essa é uma questão sempre aberta. No passado imaginamos – e não somente nós – que os partidos políticos, principalmente de esquerda, deveriam ditar rumos e regras para a criação cultural. Isso fazia parte de uma concepção que foi sendo ultrapassada pela história e pela vida. Mesmo assim, é preciso enfatizar que mesmo a ascensão ao poder por meio de eleições não tem o condão de eliminar por completo uma visão instrumentalista do Estado, não somente na área da cultura.

No passado, havíamos provado e vivido alguns momentos especiais que pareciam indicar que tínhamos uma visão correta e sabíamos fazer essa reflexão junto à comunidade de artistas e produtores de cultura. Parece, contudo, que precisamos reaprender e refundar essa dimensão, ultrapassando as inclinações instrumentais que, a partir de visões finalistas e autoritárias, intencionalmente ou não, buscam anular a convivência entre diferentes. Hoje a nossa inclinação é outra, enfatizando, desde logo, que a criação cultural deve viver e seguir vivendo um clima de liberdade integral, sem orientações político-culturais pré-estabelecidas, justificadas por quaisquer posições ideológicas. A natureza e os sentidos do debate cultural sempre foram muito vivos entre nós e precisam ser resgatados e expandidos para o conjunto da sociedade, com a atenção voltada para as mudanças que operam no mundo da vida e das representações artísticas. Há que superar ideologismos rasteiros, posturas fechadas e diretrizes normativas preestabelecidas e ir ao encontro do pluralismo que marca nossas sociedades para se estabelecer uma relação fecunda entre cultura, modernidade, ou mesmo hipermodernidade, e democracia.

Para nós, cultura é “um estar no mundo”, é estar vivendo e “fazendo o mundo”, construindo-o e construindo-se a partir e com as suas circunstâncias. A cultura, como esse “estar no mundo”, permeia assim todos os aspectos da vida. Com base nessa premissa, considera-se a cultura como um conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam as sociedades em seu tempo e lugar no mundo, proporcionando ao homem a capacidade de reflexão sobre si mesmo, fazendo-o reconhecer-se como um projeto inacabado, em incessante produção de representações e leituras do mundo e de si mesmo. Pensar a cultura é enfim pensar esse “estar no mundo”, é entender que o mundo nos pede atuação, entrelaçamento, protagonismo e orientação em relação a ele. Tanto mais num mundo em permanente mudança, no qual o espaço vital deixa gradativamente de ser os Estados nacionais e ganha crescentemente dimensão global.

As políticas públicas para a cultura, que formam em conjunto o que podemos chamar de política cultural, devem se assentar em torno dessas premissas, com vistas à construção de um país mais democrático, com relações igualitárias, remetidas ao princípio da alteridade e da plena liberdade de expressão e de manifestação de todos, visando garantir a possibilidade de produção simbólica do seu “estar no mundo”, independentemente de sexo, etnia, credo religioso e origem, etc. As políticas culturais são sempre impactadas pelo ambiente político em que se vive, bem como da nossa presença nele. São objetivas e subjetivas, simultaneamente, e no caso brasileiro guardam um sentido preciso: a esperança de continuarmos a seguir a trajetória de construção de uma sociedade democrática entre nós.

Em termos culturais, um país democrático se constrói quando se pensa a partir de um princípio: o locus da produção cultural é e deve continuar sendo a sociedade civil. Uma política pública para a cultura, de viés emancipador, deve partir desse ponto, mobilizando a participação efetiva, independente e criadora dos produtores culturais. Enquadrar a política cultural a partir de uma lógica de grupos, partidos ou mesmo do Estado sempre criou mais problemas e disfunções do que o florescimento da cultura. Partidos políticos que se fundam nessa lógica não têm dado uma contribuição positiva à sociedade, muito ao contrário. Como afirmou Norberto Bobbio, “a política da cultura é uma posição de abertura máxima em direção a posições filosóficas, ideológicas e mentais diferentes, dado que é uma política relativa àquilo que é comum a todos os homens de cultura e não atinente ao que os divide”; é, no fundo, “uma política feita pelos homens de cultura para os próprios fins da cultura”.

Sabemos que a produção de cultura, especialmente em países como o nosso, necessita do apoio do Estado para se tornar viável. O engajamento do poder público vem da consciência de que boa parte da produção cultural não é capaz de sobreviver a contento numa sociedade predominantemente mercantilizada. Por isso o impulso e o estímulo à criação artístico-cultural devem procurar combinar suas ações, sempre que possível, buscando um equilíbrio entre o Estado e as expectativas do mercado.

Mas é importante compreender que a política cultural, ao incentivar, promover, proteger e difundir a cultura em todas as suas formas e expressões, visa também a aproximar cultura e cidadania, atribuindo às manifestações culturais o status de um direito. Um dos dados mais importante da conjuntura que vivemos é o fato de que o País assimilou a necessidade de se estabelecer uma conexão entre as instituições políticas da democracia e os desafios abertos rumo a sua expansão para o conjunto da sociedade. Nada a estranhar: nossa cultura sempre foi mais criativa quando se abriu e realizou o embate político, sem receio e sem preconceitos, envolvendo, na criação e na crítica, intelectuais e artistas de diversos matizes.

