Michel Temer

O Estado de S. Paulo: Exército destitui general que criticou governo Temer do cargo de secretário

Militar, secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército, havia afirmado que presidente Temer faz do governo um 'balcão de negócios'

Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O Exército comunicou neste sábado ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, a destituição do general Antonio Hamilton Mourão do cargo de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército depois que ele afirmou que o presidente Michel Temer faz do governo um “balcão de negócios” para se manter no poder.

Mourão vai ficar sem função à espera do tempo de ir para reserva, em março de 2018. Para o lugar dele, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, indicou o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira.

Em palestra a convite do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), no Clube do Exército, em Brasília, na quinta-feira, o general Mourão elogiou a pré-candidatura presidencial do deputado e capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Também voltou a fazer uma defesa da intervenção militar como solução para a crise política no Brasil.

“Não há dúvida que atualmente nós estamos vivendo a famosa Sarneyzação (em referência ao ex-presidente José Sarney). O nosso atual presidente vai aos trancos e barrancos buscando se equilibrar e mediante o balcão de negócios chegar ao final de seu mandato”, disse o general.

Em setembro, Mourão falou três vezes na intervenção militar enquanto proferia uma palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, também em Brasília: “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”. Apesar da repercussão negativa, o ministro da Defesa e o comandante do Exército acertaram que não haveria punição ao oficial. No governo Dilma Rousseff, ele fez críticas à então presidente e perdeu o comando direto sobre tropas do Sul, passando a ocupar o cargo atual de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército, de ordem administrativa.

O militar foi questionado sobre o que e o alto generalato pensavam sobre a pré-candidatura do deputado Bolsonaro. Mourão respondeu em sinal de apoio ao parlamentar, que saiu em sua defesa quando ele proferiu a palestra em setembro e escapou de punição.

“O deputado Bolsonaro já é um homem testado, é um político com 30 anos de estrada, conhece a política. E é um homem que não tem telhado de vidro, não esteve metido aí nessas falcatruas e confusões. Agora, é uma realidade, já conversamos a esse respeito, ele tem uma posição muito boa nessas primeiras pesquisas que estão sendo feitas, ele terá que se cercar de uma equipe competente, ele terá que atacar esses problemas todos, não pode fazer as coisas de orelhada, e obviamente, nós seus companheiros dentro das Forças olharmos com muito bons olhos a candidatura”, declarou.


Míriam Leitão: Fora da hora e lugar

O governo está em plena temporada de fazer mais concessões e renúncias fiscais a grupos empresariais. Uma parte, com o pretexto de aprovar a reforma da Previdência, o que é uma contradição. Outra parte é renúncia fiscal fora de hora e lugar, como as que subsidiam petrolíferas ou a que pode renovar o programa de subsídio às montadoras. O governo quer gastar ou economizar?

A lista das despesas tem sido enorme. O Refis que virou um quase perdão de dívidas tributárias acabou sendo aprovado para que o presidente Temer escapasse da segunda denúncia. Agora, foi o parcelamento das dívidas dos empresários rurais com o Funrural, o Refis dos que não pagaram o Simples, um regime tributário já muito favorecido. As medidas juntas terão impacto maior do que o ganho que se terá se houver a aprovação da reforma da Previdência. É um contrassenso gastar tanto para se economizar.

Mas há nessa farra dos gastos do governo com os empresários muito mais do que a tentativa de comprar a aprovação da reforma. Tanto que estão sendo negociadas ou propostas mudanças no sistema de tributação das petrolíferas e das automobilísticas que não têm relação com o que está sendo votado. É apenas o atendimento dos velhos e conhecidos lobbies que rondam qualquer governo e que encontram mais respaldo em alguns deles.

É o caso do Rota 2030. O programa é para substituir o Inovar Auto do governo Dilma que foi condenado pela Organização Mundial do Comércio. Agora foi refeito para que o incentivo dure até 2030. O argumento dos empresários em defesa do subsídio que custa R$ 1,5 bi é que eles precisam se ressarcir dos investimentos em pesquisa. Antes de tudo é preciso saber que pesquisas são essas, porque a última novidade que foi desenvolvida no Brasil foi o carro flex e isso faz muito tempo. A chamada MP do Bem já continha o incentivo à pesquisa e desenvolvimento. O país tem barreiras à entrada do carro importado e além disso dá anualmente recursos públicos para as montadoras. Isso nunca fez sentido e menos sentido faz agora em que o país está em dificuldades fiscais e a tecnologia do carro está transitando do motor à combustão para o veículo elétrico.

O desconto de impostos para que as empresas invistam em pesquisa pode terminar com o contribuinte ludibriado e em mais uma anistia governamental, como está acontecendo agora com o setor de eletroeletrônicos. E pior: essa indústria recebe muita dedução na Zona Franca de Manaus.

No setor de petróleo há um mistério. O governo enviou a MP 795 que dá isenção na produção e importação de máquinas e equipamentos para a exploração de petróleo nos campos do pré-sal até 2040. É o Repetro, feito no governo Dilma mas que expiraria em 2019. Agora está sendo postergado por mais 20 anos. A Consultoria Legislativa da Câmara soltou um estudo do consultor Paulo César Ribeiro Lima falando que essas renúncias fiscais poderiam passar de R$ 1 trilhão.

“Nos vários campos do pré-sal, a redução de receita tributária de IRPJ e CSLL poderia ser superior a R$ 1 trilhão”, diz o texto.

Pouco tempo depois, o número foi contestado pelos consultores Francisco José Rocha de Souza e Cesar Costa Alves de Mattos, também da Consultoria da Câmara, que afirmaram haver “dois grandes equívocos” no estudo de Paulo Lima.

“Os cálculos apresentados no estudo técnico em avaliação que apontaram perda tributária de R$ 1 trilhão com a aprovação da Medida Provisória nº 795, de 2017, estão incorretos.”

A Receita Federal afirmou à coluna que não comenta projetos em tramitação. Só faz as contas quando eles são aprovados, porque podem sofrer alterações antes das votações. Deveria fazer, porque isso ajudaria o debate. O deputado Júlio Lopes (PP-RJ), relator do projeto na Câmara, disse que o texto recebeu parecer favorável da Receita — em nota conjunta com o Ministério da Fazenda — e que não há renúncias fiscais à indústria de petróleo:

— Pelo contrário, o projeto vai atrair investimentos na área e aumentar a arrecadação do governo.

A divergência vai do zero ao trilhão. A questão é como aprovar renúncia fiscal quando falta dinheiro nos cofres públicos e ainda beneficiar a indústria de energia de origem fóssil. A soma de tantos benefícios aumenta o descontrole fiscal em momento de penúria.

