Eleições

Luiz Carlos Azedo: Cunha e a Lei de Dostoiévski

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi preso preventivamente ontem, por ordem do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a pedido do Ministério Público Federal, que temia a sua fuga para o exterior por ter passaporte italiano. Sua prisão teve grande repercussão no Congresso, embora fosse esperada desde a sua cassação.
Os procuradores usaram os mesmos argumentos utilizados junto ao ministro-relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, para afastá-lo do comando da Casa, o que foi decidido ‘excepcionalmente’ pelo Supremo. Agora, afirmaram que o político “ainda mantém influência sobre seus correligionários, tendo participado de indicações de cargos políticos do governo Temer”.
Segundo eles, Cunha “não poupou esforços para embaraçar as investigações” e seu poder “não diminuiu após ter deixado a Câmara”. Há um certo exagero na afirmação, mas não há dúvida de que Cunha continua tendo certa influência, embora menor do que aquela que tinha antes. Pesou também na decisão de Moro a acusação feita pelos procuradores de que Cunha teria indicado aliados para cargos estratégicos no governo. Na petição encaminhada ao juiz federal de Curitiba (PR) Sérgio Moro, citaram, como exemplo, a nomeação de Maurício Quintela para o Ministério dos Transportes. Segundo a denúncia, o parlamentar ainda tentou indicar um apadrinhado para cargo estratégico na Receita Federal.

Moro, porém, negou a apreensão dos carros de luxo de Cunha e de seus familiares – Porsche Cayenne(2013), Porsche Cayenne (2006/2006), Land Rover Freelander (2007/2008), Hyundai Tucson (2008/2009), Volkswagen Tiguan (2010/2011), Volkswagen Passat Variant (2003/2004), Ford Edge (2013) e Ford Fusion (2013) –, mas bloqueou a transferência dos veículos. Também negou nova busca e apreensão na casa do ex-presidente da Câmara, porque essa operação já havia sido feita por ordem do STF. Moro não viu necessidade de nova busca.
A prisão provocou uma espécie de barata-voa na Câmara, onde os aliados de Cunha já se articulam para fazer o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da Casa. Na eleição passada, foram derrotados porque o parlamentar carioca se articulou com a antiga oposição e com o PT. Além disso, os ex-aliados que votaram pela cassação de Cunha temem que o parlamentar, uma vez preso por tempo indeterminado, acabe recorrendo à delação premiada, como fez o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral (ex-PT-MS).

Cunha destacou-se no parlamento como hábil negociador de projetos de natureza econômica e financeira, fazendo a interlocução entre grandes empresas, parlamentares e o próprio governo para aprová-los. Sua prisão se deu em razão da Operação Lava-Jato, mas seu envolvimento no caso é apenas a ponta de um iceberg. O mandato de quem recebeu dinheiro de Cunha para campanha pode subir no telhado.
Apesar da tensão no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer está blindado constitucionalmente: não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato, mesmo que Cunha faça alguma acusação contra ele. Mas a prisão do ex-presidente da Câmara serve também de aviso para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cujo afastamento do cargo e prisão já foram pedidos três vezes pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Todos foram negados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de razões juridicamente robustas. Renan não cometeu os mesmos erros de Cunha, não aceitou um confronto aberto com o MPF. Articula nos bastidores do Congresso uma lei contra o abuso de autoridade e uma anistia para quem praticou “caixa dois eleitoral”. Porém, responde a meia-dúzia de processos no STF e deve deixar o comando do Senado em fevereiro, para assumir a liderança do PMDB. O novo cargo é poderoso, mas não na relação entre os poderes. Renan virou uma espécie de bola da vez entre os políticos investigados pela Lava-Jato.

Sabe o que fez

Durante o fim de semana, militantes petistas espalharam nas redes sociais o boato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria preso por Moro e chegaram a fazer uma vigília na porta do prédio onde o petista mora, em São Bernado do Campo. A prisão de Cunha funcionou como uma espécie de anticlímax para a mobilização, esvaziando o discurso de que o foco do magistrado era o PT. Lula chegou a escrever um artigo denunciando as investigações como perseguição política, com o objetivo de inviabilizar sua candidatura presidencial. Também deflagrou uma campanha internacional.
Pesquisa CNT/MDA divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra Lula com 11,4% de intenções de voto na resposta espontânea e, na forma induzida, de 24,8% a 27,6 %. Nas simulações de segundo turno, porém, perderia para Aécio Neves (PSDB-MG (37,1% a 33,8%) e para Marina Silva (35,8% a 33,2%). Mas venceria do presidente Michel Temer (37,3% a 28,5%). O discurso no qual Lula se vitimiza na Lava-Jato, porém, não cola. É aí que entra a lei de Fiódor Dostoiévski, autor de Crime e Castigo, o clássico russo da Literatura Universal. Lula se comporta como um Raskólnikov ao ter tanta certeza de que será preso antes mesmo de ser julgado.


Fonte: correiobraziliense.com.br


Luiz Carlos Azedo: Entre a cruz e a espada

O Rio de Janeiro marcha para um cenário de muita confusão política, em meio à recessão e ã crise fiscal

O segundo turno das eleições no Rio de Janeiro merece uma reflexão mais profunda sobre seus significados na política nacional. O embate entre o senador Marcelo Crivella (PRB) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol) sinaliza uma disputa na qual os grandes protagonistas da política nacional — PMDB, PSDB e PT — estão fora do jogo. Entram em cena, de um lado, o dogmatismo de natureza religiosa, representado pelo pastor da Igreja Universal do Reino de Deus; de outro, o dogmatismo ideológico de esquerda, representado pelo PSol.

Depois da derrota acachapante do PT em todo o território nacional, a do prefeito Eduardo Paes (PMDB) — cujo candidato à sucessão, deputado Pedro Paulo (PMDB), ficou de fora do segundo turno, mesmo com o sucesso das Olimpíadas — antecipa um cenário que pode se repetir na política nacional em 2018. Um eventual colapso do governo Temer levaria de roldão não somente o PMDB, mas também o PSDB. Esse risco não decorre apenas da situação da economia, mas em razão do desgaste que ambos os partidos podem sofrer com a Operação Lava-Jato, vide o desastre eleitoral petista.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) promoveu uma ruptura com as lideranças políticas tradicionais, inclusive do seu próprio partido, com a candidatura bem-sucedida do empresário João Doria. No Rio de Janeiro, o que se observa é a aparente exaustão do PMDB, partido que deu as cartas na política do estado desde 2006. Ocorre que seus adversários tradicionais, o PT, o DEM, o PSDB e o PDT, também têm lideranças desgastadas ou incipientes. Sem alternativas ao centro, o eleitorado foi polarizado por duas candidaturas dogmáticas, uma de direita e outra de esquerda; os candidatos de centro-esquerda, centro e centro-direita acabaram descartados pelos eleitores.

