Luciano Huck
Jose Roberto de Toledo: Do novo ao de novo
O atropelo vitimou a candidatura. No meio da semana passada, o PPS forçou a barra para Luciano Huck declarar-se pretendente à sucessão de Temer. Contrariada com a ideia de ter um “candidato da Globo” na corrida presidencial, a contratante do apresentador nem precisou se mexer. A imobilidade bastou para Angélica perceber que seu novo programa semanal se encaminhava para o telhado da emissora. Usou seu poder de veto. O marido desistiu.
É a terceira tentativa de conceber um candidato “outsider” que não vinga para 2018. A primeira foi a candidatura do juiz Moro, que não se deixou emprenhar pelo ouvido. Depois, a do prefeito Doria, que foi ansioso demais e levou tábua do partido. Agora, a de Huck. O apresentador articulou com empresários, fez pesquisas, conversou com políticos, mas não conseguiu seduzir os únicos eleitores que realmente importavam: o patrão e a família.
Não há imaculada conceição em disputa eleitoral. Toda candidatura nasce de algum tipo de rala-e-rola. Desde a frustrada tentativa de lançar Silvio Santos à Presidência 28 anos atrás que políticos buscam a fama de personalidades da TV para camuflarem sua presença nas urnas. Mas o contrato nupcial nem sempre dá certo. Às vezes, o nubente desiste antes mesmo de chegar ao cartório, como Datena no ano passado e Huck agora. Outras vezes o juiz não oficia a cerimônia, como com SS em 1989.
Ainda há tempo de políticos sem voto conquistarem este ou aquele famoso com a promessa de um passeio eleitoral em 2018. Ex-presidente do Supremo, Joaquim Barbosa prometeu resposta às juras do PSB até janeiro. Mas à medida que abril e o prazo fatal para filiação de neófitos se aproxima, o canto das sereias partidárias vai virando um grito estridente e desesperado.
Em breve, partidos divorciados do eleitorado não poderão mais se dar ao luxo de escolher os pares que pretendem levar para a urna. Subcelebridades, ex-famosos, influenciadores digitais, até youtubers: qualquer um com milhares de seguidores, expectadores ou ouvintes será visto como tábua de salvação. Sem sufrágio, o naufrágio é inevitável. As siglas que ficarem carentes de voto nas próximas eleições perderão grana e tempo de TV. A nova cláusula de barreira é progressiva e levará muitos ao fundo.
Vale para a eleição da Câmara. Na disputa presidencial, a regra é outra. O fim da novidade Huck reanima políticos que estavam em baixa por não terem nada de novo. “Há Ibopes e Ibopes”, dirão veteranos de tantas campanhas. Seu lema é: mais vale um dígito de intenção de voto na mão do que dois de audiência voando.
Sem Moro nem Huck, restam poucas alternativas aos partidos que não a de tirar a naftalina de velhas candidaturas. Sempre precavidos, os “insiders” se agitam. É hora de reforçar o botox, pentear implantes e escovar próteses. Convém checar as safenas, fazer um regime e se preparar para o abraço, ou centenas deles.
Já-te-vi tem tudo para monopolizar o cardápio da eleição presidencial. Da entrada à sobremesa, todos os principais candidatos que permanecem na disputa são velhos conhecidos do eleitor. Alguns, com duas ou mais eleições presidenciais no currículo, como Lula, Marina e Ciro. Outros ostentam muitos mandatos no Congresso, como Álvaro Dias e Bolsonaro, ou comemoram bodas de cristal em governos estaduais, como Alckmin.
O “novo” está virando “de novo”. É esperado que seja assim. Mudam os nomes, trocam suas siglas, mas os partidos continuam os mesmos. Assim como quem manda neles. Apanhado com a boca na botija, o sistema político-partidário entrega os anéis, alguns dedos, uma mão ou outra, mas o tronco e a cabeça continuam lá. Há que mudar para permanecer como está.
Luciano Huck: No rumo
Como Ulisses em "A Odisseia", nos últimos meses estive amarrado ao mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.
A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera, esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me querem bem.
Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do conforto das selfies no Instagram para somar forças na necessária renovação política brasileira. Mas daí a postular a candidatura a presidente da República há uma distância maior que os oceanos da jornada de Ulisses.
Há algum tempo me vejo diante desta pergunta: qual foi exatamente a trajetória, o fato e até mesmo o momento em que meu nome foi lançado entre os possíveis candidatos à Presidência do Brasil?
Eu mesmo demorei um pouco para encontrar a resposta. Mas depois de alguma reflexão, ela veio e me pareceu muito clara: minha exposição pública e, espero, meu jeito, minhas características, minha personalidade e a forma como vejo o mundo. As mesmas forças que me movem desde sempre me levaram a esse lugar.
Explicando em outras palavras, entre as centenas de defeitos que carrego, talvez eu tenha uma única virtude: carrego desde sempre, genuinamente, enorme paixão e curiosidade pelo outro.
Gosto muito de gente. Sempre gostei. De todo tipo, origem, tamanho, cor, posição na pirâmide. É só olhar para o que faço profissionalmente há mais de duas décadas. Não paro de procurar pelo diferente. E não falo de um olhar distante, acadêmico, teórico. Falo de andanças intermináveis por todos os quadrantes do Brasil e por vários do mundo atrás daquilo que não conheço. Ando há anos e anos por lugares ricos, paupérrimos, super ou subdesenvolvidos, em guerra, centros moderníssimos de saber, cantos absolutamente esquecidos pelo desenvolvimento. Sempre atrás da mesma coisa: gente boa.
E a sensação de "intimidade" que meus mais de 20 anos de televisão provocam nas pessoas possibilita conversas instantaneamente francas e verdadeiras.
Esse dia a dia me permitiu construir uma visão muito própria e ampla dos recortes, curvas e reentrâncias do país. Sinto na pele o pulso das ruas.
E foi essa permanente "bateção de perna", sempre " in loco", que me tirou definitivamente da zona de conforto e me fez ver: O Brasil está sofrendo demais —especialmente os mais pobres, mas não apenas eles— para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto. O que está aí jamais será empático, perceberá e muito menos traduzirá as reais necessidades da gente. Da nossa gente.
Vendo meu nome apontado, é muito importante frisar sempre, sem ter levantado a mão ou me oferecido para concorrer ao cargo mais importante na governança do país, minha reação natural foi tentar entender melhor do que se tratava. Gosto de aprender, de saber o que não sei e penso que cultivo um bom hábito desde muito cedo: tentar descobrir e encontrar quem sabe.
De forma intuitiva e quase caseira, fui procurando referências em pessoas que se dedicam de forma mais intensa a entender o Brasil; o sofrimento, as dificuldades e, principalmente, as soluções.