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

 

 


Murillo de Aragão: IstoÉ Sucessão

Na noite desta terça-feira, durante a entrega do prêmio Brasileiro do Ano pelas revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, o tema da sucessão presidencial estava no ar. Tanto pelas pessoas presentes quanto pela eloquente ausência do governador de São Paulo, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).

Ente os homenageados e os prestigiadores do evento, no palco estavam, nada mais nada menos, que sete personalidades relacionadas à sucessão.

O juiz Sergio Moro, eleito Brasileiro do Ano, foi o principal homenageado. Muitos gostariam de tê-lo como presidente. Seu discurso foi o mais aplaudido, o que revelou o tamanho do seu prestígio. Moro, como se sabe, pode contribuir decisivamente para tornar o ex-presidente Lula (PT) inelegível. Bem como, e por tabela, outros políticos. Aproveitou para fazer um discurso contra o foro privilegiado. E, pasmem, pediu que o presidente da República interceda junto ao Supremo Tribunal Federal para manter a prisão em segunda instância.

O senador Álvaro Dias, presidenciável do Podemos, entrou mudo e saiu calado. Entregou um prêmio e quase não foi notado, mas aproveitou os holofotes disponíveis.

O apresentador de TV Luciano Huck fez o segundo discurso mais aplaudido da noite. Disse que não será candidato, mas que não deixará de atuar politicamente. Parece que, no fundo, ele gostaria de ser presidente. Será um eleitor importante.

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), se saiu muito bem. Parece mais bem adaptado ao figurino “unidos venceremos”. Foi muito cordial com o presidente Michel Temer, reconhecendo os êxitos das reformas que o governo vem fazendo. Colocou-se de forma clara e, de certo modo, modesta. Parece que aprendeu rápido com as derrapadas que andou dando. Apresentou-se como opção certa para o futuro.

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ainda que não seja candidato, é nome cobiçado para integrar chapas presidenciais. Sentado perto de Doria, ficou tricotando com o colega de São Paulo. Explicou por que é aprovado por 80% dos soteropolitanos e também se apresentou como opção para o futuro.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), pré-candidato assumido, fez um discurso sóbrio no falar e eloquente nos argumentos. Mostrou que saímos da pior pindaíba de nossa história para o melhor Natal desde há muito.

Quem entregou o prêmio de Brasileiro do Ano na Economia foi o presidente Temer. Sua foto passando o prêmio às mãos de Meirelles despertou na cabeça de alguns o que pode ser o preview da sucessão. Temer foi, como sempre, elegante, mesmo tendo como companheiro de palco o juiz Sergio Moro. Foi bastante aplaudido. Se ele só tem 5% de aprovação, quase todos que o aprovam estavam ali.

O ambiente foi inusitadamente de diversidade. De Moro ao ministro Moreira Franco (PMDB), passando pela atriz Isis Valverde!!! Pelos cantos, comentava-se a ausência de Alckmin. Não pegou bem. Em tempos de sucessão, um centímetro de movimento pode resultar em danos. Alckmin preferiu distância. Bom para os demais, que aproveitaram seus espaços.

* Murillo de Aragão é cientista político

 


O Estado de S. Paulo: Temer negocia frente de siglas para disputa de 2018

Presidente Temer articula coalizão partidária para aprovar reforma da Previdência e mantê-la unida até a eleição, com intenção de contrapor e até isolar candidatura de Lula

Alberto Bombig e Ricardo Galhardo, de O Estado de S. Paulo

O grupo político reunido em torno de Michel Temer começa a desenhar a estratégia para seu último ano de governo e para as eleições de 2018. A ideia é formar uma ampla frente para tentar a aprovação da reforma da Previdência e mantê-la unida até a disputa eleitoral de outubro. Com mais da metade do tempo de TV, a frente incluiria PMDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PP, PSD e seria capaz de fazer a defesa do legado de Temer, em especial no campo econômico, além de se contrapor e até isolar o ex-presidente Lula.

Segundo auxiliares de Temer, caso a estratégia prospere o nome será escolhido no ano que vem. Os preferidos são o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o prefeito João Doria (PSDB), além do próprio Temer. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) poderá ser o escolhido, mas precisará se reaproximar do PMDB. Caso o PSDB não aceite defender a gestão Temer, a frente será formada sem os tucanos. Na outra ponta, os presidentes de PT, PDT, PSB e PCdoB também articulam alianças nos Estados.

O presidente Michel Temer começa a desenhar a estratégia para seu último ano de governo e para as eleições de 2018. A ideia é construir uma ampla frente de centro-direita para enfrentar a batalha pela aprovação da reforma da Previdência e de outras pautas econômicas e mantêla unida até a disputa eleitoral de outubro.

Com mais da metade do tempo de TV, esta frente incluiria PMDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PP e PSD e seria capaz de fazer a defesa do legado de Temer além de se contrapor e até isolar o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas.

Segundo auxiliares de Temer, caso a estratégia prospere o nome será escolhido no ano que vem. Os preferidos do presidente são o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pode ser o escolhido, mas precisa se reaproximar do PMDB e de Temer. A candidatura do próprio presidente não está descartada, apesar dos apenas 3% de aprovação nas pesquisas. Ele próprio se coloca como o “último da fila”.

Quem vier a ser o escolhido terá de defender a gestão Temer, iniciada em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. O Planalto avalia hoje que os índices econômicos estarão mais favoráveis no próximo ano e que o governo terá um capital eleitoral positivo.

A tarefa de Temer é de difícil execução e consiste em, antes de mais nada, aprovar uma pauta econômica no Congresso que permita acelerar a geração de empregos. Com o vento a favor e a caneta nas mãos, o presidente espera reduzir a influência da ala do PSDB que defende o desembarque do governo e manter a coesão da frente até as eleições.

A estratégia do Planalto se divide em três frentes que se complementam. No front político, Temer faz questão de deixar a discussão de nomes em aberto. Aliados comparam a ação do presidente com a política “de raiz” praticada pelo velho PSD de Juscelino Kubitschek, que teve ministros em todos governos entre 1945 e 1965, e citam despistes e salamaleques feitos pelas raposas do PMDB como exemplo da habilidade do presidente e seus homens de confiança.

Escolha. Pelo roteiro traçado pelo presidente, a escolha do nome seria entre abril e junho do ano que vem. Auxiliares de Temer apostam que, se as estratégias no Congresso e na economia funcionarem, a manutenção da aliança será natural. Com os sete principais partidos o candidato do governo teria mais de 6 minutos dos 12,5 minutos de cada bloco do horário eleitoral. Já Lula, isolado, teria apenas 1,5 minuto do PT.

Temer quer aprovar no Congresso Nacional as emendas constitucionais da reforma da Previdência e a simplificação tributária, além das medidas provisórias que criam o novo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), alteram as normas para exploração mineral e adiam o aumento de contribuição previdenciária do funcionalismo.

