Geraldo Alckmin

Nas entrelihas: Geraldo Alckmin e Marina Silva completam Esplanada

Luiz Carlos Azedo/Correio Braziliense*

O vice-presidente Geraldo Alckmin, no Desenvolvimento, Indústria, Comércio e serviços, e a deputada Marina Silva, no Meio Ambiente, protagonizaram, ontem, as cerimônias de posse mais concorridas da Esplanada, com discursos que apontam para duas prioridades, entre outras: a reindustrialização do país, que perdeu complexidade industrial, e o combate ao desmatamento, um verdadeiro ovo de Colombo do ponto de vista ambiental. Os dois setores estão entre os mais prejudicados pela política econômica do governo Bolsonaro.

Ao lado do presidente Lula, Alckmin fez um longo discurso sobre a situação da estrutura produtiva do país e destacou que “a reindustrialização é essencial para que possa ser retomado o desenvolvimento sustentável e que essa retomada ocorra sob o único prisma que a legitima: o da justiça social”. Para Alckmin, a recriação do ministério foi necessária para “reconstruir o país e retomar o caminho do desenvolvimento”. A novidade na proposta de Alckmin, porém, é compatibilizar a retomada industrial com a economia verde, para que o Brasil possa ser um “grande protagonista do processo de descarbonização da economia global” e possa integrar às cadeias globais de valor com investimentos em inovação e novas tecnologias nas áreas onde pode ter competitividade.

Embora o discurso não agrade setores liberais, que veem na política industrial uma forma indevida de intervenção do Estado na economia, Alckmin tem razão quando afirma que o Brasil não pode prescindir da sua indústria se tiver ambições de alavancar o crescimento econômico e se desenvolver socialmente. “Ou o país retoma a agenda do desenvolvimento industrial, ou não recuperará o caminho de crescimento sustentável, gerador de empregos”, disse.

O papel de Alckmin será decisivo, também, do ponto de vista político, porque o vice-presidente da República sempre teve boas relações com o empresariado, principalmente paulista. De certa forma, seu discurso buscou um ponto de equilíbrio entre a política econômica do governo e o mercado.

Há muita especulação no mercado financeiro em relação à política econômica do governo Lula e ao desalinhamento entre os ministros, que gera mais confusão, como as declarações desastradas do ministro da Previdência, Carlos Lupi, sobre a reforma da Previdência. Alckmin será uma peça-chave na articulação da equipe econômica do governo Lula, que inclui Simone Tebet, no Planejamento, e Carlos Fávaro (PR), na Agricultura, ao atuar como algodão entre os cristais, para que a política a ser adotada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha complementariedade nas demais pastas.

Desmatamento

Outra estrela a tomar posse foi Marina, que assumiu o Ministério do Meio Ambiente com o propósito de alcançar o desmatamento zero. O impacto que isso pode ter no plano internacional é formidável, porque reduz fortemente a taxa de aquecimento global. É um verdadeiro ovo de Colombo. A primeira-dama Janja acompanhou a posse.

Há razões para otimismo. Com exceção dos últimos quatro anos, nenhum outro país reduziu tanto suas emissões de carbono como o Brasil. Nosso diferencial é a soberania sobre 60% da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Cerca de 44% de nossas emissões de gases de efeito estufa decorrem da mudança de uso da terra, ou seja, o desmatamento, principalmente na Região Amazônica.

É muito mais fácil e barato — portanto, mais eficiente — combater o desmatamento do que alterar a toque de caixa os sistemas de energia, de transporte, de padrão construtivo, de produção de alimentos, embora isso deva ocorrer. O Brasil tem expertise para isso: entre 2004 e 2012, reduziu o desmatamento na Amazônia em 84% e, consequentemente, suas emissões em 67%. A mudança de rumo no ministério, se houver cooperação e coordenação interdisciplinar com outras pastas, como anunciou Marina, pode perfeitamente tornar irrisório o desmatamento e encontrar outras formas de atender às necessidades de 38 milhões de brasileiros na Amazônia, cerca de 12% da população, em condições em geral precárias, que desejam e merecem uma vida mais próspera.

Não adianta isolar e tratar a floresta como um parque intocado. É inviável politicamente e ineficaz. A chave é combinar controle ambiental com repressão às ilegalidades e iniciativas que tornem a floresta em pé mais valiosa para a população local do que sua derrubada, como propôs Marina. Com o governo Lula, tendo Marina à frente da pasta, abre-se a possibilidade de uma nova economia da floresta, gerando produtos e tecnologia. O potencial de descobertas farmacológicas e químicas a partir da biodiversidade também é enorme e pode substituir a pecuária de baixa produtividade e o garimpo ilegal.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-geraldo-alckmin-e-marina-silva-completam-esplanada/

Bruno Boghossian: Disputa no PSDB é prenúncio de dificuldades para Doria em 2022

Projeto eleitoral do governador enfrenta resistências internas e risco de traições

Os problemas do PSDB começaram cedo em 2018. Na largada, poucos tucanos se empolgaram com a candidatura de Geraldo Alckmin. Vendo poucas chances de vitória, passaram a cuidar de suas próprias campanhas ou se bandearam para o lado de Jair Bolsonaro, que ocupava um eleitorado alinhado ao campo do partido. O desfecho é conhecido.

Na última semana, João Doria conheceu alguns desses obstáculos internos. Para lançar as bases de sua campanha ao Planalto, o governador tentou forçar o PSDB a adotar uma postura de oposição a Bolsonaro, eliminar potenciais desertores e assumir o controle da burocracia do partido para evitar traições. Foi derrotado em todas as investidas.

Doria antecipou batalhas inevitáveis dentro da legenda, mas deu tiros prematuros e passou longe dos alvos. O resultado é um sinal de que sua candidatura já enfrenta resistências dentro de casa e de que ele pode ter dificuldades para manter a máquina do partido distante da zona de influência do bolsonarismo.

À exceção de alguns integrantes instalados por Doria na seção paulista da sigla, os tucanos nunca demonstraram grande entusiasmo com o projeto eleitoral do governador –um forasteiro que não criou vínculos dentro da legenda. Esses políticos poderiam torcer o nariz e embarcar na ideia se acreditassem que ele poderia vencer, mas esse não é o cenário que se enxerga hoje.

Além disso, os movimentos do governador para reforçar a coloração de seu rótulo antibolsonarista se chocaram com a política que é exercida nos gabinetes tucanos. Deputados e prefeitos do partido preferem manter boa relação com o Planalto para ter acesso à máquina do governo. Mesmo que Doria seja candidato pelo PSDB, alguns deles devem trabalhar por Bolsonaro em 2022.

O governador paulista ganhou tração nos primeiros meses do ano graças aos planos de vacinação, mas mesmo seus companheiros de partido entendem que esse lance não será suficiente para elegê-lo. A disputa no PSDB é um prenúncio para 2022.