Claro está, portanto, que uma política cultural supõe e exige comprometimento com a trajetória democrática do País, além de imparcialidade e incorporação de uma visão pluralista que brota do seio da sociedade. Supõe também a recusa à famigerada barganha político-eleitoral que muitos governos – até os que se declaram de esquerda – acabaram por reproduzir, mesmo que embalada em maquiagens modernas, contribuindo com a reprodução de uma visão oligarquizada e patrimonialista do Estado, em tudo nefasta à democracia. Uma política cultural democrática deve ser aberta e projetada para servir à cultura e só a ela. Deve fazer jus à ideia de que a cultura é uma esfera social e humana que supre e, ao mesmo tempo, gera novas necessidades culturais.

Integrados ao mundo como sempre fomos, nós, brasileiros, invariavelmente nos inclinamos a promover uma perspectiva cultural de superação das fronteiras artificiais e reducionistas que opõem o que supostamente é “nosso” e o que é supostamente o “outro”, ou então o que é entendido como popular em oposição ao erudito, essa “muralha chinesa” mental que vem criando obstáculos à intersecção dessas duas dimensões culturais permanentes da nossa formação histórica. Algo que nunca fez muito sentido porque nossa cultura sempre expressou hibridismo e uma mescla étnica que impediram o estabelecimento de guetos culturais e populacionais, como ocorreu em outras histórias nacionais.

Uma política cultural democrática deve se pautar, portanto, na máxima qualificação da produção cultural, seja ela de perfil popular ou não, mas liberta dos grilhões de um nacionalismo já sem propósito. O País precisa resgatar e dar um novo curso a essa visão. Trata-se de uma tarefa que depende da esfera dos artistas e intelectuais, mas a supera, e deve ser assumida por toda a sociedade. Para tanto é de se supor permanentemente a imparcialidade e uma visão pluralista e democrática no comportamento dos gestores da política cultural. Finalmente, uma política cultural de caráter democrático deve estimular o mérito, a qualidade dos produtos culturais com ênfase na possibilidade de colocar nossos artistas em nível de competição internacional.

 


Alberto Aggio: O campo democrático e o petismo

Foi um acinte ver Fernando Haddad afirmar, na semana que passou, que um acordo com o PSDB passava por uma autocrítica deste em relação às eleições de 2014 e ao impeachment. Em seguida, vendo que havia esticado demais a corda, saiu-se com a conversa de que com o PSDB "o diálogo deve ser permanente".

Logo ele, representando o PT, vem exigir autocrítica, quando legou ao país a tragédia de milhões de desempregados e uma quebradeira da atividade econômica que já é identificada como a maior recessão da história do país. Por isso, não pode exigir autocritica de ninguém que faz parte do campo democrático.

VEJA também
https://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=2292

Nos ultimo dias, Haddad voltou à carga. Como moleque de recados de Lula e José Dirceu, diz que vai visitar FHC para conversarem sobre uma "suposta" aliança em defesa da democracia. Verbaliza com isso o discurso de um infeliz manifesto de intelectuais que décadas a fio foram apoiadores acríticos de um ex-presidente que roubou e deixou roubar o suado dinheiro dos brasileiros, em benefício próprio, do partido e de grandes empresários, e agora clamam em defesa do seu candidato e da democracia.

Logo "eles" que sempre apoiaram o chavismo e o regime de Maduro, na Venezuela, que causa indignação a quem observa minimamente os fatos que ocorrem no norte do país. Na Venezuela não há democracia alguma e Haddad bem como "nossos bravos intelectuais" se esqueceram disso num oportunismo que não necessita de palavras para ser denunciado.

A situação é bastante difícil e alguns princípios devem ser previamente estabelecidos. Os democratas não devem aceitar conluios secretos entre Haddad e FHC. A ameaça autoritária à democracia é real e tem dois lados muito claros. Um deles é o PT. Aqui não cabe a tal conversa de "ciscar para dentro". Isso acaba no dia 7 de outubro. Aqui cabem compromissos claros e firmados em público, em defesa da democracia:

1. Defesa da Constituição de 1988; rejeição da tese de convocação de uma nova Constituinte;

2. Garantia da liberdade de imprensa; rejeição às propostas de controle e regulação da mídia;

3. Defesa da Lava Jato, além de valorização e plenas garantias ao funcionamento regular do sistema de Justiça; admissão clara da independência da Justiça para deliberação do caso Lula;

4. Garantia da lei e da ordem pelo que reza a Constituição, não se admitindo nenhuma interferência nem na formação nem no papel constitucional das Forças Armadas; rejeição a quaisquer propostas de formação de milícias, como ocorre na Venezuela;

5. Preservação da moeda e garantia das reformas de modernização do Estado promovida nos últimos dois anos para que o país reencontre o caminho do crescimento.
Sem esses princípios preestabelecidos, não há como nenhuma força do campo democrático iniciar qualquer tratativa com Haddad e com o PT.