Além disso, o governo deve agilizar as votações de projetos de lei que agradam a setores importantes do Congresso como os que reduzem a multa sobre o FGTS, permitem a participação de estrangeiros em empresas aéreas, modernizam as regras para o setor de telecomunicações, autorizam a venda de terras para estrangeiros, agilizam os procedimentos de licenciamento ambiental e alteram as agências reguladoras.

Outro front é o econômico. Na pauta do governo estão os leilões para exploração de petróleo e gás e distribuição de energia elétrica e o acompanhamento da implementação das novas leis trabalhistas. Em conversas com Temer, empresários garantiram que com estas medidas a criação de empregos vai acelerar em 2018.

O dono da Riachuelo, Flávio Rocha, falou na criação de 4 mil postos intermitentes e 8 mil temporários e representantes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) estimaram 100 mil novas vagas no setor.

Os empregos, no entanto, estão condicionados às pautas no Congresso, especialmente à reforma da Previdência. “Ou a reforma vem ou a crise volta”, disse o economista Marcos Lisboa, do Insper, a Temer na semana passada.

 


Míriam Leitão: Contrarreforma

Concessões para convencer deputados a aprovar a reforma podem elevar o gasto. É preciso definir qual o propósito da reforma da Previdência. Se é para começar a reorganizar as contas públicas, ou se a mudança é apenas para dar ao presidente Michel Temer um argumento para ser chamado de reformista. Se for o primeiro motivo, não se pode fazer concessões exatamente na área fiscal porque isso elevaria gastos, dentro de um projeto que é para reduzir despesas. É contraditório.

Uma negociação política envolve moeda de troca, mas qual moeda é aceitável? É possível fazer mudanças no projeto, mesmo que ele se torne menos efetivo, como acabou acontecendo ontem. Isso significa economizar menos. É ruim, mas aceitável. O que não faz sentido é aumentar gastos. É isso que corre o risco de acontecer.

Dentro das mudanças aceitáveis o governo alterou as aposentadorias rurais, manteve o BPC como está e tirou a DRU da Previdência. Já a idade mínima começará a valer em 2020. Em 2037 chegará nos 62 anos para mulher e 65 anos para homem. Com isso, daqui a 20 anos o Brasil terá a idade mínima praticada hoje em países como Chile, México, Argentina. É ruim, mas isso já é concessão antiga que foi consolidada ontem na apresentação do texto enxuto da reforma.

O que não faz sentido algum é, para aprovar a reforma, fazer concessão a quem deve à Previdência, como, por exemplo, os empresários do setor rural. Essa negociação começou quando o presidente quis se livrar da segunda denúncia do Ministério Público Federal. Temer deu o sinal verde para negociar, postergar e dar desconto na dívida de R$ 17 bilhões das grandes empresas do agronegócio com a Previdência. Um dos beneficiários foi o JBS. Claro que não se podia vetar apenas um grupo, mas não deixa de ser contraditório a empresa receber descontos e refinanciamentos neste momento de denúncias e acordos de leniência. As mudanças feitas no Congresso reduziram a dívida dos ruralistas para R$ 2 bilhões e agora falase que está sendo reaberto o balcão em torno desse passivo.

A “Folha de S. Paulo” de ontem trouxe a informação de que o ajuste fiscal está sendo comprometido para se aprovar a reforma. A negociação incluiria até a revogação do adiamento do reajuste ao funcionalismo. Ou seja, o governo aceitaria “recuar do recuo” do aumento que ele próprio concedeu logo que assumiu. Já havia concordado em tirar as Forças Armadas desse adiamento do reajuste, com o argumento de que os militares estão negociando uma reforma da Previdência só deles e por isso teriam que ter o aumento agora. É desconhecida a relação entre uma coisa e outra, mas foi esse o argumento à época. Agora, o reajuste para os civis também seria mantido para ajudar a aprovar a reforma.

A equipe econômica naturalmente é contra essa decisão porque desveste um santo para cobrir outro. Se o reajuste não for adiado, será necessário encontrar outra forma de arrecadar, ou cortar, perto de R$ 5 bilhões para se manter o déficit do ano que vem em R$ 159 bilhões.

De que vale a reforma se ela é ao mesmo tempo descaracterizada por dentro, pelas mudanças sequenciais na substância, e tem seus efeitos anulados por concessões fiscais em outras áreas? Se for a esse preço, o sentido da reforma passa a ser apenas o de criar a impressão de que foi feita para, assim, ser parte de um marketing político.

O trabalho de quem no governo está sinceramente tentando fazer a reforma da Previdência é muito dificultado pela atitude dos deputados. Eles sequer querem ouvir os argumentos racionais em favor da reforma porque ou estão prisioneiros dos seus guetos ideológicos ou estão apenas contando os possíveis votos da próxima eleição. Neste caso, o exercício do mandato se resume apenas a lutar por outro mandato, e perde a função de representação para o qual o parlamentar foi eleito.

O país está diante de uma situação complexa na Previdência. O déficit aumenta em escalada, estamos no início da onda de mudanças demográficas que a tornarão ainda mais cara e deficitária, o governo é fraco, mas a reforma é necessária. O problema é que para aprovar a reforma — mesmo esse projeto que foi bem reduzido — o Planalto está negociando concessões que podem, no final, tornar inútil todo o esforço de aprovação das mudanças.

 


Eugênio Bucci: Todo o poder às celebridades?

Enquanto Luciano Huck avalia o risco, o Brasil sonha com um astro que purifique a política

“O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias”
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo

À medida que se adensam as especulações em torno do nome do apresentador Luciano Huck para eventual candidatura à Presidência da República, as reações de políticos atestam que eles não entenderam nada. O sintoma que mais chamou a atenção foi a declaração do senador Aécio Neves. “Acho que é um pouco da falência da política”, diagnosticou o tucano. “É um pouco do momento de desgaste generalizado pelo qual passa a política.”

Não deixa de ser um alívio saber que o líder mineiro se preocupa de modo tão altruísta com assuntos falimentares e desgastes generalizados, mas sua declaração traduz, ainda que inadvertidamente, um preconceito arrogante. Por que, afinal, as pretensões eleitorais de um ídolo televisivo indicariam que a política “faliu”? Em que ponto a candidatura de um animador de auditório – de resto, muito rico – é pior do que a candidatura de uns e outros que ficaram bilionários com salário de deputado? Um garoto-propaganda de banco não tem o direito de, como dizem nos rincões mineiros, “entrar para a política”? Acaso estaria menos preparado que um fazendeiro, um sindicalista, um pastor evangélico ou ex-governador, como sugere a fala de Aécio?

