Germano Martiniano

Alberto Aggio: 'Bolsonaro é o responsável por essas mortes provocadas pela Covid-19'

Em entrevista para o Papo Com Cabeça, o professor titular de história da UNESP/Franca, Alberto Aggio, responsabiliza o governo Bolsonaro pelo aumento exponencial das mortes, nos últimos dias, por Covid-19, ao minimizar a gravidade do vírus e ao trazer instabilidade política ao país, confrontando governadores e demitindo ministros

Por Germano Martiniano

Permitam-me iniciar a introdução desta entrevista com uma explicação sobre o blog. Este blog tem como objetivo fazer entrevistas com atores diversos de nossa sociedade, como esportistas, políticos, intelectuais e entre outras pessoas que direta ou indiretamente tornam-se notáveis pelas suas ações em nosso meio social. Este blog, notadamente, também possuí um viés mais liberal, e procura compartilhar noticias que se aproximem desta corrente. Entretanto, não é um espaço fechado, pelo contrário, é um lugar que procura trazer o pensamento antagônico para se abrir ainda mais o leque do debate.

Dito isso, na semana passada, entrevistei o professor e doutor de história da UNESP/Franca, Jean Marcel, um intelectual reconhecidamente liberal. Nesta semana, trago uma entrevista que pode ser um contraponto em relação ao que tivemos com o professor Jean. O entrevistado da vez para o Papo Com Cabeça, é o também professor e doutor de história da UNESP/Franca, Alberto Aggio, intelectual de centro-esquerda e grande especialista do pensamento gramsciano.

Aggio se destaca no cenário intelectual por sua incisiva defesa pela democracia. Para o professor, a conquista da democracia no Brasil, após o regime militar, “foi muito custosa e difícil”. Por isso, ao ser indagado se Bolsonaro representava um risco ao campo democrático, Aggio foi enfático: “o governo Bolsonaro fez uma opção estratégica pelo confronto e isso gera uma sensação de ameaça e insegurança permanentes em relação à manutenção da democracia”.

No auge da crise sanitária do Covid-19, não poderíamos deixar de discorrer sobre o assunto e como Aggio analisa as ações do governo Bolsonaro frente ao problema. Para o professor, o presidente brasileiro é o grande responsável pela instabilidade política no país, pela extensão do número de contaminados e pelo aumento do número de mortes, que ultrapassa a casa dos 22 mil mortos. “Bolsonaro minimiza a epidemia, confronta governadores e prefeitos, mantem os ataques à mídia, demite dois ministros da saúde e outro que é símbolo da luta contra a corrupção”, avalia Aggio.

Ainda nesta entrevista falamos sobre Democracia Liberal, Social Democracia, Liberalismo e outros assuntos que envolvem nosso dia a dia social e político. Confiram!

Como você avalia o governo Bolsonaro, antes da crise, e agora na forma como está lidando com o Covid-19?

Alberto Aggio - O governo Bolsonaro é resultado de uma eleição legítima, uma rotina em qualquer democracia. Contudo, desde o início, o presidente se pauta por uma estratégia de “destruição” de tudo o que o país construiu nos últimos 30 anos, ou seja, tudo que vem do processo de democratização assentado na Constituição de 1988. Bolsonaro diz que seu objetivo é acabar com a “esquerda”. Na sua versão, com as instituições sociais, politicas e culturais que deram curso à democratização do País. É um equívoco. A democratização foi compartilhada para além da esquerda. Com essa concepção, Bolsonaro expressa a visão da ala mais reacionária do regime militar (1964-1985), aquela que quer repor um regime autoritário por meio de mecanismos democráticos. A estratégia de Bolsonaro é a do confronto. Ele não governa, é um ativador de tensões que busca construir inimigos, muitas vezes imaginários (como a exumação do comunismo como ameaça). Ele instaura um clima de ameaça, afastando-se da ideia basilar de que numa democracia há adversários e não inimigos que precisam ser eliminados. É uma dinâmica que não pode ser parada só pode ir adiante. É o que chamei em um artigo de “guerra de movimento” (https://blogdoaggio.com.br/isso-e-bolsonaro/). A “obra de destruição” que busca Bolsonaro não pode ser realizada em apenas um mandato. Por isso, seu horizonte é a reeleição. Quando vem a crise sanitária provocada pelo coronavírus, tudo fica mais crispado pois suas consequências, principalmente econômicas, ameaçam sua reeleição. O que faz então Bolsonaro? Minimiza a epidemia, confronta governadores e prefeitos, mantem os ataques à mídia, demite dois ministros da saúde e outro que é símbolo da luta contra a corrupção, apoia e vai a manifestações públicas que pedem o fechamento do STF e do Congresso, ou seja, radicaliza sua “guerra de movimento”. O resultado é a queda de popularidade nas pesquisas. Começa-se a se falar em impeachment. Bolsonaro é obrigado a rever, pelo menos em parte, a estratégia de confronto. Move-se em direção ao Centrão no intuito de constituir uma base parlamentar para evitar o impedimento. É aí que estamos: incerteza, insegurança, preocupação com a continuidade da democracia no Brasil e com a licitude dos recursos públicos uma vez que, como disse Sérgio Abranches, Bolsonaro visa formar com o Centrão não uma “coalizão de governo” mas uma “colusão”, ou seja, um arranjo para enganar (http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2020/05/19/sergio-abranches-bolsonaro-em-modo-defesa/). Se o governo se sustenta na “ala ideológica” de extrema-direita mais a dos militares, agora Bolsonaro dá passos em direção a um campo que contradiz o seu discurso de campanha contra a alegada “velha política”, promovendo um claro “estelionato eleitoral”. Mas pode bloquear o impeachment, que é o objetivo da operação.