Acho também que sou meio obsessivo por fazer as coisas direito. Por isso, saí buscando e principalmente ouvindo dezenas de pessoas que admiro, que considero inteligentes, sensíveis, maduras e capacitadas, para que elas compartilhassem comigo suas visões. Foram meses que produziram em mim uma pequena revolução, um aprendizado enorme.
Tantas ideias, tanta gente interessada, brilhante e altamente capacitada, disposta a colocar energia a favor de uma transformação definitiva: De um país à deriva em uma nação de verdade, que possa de uma vez por todas refletir a qualidade indiscutível do seu povo.
Aqui é importante pontuar uma constatação que logo apontou no meu radar e que há tempos ecoa nele de maneira incômoda. Minha geração está trabalhando e inovando com vigor em muitas frentes. Há milhares de notáveis empreendedores, profissionais liberais, atletas, executivos, artistas, intelectuais, pensadores e por aí vai. Mas pela política, ela tem feito pouco.
Tenho dito sempre algo que me parece muito evidente, quase óbvio, mas assim mesmo um alerta necessário: se não nos aproximarmos de fato da política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica.
Dito isso, sigo acreditando que o melhor caminho passa obrigatoriamente pelos movimentos cívicos, pela abertura de espaço na mídia para novas lideranças, por uma escuta dos anseios das pessoas, por reformas estruturais, muitas delas doloridas, por políticas públicas afetivas e efetivas, por políticas econômicas modernas e eficazes, pela educação levada a sério, pela saúde tratada com respeito, por tecnologia que alavanque as boas ideias e pela total transparência dos gastos públicos. Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade. A lista é grande.
O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país.
É claro que isso me trouxe a sensação boa de que uma parte razoável da população entende o que sou e faço como algo positivo. Evidente também que junto vieram uma pressão muito pesada e questionamentos de todos os tipos.
Já disse e escrevi antes, aqui neste mesmo espaço, mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional, não só fazendo aquilo que já faço mas ampliando meu raio de ação ainda mais.
Com a mesma certeza de que neste momento não vou pleitear espaço nesta eleição para a Presidência da República, quero registrar que vou continuar, modesta e firmemente, tentando contribuir de maneira ativa para melhorar o país. Vou bem além da voz amplificada enormemente pela televisão que amo fazer, do eco monumental das redes sociais que aprendi a tecer, do instituto que fundei há quase 15 anos e de todos os meios que o carinho das pessoas me proporcionou.
Vou também direcionar toda a energia de que disponho para outra coisa que acredito saber fazer: agregar.
Agregar as mentes sábias que fui encontrando em diferentes camadas da sociedade, dentro e fora do Brasil, pessoas extremamente capazes e dispostas de fato a conjugar o verbo servir no tempo e no sentido corretos. Vou trabalhar efetivamente para estruturar e me juntar a grupos que assumam a missão de ir fundo na elaboração de um pensamento e principalmente de um projeto de país para o Brasil.
E, para isso, não são necessários partidos, cargos, nem eleições.
Essa intenção já esta viva através dos movimentos cívicos dos quais me aproximei com bastante interesse e intensidade. E de outras iniciativas que estão por vir.
Quero registrar de novo que entre as percepções que confirmei nesses últimos meses está a convicção de que não há nada mais importante do que tomarmos consciência da importância da política e de que precisamos nos mover concretamente na direção da atuação incisiva, para que não sejamos mais vítimas passivas e manobráveis de gente desonesta, sem caráter, despreparada e incapaz de entender o conceito básico da interdependência ou de pensar no coletivo.
A hora é de trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras para o país, e não de focar o próprio umbigo ou de alimentar polêmicas pueris e gritas sem sentido.
Quem se interessa pelo que sou e faço pode acreditar: vou atuar cada vez mais, sempre de acordo com minhas crenças, em especial com a fé enorme que tenho neste país.
Contem comigo. Mas não como candidato a presidente.
* Luciano Huck é apresentador de TV e empresário
Marco Aurélio Nogueira: Precisamos falar sobre o Huck
Pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos divulgada nesta sexta-feira (23) evidenciou o que se sabia: Luciano Huck é uma figura popular e goza de uma imagem positiva junto à opinião pública brasileira. A aprovação ao seu apresentou um salto de 17 pontos porcentuais desde setembro, passando de 43% para 60%. Já a desaprovação caiu de 40% para 32% no mesmo período. Deixou Lula comendo poeira.
No universo mais propriamente político, porém, a desconfiança é grande, a crítica se espalha, corrosiva. Como assim, Luciano Huck candidato a presidente?
Ele vem embalado pela ideia do novo em política, algo sempre controvertido e sujeito a muitas ponderações. Novo ou novidade? Algo novo, em política, não se apoia em currículo, fama ou visibilidade, mas em ideias, propostas e articulação, de modo inclusive a que se façam as devidas ligações com o que há de “velho” na vida.
Os outsiders sofrem vetos generalizados e, em geral, têm vida curta. Dificilmente dão certo, ate porque não se caracterizam por possuir dotes organizadores expressivos, conhecimento dos ritmos da vida pública e paciência para contornar obstáculos, estender-se em negociações demoradas, engolir sapos e cascáveis. Ou seja, são estranhos no ninho e tendem a ser forçados a um aprendizado longo. A ideia de carreira política cabe aqui: não se começa por cima, mas por baixo e pelas margens. Não é preciso ter sido vereador ou deputado para postular uma candidatura presidencial, mas o manual do bom-senso diz que tal experiência funciona como uma espécie de vestibular, de preparatório, um recurso que ajudará mais à frente.
Outsiders dificilmente entram de forma triunfal no primeiro plano da política. Há exceções, claro. Lula não fez carreira e era um outsider quando enfrentou Collor em 1989, outro que só não era um estranho no ninho porque vinha de família entranhada na política. Lula talvez tenha perdido justamente por ser um outsider. Tentou ser deputado, foi eleito mas nada fez com o mandato, foi um fiasco. Seu vestibular foi a vida sindical. Dilma foi inventada por Lula, mas não era uma estranha no ninho. Não tinha talentos especiais, nem sequer currículo ou visibilidade, mas esteve sempre nas proximidades do poder, conhecia alguns dos caminhos.
Ah, mas há Emmanuel Macron! Nada disso. Ele pisou num longo terreno antes de se lançar candidato. Foi ministro, conviveu com políticos e governos, aprendeu um monte de coisas. Venceu não porque era “novo”, mas porque soube perceber certos sinais emitidos pela vida social francesa e os incorporou a uma linguagem política adequada, desconstruindo os grandes partidos e ligando-se aos jovens e aos bolsões de novidade socioeconômica que passaram a pulsar com mais força nas últimas décadas.
Os que vêm patrocinando o projeto Huck, como o deputado Roberto Freire (PPS), por exemplo, têm sido criticados por estarem promovendo a ascensão de um “outsider do centro”, como escreveu Demétrio Magnoli na Folha. São vistos como oportunistas, que usam Huck como veículo de marketing, na falta de melhores opções, um expediente para dar vida a uma coalizão de centro que funcionaria como fator de superação da polarização Lula-Bolsonaro.