Houve tempo em que as famílias de respeito – de Belo Horizonte, inclusive – empinavam o queixo e franziam os lábios quando ouviam falar que uma amiga da sobrinha pretendia seguir a profissão de atriz. Era um preconceito arrogante. Agora, desqualificar de antemão a competência de astros vespertinos como se eles não fossem dignos de pedir votos é uma forma de reabilitar o velho preconceito. Numa democracia, todos os cidadãos são elegíveis, incluídos os que ganham a vida diante das câmeras – e estes não são em nada piores do que os que ganham a vida de maneiras ocultas e depois passam longas temporadas fugindo das câmeras.

Muitos políticos de carreira subscrevem o que Aécio declarou sobre Huck. Uns o fazem à boca pequena, com aquele modo característico de cochichar usando a mão para cobrir a boca e, assim, evitar o risco tenebroso da leitura labial. Outros se pronunciam aos berros, do alto de palanques. Não estão nem aí.

Além de não entenderem que todos os cidadãos podem ser candidatos, pois são iguais perante a lei e as urnas, os “de carreira” não entendem que o advento das celebridades e da indústria do entretenimento modificou a política para sempre. A política não é mais o que era no tempo de seus avós.

A incompreensão crônica e inamovível é chocante. Como podem ser tão obtusos? Os políticos profissionais cuidam da aparência como se fossem atrizes na terceira idade: fazem implante de cabelo, buscam a ortodontia estética para calibrar o sorriso, tingem o bigode, usam botox, fazem media training quando vão aparecer na TV. Os de direita, quando querem fazer pose de populares, mastigam sanduíches de mortadela e falam palavrão no tête-à-tête com os eleitores. Os de esquerda, quando precisam parecer confiáveis aos endinheirados, envergam as gravatas caras que ganham de presente dos lobistas – e logo se acostumam. Uns e outros passam as 24 horas do dia empenhados em burilar a própria imagem. Só pensam na imagem. São narcisos a soldo público. Sendo assim, como é que não entenderam nada?

Tudo o que desejam é ser celebridade, mas não sabem bem por quê. Os que pensam ter percebido alguma coisa tentam cooptar candidatos como Tiririca (ou mesmo Huck) para engordar quocientes eleitorais – mas também esses, que se imaginam feiticeiros maquiavélicos da popularidade alheia, são levados de arrasto por um maremoto que nem sequer enxergam.

A gramática do poder foi subsumida pelo espetáculo. Em poucas palavras (palavras andam em desuso), sua gramática se tece mais por imagens do que pelo texto. Seus enunciados são performances midiáticas. Kim Jong-un, com seu penteado boina, é um pop star. Trump saltou diretamente da fama de apresentador de TV para a Casa Branca, passando por uma escala meramente formal por um partido político. Arnold Schwarzenegger governou a Califórnia e Ronald Reagan governou os Estados Unidos da América. Berlusconi fez o que fez na Itália.

Por quê? Pela mesma razão que leva uma estrela de novela a ser ouvida como luminar quando opina sobre câncer de mama, energia nuclear ou o agigantamento das megalópoles. Vocalistas de bandas comerciais opinam para plateias planetárias e deslumbradas sobre ecologia e sustentabilidade. Uma top model pontifica sobre demarcação de terras indígenas. Um ex-jogador de futebol dá apoio a um ditador sul-americano – e esse apoio se confunde com legitimidade autêntica.

Como o dinheiro na economia, o espetáculo realizou a proeza de ser um equivalente geral no mundo da imagem: uma celebridade, venha ela de onde vier, ganha autoridade para ditar regra sobre qualquer tema que atraia o olhar das multidões. O espetáculo acentua o caráter de mercadoria nas candidaturas e infla um quê de sagrado nas mercadorias. De seu lado, as multidões histéricas veneram as celebridades como os gregos antigos veneravam os deuses do Olimpo. As celebridades são o politeísmo de um mundo sem divindades. Que elas postulem cargos eletivos, ora, nada mais lógico, nada mais mítico.

A política reduziu-se a um reality show, no qual até ministros do STF atuam, envaidecidos. Esse reality show atrai as celebridades do show business para depois incinerá-las. Elas chegam, brilham e viram pó. Vide um certo prefeito de metrópole que até outro dia era o “não político” mais estridente do Brasil: até ele, chamuscado, precisou fugir das câmeras.

Enquanto Luciano Huck avalia o risco, o Brasil sonha com um astro que purifique a política, em vez de ser queimado por ela. “Dinheiro na mão é vendaval.” O espetáculo é um apocalipse de fogo e fúria.

Que venha 2018.

* Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA-USP

 


José Roberto de Toledo: A eleição da incerteza

Um ator importante da eleição de 2018 ainda não tem papel definido: o governo federal

Para além de todas as especulações sobre candidatos de fora do sistema político – como Luciano Huck e Joaquim Barbosa –, um ator importante que deverá influir no enredo da eleição de 2018 ainda não tem papel definido: o governo federal. Hoje, Temer e companhia são a Geni de quase todos os presidenciáveis. Daqui a 10 meses, talvez o governo não sirva apenas para apanhar ou para cuspir. Se a melhora da economia se traduzir em bem-estar da população, é capaz de um candidato ou outro vir a cortejá-lo.

Essa eventual mudança de cenário daria um palanque eletrônico para Temer se defender ao longo da campanha eleitoral, mas seria um complicador para Alckmin e os candidatos que pretendem ocupar o centro do espectro político conseguirem sair do dígito solitário que têm nas pesquisas de intenção de voto até agora.

A entrada de um candidato governista no páreo tende a dividir ainda mais o eleitorado de centro e aumentar a incerteza. Nome mais óbvio para cumprir esse papel no caso de o desemprego cair e a renda aumentar, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disputaria os mesmos votos que o candidato tucano, em princípio.

É sempre possível Alckmin descer do muro para o lado do governo, mas o timing será decisivo. Se demorar demais, corre o risco de encontrar o espaço ocupado. Se se precipitar e descer antes de os indicadores econômicos se traduzirem em diminuição da rejeição a Temer, o tucano pode se inviabilizar como candidato.

Esse dilema é a cunha que racha o PSDB. Quem disputa votos em 2018 e depende do discurso do combate à corrupção para se reeleger quer distância do governo federal. É o caso de boa parte dos deputados do partido. Cabeças pretas e grisalhas estão carecas de saber que será impossível compatibilizar as pilhas de dinheiro de Geddel Vieira Lima (cujo substituto na cadeira ministerial foi um tucano) com propaganda sobre ética.

Já os candidatos a cargos majoritários dependem menos desse tipo de discurso do que da economia. Um aumento sustentado ao longo de cinco ou seis meses da confiança do consumidor teria o potencial de diminuir o pessimismo e aumentar a esperança. Nessa hipótese, ter a imagem associada a Temer pode não ser fatal – e contar com sua caneta para fazer nomeações, liberar verbas e assinar contratos não é nada mal. De novo, o tempo é tudo.