 


Alberto Aggio: Das frentes e alianças políticas

O coração da antipolítica parece ser a única coisa que pulsa e perigosamente se move

Na geografia política que localiza os campos em contenda, bem como suas respectivas orientações, para além do problema das identidades partidárias, existe a questão das alianças políticas, sejam eleitorais e/ou de governo. Trata-se de um tema transversal. Contudo não seria erro apontar que é no campo da esquerda que esse tema ganhou dimensão prática e invadiu o universo da política.

Em desenho convencional, a oposição entre esquerda e direita, com pouca relevância ao centro, embora sofra um desgaste largamente reconhecido, continua a ser referência em nossa forma de pensar o problema das alianças políticas. O mesmo ocorre com os partidos. Como se diz, os partidos são parte, mas neles sempre há a marca do todo. Assim, para além de programa, máquina e militância é preciso indagar sobre a dimensão da cultura política que cimenta partidos e frentes políticas, sendo estas coligações eleitorais ou coalizões governamentais.

Há culturas políticas que desempenharam um papel significativo na construção da modernidade. O liberalismo político foi essencial na construção dos Estados após as lutas de independência na América. O republicanismo foi fator de coesão importante em países que construíram suas democracias no correr dos séculos 19 e 20, como os EUA ou a França. E é inegável que a cultura política da democracia tenha sido fator de fortalecimento dos direitos, do pluralismo e da convivência de diferentes ideologias a partir do segundo pós-guerra.

Nada disso foi conquistado facilmente e sem tensões, afetando diretamente atores políticos, que mudaram suas posturas ao perceberem que só teriam êxito caso dessem passos ajustados ao tempo histórico. Foi assim quando os comunistas abandonaram parte do seu sectarismo e propuseram a estratégia das frentes populares, uma aliança pluriclassista e democrática, ultrapassando o período da frente única. Mesmo que defensivas diante do nazi-fascismo, as frentes populares jogaram os comunistas para dentro dos sistemas políticos e passaram a exigir deles não só o heroísmo revolucionário, mas engenho e arte na política.

Ultrapassada a “fase heroica”, as frentes políticas continuariam como referencial de uma política de esquerda encetada na democracia. Em alguns casos, juntando os “mais próximos” ideologicamente e, em outros, atores de diferentes perfis em alianças de tipo muito variado. Nunca foi fácil antever o destino das frentes, seja qual for o cenário histórico. Algumas morreram rapidamente, outras se tornaram longevas e há casos daquelas que até ressuscitaram.

No Uruguai, por exemplo, a Frente Ampla foi retomada depois da ditadura, prefigurando-se como um partido, com todas as suas especificidades. Na superação da ditadura Pinochet, no final da década de 1980, a Concertación por la Democracia conseguiu reunir toda a oposição, menos os comunistas, e tomou para si a perspectiva da restauração democrática, visando a atualizar o Chile ao mundo novo da globalização. Foi bem-sucedida por pelo menos duas décadas. Em Portugal, a autodenominada “Geringonça” não é uma aliança eleitoral das esquerdas, mas uma aliança governamental, e assim deve seguir.

Na Alemanha, a chamada “Grande Coalizão” de democratas cristãos e social-democratas é um acordo de governo entre dois históricos adversários, que parece dar frutos tão positivos quanto surpreendentes. Na Itália, os comunistas (PCI) e a Democracia Cristã (DC) foram adversários permanentes depois da vitória da DC nas eleições de 1948. Contudo os governos da DC receberam tanto a oposição quanto o apoio, em circunstâncias específicas, do PCI. Por três décadas se formou uma espécie de aliança fática que impulsionou a reconstrução e modernização do país no pós-guerra.

No Brasil o problema dos partidos e das alianças assume dimensão superlativa, a começar pelo excessivo número de partidos, por sua reconhecida falta de enraizamento e representatividade, além do empastelamento promovido pela hipertrofia do nosso presidencialismo, bem como da centralização de recursos em nível federal.

Se em relação aos partidos a dificuldade de definição identitária é um traço comum, o problema se repete nas alianças de partidos com vista às eleições majoritárias. A começar pela inércia que se estabeleceu desde o regime militar – que não eliminou completamente nem os partidos nem as eleições – ao sancionar que os próprios partidos poderiam ser entendidos como alianças. De fato, o partido dos governos militares chamava-se Aliança Renovadora Nacional (Arena) e, por sua vez, o velho MDB se autoassumiu como uma frente ou mesmo um “partido-ônibus”, na formulação de um então famoso sociólogo.

