Folha de S. Paulo

Hélio Schwartsman: Bolsonaro, a ciência e a ética

Nossas decisões são inapelavelmente determinadas pela ética ou pela falta dela

Hoje eu vou dar uma de filósofo chato e preciosista. Tornou-se um lugar-comum afirmar que Bolsonaro age contra a ciência e que suas atitudes diante da pandemia de Covid -19 são absurdas. Concordo que são absurdas, mas receio que não seja tão simples carimbá-las como anticientíficas.

Não me entendam mal, sou fã da ciência. É a ela que devemos quase todos os desenvolvimentos que tornaram a existência humana menos miserável nos últimos séculos. Mas, se quisermos usar os conceitos com algum rigor, a ciência nunca nos diz como devemos atuar.

Quem chamou a atenção para o problema foi David Hume (1711-1776). Para o filósofo, existe uma diferença lógica fundamental entre proposições descritivas, que são as que a ciência nos dá, e proposições prescritivas ou normativas, que são as que se traduzem em decisões de como agir. Nós nunca podemos extrair as segundas diretamente das primeiras. Esse passo necessariamente envolve valores, que não são do domínio da ciência, mas da ética.

Isso significa que a ciência só vai até certo ponto. Ela nos esclarece sobre o comportamento de vírus novos em populações suscetíveis, alerta para a força avassaladora da curva exponencial e vai nos municiando com os parâmetros epidemiológicos do Sars-Cov-2, sobre os quais ainda paira muita incerteza. O que fazemos com essas informações, porém, já não é da alçada da ciência.

Muitas vezes, os cenários traçados pelos especialistas são tão desequilibrados que não deixam margem a dúvida. A escolha sobre o que fazer se torna simples aplicação do bom senso. É o caso da adoção do isolamento social nesta primeira fase da epidemia. Em outras tantas, porém, sobrepõem-se camadas adicionais de complexidade, que precisamos sopesar à luz de valores.

O ponto central é que nossas decisões devem ser informadas pela ciência, mas são inapelavelmente determinadas pela ética —​ou pela falta dela.


Vinicius Torres Freire: Bolsonaro contra-ataca os inimigos do coronavírus

Novo ministro quer reabertura gradual, mas faltam meios para bancar plano ainda vago

Em cerca de uma semana, vamos saber se a epidemia avança de fato em ritmo menos rápido, como pareceu nos últimos dias. Ainda que os dados tenham problemas, tratados com alguns ajustes sugerem que o Brasil poderia entrar no caminho do “achatamento da curva” que também parece acontecer nos países ocidentais maiores.

Talvez estivéssemos a evitar explosão ainda mais terrível da doença e da mortandade, mesmo que as políticas estaduais de contenção da epidemia venham sendo sabotadas por Jair Bolsonaro.

Ainda serão. Mais do que isso, Bolsonaro começou um confronto sem limite com o Congresso. Disse que Rodrigo Maia, presidente da Câmara, quer depô-lo e arruína o país.

Prometeu que vai continuar a campanha contra o “isolamento”. Ao demitir Luiz Henrique Mandetta, imagina ter vencido a guerra em uma frente, no Ministério da Saúde, e que poderá se dedicar ao combate contra governadores e o Congresso.

Nos discursos da nomeação do novo ministro, Nelson Teich, em entrevistas e no Planalto, Bolsonaro disse que estados e prefeitos foram radicais, causam colapso econômico e mandam a conta para o governo federal. Chamou as Forças Armadas de “minhas” e, no Palácio, disse que vai acabar a “palhaçada dos governadores”.

O novo ministro diz que existe um “alinhamento completo” entre ele e Bolsonaro, mas que não haverá mudanças abruptas na política para a epidemia. Qual prazo Bolsonaro dará a Teich?

Teich disse que implementaria uma política de reabertura social e econômica aos poucos, ao que parece baseada em testagem em massa da população.

Ainda não há testes nem para precisar o andamento da epidemia no Brasil, que em testagem fica atrás até dos vizinhos sul-americanos. Basear uma de fato correta política gradual de reabertura socioeconômica depende também de:

1) Existência de testes em massa, capacidade de análise (pessoal e materiais), organização de um programa (como uma grande vacinação continuada);

2) Um plano de procura de doentes e rastreamento de possíveis infectados, o que depende de tecnologia, lei e pessoal (como o do programa de saúde da família): de organização;

3) Planos de contenção de danos, como distribuição em massa de máscaras para a população e monitoramento de contágios em empresas, por exemplo;

Não haverá testes em massa tão cedo (meses?). Não há sinal de plano federal de rastreamento. Alguns estados fazem planos de implementar tais programas, ainda muito incipientes, até porque faltam recursos e, enfim, é necessária alguma coordenação nacional, dinamitada pelo Planalto.