Quanto demorará para os indícios de retomada da economia evoluírem consistentemente ao ponto de provocarem uma mudança de humor da opinião pública? Quantos novas vagas de emprego com carteira assinada serão necessárias para produzir tal mágica? Qual o tamanho do aumento da massa salarial seria preciso?

Não há respostas definitivas para essas perguntas. O retrospecto mostra apenas que o bolso elege, mas sua memória é curta. Vale o que aconteceu no ano da eleição – mais especificamente, nos meses finais da campanha. O exemplo que governistas, de quaisquer colorações, sempre lembram é o Plano Real, em 1994. Após a troca da moeda, FHC ultrapassou Lula em semanas.

Mas não há o bode na sala que existia então. O fim da inflação literalmente do dia para a noite provocou uma mudança tão surpreendente quanto repentina no humor nacional, e o que era uma eleição de mudança virou uma eleição de continuidade.

Nada indica que haverá um câmbio de temperatura abrupto assim em 2018. O mais provável é que o aquecimento seja lento, gradual e inseguro. Nada tão dramático ao ponto de transformar o candidato governista de azarão em favorito, mas o bastante para aumentar a lista de presidenciáveis e a incerteza sobre a eleição.

Previsões sobre resultado, só após 2 de outubro de 2018. Se a Justiça deixar.

 


Luiz Carlos Azedo: O homem de Cunha

Ministro encarregado das negociações com as bancadas, sendo do PMDB, Marun se tornaria o político mais poderoso na Câmara, ofuscando Maia

O presidente Michel Temer chegou a anunciar o deputado Carlos Marun (PMDB-RS) como novo ministro da Secretaria de Governo, encarregado das articulações políticas no Congresso, no lugar do deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), mas teve que recuar diante da grande reação negativa, a começar do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não quer passar de cavalo a burro. É o que aconteceria com a substituição do tucano pelo líder da tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que hoje está preso em Curitiba.

Ministro encarregado das negociações com as bancadas, sendo do PMDB, Marun se tornaria o político mais poderoso na Câmara, ofuscando Maia. O parlamentar gaúcho é o herdeiro do espólio parlamentar de Cunha, que está em cana, mas não morreu. Trocou o poder que tinha de ajudar os amigos nas campanhas eleitorais pelo silêncio a cerca desse e outros assuntos. Cunha “puxa cadeia” com galhardia: dedica-se exclusivamente a estudar os processos da Operação Lava-Jato e cruzar informações. Cada minuto do seu silêncio é valioso para gregos e baianos.

O presidente Michel Temer teve em Marun um esteio na luta contra a aceitação das duas denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot pela Câmara. Sua nomeação para o cargo não deixa de ser um reconhecimento pelos serviços prestados, mas faltou combinar com Rodrigo Maia, que comanda a Casa com amplo apoio, inclusive de partidos da oposição. Marun na Secretaria de Governo seria um candidato natural à presidência da Câmara, mas isso atrapalha o futuro de Maia, já que numa nova legislatura poderia pleitear a reeleição

Diante do impasse, Temer recuou. O xadrez da reforma ministerial não se restringe à aprovação da reforma da Previdência, vital para o governo obter resultados econômicos mais ambiciosos em 2018. Envolve também as ambições eleitorais de Maia e do presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), outro que pode querer se manter no cargo. E atores que se movimentam tendo em vista as eleições presidenciais, entre os quais o próprio Temer. O centro do tabuleiro será dominado por quem conseguir uma maioria sólida na Câmara, isso passa pelo realinhamento de forças partidárias na Casa, previsto para a janela de troca de partidos do mês de abril.

Maia não quer o PMDB ocupando o espaço que era do PSDB no Palácio do Planalto, quer que seu partido ocupe essa posição, uma vez que o desembarque tucano praticamente transforma a legenda no aliado principal de Temer. Há uma outra variável a ser considerada também: a situação no Rio de Janeiro. A cúpula do PMDB fluminense está toda na cadeia, o que equaliza as relações entre seus caciques, que continuam controlando o governo do estado — Luiz Fernando Pezão é um aliado leal aos seus companheiros que estão detrás das grades — e a Assembleia Legislativa. O ex-prefeito carioca César Maia, pai de Rodrigo, é candidato a governador, mas o ex-prefeito Eduardo Paes já está se preparando para deixar o PMDB e concorrer por outra legenda. Sonha com a volta ao ninho tucano. Não interessa ao presidente da Câmara um aliado de Cunha no Palácio do Planalto, operando com a bancada do PMDB fluminense.

Cristovam versus Huck
O namoro do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), com o apresentador Luciano Huck, estressa as relações na cúpula da legenda. A seção paulista do partido, liderada pelo secretário de Agricultura de São Paulo, deputado federal licenciado Arnaldo Jardim, está firme com a candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e não abre. O líder da bancada na Câmara, Arnaldo Jordy (PA) e o deputado Rubens Bueno (PR), seu antecessor, apoiam a pré-candidatura do líder do PPS no Senado, Cristovam Buarque (DF), que Freire ignora solenemente.

Pela primeira vez em minoria na Executiva do partido que dirige há 26 anos, Freire usa a mídia e o próprio carisma para tentar empolgar as bases do PPS e reverter a posição da maioria da bancada. A tese do grupo de Freire é filiar Huck, formar um novo núcleo dirigente com os líderes do Agora e mudar o nome do partido. Ontem, em Porto Alegre, em pré-campanha, Cristovam ironizou a situação: “Meu partido, o PPS, deve pensar o amanhã, e não o agora. O agora já passou!”.

 


Hubert Alquéres: O condestável de Temer

Reza o folclore político que, ao passar a faixa presidencial para seu sucessor, Hermes da Fonseca teria dito a Venceslau Brás: “olha Venceslau, Pinheiro Machado é tão bom amigo que governa pela gente”. O mesmo pode-se dizer de Rodrigo Maia. Ele está tão próximo de Michel Temer que governa pelo presidente. Nomeou o novo ministro das Cidades, definiu como será a repartição do butim da pasta entre o “Centrão ampliado” e vai fazer o presidente do BNDES. Ai do ministro que não cair em sua graça. É tombo certo.

O fortalecimento do condestável de Temer foi uma decorrência natural do papel que jogou na votação das duas denúncias contra o presidente. Ainda que tenha sobrevivido ao seu Waterloo, Michel Temer saiu da refrega extremamente enfraquecido. Sua base de sustentação, antes estimada em 80% dos parlamentares, desidratou.

Sem votos para aprovar um mínimo de uma reforma da Previdência para chamar de sua, passou a depender dos parlamentares que sabem jogar o jogo do toma lá, dá cá. Deu-se a repetição de uma velha lei da política: presidente fraco, parlamentares vorazes. Mesmo se submetendo a essa lógica, ficou sem a garantia de que levaria adiante seu programa de reformas.