As mortes no Brasil estão crescendo, no entanto, proporcionalmente, por milhões de habitantes, estamos atrás de muitas nações desenvolvidas. Ou seja, mesmo países como Inglaterra, Espanha, Itália etc., não souberam lidar da melhor forma com o vírus. Neste ponto, você não acha que existe uma tentativa da oposição política e parte mídia em responsabilizar o governo Bolsonaro por um problema que tem sido difícil combater até mesmo nas nações mais avançadas?

A.A. Não, não acho. Embora o enfrentamento da pandemia seja complicado porque se trata de algo desconhecido, não creio nem que o Brasil esteja se saindo melhor que países europeus, nem que a mídia atue contra o governo Bolsonaro. O exemplo europeu (e chinês, antes) mostra que a quarentena foi obrigatória, uma imposição, e não uma escolha. Os países europeus, agora, estão saindo dela enquanto o Brasil está entrando na pior fase, com o aumento expressivo do número de mortos. Cabe a pergunta: quem seria o principal responsável no combate à epidemia no Brasil? O governo Bolsonaro, quem mais seria? O Ministério da Saúde deveria fazer a mediação dos entes federativos para enfrentar a epidemia. Mas Bolsonaro atacou de saída os governadores que tinham que dar respostas imediatas à enfermidade. Criticou Mandetta quando o ex-ministro, em meados de março, esteve em São Paulo reunido com o governador João Doria discutindo providências diante da pandemia. Foi Bolsonaro quem politizou o combate a epidemia da Covid-19. Pensou que iria prejudicar sua reeleição, se sentiu ameaçado. Bolsonaro não fez outra coisa senão atrapalhar as ações da saúde, abandonando qualquer relação positiva com os governadores e prefeitos. Jamais convocou o país para juntos – congresso, sociedade civil, mídia, etc. –, enfrentar a epidemia. Ele não acredita nas indicações científicas, não aceita o isolamento social e se fixou obcessivamente nas supostas virtudes da cloroquina para curar os contaminados. Minimizou as mortes com o patético “E daí?”. Estimulou seus apoiadores a irem às ruas defender a volta ao trabalho, adotando a estratégia de opor economia e vida. E mais: na dantesca reunião de 22 de abril (como corretamente a definiu Vera Magalhães (https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/vera-magalhaes-o-inferno-de-dante.html), Bolsonaro propôs um decreto para armar a população com o suposto intuito de enfrentar decisões de dirigentes eleitos democraticamente a respeito do isolamento social.  E aqui estamos, ultrapassando a casa dos 22 mil mortos e isso vai se acelerar. Bolsonaro é sim o responsável por essas mortes provocadas pela Covid-19. Seria dele que os brasileiros deveriam esperar liderança, apreço e convicção na ciência além de compaixão nesse momento tão difícil. Mas ele só ofereceu deboche, desorientação e morte.

Aggio, a economia brasileira é marcada pela informalidade, milhares de pessoas não possuem nem CPF para receber o auxílio emergencial. Nossa realidade é bem distinta dos países mais avançados que permitem ações mais restritas quanto o isolamento social. Como lidar com essa situação na qual as pessoas necessitam, como diz o jargão popular, de vender o almoço para garantir a janta?

A.A. - Esse país conseguiu criar um “cadastro único” para os mais pobres receberem mensalmente as várias bolsas, desde FHC, e o bolsa família. Não conseguiria fazer algo similar nessa situação de emergência? É uma “desculpa deslavada”, como se diz popularmente. Isolamento social não é coisa de rico, como o discurso bolsonarista quer fazer crer. Inclusive, nenhum prefeito ou governador propôs isolamento total (lockdown). Atividades essenciais continuam a operar e por isso se fala que o ideal seria um isolamento entre 50% e 70%; ninguém falou em 100%. Claro que existem dificuldades, mas onde elas existem, como na favela Paraisópolis, em São Paulo (quer um lugar onde tenha mais pobreza e necessidades?), os moradores se organizaram para se ajudar e garantir algum isolamento. Recentemente se inaugurou um hospital de campanha na área para atender aquela população. E de Bolsonaro veio o quê? A noção de “isolamento vertical”, que é uma falácia: imagina-se que confinando os grupos de risco (idosos e quem tem comorbidades) se diminui o contágio e possíveis complicações. Isso não é verdade. As pessoas que convivem com eles levam o vírus para dentro das casas. Além disso, no Norte do país, no Amazonas, está morrendo gente jovem de coronavírus; perto de 40% ou mais não são de grupo de risco. Os problemas da pandemia podem ser enfrentados com solidariedade, ciência e espirito público. Mas isso o governo Bolsonaro parece que não carrega como uma de suas virtudes, se é que em alguma.

Aggio, embora Bolsonaro fale grandes bobagens e possua algumas ações que flertam com a ditadura brasileira, como ter comparecido em um movimento de rua que pedia a volta do AI-5, vemos que os poderes legislativo e judiciário continuam agindo de forma independente, nossas instituições parecem preservadas e a opinião pública livre e independente para se manifestar. Mediante ao que escrevi acima, para você, o governo Bolsonaro representa uma ameaça à democracia brasileira? Se sim, por que?