Como vai ser então? Uma reabertura baseada em dados melhores da epidemia e planos adicionais de controle vai demorar.

O que Bolsonaro vai fazer? Sabotagem maior e imediata? Ou pode se satisfazer com a ideia de que conseguirá colocar na conta dos governadores a depressão econômica que virá, como disse explicitamente ontem?

Congresso, Supremo e governadores deram sinais de que ainda estão dispostos a conter as duas epidemias: o desgoverno federal e a Covid-19. Câmara e Senado reagiram à saída de Mandetta com uma rara, se não inédita, nota conjunta, e difundiram sinais de que vão podar iniciativas ruinosas do Executivo federal.

Se Bolsonaro tiver sucesso na sua contraofensiva, a curva de doentes e mortes vai explodir. A explosão pode ir além. Bolsonaro vai atacar o isolamento que o país mais racional procura impor à sua doença autoritária e necrófila.

“A luta continua” e é de várias mortes.

Vinicius Torres Freire é jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).


Bruno Boghossian: Osmar Terra também errou previsão sobre gripe suína em 2009

Dentro do Planalto, ministro demissionário submete presidente a uma humilhação pública

Nos salões de mármore do Planalto, a algumas dezenas de passos do gabinete presidencial e com transmissão ao vivo pela TV oficial do governo, Luiz Henrique Mandetta submeteu Jair Bolsonaro a uma humilhação pública. Até o último minuto, o ministro demissionário decidiu pintar o chefe como inimigo do esforço de combate ao coronavírus.

Naquela que pode ter sido sua última entrevista no cargo, Mandetta reconheceu haver “um descompasso” entre sua equipe e o presidente.

Mediu o peso da palavra, mas deixou claro o contraste. “Nossa bússola é a ciência”, disse, mostrando o que espera do outro lado: “Ou você se baseia na ciência, ou fica no ‘eu acho’”.

O ministro ironizou os planos de substituir medidas de distanciamento por um isolamento vertical (“não sei de onde vêm essas angulações”), negou recomendação ao uso indiscriminado de cloroquina e criticou veladamente os palpiteiros que cercam o governo.

“Não somos astrólogos, não fazemos previsões. Pegamos as informações”, declarou.

A missão de Mandetta foi expor os riscos do comportamento do presidente. “Baseado em ciência, tenho esse caminho pra oferecer”, resumiu.

Bolsonaro quer trocá-lo por alguém alinhado a suas convicções —ou seja, um subordinado que não denuncie sua tentativa maluca de minimizar o perigo do vírus. O chefe precisará arcar com os custos dessa decisão.
****
Quando o Rio Grande do Sul registrou a primeira morte por gripe suína, em 2009, o secretário de Saúde gaúcho disse que ninguém deveria se preocupar.

“O risco é inferior ao da gripe comum”, contemporizou, em entrevista ao jornal Zero Hora. “O fato de ter morrido uma pessoa no estado é uma circunstância lotérica.”

Ele desdenhou da pandemia e errou feio. Naquele ano, o país teve 2.060 mortes provocadas pelo H1N1. Só 142 entraram na conta de outras variações de influenza.

O secretário era o doutor Osmar Gasparini Terra –oráculo de Bolsonaro em seu trabalho de sabotagem ao próprio país.


Vinicius Torres Freire: Dopado pela cloroquina, país esquece o essencial na guerra do coronavírus

Cadê a produção em massa de UTIs, testes e medidas para evitar mais ruína de empresas?

É uma obviedade fúnebre e terminal que o Brasil não tem política nacional para lidar com a epidemia. Há algumas ilhas mais racionais de governança, ainda assim inconstantes e precárias, nos estados, no Congresso e em partes de ministérios, quase todas sabotadas pelo indivíduo que ocupa a cadeira de Presidente da República.

No que resta de governança, é preciso prestar atenção ao essencial, que não é a conversa lunática sobre qual tipo de óleo de cobra cura a espinhela caída da Covid-19.

O que é essencial?

Primeiro, organizar ou determinar, se for o caso, a produção de bens para combater a doença, como numa guerra se produzem aviões e tanques.

Onde está a produção aumentada e em massa de equipamentos de UTI, testes, infraestrutura para analisar seus resultados, aparelhos de proteção para o pessoal da saúde? Nós não temos NEM AS ESTATÍSTICAS DA PRECARIEDADE.

Segundo, fazer testes em massa para combater a doença e inventar um plano de saída. NÓS NÃO TEMOS TESTES, nem meios nem planejamento de como fazê-los e para quê. É preciso falar de testes diariamente, à exaustão.

Terceiro, evitar ao máximo a ruína de empresas. A destruição de empresas não apenas dizima empregos, mas acaba com capital organizacional (conhecimento das empresas), “humano” (trabalhadores especializados em um setor ou desempregados de longa duração têm dificuldade de arrumar emprego). É preciso evitar que a recessão neste ano seja maior que o afundamento horrendo e somado de 2015 e 2016. Mais: sem evitar destruição maior de empresas e sem um plano também econômico de saída, a depressão pode durar muito além. 2023?