Evangélicos

A presença de lideranças evangélicas na política não é nova e chegou ao protagonismo no Congresso após a eleição do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Câmara, da qual foi afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sendo, posteriormente, cassado pelos próprios colegas, em razão de seu envolvimento no escândalo da Petrobras. As características do senador Crivella, porém, são diferentes, do ponto de vista das condutas pessoal e política. Crivella não se tornou evangélico para ocupar espaço numa fatia do eleitorado. É representante orgânico de uma poderosa facção religiosa. Sua candidatura ultrapassa os limites da busca de simples representação parlamentar para representar um ambicioso projeto de poder político.

Sem preconceitos, essa projeção de Crivella é decorrência da presença das igrejas evangélicas e pentecostais nas comunidades pobres de todo o país, em particular no Rio de Janeiro, onde exercem um papel crescente na organização da vida comunitária e preservação dos costumes e da estrutura familiar tradicionais. Não é pouca coisa, diante do cenário de violência e degradação social que predomina nessas comunidades, a maioria desassistida pelo Estado e controlada por milícias e traficantes. Crivella, porém, não tem o perfil do fanático religioso, embora seja o mais orgânico dos representantes de sua igreja. Para se eleger, fará um discurso laico e buscará alianças ao centro.

Socialistas

Freixo representa os setores radicalizados da classe média carioca, principalmente dos servidores públicos e funcionários de empresas estatais. Seu partido, o PSol, é formado por lideranças de esquerda que romperam com o Partido dos Trabalhadores depois do escândalo do mensalão, com um discurso socialista radical impregnado de dogmatismo marxista. Sua projeção política não decorre só do ardor dos militantes de sua campanha, mas da forte atuação parlamentar em defesa dos direitos humanos, das minorias e contra a violência urbana.

Os votos tradicionais da esquerda carioca, pautada pelo velho nacionalismo e por uma visão estatizante, concentrados do Grajaú ao Leblon, porém, não são suficientes para Freixo vencer o pleito. É necessário que ele amplie alianças em direção ao centro, aproveitando o fato de que o PMDB, o PSDB e o DEM foram batidos no primeiro turno. Essa foi a oportunidade que faltou aos candidatos de esquerda que maior projeção conquistaram em pleitos anteriores, Denise Frossard (PPS) e Fernando Gabeira (PV). Ocorre que os militantes do PSol não aceitam essa inflexão política, confundindo o que seria o “aggiornamento” da candidatura com o “transformismo” petista que tanto criticam.
O Rio de Janeiro marcha para um cenário de muita confusão política. Imaginem uma cidade cujo hino é uma marchinha de carnaval governada por um prefeito guardião da família e dos seus costumes, diante de uma oposição aguerrida, que reunirá movimentos sociais, intelectuais e artistas, ou um prefeito radical, contra os principais meios de comunicação e a favor da estatização dos serviços públicos, em meio à recessão e uma crise fiscal sem precedentes no estado. Ou seja, o Rio está entre a cruz e a espada.


Fonte: blogs.correiobraziliense.com.br


Luiz Carlos Azedo: Lula na ponte aérea

Duas eleições municipais estão implodindo a frente de esquerda que o PT articulou para deixar o poder em ordem e tentar sobreviver às eleições municipais, garantindo uma mínima base de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018: a de São Paulo e a do Rio de Janeiro. Em ambas, as forças que adotam a narrativa de golpe — PT, PCdoB, PSol e representantes da Rede — se digladiam e correm o risco de ficar fora do segundo turno. Com exceção de Rio Branco, no Acre, o PT enfrenta grandes dificuldades nas capitais, a começar pela reeleição de Fernando Haddad em São Paulo.

Em São Paulo, a possível ausência do prefeito Fernando Haddad (PT) no segundo turno subverte a lei da gravidade, uma vez que administra o terceiro orçamento do país e disputa a eleição com a máquina administrativa da capital sob seu controle, mas não será surpresa. Sua administração é considerada um desastre pelos paulistanos. No Rio, se houver segundo turno, a disputa poderá ser entre Marcelo Crivella (PRB) e o candidato do PMDB, Pedro Paulo, apoiado pelo prefeito Eduardo Paes, que surfa os louros do sucesso das Olimpíadas, apesar do peemedebista ter a pecha de supostamente “bater em mulher”. A candidatura de Jandira Feghali (PCdoB), apoiada pelo PT, pode tirar do segundo turno o candidato do PSol, Marcelo Freixo.

Sampa

O empresário João Doria (PSDB) assumiu a liderança da disputa em São Paulo, em pesquisa Ibope divulgada ontem, com 28%. O deputado federal Celso Russomanno (PRB) continua em queda, com 22%. Em seguida vêm a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB), com 16%, mostrando certa capacidade de recuperação; o atual prefeito, Fernando Haddad (PT), com 13%; e a deputada federal e ex-prefeita Luíza Erundina (PSol), com 5%, também em ligeira recuperação. Major Olímpio (Solidariedade) teve 1% das intenções de voto, assim como Ricardo Young (Rede), João Bico (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB).

Marta sofre duros ataques dos adversários, principalmente de Russomanno, que vem caindo e teme ser volatilizado, ficando fora da disputa, e do prefeito Haddad, que tenta resgatar os votos tradicionais do PT, nacionalizando a campanha. A forte movimentação organizada pelo partido após o julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, com grandes manifestações na Avenida Paulista, serviu para reforçar o discurso contra a ex-petista, vinculando-a ao presidente Michel Temer.

O fato de ter deixado a legenda e votado a favor do impeachment estimula impiedosos ataques dos petistas contra Marta, que ficou ensanduichada, mas tem muito voto popular na periferia de São Paulo. O voto da classe média é seu maior problema. Além de arcar com o desgaste do apoio a um governo federal de baixa popularidade, Marta não conta com o apoio do presidente Michel Temer, que teme desagradar o governador Geraldo Alckmin (PMDB). O tucano aposta todas as fichas na eleição de Doria, cuja ascensão é impressionante, para se viabilizar como candidato em PSDB à Presidência em 2018. Luíza Erundina (PSol) resiste às pressões para desistir da candidatura e apoiar Haddad, para levá-lo ao segundo turno.

