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Ascânio Seleme: O PT segue sendo o PT

Há tempo, sim, para Fernando Haddad virar o jogo a seu favor. Não é tarefa fácil, muito pelo contrário, é dificílima, mas é possível

Há tempo, sim, para Fernando Haddad virar o jogo a seu favor. Não é tarefa fácil, muito pelo contrário, é dificílima, mas é possível. Vejam o que mostrava a pesquisa Datafolha do dia 28 de setembro. Jair Bolsonaro tinha 28% das intenções de voto contra 22% de Haddad. Claro que era outro turno, outro cenário, mas a distância entre os dois somava seis pontos. Em duas semanas, Bolsonaro aumentou esta diferença para 16 pontos. Da mesma forma, Haddad havia crescido seis pontos entre as pesquisas dos dias 19 e 28 de setembro, enquanto Bolsonaro permanecia parado. Movimentos maciços de votos parecem ser uma característica brasileira.

Na eleição de 2014 também foi assim. No Datafolha de 19 de setembro daquele ano, Marina tinha 30% contra 17% de Aécio. Da urna, 16 dias depois, saíram Aécio com 33% e Marina com 21%. Em pouco mais de duas semanas, Aécio pulou de uma desvantagem de 13 para uma vantagem de 12 pontos e foi para o segundo turno. Os números provam que dá para Haddad virar o jogo. Mas, o problema é que seu ritmo é muito lento e aparentemente ele não tem força dentro do PT para fazer as mudanças que poderiam levar à vitória.

Do outro lado, Bolsonaro joga com desenvoltura para vencer. Entendeu muito bem como funciona a onda anti-PT e a explora com competência. Ataca o sectarismo dos adversários e prega um Estado que não se intrometa tanto na vida dos cidadãos. Hesitante no começo, conseguiu ser mais incisivo contra a violência que tomou conta da campanha e resultou em inúmeros ataques de seguidores seus contra militantes do PT, com uma morte. Embora tenha afirmado que o assassino do capoeirista da Bahia não é eleitor seu, o capitão disse que dispensa o voto de quem pratica violência eleitoral.

Enquanto Bolsonaro reitera o discurso que o trouxe até aqui, Haddad tenta mudar o seu, mas não parece entusiasmar. Está certo que admitir categoricamente que abandonou a proposta da Constituinte e desautorizar publicamente a ideia de José Dirceu de tomar o poder foi um passo importante. Mas é preciso ir mais longe, sobretudo na questão econômica. Já era hora de Haddad ter anunciado seu ministro da Fazenda. O que ele anunciou foi o desejo de aumentar o imposto dos “super-ricos”, que pelos cálculos dos economistas do PT são aqueles que ganham mais de R$ 38 mil por mês.

Bolsonaro já está indicando nomes que vão compor seu ministério. São o economista Paulo Guedes, o deputado Onyx Lorenzoni, um astronauta e alguns generais. São os de sempre, mas pertencem ao time que está ganhando. Haddad também se cerca dos mesmos de sempre, mas seu grupo está levando goleada. Todo mundo sabe que time que está perdendo tem que ser mexido. Se o time vai muito mal e as regras permitem, a mudança tem que ser profunda. Na campanha de Haddad isso não ocorreu. As sondagens ao ex-ministro Joaquim Barbosa e ao filho do ex-vice José Alencar ainda não prosperaram.

O time de Haddad está escalado com Gleisi, Gabrielli, Okamoto, Genoino, Mercadante, Falcão, Dulci, Guimarães, Carvalho, Berzoini e Franklin. Nem mesmo o ex-governador da Bahia e senador eleito Jaques Wagner é novo. Por mais respeitáveis que sejam (alguns respondem a processos, mas nenhum está condenado), não dá para imaginar uma campanha vitoriosa com os que melhor e mais enraizadamente representam os rejeitados PT e Lula.

E, mais grave, para atrair novos aliados o que faz o PT? Oferece cargos. Não há forma mais antiga de buscar apoio do que esta. O PT ofereceu um “ministério importante” até mesmo a Ciro Gomes. E depois, quando Ciro retribuiu com um apoio crítico e embarcou de férias para Paris, foi atacado por viajar “nesta hora grave da vida nacional”. A Ciro deveriam ter sido oferecidas a coordenação da campanha e a abertura do programa de governo para rediscussão. Mas, até aqui, o PT segue sendo o PT, egocêntrico e arrogante. Só mudar a cor da camisa não basta.

VIOLÊNCIA NA CAMPANHA
Os eleitores de Jair Bolsonaro não conseguem enxergar a violência que alguns dos seus empregam para atacar, desmerecer, humilhar e intimidar adversários. Chegaram a dizer que o assassinato do capoeirista do Badauê da Bahia não teve motivação política. Essa cegueira de certa forma deliberada preocupa tanto quanto os próprios atos de selvageria que estamos assistindo. É da ausência de crítica que se alimenta a impunidade.