Na última semana de março, o governo federal dizia que haveria 22,9 milhões de testes para Covid-19. Na semana passada, dizia que haveria uns 9 milhões até julho. Em um boletim também da semana passada, dizia que “estaria mandando” uns 450 mil testes para os estados até hoje.

No começo do mês, o ministro Paulo Guedes (Economia) dizia a empresários que estaria negociando a compra de testes, o bastante para testar 40 milhões de pessoas por mês e, assim, dar “passaporte de imunidade” para trabalhadores.

Parece aquelas contas de trilhão dos economistas do governo. Cadê? São Paulo fez até agora uns 15 mil testes.

Falta ainda dinheiro para que empresas não naufraguem em massa, sejam micro ou médio-grandes, não importa. Faz duas semanas que está no governo uma conversa sobre dar crédito aos micro pelo sistema das maquininhas (pelo qual bancos financiam as vendas a crédito dos pequenos, em suma).

Cadê? Seja esta ou outra solução, está atrasada em relação ao crédito para as pequenas e médias, de resto insuficiente. Faz umas duas semanas se espera um plano de socorro para microempresas (com faturamento inferior a R$ 360 mil por ano) e para empresas maiores (faturamento anual de R$ 10 milhões por ano) que vão naufragar igualmente na paralisação da epidemia, a depender dos setores. Cadê?

Dizer que os pacotes de socorro devem atender primeiro os mais necessitados é uma obviedade e uma tolice enviesada por uma versão perversa e ora completamente fora de lugar da ideia de focalização de gasto social.

Sem poder gastar, o desempregado antes remediado ou que tinha rendimento bem acima da média nacional vai causar estrago no rendimento de quem vem abaixo na pirâmide socioeconômica. O desempregado da empresa maior deixará de comprar, pagar contas ou o empréstimo no banco. É uma cascata de quebradeira.


Bruno Boghossian: Falta de testes ajuda campanha fantasiosa de Bolsonaro

Subnotificação pode ampliar falsa sensação de fim da epidemia e relaxar isolamento

"Ainda não estamos lá", afirmou Anthony Fauci, conselheiro da Casa Branca na crise do coronavírus. Enquanto Donald Trump ameaça governadores e diz ter autoridade para reabrir a economia, o imunologista disse à agência Associated Press que os EUA não têm testes e redes de rastreamento suficientes para fazer as vontades do presidente.

O médico já havia envergonhado Trump ao dizer que o governo americano deveria ter agido mais cedo contra a pandemia. Agora, ele expõe uma realidade que muitos líderes tentam esconder: não há como voltar à normalidade se não houver exames em massa para acompanhar o contágio e isolar doentes.

No Brasil, Jair Bolsonaro ainda precisa de uma dose dupla de vergonha. O presidente insiste em retomar a atividade econômica na marra e diz, talvez com base no próprio achismo, que "está começando a ir embora essa questão do vírus".

Bolsonaro gostaria de lançar o país numa espécie de roleta russa. Sem testes suficientes para detectar o coronavírus, será impossível identificar individualmente os trabalhadores contaminados, que transmitirão o vírus a outras pessoas. Para piorar, o presidente se aproveita da subnotificação de casos para fazer propaganda enganosa do fim da epidemia.

Especialistas alertam há semanas que o número de infectados e de mortes provocadas pela Covid-19 são mais altos do que os confirmados pelas autoridades. Só em São Paulo, havia uma fila de mais de 15 mil testes sem resposta. Os números oficiais de vítimas já são alarmantes, mas podem ser muito maiores.

A incerteza sobre o alcance real da doença favorece a campanha fantasiosa do presidente, que até hoje debocha do vírus. A subnotificação pode ampliar a falsa sensação de que a crise não é tão grave e de que o isolamento é desnecessário.

Com um número ínfimo de testes realizados, talvez o país só conheça a dimensão exata da pandemia tarde demais, quando decisões erradas aumentarem o desastre. No escuro, até Bolsonaro pode parecer ter razão.


Hélio Schwartsman: A avó de todas as vacinas

Corrida em busca de uma vacina contra a Covid-19 é notável

Nossa melhor esperança para uma volta à normalidade é o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. Há uma verdadeira corrida mundial por um imunizante. Apenas três meses após a identificação da doença, surgiram vários candidatos a vacina, alguns dos quais já estão sendo ministrados a humanos para testar a segurança e a intensidade da resposta imune.