El País: Ana Amélia, o amuleto de Alckmin para atrair bolsonaristas

PSDB desiste de fortalecer ex-governador no Nordeste e formaliza chapa com senadora sulista conservadora

Por Afonso Benites, do EL País

“Tenho ao meu lado a vice dos sonhos de todos os brasileiros”, discursou Geraldo Alckmin, em Brasília, na cerimônia do PSDB que o oficializou neste sábado como candidato à Presidência pela segunda vez. Ele se referia à sua recém-escolhida candidata a vice, a senadora gaúcha Ana Amélia, do PP. “Ana Amélia é empoderamento”, seguiu o tucano, usando, não por acaso, uma palavra cara ao movimento que quer fortalecer a presença na política das mulheres: elas são a maioria do eleitorado e a maioria dos indecisos atualmente.

Em princípio, Ana Amélia, 73 anos e em seu primeiro mandato como senadora, contava com forte restrição de seu partido, que preferia indicar uma mulher do Nordeste, como a vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho. Pesou, entretanto, a vontade do tucano de tentar avançar sobre o eleitor conservador que migrou do PSDB para Jair Bolsonaro (PSL), de extrema-direita, assim como o de tentar reforçar sua proximidade com mulheres e com a região Sul do país. Três lideranças tucanas ouvidas pelo EL PAÍS disseram que o movimento de aproximação com Ana Amélia é o claro sinal de que faltava um nome de peso no Nordeste e que, nesse cenário, ele preferiu reforçar a verve direitista do PSDB do que apresentar um vice inexpressivo. “Vencer no Nordeste vai ser difícil. O PT ainda tem a preferência lá. E a Ana Amélia vai agregar em áreas que só o Bolsonaro estava de olho, nos mais conservadores”, disse um líder tucano.

Bolsonaro lidera as pesquisas eleitorais em que Lula não é apresentado como o nome do PT. Alckmin não chega aos 10% das intenções de votos e amarga a quarta colocação, atrás de Marina Silva (REDE), e Ciro Gomes (PDT). “O nosso candidato não precisa ser do Nordeste, o que ele precisa é olhar para o Nordeste com atenção”, minimizou o presidente do DEM e prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto. Outros aliados também elogiaram. “Faltava a cereja do bolo. Esta é a cereja do bolo da candidatura Geraldo Alckmin”, afirmou Gilberto Kassab, presidente do PSD.

Fama na TV e gafe sobre Al Jazeera
Jornalista com longa carreira no Rio Grande do Sul, onde atuou como comentarista política na TV Globo local, Ana Amélia foi eleita senadora em sua primeira disputa, em 2010, com forte discurso antipetista. Perdeu o pleito para governadora em 2014 para José Ivo Sartori (MDB) e, agora, estava com elevadas chances de reeleição para o Senado. Pesquisas a colocavam com até 40% das intenções de votos dos gaúchos. Ao decidir concorrer como vice, ela abriu mão de ser uma liderança de direita no seu Estado, que nos últimos anos tem se eleito políticos com esse perfil.

Se o ex-governador de São Paulo não tem como marca frases de efeito, nem mesmo contra os petistas, Ana Amelia tem potencial para ocupar esse papel na campanha. Com seus discursos, ela caiu nas graças do MBL, o grupo de direita ultraliberal na economia e conservador nos costumes que não embarcou na campanha de Alckmin. Em abril, por exemplo, ela subiu na tribuna do Senado para criticar uma entrevista da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, ao canal do Qatar TV Al Jazeera, falando sobre a prisão de Lula. Segundo ela, a entrevista atrairia um "exército islâmico" ao Brasil.

Ana Amélia também é uma das integrantes da bancada ruralista. Ela defende, por exemplo, ampliação do porte de armas no campo, uma proposta que Alckmin passou a ventilar recentemente - mais uma tentativa de aproximação com à liberação total proposta por Bolsonaro. No Senado, destacou-se como opositora ao Governo de Dilma Rousseff (PT) e, em alguns momentos, fez oposição ao governo Michel Temer (MDB), apesar de ter sido favorável à reforma trabalhista e já ter declarado apoio à reforma da Previdência. Em seus discursos também pediu o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB) que, assim como Temer, foi citado na flagrado nos grampos da JBS.

Apesar do discurso contra a corrupção, a senadora não vê conflito em ser filiada ao PP, o partido campeão de investigações na Operação Lava Jato. Os próprios Alckmin e Ana Amélia já foram apontados como receptores de recursos ilícitos da empreiteira Odebrecht. Nas planilhas dos executivos da empreiteira, que concordaram em fazer delação, eles eram apelidados de Santo e de Velha. Ambos negam quaisquer irregularidades nos valores doados pela empresa, que assinou uma delação premiada e um acordo de leniência com as autoridades brasileiras. Contra ele há um processo aberto na Justiça por essa razão. Contra ela, o inquérito não foi conclusivo.

Seja como for, isso pode ser considerado leve no contexto da coalizão que dá suporte a Alckmin, que se destaca pelo número de siglas apoiadoras ( PSD, o PP, o PR, o PRB, o DEM, o PTB, SD e o PPS) assim como pelo envolvimento de boa parte de seus aliados em escândalos políticos como mensalão e a Lava Jato. Uma das figuras notórias da convenção foi Roberto Jeferson, do PTB, condenado pelo mensalão, e sua filha, Cristiane Brasil, defenestrada do Ministério do Trabalho antes de conseguir tomar posse. No campo das ausências, chamou a atenção a de Aécio Neves. Candidato derrotado por Rousseff, em 2014, Aécio foi convencido a não concorrer à reeleição para que não precisasse aparecer no mesmo palanque que o candidato a governador do partido em Minas Gerais, Antonio Anastasia, nem no do próprio Alckmin. Difícil que essa retirada de cena surta efeito sobre os adversários.

"Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças, que não busca resolver tudo na pancadaria nem usa o ódio como combustível da manipulação eleitoral”, discursou Alckmin, em mais um sinalização que escolheu Bolsonaro como adversário a ter a imagem desconstruída, no jargão do marketing político.

Se, ao contrário do que parecia no começo de junho, Alckmin conseguiu chegar como candidato competitivo na campanha, agora com Ana Amélia, amuleto direitista, acredita ter ganhado forçar para enfrentar dois desafios. O primeiro é chegar ao segundo turno. E, uma vez nele, a prova será superar o trauma de 2006. Com um série de erros na campanha, naquele ano Alckmin perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no embate final com um raro recorde: recebeu menos votos no segundo turno do que no primeiro.


Eleições 2018: Alckmin diz que o PPS é o “coração da aliança” e “vanguarda na política brasileira”

O pré-candidato a presidente da República e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou, neste sábado (4), na abertura da Convenção Nacional Eleitoral do PPS, que o partido é “o coração da aliança” que o apoia na disputa presidencial e vanguarda na política brasileira. Por unanimidade, o partido aprovou oficialmente o apoio ao tucano. Alckmin agradeceu a decisão do PPS e disse ser preciso proporcionar as “mudanças” de que o Brasil necessita, e que a “democracia é o melhor caminho” para que o País volte a crescer.

“É preciso dizer da alegria de celebrarmos essa aliança. O PPS está no coração. É o coração da nossa aliança pela vanguarda que representa na política brasileira. A nossa candidatura é para mudar e fazer avanços”, afirmou.