O OUTRO LADO
O PT não é santo. Lula já ameaçou chamar o “Exército de Stédile” diversas vezes para mostrar quem manda no pedaço. Antes mesmo de a campanha começar, em frente ao Instituto Lula petistas intolerantes agrediram um adversário que acabou no hospital com a cabeça rachada. Também não é de hoje que o partido, estimulado pelo seu maior líder, adota o grito de guerra do “nós contra eles”. Mas nunca, é importante dizer, nunca petistas ameaçaram publicamente esfolar, torturar, estuprar e matar adversários.

SEM RESERVA
O restaurante Maní, um dos 100 melhores do mundo, que caiu em desgraça entre os eleitores de Bolsonaro porque a chef Helena Rizzo postou foto dela com seu pessoal de cozinha aderindo ao #EleNão, está lutando para recuperar clientes. Na foto, a turma toda estava com o dedo do meio levantado. Depois, com a onda de agravos que recebeu pelo apoio e pelo gesto ofensivo, o restaurante disse que a posição da chef não representava a casa. Ocorre que Rizzo é dona do Maní.

UM DIA DEPOIS DO OUTRO
Quem diria que petistas seriam vistos fazendo louvações ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. FH virou ícone do PT desde que disse que poderia dar apoio a Fernando Haddad para evitar a eleição de Jair Bolsonaro. Aliás, velhos inimigos são agora prestigiados. O esforço de Haddad para trazer Joaquim Barbosa para a campanha é emocionante.

MAIS RECESSÃO
Com previsões pouco otimistas do FMI para as economias avançadas, os mercados emergentes deverão ter problemas adicionais no ano que vem. Além dos impactos que terá de absorver em razão da diminuição do crescimento dos EUA, seu principal parceiro econômico, o Brasil vai precisar resolver alguns graves problemas internos, como o da Previdência e o da bagunça tributária. O novo presidente terá de tomar todas as medidas corretas e ser um superanimador da economia para que o país possa apenas andar de lado.

NÃO VIU TUDO
E você achando que Romário seria um grande perigo para o Rio.

 


Ascânio Seleme: O guarda da esquina

A frase é atribuída ao ex-vice-presidente Pedro Aleixo e teria sido dita durante a reunião em que o general-presidente Costa e Silva assinou o AI-5, o ato institucional que consolidou a ditadura no Brasil, no dia 13 de dezembro de 1968. Questionado se duvidava das mãos honradas do presidente, que seria o único juiz da aplicação do ato, o vice-presidente civil respondeu: “Das mãos honradas do presidente Costa e Silva, jamais. Desconfio é do guarda da esquina.” Pedro Aleixo queria dizer que o perigo da ditadura estava no poder que se assentava nas mãos de uma escala de autoridades que descendia do presidente da República até o guarda que vigia a rua.

Claro que os presidentes que governaram sob o AI-5 usaram o poder conferido pelo ato para fechar o Congresso, cassar mandatos políticos, suspender direitos civis e adotar medidas sem qualquer tipo de consulta ao povo ou aos seus representantes, mas foram os “guardas da esquina” que abusaram. Foram oficiais e praças das Forças Armadas e das PMs, delegados e agentes das polícias Federal e Civil que fizeram prisões ilegais, sequestraram, torturaram e mataram aqueles que, ao seu juízo, eram inimigos do regime. Também muitos civis, sádicos e simpatizantes, transformaram-se em algozes e participaram da barbárie que durou mais tempo do que o próprio ato.

Hoje, no Brasil, o discurso original de Jair Bolsonaro, o candidato que tem mais chances de ganhara eleição e se eleger presidente do Brasil, incita novos “guardas da esquina”. Por ora, os empoderados pelo seu grito de guerra são em sua maioria civis, jovens, muitos de classe média, que se sentem encorajados e agridem qualquer um que pense de modo distinto do seu. Ofensas pessoais no Brasil não assustam ninguém desde que o “nós contra eles” foi inaugurado pelo ex-presidente Lula. O problema é quando as ofensas se transformam em atos.

O ódio e a intolerância que tomaram o Brasil durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma, separando petistas e antipetistas, ganharam carga explosiva quando Bolsonaro passou a representar o anti-PT. Até então, o máximo que se via eram ofensas nas redes sociais, alguns bate-bocas públicos, coros e vaias em shows musicais e legítimas manifestações de rua. Agora, estamos assistindo a uma escalada de violência que já resultou em inúmeras agressões físicas e pelo menos numa morte, ado capoeirista Mestre Moado Katendê, na Bahia.