A crítica é recorrente: Huck é um globeleza, um cara treinado para cortejar e iludir as massas, que mergulham em seu caldeirão como moscas na sopa. Não seria mais que isso e, portanto, não teria méritos para postular nada, muito menos a Presidência.
Nessa avalanche crítica, não se procura saber o lado do Huck, que pouco fala e não se expõe. O que lhe estaria a passar pela cabeça? Vislumbra a campanha presidencial como uma aventura, uma “oportunidade de negócios”, ou carrega no peito uma sincera preocupação com a situação nacional, dispondo-se a usar a que tem de visibilidade e prestígio televisivo para impulsionar uma renovação política que muitos reputam fundamental?
Não se trata de avaliar o curriculum vitae de Huck, seus diplomas, as escolas que frequentou, a família intelectual, as iniciativas filantrópicas e o engajamento com movimentos cívicos de ultima geração. Tampouco faz sentido perguntar se se trata de uma pessoa de direita, centro ou esquerda.
Currículos desse tipo pesam pouquíssimo na política prática. O que importa mesmo é a intenção, o projeto, o arco de forças. De resto, sabe-se bem que prestígio e visibilidade nem sempre se traduzem em votos.
É aí que entram Roberto Freire e aqueles que, dentro ou fora do PPS, dão oxigênio para Luciano Huck. Tais articuladores representam a política tradicional e de fato estão em busca de alguma opção que tenha brilho e força suficientes para furar essa verdadeira muralha da China que cerca a política nacional, formando um recinto blindado que protege suspeitos, investigados, gente pouco qualificada, mas que conhece o caminho das pedras, um recinto que tritura, enquadra e pasteuriza tudo o que nele respira. Não se trata de uma terceira via entre Lula e Bolsonaro, mas de uma articulação que dê sustentação a um programa mais ousado de governo nacional e promova algum tipo de “limpeza”.
Implodir essa muralha é sonho de muitos brasileiros, cansados de verem sempre os mesmos fazerem sempre as mesmas coisas, indiferentes seja ao clamor da massa pobre e excluída, seja às expectativas políticas, morais e culturais dos setores mais “modernos”.
Vista por esse ângulo, a iniciativa de Roberto Freire merece mais aplausos do que vaias. Impulsionada pela perplexidade geral, ela contém ao menos uma sensibilidade, uma percepção de que é preciso problematizar o coro dos contentes por meio de articulações que se façam de fora para dentro.
O problema é que a iniciativa não responde ao fundamental. Qual seu propósito: uma jogada de marketing para se ganhar tempo? Por que justamente Huck? Seria ele representativo dos novos movimentos cívicos que vocalizam um efetivo desejo de mudança? Não seria mais adequado trabalhar para que esses novos movimentos se reúnam às formas tradicionais, criando condições para uma fusão que seja impregnada por novos projetos e ideias? Um centro democrático encorpado só teria a ganhar com isso.
Erguer pontes que tragam a “nova sociedade” para a política é uma tarefa essencial nos dias atuais. Afinal, o Brasil tornou-se um arquipélago composto por ilhas que vão sendo multiplicadas pela “vida líquida”. Há muitas multidões em ação, à procura de opções, interessada em limpar Brasília dos “maus elementos”, da corrupção, da indiferença social.
Esse Brasil real cansou de polarizações vazias de substância e dedicadas tão somente a disputas de poder. A rigor, ninguém se mostra interessado nas rixas PT x PSDB. Muitos ainda serão levados por elas, que organizaram a política nas últimas décadas e se converteram num vício difícil de largar. Mas a maioria – e seguramente os habitantes dos nichos de vida líquida que crescem sem parar – querem algo mais: querem uma nova proposta, uma nova filosofia política e um novo campo democrático que possa funcionar de fato como um polo generoso, refratário a regressões, aberto a todo, plural e dinâmico.
Apresentar Luciano Huck como alguém com disposição para ajudar na construção dessa ponte, trazendo consigo os novos movimentos cívicos, é bem melhor do que dizer que é preciso achar um meio-termo entre Lula e Bolsonaro ou que o desejado centro político necessita de um nome novo para se materializar.
Huck não é o fator que salvará a articulação democrática de que o país necessita. Pode vir a ser um soldado a mais, emprestando sua visibilidade, suas ideias e sua audiência ao difícil trabalho de construção da fuselagem de um novo campo político que tenha potência suficiente para se converter num efetivo polo de poder democrático. Seria o passo mais nobre e produtivo que daria.
Nexo: O que é o PPS, partido que quer filiar Luciano Huck para disputar o Planalto
Antes aliada do PT e hoje próxima dos tucanos, legenda faz acenos ao apresentador de TV para tê-lo como candidato à Presidência em 2018
Lilian Venturini / Nexo
Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire tem escrito mensagens em seu perfil no Facebook ora aos feitos do governador paulista Geraldo Alckmin, tucano de quem é aliado, ora aos “novos movimentos” da política, grupo em que insere o apresentador da TV Globo Luciano Huck.
Alckmin e Huck têm planos políticos nacionais. Em comum, apresentam-se como figuras intermediárias entre outras duas candidaturas já apresentadas: a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que depende do desenrolar de seus processos na Justiça para saber se poderá se candidatar, e a do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
A diferença entre Alckmin e Huck é que, enquanto o governador se coloca mais claramente como candidato ao Planalto e tem um partido definido, o PSDB, o apresentador de TV ainda é uma incógnita — tanto quanto a sua candidatura quanto ao partido que escolherá, caso decida disputar a eleição. O PPS de Freire, que desde 2002 não lança candidato próprio ao Palácio do Planalto, simpatiza com ambos.
Alckmin é a opção mais forte dentro do PSDB no momento. O PPS é próximo dos tucanos. Tem longa trajetória de união e de alianças em eleições presidenciais, estaduais e municipais. Ao governador, Freire tece elogios. Já Huck surge em meio ao desgaste da classe política tradicional em tempos de Lava Jato. A ele, Freire diz que o PPS está de “portas abertas”
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Do ‘Partidão’ ao discurso da ‘terceira via’
O Partido Popular Socialista foi fundado em 1992 num processo de refundação do Partido Comunista Brasileiro, que desejava mudar e se adaptar ao contexto político pós-Guerra Fria. A mudança ocorreu durante o 10º Congresso do PCB, liderado por Roberto Freire, para quem o fim do bloco soviético apontava para a queda do comunismo e para a necessidade de rever conceitos.
Uma parte do PCB não acompanhou Freire e fundou um novo partido, mantendo o nome PCB. Adiante com o PPS, a legenda procurou conciliar a defesa do combate à pobreza ocupando um lugar numa chamada “terceira via”, buscando um espaço entre a polarização entre PT e PSDB. Na prática, porém, sempre esteve à sombra, ora de um, ora de outro.