Rio

Marcelo Crivella lidera com folga a disputa no Rio de Janeiro, com 34% dos votos, segundo o Ibope divulgado ontem. Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSol) estão empatados, com 10%. Pedro Paulo conta com 18% das intenções de votos na parcela da população que recebe menos de um salário-mínimo, Marcelo Freixo desponta entre os eleitores com renda acima de cinco salários (16%). Geograficamente, ocupam territórios demarcados: Freixo nas zonas Sul e Norte, Pedro Paulo na Oeste. Quem invadir a praia do outro vai para o segundo turno.

Acontece que os votos da esquerda carioca estão divididos por causa da candidatura da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), apoiada pelo PT, que tem 7% dos votos, empatada com Flávio Bolsonaro, também com 7%. Foi ultrapassada por Índio da Costa (DEM), que está com 8%; Carlos Osório (PSDB) caiu para 4%. Molon, da Rede, está empatado com Carla Migueles, do Partido Novo, com 1%. Como Haddad em São Paulo, Jandira nacionalizou as eleições: na semana passada, atraiu a ex-presidente Dilma para a campanha (o que provocou sua queda nas pesquisas), mas depois levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um comício em Campo Grande, para seduzir eleitores contra o impeachment.

Sua candidatura é acusada de divisionismo pelo PSol, que denuncia um acordo de bastidor do PT com o prefeito Eduardo Paes para viabilizar a ida de Pedro Paulo para o segundo turno. A manobra tem a cara do ex-presidente Lula, que sempre usou a legenda como moeda de troca para suas alianças no Rio de Janeiro com o grupo político do ex-governador Sérgio Cabral. A juventude de esquerda, intelectuais e artistas estão com Freixo. É o caso, por exemplo, de Chico Buarque, que compareceu ao comício do candidato do PSol no mesmo dia em que Lula prestigiava Jandira. (Correio Braziliense – 29/09/2016)


Fonte: pps.org.br


Mais transporte e áreas verdes. Quais promessas os eleitores querem ouvir nestas eleições

Iniciativas desenvolvidas com participação da sociedade civil reúnem ações e compromissos que esperam ver nas campanhas e, depois, nos planos de governo dos candidatos eleitos.

Uma das cenas mais comuns de uma campanha eleitoral é ver um candidato na TV prometendo mais “saúde, educação e segurança”, sem avançar muito nas propostas. Para tentar melhorar a qualidade do debate e evitar tantas generalidades, entidades civis estão organizando propostas concretas para problemas comuns a muitas das cidades brasileiras.

São projetos de movimentos que ouvem sugestões e demandas de organizações não-governamentais, entidades e movimentos comunitários. Depois, essas propostas são apresentadas para candidados a prefeito de centenas de municípios. Nestas eleições, ao menos dois grupos estão desenvolvendo atividades para apresentar cartas-compromisso, em que o político assume a intenção de executar parte daquelas ideias se for eleito.

Um deles é o movimento Rede Nossa São Paulo, que reúne 700 organizações de entidades civis e atua na promoção de atividades ligadas a desenvolvimento sustentável e democracia participativa.

O outro é o Cidade dos Sonhos, projeto desenvolvido pela Purpose, uma agência aceleradora de movimentos e de iniciativas focadas na temática sustentável. O projeto tem o apoio de outros 30 parceiros, entre eles ANTP (Associação Nacional de Transporte Público), Greenpeace, Pimp My Carroça, Observatório do Recife e Casa Fluminense.

“Esse tipo de iniciativa obriga os candidatos a aprimorarem suas promessas e a sair do discurso genérico das campanhas eleitorais, que muitas vezes não se compromete com nenhuma ação concreta”, afirma Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo.

Para garantir que as cartas-compromisso, uma prática relativamente comum nesse período, a Nossa São Paulo e a Cidade dos Sonhos propõem ações de acompanhamento após as eleições para tentar garantir o cumprimento das propostas.

Pela internet, uma proposta de plano de governo

O site da Cidade dos Sonhos traz 20 propostas organizadas em quatro eixos temáticos: mobilidade, energia, áreas verdes e resíduos. Os integrantes do projeto vão compilar os votos dos internautas e elaborar documentos com as propostas para serem entregues aos candidatos de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, a partir de 15 de agosto, quando começa a campanha eleitoral.

Nas demais capitais e cidades, o Cidade dos Sonhos pretende fornecer os resultados a entidades locais para que elas pressionem os candidatos a incluírem as ações em seus programas eleitorais. O aplicativo também permite que o próprio internauta elabore sua relação de prioridades e se organize para cobrar seu candidato.

“Conhecer a opinião das pessoas é importante. Tem tantas cartas-compromisso, tantas iniciativas para influenciar candidaturas, mas quantas delas escutam de fato as pessoas antes de levar as propostas? A ideia era abrir esse canal de diálogo”, argumenta Gabriela Vuolo, representante da Cidade dos Sonhos.

Após as eleições, os organizadores do projeto vão seguir em atividade nas capitais em que os candidatos se comprometerem com as propostas para acompanhar a execução das ações.

Compromisso e acompanhamento do depois

A exemplo do que fez em 2012, a Rede Nossa São Paulo vai apresentar aos candidatos de centenas de cidades, o programa “Cidades Sustentáveis”, documento que inclui metas de desenvolvimento, sugestões de ferramentas para gestão e exemplos de 200 boas práticas.

Após as últimas eleições, a entidade acompanhou a gestão de 283 prefeitos eleitos que assinaram a carta-compromisso. Em troca, eles receberam um software com indicadores sociais e econômicos do município, além de capacitação de profissionais para uso do programa. O objetivo era ajudar as gestões a definirem prioridades e planejarem ações. Daquele universo de cidades, 110 levaram o programa adiante.

Em 2016, a entidade vai novamente propor uma carta-compromisso a candidatos de 300 municípios, incluindo as capitais e cidades com mais de 100 mil habitantes em todas as regiões do país. O número de municípios é definido de acordo com a estrutura da entidade para fornecer o software, capacitar os servidores e acompanhar as ações.

Todas as boas práticas listadas estão em execução em cidades brasileiras ou de outros países. Elas são divididas em 12 eixos, como governança, mobilidade, saúde, desenvolvimento sustentável e medidas para redução de desigualdades sociais.

Quem assina a carta, se compromete a se inspirar nas diretrizes do programa e a usar parte delas em suas propostas. Se eleito, o prefeito deve apresentar um plano de governo em até 120 dias depois da posse.

Abaixo, o Nexo listou algumas das propostas elaboradas pelos grupos e que vão compor documentos a serem apresentados aos candidatos:

Propostas municipais

1 - TRANSPORTE INTEGRADO

Desenvolver uma rede que combine diversas opções de serviços em um mesmo trajeto, priorizando o transporte público. Por exemplo: ter bicicletários próximos a terminais de ônibus e estações de metrô, e interligar pontos próximos de grandes vias a ciclovias.