Nas eleições presidenciais que se avizinham temos apenas uma frente política que faz jus ao nome. É ampla e de escopo exclusivamente eleitoral: visa a ganhar as eleições, pacificar o País, conquistar governabilidade e retomar o andamento da economia. É uma frente ao centro do espectro político. Esquerda e direita não alcançaram acordos suficientes para compor uma frente em cada um desses campos, embora tivessem trabalhado para isso. No cenário de terra arrasada deixado pelo petismo, a centralidade no combate à corrupção não conseguiu afirmar-se como um vetor vocacionado à construção de uma frente política com esse perfil, reservando a algumas candidaturas vinculadas a ele apenas um papel testemunhal.

Em vão se pede à frente de centro uma identidade político-ideológica, que nenhum partido no Brasil pode dar. Não é fortuito, então, que nossa miséria intelectual, que confunde esperteza política com malandragem, não a veja com bons olhos. E com ferina ironia a critique, embora se abra em sorrisos suspeitos a patologias conhecidas que quase destruíram o País em passado recente.
Enquanto isso, o coração da antipolítica parece ser a única coisa que pulsa e perigosamente se move.


Alberto Aggio: Violência política e desafio democrático nas eleições brasileiras

Na quinta-feira, 06/09, o candidato da extrema direita às eleições presidenciais, Jair Bolsonaro sofreu um atentado na cidade de Juiz de Fora (MG) que repercutiu no país e no mundo. Felizmente, o candidato está fora de perigo. A facada em Bolsonaro impacta diretamente o processo eleitoral, embora não se saiba ainda quais serão suas repercussões em termos de projeção de votos.

O atentado a Bolsonaro foi um ato de estupidez. É uma facada na democracia. Não é comum a violência política nas eleições presidenciais depois da redemocratização do país na década de 1980. A democracia exige serenidade e espirito de convivência. Um ato como esse joga lenha na fogueira da violência discursiva e simbólica, que é uma das tônicas do discurso de Bolsonaro. Pode ser um sinal negativo do que pode vir a ocorrer nos próximos dias.

É certo que o Brasil vive uma das suas maiores crises, resultado dos desastres promovidos por Dilma Rousseff (PT) e pela paralisia de Temer. Mas o clima político é de "terra arrasada" e de polarização extrema. O que não ajuda a se encontrar uma saída que una o país com base em suas instituições democráticas.

Bolsonaro representa uma saída extremista a essa crise com um discurso carregado de violentismo. Para ele, o povo vai “recuperar” o poder perdido depois de 1985, quando acabou o último governo da ditadura. Ele faz uma defesa aberta desse período, inclusive dos torturadores como heróis. O símbolo da sua campanha é um fuzil AR15, o que é assustador. O general Mourão, seu companheiro de chapa, disse numa entrevista que “heróis matam”. Ocorre que os heróis do momento não usaram armas e sim o bisturi para salvarem Bolsonoro. O general Mourão não conseguiu entender que heróis, no feliz contraponto do jornalista Luiz Carlos Azedo (Correio Braziliense), “salvam vidas”.

O nível de polarização do país desafia a democracia. Com Lula (PT) fora da disputa por estar condenado e com uma extrema direita violentista, vive-se uma situação dramática. O país precisa encontrar uma saída ao centro, democrática, e que conquiste confiança, recupere a governabilidade e faça o país voltar a crescer.

*Artigo escrito originalmente para o portal de notícias Punto Continenti. O original, em italiano, pode ser conferido aqui:  http://puntocontinenti.it/?p=13310

 


Alberto Aggio: Do antipetismo à antipolítica e suas diversas facetas

Nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015/16, havia de tudo. Dentre os diversos grupos que se manifestavam, havia um bastante ruidoso, com certo tom beligerante, agressivo, que advogava abertamente a intervenção militar, junto com alguns outros. Era o "Revoltados on-line". De lá para cá, o que os animava se desdobrou para além do impeachment: eles passaram a se apresentar como a redenção da sociedade "contra a política que está aí", entendida como integralmente manchada pela corrupção. Esse rechaço à política propugnava por uma ação “antipolítica”, identificando "todos os políticos" como corruptos. Para eles, esse era afetivamente o “mal do Brasil”. Aquilo que era latente na sociedade acabou sendo então promovido à uma estratégia política que se afirmava, sinteticamente, como uma visão da sociedade contra o Estado (políticos). No fundo, uma revolta da sociedade contra a política.

Esses grupos atuaram nas redes sociais como a oposição a tudo, semeando o ódio a tudo e a todos. Sua ação permanente extrapolou a oposição ao PT. Eles nasceram do antipetismo mas foram além disso. O resultado está aí na candidatura Bolsonaro. É ele quem mais expressa essa beligerância, identificando o ódio à política e à esquerda em geral, como se o petismo fosse a única esquerda existente. Política, esquerda, petismo, comunismo e até a socialdemocracia foram e são identificados como os males do Brasil que precisam ser extirpados.