O PPS diz ter os seguintes valores:
• Implantação do parlamentarismo, sistema de governo defendido no plebiscito realizado em 1993 – derrotado pelo presidencialismo
• Redução da pobreza
• Reforma “democrática do Estado”, a fim de acabar com privilégios (tributação sobre dividendos, por exemplo)
• Coexistência entre público e privado
Desde 2013, a legenda por duas vezes buscou a fusão com outros partidos, sem sucesso. A primeira tentativa foi com o PMN, que daria origem ao Mobilização Democrática. A segunda, entre 2014 e 2015, buscou o PSB, PHS e PEN, este que agora negocia a candidatura de Jair Bolsonaro sob nome de Patriotas.
Entre oposição, base e ‘linha auxiliar’ do PSDB
O PPS teve candidato próprio nas eleições presidenciais de 1998 e 2002, nas duas com o ex-governador cearense Ciro Gomes, atualmente no PDT, legenda pela qual deve ser candidato em 2018. Fora do Planalto, o PPS teve momentos de proximidade com o PT, mas esteve mais próximo dos tucanos, cuja relação rendeu à legenda a alcunha de “linha auxiliar” do PSDB.
Depois de apoiar o início do primeiro mandato de Lula na Presidência, em 2003, o partido de Freire foi para a oposição. Nas eleições de 2006 e 2010, o PPS apoiou candidaturas tucanas (Alckmin e José Serra, respectivamente). Em 2014, a legenda ficou ao lado de Marina Silva (Rede) e no segundo turno declarou apoio ao senador Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma Rousseff (PT).
No Congresso o partido é representado por 9 (entre 513) deputados e 1 senador (de um total de 81), Cristovam Buarque (DF), um ex-petista. Atualmente, o PPS declara-se como independente, após abandonar a base aliada do governo Michel Temer em maio, mês em que surgiram as denúncias contra o presidente no caso JBS. À época, Freire era ministro da Cultura e deixou o cargo em razão das acusações.
O PPS e o Planalto
NO GOVERNO COLLOR
O partido defendeu o impeachment do presidente Fernando Collor e foi aliado de Itamar Franco, que assumiu a Presidência em 1992. Em 2009, Itamar filiou-se ao PPS, pelo qual foi eleito senador por Minas Gerais em 2010.
NO GOVERNO FHC
Inicialmente na oposição, o PPS era crítico a Fernando Henrique, mas apoiava o Plano Real – lançado no fim do governo Itamar, mas base para a eleição do tucano em 1994. No segundo mandato, o PPS se aproximou do Planalto, integrando o governo ao assumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário – no momento do auge dos protestos do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pelo país. Na fase final da gestão, o PPS se afastou novamente do PSDB.
NOS GOVERNOS LULA E DILMA
O partido fez parte da base do primeiro mandato da gestão Lula (2003-2010), mas somente até 2004. Por entender que Lula abandonou propostas de reformas prometidas, o PPS rompeu com o PT e tornou-se oposição, unindo-se ao DEM (então PFL) e ao PSDB. O grupo permaneceu unido durante a gestão Dilma (2011-2016) e, com ele, o PPS apoiou o impeachment da petista.
NO GOVERNO TEMER
O PPS aderiu ao governo, mas deixou a base aliada depois do escândalo da JBS. O partido classificava o governo Michel Temer como um processo de “transição” e de articulação para as reformas da Previdência e trabalhista, entendidas como “essenciais” para enfrentar a crise econômica. “A agenda Temer tem um aspecto progressista, que justifica o apoio e a participação da esquerda e do PPS no seu governo”, diz o PPS em documento redigido para o 19º Congresso Nacional da sigla, a ser realizado em dezembro.
Para 2018, PPS explora discurso de ‘centro’
Na articulação para definir qual o papel do partido nas eleições 2018, o PPS tenta se consolidar num discurso que busca um meio do caminho entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro, que na definição da legenda representam setores extremistas da esquerda e da direita, respectivamente. Trata-se de um discurso recorrente no momento. Boa parte de quem se apresenta para a disputa se diz de “centro”.
Nas palavras da legenda, o “fracasso sucessivo” do PT e do PSDB em representar o centro “abre espaço para uma atuação mais incisiva do PPS nesse rumo”. Desde que o nome de Luciano Huck foi se consolidando como opção para 2018, o partido, e mais especificamente Freire, passou a enfatizar a importância da renovação e da abertura para “novos movimentos” da sociedade civil.
Qual a situação de Luciano Huck
Huck não é filiado a nenhum partido. Oficialmente, ele apenas confirma seu desejo e interesse em participar do processo de “renovação política”, sem dizer como. Nos bastidores, reportagens dão conta de encontros entre o apresentador e economistas, empresários e de movimentos como o Agora! e o RenovaBR, grupos que também levantam a bandeira da renovação e da formação de novos quadros.
O Estado de S. Paulo: Aprovação a Huck dispara e atinge 60%, mostra pesquisa
Pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos mostra que Luciano Huck (sem partido), possível candidato à Presidência da República, teve melhora significativa de imagem nos últimos dois meses e passou a ser a personalidade com melhor avaliação entre as apresentadas aos entrevistados. A aprovação ao nome do apresentador passou de 43% a 60% desde setembro. A desaprovação caiu de 40% para 32% no mesmo período.
Os demais 22 nomes do Barômetro Político, porém, são do mundo político ou do Poder Judiciário, mais sujeitos ao desgaste do noticiário. “Esse salto (de Huck) tem muito a ver com o fato de seu nome ter sido cogitado como candidato e de ele próprio ter dado indícios de que gostaria de concorrer. Mas o ponto é se isso vai se converter em votos”, disse Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. Depois de Huck, os primeiros a aparecer no ranking de aprovação do Barômetro Político são o ex-presidente Lula (PT), com 43% de avaliação positiva, e o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa (sem partido), com 42%.
O apresentador de televisão Luciano Huck, cujo nome tem circulado como possível candidato à Presidência da República, teve melhora significativa de imagem nos últimos dois meses. Segundo a pesquisa Barômetro Político Estadão-Ipsos, a aprovação ao nome de Huck apresentou um salto de 17 pontos porcentuais desde setembro, passando de 43% para 60%. Já a desaprovação caiu de 40% para 32% no mesmo período.
Com isso, Huck passou a ser a personalidade com a melhor avaliação entre as apresentadas pelo Ipsos aos entrevistados. Todos os demais 22 nomes do Barômetro Político deste mês, porém, são do mundo político ou do Poder Judiciário, mais sujeitos ao desgaste do noticiário.