Para isso, as entidades sugerem que as gestões priorizem a expansão ou construção de corredores ou faixas exclusivas para ônibus, de vias para ciclistas, além promover parcerias ou implantar sistemas para aluguel de bicicletas.

Por que é importante: Uma rede integrada contribui para a redução de gases poluentes, redução de congestionamentos e oferece melhor qualidade de vida ao usuário, que perderá menos tempo em deslocamentos.

2 - RUAS SÓ PARA PEDESTRES

Manter calçadões permanentes ou criar ruas de lazer aos domingos e feriados, exclusivas para pessoas, sem circulação de veículos motorizados.

Por que é importante: Zonas de pedestres são importantes para a ocupação e requalificação do espaço público e também podem ser benéficas para regiões comerciais.

3 - GESTÃO DE RESÍDUOS E COLETA SELETIVA

Implantar serviços de coleta de materiais recicláveis e programas de incentivo para o cidadão separar o lixo de forma correta. Em Umuarama (PR), por exemplo, moradores de quatro bairros trocam material reciclável por alimentos produzidos pelos produtores rurais da região.

De acordo com dados da Cidade dos Sonhos, menos de 20% das cidades brasileiras têm sistemas de coleta seletiva. Uma outra maneira de incentivar a prática é dar melhores condições de trabalho para os catadores, com a distribuição de equipamentos de segurança e criar um cadastro desses profissionais.

Por que é importante: A reciclagem gera economia de recursos, como água e energia, e é importante para a gestão do lixo, já que evita a sobrecarga dos aterros.

4 - HORTAS NAS CIDADES

Além de criar e manter áreas verdes, como praças e parques, já há exemplos de iniciativas de implantação de hortas comunitárias em áreas urbanas e em escolas. A sugestão das entidades é ampliar a prática e incentivar a produção de alimentos sem agrotóxicos.

A criação desses espaços pode priorizar, por exemplo, bairros ou comunidades pobres.

Por que é importante: Nas escolas, hortas se tornam laboratórios de atividades didáticas e podem ajudar a reduzir gastos com a merenda. Nas áreas urbanas elas podem ser um meio de participação social e contribuir para a renda de famílias pobres.

5 - TRANSPARÊNCIA

Oferecer de forma simples e ágil informações sobre os serviços oferecidos e prestar contas dos gastos municipais. Manter sites com esses dados é obrigação prevista em lei, mas muitas prefeituras ainda dão pouca atenção a esse assunto.

Em junho, o Ministério Público Federal divulgou um Ranking Nacional da Transparência que verificou quais cidades cumprem as exigências legais sobre acesso e divulgação de informações públicas.

Por que é importante: Prestar informações de qualidade facilita a vida do cidadão que precisa informar-se sobre um determinado serviço. É importante também para controle e fiscalização da gestão, sejam eles feitos pelo  morador, pelos órgãos de controle ou pelos veículos de comunicação.

6 - PARTICIPAÇÃO E PLANEJAMENTO

Criar canais de diálogo e de participação para o cidadão acompanhar e opinar sobre os projetos da prefeitura. A Rede Nossa São Paulo cita como exemplos o Orçamento Participativo, já adotado em algumas cidades. A gestão promove audiências abertas durante o ano em que são feitas consultas para ouvir dos moradores a respeito de quais iniciativas devem receber parte do dinheiro público.

A Rede Nossa São Paulo sugere ainda a implantação da lei de Planos de Metas, que obriga o prefeito eleito a apresentar em até 90 dias o programa da gestão. Em São Paulo, lei semelhante foi aprovada em 2008 e exige que, no mínimo, as diretrizes da campanha eleitoral estejam presentes. Isso obriga que as promessas feitas pelos candidatos tenham fundamento, já que vão orientar aquele documento.

Por que é importante: Ter mecanismos de participação aproxima o morador das questões da cidade e contribui para o gestor tomar decisões realmente relevantes para um bairro ou comunidade. Esses canais, associados a um programa de metas, também orientam as ações do poder público, já que obriga a administração a se planejar melhor.


Por: Lilian Venturini - Nexo Jornal

Matéria publicada no portal Nexo.

Fonte: cidadessustentaveis.org.br


Organizações de ciclistas unem-se para incluir a bicicleta nas eleições municipais 2016

Incluir a bicicleta nas políticas públicas a serem desenvolvidas pelas prefeitas e prefeitos e vereadoras e vereadores no mandato 2017-2020 é um dos objetivos da Campanha Bicicleta nas Eleições, promovida pela União de Ciclistas do Brasil - UCB

Dar apoio aos representantes de organizações de ciclistas para que eles pautem a mobilidade urbana por bicicleta junto aos candidatos ao executivo e legislativo municipais das eleições 2016: esse é um dos objetivos da Campanha Bicicleta nas Eleições, promovida pela União de Ciclistas do Brasil.

A iniciativa, fruto de um projeto do Grupo de Trabalho de Políticas Públicas (GT Políticas Públicas) da instituição, já conta com a adesão de 26 municípios das cinco regiões do Brasil, dentre as quais estão capitais como Belo Horizonte, Manaus, Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo, bem como cidades pequenas, a exemplo de Breves, no Pará, e médias, como Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul.

Clique aqui e confira outras informações sobre a Campanha Bicicleta nas Eleições.


Fonte: www.cidadessustentaveis.org.br


Luiz Ruffato: A Igreja Universal avança

Se julgarmos pelas pesquisas para prefeito em São Paulo e no Rio, o quadro é desolador.

No próximo dia 2 de outubro, iremos às urnas para eleger prefeitos e vereadores. Deveria ser um momento em que efetivamente desempenhamos um papel fundamental na transformação da sociedade, um momento único de exercício de cidadania. Mas a pergunta que fica é: estamos nos preparando para isso? O que temos feito para melhorar o espaço em que vivemos? A mudança coletiva processa-se por meio de ações individuais: é como nos relacionamos com o outro e com o entorno que ressignificamos a existência. É a ação no presente que qualifica o futuro – nosso, dos outros, do planeta.

Se julgarmos pelas pesquisas de intenção de voto para prefeito nas duas maiores cidades do Brasil – São Paulo e Rio de Janeiro – o quadro é desolador. Na rica São Paulo, em resposta espontânea, 54% dos eleitores afirmam não saber em quem votar e 26% declaram que vão votar nulo ou em branco segundo pesquisa do Ibope. Quando apresentados aos nomes dos pré-candidatos, o deputado federal Celso Russomanno aparece em primeiro lugar com 26%, bastante distante do segundo colocado, a senadora Marta Suplicy (PMDB), com 10%. Interessante perceber ainda que o pastor Marco Feliciano (PSC), ligado à Assembleia de Deus, e que já deu claras demonstrações de homofobia e intolerância, embora surja com apenas 4% das intenções de votos, tem o maior número de seguidores no Facebook: 3,77 milhões, quase cinco vezes mais que o segundo colocado, Celso Russomanno, com 670.000.