O capoeirista, que votou em Haddad, foi morto com 12 facadas por um eleitor de Bolsonaro depois de uma discussão política. No Paraná, um estudante foi espancado por um grupo de dez homens porque usava um boné do MST. O nível de agressividade tem tudo para extrapolar para além da campanha se Bolsonaro não desautorizar imediatamente e de maneira categórica os que intimidam e agridem pessoas na defesa de seu nome, e que são minoria. Depois da morte de Mestre Moa, o candidato apenas lamentou o episódio e indagou: “um cara com uma camisa minha comete lá um excesso, o que eu tenho com isso?”.

Não foi excesso, candidato, foi assassinato. E outros ocorrerão durante e depois da campanha se nada for feito já. Jornalistas, artistas, ativistas são agredidos diariamente nas redes sociais por eleitores inconformados com a crítica ou o contraditório. Mas isso já víamos no Fla-Flu de coxinhas e mortadelas, a novidade é que agora também são ameaçados de estupro, tortura e morte. Intimidação é a nova regra. Até mesmo candidatos a governador que disputam o segundo turno recorrem ao expediente. O clima é de truculência.

Não acredito que Bolsonaro, eleito, seja uma ameaça à democracia. Os pesos e contrapesos da sociedade organizada no Brasil devem impedir qualquer aventura. Mesmo que consiga atrair a maioria parlamentar, não conseguirá avançar sobre as instituições de maneira a mudá-las ou mutilá-las. O Brasil ficará mais conservador sob uma gestão de Bolsonaro. Haverá retrocessos em conquistas civis, mas não consigo ver o Congresso fechado ou o Supremo calado. Qual general daria um golpe de estado para manter um capitão no poder? O que está claro é que, se Bolsonaro não der um basta agora, veremos muitas cenas de violência nas ruas das cidades.


Ascânio Seleme: Agradeça a Lula

Não importa quem vá para o segundo turno. Não importa quem ganhe a eleição no fim do mês. O vitorioso terá de agradecer ao ex-presidente Lula pelos eu sucesso. Se Fernando Haddad se credenciara gora elevar o pleito do dia 28, o poste terá vencido graças à genialidade do seu criador e mentor. Se Bolsonaro ganhar, aproveitando a onda antipetista que varre o país, será graças à política insistente do “nós contra eles” de Luiz Inácio.

Esse discurso começou no já remoto mensalão. Primeiro, quando o furúnculo explodiu mostrando o carnegão do esquema de compra de partidos em troca de apoio político, Lula disse que não sabia de nada, que foi traído e mandou alguns dos seus velhos companheiros para a guilhotina, como Genoino, Gushiken, Dirceu, Delúbio e João Paulo. Depois, quando percebeu que podia ir mais longe, passou anegara existência do esquema que resultou na condenação e prisão de 24 pessoas, seis delas do PT.

Lula começou então a nomear o “culpado” pelo mensalão. Foram “eles”, na palavra do líder que cumpre pena em Curitiba. Foram “eles” que inventaram a história para impedir que o brasileiro continuasse a comer três vezes por dia e a andar de avião, repetia. No princípio, nem os próprios companheiros de Lula acreditavam naquela bobagem. Mas ela foi se consolidando entre políticos e militantes que se recusavam a enxergara verdade e precisavam de uma saída honrosa.

Nenhum pedido de desculpas jamais foi feito por este ou pelo outro grande escândalo da era petista, o petrolão. Afinal, eles não existiram mesmo, afirmava o líder de todos. A culpa era “deles”, que queriam acabar com as conquistas do povo obtidas durante o governo do PT. É incrível como tanta gente de esquerda, honesta e inteligente, se agarrou àquela explicação patética como se fosse verdade. Muitos nunca acreditaram na lorota, e alguns deixaram o partido envergonhados, é bom que se diga.

Lula não inventou a luta de classes, ao contrário, fez um documento em que pregou paz na política nacional, onde caberiam todos, e jurou aplicaras regras do mercado na economia. Mas ele inventou a guerra do “nós e eles”. O “nós” era Lula e todos os seus companheiros de PT e de partidos aliados, os que lutavam por um Brasil mais justo. Por um bom tempo, o “nós” abrigava também o PMDB de Temer, Jucá, Cunha e Renan. E o “eles” eram os demais, os inimigos do povo.

Como diz o ex-deputado petista Eduardo Jorge (PV), candidato a vice de Marina Silva, “o ódio foi plantado há muitos anos, não nasceu como um cogumelo, da noite para o dia”. Ele se refere a Lula e ao seu discurso diuturno contra os que pensam de modo diferente ou encontram soluções alternativas às do PT para o Brasil. Discurso amplificado após o impeachment de Dilma e que ganhou o após todo golpe”.

