índios

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Ministério da Saúde aponta falhas no atendimento aos Yanomami

Agência Brasil*

Estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada. Essas são as principais conclusões de um relatório do Ministério da Saúde sobre a situação da saúde na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima.

A população da etnia vive uma crise humanitária grave. Afetados pela presença do garimpo ilegal em suas terras, os indígenas dessa região convivem com destruição ambiental, contaminação da água, propagação de doenças e violência. A situação é histórica, mas se agravou nos últimos quatro anos.

A equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que é vinculada ao Ministério da Saúde, levantou as informações do relatório entre os dias 15 e 25 de janeiro deste ano. No dia 20 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional e criou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE), responsável por coordenar as medidas para resolver a crise.

A TI Yanomami, a maior do Brasil em extensão territorial, tem uma população de 30,5 mil indígenas, sendo pelo menos 5,6 mil crianças menores de 5 anos. Ao todo, há 68 polos base para atendimento primário em saúde, mas a situação dessas unidades é precária.

"De fato, temos uma situação de muita precariedade na nossa infraestrutura e, a partir desse plano, estaremos realizando todas as melhorias, para além do orçamento que a Sesai já tem. Há uma decisão da Presidência da República, do Ministério da Saúde, de conseguir uma dotação orçamentária específica para mitigar e para resolver essas situações aqui no território Yanomami", afirmou o titular da Sesai, Ricardo Weibe Tapeba, em entrevista coletiva na tarde de ontem (7). Ele está em Boa Vista acompanhando as ações de enfrentamento à crise.

A equipe que fez o levantamento para o relatório começou investigando a denúncia de três óbitos de crianças, que ocorreram entre 24 e 27 de dezembro do ano passado. O documento destaca que, na ocasião, chegaram a ser abertos 17 chamados aeromédicos para casos graves que exigiam transporte imediato. Já em janeiro, a equipe da missão exploratória constatou pelo menos dez remoções por dia, sendo que 23 crianças foram resgatadas de uma só vez em uma delas.

Somente em janeiro, de acordo com o COE, foram efetuadas 223 remoções, sendo 111 deslocamentos dentro do território e 112 para Boa Vista. Segundo as equipes locais, os principais agravos de saúde na região são de malária, pneumonia, desnutrição e acidente com animais peçonhentos.

Hoje à tarde, os ministros da Defesa, José Mucio, e dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, desembarcam na Base Aérea de Boa Vista. Eles vão cumprir uma série de agendas no estado até amanhã. Na primeira parte da viagem, eles visitam a Base da Operação Acolhida, que recebe os imigrantes venezuelanos, incluindo visita ao posto de recepção, ao Centro de Coordenação de Interiorização e aos abrigos.

Em seguida, eles farão uma vistoria na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai), também na capital. Já na quinta-feira (9), ambos embarcam para uma visita ao polo de Surucuru, que é um dos centro de referência no território. O local fica a cerca de uma hora e meia de voo da capital do estado. Eles retornam de lá no mesmo dia e voltam a Brasília.

Ameaças

Outro ponto destacado no relatório é a situação de insegurança dentro do território, por causa da presença de garimpeiros. Há pelo menos quatro polos de atendimento fechados na região de Surucucu e três em outras localidades, devido a graves ameaças. Para se ter uma ideia, um desses polos chegou a ser reformado, mas não pôde ser reaberto. O governo federal estuda incluir lideranças indígenas Yanomami no serviço de proteção de defensores de direitos humanos.  

Outro fator que dificultou o atendimento às pessoas na região foi a falta de insumos, em especial, de medicamentos. As remoções de urgências necessitam de insumos como carrinho de parada, oxigênio medicinal em cilindro pequeno, desfibrilador automático externo (DEA), suporte de soro, mas nada disso estava à disposição da equipe no momento do trabalho de campo.

O secretário especial da saúde indígena criticou ainda o que chamou de aparelhamento político no serviço público de assistência à saúde do povo Yanomami. Segundo ele, uma auditoria realizada pelo próprio Ministério da Saúde no DSEI Yanomami já identificou irregularidades em contratos da unidade, e a Polícia Federal ainda investiga o envolvimento de agentes políticos em conluio com garimpeiros.

Texto publicado originalmente na Agência Brasil.


Lula e Bolsonaro se enfrentam no primeiro debate presidencial do segundo turno das eleições presidenciais | Imagem: Reprodução/Twitter

Debate: Bolsonaro distorce dados sobre desmatamento

Paulo Motoryn*, Brasil de Fato

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, durante o debate na TV Bandeirantes, na noite deste domingo (16), a preservação ambiental, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) distorceu os dados do desmatamento durante o seu governo. O tema dominou boa parte do terceiro bloco do confronto entre os candidatos ao Palácio do Planalto.