Russomanno é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por prática de peculato (desvio de dinheiro público). Ele já foi condenado em primeira instância a dois anos e dois meses de prisão em regime aberto, mas como possui foro privilegiado a ação foi transferida para o STF. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu urgência no julgamento de Russomanno, para que, caso seja confirmada a sentença, ele fique impedido de disputar as eleições, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Russomanno é filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), partido que tem vínculos com Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus.

Pertence ao mesmo PRB e à mesma Igreja Universal o sobrinho de Edir Macedo, ex-ministro da Pesca e da Aquicultura no governo Dilma Rousseff, senador Marcelo Crivella, que lidera as intenções de voto para prefeito da cidade dita mais liberal do Brasil, o Rio de Janeiro. Contra o aborto e defensor do criacionismo, o pastor e cantor gospel Marcelo Crivella tem 35% das preferências – mais que todos os outros candidatos juntos, segundo pesquisa do Instituto Gerp. Além disso, 26% dos entrevistados afirmam que não votarão em ninguém e 15% permanecem indecisos.

Sozinho, o PRB elegeu, no último pleito, uma bancada composta por sete deputados federais e um senador (Marcelo Crivella), além de ter conseguido emplacar o presidente do partido, Marcos Pereira, como titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo do presidente interino, Michel Temer. Pereira foi diretor administrativo e financeiro da TV Record do Rio de Janeiro entre 1995 e 1999, e vice-presidente da Rede Record de Televisão, entre 2003 e 2009. Fundada em 1977, a Igreja Universal conta hoje com cerca de 12.000 pastores, sete mil templos e quase sete milhões de seguidores no Brasil, e outros quase dois milhões de fiéis espalhados por mais de uma centena de países, segundo estimativas da própria entidade. Sua receita é estimada em cerca de R$ 1,4 bilhão de reais por ano – mas não há qualquer controle sobre esse valor, já que por lei as instituições religiosas estão isentas de impostos.

Além dos fiéis, a Igreja Universal controla hoje a Rede Record, que cobre 93% do território nacional e está presente em 150 países, a TV Universal, com mais de 20 retransmissoras, e a Rede Aleluia, que possui quase oitenta emissoras de rádio AM e FM, presente em 75% do território nacional. Faz parte ainda do grupo o portal universal.org., o jornal Folha Universal, as revistas Plenitude, Obreiro de Fé e Mão Amiga, a editora Unipro, que registra milhões de exemplares vendidos de livros de Edir Macedo e de outros pastores, e a gravadora Line Records, especializada em música religiosa.


Fonte: El País


Fausto Matto Grosso: Por trás das aparências

Aproximam-se as eleições. Os primeiros pré-candidatos começam a aparecer. Será que teremos boas opções ou seremos reduzidos, mais uma vez, à triste condição de votar no menos pior?

O pano de fundo do processo eleitoral que se aproxima é o da frustração provocada pela natureza da pratica política existente em nosso País, caracterizada pelo descompromisso programático, pela promiscuidade entre o público e o privado, pela corrupção, pelo clientelismo e pela degenerescência das práticas políticas, situação essa que afeta os mais diferentes partidos e suas lideranças.

Mas afinal, como separar o joio do trigo, se nas eleições todos os discursos são parecidos e os candidatos aparentam serem todos iguais, aos olhos dos eleitores?

Uma boa ajuda para a tomada de decisão do voto pode vir da análise da tipologia de lideres políticos construída pelo chileno Carlos Matus. Chimpanzé, Maquiavel e Ghandi, assim o autor tipificava os estilos de liderança política, em uma escala do pior para o melhor.

Tais como nos grupos de chimpanzés, os líderes, assim classificados, são caracterizados pela expressão “o fim sou eu”. A forca representa o seu atributo político principal. Não existe projeto algum – o líder guia a manada a lugar nenhum e é guiado pela lógica de que “o projeto é o chefe e o chefe é o projeto”. É o estilo mais primitivo de fazer política. Os ditadores sul-americanos, velhos e novos, são uma boa representação desse espécime.

“Os fins justificam os meios” essa é a síntese da ideologia que sustenta o estilo Maquiavel. Em relação ao estilo anterior, a grande diferença é que neste caso há um projeto, que transcende o líder. O projeto não é mais individual, é coletivo, tem base social, mas é impossível realizá-lo sem o líder messiânico. Aqui o poder pessoal não é o objetivo, mas o instrumento. Nesse contexto, não há adversários, e sim inimigos que devem ser derrotados e, se necessário, eliminados. A esquerda autoritária foi pródiga em produzir tais lideranças.

Mas a humanidade já conseguiu produzir, embora mais raramente, outro tipo de líder, que baseia a sua liderança na força moral e no consenso. Ghandi é o paradigma desse tipo de liderança política. Talvez um bom exemplo mais recente seja Nelson Mandela.

Também aqui o projeto é coletivo, mas o líder não disputa para sê-lo. Não precisa força física, lidera pela superioridade de seus valores e da sua ética. Não precisa construir inimigos para vencê-los, mas sim subordinar e ganhar os adversários pela razão objetiva do projeto socialmente superior. Pratica a coerência entre discurso e ação, essa coisa hoje tão rara na política, cuja escassez está na origem da desmoralização dos líderes políticos.

Esses estilos de lideranças políticas raramente são encontrados em estado puro. Também, o líder não os escolhe ao seu bel prazer. O estilo real de cada político acaba sendo uma combinação particular entre esses estilos básicos e ainda vai depender do contexto dentro do qual se realizam as disputas.

A cada estilo de liderança vai corresponder, no exercício do poder, um comportamento político esperado. O de pensar e usar o governo como coisa sua, ou comportar-se segundo princípios republicanos. O de isolar-se no uso pessoal do poder ou de compartilhá-lo com a sociedade. O de perpetuar conflitos ou buscar convergências que possam viabilizar projetos de interesse público.

A essa altura, cada um deve estar procurando colocar as figurinhas dos líderes das disputas nos álbuns de personalidades, ou nos porta-retratos que lhes correspondem. O critério é de cada um, assim como a responsabilidade do acerto ou erro.


Fausto Matto Grosso é professor da UFMS, membro do Movimento por uma Cidade Democrática (Correio do Estado – 25/06/2016)


'Brexit': O mundo deve agradecer ao Reino Unido

Britânicos demonstraram que a política não é, ou não deveria ser, um jogo frívolo.