Vindos daquele mesmo processo do impeachment, outros movimentos de 2015/16 também passaram a ocupar um lugar na política. Não é o caso aqui de discutir todos eles. Quero mencionar apenas o "Vem pra Rua", um movimento antipetista mas que, de outras maneiras se postou também como antipolítico por meio da ideia de que sem mudar já e radicalmente o sistema político, não iria haver alternativa para o país. E mudar já e radicalmente significava deslocar a “velha classe política” e colocar em seu lugar “o novo”. Ao lançarem-se à disputa eleitoral, será o Partido Novo quem melhor irá expressar essa disposição. O resultado é, até o momento, menos exitoso em termos eleitorais, se compararmos com o "Revoltados On-line". É uma adesão à antipolítica por outros termos e meios, mas curiosamente há coincidências entre ambos.

De fato, a antipolítica dos nossos tempos apresenta várias facetas. Uma delas é ter nas propostas neoliberais um grande aliado. Assim, em Bolsonaro e em Amoêdo, por exemplo, aparece a mais recente combinação desses dois campos: querem acabar com a escola pública e gratuita até o ensino médio, determinação presente na Constituição de 1988. Falam em ensino a distância e em "vouchers" a serem distribuídos aos pais para que estes escolham a escola que bem entenderem para colocarem seus filhos.

Além de ser uma proposta dificílima de ser aprovada no Congresso, é também um engodo: visa atrair o apoio da classe média com a fábula de que havendo menos serviços públicos prestados pelo Estado, menos imposto se pagará. Pior do que isso, como o mercado educacional não é elástico, seria jogar os filhos das classes populares fora da escola ou piorar mais ainda as condições das escolas públicas. No Chile pinochetista, que adotou modelo semelhante, houve mediações importantes depois da saída do ditador, que os candidatos não mencionam, por não saberem (o que é provável) ou por sonegarem essa informação. Vale dizer também que esse modelo está sendo revisto pelos últimos governos chilenos, sejam eles de centro-esquerda ou centro-direita.

No que se refere ao Brasil, convém atentar para o fato de que a política democrática da Constituição de 1988 é o referente não apenas do nosso Estado de Direito como também daquilo que ainda nos resta de Estado Social. Na visão dessas duas candidaturas da direita brasileira (distintas entre si, pois uma é abertamente antidemocrática e a outra mantêm-se nos marcos da democracia) não há mais (ou não deve haver) a relação entre Estado e Sociedade e sim entre Estado e indivíduos (contribuintes). O fundamento de ambos é estritamente neoliberal, destacando-se mais em Amoêdo do que em Bolsonaro.

Não é o caso aqui de nos empreendermos numa controvérsia estéril sobre direita e esquerda. E nem imaginarmos que no chamado campo democrático não existam diferenciações importantes. O Manifesto por um Polo Democrático e Reformista está seguramente bastante distante dessas propostas. Além do que, nessas eleições, a socialdemocracia tem candidato e defende outras iniciativas para a melhoria da educação e da vida social. Assim, é preciso estar atento para não cair no canto de sereia da antipolítica misturada com o neoliberalismo.

O nosso momento eleitoral é francamente favorável à antipolítica. O rechaço aos políticos e aos partidos está estabelecido em corações e mentes, com razões para isso ou não. Em algumas proposições o rechaço à política se confunde com rechaço à democracia, seja ela vista por qualquer viés que se queira.

A antipolítica leva a muitos caminhos, com maior ou menor êxito, e hoje, a "fortuna" parece lhe sorrir. Mas a história é pródiga em anotar que nada é tão simples assim. Girolamo Savonarola, na Firenze dos Medici, parecia um moralista invencível ao chegar ao poder, mas durou pouco, isolou-se e terminou na fogueira. Mussolini e Hitler quiseram reinventar tudo a partir da sua potência vital e primária, e sabemos no que deu. Mesmo derrotados, Maquiavel e Gramsci podem nos auxiliar com suas anotações críticas na hora presente. É preciso olhar para além dos discursos grandiloquentes e conseguir construir perspectivas realistas, isolando tanto as nostalgias do passado quanto aqueles que parecem ver uma única solução para a profunda crise que vivemos.


Alberto Aggio: Uma esquerda sem conceito

Mais uma vez pode-se registrar a distância sideral que sempre existiu entre o PT e Gramsci

Era o ano de 2001. Uma plêiade de intelectuais de esquerda reuniu-se no histórico edifício da Faculdade de Filosofia da USP, na Rua Maria Antônia, para celebrar os 25 anos do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) e “Pensar o Brasil”. Lua Nova n.º 54, publicação da entidade, registrou as exposições e os debates. Naquela época ainda se podia reunir intelectuais para esse tipo de discussão. Ao contrário do que ocorre hoje, o debate intelectual importava para a construção de referências visando a elaborar algum pensamento de fôlego sobre o País e o mundo.