Alckmin disse que “mudar não é tarefa isolada”, mas “um dever coletivo” por meio da democracia, “o melhor caminho para melhorar” o País. “O melhor caminho é nós nos unirmos para a gente fazer as mudanças de que o Brasil precisa e que os brasileiros e brasileiras esperam”, ressaltou.

Desafio
O tucano disse que seu desafio como candidato à Presidência é ajudar o País crescer. “Temos agora o desafio de fazer o Brasil crescer, gerar empregos e melhorar a vida da população. E essa não é uma missão para uma pessoa só, é uma tarefa coletiva”, afirmou Alckmin.

Ele também falou sobre o seu alinhamento político com o partido e ressaltou a importância política do presidente do PPS, Roberto Freire (SP).

“Fomos constituintes juntos. Estivemos unidos nessa luta importante. Lá atrás, na redemocratização e depois na Constituinte. Foi um líder do [ex-presidente da República] Itamar quando tivemos o [Plano] Real, que estabilizou a moeda quando tínhamos 3000% de inflação e hoje em torno de 3%”, lembrou.

Empoderamento da mulher
Alckmin destacou a importância do empoderamento da mulher ao citar a indicação da senadora Ana Amélia (PP-RS) para a vaga de vice-presidente na sua chapa ao Palácio do Planalto. Para ele, a luta pelos direitos da mulher é um dever de todos os brasileiros.

“Trago mensagem para as mulheres e destaco a senadora Ana Amélia. Nos esforçamos para ter uma mulher na chapa. O empoderamento da mulher melhora a sociedade. A luta pelas mulheres é de todos nós. Buscamos uma das melhores e mais experientes parlamentares para trabalhar nessa labuta”, disse.

“Juntos para a vitória”
Ao final de sua fala, Geraldo Alckmin saudou o PPS e seus dirigentes e conclamou a todos para uma disputa vitoriosa.

“Deixo um abraço especial ao PPS e um agradecimento ao Roberto Freire. Um abraço efetivo. Deixo um abraço ao senador Cristovam Buarque [PPS-DF], grande parlamentar que tem nos ajudado muito em todo esse trabalho. Um abraço à juventude. Tivemos um encontro em São Paulo com a juventude. Vamos juntos para a vitória”, afirmou.


O Estado de S.Paulo: Alckmin direciona críticas a Bolsonaro no primeiro discurso como candidato

Geraldo Alckmin é oficializado candidato à Presidência da República pelo PSDB. Ex-governador afirmou mais cedo estar 'acostumado' a enfrentar o PT em eleições

Por Breno Pires, Pedro Venceslau e Renan Truffi, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O PSDB oficializou a candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República nas eleições 2018 neste sábado, 4, na Convenção Nacional do partido, em Brasília. Dos 290 delegados do partido que votaram, 288 foram a favor da indicação do tucano para concorrer ao Planalto em outubro. Houve uma abstenção e um voto contrário. A convenção aprovou também a coligação com todos os partidos (PP, DEM, PR, Solidariedade, PRB, PSD, PTB e PPS) e a candidata a vice-presidente, senadora Ana Amélia (PP-RS). O PSDB não divulgou de quem foi o voto contrário e a abstenção.

Durante o evento, Alckmin fez um discurso repleto de críticas indiretas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os petistas, com quem os tucanos polarizaram a disputa política nos últimos anos, também foram alvo de críticas de Alckmin por sua "herança de radicalismo".

"Ainda hoje na América Latina, vemos degenerar regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que faz e acontece, que pode governar sozinho, ou acompanhado apenas por um grupo de fanáticos", disse. "Gente assim quer é ditadura. Ditadura que logo degenera em anarquia. Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças", disse o tucano.

Ainda que não tenha sido direto nas sua citações, é parte da estratégia da campanha tucana mirar em Bolsonaro. Isso porque, na avaliação dos estrategistas do partido, o PT não deve cumprir o papel de desconstruir o candidato do PSL. Caberá ao próprio Alckmin este trabalho.

Sobre o PT, Alckmin procurou relacionar de forma irônica o número do partido nas urnas, o 13, com os dados do IBGE sobre pessoas desempregadas atualmente no País. "Vamos mudar o Brasil, mas não com bravatas, com tumulto. 13 é o número do partido que esteve lá. Temos 13 milhões de desempregados", disse. "Radicalismo e bravatas sintetizam a herança trágica que os petistas nos deixaram", complementou.

Apesar das críticas às candidaturas concorrentes, Alckmin também alternou o discurso se colocando contra a "divisão do País" e disse ter condições de "unir o Brasil". "Um país dividido não multiplica felicidade. Quero, em nome de todos, empunhar essa chama chamada esperança, que ficou guardada dentro de nós", disse.

Outro eixo importante do discurso foi a defesa das alianças partidárias. Alckmin tem sido criticado por fechar acordo com dirigentes investigados, que fazem parte do Centrão, bloco formado por PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade. "Não basta um homem e uma mulher, um governo de qualidade requer alianças", defendeu. "Aqueles que dizem que aprovarão reformas, sem o apoio da maioria dos partidos, mentem." Presente na convenção, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que alianças fazem parte da governabilidade e antecipam vitória.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar Costa Neto, do PR, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram.

'Acostumado' com o PT
Mais cedo, na convenção do PPS, Alckmin afirmou estar "acostumado" a enfrentar o PT em eleições. Ele tem repetido que espera disputar o segundo turno contra um candidato petista num eventual segundo turno. Embora o PT mantenha Lula como seu candidato, o ex-presidente é considerado ficha suja por ter sido condenado em segunda instância e deve ter seu registro de candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dos últimos candidatos à Presidência do partido, apenas o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou em 2014, não participou do evento em Brasília. Réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o mineiro desistiu de tentar a reeleição para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. “Dos fundadores do partido, só restaram nós dois: eu e Fernando Henrique Cardoso”, disse o senador José Serra (PSDB-SP) ao lado do ex-presidente. Serra foi candidato em 2002 e em 2010.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram do evento.

Vice
Chamada de "vice dos sonhos" por Alckmin no evento, Ana Amélia também foi enaltecida por líderes tucanos. "Todos queríamos Ana Amélia representando todas nós, mulheres de fibras, mulheres de respeito. Geraldo e Ana Amélia que vão construir uma campanha respeitosa, positiva. O Meu Rio Grande do Sul agradece. Esse enorme Brasil vai ter o Rio Grande do Sul na chapa da Presidência", disse a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS).

Uma caravana de senhoras do PSDB Mulher veio do Pará e também celebrou a indicação de Ana Amélia para vice. Em sua fala, Ana Amélia comentou que a 'régua moral' de Alckmin é a mesma que ela usou em sua atuação no Senado.

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, também subiu ao palco para pedir votos para Alckmin. "Ele (Alckmin) é o candidato que vai ajudar o Brasil e fará a grande transformação do País. Deus estará a favor de vocês. Viva Geraldo Alckmin e Ana Amélia" disse Doria.