Essa retórica de Lula, que ainda aglutina quem acredita na inocência petista e que agora dá a Haddad mais de 20% do eleitorado, está da mesma forma transferindo muitos votos para o outro lado, o oposto do PT, o antipetismo absoluto. Por isso, Lula será responsável por qualquer resultado na eleição presidencial. Se Haddad é o poste de Lula, Bolsonaro é o resultado da sua obra, é a sua criação.

É verdade que Lula teve uma mãozinha do seu velho inimigo, o hoje quase irrelevante PSDB. O partido, que fez o Real e governou o país por dois mandatos, colocou as mãos na mesma massa suja em que o PT enfiara as suas. Sem um líder carismático como Lula, um mártir, um “inocente” preso, o PSDB naufragou com um discurso antiquado e um candidato água morna.

Ninguém tem bola de cristal, nem Lula. Mas se ele tivesse se dado conta há um ano da tormenta que agora se avizinha, certamente teria trabalhado para que o PSDB fosse o adversário no segundo turno. Ou teria proposto uma aliança em torno de outro partido e com outro candidato, Ciro Gomes, por exemplo.

O fato é que, se vencer no dia 28 de outubro, além dos inegáveis méritos próprios, sobretudo ode saber surfara onda na hora certa e ode usar de maneira eficiente as redes sociais( com mentira semeias verdades ), Bolsonaro terá de agradecera Lula pela alavancagem que lhe garantiu um tsunami de votos que nem o mais fiel seguidor do capitão poderia imaginar.


Ascânio Seleme: Para que servem as pesquisas

No caso das pesquisas eleitorais, a informação, além de atrapalhar, estraga a surpresa

Pesquisas ajudam o eleitor a decidir corretamente como votar? Duvido. Na verdade, acho que mais atrapalham e confundem. Faz muito tempo que eleições convivem com os institutos de pesquisa. Desde 1989, data da primeira eleição presidencial direta depois da ditadura, o Brasil acompanha os humores do eleitor através de pesquisas. Os grandes institutos, Ibope e Datafolha, tiveram filhotes ao longo dos anos e hoje são diversas as empresas que aferem a intenção dos brasileiros diante das urnas.

Eles nasceram com objetivo comercial. Inspirado no americano George Gallup, o Ibope, o mais antigo, foi criado na década de 1940 para entender os hábitos de consumo dos brasileiros e então orientar campanhas de publicidade ou sugerir mudanças em produtos. O Datafolha nasceu em 1983 como um departamento de pesquisas e informática do jornal “Folha de S.Paulo”, cresceu, virou uma empresa independente e hoje atende clientes corporativos da mesma forma que produz pesquisas eleitorais.

Embora muitas vezes errem, e errem feio, esta não é a questão que se quer discutir aqui. O que se quer debater é a utilidade dos resultados das intenções de votos para o eleitor. A pergunta crucial seria “o que eu ganho sabendo como os demais brasileiros querem votar?”. São diversas as respostas. Desde, nada, que seria a mais correta, até uma das muitas que comprovam que o meu voto será, sim, influenciado pelas pesquisas eleitorais.

Não há dúvida de que o convencimento faz parte da política. O candidato tem que apresentar seus méritos e convencer que é melhor que o seu adversário para ganhar a eleição. Ocorre que as pesquisas tendem a adulterar este processo de convencimento, trocando a qualidade das ideias e dos projetos do candidato pelo número de apoios que ele tem de acordo com o resultado das intenções de votos aferidas pelos institutos. E isso é um drama.

Sim, um drama de dimensões brasileiras. Há alguns mecanismos que amplificam o efeito do crescimento de intenções de votos de um determinado candidato sobre o eleitor. O mais importante e conhecido deles é o voto útil, que de resto só existe em razão de se saber de antemão como votam os outros. Voto útil é filho legítimo da pesquisa eleitoral. Trata-se da negação da opção preferencial do eleitor para impedir que o principal antagonista do seu candidato ganhe a eleição, votando ou elegendo um terceiro.

Há também o efeito manada, que solidifica um velho hábito eleitoral brasileiro que é o de votar para ganhar, como se o eleitor, antes de cidadão, fosse um torcedor. Aposto que você já ouviu muitas vezes uma pessoa dizer “vou votar no fulano porque não quero perder meu voto”. Esse tipo de sufrágio ganha força e musculatura com as pesquisas eleitorais, que beneficiam o eleitor que apenas quer vencer. Não importando com quem ele vença.

As pesquisas estimulam também a traição, uma das maiores pragas da política brasileira. Quando um candidato não decola, e só se sabe que ele não decolou graças aos resultados das intenções de votos, vai aos poucos perdendo os apoios dos partidos de sua coligação e depois do seu próprio partido. Primeiro de maneira discreta, depois explicitamente. E aos olhos da nação isso parece normal. Talvez seja, mas é também vergonhoso. Ocorreu nas últimas eleições, está acontecendo agora e vai se dar no futuro. Pesquisas inflam ou desidratam candidaturas.