“Articular transformação com conservação” foi o tema que norteou a exposição de Marco Aurélio Garcia. Resgatar aquela exposição não é importante apenas em razão do conteúdo, mas também pela importância que o expositor assumiu nos governos do PT durante os 15 anos seguintes.

Questionando a tese de que nossa formação histórica fosse resultado de uma “transição por cima”, demarcando nossa “pronunciada especificidade”, Garcia afirmava que aquilo que “foi contabilizado de maneira geral como revolução passiva”, além de se voltar para o passado, seria tributário “de uma certa visão linear da história”. É significativo que um dos próceres do PT manifestasse uma visão francamente contrária à noção gramsciana de revolução passiva, desqualificando-a de maneira integral. Surpreende porque o conceito de revolução passiva, em Gramsci, não guarda absolutamente nada daquela visão obtusa da história. Surpreende, também, porque desde 1997 tínhamos à disposição A revolução passiva – iberismo e americanismo no Brasil, seminal estudo de Luiz Werneck Vianna sobre o tema e seus rebatimentos no Brasil.

O oximoro da revolução passiva, formulado por Gramsci nos Cadernos do Cárcere, juntamente com uma específica noção de hegemonia, já era reconhecido, por inúmeros estudiosos, como o par essencial de uma nova teoria sobre a política. Impossível expor, com profundidade, o que dá sustentação a essa nova conceituação. Aqui farei apenas uma breve súmula.

Revolução passiva é uma categoria analítica voltada para a compreensão de uma época de transformação histórica na qual o “impulso renovador” não advém do desenvolvimento econômico local, e sim de ideias derivadas do desenvolvimento internacional. Por incapacidade de autoconstituição da sociedade nacional, o Estado assume um papel preponderante na condução das mudanças, autonomizando sua classe dirigente. Nestes processos de construção do moderno, a conservação pesa, mas não é uma condenação. É distinto de uma contrarrevolução. Não há reação integral à mudança e o que se sobrepõe nas relações sociais é um conjunto de transformações moleculares. A história muda, mas não por meio de revoluções explosivas.

Como contemporâneo da revolução bolchevique, do fascismo e do americanismo, Gramsci sugere que se poderia entender como revolução passiva processos reformistas de transformação da estrutura econômica rumo a uma economia planificada, superando os momentos mais liberais e individualistas do capitalismo do século 19. Para Gramsci, o mundo caminhava rumo ao que ele chamava de uma “economia de programação”, dirigida quer pela política, quer pelo Estado em sua trama privada (o americanismo). A categoria da revolução passiva possibilitaria, então, a compreensão não apenas das modalidades de trânsito ao moderno, mas também as modalidades de reprodução da dominação sob o moderno.

Essa compreensão da história dá suporte a uma nova teoria da ação a partir da identificação de um grande problema político: saber em que grau, alcance e através de que formas as classes subalternas teriam constrangido o seu protagonismo. Em outros termos: de que forma as classes subalternas poderiam se manter ativas nos contextos de revolução passiva. Com centralidade na democracia política, a luta pela hegemonia seria essencial para a manutenção das classes subalternas em plena ativação, descartando tanto a ideia de assumir a revolução passiva como seu programa quanto o voluntarismo jacobino de uma estratégia de “antirrevolução passiva”.

A revolução passiva, na arguta observação de Luiz Werneck Vianna, expressaria, simultaneamente, positividade “em termos de processo, uma vez que, no seu curso, a democratização social, por meio de avanços moleculares, se faz ampliar”, e negatividade, “porque a ação das elites se exerce de modo a ‘conservar a tese na antítese’”. O problema estaria no agir político capaz de obstar a lógica predominante do “conservar mudando” e, realisticamente, conseguir inverter os vetores, fazendo com que a mudança dirigisse a conservação. Rovesciare, colocar em pé a revolução passiva, ou girar o registro do transformismo, de negativo para positivo, eis o sentido do que se vem chamando de “novo reformismo”, inspirado em Gramsci, no qual democracia e reformas, por meio de consensos, visam a suplantar a oligarquização do Estado, ampliar a participação, sem suprimir a representação política.

Sensível ao nexo transformação/conservação, Marco Aurélio Garcia preferiu a crítica convencional à “linearidade da história”, recusando-se a dialogar com o que havia de melhor no “comunismo democrático” brasileiro, na sugestiva expressão de Maria Alice Rezende de Carvalho. O rechaço à angulação da revolução passiva impediu a adoção de uma estratégia reformista fundamentada teoricamente e aberta à inovação.

Por que o intelectual petista optou, como está no final da sua exposição, por uma escolha burocrática que descrevia de maneira superposta e simplista as questões democrática, social e (pasmem) nacional como o feixe de problemas que se deveria enfrentar para mudar o País? Difícil dizer, mas o que se pode inferir é que foi uma escolha consciente.

Mais uma vez pode-se registrar a distância sideral que sempre existiu entre o PT e Gramsci. O resto da história dessa esquerda avessa a conceitos é conhecido.