No ato de convenção, os tucanos convocaram um repentista cearense que rimou em homenagem a Geraldo Alckmin. "Geraldo foi testado e aprovado e é o mais preparado para governar o Brasil. Quero saldar Ana Amélia com amor e carinho, correta por natureza e fiel como passarinho", entoava entre um e outro intervalo do jingle do candidato, que repetia "Geraldo eu vou, Geraldo eu vou". A campanha tucana tem tido dificuldade de crescer, principalmente, na região Nordeste.

Também houve uma série de menções à família, à segurança e à fé. Pouco antes da chegada de Alckmin, o locutor do evento pediu uma salva de palmas para Jesus, o que foi atendido pelo público.

Na convenção do PR, Alckmin já havia dito que chapa que uniu os dois partidos foi uma vontade de Deus. "Lutei muito para que estivéssemos juntos e quiseram os desígnios de Deus que fizéssemos essa união (entre PSDB e PR)", disse.


O Globo: Centrão vai mudar porque terei rigor ético, diz Geraldo Alckmin

Pré-candidato tucano à Presidência defende o pragmatismo das alianças partidárias

Por Cristiane Jungblut, Maiá Menezes e Silvia Amorim, de O Globo

RIO — Visivelmente mais confortável depois de ter conseguido fechar a mais ampla aliança da eleição e de ter driblado as resistências do centrão para a escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice, o pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) não esconde o pragmatismo das suas ações nas costuras políticas. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que o político que não faz alianças acaba “abandonado” e aposta que o centrão não será fisiológico em seu governo.

Perguntado como enfrentaria Jair Bolsonaro (PSL) mantendo seu estilo discreto, Alckmin faz uma parada para a quinta xícara de café durante uma hora de conversa e dispara: “Quem tem que que ter carisma é o povo. E não é chuchu. É picolé de chuchu, que é mais saboroso”, diz o tucano, rindo da própria afirmação inusitada.

O senhor diz que representa o “novo” nesta eleição. Como isso é possível se está há 40 anos na política e tem ao seu lado o centrão?
Primeiro, o novo não é não ter nenhuma experiência de administração pública ou nunca ter sido candidato. O novo é defender o interesse coletivo e mudar a política. É isso que queremos.

Mas são partidos pautados pelo fisiologismo há muitos governos...
Acho que as pessoas entendem o objetivo. Vocês fulanizam muito. O Valdemar Costa Neto (líder do PR) não é nem candidato. O PR tem o Josué Gomes, um dos melhores quadros desta nova geração. O fato é o seguinte: se você não faz aliança, você é criticado, está abandonado, não decola, vai ser cristianizado. Quando faz a aliança, dizem: “Puxa, a aliança é grande demais”. Na política, a gente tem que ter um foco: como é que vamos tirar o Brasil da crise. Esse é o foco e é isso que interessa.

Por que eles (o centrão) mudariam agora?
Eles vão ter que mudar porque farei um governo com rigor ético absoluto. O que eles querem é ser partícipes.

Os políticos querem mais do que isso...
Não há a menor hipótese de isso acontecer.

O senhor é alvo de uma investigação por suspeita de caixa 2 em 2010 e 2014. Seu cunhado, Adhemar Ribeiro, é apontado como arrecadador desses recursos. O senhor disse há algumas semanas que não é crime “apresentar pessoas”. Adhemar apenas apresentou doadores para as suas campanhas?
Ele nunca arrecadou, nunca foi da tesouraria do partido. Agora, uma pessoa que tem mulher banqueira e é dono de financeira tem relacionamentos. Qual é o problema nisso? Não levou pessoas, mas é claro que ele é uma pessoa bem relacionada. As minhas campanhas sempre foram rigorosamente dentro da lei.

Como pretende tratar o tucano Aécio Neves, réu na Lava-Jato?
Ele foi afastado da direção partidária e ainda não foi julgado. Se for condenado, não vamos passar a mão na cabeça de ninguém.

Outro ator central na Lava-Jato é o Supremo Tribunal Federal. O senhor é a favor do mandato vitalício dos ministros?
Vi um candidato (Jair Bolsonaro) dizendo que vai dobrar o número de ministros. O sujeito quer fazer da Suprema Corte um puxadinho do Executivo, como na Venezuela. Negativo. Acho que deve ser debatida a alternativa de modelo de mandato para os ministros.

O senhor promete quatro reformas (tributária, previdenciária, política e de Estado). Terá cacife político para isso?
Essas reformas mais de fundo precisam ser feitas no começo da legislatura, quando o presidente tem mais legitimidade, voto e força.

Para que as reformas avancem, é fundamental aliados no comando do Congresso. O sr. se comprometeu com a reeleição do deputado Rodrigo Maia para a Câmara?
Minha opinião sobre o Rodrigo Maia é a melhor possível. Mas essa coisa de ficar articulando eleição de mesa legislativa antes da hora não é do meu estilo. Pretendo ter como maior aliado no parlamento a sociedade.

O senhor fala em reduzir ministérios, mas não diz para quantos. O eleitor não merece um pouco mais de clareza para decidir o seu voto?
Não vou anunciar isso durante a campanha. Estou dizendo que vou reduzir. Os detalhes serão ditos pela dinâmica do governo.

O PSDB terá a maioria dos ministérios?
Quem vai ter a maior parte dos ministérios é o povo.

Vai aceitar indicações do centrão?
Podem sugerir (nomes). Mas claro que vou escolher. Nas agências reguladoras, aí não. Só serão técnicos. As agências reguladoras serão despartidarizadas.

A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice já entra na cota do PP?
Escolhi a candidata a vice que eu quis. Não existe cota. Todos os partidos têm bons quadros. A senadora era o nome ideal. Ela é ligada ao agronegócio, respeitada e admirada, um quadro extraordinário.

Vai privatizar quais estatais?
O que não vamos privatizar é o Banco do Brasil e a Petrobras. Estamos estudando a questão da Caixa Econômica Federal, que tem prós e contras. É importante dizer que não vamos privatizar a Petrobras, mas a área de transporte e de distribuição sim. O episódio da greve dos caminhoneiros é ruim, porque vai afastar investidores. O Brasil está exportando petróleo e importando derivados.

Seu fraco desempenho em São Paulo pode ser entendido como rejeição à sua figura?
Não. Ela é resultado da falta de interesse das pessoas na eleição neste momento.

O senhor terá que tirar votos de Jair Bolsonaro (PSL), que tem um estilo bem diferente do seu. Ser o “chuchu” nessa hora atrapalha?
Quem tem que ter carisma é o povo. Governo não deve girar em torno de astros. Isso é coisa do passado. Vou ser o que sempre fui: discrição, humildade, simplicidade. Governante é para resolver problemas da população. Não quero espetáculo, nem sair dando tiro. Quero colocar o Brasil no rumo do crescimento. Só faço um reparo. Não é chuchu, é picolé de chuchu, que é mais saboroso.

Um dos maiores problemas da segurança pública é o domínio das facções criminosas. O maior grupo atuante no país nasceu e se expandiu a partir de São Paulo, chegando a outros países. Seu governo não tem parcela de responsabilidade nisso?
São Paulo tem os melhores indicadores do país. Tínhamos 11 mil homicídios por ano em São Paulo e, em 2017, foram 3.503. Não vai ter mágica para resolver a violência no país, mas dá para reduzir. Estados e municípios terão metas de redução. Não tem um líder de facção criminosa em São Paulo que não esteja preso.