É um feito notável, considerando que avanços em pesquisas de novas vacinas costumam medir-se em anos, não em meses. Ainda assim, não temos nenhuma segurança de que poderemos contar logo com um imunizante, se é que o Sars-Cov-2 é um vírus “vacinizável”. Nem todos são. Um prazo muito repetido na imprensa é o de um ano e meio a dois anos para um produto que possa ser usado em escala comercial.

Enquanto isso, na blogosfera nerd norte-americana, já há quem cogite apelar para a variolação. Para os muitos leitores que não devem estar familiarizados com o termo, a variolação é o ancestral das vacinações. Historicamente, consistiu em inocular pessoas com uma dose baixa do vírus da varíola, o que normalmente produzia uma infecção branda, mas que ainda assim proporcionava imunidade.

Da China medieval à África do século 20, foi praticada em diferentes épocas em várias partes do mundo. Caiu em desuso depois que Edward Jenner desenvolveu a primeira vacina de verdade contra a doença, no final do século 18.

A ideia de inocular propositalmente o Sars-Cov-2 em voluntários parece hoje maluca, mas, dependendo de como a epidemia evoluir, poderá deixar de ser. Meu receio, se a proposta dos passaportes de imunidade —que, diga-se, faz todo o sentido— prosperar, é que gente vulnerável que precisa desesperadamente trabalhar adote uma forma selvagem de variolação, expondo-se ao vírus sem preocupar-se com a dose no contágio nem com o necessário isolamento posterior, o que só agravaria a situação.


Ranier Bragon: É correto chamar Bolsonaro só de irresponsável?

Como qualificar quem despreza a vida humana em nome da sobrevida política?

Se hoje o presidente da República batesse à porta das pessoas sugerindo estricnina para tratar cólicas, possivelmente não seria removido em uma camisa de força. Provavelmente surgiria aí um debate nacional. Especialistas de coisa nenhuma sairiam dos bueiros para adulá-lo, o bom senso se insurgiria, carreatas de novos e velhos ricos cafonas enfeariam as ruas e estaria instalada mais uma balbúrdia.

A atual pandemia já matou mais de 100 mil pessoas, com uma média subestimada de cerca de 100 mortos por dia no Brasil. Brincar com isso, desprezar isso, é só irresponsabilidade?

Entre um passeio e outro à padaria, Bolsonaro se insurge contra o mundo e busca sabotar o trabalho do ministro que se recusou a aderir ao batalhão dos paspalhos.

Em um caso que envolve vidas, muito mais de cem mil, você prefere estar ao lado da ciência, do bom senso, da razão ou ao lado da ala cafajeste do empresariado e de gente como o profeta Osmar Terra, que há alguns dias disse que a Covid-19 mataria menos gente do que a gripe sazonal do Rio Grande do Sul. Era uma aposta corajosa, que, em suas próprias palavras, poderia desmoralizá-lo por completo —e nesse ponto não podemos negar que ele estava coberto de razão.

Poupem-me da suposição de que Bolsonaro esteja preocupado com os miseráveis. Em toda a sua longa carreira política,só se lembrou de pobres para defender a sua esterilização em massa. O presidente nem esconde que seu real temor é ser culpado pela debacle econômica, levando seu governo, de vez, para o beleléu.

Não há, em um momento como esse, "ninguém em sã consciência preocupado com popularidade", assegurou nesta segunda (13) Sergio Moro, mestre em dizer pouco falando muito e em dizer muito não falando nada.

Embora também odeie artigos que deixam as perguntas no ar, transfiro ao leitor e à leitora a conclusão.É correto chamar Bolsonaro só de irresponsável? Como diziam e dizem colegas muito mais gabaritados do que eu, cartas à Redação.


Joel Pinheiro da Fonseca: Um presidente sem palavra

Um presidente irrelevante não merece tanta atenção da mídia

Um bom exemplo do poder das palavras de um líder veio do Reino Unido. Tendo se recuperado de um caso grave de Covid-19, o primeiro-ministro Boris Johnson gravou um depoimento oficial lapidar: demonstra empatia com os doentes, apoio e admiração aos profissionais de saúde, louva o sistema público de saúde do país e conclama a população ao esforço coletivo necessário para enfrentar a tragédia.

Independente do juízo maior que se possa fazer sobre o governo de Boris Johnson, foi uma fala digna de um líder nacional.

Ninguém cogita que algo similar possa vir de Bolsonaro. Não esperamos do presidente nenhum sentimento nobre, nenhuma inspiração coletiva, nada que acene para a união e para valores nacionais. Dele não sai nada além de provocações baratas e brigas políticas de absoluta mesquinhez.

Elas também não indicam o rumo que o governo tomará. Até o momento em que escrevo esta coluna, Luiz Henrique Mandetta continua ministro da Saúde, mesmo depois de dar uma entrevista ao Fantástico em que disse com todas as letras que ele e o presidente divergem na estratégia. Que ele continue ministro só demonstra o quão frouxo é Bolsonaro no campo da ação.