“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, disse Churchill sobre o sacrifício dos aviadores da RAF na Segunda Guerra Mundial. Podemos dizer o mesmo hoje do sacrifício que o Reino Unido fez pela humanidade.

O consenso quase total no mundo é que, ao aprovar sua saída da União Europeia no referendo de quinta-feira, os britânicos (ou, melhor dizendo, os ingleses) cometeram um erro incompreensível, demencial e de proporções épicas. Após conhecer o resultado, os rostos pálidos, os tons de voz entrecortados e inclusive as palavras assombrosamente sóbrias – não triunfais – dos dirigentes conservadores da campanha pelo Brexit deram a impressão de que eles acordaram de manhã, após uma noite de álcool e excessos, se perguntando: “Meu deus! O que fizemos?”.

Isso é ruim para o Reino Unido, mas bom para todos os outros. Os britânicos se encontram repentinamente numa crise econômica e política sem precedentes, tão gratuita como desnecessária, e pela qual só podem culpar a si mesmos. Consequentemente, a democracia parlamentar mais antiga deu ao mundo uma lição de incalculável valor, uma lição sobre como não fazer as coisas num país que aspira à prudência e à prosperidade.

O que o Reino Unido nos demonstrou é que a política não é, ou não deveria ser, um jogo frívolo; que os líderes demagogos, que para alimentar sua vaidade e sua ânsia de poder estimulam a noção de que a sabedoria das massas é a virtude máxima da democracia, devem ser ouvidos com cautela; que as decisões de Estado são todas debatíveis, mas exigem que quem as toma tenha um mínimo de responsabilidade cívica e um mínimo conhecimento de como funciona o Estado; que quando os políticos que governam ou aspiram a governar opinam sobre a economia, por exemplo, devem saber do que falam, ou pelo menos saber mais que o grosso da população.

Em resumo, aqueles que têm em mãos o poder de influir nas vidas de milhões e milhões de pessoas precisam ser especialistas. E foram justamente os especialistas que tiveram seus argumentos rechaçados pela maioria britânica, que optou por seguir as sedutoras melodias dos flautistas do Brexit, conduzindo-os, como o do Hamelin, às catacumbas do inferno.

O 'Brexit' é o sintoma mais alarmante até agora do fenômeno global “antielite”

O momento mais revelador da campanha do Brexit foi quando uma das suas principais figuras, Michael Gove, declarou: “O povo deste país está farto dos especialistas”. Gove, que foi ministro da Educação durante quatro anos no governo de David Cameron, estava respondendo às advertências do Banco da Inglaterra, de líderes sindicais, dos principais empresários britânicos, de Barack Obama e de praticamente toda a gente informada e pensante do mundo, que se expressou contra a saída britânica da UE. Ouçam seus corações e seus julgamentos, dizia Gove aos eleitores, gente que majoritariamente, como as pessoas do mundo todo, se interessa muito mais por futebol, ou por telenovelas, ou por concursos de talento, ou pelas histórias das vidas íntimas dos famosos ou, obviamente, por suas famílias e seus trabalhos do que pela política, um esporte minoritário aonde quer que se vá. Isso, que tanto custa aos ideólogos profissionais aceitar, não é nem bom nem ruim. É o que é, e o que tem para hoje.

E é o motivo pelo qual o primeiro-ministro Cameron pecou de uma irresponsabilidade histórica e de uma idiotice monumental ao delegar a decisão sobre esse tema tão complexo, entendido por uma ínfima fração da população. Se tivesse sido fiel ao princípio da democracia representativa, que os próprios britânicos patentearam no século XVIII, teria deixado a decisão nas mãos de deputados eleitos, relativamente especialistas, entre os quais mais de três quartos eram favoráveis à permanência, e que agora se encontram na surrealista circunstância de precisar obedecer ao veredicto das massas e solicitar formalmente o desligamento a Bruxelas.

Muitos comentaristas da elite e que escrevem para a elite dizem que o Brexit é o sintoma mais alarmante até agora de um fenômeno global contemporâneo “antielite”. Isso virou um chavão, repetido (por um colunista de elite do The New York Times na sexta-feira, por exemplo) à exaustão. Assim é explicada dia após dia, nos Estados Unidos, na Europa e em todas as partes, a ascensão de Donald Trump, primo-irmão dos brexiters. Se tanta gente diz isso, algo de verdade deve ter, supõe-se, mas existe uma explicação mais simples para esses fenômenos, uma à qual as elites opinativas talvez resistam, por temor de serem tachadas de elitistas: que em questões políticas e econômicas nacionais as pessoas são facilmente manipuláveis por quem tem a cínica astúcia de apelar aos seus preconceitos e sentimentos mais viscerais ou tribais, como, no caso dos ingleses, o desdém e a desconfiança ancestrais pelos desumanizados “estrangeiros”, valores incutidos desde a infância.

Com sorte, será mais difícil que os norte-americanos sucumbam a Trump ou os franceses a Le Pen

Por que os londrinos e os escoceses, diferenciando-se de quase todo o resto do Reino Unido, escutaram os especialistas, ignoraram os populistas e votaram esmagadoramente a favor da permanência na Europa? Fácil. Porque os londrinos habitam a cidade mais cosmopolita do mundo, convivem e trabalham com estrangeiros todos os dias, e veem não só que estes contribuem muito para a cidade nos aspectos econômico e social como também que são tão reconhecivelmente humanos quanto eles próprios. No caso dos escoceses, que receberam enormes quantidades de imigrantes em sua terra nos últimos anos e que, quando são pobres, são tão pobres quanto os ingleses, há uma dupla explicação. Uma, que não foram doutrinados com sentimentos xenófobos desde a tenra idade, muito pelo contrário; a outra, que o sistema educacional estatal na Escócia é, como o bem sabe o ex-ministro Michael Gove, muito superior ao inglês. Os escoceses possuem em maior abundância que os ingleses as faculdades mentais necessárias para saber distinguir entre os pregadores farsantes e os sinceros, entre as políticas que lhes convêm e as que não.

A saudável lição que o resto do mundo deve tirar do disparate em que caíram os ingleses, portanto, é estar mais alerta do que nunca ao populismo barato daqueles que pretendem chegar ao poder apelando aos seus preconceitos e ressentimentos. Com sorte, o resultado do referendo britânico e as consequências desastrosas que ele acarretará tornarão mais difícil que o eleitorado norte-americano sucumba ao flautista Trump, ou o francês a Marine Le Pen, do mesmo modo que o apocalíptico fracasso do também disparatado projeto chavista na Venezuela com sorte servirá de advertência a outros países da América Latina.