A pesquisa Ipsos não é de intenção de voto. O que os pesquisadores dizem aos entrevistados é o seguinte: “Agora vou ler o nome de alguns políticos e gostaria de saber se o (a) senhor (a) aprova ou desaprova a maneira como eles vêm atuando no País”.
“Não me surpreende que Luciano Huck tenha melhorado em aprovação”, disse Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. “Esse salto tem muito a ver com o fato de seu nome ter sido cogitado como candidato e de ele próprio ter dado indícios de que gostaria de concorrer. Mas o ponto é se isso vai se converter em votos. Se a eleição fosse hoje, ele teria um desempenho razoável, mas não esse cacife todo.”
Para Cersosimo, por mais que Huck seja simpático para uma parcela considerável da opinião pública, seus indicadores de aprovação não diferem muito dos de outras celebridades televisivas.
“As pessoas estão avaliando um Luciano Huck que aparece há 15 ou 20 anos na televisão”, observou o diretor do Ipsos. “Ele não tem a imagem desgastada por embates políticos, ainda não foi testado em um debate, por exemplo.”
Evolução. Entre os presidenciáveis, o primeiro a aparecer no ranking de aprovação do Barômetro Político, depois de Huck, é Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 43% de avaliação positiva e 56% de negativa. As taxas do ex-presidente estão em tendência de melhora paulatina desde junho. A eventual candidatura de Lula, porém, depende da Justiça – uma condenação em segunda instância pode inviabilizar legalmente sua participação na campanha.
Em empate técnico com Lula está o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que foi convidado pelo PSB a disputar a Presidência, embora nunca tenha manifestado em público essa intenção. Barbosa tem 42% de aprovação.
Marina Silva (Rede) apresentou oscilação de 36% para 35% em sua avaliação positiva nos últimos dois meses. A desaprovação subiu de 51% para 56%.
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a perder apoio na opinião pública: sua avaliação negativa subiu de 56% para 63%. A taxa de aprovação ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) oscilou de 22% para 24%.
O juiz Sérgio Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba e conhecido por sua atuação no julgamento de acusados da Operação Lava Jato, foi aprovado por 50% dos entrevistados neste mês.
Eliane Cantanhêde: Apresentador vira o ‘novo’ com Doria fora
Luciano Huck está no jogo e a sociedade continua em busca de um nome de centro
As duas principais conclusões do salto da aprovação a Luciano Huck são, primeiro, que ele está no jogo e, segundo, que a sociedade continua em busca de um nome de centro que signifique o “novo”, uma alternativa aos políticos tradicionais. Saiu João Doria, entrou Huck no foco político e eleitoral.
Em política não há vácuo. Doria vai deixando o campo, mas a torcida insiste em alguém com as mesmas características e expectativas. Huck está no aquecimento. Apesar de reclamar das pressões e do frio na barriga, tem deixado claro que “tem responsabilidade com o País”.
Quanto mais a aprovação de Doria cai, mais a de Huck sobe. Em julho, com sua pré-campanha a todo vapor, o índice de aprovação de Doria (38%) quase empatou com o de desaprovação (45%). A distância disparou: a aprovação despencou para 19% e a desaprovação subiu para 63%, aproximando-se dos índices dos políticos tradicionais do quais ele pretendia se descolar.
Os que demonstravam simpatia por Doria foram transferindo o sentimento para Huck, que tem enorme exposição pública e deu sinais de estar no páreo: conversa com líderes políticos e privados e participa de movimentos que chama “do bem”, como o Agora! e o Renova-BR, para estimular a renovação política.
Doria e Huck servem como teste para as chances do governador Geraldo Alckmin, que venceu o embate com o prefeito e se prepara para enfrentar uma celebridade com todas as vantagens, mas também com todas as desvantagens, das celebridades. Se vencer mais essa, Alckmin herdará a aprovação a Huck. Se perder, vai ter um duro adversário nas forças de centro.
Eliane Cantanhêde: Huck é para valer
Parecia brincadeira, mas candidatura Luciano Huck está virando coisa séria
Luciano Huck deve se filiar ao PPS até o dia 15 de dezembro, encerrando as dúvidas sobre sua intenção de se candidatar à Presidência da República em 2018. O que parecia brincadeira começa a ficar sério, num ambiente de polarização entre Lula e Bolsonaro e a ansiedade por uma opção de centro. Ele, porém, precisa mostrar que, além de celebridade, é capaz de assumir esse desafio monumental: não ainda o de ser presidente, mas o de meramente ser candidato.
O movimento Agora! lança Huck como “o novo”, o PPS disponibiliza a legenda e quadros de ponta, como Armínio Fraga, topam a parada, mas todos eles conscientes de que, se há alguma chance na empreitada, é atraindo intenções de voto nas pesquisas, simpatias em diferentes segmentos da sociedade e o apoio de um bom leque de partidos. Quatro letrinhas chaves são PSDB.
Passado o pior momento de disputa com João Doria no PSDB, Geraldo Alckmin terá pela frente o embate com Huck nas forças de centro. Alckmin é do ramo, do principal Estado e de um partido consolidado. É a “segurança”, o “político tradicional”. Huck é um homem de massas, conversa bem com “o povo”, vem de uma família de intelectuais e tem diplomas respeitáveis. É “o novo”, a expectativa.
Em pesquisas internas, Huck já passa dos 10%, graças à classes C e D e à sua audiência na TV. Agora, “é preciso vencer o preconceito”, diz o presidente do PPS, Roberto Freire, que tem longa carreira política, foi candidato à Presidência em 1989 e reconhece o quanto a classe média escolarizada torce o nariz para soluções, digamos, heterodoxas – apesar da exaustão com os políticos tradicionais.
A batalha contra o preconceito passa pela dissociação entre a pré-candidatura Huck e a do também apresentador Silvio Santos, lançada em 1989 para tentar barrar o meteoro Fernando Collor de Mello. Não custa lembrar que foi um voo de galinha: Collor venceu a eleição e os patrocinadores da aventura entraram para a história como “os três porquinhos”.
Huck não é um Silvio Santos e tem a USP no DNA. Formado em Direito e Jornalismo pela universidade, é filho de Hermes Marcelo Huck, Professor de Direito Internacional e Econômico, e de Marta Dora Grostein, professora de Arquitetura e Urbanismo. É também enteado do uspiano Andrea Calabi, ex-ministro interino do Planejamento, e ex-BB, Ipea e BNDES. Ah! E ex-secretário do governo Alckmin. Além disso, é casado com Angélica e irmão do cineasta Fernando Grostein.
Como arcabouço teórico e político, a candidatura Huck é “um projeto reformista”, quando a crise ética, política e econômica é uma faca de dois gumes: potencializa a ojeriza à política tradicional e aos partidos, ao mesmo tempo em que acende a vontade de participação, de renovação. Até por isso, o Agora! oferece bolsas para quem tem vocação e capacidade política em mais de dez Estados.