Fala que o isolamento social é desastroso para o Brasil e mesmo assim não troca o ministro que promove o isolamento. Bolsonaro torna-se cúmplice daquilo que suas palavras condenam. Ladra, mas não morde.

Tampouco esperamos a verdade das palavras dele. Quando Bolsonaro disse em 9 de março que tinha “provas” de que as eleições de 2018 foram fraudadas, ninguém acreditou —nem mesmo seus apoiadores e fãs. Era óbvio que ele não tinha prova nenhuma; era só mais um blefe, mais uma mentira contada para chacoalhar as águas do debate público e ser esquecida no dia seguinte, quando novas provocações aparecessem.

Assim como a emissão descontrolada de moeda corrói seu valor, o palavrório inconsequente de Bolsonaro deprecia a palavra presidencial. Durante uma hiperinflação, as pessoas param de aceitar pagamentos em dinheiro. É hora de tratar as palavras do presidente da mesma maneira: como elas de nada valem, também não devem ser levadas a sério ou receber o destaque da imprensa.

Como todo mundo que passou pelos anos de colégio deve ter aprendido, uma provocação só tem poder na medida em que damos importância a ela. Bolsonaro ir a pé à farmácia ou à padaria nada mais é do que uma provocação barata de um presidente que carece da coragem para fazer valer suas palavras na condução do governo.

Essa e outras pirraças presidenciais (e dos filhos) são objetivamente irrelevantes para o país, e só adquirem centralidade na medida em que reagimos a elas.

Tornar as suas gracinhas o centro diário do debate público é conceder-lhe uma importância que não tem. O presidente não manda mais no país. Comporta-se como uma criança birrenta que tenta atrapalhar o trabalho dos adultos.

Na medida em que seu choro desvia nossa atenção, ele é bem sucedido. Está desacreditado, mente sem parar, e busca gerar barulho para que não nos demos conta do óbvio: na maior crise de seu governo (a primeira não causada por ele), Bolsonaro é irrelevante. Tratemo-lo como tal. Neste momento, não merece mais do que a notinha no pé da página.

*Joel Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP.


Nabil Bonduki: Enfrentar o bolsonavírus será mais difícil do que vencer a Covid-19

Ao agir de maneira irresponsável, desrespeitando protocolos, Bolsonaro não está pregando no deserto

Uma mulher enfurecida invade a telinha, arranca o microfone do repórter Renato Peters, que estava ao vivo no SPTV (Rede Globo), e com uma agilidade impressionante consegue gritar em exatos três segundos, antes da imagem ser cortada: “A Globo é um lixo, o Bolsonaro tem razão”.

O incidente mostra a existência na sociedade brasileira um vírus ainda mais poderoso que a Covid-19: o “bolsonavírus”. Inicialmente invisível, permaneceu por muito tempo “dentro do armário”, onde cresceu vitaminado pelo preconceito, pelo obscurantismo religioso, pelo poder miliciano e pela sensação de insegurança.

Alimentou-se do desgaste e do elitismo da política institucional, da incapacidade da centro-direita liberal dialogar com as classes populares, das alianças e da convivência com a corrupção dos governos progressistas e do ativismo judicial seletivo que, em conluio com a mídia, desestruturou o sistema político brasileiro. Quando a internet se universalizou, a fake news se tornou um instrumento poderoso para a difusão dessa ideologia.

Considerado, até 2018, um “folclórico”, Jair Messias era a expressão política, quase única, desse “vírus”. Embora possa parecer que tem algum desvio mental, ele não é um transloucado. É o lider de um espectro ideológico que ganhou muitos adeptos.

Machistas, racistas e homofóbicos e negacionistas, mas também gente simples do povo que frequenta cultos na periferia, uma classe média conservadora e, às vezes, mal informada, agentes de segurança, defensores da pena de morte e até um empresariado um pouco selvagem. Virou uma doença crônica que, embora ainda não tenha contaminado majoritariamente o corpo social, ficou tão forte que é difícil contê-la.

Por isso não se deve menosprezar a força e a estratégia do presidente. Ao agir de maneira irresponsável, desrespeitando os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde e autoridades sanitárias, ele não está pregando no deserto. Ao contrário, apesar dos crimes que comete, tem o respaldo de um contingente expressivo da população.

Isso não só potencializa o risco da pandemia se transformar em um genocídio, como ameaça a democracia, o desenvolvimento científico, os direitos humanos, a tolerância e os valores civilizatórios que galgamos desde a Constituição de 1988.

Mesmo depois de afirmar que a Covid-19 era uma “gripinha”, de gerar aglomerações que contribuem, direta e indiretamente, para a propagação do vírus, e de atacar o isolamento social, universalmente considerado o principal instrumento para deter a propagação do coronavírus, a popularidade do presidente não caiu significativamente.