A.A. - Como eu disse acima, o governo Bolsonaro fez uma opção estratégica pelo confronto e isso gera uma sensação de ameaça e insegurança permanentes em relação à manutenção da democracia. As instituições da democracia só continuam funcionando em função de atores políticos, sociais e culturais que dão vigor a elas. Bolsonaro não apenas diz bobagens. Ele dirige e orienta ações contra a democracia. Vide suas posições em relação à imprensa (creio que não preciso mencioná-las), ao meio ambiente, à cultura, ao patrimônio histórico, às universidades, etc.. Está claro que é um governo extremista de direita, nada liberal e que atenta contra direitos básicos que estão da Constituição. Pior, ele isola o país internacionalmente, faz com que a sociedade regrida em inúmeras pautas civilizatórias e humanistas que tínhamos avançado em termos sociais e culturais, como as dimensões de gênero, a questão da violência, da solidariedade, da laicidade do Estado, etc. Uma das marcas de Bolsonaro é o seu antiintelectualismo e isso faz com que todo o governo seja impactado por essa visão. Contra a Constituição de 1988, Bolsonaro retira (ou expulsa) do Estado a sociedade organizada, que é um dos elementos de sua desoligarquização, ou seja, da ampliação do próprio Estado, pela via da democracia. Com Bolsonaro, a democracia está bloqueada e regride. E isso gera uma sensação de retrocesso que é sentida no conjunto da sociedade. Não é atoa que ele despenca nas pesquisas e mantem seu apoio apenas no núcleo mais radical, que o apoia cegamente.

Existem elementos suficientes que justifiquem um possível pedido de impeachment? Caso existam, você acredita que ele possa ocorrer?

A.A. - Inúmeros especialistas em direito constitucional já disseram que sobram elementos para o impedimento de Bolsonaro. Em geral, os crimes contra o decoro lideram a lista. Tentar utilizar, por exemplo, a Polícia Federal para defender a família e os amigos é prevaricação, ou seja, é mais do que intervenção, o que já é inconstitucional. Manter um sistema de informações privado (que não se sabe muito bem o que é) está fora das atribuições constitucionais de um presidente da República, é um outro exemplo. Contudo, a questão é política, antes de tudo. Olhando a situação com as lentes de hoje, creio que não existe maioria suficiente na Câmara dos Deputados para avançar um processo de impeachment. Lançá-lo poderia reforçar Bolsonaro ao invés de enfraquece-lo. A operação realizada em direção ao Centrão surtiu efeito. Por outro lado, a crise sanitária e a necessidade de isolamento social impedem que o sentimento de desencanto com o governo transborde para as ruas numa contestação massiva. Penso que a ameaça de existência ou de criação de uma “milícia armada” dentre os apoiadores de Bolsonaro é outra coisa preocupante. Ambos os fatores definem muito da situação complicada para o impeachment, em termos políticos. O processo de crime comum que seria encaminhado pela PGR ao STF, aparentemente mais rápido, tem outros obstáculos. É difícil dizer hoje por onde esse processo irá ser encaminhado ou se será encaminhado.

Aggio, em 2018 você participou do Ato do Polo Democrático Reformista, um movimento de políticos e intelectuais de centro que, naquela ocasião de eleições, visava combater os chamados extremos, Bolsonaro e o PT. Em recente artigo (https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/mathias-alencastro-vida-e-morte-da.html), Mathias Alencastro, doutor em Ciência Política por Oxford, disse que na Europa partidos políticos, até de diferentes vertentes, têm se unido para combater o extremismo de direita, citando a “Geringonça” de Portugal. Pois bem, em 2018 e trazendo para os dias atuais, se os partidos de centro, e até mesmo o Polo Democrático Reformista, estavam tão preocupados em “salvar” a democracia dos considerados extremos, por que não houve uma união entre os nomes e partidos democráticos de centro, como Ciro, Alckmin e Marina?

A.A. - É difícil responder a isso. É claro que cada opção eleitoral feita deve se responsabilizar por suas consequências. Creio que houve muitos erros de encaminhamento e de opções. Havia um clima muito desfavorável à política. Eu mesmo escrevi sobre a antipolítica como um caldo de cultura antidemocrático naquela conjuntura. E todos nós perdemos. Mas mesmo assim, continuamos preocupados em “salvar” a democracia. A sua conquista no Brasil foi muito custosa e difícil. É justo que nós a defendamos. É verdade que na Europa existiram articulações que impediram, em alguns países, a ascensão da extrema-direita ao poder. Na Itália isso é bastante claro. Matteo Salvini imaginou que poderia conquistar “plenos poderes”, mas fez uma manobra desastrada que abriu a possibilidade de retirá-lo do poder. É um caso especifico. Na Espanha houve uma espécie de renascimento do PSOE e o Podemos, depois de muitas reviravoltas, moveu-se para uma aliança de “governo de esquerdas” e o VOX (extrema-direita) foi anulado. Creio que a Geringonça, em Portugal, pelas informações que tenho, nunca foi uma coalisão eleitoral e sim uma colisão de governo. Hoje ela não existe mais. Mas em Portugal, a extrema-direita é fraquíssima.

Você enxerga a necessidade de uma união dos partidos para vencer Bolsonaro e/ou o PT, assim como colocou Mathias Alencatro?