"Foi no nosso governo o menor desmatamento da Amazônia. Foi no nosso governo. E o seu é o maior todo ano. Vocês estão brincando de desmatar, vocês estão brincando de abrir cerca, vocês estão brincando de derrubar árvore, vocês vão ver o que vai acontecer com o comércio brasileiro, porque o brasileiro do agronegócio que é sério, aquele que quer ganhar dinheiro, aquele que quer exportar, sabe que não pode invadir a Amazônia", afirmou Lula.

"Nós vamos ganhar as eleições para poder cuidar da Amazônia e não permitir que haja invasão em terra indígena, em garimpo ilegal, e muito menos alguém querer plantar milho, soja ou algum outro produto no lugar que não se pode plantar", declarou o petista.

Na resposta, Bolsonaro disse: "Dá um Google em casa aí: 'Desmatamento 2003 a 2006', quatro anos do governo Lula. Depois dá um Google: 'Desmatamento, Jair Bolsonaro, 2019 a 22'. No seu governo foi desmatado mais do que o dobro do que o meu. Dá um Google em casa. Deixa eu terminar, Lula. Dá um Google em casa. Você desmatou duas vezes e meio mais do que no meu governo".

Logo em seguida, contudo, entidades que atuam com o tema contestaram o presidente nas redes sociais. O Observatório do Clima, rede da sociedade civil que luta contra a crise climática, publicou a seguinte mensagem no Twitter: "Jair Bolsonaro MENTE sobre desmatamento no governo Lula. O PT pegou o desmatamento em 25 mil km2 e reduziu a 4.500 km2. Bolsonaro pegou com 7.500 km2 e levou a 13.000 km2", escreveu.

https://twitter.com/obsclima/status/1581812948343083011?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1581812948343083011%7Ctwgr%5E75d687c7deed192fd355cbc84f39f70784e96de9%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.brasildefato.com.br%2F2022%2F10%2F16%2Fdebate-bolsonaro-distorce-dados-sobre-desmatamento-lula-diz-que-vai-acabar-com-garimpo-ilegal
https://twitter.com/obsclima/status/1581805764955770880?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1581805764955770880%7Ctwgr%5E75d687c7deed192fd355cbc84f39f70784e96de9%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.brasildefato.com.br%2F2022%2F10%2F16%2Fdebate-bolsonaro-distorce-dados-sobre-desmatamento-lula-diz-que-vai-acabar-com-garimpo-ilegal

*Texto publicado originalmente no Brasil de Fato. Título editado.


Sônia Guajajara é uma das integrantes da bancada do cocar, que pretende fazer frente à bancada ruralista no Congresso a partir de 2023 | Foto: reprodução/Brasil de Fato

Sônia Guajajara: São Paulo elege sua primeira deputada indígena

Brasil de fato*

São Paulo elegeu, neste domingo (2), a primeira deputada federal indígena. Sônia Guajajara (PSOL) foi eleita para o cargo com 156.695, junto a outros 69 novos parlamentares que irão representar o estado paulista na Câmara dos Deputados.  

No Congresso, Guajajara irá somar o coro de parlamentares da esquerda em defesa do meio ambiente e de comunidades indígenas.

No Twitter, a parlamentar eleita comemorou. "São Paulo, nós conseguimos! A primeira mulher indígena eleita como deputada federal por SP vai aldear o Congresso Nacional. Muito, muito obrigada pela confiança! Vamos aldear mentes e corações, e construir um novo Brasil. Seguimos juntes!"

Compromisso de campanha

O material utilizado durante a campanha reforça que a sua grande pauta é “trazer as vozes dos povos originários e historicamente oprimidos e silenciados ao centro do debate político brasileiro: Indígenas, população negra, caiçaras e quilombolas”. 

“Suas principais bandeiras são a defesa da Amazônia e da Mata Atlântica, a defesa dos direitos das minorias, o respeito à diversidade e à pluralidade e a reconstrução da democracia no Brasil, que foi tão enfraquecida nos últimos quatro anos.” 

Durante a campanha, em carta escrita à população brasileira, Guajajara mirou o agronegócio como uma das facetas da destruição de florestas, com a regularização das invasões de terras públicas e indígenas. “Não podemos aceitar o garimpo com derramamento de mercúrio e outros contaminantes nos rios, com a destruição da floresta, matando os peixes, matando os Yanomami, matando os Munduruku, com a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras. O ouro, o diamante, o alumínio, e outros minérios não podem carregar o sangue indígena”, afirma.  

https://www.youtube.com/embed/IVjeQH_JrOg

Nascida em 1974 na Terra Indígena de Araribóia, no Maranhão, Sônia dedicou a vida para combater a invisibilidade dos povos indígenas. Em cerca de duas décadas de atuação na luta pelos direitos das populações originárias, atuou em diferentes organizações e movimentos, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual é coordenadora executiva. 