O jeito foi apelar para a figura emergente do presidente da Câmara, estabelecendo com ele um governo de coabitação, uma espécie de “parlamentarismo a lá Temer”, com Maia exercendo, de fato, o papel de primeiro ministro. Nada de substancial importância será implementado pelo governo sem o seu nhil obstat. É dele a responsabilidade de viabilizar qualquer votação, incluindo as mudanças na Previdência.

A assunção de Maia é produto da conjunção de uma série de fatores. A começar da mudança de perfil do governo Temer. Inicialmente o governo se sustentava em um tripé: o seu núcleo duro formado por velhos camaradas do PMDB, pela equipe econômica e pelo PSDB, que lhe emprestava credibilidade junto ao mercado e à sociedade.

Esse suporte ruiu. Não só porque alguns dos membros do núcleo duro foram abatidos pela Lava Jato, mas também porque a crise levou de roldão o PSDB, com os tucanos perdendo credibilidade e densidade. Reféns da dúvida existencial de ser ou não ser governo, os tucanos deixaram de ser um parceiro confiável. De fininho, estão saindo do governo.

Como em política não há tempo para o vácuo, o DEM ocupou o espaço, avançando na ampliação do Centrão com seu partido e mesmo com parlamentares do PMDB. O papel de Maia foi o de ser a argamassa desse novo pacto, transformando-se na liderança natural do chamado “Centrão ampliado”.

A dúvida é se é um movimento de fôlego curto ou se é de longo alcance, com vistas a 2018. O “Pinheiro Machado” de Temer pensa grande. De imediato quer turbinar seu partido, ampliando sua bancada de 29 para 45 deputados. Por sua vez, o presidente sonha em ter alguém na urna eletrônica que defenda o seu legado.

Com o PSDB perdendo protagonismo -- por enquanto não oferece expectativa de poder --, potencializa-se a centrifugação do centro, com os partidos deste campo buscando outras alternativas. Nesse quadro, a confluência dos interesses de Temer e Maia poderia desembocar em uma candidatura de centro-direita, com nome, RG e CPF: Henrique Meirelles.

Qual o grau de competitividade dessa candidatura, difícil prever. Teria, claro, o handicap de um tempo televisivo mastodôntico, o que em uma campanha eleitoral não é pouco. A certeza deste trunfo estaria na aliança do DEM, PMDB e as siglas do Centrão - PP, PR, PSD, entre outros.

Os estrategistas do Palácio do Planalto incensam a candidatura Meirelles confiantes na recuperação da economia e no seu impacto na população até as eleições. Temer seria, portanto, um cabo eleitoral não desprezível. Na hipótese de tudo dar certo, Rodrigo Maia se reelegeria presidente da Câmara em 2019 e continuaria como o condestável do novo governo, assim como Pinheiro Machado foi em vários governos da República Velha.

Sonhar não custa. Mas a vida costuma contrariar os sonhos. Além de Meirelles ser um andor pesado de se carregar, dada principalmente à sua falta de carisma, o grau de rejeição do governo Temer é de tal envergadura que seria suicídio político alguém disputar eleição como seu candidato.

Mais: o ritmo lento da recuperação da economia não justifica projeções triunfalistas para o horizonte de 2018. Se a economia crescer 2% no próximo ano, como estima a equipe econômica, não será nenhuma Brastemp. Dificilmente a melhora terá impacto profundo no humor dos brasileiros.

O governo de coabitação implica em riscos para o próprio Rodrigo Maia. Se a reforma da Previdência não for aprovada, será responsabilizado pelo fracasso. Dada a inanição do governo em matéria de popularidade, seu próprio partido pode pressioná-lo para descolar de Temer para não sofrer uma hecatombe eleitoral. Sem falar que terá de administrar a ciumeira do Senado e as armadilhas montadas por caciques peemedebistas.

Na linha fina em que terá de se equilibrar, convém ao condestável de Temer levar em conta o velho conselho de Pinheiro Machado: “nem tão depressa que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação”.

* Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo

 


El País: O fiel escudeiro de Eduardo Cunha a caminho de virar ministro de Temer

Carlos Marun, o deputado da dancinha que barrou investigação contra presidente, é o mais cotado para Secretaria de Governo

"Tudo está em seu lugar, graças a Deus, graças a Deus!", cantarolou Carlos Marun (PMDB-MS)  performando uma dancinha para comemorar o fato de a Câmara barrar uma segunda apuração criminal contra o presidente Michel Temer. Apenas algumas semanas depois, Marun, que foi da tropa de choque de Eduardo Cunha e é ligado a um ex-governador investigado pela Polícia Federal, deve chegar ao topo de sua carreira política. Aos 57 anos, ele deve ser anunciado nesta quarta-feira como o novo ministro da Secretaria de Governo por conta de minirreforma ministerial que Temer promoverá até meados de dezembro e deve mexer em 4 de seus 28 ministérios. Indicado pela bancada do PMDB para a pasta responsável pela articulação com o Congresso Nacional, Marun deverá substituir Antônio Imbassahy (PSDB-BA) que pode migrar para o ministério da Transparência (a antiga CGU) ou para o dos Direitos Humanos. Outro nome que está certo na Esplanada dos Ministérios é o do deputado Alexandre Baldy (PP-GO). Ele irá para o ministério das Cidades nesta quarta-feira, em substituição ao demissionário Bruno Araújo (PSDB-PE).

Nesta terça-feira, o Palácio do Planalto fez circular o nome de Marun. O intuito era sentir como ele seria recebido na classe política e, até o início da noite, a recepção havia sido positiva. Ainda assim, outros dois nomes de deputados federais corriam por fora: Saraiva Felipe (PMDB-MG) e Hugo Motta (PMDB-PB). A favor do deputado de Mato Grosso do Sul pesou o fato de ele estar de acordo em permanecer no Governo até o fim de dezembro de 2018 e, dessa maneira, abdicar de disputar a eleição do próximo ano. Temer já avisou que não quer nomear ministros para ficarem apenas quatro meses no cargo. Em abril, a seis meses da votação, todos os candidatos que tiverem cargos no Executivo terão de renunciar às funções, conforme prevê a lei eleitoral.

Segundo assessores do Planalto, Marun é o nome favorito principalmente por quatro razões: foi identificado como um fiel aliado ao defender a reforma da Previdência (ele presidiu a comissão especial que discutiu o assunto na Câmara); esteve na linha de frente do grupo a favor do impeachment de Dilma Rousseff; é governista ao relatar a CPMI do BNDES (que pretende atacar as ações da Procuradoria-Geral da República); e até ao se transformar no “cão de guarda” o ex-deputado e hoje presidiário da Lava Jato Eduardo Cunha. “Ele é determinado no que faz. Quando tem de defender algo, o faz com unhas e dentes. Isso é positivo para esse momento do Governo, sem dúvida”, afirmou um dos assessores de Temer.