A.A. - Mais do que união de partidos, creio que será necessário unir todos os democratas, da direita à esquerda, para vencer Bolsonaro. O PT não está no governo. Ele já foi derrotado. O PT representa setores importantes das classes populares, mas não é um sujeito democrático confiável, além de ter um passivo terrível no que se refere à corrupção e ao aparelhamento do Estado. Além de uma liderança ancilosada, que é o Lula. O problema do Brasil hoje é Bolsonaro e não o PT, que está em declínio, enfraquecido, embora tenha alcançado um bom desempenho nas majoritárias de 2018. De qualquer forma, a sociedade reconhece a polarização entre Bolsonaro e o PT. O problema é superar esse reconhecimento, indicar que a situação hoje é outra. Bolsonaro nos leva para o precipício. O vídeo revelando a reunião ministerial de 22 de abril é pavoroso, nos enche de vergonha, demonstra que o Brasil precisa ultrapassar o erro de 2018 e voltar a pensar em novas possibilidades, novas lideranças, que sejam capazes de unir o país e voltar a pensar no seu futuro.

Aggio, quando você vê a ascensão de grupos denominados de extrema direita no mundo, como um todo, você acredita que isso é parte da democracia, dar voz a pluralidade de ideias políticas, ou você analisa como uma ameaça ou crise “DA” democracia liberal?

A.A. - Essa extrema-direita que está aí é iliberal. Foi Viktor Orban, primeiro ministro da Hungria, que criou a expressão “democracia iliberal” para caracterizar esse movimento. D. Trump e J. Bolsonaro a representam à sua maneira e em seus países. Isso é público e insofismável. Essa corrente política é contra o pluralismo que caracteriza a democracia liberal que conhecemos. Contradita também as diversas correntes do liberalismo democrático que vicejou no final do século XX nos países mais avançados e que ainda está aí. Essa extrema-direita é visceralmente contra a democracia como civilização. A ascensão da extrema-direita não é resultado do pluralismo, justamente o contrário, é resultado de uma fragilidade e de equívocos que permitiram que isso ocorresse. A virtude da democracia aponta para a ampliação da emancipação humana e não para um projeto de individualismo exacerbado e de guerra de todos contra todos. Penso que o crescimento dessas forças políticas expressa uma crise da e na democracia ocidental; uma coisa não exclui a outra, como pensam alguns. E se prende a conflitos políticos e econômicos da nossa contemporaneidade e não a batalhas ideológicas simplesmente. É um problema que tem que se abordado pela política e não pela gramática da ideologia.

Admitindo a radicalidade desses extremos, qual autocritica que os democratas liberais poderiam fazer e quais mudanças poderiam realizar para contornar este cenário?

A.A. - Creio que autocrítica devemos fazer todos, pois perdemos eleitoral e politicamente. Mas devemos continuar a defender a democracia. Estamos num momento defensivo e para melhor defendê-la é preciso também avançar. A democracia não é um sistema ou regime político que possa existir sem uma defesa intransigente dos seus princípios e valores: liberdade, emancipação, deveres e direitos, compromisso político, institucionalidade, transparência, justiça social, etc… Dois pontos são importantes. Primeiro, pensar a democracia como complexidade. Ela não se materializa, não se concretiza, não se torna real, a partir da simplificação, uma visão branco e preto, com todas as perversões do pensamento binário. Essa visão da política, no nosso caso, leva rapidamente para as ideias sempre estúpidas de um “salvador da pátria” ou de um “mito” que muitos seguem cegamente. Segundo, que a democracia só se vitaliza, só avança com “mais democracia” ou, em outros termos, democratizando a democracia. Essa é uma formulação presente nos liberais progressistas que se aproxima bastante de formulas progressistas da esquerda democrática, socialdemocrática e reformista.

Aggio, a analista econômica, Renata Barreto, em artigo para o InfoMoney, disse para “não confundirmos o modelo nórdico com socialista”. Durante o artigo, ela discorre que apesar das altas taxas de impostos cobradas pelo governo, a Dinamarca, por exemplo, tem várias características de um país liberal. Pois bem, este debate Liberalismo versus Social Democracia ainda existe? Os países nórdicos são, de fato, sociais democratas?

A.A. - Tem que se olhar o liberalismo do ponto de vista histórico. Lembro que Harold Lask, historiador inglês, dizia, que o socialismo seria uma consequência natural da aplicação do liberalismo. Muito pouca gente sabe que o liberal G. Mazzini, um dos líderes da unificação italiana e o comunista K. Marx, publicavam seus escritos pela mesma editora londrina, por volta de 1846/48, a “Northern Star”, que se notabilizou pelos debates sobre democracia e o movimento operário às vésperas das revoluções de 1848. Os socialdemocratas que, no final do século XIX, começaram a participar das eleições e ascenderam ao governo em países que cada vez mais se tornavam democracias liberais, como E. Beirstein e K. Kautsky, foram criticados como liberais e traidores de classe. Por conta deles e de outros, passou-se a se falar em “socialismo liberal”. Veja, são exemplos históricos que anulam a versão de que há uma contradição antagônica entre liberalismo e socialdemocracia. O liberalismo é uma concepção de mundo enquanto a socialdemocracia foi e é uma política de massas no contexto do Estado Ampliado. Para finalizar, a noção de “regulação” nasce nos países nórdicos com os socialdemocratas entre as duas guerras e era uma alternativa tanto ao fascismo quanto ao comunismo nos anos 30. Não há dúvida que os países nórdicos são socialdemocratas e que o liberalismo não seja algo estranho àquela construção histórica. O que é certo é que eles não permanecerão congelados historicamente.