Além de atuar no país, Sônia Guajajara tem voz no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ativista há mais de vinte anos, a indígena representa os povos tradicionais nas Conferências Mundiais do Clima (COP) desde 2009, onde já apresentou diversas denúncias de violações aos direitos desses grupos. 

Aos 15 anos, ela deixou a região pela primeira vez para estudar em Minas Gerais, convidada pela Funai. Hoje, é formada em letras e em enfermagem, pós-graduada em educação especial e mestra em Cultura e Sociedade.  

Em 2001, participou do primeiro evento nacional indígena, a pós-conferência da Marcha Indígena, para discutir o Estatuto dos Povos Indígenas em Luziânia, no estado de Goiás. Em 2012, coordenou a organização do Acampamento Terra Livre na Cúpula dos Povos. No ano seguinte estava à frente da Semana dos Povos Indígenas e de ocupações no plenário da Câmara e no Palácio do Planalto. 

Foi premiada diversas vezes, em 2019 recebeu da Organização Movimento Humanos Direitos o Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e da Liberdade. No mesmo ano, foi agraciada com o prêmio Packard concedido pela Comissão Mundial de áreas protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). 

Guajajara entrou para a história da política brasileira em 2018, quando foi candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Foi a primeira indígena a concorrer ao cargo.  

Foi Boulos, aliás, quem escreveu o perfil de Guajajara na revista estadunidense Time, que a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Convidado pela revista para apresentar a colega de partido, Boulos destacou o fato de ela ter saído de casa aos 10 anos para trabalhar e, contrariando as estatísticas, ter chegado ao ensino superior. Ela é professora e auxiliar de enfermagem. 

"Sônia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que quita suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro", destacou Boulos. 

*Texto publicado originalmente no Brasil de Fato


No momento em que a descrença domina o ambiente, vale homenagear o centenário desse grande brasileiro | Foto: Reprodução/tvescola

Revista online | Um Natal com Darcy Ribeiro

Henrique Brandão*, especial para a revista Política Democrática online (47ª edição: setembro/2022)

Enquanto o presidente protofascista usa uma data cívica, o Bicentenário da Independência, para mobilizar a extrema direita violenta e reacionária, outras efemérides comemoradas este ano merecem ser devidamente lembradas, pela importância que tiveram na história do Brasil em tempos menos sombrios.

No momento em que a descrença domina o ambiente, vale homenagear o centenário de nascimento de Darcy Ribeiro (1922-1997), um brasileiro que, ao longo da vida, construiu uma trajetória marcada pela generosidade, sensibilidade social, originalidade de pensamento e vontade para pôr em prática suas ideias. 

Mineiro de Montes Claros, nascido em 26 de outubro, Darcy talvez seja o melhor exemplo de homem público que soube unir ação e pensamento. Como político e realizador, seu legado é imenso. Formado em antropologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1946, criou o Museu do Índio e ajudou a formular o projeto do Parque Indígena do Xingu. Foi o idealizador e primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB). O golpe militar de 1964 o cassou quando era o chefe da Casa Civil do governo de João Goulart (1919-1976). 

Veja todos os artigos da edição 46 da revista Política Democrática online

De volta do exílio imposto pela ditadura, no Rio de Janeiro, onde foi vice-governador, ele deixou como herança o projeto dos Cieps, o sambódromo, a Biblioteca Pública, a Casa França-Brasil, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). A intensa produção de livros foi reconhecida pela Academia Brasileira de Letras (ABL), que o tornou imortal em 1993. Concebeu o Memorial da América Latina e foi o autor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), elaborada quando exercia o mandato de senador, para o qual foi eleito em 1991.

Como pensador, escritor e romancista, sua obra é enorme. Darcy pensou o Brasil e a América Latina como poucos. Seus livros buscaram explicar as causas do atraso do continente latino-americano de maneira extremamente generosa: segundo sua tese, a região, fruto de um encontro único de povos em todo o mundo, tem lugar no futuro. O que não presta é nossa elite dirigente. “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso”, formulou.

O livro O Povo Brasileiro, de 1995, uma reflexão sobre a formação e o sentido do Brasil, é considerado sua obra-prima na área das ciências sociais. O sociólogo e crítico literário Antônio Cândido (1918-2017) indicou a obra como a melhor introdução sobre o que é o Brasil. “Livro trepidante, cheio de ideias originais”, disse o professor emérito da USP, em artigo escrito no ano de 2000, quando listou quais seriam as 10 melhores leituras para conhecer o país.