Se o mundo não aprender com estas lições, talvez chegue o dia em que teremos que rever a ideia de que a democracia é o sistema político menos ruim já inventado pela humanidade. Meu pai, que combateu na RAF de 1939 a 1945, dizia com frequência algo de que tenho me lembrado muito nos últimos dias: que o melhor sistema de governo é a autocracia moderada pelo assassinato. Sempre achei que era uma loucura, e que ele dizia isso de brincadeira. Já não tenho mais tanta certeza.


Fonte: brasil.elpais.com


Manual do Candidato do PPS

APRESENTAÇÃO

Dando continuidade a nossas atividades e publicações de atualização política, apresentamos o Manual do Candidato do PPS para o pleito de 2016. Trata-se de mais uma ferramenta sobre questões gerais da política, abordadas resumidamente, mas com foco dedicado à realidade municipal e com os olhos voltados para quantos vão enfrentar a difícil disputa de outubro próximo.

Além de algumas informações sobre o Brasil e seus problemas, sobretudo após os 13 anos dos governos petistas, vamos conhecer os valores e princípios que norteiam as ações formadoras dos candidatos do PPS. Há um resumo das ideias que dão rumo a uma candidatura consciente, com base na missão que cada representante político deve ter para contribuir na ampliação e aprofundamento da democracia, lutar pela vigência da res publica (coisa pública) e, em contato com a realidade em que vive, atuar no sentido de aperfeiçoá-las.

No bojo desse material, encontram-se importantes propostas do PPS oriundas da Conferência Nacional sobre Governança Democrática e as Cidades, realizada nos dias 19 e 20 de março último, em Vitória do Espírito Santo, a qual culminou uma série de Seminários promovidos em algumas capitais brasileiras, abordando os temas centrais deste importante evento partidário. Em um cenário de corrupção e irresponsabilidade no trato da coisa pública, os cidadãos e cidadãs necessitam de opções de candidatos que possam representá-los, estejam conscientes de sua situação e lutem para dar novos rumos ao município. O PPS oferece assim uma proposta capaz de inserir entre os seus candidatos as ideias de uma gestão em que se construa e/ou se consolide uma rica e crescente relação entre os mandatários (prefeito, vice e vereador) com a sua comunidade, de forma a que esta seja estimulada a colaborar com ideias, propostas e ações concretas no sentido de se viver melhor no lugar em que se mora, se trabalha, se estuda e se diverte.

Uma caminhada rápida pelas questões mais importantes das pautas nacional, e sobretudo local, exige conhecimentos que vão além do convívio e intimidade com as demandas da cidade e do município. Para que nosso militante se prepare para iniciar ou ampliar suas relações de homem público, ele precisa conhecer um sistema de conceitos e ações e necessitará ainda de ferramentas outras para desenvolver sua trajetória.

Nesse sentido, apresentamos sugestões para um planejamento consistente da campanha, que também deve ir além do conhecimento acerca do partido e do processo eleitoral. Assim, nas páginas deste Manual, o candidato vai encontrar as informações necessárias para entender e utilizar os mais diversos e modernos recursos, que auxiliarão a sua atividade em busca do voto. As atribuições e os passos para cada etapa da campanha estão expostos aqui, assim como leis e resoluções do TSE sobre o seguro caminho de agir legalmente. Inserimos também a Resolução Eleitoral e as normas para as convenções que se realizarão de 20 de julho a 5 de agosto.

As eleições  deste ano, além de ser uma oportunidade para, mais uma vez, se provocar o debate em torno de candidatos mais focados no dever social, sustentável e compatível com a realidade do município, tem ainda um valor estratégico, orientado pelo princípio de que a consolidação e o aprofundamento da democracia e a implantação dos valores republicanos requerem partidos fortes e representativos do eleitorado, e cidadãos cada vez mais conscientes e participantes da nobre missão de fazer política com P maiúsculo.

Alberto Aggio                                    Roberto Freire
Presidente da FAP                                 Presidente do PPS

Organização: Francisco Inácio de Almeida


Leia aqui o Manual do Candidato do PPS

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Maurício Huertas: Vamos falar (de novo) das eleições municipais?

Senta que lá vem textão. Desculpa, mas é necessário.

Vamos falar das eleições para a Prefeitura de São Paulo e para a Câmara Municipal. De novo. E o que tem de novo?

Vamos lá…

Na semana passada, falávamos dos dez dias decisivos para a sucessão do prefeito Fernando Haddad (PT) e para a necessária renovação dos vereadores e das suas práticas. São Paulo precisa disso, urgente! Mas, enfim, o que está ao nosso alcance? Hoje ao menos temos um novo cenário já desenhado, como prevíamos. Quais os próximos passos?

Os candidatos anunciados para o cargo de Haddad (inclusive o próprio) são estes: Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB), Andrea Matarazzo (PSD), Ricardo Young (Rede Sustentabilidade), Marco Feliciano (PSC), Denise Abreu (PMB) e Ivan Valente ou Luiza Erundina (PSOL). Fora esses, podem pipocar aqui e ali mais uns nanicos. Nada sério.

Então vamos avaliar o quadro consolidado sob dois pontos de vista: o do cidadão paulistano e o dos partidos (afinal, este aqui é um blog político). O que é melhor para São Paulo?

Alguns pontos essenciais:

1) Dar um basta à gestão Haddad é o primeiro aspecto que nos une. O prefeito pode até ser gente boa, inteligente, moderninho, descolado (como o marqueteiro João Santana, hoje preso, traçou-lhe o perfil na campanha eleitoral), mas na prática é um dos piores administradores que a cidade já teve. Despreparado, incompetente, inoperante. Uma lástima como gestor público. Bom criador de factóides, mas um terror em saúde, educação, moradia, meio ambiente. Um zero à esquerda, literalmente.

2) Além de Haddad, convenhamos que nomes como Marco Feliciano e Celso Russomanno não podem significar algo minimamente sério para administrar São Paulo, certo? É preciso explicar com mais detalhes ou já nos entendemos? Na dúvida, basta dar um google. Isso se ambos confirmarem de fato as candidaturas, até porque, além de possíveis rearranjos partidários, o imbróglio de Russomanno com a Justiça também pode afastá-lo definitivamente da disputa.

3) Uma outra ala de candidatos entra simplesmente para marcar posição. É o caso do PSOL, sempre o mais emblemático, que neste ano estará prejudicado pela nova legislação eleitoral em vigor. Como tem menos de 9 deputados federais (o número mínimo estabelecido pela lei), não garante presença nos debates de TV, por exemplo, nem espaço na cobertura diária da mídia. Daí a tentativa de convencer Erundina a disputar mais uma eleição, pois provocaria um “interesse jornalístico”. No lado oposto está o Partido da Mulher Brasileira, que aproveitou a “janela” das novas legendas e abocanhou seu quinhão de tempo, fundo partidário e marcará presença nos debates.