Freire lembra que a crise do sistema político não é exclusividade do Brasil e se produziu um Donald Trump nos EUA, Emmanuel Macron, eleito na França pelo En Marche!, criado meses antes como alternativa aos partidos tradicionais e replicado, por exemplo, na Itália (M 5 Estrelas) e na Espanha (Podemos). O importante, diz ele, ainda com ares de Dom Quixote, é usar o passado só como reflexão e mirar o futuro, com novas formas de representação política e conexão com as redes sociais para buscar “uma nova era de civilização, pós-sociedade industrial, mirando na ciência, na tecnologia, na inovação”.
Um projeto liberal? “Não. A defesa de uma economia de mercado, mas com profunda preocupação social”, responde. Soa como Social Democracia, mas a Social Democracia não está com o PSDB? Depende. Está, ou estava? A campanha vai dizer.
José Roberto de Toledo: Procura-se disruptivo
Como candidato togado, Joaquim Barbosa seria tão disruptivo quanto Huck
É insano o caminho para Luciano Huck viabilizar sua candidatura a presidente. Os primeiros eleitores que ele ainda precisa conquistar são os mais próximos: a mulher, o irmão, o patrão. A Globo lhe deu até o fim de dezembro. Se nem ele nem Angélica aparecerem na grade de programação da emissora para 2018 é porque Huck estará filiado ao PPS e pronto para se lançar em campanha. É salto sem volta. Dará adeus ao Caldeirão, mas não só ele fará sacrifícios.
Com 30 anos de carreira e sucesso como apresentadora de TV, Angélica terá que ser convencida pelo marido a abandonar seu Estrelas e a nova atração que deveria estrear em 2018. Em troca, estrelaria algum programa herdado de Marcela Temer. Na melhor das hipóteses. Se Huck vender o plano à esposa terá dado sinal de que é capaz de negociar com o Congresso sem perder a carteira.
Como animador de auditório, não falta popularidade a Huck. Mas para chegar aos 12% de intenção de voto como candidato a presidente – taxa que políticos interessados na sua candidatura andam ventilando – é preciso que nem Lula nem Bolsonaro apareçam no cartão das pesquisas. Com ambos no páreo, o apresentador fica, hoje, junto dos outros índios da tribo do dígito solitário. Se equipara a Alckmin.
Não é fácil virar cacique. Para emplumar seu cocar na disputa presidencial, Huck precisará de um compromisso mais sério por parte de amigos financiadores do que o protocolar tapinha nas costas e incentivos do tipo “vai indo que eu já vou”. Sua campanha a presidente por um partido tão pequeno quanto o PPS dependerá de muitas doações de pessoas físicas endinheiradas – mesmo se o candidato recorrer ao próprio bolso para se financiar.
Segundo cálculos do repórter Daniel Bramatti, PT e PSDB terão direito a sete vezes mais recursos do novo fundo eleitoral do que o PPS – porque tiveram muito mais votos e elegeram muito mais deputados na eleição passada.
A diferença é de mais de R$ 220 milhões para os tucanos, e mais de R$ 230 milhões para os petistas. Somando-se Fundo Partidário e fundo eleitoral, o PPS não deverá ter R$ 60 milhões para 2018. E esse dinheiro ainda terá que ser dividido com candidatos a governador, ao Senado e à Câmara. Sem eleger bancada própria de deputados federais e senadores, qualquer presidente vira refém do Congresso.
Além de políticos, Huck cercou-se de PhDs idealistas, financistas e marqueteiros para ajudá-lo a formular um programa de governo e uma estratégia de campanha. Nada disso, porém, substitui o apoio doméstico e patronal.
Na mesma semana em que Huck ouviu da Globo que seu deadline para decidir se fica ou se sai candidato é dezembro, caciques do PSB ouviram de Joaquim Barbosa que ele lhes dará resposta em janeiro. A coincidência de datas animará as especulações eleitorais de fim de ano. E se Huck pular de volta no Caldeirão? Barbosa ficará mais inclinado a dizer sim à proposta de disputar a eleição?
Segundo o repórter Raymundo Costa, o algoz de mensaleiros voltou a cogitar ser candidato à sucessão de Temer. Poréns que valem para Huck valem para Barbosa: falta de tempo de propaganda e recursos partidários escassos. Mas nem todos os poréns.
Como candidato togado, o ex-presidente do Supremo seria tão disruptivo quanto Huck. As pesquisas de potencial de voto mostram que ele pode se apresentar como anti-Lula e anti-Bolsonaro e tentar ocupar o vazio do centro. E isso sem ser automaticamente rotulado de “candidato da Globo”.
Se não termina em 7 de abril, a temporada de candidaturas-balão estará bem mais pobre após essa data-limite de filiação e desincompatibilização. Até lá, porém, o balonismo eleitoral será esporte nacional.
Ricardo Noblat: “Quero ser candidato a presidente da República”, diz Cristovam Buarque
O senhor é candidato a Presidente da República?
Cristovam: Quero ser. O momento exige que qualquer um de nós que está na política, e acha que tem o que dizer sobre o futuro do Brasil, ponha seu nome à disposição dos partidos. Ofereço o meu ao PPS.
Por que o senhor quer ser candidato?
Porque quando olho os candidatos que aí estão, não vejo nenhum deles refletir sobre duas coisas essenciais para o Brasil: o resgate da coesão nacional e a definição de um rumo de médio e longo prazo.
O senhor acha que terá o apoio do PPS?
Não sei ainda, mas vou tentar. Começo hoje.
O Presidente do seu partido, o deputado Roberto Freire (SP), disse que o senhor não tem voto para ser candidato à presidência da República.
Não vejo nenhum candidato que, hoje, tenha votos, salvo Lula e Bolsonaro que estão à frente das pesquisas. Os dois, que representam extremos, justificam a minha disposição para ser candidato. Bolsonaro tem saudades do autoritarismo. Lula, do populismo. São extremos antiquados, obsoletos.
Outro dia o senhor disse que não seria o João Doria de Roberto Freire...
Se Roberto for candidato a presidente pelo PPS, eu não serei. Ele tem uma cabeça moderna, pensa bem o país e acumula larga experiência política.
Mas a oposição dele ao seu nome não o inibe?
Não. Como posso desde já ter votos para presidente se é a primeira vez que digo com todas as letras que quero ser candidato? Fui candidato a presidente em 2006. Disputei com Lula no auge dele, com Geraldo Alckmin no auge do PSDB, e com Heloísa Helena no auge do charme da esquerda. Mesmo assim tive 2.5% dos votos.
O apresentador de televisão Luciano Huck pode entrar no PPS para ser candidato à sucessão de Temer.