Além de todas as qualidades de homem público e intelectual militante, Darcy era uma figura vibrante, que defendia ideias de maneira eloquente e apaixonada. Amigo de meus pais, frequentador da minha casa, Darcy foi quem, em abril de 1978, proferiu o discurso de despedida à beira do túmulo de meu pai, Darwin Brandão.

Depois disso, no período da luta pela redemocratização, assisti a inúmeras palestras e debates em que Darcy era a estrela, lotando auditórios – sempre defendendo os índios, suas terras e cultura, e preconizando a importância do papel da educação como elemento libertador para o povo brasileiro. A frase “a crise da educação não é uma crise, é um projeto” sintetiza a sua luta política.

Confira, abaixo, galeria de imagens:

A frase “a crise da educação não é uma crise, é um projeto” sintetiza a luta política de Darcy Ribeiro | Foto: Reprodução/Diário do Rio
Foto: Reprodução/O Globo
Foto: Divulgação/Fundação Darcy Ribeiro
Foto: Reprodução/Wikipédia
Foto: Reprodução/Duplo Expresso
Foto: Arquivo/EM
Foto: Berta Ribeiro/Leofoletto
A frase “a crise da educação não é uma crise, é um projeto” sintetiza a luta política de Darcy Ribeiro | Foto: Reprodução/Diário do Rio
Foto: Reprodução/O Globo
Foto: Divulgação/Fundação Darcy Ribeiro
Foto: Reprodução/Wikipédia
Foto: Reprodução/Duplo Expresso
Foto: Arquivo/EM
Foto: Berta Ribeiro/Leofoletto
Darcy Ribeiro combateu como poucos a perversa realidade educacional brasileira, pensada por e para as elites | Foto: Reprodução/Folhapress
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A frase “a crise da educação não é uma crise, é um projeto” sintetiza a luta política de Darcy Ribeiro | Foto: Reprodução/Diário do Rio
Foto: Reprodução/O Globo
Foto: Divulgação/Fundação Darcy Ribeiro
Foto: Reprodução/Wikipédia
Foto: Reprodução/Duplo Expresso
Foto: Arquivo/EM
Foto: Berta Ribeiro/Leofoletto
Darcy Ribeiro combateu como poucos a perversa realidade educacional brasileira, pensada por e para as elites | Foto: Reprodução/Folhapress
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Tive um encontro que me marcou para sempre com Darcy. Foi em um Natal. Ateu, não faço questão de comemorar a data. Mas essa ficou na memória. Creio que era o ano de 1978, o primeiro sem meu pai. Estávamos eu, meus irmãos e minha mãe. Se não me falha a memória, também estavam presentes Marcos Palmeira e Betsy de Paula, filhos de Zelito Vianna e da Vera, em cuja casa acontecia a reunião. Havia ainda um índio recém-chegado do Mato Grosso, onde Zelito havia rodado seu filme Terra do Índios, Darcy e sua mulher, Claudia Zarvos, e Frei Betto, que organizou a cerimônia natalina. 

Sentamos todos em uma roda e sorteamos uns papeizinhos que continham o nome de cada um de nós. Coube a mim pegar o nome do Darcy. E assim fomos nós, eu e ele, para um canto da casa conversar. Na volta, deveríamos relatar a conversa para o resto da turma, assim como todos os outros também o fariam. Devo confessar que a surpresa de poder compartilhar certa “intimidade” com um homem por quem tinha profunda admiração travou minha língua. Falei quase nada. 

Sorte a minha que o Darcy falava pelos cotovelos e me salvou de gaguejar na hora de contar aos demais sobre o que havíamos conversado: falou por nós dois. E foi assim que passei o Natal mais inusitado de minha vida, na companhia da família, de amigos, um frei revolucionário, um índio e... Darcy Ribeiro. Inesquecível.

Sobre o autor

*Henrique Brandão é jornalista.

** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de maio de 2022 (47ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

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Millor Fernandes Livre pesar é só pensar | Imagem: reprodução/Facebook

Por que tanto Biles?

Tibério Canuto*, Esquerda Democrática

Artigo de Marco Aurélio Nogueira publicado no Estadão de sábado [ver abaixo "Uma oportunidade a mais"] provocou ira nas brigadas lularianas que poluem as redes sociais. Tudo porque Marco, um cientista político de primeira linha, formado politicamente na boa e velha escola do Partidão, afirmou que Simone poderia qualificar a disputa presidencial, assim como Ciro Gomes. Entendia que essas duas candidaturas poderiam tirar os dois presidenciáveis que lideram as intenções de voto da zona de conforto. Não no sentido de subtrair-lhes o favoritismo para ir ao segundo turno. Mas de levá-los a explicitar seus programas, para além de platitudes, como no meu governo eu fiz isso, fiz aquilo. Não há como negar, há um pacto não escrito e implícito entre os dois para congelar a disputa eleitoral no oceano de obviedades.