4) Um caso à parte é a Rede Sustentabilidade, que também não atingiu a “cota mínima” de 9 deputados e, em tese, ficará de fora dos debates e da cobertura jornalística. Porém, não deve ser descartado o potencial do partido de Marina Silva, seja pelo uso da imagem da sua fundadora na propaganda, nas redes e nas ruas, seja pela possibilidade de fazer uma coligação que some os tais 9 deputados, no mínimo. Aí está claro o papel que o PPS, como aliado preferencial, pode desempenhar se fizer uma coligação com a Rede para lançar Ricardo Young prefeito. Ambos passariam a ter uma candidatura significativa e competitiva, principalmente para fazer uma bancada na Câmara Municipal com as marcas da ética, da governança democrática e da sustentabilidade.

5) Retornamos aos nomes mais tradicionais, e por isso mesmo favoritos para disputar o segundo turno (fora Haddad e Russomanno, que já excluímos por antecipação pelo desastre que representam para a cidade e para a boa política): João Doria (PSDB), Andrea Matarazzo (PSD) e Marta Suplicy (PMDB). Todos eles tem seus prós e contras. Preparo, experiência, inteligência, carisma – em maior ou menor grau – fazem crer que são candidatos que honrariam o cargo de prefeito (ou prefeita).

Neste caso, então, além do ponto de vista do cidadão paulistano, precisamos fazer observações e análises político-partidárias sobre o que representa cada uma destas candidaturas com chances de chegar à Prefeitura e que disputam igualmente o nosso apoio.

Aos nomes, em detalhes:

1) João Doria. É o candidato do maior partido de oposição (na administração municipal e no governo federal) e do governador Geraldo Alckmin. Não é pouca coisa. Porém, o que é uma vantagem aparente também carrega problemas. Os tucanos estão rachados. O processo de prévias e a intervenção do governador provocou traumas irreparáveis. Lideranças como José Serra, FHC, Alberto Goldman, José Aníbal não estão com Doria e Alckmin. Ao contrário. Também não consideram Doria um candidato digno de representar o PSDB. O fato de ser um neófito será positivo, diante da crise, ou vai pesar contra? E até onde vai o “canto da sereia” de Alckmin, envolto em escândalos e sofrendo o desgaste natural após tantos anos no mesmo cargo? Quem arrisca um palpite?

2) Andrea Matarazzo. É o nome mais preparado e conhecedor da cidade que o PSDB tinha e descartou. Migra para o partido de Gilberto Kassab, ex-prefeito, atual ministro e aliado do PT no governo federal. Vai ser difícil explicar. Ainda que o PSD se declare “independente”, será que cola? Em 2008, a disputa entre Kassab e Alckmin já provocou um grande racha no PSDB. Naquela oportunidade, Kassab venceu. E agora? E se ambos perderem?

3) Marta Suplicy. Além da experiência e do recall como ex-prefeita, com marcas fortes como os CEUs e o bilhete único, o bom trânsito na periferia, a postura mais humilde ao reconhecer erros como a implantação da taxa de lixo e a explicação didática sobre a saída do PT, terá a força do PMDB que (tudo indica) estará no comando do governo federal e de uma grande coalizão suprapartidária. O que isso irá trazer para a candidatura da ex-prefeita? Ainda é cedo para cravar prós e contras, mas a força e o potencial de crescimento são inegáveis.

Expostos todos os fatos, tanto sob o ponto de vista do cidadão paulistano quanto das análises do quadro político partidário, voltamos à análise puramente doméstica. Estamos no PPS, um partido que desde 2000 vem elegendo habitualmente dois vereadores em São Paulo, tem um posicionamento claro e íntegro na defesa de uma cidade mais justa, moderna e sustentável, e é cortejado hoje para apoiar João Doria, Andrea Matarazzo, Marta Suplicy e Ricardo Young.

Supondo que estes quatro nomes são benéficos para a cidade e representam um avanço inegável perante a atual gestão desastrosa do PT e do prefeito Haddad, qual deve ser o posicionamento do PPS no 1º turno das eleições municipais em São Paulo? Em 2008 e 2012, tivemos decisões acertadas ao defender a candidatura própria do PPS com Soninha Francine para a Prefeitura. O partido cresceu. Pautamos os debates com temas importantes.

E agora, o que deve ser levado em conta? Coligado a qual candidato o PPS teria um maior protagonismo? Em qual chapa o PPS seria mais valorizado, destacado, ouvido? O programa, os conceitos e os princípios do PPS estariam preservados em qual destas candidaturas? Alguém oferece a vaga de vice, por exemplo, para o PPS? Isso é importante para a legenda? Qual opção beneficiaria a eleição dos candidatos e candidatas do PPS à Câmara Municipal?

Essas respostas do PPS devem ser debatidas e tomadas com responsabilidade pelo coletivo partidário. Dirigentes, filiados e candidatos devem se reunir para decidir o nosso futuro, o que é melhor tanto para o partido como para a cidade de São Paulo. Sem ceder a pressões internas ou externas, manipulações, chantagens e cobranças por interesses individuais. É hora de fazer valer com legitimidade a vontade da maioria, honrar a nossa história e provar a nossa força. Por uma São Paulo diferente!


Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor-executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente


Eleições 2016 no #ProgramaDiferente: Como é #ACidadeQueEuSonho?

Como todo mundo já sabe, neste ano tem eleição. É hora de escolher prefeitos e vereadores dos mais de 5.500 municípios nos 27 estados brasileiros. Mas como é, afinal, a cidade que desejamos? Quais são as nossas prioridades? O que precisamos para ter cidades modernas, inclusivas e inteligentes? O que esperamos da política e dos políticos?

O #ProgramaDiferente, da TVFAP.net, ouviu a ex-ministra e presidenciável Marina Silva, da Rede Sustentabilidade; o vereador paulistano e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Ricardo Young (PPS); o ex-secretário municipal da Educação Alexandre Schneider, que permaneceu na função por seis anos, durante as administrações dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab; e o empresário Oded Grajew, idealizador do Fórum Social Mundial e da Rede Nossa São Paulo.

Todos eles participavam neste fim-de-semana do evento "A São Paulo que Sonhamos", promovido pela Rede Sustentabilidade na Câmara Municipal. Coincidentemente, este é também o mote principal da Conferência Nacional das Cidades que será realizada nos dias 19 e 20 de março, em Vitória, capital do Espírito Santo.

Enfim, como é a #CidadeQueEuSonho? Assista.