E como elas se reproduzem na velocidade da luz, com consultas de campo, por telefone e com trackings diários, sofrem os candidatos e os analistas do cenário político. Na semana passada, uma pesquisa do Ibope mostrava que o segundo turno estava consolidado entre Bolsonaro e Haddad. Dois dias depois, a consolidação não era mais garantida diante do crescimento de Ciro. Esta semana, de novo, o Ibope rifou Ciro, mas sei lá o que o Datafolha vai mostrar amanhã.

Graças a um desses pequenos detalhes que comprovam uma tese, a lei que protege o eleitor e a eleição proíbe a divulgação de pesquisa eleitoral de boca de urna durante o processo de votação justamente para não deixar que ela influencie o eleitor. Mas afinal, não se pode negar, informação normalmente ajuda as pessoas nos momentos em que elas são chamadas a tomar decisão. No caso das pesquisas, a informação, além de atrapalhar, estraga a surpresa.


Ascânio Seleme: Um presidente nada pode

São mal-informados e, de certa forma, inocentes, os eleitores que acreditam nas promessas mirabolantes de seus candidatos.

É incrível como estão seguros e cheios de si os brasileiros que votarão em Bolsonaro pensando que ele vai mesmo resolver tudo na bala. E também os que aceitam sem questionar que Haddad vai conseguir dar uma virada na economia apenas porque tem o apoio do mártir Luiz Inácio.

O fato é que um presidente sozinho nada pode. Ele precisa de apoio do Congresso, do Judiciário e dos diversos mecanismos de controle do Estado para poder encaminhar, debater e aprovar medidas que de fato resultem em mudanças estruturais na vida da nação. Precisa também do apoio dos brasileiros, da sociedade organizada para tocar suas pautas. Você pode dizer que todo presidente recém-eleito chega fortalecido pelas urnas. Pode ser, mas se o quadro até aqui pintado for este mesmo, o presidente eleito chegará ao Planalto com mais oposição do que apoio.

Mas, o pior é que, na verdade, esta é uma eleição sem propostas. A questão política é tão preponderante que propostas, projetos, ideias de inovação na gestão pública não fazem parte do cardápio da mais crucial sucessão presidencial desde a redemocratização. Além das menções ligeiras, sem profundidade, com nenhuma contestação, pouco ou quase nada se sabe sobre o que querem fazer do país os candidatos a presidente. Estamos num deserto sem qualquer vista para o futuro. O Brasil corre perigo.

Mesmo nos debates, entrevistas e sabatinas promovidos por TVs, jornais, revistas, rádios e sites o tema é predominantemente político. Queria ouvir dos eleitores de Bolsonaro o que eles podem dizer sobre as propostas do seu candidato para a geração de empregos, a dívida pública, o saneamento básico. Duvido que saibam. Tampouco saberiam dizer qual a fórmula dele para a segurança pública. Sim, apesar de ser o candidato mais identificado com a segurança, nada se sabe sobre o que fará para conter a criminalidade no país.

Os eleitores sabem quase tão somente que Bolsonaro é duro, agressivo, misógino, homofóbico, racista e quer liberar o porte de armas de maneira indiscriminada. E daí? Daí, nada. Bolsonaro é uma incógnita. Nem mesmo o seu lado mais civilizado, exercido pelo economista Paulo Guedes, pode ser levado muito a sério. Já foi chamado de exótico e mentiroso e não é respeitado pelos seus pares. Suas ideias ultraliberalizantes são tão simplistas quanto inadequadas.

O mesmo pode se dizer dos eleitores de Haddad. Desconhecem o que propõe o candidato. Como o capitão do PSL, o poste de Lula tem que se ocupar muito mais com a sua defesa e a do seu partido, responsável pelo maior escândalo de corrupção do planeta. Claro que os temas estão todos elencados no programa de governo que ele mesmo ajudou a construir. Mas papel aceita tudo e não é contestado. Um dos principais desenhistas do programa, o economista Marcio Pochmann, ultra-estatista, já foi até desautorizado publicamente por Haddad.

Enquanto isso, o eleitor fica no ar. Os mais esclarecidos podem até saber mais ou menos como pensa cada corrente antagônica que os dois representam, mas se quiser detalhes terá que pesquisar, ir no site dos partidos e ler o que propõem. Mas aí, como já disse, o mundo é cor de rosa por absoluta falta de contra-argumentação. Bolsonaro não tem TV e não pode, portanto, trazer conteúdo para os 12 segundos de que dispõe. A TV de Haddad prefere dourar a própria pílula, atacar Temer, ignorar Dilma e louvar, louvar e louvar Lula.