O senhor tem prometido acabar com privilégios com a reforma da Previdência. O presidente Temer tirou da reforma os servidores das Forças Armadas e das polícias militares. Vai manter isso?
As Forças Armadas passarão por reforma, mas separadamente. No mundo todo, elas têm um regime de previdência próprio.

Isso não é manter privilégios?
Vai ter reforma, mas com regras diferentes. Vou criar o regime geral de previdência para os servidores de todos os poderes com o teto do INSS. Não tem sentido ter dois tipos de cidadãos. Quem quiser benefício maior, vai para a previdência complementar. Fiz isso em São Paulo.


Elio Gaspari: Geraldo Alckmin, o besouro voador

Ele parece ter saído de uma galeria da República Velha, mas poderá ir para o segundo turno, contra o PT

Besouro não deveria voar, mas voa. Geraldo Alckmin também. Aquele ex-deputado eleito vice-governador em 1994 na chapa de Mário Covas era um tucano inexpressivo. Ademais, Covas era um touro. Tão decorativo era o cargo de vice-governador que Alckmin decidiu se licenciar e disputou a prefeitura de São Paulo. Perdeu, mas o touro teve um câncer, e ele assumiu. Tornou-se o cidadão que por mais tempo governou São Paulo desde os tempos coloniais, mas evita tocar nesse assunto. Disputou a Presidência da República em 2006 e conseguiu ter menos votos no segundo turno do que no primeiro.

Geraldo Alckmin é candidato de novo. Sua posição nas pesquisas é pífia. Já sua capacidade de agregação no mundo político-partidário marcha para a aliança com uma poderosa coligação de caciques em cuja ponta final está Michel Temer.

É possível que Alckmin vá ao segundo turno, beneficiado por previsíveis autocombustões de Ciro Gomes e Jair Bolsonaro. Uma disputa final entre ele e o candidato de Lula espanta a banca que passou os últimos meses achando que a campanha eleitoral aconteceria num cenário de debates parecido com o dos seminários de universidades americanas. O susto da banca não vem de eventuais defeitos de Alckmin, mas da possibilidade de vitória do candidato de Lula, o temível “Poste”.

Geraldo Alckmin dispõe de um razoável patrimônio administrativo. Basta contrapor as administrações tucanas de São Paulo desde 2001, quando ele se sentou na cadeira de governador, com as do Rio de Janeiro. Naquele tempo estava lá o governador Anthony Garotinho, sucedido por um ano pela petista Benedita da Silva, e em seguida por Rosinha Garotinho (mulher de Anthony), Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. De um lado, cinco pragas, do outro, o picolé de chuchu tentando ser sorvete italiano.

Pelo estilo pessoal, Alckmin parece-se com um personagem da galeria de governadores da República Velha que adornam paredes do Palácio dos Bandeirantes. Pelo estilo político, também. Estacionado nas pesquisas, tornou-se uma potência televisiva costurando alianças por cima sem enunciar uma só ideia.

Num cenário de sonho ele teria ao seu lado as multidões que foram para a rua pedindo a deposição de Dilma Rousseff. Já no cenário do pesadelo ele encarna a maioria político-partidária que colocou Temer no Planalto. Trocou-se uma presidente impopular pelo campeão de impopularidade.

O andar de cima já flertou com a candidatura do apresentador Luciano Huck, e sua banda golpista sonhou com a alternativa apocalíptica de Jair Bolsonaro. Restaram-lhe Alckmin e o medo do “Poste”.

Lula na carceragem de Curitiba vem se transformando num Getúlio Vargas recluso em sua fazenda de São Borja. Consegue isso muito mais pela soberba e inépcia de seus adversários do que por suas qualidades. Noutra comparação, Lula encarna no Brasil o fantasma argentino de Juan Perón. Por mais de duas décadas, los hermanos cantaram: “Se siente, se siente, Perón está presente”.

Com o “centrão” aninhado na candidatura de Alckmin, resta-lhe a necessidade de fazer uma campanha capaz de ser ouvida no andar de baixo. Até agora, nada.


Folha de S. Paulo: Atrás de aliança com DEM, Alckmin diz que pesquisas virarão de ponta cabeça

Ex-governador defende investigações sobre caixa dois em São Paulo e afirma ser 'vida limpa'

Por Fernando Canzian e Fábio Zanini, da Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Geraldo Alckmin, 65, pré-candidato do PSDB à Presidência, diz estar "trabalhando" para compor uma aliança com DEM, partido que tem flertado com a candidatura de Ciro Gomes (PDT).

"Se depender de mim, estaremos juntos", disse o ex-governador paulista à TV Folha.

Com 7% das intenções de voto no último Datafolha e atrás de seus principais adversários, Alckmin diz que as pesquisas vão "virar de ponta cabeça".

Sobre suspeitas envolvendo a Dersa e caixa dois para campanhas tucanas, diz que tudo deve ser investigado. "Sou vida limpa", afirma.

PESQUISAS
Nunca houve uma campanha com tanta fragmentação de pré-candidatos. Há também uma desesperança com a política. Hoje, mais de 60% dos eleitores não têm candidato definido. O que é bom. Mostra que o eleitor estará mais amadurecido.

A dez dias da eleição no Tocantins, quem estava em primeiro era o ex-prefeito da capital e, em segundo, uma senadora. Nenhum dos dois foi sequer para o segundo turno.

Essa pesquisa vai virar de ponta cabeça. A campanha só vai começar mesmo com o rádio e a televisão, que é 31 de agosto. Vai ser uma campanha curta, de um mês.

ALIANÇA COM O DEM
Se depender de mim, estaremos juntos. E já estamos em muito estados. Estamos apoiando os democratas na Bahia, no Pará, no Amapá.

É normal que os partidos tenham como objetivo chegar ao poder e ter candidato a cargo executivo. À medida que eles tinham candidato à Presidência, nós não insistimos. A partir do momento que eles disseram que vão escolher outro candidato, estamos trabalhando e queremos estar juntos.

Hoje já temos cinco partidos encaminhados para uma aliança, o que nos dará cerca de 20% do tempo no rádio e na TV. Temos um diferencial que é o que fizemos, pois entre o falar e o fazer na política existe um abismo. Como ex-governador (de São Paulo), dá para mostrar o que foi feito.

DESAFIOS
Não vai ser fácil para quem assumir a Presidência. É o sexto ano de déficit primário, com a dívida pública do governo passando os R$ 5 trilhões, chegando a mais de 75% do PIB.

Não é um quadro simples. Mas quem for eleito vai ter mais de 50 milhões de votos e a legitimidade disso é muito grande para poder implementar rapidamente as reformas.

Faremos a reforma política, com voto distrital ou distrital misto, com cláusula de desempenho mais forte. Também a reforma tributária, para simplificar o modelo, a reforma da Previdência e a reforma do Estado. Vamos enxugar, reduzir.

AJUSTE FISCAL
Nós sabemos fazer ajuste fiscal e vamos fazer isso rapidamente para a economia voltar a crescer. Não vai ter crescimento sem investimento e não vai ter investimento sem confiança de que estamos no rumo certo e que o país não vai quebrar.