O nacional desenvolvimentismo petista trouxe grandes prejuízos ao Brasil, sem falar do grande “projeto” de corrupção descortinado pela Lava-Jato. Depois do petismo, do excesso de Estado e funcionalismo público, temos visto muitas pessoas (inclusive eu) defendendo menos Estado e mais mercado. Como você avalia as ideias liberais, hoje até mais representadas pelo Partido Novo e pelo ministro Guedes, na sociedade brasileira como um todo?

A.A. - Veja, o PT não adotou o nacional-desenvolvimentismo durante todo período dos seus governos. O primeiro governo Lula e o último de Dilma são completamente distintos nesse sentido.  A questão da hipertrofia do Estado em nossa história é muito anterior a isso. O nosso estatismo forma parte de uma espécie de tradição que nos acompanha deste a colonização portuguesa, se acentuou no Império e não pode ser excluída de nenhuma fase de nossa história republicana. O regime militar foi ao mesmo tempo estatista e liberal, dando vazão aos apetites empresariais no período do chamado milagre brasileiro (1968-1973), o tal “espirito animal” ou “selvagem” do empresariado a que se referia Delfim Neto, ex-ministro da Fazenda do regime militar. Contudo, nos dias de hoje, pensar de forma apartada e até oposta os conceitos de Estado e mercado talvez não faça mais sentido e nem seja produtivo. O pensamento neoliberal quer mantê-los apartados. Mas não tenho dúvidas que as ideias liberais no Brasil vão muito além das referências ao partido Novo ou a Paulo Guedes. Aconselho a se visitar as páginas de um grande jornal liberal, O Estado de São Paulo, para ver como uma das mais importantes linhagens do nosso liberalismo avalia o país sob Bolsonaro. Por outro lado, há diversos liberais que pensam de forma independente e são muito críticos tanto ao Novo e mais ainda ao Guedes, um neoliberal que, formado em Chicago e inspirado no caso chileno do período pinochetista, distancia-se da tradição das linhagens mais importantes e relevantes do liberalismo aqui no Brasil, que podem ir de Pedro Malan, Bolivar Lamounier até Monica de Bolle e Elena Landau, para citar apenas alguns da boa cepa que esse país já produziu.

Para encerrar, falando em projeto de poder para o Brasil e frente a este debate de mais ou menos Estado, o que você considera ser essencial para o nosso país mediante toda a nossa realidade socioeconômica?

A.A. - Este talvez seja um tema para uma outra entrevista de tão complexo que é elaborar um projeto aqui, em poucas linhas. De qualquer forma, creio que temos que ultrapassar essa situação terrível que estamos vivendo, acossados por uma pandemia e submetidos à deriva que nos é imposta por um governo como o de Bolsonaro. Temos que resgatar a nossa capacidade de diálogo, de nos atualizarmos ao mundo e de olharmos para as nossas particularidades enquanto país que se modernizou carregando inúmeros déficits que expressam a nossa dramática desigualdade bem como nossa miséria cultural e moral, sérios obstáculos à democracia. Não há salto a ser dado nem “fuga para frente” a ser seguida, como se pensou no passado. O nosso destino está dado aqui e agora. Esse é o desafio.


Germano Martiniano: O abstrato e a realidade

Há algumas semanas José Mojica visitou a cidade de Franca/SP para participar da XIV Semana de Relações Internacionais da UNESP. O evento aconteceu na tradicional escola Pestalozzi. Se eu fosse escrever sobre o evento em si sei que estaria um tanto quanto atrasado. No entanto, minha intenção é usar a palestra e as palavras de Mojica como analogia para a atual realidade.

O ex-presidente do Uruguai é de uma eloquência e retórica magistrais, soube prender a atenção do público mesmo não falando português. Seu discurso abordou vários temas, que horas se pôde ver um estadista, propondo saídas para o fortalecimento da economia da América Latina através da integração econômica para fazer frente às grandes potências mundiais; perpassou pela crítica ao sistema capitalista que nos oferece o que há de melhor em tecnologia, mas que é incapaz de usa-la a favor da equidade social; até chegar ao discurso motivacional do homem simples, bucólico, que valoriza as pequenas coisas da vida como valores essenciais para felicidade.

Em linhas gerais, Mojica não propôs caminhos, não discorreu sobre vias políticas para que pudéssemos chegar a uma sociedade mais igualitária, apenas apontou onde devemos chegar. Estes aspectos não diminuem a riqueza de seu conhecimento e sua palestra. Entretanto, e talvez nem por falha do ex-presidente uruguaio, a ausência de aspectos técnicos de como se alcançar a sociedade que ele deseja, abriu espaço para a instrumentalização do seu discurso. O “Fora Temer e o Não Vai Ter Golpe” ressoaram no evento como premissa indispensável para se alcançar a sociedade sonhada por Pepe. Perdeu-se assim uma ótima oportunidade de discorrer e refletir, dentro do pluralismo democrático, o imenso conhecimento do ex-presidente e as várias vias que existem para um Brasil mais equânime!

A presença de Pepe em Franca foi e é simbólica para nosso atual momento, julgamento do impeachment de Dilma Roussef, pois mostra o quanto parte da nossa população ainda é imatura politicamente ao negar o pluralismo democrático. O abstrato e a realidade ainda andam distantes em terras tupiniquins. Sonha-se com a democracia, mas rejeita-se as implicações que a mesma traz. Prefere-se o jogo de acusações, do que aprofundar-se no conhecimento. No final, este é o Brasil que conhecemos, sempre procurando a lei do menor esforço!