O que se ouve aqui e ali dos candidatos são pitacos, para usar um termo apropriado. Mesmo a proposta de Ciro Gomes de limpar o seu nome no SPC merece detalhamento, que ele mesmo disse que uma hora vai apresentar. Geraldo Alckmin, dono do maior tempo de TV, pode se dar ao luxo de apresentar no horário algumas das suas ideias, mas a pressão com a derrota que se avizinha fez do programa dele um campo de guerra. Pode ser a solução, difícil, para ele, mas certamente não será a solução para os problemas do país.

Você pode estar certo se disser: “dane-se, conheço a ideia central do meu candidato e sei que ele vai corresponder”. Claro, o direito de votar é seu, mas convenhamos que ter informação ajuda muito mais do que atrapalha. Salvo o pouco que se extrai de algumas entrevistas colhidas pelas ruas da cidade, por insistência dos repórteres, pouco mais se sabe do caminho por onde os candidatos a presidente querem levar o Brasil.

QUEM FAZ A CABEÇA DE QUEM
Paulo Guedes, na mesma reunião em que propôs a volta da CPMF, disse que no Brasil morreram 400 pessoas durante a ditadura, e destas, segundo ele, 150 eram militares. Então, calculou, foram 250 civis nos dez anos da linha dura. “Morreram 25 por ano, não é muito”, concluiu. E você pensando que era ele que fazia a cabeça do Bolsonaro.

A DELAÇÃO É NOSSA
Fernando Haddad exagerou. Na entrevista para a CBN disse, literalmente, que “a lei da delação é nossa, fomos nós que a sancionamos”. Francamente, candidato. O PT execrou a lei. Dilma se arrependeu de tê-la sancionado e disse se tratar de lei de exceção, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) apresentou projeto desfigurando a lei quando o senador Delcídio do Amaral (PT-MT) resolveu delatar.

O CRIVELLA MINEIRO
O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), mandou servidores venderem ingressos, de R$ 250 cada, para uma festa em favor da sua candidatura à reeleição. Os gabinetes receberam pacotes de ingressos com a recomendação de que funcionário em cargo de confiança vendesse R$ 5 mil, ou 20 ingressos. Aos secretários foi recomendado que vendessem pelo menos R$ 20 mil cada um. No convite vinha impresso “sua doação é importante para continuar ao lado dos mineiros”. A festa foi quinta.

SEVERINO DOIS
Quem foi baixo clero no Exército e baixo clero no Congresso pode ser alto clero noutro lugar?

BRIGA BOBA
Bobagem essa briga entre direita e esquerda na polêmica sobre o Nacional Socialismo de Hitler. Todo mundo sabe Hitler e seu partido eram de ultradireita mesmo. Mas a esquerda pode ficar tranquila, ela tem Stalin, um sanguinário para chamar de seu.

CANDIDATOS DO NADA
Aquela turma que está lá embaixo nas pesquisas, que pode até ter projeto, mas não representa ninguém na sociedade brasileira, flutuando de zero a dois por cento das intenções de voto, prova a importância da cláusula de barreira.

NOVATO EXPERIENTE
O candidato mais novo a uma vaga na Câmara, com 19 anos, faz sua campanha no Rio dizendo ter se preparado a vida toda para exercer um mandato federal.

BOA IDEIA PARA A CULTURA
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, estuda permitir empresas a empregarem recursos com o apoio da Lei Rouanet que não forem usados em razão da anualidade fiscal. É dinheiro que deixa de ser investido em cultura porque empresas não conseguem aprovar projetos e fazer a sua declaração antes do fim do ano. A ideia é permitir que elas usem os recursos e façam depois, no ano seguinte, o ajuste do imposto na Receita. A medida pode colocar mais R$ 60 milhões circulando no mercado cultural a cada ano.

AGORA VAI
O prefeito Marcelo Crivella contratou a Nasa para monitorar áreas de risco no Rio, sobretudo nas encostas das favelas cariocas. Enquanto isso, falta manutenção no sistema de alarme das comunidades. Em alguns lugares pode chover canivete que o alarme não soará.

NOTA DEZ
Vai para Anitta, que entrou na campanha saindo.


Ascânio Seleme: O PT e os outros

O Brasil está dividido entre o PT e os demais partidos. Desde 1989, quando Lula foi para o segundo turno na primeira eleição direta depois da ditadura de 1964, o PT consegue ser majoritário na captação dos votos da esquerda. Foi assim nas duas eleições seguintes, quando Lula perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso mas chegou em segundo lugar, e depois nas quatro que o PT ganhou. O Brasil é PT ou não é. Nos últimos 16 anos tem sido.