Segundo o Datafolha, 52% dos brasileiros acham que ele tem capacidade de liderar o país. Frente à sua inapetência em lidar com a crise sanitária e econômica, a enquete é assustadora. Seu desempenho na crise sanitária é considerado “ruim ou péssimo” para apenas 39% da população. A maioria, 58%, não o desaprova: 33% acha que ele faz “bom ou ótimo” trabalho e 25% considera “regular”.

Como interpretar esse expressivo apoio popular em um momento em que o presidente está politicamente isolado, em conflito com o ministro da Saúde, governadores e prefeitos, sem apoio do Congresso, limitado pelo STF, atacado por quase toda a mídia tradicional e pelos blogs alternativos e sofrendo uma oposição de amplo leque político da centro direita à esquerda, com panelaços diários?

A explicação está no fato dele expressar uma concepção que se enraizou em setores expressivos da sociedade, que lhe dá sólida sustentação. Uma visão que despreza, entre outros aspectos, o desenvolvimento científico e os direitos humanos.

As recomendações da Saúde estão respaldadas no conhecimento científico; no entanto, mais de um terço dos brasileiros não acreditam na ciência, como revelou a pesquisa global “Wellcome Global Monitor” da Gallup, publicada na revista Science em 2019.

Ela mostrou que o Brasil ocupa o 111º lugar no ranking dos países que mais confiam na ciência, entre as 144 nações incluídas. O levantamento revelou que 35% dos brasileiros desconfiam da ciência e que 23% acreditam que a produção científica não beneficia a sociedade.

Mais grave: metade dos brasileiros afirmaram que a “a ciência discorda da minha religião” e desses 75% (37,5% do total) disseram que “quando ciência e religião discordam, escolho a religião”.

Não por acaso, o apoio ao presidente é maior entre os evangélicos. Nesse segmento, o desempenho do presidente na crise sanitária é considerado “ótimo e bom” para 41% e “regular” para 29%, enquanto que 60% acha que ele tem condições de liderar o país.

Nas próximas semanas estaremos no pico da pandemia, mas está caindo, em várias cidades, o respeito ao isolamento social. Na 4ª feira, apenas 51% dos paulistanos ficaram em casa, quando o ideal seria 70%. Nas áreas mais periféricas o desrespeito é generalizado; nesse sábado, o comercio estava a toda e vários bailes funk ocorreram em espaços públicos.

A situação é de extrema gravidade. Por um lado, o presidente estimula a retomada das atividades e o fim do isolamento, influenciando tanto trabalhadores informais e micro empresários em dificuldades econômicas, como os já contaminados pelo bolsonavirus, que não acreditam na ciência e, portanto, nas recomendações sanitárias.

Por outro, os mais pobres e vulneráveis se veem obrigados a buscar alguma renda frente à demora e falta de coordenação governamental e federativa em apoiar uma população, cujas condições de vida, moradia e transporte são favoráveis à propagação do Covid 19, como mostrei nas minhas últimas colunas.

Existe uma estratégia sanitária para enfrentar o Covid 19 que, se fosse bem sucedida, poderia reduzir os danos e encurtar a quarentena. Mas se o “bolsonavírus” prevalecer, o sacrifício dos que se isolaram será em vão e uma catástrofe poderá acontecer.

Muitos dos que apoiaram Bolsonaro na eleições de 2018, mesmo sabendo o que ele representava, acharam que seria apenas uma “dorzinha de barriga”. Agora todos estão vendo que é muito mais do que isso. ​

*Nabil Bonduki é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.


Leandro Colon: Servidor público também precisa pagar a conta da crise

Governo propõe cortes no setor privado, mas há um silêncio sobre medidas para o funcionalismo

O Senado tem ao todo cinco funcionários no “serviço aeroportuário”. As remunerações partem de R$ 25 mil, segundo registros oficiais.

A atribuição deles é cuidar do planejamento das viagens das autoridades e de seus convidados que desembarcam no aeroporto de Brasília.

O serviço é subordinado à Polícia Legislativa do Senado, que fornece 19 servidores, com bons salários, para o “serviço de plenário e comissões”.

Outros 22 policiais legislativos trabalham na proteção do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ao todo, a Casa tem cerca de seis mil funcionários de carreira e comissionados. Em tempos de sessões virtuais, com senadores votando de casa pela internet, e voos restritos, é inútil o “serviço aeroportuário”.

Assim como não há necessidade para 19 policiais cuidarem da segurança do plenário e das comissões, que estão inoperantes fisicamente.

Mas enquanto o governo federal propõe o corte de jornada e dos salários do setor privado para enfrentar a crise do coronavírus, há um silêncio sobre medidas que atinjam o bolso do funcionalismo público.

Os três Poderes —Executivo, Judiciário e Legislativo— não se mexem para buscar uma saída legal que corte na própria carne.