Por: Por Germano de Souza Martiniano, formado em Relações Internacionais pela UNESP Franca e assessor de comunicações da Fundação Astrojildo Pereira.


Germano Martiniano: O ouro é uma coisa, os 7 a 1 é outra

O brasileiro, ou o ser humano em geral, tem uma séria mania de querer comparar fatos que, muitas vezes, são desconexos. Depois da final Olímpica de Futebol Masculino, na qual batemos a Alemanha nos pênaltis, vi algumas pessoas no Facebook dizerem: “enquanto estamos comemorando este ouro, nossa educação, saúde, segurança etc., continuam sem medalha alguma”. Que o nosso país possuí seríssimos problemas socioeconômicos é inegável. Mas, o ouro é uma coisa, os 7 a 1 que tomamos da Alemanha em 2014, e continuamos tomando em indicadores sociais é outra.

O ouro conquistado no Maracanã pelo nosso futebol é simbólico. O estádio é o nosso cartão postal do futebol, ainda que sua obra original tenha sido destruída para se realizar as “modernas e eficientes” arenas. Foi no Maracanã que perdemos a final da Copa do Mundo de 1950 com, quase, 200 mil torcedores no estádio. Este ouro também é a única medalha que o futebol não possuía e que existia uma grande pressão para tê-la. Um outro fator que aponta este simbolismo é o próprio esporte, o futebol no Brasil não é apenas uma modalidade esportiva, é expressão social, é algo que uni nosso povo em torno de um objetivo em comum. É acima de tudo a maior paixão da maioria dos brasileiros. Por isso a comoção tão grande.

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Outra comparação equivocada foi pessoas dizerem que esta vitória sobre a Alemanha serviria de revanche sobre a dolorida derrota no Mineirão em 2014 por 7 a 1. Esta derrota para Alemanha nunca terá uma revanche, todo brasileiro levará este fardo por suas vidas. Se a vitória olímpica foi simbólica como dito acima, não menos simbólico também foi a derrota em 2014, afinal a Alemanha veio ao Brasil mostrar que ganhava de goleada não apenas no campo, mas em estrutura de futebol. E se falarmos em fatores socioeconômicos os alemães aumentam esta goleada sobre nós. Portanto, para o Brasil apagar os 7 a 1, primeiramente teria que reformar toda sua estrutura futebolística, segundo recuperar o seu futebol de essência, terceiro ganhar dos alemães de 7 a 1 lá na Alemanha, e quarto apagar da memória esta derrota. As três primeiras opções já parecem complicadas, a quarta é impossível. Pois, na vida não esquecemos das coisas, aprendemos a conviver com perdas e dores e as substituímos por outras coisas que dão razão a nossa existência, mas apagar nada apaga. A revanche nunca acontecerá!

As Olimpíadas terminaram, o Brasil ficou aquém do esperado em termos de desempenho e medalhas. A lição que fica é: o esporte é maravilhoso e transformador. Como foi bonito ver o Serginho do vôlei, de história humilde, conquistar sua quarta medalha olímpica. Assim como o Serginho existem vários outros exemplos que mereciam ser contados. Por isso pergunto: “como não se comover? ”. Temos de celebrar nossas conquistas, comemorar e curtir os prazeres que elas nos trazem, mas saber que nossa responsabilidade social como cidadãos não se modifica. Ontem, domingo 21 de agosto, terminaram os jogos olímpicos, hoje, segunda-feira 22 de agosto, continua a vida normalmente. Os ouros que conquistamos estão para história, os 7 a 1 que levamos no futebol e levamos em nossa vida social diariamente continuam latentes, é necessário separar os fatos e ter coragem e disposição para modificar nossa realidade.


Por Germano de Souza Martiniano. Formado em Relações Internacionais pela UNESP Franca e assessor de comunicações da Fundação Astrojildo Pereira.


A FAP esteve presente no curso de Política e Políticas Públicas

Na última sexta-feira, 22 de julho, se encerrou mais um curso de Política e Políticas Públicas ministrado pelo Professor Mestre Leonardo Queiroz Leite que também é doutorando pela FGV.

O curso que aconteceu na cidade de São Paulo, no bairro Alto do Ipiranga, foi divido em 03 partes, que foram apresentadas, respectivamente, na segunda, quarta e sexta-feira da última semana. O conteúdo discutido foi:

Parte I: Políticas Públicas: princípios e fundamentos

Dias 18 e 20/07

  • Conceitos de Políticas Públicas;
  • Breve histórico da Administração Pública no Brasil;
  • Modelos de Gestão Pública;
  • Três momentos estruturantes das políticas públicas no Brasil;
  • O ambiente político e sua influência nas políticas públicas;
  • Os atores do processo de produção de políticas públicas;
  • O ciclo das políticas públicas e as teorias de políticas públicas;
  • A Reforma do Estado e a Nova Gestão Pública no Brasil.

Parte II: Análise do cenário e a crise política atual: origens e desdobramentos

Dia 22/07

  • Judicialização da política;
  • Origens da crise política no Brasil;
  • O novo protagonismo das ruas no Brasil: a mobilização da direita;
  • Caminhos para o futuro?
  • A relação entre a Política e as Políticas Públicas.

Como se pode ver, vários temas foram tratados ao longo destes três dias, o que seria impossível resumir em apenas um texto, porém alguns pontos merecem destaque:

Primeiramente, as aulas foram expostas com muita autoridade pelo professor Leonardo, que se mostrou muito conhecedor dos temas propostos.