Sobraram cobranças para Simone e sobretudo xingatórios e mentiras. Foi acusada de defensora do extermínio do meio ambiente, de índios e de golpista, como se o palanque que Lula está montando só tivesse puros e bons. E ninguém que tivesse apoiado o impeachment de Dilma. Aí vale a lógica, quem hoje está do meu lado, não importa o seu passado. É só elogio. E quem não está do meu lado, eu desconstruo, o transformo em um cão chupando manga.

Reflexões de um ex-cabo conscrito

Nessa visão distorcida que divide a política entre anjos e demônios sobrou até para Milton Lahuerta, outro intelectual respeitado. O conheço desde os tempos da militância no Partidão. Milton não é eleitor de Simone, longe disso. Mas não faz política à base de Fla-Flu e elogiou o artigo de Marco, reproduzindo-o em seu Face. Imediatamente surgiram cobranças a Simone e a ele. A ponto de Milton ter postado em comentário a famosa frase de Ulysses: “política cisca-se para dentro, quem cisca para fora é galinha”. E tem razão. Recomenda-se aos simpatizantes da candidatura Lula pensar no momento seguinte, na hipótese de um segundo turno, onde, por óbvio precisará do apoio de quem ficou de fora. Estigmatizar Simone ou Ciro é ciscar para fora, é inviabilizar possíveis pontes que se farão necessárias.

Já tinha notado a onda “Simonofóbica” desde quando publiquei um post dizendo que fiquei impressionado com seu desempenho na entrevista a Renata Lo Prete. Tanto na minha página como nas redes sociais lularianas choveram impropérios contra a candidata. Não discutiram as ideias programáticas que Simone defendeu na entrevista. Uma velha amiga dos tempos do Partidão, hoje convertida ao credo petista, disse desconfiar da candidata porque desconfia de quem fala manso, insinuando que isso era a prova dos nove de que Simone é falsa.

Uma outra, que conheci nas manifestações do impichi de Dilma. Vestida de amarelo e não dando um pio contra o grito dos manifestantes de “minha bandeira jamais será vermelha”, virou anti-Simone histérica. Esse é o problema de cristão novo. Para purgar seus pecados, renega tudo que fez e vira mais cristão do que Jesus Cristo. Não vou estigmatizá-la por ter mudado a cor de sua camisa. Eu mesmo já mudei de opinião várias vezes na minha vida. Já fui um “revolucionário bravo”, hoje sou um reformista flor de laranjeira. Ela tem o direito de mudar, assim como Geraldo Alckmin tem o de estar no mesmo palanque de Lula, apesar de no passado recente ter afirmado que Lula queria voltar ao lugar do crime, além de ter sido árduo defensor do impichi de Dilma. Ele e um monte de gente que hoje está no palanque de Lula. Mas vão ser renegados por causa disso? Seria uma estupidez.

Esquerda Democrática

Política se faz olhando para a frente, pois quem vive de passado é museu. Nada a obstar quanto ao arco que Lula está construindo. Posso achar que ele é insuficiente, ainda é marcadamente uma frente de esquerda, mas não faço a crítica religiosa de que ele se juntou aos “impuros”.

Confesso não entender por que tanto fel contra Simone. Não é pelo fato de ela ter vínculos com o agronegócio. Até porque dos governos petistas participaram Roberto Rodrigues e o então maior produtor de soja do mundo, Blairo Maggi. E o que dizer de Kátia Abreu, que virou amiga de Dilma quando foi ministra da Agricultura? Olha que há pouco tempo Katia ganhou o troféu “motosserra do ano”.

Vamos deixar de cretinice. O agronegócio é positivo para o País, os grãos são os principais produtos da nossa pauta de exportação, geram empregos e impostos. Ele não pode ser tratado como inimigo e nem Lula cometerá tamanho desatino. Agora o que não pode é adotar a hipocrisia de muitos petistas. Xingam o agronegócio no palanque eleitoral, mas buscam seu apoio no escurinho do cinema. Ou Lula não despachou emissários para conversar com eles?