A eventual entrada dele seria positiva para meu partido. Luciano goza de muita simpatia na opinião pública. Mas não estou convencido de que ele seria uma boa alternativa como candidato. Porque eu me pergunto: ‘Como seriam os primeiros dias de um governo Luciano Huck?’. O próximo presidente será o primeiro do terceiro centenário da nossa independência. Como que a gente vai construir uma economia eficiente? Uma educação eficiente e mais justa que não desperdice nenhum cérebro, nem de rico nem de pobre? O cérebro é o poço de petróleo do futuro. Não vejo ainda o Hulk apresentando propostas nesse sentido.
Como seriam os primeiros cem dias de um eventual governo do senhor?
O presidente e seus ministros devem ser os primeiros a dar bons exemplos. Um deles: austeridade. Ministros sem mordomias, comprometidos com o programa do governo, competentes. Presidente que não interfira no Banco Central, que logo comece a quebrar as amarras que dificultam os investimentos no Brasil. Presidente com prioridades sociais definidas - transferência de renda via o Bolsa Família, escolas de boa qualidade. Presidente que não seja demagogo. Que deixe claro que os principais problemas do país levarão mais de 20 anos para ser resolvidos.
A reforma da Previdência teria espaço no seu governo se ela não for feita antes ?
Lógico, quando nada por respeito à aritimética. Ainda não se descobriu como fazer dois mais dois virarem cinco. A Previdência quebrou.
Como seria sua relação com o Congresso?
Defendo que se faça um processo eleitoral plebiscitário. Não basta eleger um nome para presidente, mas um conjunto de propostas. Se for candidato como quero ser, apresentarei os primeiros decretos, os primeiros projetos de lei, as primeiras propostas da reforma da Constituição que assinaria se fosse eleito. Diante disso, acho que o futuro Congresso seria capaz, sim, de aprovar o que os eleitores já teriam aprovado antes.
E se não for candidato a presidente, concorrerá a mais um mandato de senador?
Pode até ser, mas isso, hoje, não está na minha cabeça. A presidência da República é que está.
Merval Pereira: O fator Huck
Luciano Huck já definiu o final de dezembro como a data-limite para anunciar a decisão de concorrer ou não à presidência da República. Ele aprofundou os contatos na quinta-feira com duas conversas na casa do economista Armínio Fraga. À tarde, acompanhado de Ilona Szabó, cofundadora do movimento Agora, e diretora do Instituto Igarapé, ONG que atua na segurança pública, reuniu-se com o presidente do PPS, Roberto Freire, e com o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
À noite, jantou com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do PMDB, que foi sondado para ser vice-presidente em uma possível chapa com Huck, que precisaria de um político experiente para auxiliá-lo. Hartung disse que está disposto “a tudo”, e pode vir a fazer parte de um futuro governo também como Chefe do Gabinete Civil, dependendo das negociações.
Ele se declarou a Huck disposto a participar de um movimento que apoie um nome alternativo à polarização que no momento coloca Lula contra Bolsonaro no segundo turno, segundo as pesquisas de opinião. No encontro, Huck mostrou pesquisas eleitorais que revelam um grande potencial de votos, já se encontrando na faixa de dois dígitos em algumas simulações.
O governador Paulo Hartung disse que o importante no momento é reunir o maior número possível de pessoas que comunguem de posições políticas que possam mostrar um caminho pelo centro-liberal, em contraposição aos extremos da direita e da esquerda que, em sua opinião, “não são bons". “Ambos acreditam na força do Estado e que o governo pode fazer tudo. Apresentam bravatas e soluções simples para problemas complexos”, diz Hartung. O governador está convencido de que “não há solução simples para o Brasil", e acha que a próxima eleição presidencial é a última oportunidade para recolocar o país nos trilhos, pois “já erramos demais”.
O Movimento Agora, de que faz parte Huck, se define como “formado por um grupo diverso de gente realizadora, com perfil político e técnico, de vários setores da sociedade — somos servidores públicos, empreendedores, líderes empresariais, acadêmicos e ativistas. Nossos membros possuem experiência e reconhecimento em suas áreas de atuação, fruto de muito esforço e suor, e prezam pela integridade e pelo engajamento cívico".
“Estamos empenhados em reinventar a política no século XXI, com ações políticas consistentes com a sociedade contemporânea e construindo diálogos e parcerias entre múltiplos atores para melhorar políticas públicas e a vida das pessoas”.
O PPS já acertou em sua Executiva acolher os membros do movimento Agora, da mesma maneira que se dispôs a dar legenda ao grupo da ex-senadora Marina Silva para que ela pudesse se candidatar na eleição de 2014, o que acabou acontecendo pelo PSB.
No PPS ou em outro partido, Luciano Huck pode ser uma opção, se realmente entrar na disputa para a presidência da República, da parcela do PSDB que ficar alijada do partido se o grupo de Aécio Neves ganhar a disputa interna.
O senador Aécio Neves está se aproximando do PMDB, na tentativa de lançar um candidato a presidente, que provavelmente será o prefeito de São Paulo, João Doria. Mas não é desprezível a possibilidade de que, vencedor, o governador de Goiás Marconi Perillo, vire o candidato oficial do partido.
Nesse caso, o governador Geraldo Alckmin teria a possibilidade de entrar no PSB para disputar a presidência da República, deixando no governo seu vice Marcio França. Se Tasso Jereissati vencer a disputa pela presidência do partido em dezembro, o grupo de Aécio fica de fora e vai debandar para outras candidaturas, e o PSDB vai com Alckmin.
O que parece certo é que o PSDB tem chance reduzidíssima de se apresentar como um partido coeso nas próximas eleições. Se antes as disputas internas eram por espaço no poder, hoje o que separa suas alas são diferenças ideológicas e de postura política, impossíveis de serem superadas.
Como disse o senador Tasso Jereissati, repetindo dona Ruth Cardoso, que certa vez disse que “o PFL de Antonio Carlos Magalhães não é o meu PFL”, “esse PSDB não é o PSDB de Covas, Fernando Henrique e o meu”.
O Estado de S.Paulo: PPS abre as portas para candidatura de Huck
Apresentador participa de reuniões com a sigla, que deve filiar integrantes do Agora!
Gilberto Amendola
O apresentador de TV Luciano Huck participou nas últimas semanas de três reuniões com líderes do PPS para discutir cenários eleitorais e a entrada no partido de membros do movimento Agora! , do qual é participante. Os encontros trataram de eventual candidatura do próprio Huck. Pessoas que participaram das reuniões classificaram as conversas como “iniciais e promissoras”.
Embora o PPS pretenda divulgar sua posição em relação à sucessão do presidente Michel Temer apenas em março, durante sua convenção nacional, líderes do partido confiam na filiação do apresentador até o fim do ano.
Huck se reuniu nesta quinta-feira, 9, no Rio, na casa do economista Armínio Fraga, com o deputado federal e presidente do PPS, Roberto Freire, e o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Outras reuniões com Freire ocorreram em São Paulo e Brasília.