Em segundo lugar, a turma que continha em torno de 12 alunos foi bastante participativa, trazendo questionamentos altamente enriquecedores para o debate político, alguns deles: a bancada evangélica que cresce cada vez mais no governo está impedindo de termos um Estado Laico? Qual o papel e o que de fato esperar da imprensa em relação às políticas públicas? Qual o papel da sociedade nas definições das políticas públicas?

Esses foram alguns dos questionamentos que direcionaram os debates em sala. E o grande aprendizado que fica a todos nós, que participamos do curso, é que a política não deve ser o local apenas de pessoas que querem corromper o sistema, a política deve ser vista como algo nobre e preenchida por pessoas que querem, de fato, fazer algo pelo bem social.

A Fundação Astrojildo Pereira, como instituição que difunde o conhecimento político e que apoia o aprofundamento do debate democrático como ferramenta indispensável por um Brasil mais justo, estará sempre em parceria com cursos e palestras como este. Um forte abraço ao professor Leonardo, a Veruska sua assistente e a todos os participantes. Até a próxima!


Por: Germano Martiniano


Germano Martiniano: Nós ou eles?

Domingo 17 de abril, foi um dia histórico para o Brasil, no qual se votou na câmara dos deputados pela continuidade do processo de Impeachment contra a presidente. A maioria optou pelo SIM, pelo Impeachment. Ainda existe um longo caminho para que a Dilma saia, em definitivo, do governo. Contudo, é inegável que um grande passo foi dado, e independentemente do que acontecer daqui para frente a vitória do sim, neste domingo, tem um peso histórico enorme.

As falas dos deputados, antes de realizarem seus respectivos votos, foi o ponto enfadonho da votação. Com exceção de alguns, a maioria dedicava o voto a família, a Jesus, a Deus etc., demonstrando que nosso estado está longe de ser laico. Bolsonaro, como sempre, destilou baboseiras em sua fala. No outro extremo Jean Wyllys julga "canalhas", fascistas e homofóbicos os que não pensam como ele. Tirando estes extremos, um ponto me chamou atenção na análise do processo de Impeachment. Muitos deputados disseram: "não posso negar o pedido das ruas!"

Pode ser que estes deputados tenham dito isso para fazer média com a população. Sempre existem interesses obscuros na politica. Mas é impossível ignorar milhões de pessoas nas ruas clamando por mudanças.Por isso o peso histórico. É leviano dizer que a maioria da população brasileira é golpista, fascista ou qualquer denominação do tipo. Na democracia temos de aceitar o posicionamento contra, democracia é viver no dissenso. Porém, o dissenso tem que ser honesto. A tática petista em colocar o "Nós", pessoas esclarecidas, democráticas e que lutamos pelos pobres, contra "Eles", elitistas, ditadores e burgueses, não é opinião contrária, não é argumento, é farsa, é mentira, é desrespeito e ignorância.

As pessoas contra o Impeachment continuam a remeter tudo o que está acontecendo com o golpe de 1964. Palavras não precisam ser gastas neste texto para se compreender básicas diferenças. Penso que essas pessoas, no vazio de suas vidas, precisam encontrar sentido na existência. Criam uma ditadura em suas cabeças e decidem lutar contra ela. Um tanto quanto esquizofrênico. A vida continua, não existe "nós" contra "eles", politica não é guerra. O Brasil é um só, o dissenso é importante, desde que exista argumentações e não estigmatizações.

Hoje, segunda-feria, 18 de abril, a vida continua, o Impeachment não pode ser tudo ou nada na vida do brasileiro. O povo brasileiro precisa se politizar a cada dia, precisamos ser além de futebol e carnaval. O dia em que ascendermos dessa posição medíocre veremos que nosso debate politico pode ser mais rico do que "nós" e "eles", e que também exite outros pronomes: eu, tu, ela, vós e elas!!!

Germano Martiniano - Assessor de Comunicação da FAP e formado em
Relações Internacionais pela UNESP/Franca


Um brinde à maior manifestação da história

“Brindo a casa, brindo à vida, meus amores, minha família”. Parafraseando O Rappa, um brinde também ao povo brasileiro pela bela manifestação de ontem, que superou em número de pessoas o movimento das Diretas Já. Quem não merece um brinde é o governo petista, que “assalta” diariamente as casas, as vidas, os amores e as famílias brasileiras. Sem dúvida, o dia 13 de março de 2016 ficará para história.

O nome da música parafraseada é “Mar de Gente”, e foi isso que se viu pelas ruas do nosso país, um grande conglomerado de pessoas pedindo, principalmente, o impeachment da presidenta Dilma. Os movimentos sociais que começaram em 2013 ainda difusos, sem uma ideia definida, neste momento ganham o contorno principal: fora Dilma, fora PT. Se a Dilma sofrerá o impeachment, ou até mesmo renunciará, é uma interrogação, mas uma coisa é certa, está cada dia mais difícil a governabilidade petista. Se não for agora, em 2018 teremos renovação.

O Brasil carece de renovação politica. O povo brasileiro, como foi dito, está de parabéns por ocupar as ruas e avenidas, mostrando toda sua indignação. Entretanto, um fato é preocupante, a maioria sabe o que quer para o momento, tirar a Dilma do governo. Mas, e depois, o que o povo brasileiro espera de um novo governo? Pois, frases como “Devolva nossa pátria; Queremos um governo melhor e mais justo; Queremos mais empregos” são aclamações pertinentes e necessárias, mas são subjetivas. Devolva nossa pátria para quem? O que é um governo mais justo? Como aumentar os empregos?