Há agronegócio destruidor do meio ambiente? Há. Mas não é a maioria. Seu polo dinâmico já percebeu que o meio ambiente é um ativo e que a exportação de seus produtos pode ficar comprometida. O capitalismo, meus caros, guia-se pela lógica implacável do lucro, já dizia aquele velho barbudo nascido na Alemanha. Ora, na medida em que a destruição do meio ambiente e o extermínio passam a comprometer seus negócios, eles deixam para trás sua prática predatória. É o que vem acontecendo com a agricultura de fronteiras plenamente estabelecidas, como o centro-oeste. Na entrevista a Renata Lo Prete expressou muito o pensamento desse polo mais avançado. Quem dera se a maioria do agronegócio deixasse de apoiar Bolsonaro e passasse a apoiar a presidenciável do MDB. Isso seria um avanço!

Como candidato nenhum imagina governar de costas para o agronegócio, não é por causa disso que Simone Tebet vem sendo demonizada pelas hostes lularianas. Ninguém chuta cachorro morto, diz o velho e sábio ditado. Ora, se Simone tem apenas 1% nas intenções de voto no Datafolha ou no máximo 3%, segundo o Ideia Data, por que escorre tanto fel pelo canto da boca das brigadas virtuais da candidatura Lula?

Cenário eleitoral e guerras de narrativas

Simone Tebet: “Fantasma da fome volta a nos atormentar”

Incentivo à leitura: FAP doa 4,2 mil livros à população durante feira em Brasília

Não é por geração espontânea. Trata-se de uma ação articulada e vejo duas hipóteses não excludentes e complementares como explicação. A primeira é que nos cálculos petistas a candidatura Simone provoca temores no arraial petista. Não no sentido de alterar radicalmente o quadro, mas de ter um potencial de crescimento e de puxar o PT para uma disputa num terreno para o qual o PT não se preparou: o da disputa das ideias. Em sendo assim, é melhor matar essa ameaça logo no matadouro, daí a metralhadora giratória gastar pólvora, chumbo e bala em uma candidatura com apenas 1% das intenções de voto.

A segunda hipótese é o velho cacoete autoritário de querer instituir o pensamento único. No mundo binário, que vem desde o “nós contra eles” pregado por Lula lá em 2006, só existe o bem e o mal, o preto e o vermelho. E não há na política colorações multifacetadas. Eles são a encarnação do bem e quem não adere a eles é a própria encarnação do mal.

Voltando ao artigo de Marco Aurélio. Ele prova que ainda tem intelectuais inteligentes neste País. Parece redundância, mas não é. Num País onde uma Márcia Tiburi diz que quem não votar em Lula no primeiro turno é fascista e a plateia petista ainda aplaude e pede bis, faz bem à nossa alma ter um intelectual de cabeça altiva como Marco. Ele nos inspira a não nos deixarmos intimidar pelas patrulhas ideológicas – de direita ou de esquerda.

*Jornalista


Revista online de maio edição 43 | Arte: FAP

Revista online | Veja lista de autores da edição 43 (Maio/2022)

Marco Marrafon | Arquivo pessoal

*Marco Aurélio Marrafon é o entrevistado especial da edição 43 da revista Política Democrática online. Advogado, professor de Direito e Pensamento Político na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), doutor e mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com estudos doutorais na Università degli Studi Roma Tre (Itália). É membro da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst).

*Luis Quesada é autor do artigo Os Índios atravessaram a Ponte!, artista visual multimídia, docente e doutor em Artes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É licenciado em Belas Artes pela Universidade de Granada (Espanha) e mestre em Produção e Investigação em Artes pela mesma universidade. Sua obra e pesquisa se desenvolvem sobre a perspectiva do hibridismo cultural e o estudo da identidade/alteridade com foco nas demandas político-artísticas socioambientais de criações que se envolvem com comunidades indígenas.

*Alberto Aggio é autor do artigo O caminho da América Latina é a democracia . Mestre e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Professor titular em História da América pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com pós-doutorado nas universidades de Valência (Espanha) e Roma3 (Itália). Dedica-se à história política da América Latina Contemporânea, em especial à história política do Chile. É o diretor do Blog Horizontes Democráticos.

Mariana Valentim | Arquivo pessoal

Mariana Valentim é autora do artigo Conquistas e desafios na luta contra a LGBTfobia no Brasil. Arquiteta, urbanista e empresária. Ativista trans, ocupa o cargo de vice-diretora executiva do Lola (Ladies of Liberty Association) Brasil e de conselheira do Movimento Livres. 

*Lilia Lustosa é autora do artigo Novidades para o Oscar 2023. Será que agora vai? Crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidade de Lausanne (UNIL), Suíça.