Alberto Aggio: Os movimentos da política e a candidatura Alckmin

A política tem dimensões longas e curtas. De um ponto de vista longo, a política que defende transformações para o país pensa na chave analítica e propositiva de um Polo Democrático e Reformista que recentemente foi apresentado e estabelece suas balizas de maneira clara no rumo da defesa da democracia e da realização de uma ampla reforma do Estado. De um ponto de vista mais curto, estamos adentrando aos momentos decisivos da campanha eleitoral que em outubro decidirá quem vai ser o novo presidente e qual será a configuração do novo Congresso e das Assembleias estaduais.

Esse pequeno texto visa incidir, de forma breve, ao acontecimento que, encerrando a semana, orienta os movimentos da disputa presidencial dos principais candidatos que até agora se apresentam à disputa. Trata-se de considerar alguns pontos sobre o apoio do chamado Centrão ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB).

1. Em primeiro lugar, me parece importante anotar que se trata de uma decisão defensiva desse grupo. Ele esperava ter candidato próprio, o que não vingou. Não aceitou ou não cedeu, nem mesmo ao candidato do governo por vê-lo sem nenhuma chance. Aos trancos e barrancos, como não poderia deixar de ser, tentou negociar com Ciro. Abriu-se uma série de dúvidas e predominou a confusão e a divisão. Por fim, decidiu por apoiar Alckmin porque vê nele a possibilidade de vencer as eleições e poder influenciar num futuro governo, mesmo sabendo de que isso não será fácil. No frigir dos ovos, o chamado Centrão fez uma opção defensiva, quase entrando na prorrogação do tempo normal da partida.

2. Esse Centrão não é igual àquele da Constituinte. Esse Centrão poderia aderir à extrema-direita e apoiar Bolsonaro, mas conhece as tradições da politica brasileira e vislumbrou o desastre que poderia ser uma posição como essa. Mas é preciso anotar também: esse Centrão é outra coisa: sabe fazer o jogo do poder, sabe se manter vivo e não perder espaço. É uma direita que emergiu com a democracia e na democracia. Sim, na democracia existem direitas políticas nos países mais avançados; faz parte da sua legitimidade. Portanto, esse Centrão não é a direita bolsonarista e vir para junto de Alckmin significa aprofundar o isolamento da extrema direita, o que é altamente positivo para a democracia. Uma operação como essa mostra que essa é uma direita que veio para ficar, mesmo que hoje se apresente de forma difusa, inclinada à corrupção (que o PT albergou de forma integral) e em busca de um discurso próprio que hoje se coloca mais entre os outsiders liberais.

3. Para as forças democráticas, que se encontram divididas e buscavam uma alternativa competitiva em termos quantitativos e estruturais, neutralizar parte da direita e trazê-la para o campo da democracia e das reformas, isolando-a especialmente da extrema direita, é um ganho eleitoral e político notável. Esse movimento não está completo e espero que isso se efetive nos próximos dias. Atuar estabelecendo seus princípios e horizontes, se fixar neles, sem ver o cenário, os outros atores e não influenciar nos seus movimentos é um erro crasso em política.

4. Geraldo Alckmin é pré-candidato do PSDB e já contava com o apoio de alguns partidos. Poderá ampliar esse apoio ainda mais com o Centrão. Alckmin sempre foi acusado de “jogar parado”, mas isso não é inteiramente certo. Seus movimentos nem sempre são detectados pelos radares mais atentos. O fato é que, ao que tudo indica, o Centrão é que foi a Alckmin e não o inverso, como dissemos acima. Por outro lado, Alckmin é um político tradicional no contexto da democratização brasileira. É um político de centro, um democrata-cristão ao velho estilo, como foi Franco Montoro (não estou dizendo que ambos têm políticas públicas idênticas, pois os tempos são outros).  Alckmin tem experiência política e administrativa suficiente para montar um governo de grande coalizão, refazendo a frente que se formou e se conectou com as ruas no processo do impeachment de Dilma Rousseff. Tem tudo para retomar a ligação entre governo, democracia, esperança e mudança. Não tem nada a ceder ao Centrão que o próprio Centrão já não saiba e não tem nada a mudar no programa já alinhavado pela sua campanha. Em termos políticos, o Centrão optou por Alckmin, não o contrário.

5. A esquerda democrática ganhou algum protagonismo recentemente com o lançamento do Manifesto Por um Bloco Democrático e Reformista. Seus apoiadores, que vão além da esquerda democrática, devem, a meu juízo, dar sustentação a essa ampliação do apoio eleitoral à candidatura Alckmin e trabalhar como uma verdadeira vertente de centro-esquerda nessa grande coalizão. Devem estar atentos para o fato de que sem essa grande coalizão as possibilidades de vitória são remotas. Alckmin pode ser efetivamente um candidato desse Bloco, mas não será certamente o candidato apenas desse Bloco. Como todos sabemos, o campo democrático no Brasil, é bom que se diga, vai além da candidatura Alckmin, mas será um equívoco enorme imaginar que, inclusive com essa ampliação vinda do Centrão, a candidatura Alckmin perde a legitimidade de fazer parte do campo democrático. Penso justamente o contrário.