Ao ser questionada pelo Estado, a assessoria de imprensa do apresentador divulgou nota na qual admite as conversas políticas. “Como já foi dito, neste momento Huck não é candidato. Porém, ele está fortemente ligado aos movimentos cívicos do Agora! e Renova. É natural estar conversando com todas as esferas políticas, inclusive com membros de partidos como o PPS. Uma posição pluripartidária. Ele tem muito respeito pelo Freire, Jungmann e Cristovam (Buarque)”.
O “flerte” de Huck com o PPS se deu por meio do Agora!, movimento formado por empresários, acadêmicos e profissionais liberais. Segundo o cientista político e coordenador do Agora!, Leandro Machado, Huck chegou até eles há cerca de um mês, por meio do irmão, o cineasta Fernando Gronstein, e tem participado de debates e reuniões, ouvindo e expondo ideias. “Ele se interessou por nosso projeto, que é o de um movimento cívico que pretende reinventar o jeito de fazer política, principalmente evitando essa polarização radical que tem prejudicado o Brasil.”
“O que existe de concreto é que membros do Agora! serão candidatos a deputado federal. Por outro lado, não tem nada definido sobre uma candidatura de Luciano Huck. Tampouco sei se ele realmente será candidato”, disse.
Machado confirmou que o Agora! tem dialogado com o PPS, mas disse que conversas também estão sendo realizadas com a Rede e o Livres (ex-PSL). O movimento discute internamente se vai lançar candidatos por um só partido ou distribuí-los por diversas legendas. PPS e Rede não negam conversas com o Agora! e outros movimentos. Já o Livres (ex-PSL) afirmou, em nota, que “não houve qualquer contato com Huck. No entanto, se ele for candidato, os dirigentes o consideram um bom quadro”.
Entrave. Embora as conversas com o PPS estejam avançando, existem entraves. O principal deles é a ligação de Freire com o governador de São Paulo e provável candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. O presidente do PPS tem uma dívida política com Alckmin.
O governador “puxou” quatro deputados para o seu secretariado e, com isso, permitiu que Freire assumisse um mandato na Câmara. Ou seja, tudo caminhava, tranquilamente, para o PPS apoiar Alckmin em 2018. Além disso, uma parcela pequena do partido quer lançar o senador Cristovam Buarque (DF) como candidato a presidente.
Ruy Fabiano: O declínio da esquerda
PT e PSDB, que por décadas simularam um antagonismo de fachada, chegam juntos ao ocaso político. Enquanto o PT padece as consequências do desastre que impôs ao país, o PSDB, que lhe oferecia falso contraponto, perde suas referências existenciais.
Sua identidade vincula-se à do PT, que protagoniza a esquerda carnívora, enquanto os tucanos posam de socialistas vegetarianos, no melhor estilo da estratégia das tesouras, concebida por Lênin.
Ambos, porém, são faces da mesma moeda, que ora sai de circulação, sob o desgaste da Lava Jato e da debacle institucional do país. Se o povo ainda não sabe o que quer, já sabe, no entanto, o que não quer. E o projeto esquerdista, lastreado no politicamente correto, que busca minimizar ou ultrajar os que se lhe opõem, se empenha em refundar-se sem dispor de lideranças que o renovem.
FHC chegou a dizer que Luciano Huck, o animador de auditório de TV, representa o novo na política brasileira. É um diagnóstico de desespero, que expõe o estado de indigência política do partido.
O nome que despontava entre os tucanos, João Doria, prefeito de São Paulo, é alvo do fogo amigo, que cresce na razão direta de sua compulsão marqueteira. Seus maiores detratores estão dentro de casa – e seu maior concorrente é quem o apadrinhou: o governador Geraldo Alckmin. Parecem destinados ao abraço dos afogados, já que imersos num ambiente sem sinais de consenso.
Lula continua sendo o único nome no horizonte do PT, mas sua popularidade perde cada vez mais para os crescentes índices de rejeição. Seu projeto político hoje é escapar da cadeia. Não é pouco.
Dificilmente conseguirá registrar sua candidatura, como, aliás, já sinalizou o futuro presidente do TSE, ministro Luís Fux. Os petistas, por isso mesmo, passaram a conspirar contra as próprias eleições, como se depreende de reiteradas declarações da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann. Sem Lula, disse ela, as eleições não terão legitimidade. Órfão de candidato, o partido joga no caos.
Daí o retorno de ações predatórias, de teor criminoso, cada vez mais violentas, sob o patrocínio do MST e do MTST, os “exércitos” de Stédile e Boulos, braços armados do partido, a invadir propriedades e detonar redes elétricas e patrimônio público.
Ambos parecem desejar uma intervenção militar, dada a estratégia de desafio à lei e à ordem que protagonizam.
Lula, como se sabe, prometeu “tocar fogo no país”, sob os auspícios daquelas milícias, caso não possa se candidatar. Ao que parece, é a única promessa que está disposto a cumprir.
Os tucanos, antevendo o drama que ora vivem, tudo fizeram para evitar o impeachment de Dilma Rousseff. Aderiram aos 44 minutos do segundo tempo, e embarcaram no governo Temer na expectativa de dominá-lo. Perderam para as raposas do PMDB.
Coadjuvantes de um governo que já nasceu fadado à impopularidade, discutem agora se dele devem desembarcar. Aécio Neves, presidente afastado, às voltas com a Justiça, quer ficar.
Precisa do guarda-chuva do Planalto. Tasso Jereissati, que o substituía interinamente, quer sair. E tem FHC a seu lado - o que, até há pouco, era um trunfo; hoje talvez já não seja. Aécio, ainda com os poderes formais do cargo, o afastou, abrindo nova crise, que não tem prazo para acabar – e talvez não acabe nunca.
Alberto Goldmann, ex-governador paulista e crítico feroz de João Doria, substitui provisoriamente Tasso e fala em união, vocábulo que, no PSDB, tornou-se uma abstração metafísica. Marcone Perillo, governador de Goiás, disputará com Tasso a presidência efetiva, convicto de que nenhum dos dois dará jeito na encrenca.
As eleições do ano que vem (se o ano realmente vier) já não serão bipolares, como as anteriores. Prometem um vasto elenco de candidatos, o que está longe de significar grandes alternativas ao eleitor. Quantidade, desta vez, será antônimo de qualidade.
O descrédito – que vai dos partidos às urnas eletrônicas – permeia todo o processo, que se antevia precedido de profunda reforma eleitoral. A reforma não veio - e a esperança de renovação do país muito menos. O candidato que mais cresce nas pesquisas, Jair Bolsonaro, evoca no imaginário popular uma ruptura com a conjuntura presente, seja lá em nome do que for.
O eleitor, desencantado, parece dizer que aceita qualquer coisa, desde que não seja o que aí está. O cenário não é dos mais promissores, para dizer o mínimo.
* Ruy Fabiano é jornalista