No começo, quando perdia eleições, o PT ainda não havia conseguido pintar sua imagem como a do partido da inclusão social, era apenas de esquerda. Na primeira eleição este papel coube ao caçador de marajás, e nas outras duas foi cumprido pelo criador do Real. Somente depois de Collor e FHC, o PT conseguiria somar ao seu eleitorado de esquerda aqueles que queriam e os que precisavam de um Brasil mais justo.

O PSDB, que havia conduzido com sucesso um dos mais importantes programas de distribuição de renda do mundo, não conseguiu capitalizar o Plano Real e deixou-se transformar aos olhos dos eleitores num partido da elite branca. Cometeu muitos erros, como o da polêmica emenda da reeleição, que contribuíram para que a sigla que construiu a estabilidade da economia acabasse com a imagem de partido paulista.

O “nós contra eles” não foi uma invenção de Lula, existe desde a primeira eleição presidencial. O que Lula fez foi dar uma coloração de classe ao termo. O “nós” são os pobres e as minorias, e o “eles” são os ricos. Discurso simples para um eleitor majoritariamente simples. Discurso que funciona. Embora não seja o único, claro que o PT é um partido preocupado com os mais pobres. O programa Bolsa Família foi o mais inclusivo da história do país, e o PT soube se valer dele politicamente.

Os demais partidos de esquerda viraram satélites. O PSDB, que depois de FHC perdeu quatro vezes para Lula, conseguiu atrair alguns partidos de centro, não todos. O maior deles, o MDB, ficou com o PT nas duas últimas eleições. Outros partidos de centro e de direita transitaram entre PSDB e PT ao longo dos últimos 16 anos. O PT foi mais competente. Apesar dessa miscigenação ideológica, os militantes orgânicos só enxergam o espectro de esquerda, e os eleitores não militantes só veem Luiz Inácio Lula da Silva quando miram o PT.

A campanha deste ano, ao que tudo indica agora, seguirá o mesmo roteiro, com a diferença que o PSDB perdeu seu protagonismo para Jair Bolsonaro. Dois episódios fundamentais da campanha ajudaram a impulsionar o capitão e o petista indicado por Lula. Bolsonaro foi esfaqueado enquanto era carregado nos ombros por eleitores, e Fernando Haddad recebeu a bênção de um ex-presidente preso que reconstruiu sua imagem de corrupto em mártir, injustiçado e perseguido.

É isso o que temos e com isso precisamos nos habituar. Resta saber se a habilidade política do PT será suficiente para ganhar a eleição no segundo turno. É verdade que a subida de Haddad nas pesquisas só ocorreu agora porque antes o candidato era Lula. Tem que se levar isso sempre em conta, mas é fato também que nunca, desde 2002, o PT esteve tão mal nesta fase da campanha. A corrupção ainda pode cobrar sua conta.

Nos quatro pleitos que ganhou, Lula e Dilma lideravam a corrida a esta altura da campanha. Em 2002, na pesquisa Ibope de 17 de setembro, Lula tinha 48% das intenções de voto. Em 2006, no dia 16 de setembro, Lula alcançava 42%. Na eleição de 2010, Dilma tinha 51% da preferência em 17 de setembro. Na sua reeleição, no dia 16 de setembro de 2014, a liderança de Dilma era mais apertada, com 36%, mas ainda assim quase o dobro do que Haddad tem agora.

O PT provou amplamente sua competência, tem seus principais líderes condenados e presos por corrupção, inclusive Lula, mas segue vivo na campanha. O PSDB, por sua vez, comprovou sua fama de incompetente político. Perdeu para Lula quando ele estava nas cordas do mensalão. Perdeu de Dilma quando seus sinais de fadiga já eram evidentes. E agora perde seu lugar na disputa para um novato em eleições presidenciais. E talvez perca também sua hegemonia paulista.

O PT continua, não se sabe até onde. O PSDB acabou de desembarcar.


Ascânio Seleme: O paradoxo Haddad

A eleição presidencial fica mais clara a cada dia aos olhos dos eleitores. Neste momento, graças ao ataque que sofreu, Bolsonaro está mais próximo do segundo turno. Seu adversário só será conhecido na última hora. Os candidatos à segunda vaga — Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva — lutarão cada dia como se fosse o último. Olhando hoje, três semanas antes do domingo, 7 de outubro, parece que vai dar Haddad.

Haddad foi o que mais cresceu dentre os quatro e aquele que reúne mais elementos que somados podem levar um candidato ao segundo turno. Ele tem bom tempo na TV, um eleitorado militante, o apoio do mártir Luiz Inácio Lula da Silva e está posicionado no lado oposto do campo onde se encontra Bolsonaro. Deste lado também estão Ciro e Marina. Ciro talvez seja a maior ameaça a Haddad, mas ele tem pouca TV e não tem Lula. Marina aparentemente não ameaça mais ninguém, mas mudaria o cenário se renunciasse em favor de Ciro.