6. Por fim, caso essa grande coalizão vença, ela deverá fazer um governo democrático, dentro do que foi e do que será possível construir na atual conjuntura brasileira e mundial. Governos democráticos existem com diversos perfis de alianças políticas ao redor do mundo e nas grandes democracias.  Alckmin tem de deixar claro isso no seu programa mínimo e ele sabe precisamente quem o está apoiando. Não há nenhuma razão para Alckmin entrar na velha política do toma-lá-dá-cá. A boa noticia é que o Centrão sabe quem é Alckmin e tanto ele quanto nós também sabemos porque o Centrão vacilou até agora em definir seu apoio. Mas essa história apenas começou.


Alberto Aggio: Representativo, Encontro cumpre seus objetivos para relançar o Manifesto democrático

Visão mais iluminadora que emergiu do Encontro, sugerida por Eduardo Jorge e concretamente formulada por Roberto Freire, é que precisamos superar a inércia em que ainda nos encontramos

O encontro promovido pela Roda Democrática para relançar o Manifesto “Por um bloco democrático e reformista” realizado ontem no Teatro Herz, em São Paulo, cumpriu integralmente seus objetivos. Reuniu personalidades do mundo político e da sociedade civil preocupadas com a situação política do país e em especial com a dinâmica eleitoral que apresenta riscos de polarização entre extremismos sabidamente nefastos, à direita e à esquerda. Foi um encontro bastante representativo do ponto de vista político e partidário.

Estavam presentes, além de representantes de organizações que militam pela “renovação da política”, lideres de partidos nacionais, como PSDB, PPS, PSD, PV, Podemos e Rede Sustentabilidade. O mundo sindical também se fez representar por meio da presidência da UGT, uma organização que, além de se pautar abertamente pela defesa e luta pela democracia, tem tematizado questões voltadas para a renovação das estratégias reformistas frente ao mundo do trabalho. Por fim – e o mais importante a ser mencionado – é preciso registrar a presença de inúmeras lideranças que lotaram a plateia do teatro. Tudo isso comprova o quão infeliz foi a interpretação de que o Manifesto havia “fracassado” em seu lançamento em Brasília e que se tratava de um “movimento esvaziado”. Ao contrário, tanto a mesa dos trabalhos quanto o auditório se mostraram pequenos frente à convocatória do Ato.

Pois é disso que se trata: diante das imensas dificuldades para construir um caminho de unidade das forças democráticas, o Encontro de ontem mostrou que havia em cada um dos participantes, que usaram a palavra ou não, uma única e mesma expectativa. Construir a unidade sempre foi um processo difícil, mas também sempre resultou como o mais positivo na vida politica brasileira para se conquistar e manter a democracia e realizar reformas visando mais liberdade, mais igualdade e justiça para todos.

Todos reconheceram que ali estavam pessoas que buscavam defender a democracia dos riscos que ela corre nesse processo eleitoral. Todos afirmaram a legitimidade das candidaturas já apresentadas por aquilo que se pode definir como o “campo democrático”. Mas a visão mais iluminadora que emergiu do Encontro, sugerida por Eduardo Jorge e concretamente formulada por Roberto Freire, é que precisamos superar a inércia em que ainda nos encontramos. Superar a inércia significa, hoje, que não se deve pedir a ninguém que renuncie a sua postulação, mas que nenhuma candidatura deve se pautar pelo impedimento da unidade, ainda que não se saiba de que forma ela poderá se dar.

Esse é apenas um registro-síntese do que me pareceu o essencial do Encontro de relançamento do Manifesto. Certamente, ele foi muito mais rico do que essa breve narrativa. Mauricio Huertas fez uma reportagem que merece ser vista para se ter uma visão mais completa do evento.

Confira: http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2018/06/29/bloco-democratico-e-reformista-e-lancado-para-tentar-impedir-a-castastrofe-de-um-2o-turno-polarizado-entre-candidatos-extremistas-a-direita-e-a-esquerda/


Livro de Alberto Aggio discute caminhos para a esquerda brasileira 

A Fundação Astrojildo Pereira e a Editora Verbena lançaram, na quinta-feira (07/06), o livro Itinerários para uma esquerda democrática, de Alberto Aggio, historiador e professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

O lançamento, que ocorreu no auditório do Cedem em São Paulo, foi precedido de um debate sobre os temas que impactaram a vida política brasileira mais recente, abordados na coletânea de ensaios, com a participação de Rogério Baptistini, da Universidade Mackenzie; Vinícus Müller, doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Insper e do autor, Alberto Aggio.

Confira abaixo um resumo do evento:
https://www.youtube.com/watch?v=qmyoaPF91cc