Marun foi um dos únicos deputados a ocuparem a tribuna da Câmara para discursar a favor de Cunha na sessão que cassou o mandato dele, em setembro do ano passado. Quando questionado pelo EL PAÍS por que defendia Cunha, ele respondeu: “Nosso grupo entendeu que ele não podia sofrer cassação antes do impeachment passar. Continuei fazendo o meu trabalho, mesmo depois, porque sou um homem de palavra”.

Antes dessa consulta informal iniciada pelo Planalto, outras duas haviam sido feitas. Na semana passada, Temer fez chegar aos jornalistas os nomes de João Henrique Sousa, ex-deputado presidente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria, e do deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG), que foi ministro da Aviação Civil de Dilma Rousseff. Nenhum deles vingou. Procurado para comentar sua possível nomeação, Marun informou por meio de sua assessoria que o convite não foi feito formalmente. Mas se ele ocorresse, aceitaria.

Marun é o tipo de político falastrão. Alto, com 130 quilos distribuídos em 1,89 metro de altura, tem uma voz grave, intensa e explosiva. Está em seu primeiro mandato no Congresso Nacional. Gaúcho de Porto Alegre fez sua carreira política em Campo Grande. Engenheiro civil e advogado, tornou-se vereador, deputado estadual e federal após se juntar a André Puccinelli. Foi secretário de Habitação de Puccinelli tanto na prefeitura de Campo Grande (1997-2004) quanto no Governo do Estado (2006-2014). Puccinelli é atualmente investigado por enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e corrupção no período em que governo Mato Grosso do Sul. Marun não é alvo desses inquéritos.

O dedo de Maia e apoio do centrão

Se a troca na articulação política é dada como quase certa, no Ministério das Cidades o nome de Alexandre Baldy já está assegurado - ele toma posse nesta quarta. Ele será o homem de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, dentro do Planalto. No Planalto a informação é de que foi Maia quem lutou pela nomeação de Baldy porque queria se sentir mais prestigiado por Temer. Recentemente, o presidente da Câmara reclamou dezenas de vezes da atuação da gestão peemedebista. Seus movimentos chegaram a ser vistos como uma possível tentativa de desarranjo na base governista e uma movimentação para substituir o presidente. Algo que Maia sempre negou.

Para chegar ao cargo, Baldy teve de trocar de partido pela segunda vez nos últimos três anos. Se elegeu pelo PSDB de Goiás. Depois, migrou para o PODEMOS. Foi deposto da liderança do partido por não defender as investigações criminais contra o presidente. Agora está se filiando ao PP, a pedido de Maia e do presidente da legenda, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Será mais um representante do centrão no Governo.

Com o segundo maior orçamento da Esplanada, o Ministério das Cidades é um dos mais almejados pelas bancadas partidárias. O PP decidiu que pode abrir mão de uma das outras duas pastas que ocupa, Saúde e Agricultura, para ter essa máquina em um ano eleitoral.

Outra certeza entre Temer e seus aliados é a da demissão de Luislinda Valois (PSDB) da pasta de Direitos Humanos. Aliados do presidente disseram que ela nada apresentou de útil até o momento, apenas trouxe problemas, quando disse que deveria receber um salário de 61.000 reais, valor bem acima do teto constitucional de 33.400 reais mensais. Em um ofício enviado ao Planalto, ela alegou que a situação, “sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo”. “Ela reclamou do salário, falou de escravidão, mas nem um mísero evento fez no dia da consciência negra [comemorado no dia 20 de novembro]. Nada de produtivo trouxe ao Governo”, afirmou uma fonte palaciana. Sua queda é certa.

Outro cargo em vista é o da Transparência. Desde maio está interinamente ocupado por Wagner Rosário, um técnico que substituiu Torquato Jardim quando este foi transferido para o Ministério da Justiça. Até abril do ano que vem, as trocas ocorrerão em 13 pastas, todas ocupadas por senadores ou deputados que têm interesse em concorrer a algum cargo eletivo.


Eliane Cantanhêde: Alerta geral!

Jogar os políticos na primeira instância, com superintendentes camaradas da PF, é risco

O discurso de posse do delegado Fernando Segovia na Direção-Geral da Polícia Federal foi bem recebido, mas ele desperta dúvidas sobre o destino da Lava Jato e joga o foco em duas questões entrelaçadas: o fim do foro privilegiado para políticos e a substituição dos superintendentes da PF nos Estados. Pelo sim, pelo não, convém ficar de olho.

O risco é o deputado ou senador investigado sair da alçada do Supremo Tribunal Federal (STF) e o governador escapar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para cair no colo de um juiz amigo e de um superintendente da PF camarada.

A PF tem sete diretores. Um deles, o corregedor, tem mandato e independe da troca do diretor-geral, mas Segovia trocou todos os outros seis. Dois dos novos têm a simpatia do seu antecessor, Leandro Daiello, e os demais foram escolhas diretas do próprio Segovia, até mesmo na área de inteligência.

A dúvida maior é quanto aos superintendentes estaduais, lembrando que Segovia, apadrinhado por políticos, não pela cúpula da corporação, já foi superintendente no Maranhão dos Sarney. Se ele desanda a nomear superintendentes indicados por políticos, especialmente por investigados, a sinalização será clara: ele foi posto lá para “estancar a sangria”, como prega o líder do governo no Senado, Romero Jucá, referindo-se à Lava Jato.

É justo dar um voto de confiança a Segovia, que é jovem, tem boa ficha funcional, prometeu reforçar o time da PF no STF e fez um giro pelos gabinetes da presidente do Supremo, Cármen Lucia, e da procuradora-geral, Raquel Dodge, para mostrar a que veio. Só ficou estranho o encontro dele com o presidente Michel Temer. O chefe do diretor-geral da PF é o ministro da Justiça.

Mas é bom acompanhar a escolha dos superintendentes, em especial do próprio Maranhão, onde os Sarney têm lá suas encrencas, e no Rio Grande do Sul, onde se destaca o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, citado na Lava Jato e um dos padrinhos de Segovia. Os novos superintendentes têm de ser como a mulher de César: além de serem, eles têm de parecer honestos e profissionais.

Quanto ao foro privilegiado para 513 deputados federais e 81 senadores, há consenso de que é mesmo um privilégio, como o próprio nome já diz. Daí uma forte pressão da opinião pública e da própria cúpula da Lava Jato para rever isso. O curioso é que tanto investigadores quanto investigados defendem o fim do foro. E por que quem desfruta do privilégio quer acabar com ele? Pelo combate à corrupção, ou por que preferem ser investigados e julgados nos seus Estados?

É por isso que, em vez do “fim” do foro privilegiado, é melhor a sua “revisão”, com regras, limites e quem deve ou não ser alvo do STF e STJ. Tarefa para especialistas do direito e da política.