O presidente do STF, Dias Toffoli, por exemplo, tratou de acalmar a tropa da Justiça quando a hipótese de redução salarial foi aventada.

Reportagem publicada no domingo (12) na Folha mostra que haveria um caixa de R$ 6 bilhões se houvesse uma diminuição de 25% na jornada e nos salários por três meses na administração federal.

Somando os funcionalismos estadual e municipal, o valor subiria a R$ 36,8 bilhões, de acordo com estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Um dinheiro que poderia ir para o combate à pandemia.

Grande parte desses são servidores de carreira, que compõem uma elite com estabilidade trabalhista em meio a uma crise econômica que promete ser sem precedentes. Que ao menos então recebam menos por trabalhar menos nesse período.


Rolf Kuntz: No menosprezo à vida e à ciência Bolsonaro é coerente

Defendendo armas e combatendo radares, ele já desprezou a vida

Rainha da Inglaterra? Nada disso. Bolsonaro é muito diferente. Elizabeth II fala corretamente seu idioma, é informada, tem compostura e respeita os limites constitucionais. Nunca menosprezou a cultura, nem a ciência, nem a vida de seus súditos. O presidente brasileiro foi comparado à rainha, impropriamente, porque o ministro da Saúde tem dado pouca atenção a seus palpites.

Além disso, milhões de cidadãos apoiam o isolamento social, contrariando a orientação do assim chamado chefe de governo. Nem no Executivo suas palavras são levadas a sério, como nos primeiros tempos. No entanto, o capitão é a mesma figura, coerente no despreparo, na pobreza intelectual, no menosprezo à vida de seus concidadãos e no desprezo à ciência.

“Infelizmente algumas mortes terão”, disse o presidente, em seu dialeto, no dia 27 de março. “Paciência, acontece, vamos tocar o barco”, acrescentou. Segundo ele, as consequências do esfriamento econômico seriam “mais danosas do que o próprio vírus”. Traduzidas para o português corrente, essas palavras só podem significar: as mortes de alguns milhares de pessoas, nesta altura, são preferíveis às perdas de produto e renda, à quebra de algumas empresas e ao provável aumento do desemprego. Que as perdas econômicas sejam superáveis, ao contrário das perdas de vidas, parece ter pouca ou nenhuma importância para sua excelência.

Esse menosprezo à vida alheia foi novamente exibido, em Brasília, dois dias depois. “Vamos enfrentar o vírus com a realidade”, propôs o presidente. “É a vida. Todos nós iremos morrer um dia”, continuou. E então? Se todos morrerão um dia, será isso um motivo para atravessar a rua sem cuidado ou para jogar bituca de cigarro num posto de gasolina? Ele falou, enfim, como se a certeza da morte como destino final de cada um tornasse a vida um traste sem valor. Detalhe interessante: esses comentários foram feitos durante um passeio em Brasília, no meio de um ajuntamento, situação propícia ao contágio, à multiplicação de doentes e, portanto, ao risco de morte para muitas pessoas.

Ninguém se espantará com essa atitude se lembrar o presidente Bolsonaro nos primeiros meses de mandato. Facilitar a posse e o porte de armas foi uma de suas prioridades. Desemprego elevado e economia emperrada nunca tiveram destaque em seus pronunciamentos, até recentemente. Muito mais importante era armar a população. Ele também se empenhou, em 2019, em relaxar os controles de segurança nas estradas, defendendo a remoção e a redução de radares. Propôs, além disso, a ampliação do limite de pontos por infrações de trânsito.

Mais armas de fogo, mais pontos na carteira e menor controle por meio de radares são claros sinais de desprezo à vida. Tão claros quanto a negação do risco de contágio e de morte pelo novo coronavírus. A comparação da covid-19 com uma gripezinha já virou assunto internacional. Motivo de escândalo fora do Brasil, essa atitude foi citada, num comentário reprovador, pelo primeiro-ministro da Grécia, Kyriákos Mitsotákis. Depois de apontar o erro do presidente brasileiro, Mitsotákis lembrou a proteção da vida como primeira obrigação de seu governo.

Segundo Bolsonaro, a maioria das pessoas precisa trabalhar, muitas delas sem perder um dia. É verdade, mas hoje é preciso, em primeiro lugar, proteger a vida dessas pessoas. É obrigação do Estado. Com alguma demora, o ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu essa tarefa e montou, com sua equipe, um plano de ajuda aos trabalhadores mais vulneráveis e a seus empregadores. O plano pode ter falhas, mas é uma resposta séria à emergência. O governo pouco fez em 2019 para desemperrar a economia e criar empregos. Não por acaso o produto interno bruto (PIB) cresceu apenas 1,1%, taxa menor que a do ano anterior, 1,3%. Mas a equipe econômica se dispôs, enfim, a enfrentar a pandemia, dando atenção aos trabalhadores e suspendendo a arrumação fiscal, com apoio do Congresso.