*Sérgio Denicoli é autor do artigo Twitter, Musk e a economia da atenção. Pós-doutor em Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal) e Westminster University (Inglaterra) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor dos livros TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, e Digital Communication Policies in the Information Society Promotion Stage. Foi professor na Universidade do Minho, Universidade Lusófona do Porto e UFF. É sócio-diretor da AP Exata, empresa que atua na área de big data e inteligência artificial.

*Beatriz Rodrigues Sanchez é autora do artigo Por que ainda precisamos do feminismo? Pós-doutoranda vinculada ao Programa Internacional de Pós-Doutorado (IPP) do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Doutora e mestra em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). É formada em Relações Internacionais pela mesma Universidade. É pesquisadora do Núcleo Democracia e Ação Coletiva do CEBRAP. Desde a graduação vem estudando temas relacionados às teorias feministas e à representação política das mulheres.

*Henrique Brandão é jornalista e autor do artigo Uma ficção bem real.

*Ivan Alves Filho é autor do artigo Um historiador cordial. Historiador licenciado pela Universidade Paris-VIII (Sorbonne) e pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Os mais recentes de suas dezenas de livros publicados são Os nove de 22: o PCB na vida brasileira e Presença negra no Brasil: do século XVI ao início do século XXI.

*José Luis Oreiro é autor do artigo A economia brasileira à deriva. Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília

* A Fundação Astrojildo Pereira detém os direitos da reportagem especial da edição 43: O desafio de um país que trata cultura com descontinuidade política.


Foto: Ricardo Stuckert/Instagram | Os índios atravessaram a ponte

Revista online | Os Índios atravessaram a Ponte!

Luis Quesada*, especial para a revista Política Democrática online (43ª edição: maio/2022)

Não adianta querer, tem que ser, tem que pá 

O mundo é diferente da ponte pra cá 

Não adianta querer ser, tem que ter pra trocar 

O mundo é diferente da ponte pra cá 

Mano Brown, 2002 

A Semana de Arte Moderna de 1922 representa o início de uma importante obra de “engenharia” artística. Trata-se de uma ponte estética fundamental para a atuação artística nacional. A criação desta Ponte permitiu o tráfego cultural das vanguardas europeias no Brasil. A publicação do Manifesto Antropófago (1928), de Oswald Andrade, conclui o contraponto da nossa ponte modernista hegemônica. Seu percurso, de 1922 a 1928, criou um plano de atuação diante da velha resistência e reciprocidade colonial da cultura brasileira por via de sua inclinação a copiar o europeu, assim como para aludir à sua relação com o Ocidente hegemônico. A ponte serviu para legitimar a apropriação crítica, seletiva e metabolizante das tendências artísticas. 

A ponte revisou as imagens construídas sobre a identidade cultural brasileira e questionou a imagem do “Índio” como herói nacional, “dizimado” para o “surgimento” da nação, construída pelo romantismo brasileiro (Século 19), criando uma versão que passou a entendê-lo como parte vital da raça miscigenada brasileira (Macunaíma, de Mario de Andrade), ou utilizando o “Índio” como objeto metafórico, que devora a cultura branca, europeia e invasora, para obter todos os frutos dos seus saberes, a fim de usá-los a seu favor (Antropofagia). 

A ponte centenária de 1922 descreve tendência presente no Brasil desde os princípios da colonização europeia e cria uma estratégia de ação. Sua estrada não sobreviveu somente ao modernismo das suas origens, senão que foi percorrida pelo auge das ideias pós-modernas, que se aproximaram da apropriação, ressignificação e validação da cópia. A ponte foi claramente interditada com o fluxo artístico dos anos 1960 e foi local de passeatas e manifestações para todo o movimento artístico denominado Tropicalismo

As propostas artísticas contemporâneas também seguem percorrendo a velha ponte. A mudança que interfere no artista do século 21 provém das aceitações e rejeições, dentro da legitimação que se faz da arte moderna e pós-moderna. Isto é, a ponte da arte moderna segue aberta. Hoje em dia, há “pedágios” para percorrê-la, já que não se pode transgredir ou questionar sem aceitar sua existência e seu impacto histórico. Ela segue no seu vaivém centro-periferia oferecendo diversas perspectivas de expansão intelectual e artística. 

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A pintura Batizado de Macunaíma, de Tarsila do Amaral, em 1956, retrata a cerimônia batismal da criança que nasceu do fundo do mato virgem | Reprodução: Arte Brasileiros
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A pintura Batizado de Macunaíma, de Tarsila do Amaral, em 1956, retrata a cerimônia batismal da criança que nasceu do fundo do mato virgem | Reprodução: Arte Brasileiros
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Hoje, o “índio” deixou de ser “objeto” (como foi no modernismo, por exemplo, na pintura Mani Oca (1921), de Rego Monteiro, exposta na Semana de 1922) e passou a ser um sujeito ativo na produção de arte contemporânea brasileira. 