E com isso podemos ter política monetária de juros baixos, câmbio competitivo e o Brasil volta a crescer. Faremos também uma grande inserção internacional. Eu pretendo abrir a economia.

CAIXA 2, CCR E DERSA
A Folha publicou na Primeira Página matéria que repercutiu em todas as televisões, rádios e sites e que era mentirosa. Ela dizia que dentro do inquérito havia sido dito que teria recursos da CCR para a minha campanha em 2010.

Ficamos sabendo e nosso advogado leu de A a Z. Não tem nem menção. Fazer uma matéria de ouvir dizer é muita irresponsabilidade. Não se pode brincar com o caráter das pessoas.

[Em maio, a Folha publicou reportagem mostrando que a CCR, maior concessionária de estradas do país, repassou R$ 5 milhões para o caixa dois da campanha de Alckmin, segundo relatos de representantes da empresa ao Ministério Público. O dinheiro teria sido entregue ao cunhado do tucano, o empresário Adhemar Ribeiro, segundo a narrativa feita à Promotoria, que ainda investiga o caso].

Agora, se surgiu uma denúncia, investigue-se. Sou vida limpa. Tenho 40 anos de vida pública e meu patrimônio não dá para comprar aquela máquina ali [diz, apontado para uma câmera].

Precisa respeitar as pessoas. Essa forma de jogar todo mundo, dizer que ninguém presta, é um grande desserviço para a sociedade, porque você destrói a política.

Com o Paulo Vieira [de Souza, ex-diretor da Dersa investigado por desvios] eu não tenho nenhum relacionamento. Com o Laurence Casagrande [outro ex-diretor da Dersa investigado] eu não tenho nenhuma intimidade.


O Estado de S. Paulo: O governo padece de uma questão de legitimidade’, diz Alckmin

Tucano afirma que não cogita aliança com o MDB: ‘Estamos procurando o apoio de partidos que não têm candidato’

Por Adriana Ferraz, Emanuel Bonfim e Pedro Venceslau, de O Estado de S.Paulo

O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, disse em entrevista ao Estado e à Rádio Eldorado que não pretende defender o “legado” do presidente Michel Temer caso seja eleito. Alckmin afirmou também que não vai convidar o emedebista para ocupar cargo no governo nem dar indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

No campo econômico, o sr. prega a continuidade do governo Michel Temer?
Não. Acho que ninguém está discutindo legado, estamos discutindo o futuro. O governo atual tem um grande problema, que é a falta de legitimidade porque não teve voto. Na democracia tem que ter voto. A união entre o cidadão e o governo se dá pelo voto, por isso essa dificuldade enorme.

Se o sr. for eleito, vai dar indulto ao ex-presidente Lula e um cargo ao Michel Temer, como uma embaixada, por exemplo?
Não e não.

Aceitaria o apoio do MDB?
Não vou cometer a indelicadeza de levantar uma hipótese sendo que o MDB tem candidato, o dr. Henrique Meirelles. Estamos procurando o apoio de partidos que não têm candidato.

Mas vê com bons olhos o apoio do MDB com Temer no pacote?
Vocês querem saber se vou defender o legado Temer. Nós vamos olhar para o futuro.

Foi um erro do PSDB ter participado desse governo e ainda ter um ministro, o chanceler Aloysio Nunes?
Todo mundo critica o presidente Temer. Acho que em muita coisa a crítica é procedente. Mas a gente tem que entender que é um governo de transição. É diferente de um governo eleito. Padece de uma questão de legitimidade.

Mas foi um erro?
Quando começou o governo do presidente Temer eu fui da tese que devíamos apoiar todas as medidas que o Brasil precisa, mas sem participar de governo e ter ministério. Essa não foi a tese majoritária. O Aloysio ajuda o País, mas não representa o PSDB.

Vídeos divulgados na semana passada nas redes sociais mostram claques recebendo o sr. em aeroportos. É nova estratégia de campanha, no estilo Bolsonaro?
Fiquei muito feliz. Quem não gosta de carinho, de afeto. Isso aconteceu em Brasília e aqui em São Paulo também. Para mim a campanha começa mesmo depois das convenções, e não é apenas pela lei, mas pelo interesse maior da população.

Foi espontânea essa mobilização? Ou uma estratégia do partido para parecer que o senhor não está isolado?
A maioria das pessoas que estavam é militante do partido que eu não via há muito tempo e deu para matar a saudade.

O sr. tem sido alvo de fogo amigo dentro do PSDB? Há relatos que teria se irritado em jantar com aliados em Brasília...
Não tem nenhuma irritação, pelo contrário, temos recebido grande apoio do partido. O que se pode fazer é olhar o copo meio cheio, meio vazio. Dos candidatos mais ao centro, que são dez praticamente, eu tenho a melhor posição. Está todo mundo com 1%, no máximo chega a 4% e eu vou de 7% a 11%. Agora, está muito fragmentado. Precisa diminuir o número de pré-candidatos, o que eu acho que vai acontecer lá no final de julho.

Qual a prioridade na formação de alianças? Cogita fazer aliança com Marina Silva, por exemplo, como o ex-presidente Fernando Henrique teria sugerido?
Olha, seria indelicado com a Marina especular qualquer aliança na medida em que ela é pré-candidata, já foi candidata a presidente da República e acredito que vá ser candidata. Agora conversar é sempre bom. O presidente Fernando Henrique tem nos ajudado muito, é um homem do diálogo, das pontes.

A que o sr. atribui esse patamar baixo nas pesquisas?
Não me preocupa muito essa coisa de pesquisa nesse momento. A maioria das pessoas ainda acha que eu sou governador de São Paulo. A informação demora.

Uma articulação, com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique, tenta unificar todas as candidaturas do centro em uma só. O sr. está disposto a abrir mão?
Eu gostei desse documento, acho que precisamos estar próximos daqueles que prezam, acreditam na democracia conquistada duras penas. Agora, todos vão abrir mão para um só ser candidato? Acho que não.

Então não abre mão da candidatura?
Não há nenhuma razão para abrir mão. As pessoas querem decidir a eleição sem ter havido campanha.

Jair Bolsonaro está empatado com o sr. em São Paulo, Estado que o sr. governou por mais de 13 anos. Como explica isso?
Olha, aqui (em São Paulo) nós vamos ganhar a eleição, estou garantindo, e com larga margem. A pesquisa, neste momento, não é de intenção de voto. Mais de 60% das pessoas dizem não ter candidato. E eu não vou fazer campanha contra candidato A, B ou C.

O sr. diz que não faz campanha contra, mas posts nas suas redes sociais são contrárias a ele, o que parece estratégia de campanha de polarizar com Bolsonaro.
O que eu falei é que os extremos às vezes se atraem. Se você for verificar os votos, o Bolsonaro, que é deputado pela oitava vez acho, vota igualzinho ao PT. É aquele voto corporativo, atrasado.

O sr. acha mais importante disputar o antipetismo com o Bolsonaro ou manter pontes com o PT para enfrentá-lo no 2º turno?
O que pretendo é percorrer o Brasil levando uma mensagem de esperança para a população, explicando o que nós já fizemos, porque tem muita gente prometendo mundos e fundos e não entregou nada.