E o presidente, por que se mostra tão interessado, afinal, pela saúde da economia, depois de haver negligenciado o assunto no ano anterior? Pode ser difícil uma resposta precisa, mas há uma explicação pelo menos compatível com seu perfil: além de atender a pressões empresariais, ele tenta reverter o desgaste político, preocupado com seu grande objetivo pessoal, a reeleição.

O presidente Bolsonaro também é coerente ao desprezar a ciência. O desprezo se manifesta quando ele se opõe ao isolamento social, contrariando a experiência estrangeira, assim como as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Fica também evidente quando ele insiste em difundir o uso da cloroquina. A substância tem sido usada em casos graves, mas faltam dados sobre sua eficiência para outros pacientes. Além disso, cardiologistas apontam efeitos colaterais, com risco de morte. Esse Bolsonaro é aquele mesmo empenhado, em 2019, em negar as informações do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O presidente de hoje, enfim, é o mesmo das queimadas, da recusa da ciência e da guerra à cultura.

*Jornalista


Vinicius Torres Freire: Coronavírus vai mudar o beijo e o trabalho por ainda muitos meses

Não haverá um dia seguinte social e econômico até que se saiba o tamanho da epidemia

No dia depois do amanhã da epidemia, o aperto de mão deveria ser extinto, que dirá um beijo e um abraço, disse Anthony Fauci, o grande imunologista, consultor da Casa Branca para assuntos de Covid-19. Nos EUA, já é uma campanha.

Como vamos nos cumprimentar seria até um problema simpático para o dia seguinte, o dia da vitória contra o coronavírus. Mas não haverá um dia seguinte, a julgar pelo que dizem cientistas, mas arrastados meses de guerrilha contra o inimigo.

Um grande problema é que nem sabemos onde está o inimigo, pois ainda não há ideia de quantas pessoas já foram de fato infectadas. Assim, também não sabemos dos amigos, do risco de namorar, de crianças brincarem com os avós, de trabalharmos ao lado dos colegas e de nos juntarmos para qualquer atividade.

Por terrível que seja, o HIV pode ser contido por um pingo de juízo e um pedaço de borracha, mas uma conversa ingênua pode espalhar o corona. É um predador que pode nos esperar até na maçaneta, na maçã, na barra do ônibus ou no papel do pão.

Uma vitória de fato contra a epidemia depende, óbvio, de remédio que ao menos reduza a capacidade mortífera do corona à de um vírus da gripe, digamos, embora não se saiba qual a letalidade da Covid-19 (por falar nisso, nem mesmo precisamente a da gripe). “Por enquanto, exceto no que diz respeito a medidas de apoio, a infecção pelo SARS-CoV-2 é essencialmente intratável”, diz um editorial do “BMJ”, a reputada revista médica britânica, de 8 de abril.

Dizer que não se conhece a letalidade do coronavírus significa basicamente que não se sabe quantas pessoas foram infectadas (é menos difícil contar os mortos).

Um estudo amplo publicado na “Lancet” (“Estimates of the severity of coronavirus disease 2019: a model-based analysis”) estima que a letalidade seria de 0,66% (número de mortes por infectados na população em geral, não apenas entre “casos confirmados”). Pelos dados oficiais, a letalidade vai de menos de 2% (Coreia do Sul, Japão, Alemanha) a mais de 12% (Itália). Tal disparidade indica disparates nas contagens.

É mais um indício de que não sabemos quantos infectados há, com o que não sabemos quantas pessoas estão (possivelmente) imunizadas. Não sabemos com quem estamos falando. Com um imune? Doente assintomático? Vítima potencial? De quê? De qual risco de morrer?

Quantos casos teria tido a Itália até agora, por exemplo? Uns 150 mil, como diz a contagem oficial? Ou uns 2 milhões ou até 4 milhões (a depender de como se dê o chute, de qual número se use para a taxa de letalidade e para o tempo médio que a doença leva para matar)?

De qualquer modo, por estes números, a Itália ou qualquer lugar do mundo ainda estaria longe de ter chegado a um nível de imunização que dá cabo da epidemia. Logo, no “dia seguinte”, teremos de sair para a rua tateando, aos poucos, a não ser que sejamos salvos por avanços súbitos e ora inesperados na medicina.

Para que se tenha alguma boa medida da epidemia, é preciso fazer amostras nacionais, estudos que o Brasil e alguns países do mundo estão à beira de começar.

Enfim, trata-se aqui apenas de “um beijo, um abraço e um aperto de mão”, da volta do convívio social, da possibilidade de recomeço. Para recomeçar mesmo, haverá um sistema de relações e proteções sociais para refazer, uma economia para tirar da ruína, um sistema de cooperação internacional para reconstruir. É história para outro dia.