Atravessaram a ponte artistas indígenas, como Denilson Baniwa ou Jaider Esbell, que reivindicaram, em seus discursos, a antropofagia como pensamento indígena apropriado por Oswald de Andrade. Um exemplo é a performance “Pajé-Onça Hackeando a 33ª Bienal de Artes de São Paulo” [1], onde Baniwa crítica abertamente a “História da Arte” e os usos e abusos da imagem do “índio” que estavam presentes nessa mesma bienal, imagens que desprezavam o presente dos povos indígenas. É vital compreender que o modernismo brasileiro se usou de manifestações culturais indígenas e seu poder estético, sem contar ativamente com sujeitos indígenas. 

No caso de Jaider Esbell, artista da etnia Makuxi, ele reivindica a figura de Macunaíma alegando uma reapropriação pelos índios do “herói sem nenhum caráter” que simbolizou o nascimento mítico da cultura “brasileira” na obra de Mário de Andrade. Em seu livro Terreiro de Makunaima – Mitos, Lendas e Estórias em Vivências, Esbell expõe que a figura de Macunaíma provém da cosmogonia indígena Makuxi, que representa um dos dois heróis míticos de sua tradição cultural, em que o personagem representa um dos “filhos do Sol”, além da criação mítica de todas as plantas comestíveis existentes na mata. 

No decorrer dos tempos, a arte indígena nunca foi tida como contemporânea, e agora, após um século da existência da ponte de 22, diversas releituras antropofágicas inspiram os artistas indígenas em seu ativismo artístico, funcionando como estratégias de afirmação política para a descolonização estética e cultural.

[1] Pajé-Onça Hackeando a 33ª Bienal de Artes de São Paulo” [1] (Denilson Baniwa, 2018; performance, HD vídeo, 16:9, cor, som, 15’).

Veja vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=MGFU7aG8kgI

Sobre o autor

*Luis Quesada é artista visual multimídia, docente e doutor em Artes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É licenciado em Belas Artes pela Universidade de Granada (Espanha) e mestre em Produção e Investigação em Artes pela mesma universidade. Sua obra e pesquisa se desenvolvem sobre a perspectiva do hibridismo cultural e o estudo da identidade/alteridade com foco nas demandas político-artísticas socioambientais de criações que se envolvem com comunidades indígenas.

** Artigo produzido para publicação na revista Política Democrática online de maio de 2022 (43ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

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*Marco Antonio Villa é o entrevistado especial da edição 42 da Revista Política Democrática online. é historiador, escritor e comentarista político brasileiro. Villa é bacharel e licenciado em história, mestre em sociologia e doutor em história social pela Universidade de São Paulo. É professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos.

*Luiz Sérgio Henrique é autor do artigo A frente democrática, aqui e agora. É tradutor e ensaísta.

*Vinicius Müller é autor do artigo Lições da Itália ao Brasil de 2022. É Doutor em História Econômica e membro do Conselho Curador da FAP.

*Lilia Lustosa é autora do artigo Oscar e a tentação das majors. É crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL), Suíça.

*Ivan Alves Filho é autor do artigo Com Claude Lévi-Strauss: a arte plumária dos índios. É historiador e documentarista.

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*Luiz Ricardo Cavalcante é autor do artigo Políticas de desenvolvimento regional no Brasil: entre a fragmentação e a resiliência das desigualdades. É consultor legislativo do Senado Federal e professor do Mestrado em Administração Pública do IDP.

*Arlindo Fernandes de Oliveira é autor do artigo Balanço do mês da janela partidária. É consultor do Senado e especialista em Direito Eleitoral.

*Henrique Brandão é autor do artigo 50 anos de alguns discos maravilhosos. É jornalista e escritor.

*Julia de Medeiros Braga é autora do artigo Política fiscal para a expansão energética. É economista e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Crédito: foto do autor

*André Amado é autor do artigo Sherlock Holmes redivivo. É escritor, pesquisador, embaixador aposentado. É autor de diversos livros, entre eles, A História de Detetives e a Ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Crédito: arquivo pessoal

*Cleomar Almeida é autor da reportagem especial Guerra na Ucrânia coloca refugiados na via-crúcis pela vida. É graduado em jornalismo, produziu conteúdo para Folha de S. Paulo, El País, Estadão e Revista Ensino Superior, como colaborador, além de ter sido repórter e colunista do O Popular (Goiânia). Recebeu menção honrosa do 34° Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e venceu prêmios de jornalismo de instituições como TRT, OAB, Detran e UFG. Atualmente, é coordenador de publicações da FAP.