É fato, e é óbvio, que a primeira instância é muito mais célere do que o STF, soterrado por uma avalanche de processos e sem os meios para os casos de colarinho-branco, altamente complexos. Mas nem todo o juiz de primeira instância é um Sérgio Moro, de Curitiba, um Marcelo Bretas, do Rio, ou um Vallisney de Souza, do DF.

Vamos pensar sobre as relações entre o governador, o prefeito, o juiz, o superintendente da PF e o padre em capitais menores e em cidades do interior. Será que não se conhecem? Não frequentam as mesmas festas e restaurantes? Os filhos não são amigos? Aliás, não são padrinhos dos filhos uns dos outros?

No Senado, muitos já foram governadores e prefeitos e são pais de quem hoje ocupa essas posições. É melhor para um senador ser julgado no STF ou por juízes das suas relações? Então, a Lava Jato está num momento decisivo, com a nova procuradora-geral, o novo chefe da PF e o Supremo julgando a questão do foro nesta semana. Alerta geral!

 


Marco Aurélio Nogueira: Polarizações suicidas

PSDB em crise, PT recolhido, PMDB às voltas com as dificuldades de Temer, partidos em geral excitados com a aproximação de 2018. Todos fazem cálculos, tendo em mente a conquista dos eleitores. O troca-troca de legendas combina-se com a abertura da temporada de caça aos “melhores nomes”, a busca da posição ideal para apoiar esse ou aquele candidato, a preocupação com os desdobramentos do “efeito Temer” e das escolhas governamentais.

A fragmentação agradece, penhorada.

O estoque de artefatos polarizadores é grande: avanço ou retrocesso, reforma ou conservação, progresso ou reação, populismo ou responsabilidade, desenvolvimentismo ou neoliberalismo. Não faltam, evidentemente, os conhecidos esquerda x direita e PT x PSDB, ora em versões repaginadas ora no formato anquilosado de sempre.

A pergunta que ninguém faz é: a quem interessa a reposição dessas polarizações? Qual delas pode expressar os dilemas atuais do país e organizar os interesses fundamentais dos cidadãos?

O ponto comum das construções polarizadoras é a recusa ao diálogo, a reiteração de divisões improdutivas, a falta de uma articulação política que ofereça uma perspectiva de futuro para os brasileiros e modernize o país. Para dar vida a isso, criam-se campos ideológicos antípodas, soltos no ar, alimentados por frases de efeito modeladas sob encomenda e sem pé na realidade. Parte-se de uma visão de que a sociedade é mais dividida do que se vê, e com isso criam-se divisões por sobre divisões, agravando ainda mais o quadro.

Polarizações não devem ser temidas. São intrínsecas ao jogo político e ganham peso quanto mais a situação social é complexa, quanto mais a agenda nacional se mostra difícil e desafiadora, quanto mais o poder se mostra disponível.

Se não há consenso sobre quase nada, por que na política os polos não cresceriam? Se os próprios partidos não conseguem preservar seu molejo democrático e sua capacidade de alcançar uma autêntica “unidade dos distintos”, que autoridade teriam para condenar as polarizações?

O problema surge quando as polarizações fogem do controle e se artificializam, traduzindo-se em tensões insuperáveis, rupturas e intolerância. Podem assim se tornar crônicas, levando ao infinito a dialética amigo-inimigo e corroendo as bases mesmas de um consenso mínimo. Com isso, o que poderia haver de virtude nas polarizações se traduz por inteiro em seu contrário. Todos perdem. O caldeirão das crises políticas esquenta.

Com mais polarizações, aumenta a tentação de enquadrar tudo em esquemas binários tipo esquerda x direita. Com isso, pela própria dinâmica da luta ideológica radicalizada, deixa-se de lado o diagnóstico em benefício da agressividade verbal, do ardor retórico, do exagero performático. Para que tenha efeito, tudo é simplificado ao extremo, vira coisa plana, rasteira.

Vai-se assim num crescendo. No topo da escalada, o convite à boçalização cívica, o empobrecimento político, o desprezo pelos adversários ou pelos que pensam diferente, tudo devidamente empacotado por convicções e propagandas que simulam soluções rápidas e radicais, facilidades e biografias heroicas. Mentiras, invencionices e mistificações ganham livre curso.

É uma “guerra” complicada, pois não são se limita aos entrechoques ideológicos. Entram na liça também as opiniões – sempre mais desenfreadas – e as identidades, que buscam se afirmar por sobre classes, grupos de referência e partidos. Tudo devidamente turbinado pelas redes, onde as propostas para que se criem conexões e “pontes” (bridging) são fuziladas como se estivessem a priori comprometidas com concessões inadmissíveis. E nas redes, aliás, que melhor se expressa a tendência a que se hipervalorize o próprio gueto ou tribo e se menospreze tudo o que respira fora dele.

A consequência disso é a dificuldade para que se formem maiorias razoáveis, reflexivas, sem as quais propostas reformadoras ou lutas por direitos não têm como avançar. Viver a vida como se fosse uma batalha permanente pela afirmação de identidades particulares, por exemplo, pode ser o caminho mais curto para que os preconceitos se reproduzam. O eixo virtuoso – o combate sem trégua ao preconceito explícito ou subentendido – cede, por falta da capacidade de produzir apoio e persuasão.

Ao se engalfinharem em confrontos artificiais ou secundários, os “guerreiros” perdem de vista aquilo a que se deve dar prioridade. Vão ajudando a produzir quantidades absurdas de informação de má qualidade, saturando a agenda de proposições excludentes que nada acrescentam à construção democrática ou ao reformismo de que se necessita.

Essa modalidade inconsciente de burrice não é privilégio de nenhuma corrente política ou ideológica. É comum a todas.

Ela se mostra, à esquerda, pelas lentes do maniqueísmo e do esquematismo, que anunciam um “novo mundo” que estaria ao alcance da mão, bastando tão-somente uma boa dose de intransigência, de espírito contestador e de “vontade política”.

O bestialógico mais à direita é seguramente muito pior. Agrega gente que não se envergonha de praticar o reacionarismo mais tosco, burilando-o com frases de efeito e justificativas pífias. São pessoas que exibem publicamente sua simplicidade argumentativa, que falam de “marxismo cultural” sem saber do que estão falando, que manipulam descaradamente alguns gigantes do pensamento crítico (Marx, Benjamin, Gramsci, Marcuse) e são incapazes de reconhecer as sutilezas da política e do debate de ideias.

Para gente desse último tipo, tudo que respira, tudo que questiona o que está errado, tudo que canta um futuro mais justo, tudo que divulga sonhos e esperanças cabe em uma única caixinha: “comunistas”, que não somente comem criancinhas como querem infernizar a vida de todos e envenenar a alma dos viventes. Com tamanha estultice, só fazem empurrar o carro para trás.