Em uma manifestação politica dessas proporções, normalmente, as pessoas não irão debater pontos como esses. Eles virão a posteriori. Primeiramente a queda do governo Dilma, depois os próximos passos. Porém, ainda assim é preocupante a situação, pois a população mostra nas ruas um grande desconhecimento politico sobre questões essenciais. Governos de esquerda ainda são facilmente ligados ao PT, como se a esquerda fosse, exclusivamente, o PT. Há também, uma grande dose de americanismo nas manifestações, o já banalizado American Way Of Life volta à tona, como se fosse a solução de nossos problemas. Esses são apenas alguns exemplos.

O brasileiro precisa viver em um país onde possa brindar a casa, a família, a vida e seus amores. Esses são direitos básicos de todo ser humano para se ter uma vida digna. O brasileiro merece isso. Mas, acima de palavras de ordens também é necessário maior politização, só assim se poderá construir um Brasil mais justo.

Por: Germano Martiniano, Assessor de Comunicações da FAP e formado em Relações Internacionais pela UNESP/Franca.


Quem somos nós?

Este artigo é uma boa reflexão sobre a corrida para presidência norte americana. Sob o olhar de um cidadão norte americano, Thomas L. Friedman, especialista em negócios estrangeiros, globalização e tecnologia, podemos observar as varias facetas de alguns candidatos a Casa Branca. Não dividimos a opinião do autor, que enaltece a posição norte-americana de país mais forte e mais rico do mundo através do capitalismo. Entretanto, ele acentua algumas questões imprescindíveis quando analisamos a eleição para presidência nos EUA e também o quadro político internacional: a questão imigratória, empreendedorismo e o respeito às instituições.

Quem somos nós?

Penso que a eleição norte americana para presidência tem sido bizarra, se me fosse dada uma folha de papel em branco e me pedissem que escrevesse as três maiores fontes de força dos EUA eu escreveria: “ética do pluralismo”, “cultura do empreendedorismo” e “qualidade das nossas instituições que governam”.  No entanto, até agora ouvi todos os candidatos destruindo todas essas premissas.

Donald Trump está correndo contra o pluralismo. Bernie Sanders mostra o menor interesse em empreendedorismo e diz que os bancos de Wall Street que fornecem capital para tomadores de risco estão envolvidos em "fraude", e Ted Cruz fala de nosso governo, da mesma forma como o fanático anti-imposto Grover Norquist, que nos diz que deve encolher o governo de tal forma que seja  possível arrastá-lo para o banheiro e afogá-lo na banheira."

Não me lembro de uma eleição em que os pilares de força dos EUA eram tão atacados e que ganhava tamanha notoriedade entre os mais jovens.

O famoso slogan do republicano Trump diz: "Faça América grande novamente”.  Este slogan se baseia em um ataque constante aos imigrantes, que segundo o candidato têm ocupado postos de trabalho que pertencem aos norte americanos. Entretanto, como fazer América grandiosa novamente dizendo aos imigrantes: “saia ou fique longe”? Ou acusando os mesmos de estupradores ou terroristas?

Não podemos aceitas políticas segregacionistas, a sociedade norte America é pluralista com o pluralismo. Síria e Iraque, por sua vez, são sociedades pluralistas sem pluralismo. São países comandados por punho de ferro.

Só para lembrar mais uma vez: temos duas vezes eleito um negro cujo avô era um muçulmano. Quem faz isso? Isso é como uma fonte de força como um ímã para os melhores talentos do mundo. No entanto Trump, ao realizar sua “caça” aos imigrantes, tem procurado minar essa singularidade ao invés de celebrá-la.

Sobre o democrata Sanders, tenho ouvido apenas o candidato “berrar” sobre quebrar os grandes bancos, porém não tenho escutado-o dizer sobre de onde vêm os empregos. Se você quer estimular o emprego, você precisa de mais empregadores, e não apenas de estimulo do governo.

A Comissão Milstein sobre Empreendedorismo e Trabalhos de Classe Média 2015, relatório produzido pela Universidade de Virginia observa: "A identidade da América é intrinsecamente empresarial [consagrados] pelos fundadores, popularizado por Horatio Alger, encarnado por Henry Ford... Com o suficiente trabalho duro qualquer um pode usar o empreendedorismo para pavimentar o seu próprio caminho para a prosperidade e fortalecer suas comunidades através da criação de postos de trabalho e crescimento da economia local”.

Em suma, não somos socialistas! E o relatório citado acima serve como material para promover o empreendedorismo nos EUA através, basicamente, do aumento da desregulamentação estatal, que permitiria o aumento do empreendedorismo.

Ao contrário de Sanders, Ted Cruz, outro candidato republicano, não tem uma boa alma e denigre cada vez mais a imagem das instituições americanas. O perigo desse candidato é a situação atual mundial, pois enquanto o mundo fica mais rápido e mais interdependentes, a qualidade das instituições é imprescindível. Cruz envolve-se em uma bandeira americana e cospe em todas as instituições que a representa.

Os EUA não se tornaram o país mais rico do mundo, praticando o socialismo, ou o país mais forte, denegrindo seus órgãos de decisão, ou o país mais cheio de talento, alimentando o medo dos imigrantes.

Fonte: www.nytimes.com

Edição e tradução de texto: Germano Martiniano