O antipetismo não está no seu radar?
Não, nós vamos levar esperança para o Brasil.

O sr. acredita ainda na polarização PT e PSDB?
Acho que o PT, independentemente de quem seja, terá um candidato competitivo.

O sr. vai ter que se explicar na campanha sobre a investigação que envolve seu cunhado, Ademar Ribeiro, citado por delatores da Odebrecht como o homem que recebeu caixa 2 para a sua campanha de 2010. O sr. defende que esse caso seja investigado na Justiça Eleitoral, mas por que, se diz que ele não tinha função na sua campanha?
Isso não existe. As minhas campanhas, em primeiro lugar, sempre foram modestas e, segundo, sempre rigorosamente dentro da lei. Faz um ano e meio que ouço isso e até agora não houve nenhum fato. Ninguém está acima da lei, tem denúncia, por mais estapafúrdia que existe, investigue-se. Já prestei esclarecimento.


Hubert Alquéres: Pedras no caminho

“Mongezinho, Mongezinho, tens um duro caminho”. As palavras que Martinho Lutero ouviu de um frei amigo quando da sua peregrin ação para Worms caem como uma luva para o duro caminhar do governador Geraldo Alckmin para se tornar protagonista da sucessão presidencial.

Sua maratona começa no próximo fim de semana quando, por consenso, será sacramentado presidente do PSDB na convenção partidária. Com a Pax tucana do momento, procura saltar a primeira pedra no meio do caminho: a eterna divisão interna que tantos prejuízos trouxeram em outras campanhas.

Se a balcanização do tucanato não fosse temporariamente estancada seriam diminutas suas chances de inverter a centrifugação do campo político situado entre os extremos Lula-Bolsonaro. Por falta de um polo catalizador, o centro navega à deriva, com suas possíveis candidaturas sofrendo de raquitismo eleitoral como mostram os dados do último Datafolha.

Diz-se de Geraldo Alckmin ser um político bafejado pela fortuna. A sorte parece lhe sorrir de novo, uma semana após a desistência de Luciano Huck. A conclusão do voto do juiz relator do julgamento de Lula no Tribunal Regional Federal da Quarta Região é uma confirmação da informação de Lauro Jardim, segundo a qual este julgamento acontecerá em marços ou abril.

Nunca se sabe o que se passa em cabeça de juiz, mas nove entre dez analistas acreditam na condenação de Lula. Nem ele mesmo acredita na sua absolvição. Mesmo que seja um cabo eleitoral fortíssimo, uma coisa é a urna eletrônica com Lula, outra é sem ele.

No mínimo caciques do PMDB vão refrear seu ímpeto de embarcar na canoa do caudilho. Ora, Alckmin ganha tempo com isso. A sorte pode estar tirando outra baita pedra do seu caminho. Sem Lula, o fantasma Bolsonaro perde gás. Eleitores que estão em sua órbita por ser antilulista podem voltar o leito do centro democrático.

E mesmo nos números do Datafolha é possível ver frestas de luz onde só se enxerga breu.

Ainda que a recuperação da economia acelere o passo, o impacto sobre o humor dos brasileiros não se dará a ponto de tornar competitiva uma candidatura saída do ventre do governo, tipo Henrique Meirelles ou Rodrigo Maia.

Com Maia não se dispondo a entrar em aventuras e Meirelles comportando-se como um elefante em loja de louça, sua entrevista à Folha mostrou isso, é bem capaz de o tucano virar o candidato do centro por W.O, assim como foi ungido presidente do PSDB.

Ninguém se elege só com a sorte. Sem a virtude, ela é de pouca monta. O candidato tucano terá de provar a sua competência para superar os próximos vários obstáculos na corrida presidencial. Sem um projeto para o país ser uma nação desenvolvida e socialmente justa, o PSDB não irá muito longe.

Outra pedra é o chamado“desembarque elegante”, uma verdadeira esfinge. A qualquer hora pode surgir novo curto circuito na relação com o governo Temer. A dubiedade da bancada do PSDB na Câmara Federal para aprovar a reforma da previdência pode inviabilizar a estratégia do paulista de ficar com o bônus do tempo televisivo dos partidos governistas sem o ônus de ser governo.

Esta é a parte mais delicada da estraté gia de Alckmin. De um lado, tem de fazer gestos a Michel Temer e ao PMDB, de outro, não pode colar sua imagem à de um governo de popularidade baixíssima. Político que se preza não dá o beijo da morte com ninguém. E Temer é o próprio beijo da morte.

Sobretudo é preciso construir uma explicação para a sociedade, a essas alturas pouco tolerante com a ambiguidade do tucanato. Há que se arrumar uma explicação convincente para duas perguntas caraminholadas na cabeça do seu eleitorado tradicional: por que sair do governo só agora? E qual a razã o para sair?

Tudo será inócuo se não promover a reconciliação do PSDB com seus eleitores. Seu baixo índice de intenção de votos no Datafolha também é produto da mágoa dos 51 milhões de brasileiros que votaram em Aécio e, legitimamente, se sentem traídos. Para Alckmin é fundamental a aliança com os partidos tradicionais, mas só terá chances reais de vitória se incorporar os sentimentos de renovação da política e de valorização da ética.

Só assim não será punido pelos eleitores e terá um final bem mais feliz do que o de Lutero que, ao encerrar sua dura caminhada, se salvou da morte, mas foi excomungado e condenado ao silêncio pela Dieta de Worms.

* Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo


Merval Pereira: Alckmin quer prévias

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, telefona para garantir que não sairá do PSDB mesmo que não seja escolhido pelo partido como candidato à Presidência da República. Mas ele tem uma exigência: que o candidato tucano seja escolhido através de prévias nacionais com os filiados. Ele garante que não existe possibilidade de a nova direção partidária, a ser escolhida em dezembro, seja qual for, decida sozinha o candidato do partido às eleições presidenciais de 2018.

‘Quem define o candidato não é a direção nacional, mas as prévias”, afirma Geraldo Alckmin, que se compromete a respeitar o resultado mesmo que não seja ele o escolhido. “Fui fundador do PSDB em 1988, a sétima assinatura, não existe a hipótese de sair do partido para disputar a Presidência por outro partido”, garante.

Com isso, Alckmin pretende encerrar as especulações, feitas inclusive por mim, sobre uma possível saída do PSDB se o grupo do senador Aécio Neves (MG) mantiver a presidência do partido através da eleição do governador de Goiás, Marconi Perillo, em dezembro. A especulação é de que Alckmin candidato pelo PSB, partido de seu vice, Márcio França.

Alckmin não acredita que uma direção nacional eventualmente contrária à sua candidatura tenha condições de interferir na escolha do candidato do partido em uma eleição interna prévia: “Não existe esse perigo de uma prévia que não exprima a vontade majoritária do partido. Serão centenas de delegados, talvez milhares, não existe possibilidade de manipulação”, analisa o governador de São Paulo.

No partido, há uma divisão clara entre os que apoiam a candidatura de Geraldo Alckmin em 2018 e os partidários do senador Aécio Neves, que teriam preferência pelo próprio Perillo ou ainda o prefeito de São Paulo, João Doria, em uma aliança com o PMDB de Michel Temer. Essa possibilidade, por sinal, está provocando movimentações na base aliada de Temer.

O PP, por exemplo, está pressionando para que a reforma ministerial saia antes da convenção que vai escolher, dia 20 de dezembro, o novo presidente e a executiva nacional do PSDB. Não quer correr o risco de, saindo vencedor o grupo do senador Aécio Neves, os tucanos continuarem agarrados em seus ministérios, mesmo que em caráter pessoal.

Na convenção estadual que elegeu um aliado de Alckmin para dirigir o partido em São Paulo, gritos de “fora, Aécio” foram ouvidos insistentemente, o que demonstra o antagonismo entre as duas correntes no momento.

A outra candidatura na disputa é a do senador Tarso Jereissati, que foi destituído por Aécio da presidência interina sob a alegação de que não poderia presidir a convenção, já que é parte interessada. Este grupo, apoiado pelo expresidente Fernando Henrique Cardoso, tem como candidato natural o governador Geraldo Alckmin, lançado pelo ex-presidente tucano como nome de consenso também para presidir o partido.

Se essa sugestão fosse acolhida, estaria praticamente definida a candidatura à presidência da República. Até o momento, no entanto, não há possibilidade de acordo, sendo que também o senador Jereissati tem sido aventado como possível candidato à Presidência. Existe ainda a candidatura já lançada do atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.

O governador de São Paulo acha que, havendo mais de um candidato a postos majoritários — senador, prefeito, governador e presidente da República —, a escolha deve sair de prévias partidárias, como aconteceu na definição do candidato a prefeito de São Paulo, vencida por João Doria com o apoio de Alckmin. Doria acabou derrotando o então prefeito, Fernando Haddad (PT), no primeiro turno.

Alckmin acha que as prévias animam o partido e colaboram para dar vigor à candidatura vencedora, desde que os demais candidatos assumam o compromisso de apoiar o vencedor. Ele lembra que, nas eleições americanas, o número de postulantes à vaga de candidato à Presidência da República sempre é muito alto no começo — chegaram, por exemplo, a 17 no Partido Republicano, antes da definição por Trump — e geralmente o vencedor consegue unir em torno de si a maioria partidária.

 

 


Geraldo Alckmin: ‘Quero ser presidente do povo brasileiro’

Governador Geraldo Alckmin fez a declaração em evento, ontem. No PSDB há consenso de que dificilmente ele deixará de ser candidato. Governador paulista adota posição explícita sobre candidatura ao Planalto e diz que pretende ser ‘o presidente do povo brasileiro’; na Paraíba, Doria modera críticas a Lula.

Pedro Venceslau, Dayanne Sousa | O Estado de S. Paulo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fez ontem as declarações mais enfáticas como pré-candidato à Presidência da República desde que admitiu publicamente, em agosto, a intenção de participar da disputa do ano que vem. O tucano afirmou querer ser “o presidente do povo brasileiro”. Dentro do PSDB, já há um avaliação predominante de que dificilmente o governador não será o candidato do partido ao Planalto.

Num embate velado, Alckmin tem como rival interno o prefeito João Doria, que, mesmo sem assumir a disposição de se candidatar ao Planalto, age nesse sentido e mantém uma agenda de viagens pelo País. Ontem, a 2.730 quilômetros de distância da capital paulista, na Paraíba, o prefeito voltou a receber homenagens e discursou para uma plateia de empresários. Doria tenta aumentar o seu nível de conhecimento entre os eleitores, principalmente no Nordeste, para tentar chegar competitivo na convenção tucana, prevista para o final do ano ou início de 2018.

Em São Paulo, ao participar da inauguração da nova sede de uma empresa de cosméticos, Alckmin foi questionado sobre a comparação entre ele e a candidata democrata americana Hillary Clinton, feita pela Consultoria Eurasia anteontem. O governador foi classificado como o candidato do “establishment” – a elite política. “Da elite, não”, rebateu Alckmin. “Eu quero ser o presidente do povo brasileiro, dos empresários que geram emprego, do trabalhador sacrificado do Brasil”, afirmou o tucano.

Alckmin disse também que “a modéstia” não lhe permitia responder à pergunta sobre se seria o melhor nome para a Presidência. O governador evitou comparações entre ele e Doria.

Questionado se seria capaz de conduzir o governo de São Paulo e ao mesmo tempo viajar pelo País, Alckmin se recusou a responder. Doria afirma que as viagens para diversos Estados não prejudicam sua gestão porque é capaz de usar a tecnologia para administrar a cidade à distância. Ontem, após ser homenageado na Paraíba com o título de cidadão de Campina Grande, o prefeito seguiu para Paris.

Escolhido. A declaração enfática de Alckmin foi vista dentro do PSDB como a forma de responder às críticas de que sua candidatura representa a política tradicional, que enfrenta hoje forte rejeição por parte da sociedade de acordo com a última pesquisa Ipsos publicada no domingo no Estado. Segundo o estudo, os políticos tradicionais, como o tucano, têm a imagem mais desgastada do que aqueles que se apresentam como não políticos, como Doria. No levantamento, Alckmin tem 73% de desaprovação.

“Internamente no PSDB, o Alckmin já é considerado candidato. Tasso (Jereissati, presidente interino da sigla) deixou claro isso quando afirmou que ele é o primeiro da fila”, afirmou o deputado federal Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB.

A forma mais explícita de Alckmin se posicionar também é vista dentro do PSDB como uma estratégia para tentar minimizar o efeito Doria na legenda. Tanto o governador quanto o seu afilhado político vêm aumentando o tom na disputa. Um tucano disse, reservadamente ao Estado, que Alckmin não quer “dar chance” a Doria para que ele ocupe espaços no partido.

Anti-Lula. Ontem, em Campina Grande, Doria testou uma abordagem diferente da que vinha colocando em prática desde que assumiu a prefeitura de São Paulo em janeiro. Ele moderou os ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem já chamou de “sem vergonha” e “bandido” e evitou o bordão “nossa bandeira nunca será vermelha”, comum nas recentes aparições públicas. O tucano chegou a defender o petista e a presidente cassada Dilma Rousseff durante entrevista a uma rádio da Paraíba afirmando que eles têm o direito de “peregrinar” pelo País. “Entendo que isso é legítimo e não faço objeção a esse ato. O que continuarei a fazer é objeção ao discurso, o meu é diferente”, disse Doria.

Nas últimos meses, o prefeito paulista tem se colocado como um antagonista do ex-presidente. A radicalização do tucano levou a críticas internas no PSDB. Questionado sobre sua postura, Doria disse que “não quer falar mal de ninguém”. “Discurso de nós contra eles não é a melhor proposta para o Brasil”, disse, repetindo a afirmação feita por Tasso em entrevista ao Estado.

Depois do evento na Paraíba, o prefeito paulistano embarcou para França, onde participa hoje de um evento organizado pela Positive Planet Foundation. Na agenda do prefeito em Paris consta um jantar onde estará o presidente francês Emmanuel Macron.