Alckmin patina em meio a fogo amigo. Estaria melhor se conseguisse convencer Henrique Meirelles e João Amoêdo a desistirem de suas candidaturas. Sua coligação está bem distribuída no território nacional. Com a capilaridade extra do MDB certamente seria mais competitivo. Lembre-se que a eleição é casada, o eleitor vai votar também em governador, senador e deputado federal e estadual, e nessas condições a força partidária ajuda muito.

Haddad também tem um partido enraizado em todo o Brasil. E ainda mais organicamente plantado que o PSDB de Alckmin. Nesse quesito, apesar de a coligação de Alckmin ser maior, refletida no seu tempo de TV, a base de Haddad não é nada desprezível. Mas aí tem um problema, embora seja o mais forte candidato para ir ao segundo turno, Haddad é o mais fraco dos quatro concorrentes, o único que perde para Bolsonaro na pesquisa do Datafolha.

A explicação para esse paradoxo é tão simples quanto lógica. Mas é bom desenhar os cenários para melhor entendê-los. Num hipotético segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro, alguns petistas votarão em Bolsonaro, mas a maioria preferirá não votar, se abster ou até mesmo votar em Alckmin contra o perigo que a dupla capitão e general representa.

No caso de uma disputa final entre Haddad e Bolsonaro, alguns tucanos votarão no PT, mas muitos irão para Bolsonaro com a justificativa de que há identidade entre eles na pauta econômica. Essa é a diferença fundamental entre os eleitores das duas siglas. Os petistas não conseguem sequer falar sobre Bolsonaro, imagine votar nele. Os tucanos tampam o nariz e vão em frente com Bolsonaro e Mourão.

Ciro e Marina teriam os votos da maioria dos petistas e seriam a solução mais palatável para os tucanos num segundo turno. Os dois assustam Bolsonaro, que tampouco gostaria de enfrentar Alckmin no turno final. Ele prefere Haddad. Dada a enorme rejeição do PT, que é bem maior do que a do seu candidato, Haddad também prefere confrontar Bolsonaro. O curioso é que os dois mais fortes candidatos para o segundo turno perderiam para qualquer um dos outros três numa disputa direta.

Mas isso aqui é Brasil. Mesmo da cadeia Lula já está articulando com o centrão apoio no segundo turno. Acordão, ministério em troca de votos, toma lá, dá cá são armas que Lula sabe muito bem usar. Não se esquecendo que José Dirceu está solto, pronto para fazer qualquer negócio. E ainda tem o Nordeste, que embora não ganhe eleição, pode significar a diferença de votos necessários para vencer. O Nordeste, já se sabe, vai mesmo com o candidato que o mártir


Ascânio Seleme: Quem baterá Bolsonaro?

O quadro atual indica que Ciro, Alckmin e Haddad são os candidatos a derrotar o capitão do PSL.

Um desses três homens deverá ser eleito presidente do Brasil. A última pesquisa do Datafolha, confirmada em parte pelo Ibope, parece estar apontando para uma tendência. Marina muito provavelmente estará fora do segundo turno, e Bolsonaro deverá chegar lá, mas apenas para perder no dia 28 de outubro. Apesar de ser líder em todas as pesquisas de intenção de votos, ele não é o favorito desta eleição.

Na pesquisa mais atual, a do Datafolha de segunda-feira, Ciro, Alckmin e Haddad cresceram, assim como Bolsonaro. É interessante analisar as chances de cada um deles diante da situação atual e apostando em algumas movimentações que deverão ser feitas por suas campanhas nesta reta final. Mas antes, é preciso entender por que será difícil para Marina se recuperar da queda que teve nas duas pesquisas.

Pelo Datafolha, a candidata perdeu quase 30% do seu eleitorado em dez dias. No Ibope, perdeu 20% em uma semana. Os números são eloquentes. As razões de tamanha perda são diversas, a principal talvez seja a incapacidade dela de se posicionar claramente sobre questões mais polêmicas.

A candidata terá dificuldade em retomar o protagonismo na campanha porque sua aliança com o PV é desidratada. Marina tem apenas 21 segundos no horário eleitoral, e se não criar um fato político relevante, vai passar os últimos dias da campanha fazendo apenas figuração. E Marina não gosta de criar fatos. Grave ainda é o seu índice de rejeição recolhido pelo Datafolha, crescendo para 29% e só sendo superado pelo de Bolsonaro.

Ciro cresceu nas duas pesquisas, e no Datafolha chegou a se isolar no segundo lugar. Os adversários Alckmin e Haddad só o alcançam no limite da margem de erro. Mas este fato não significa que ele está garantido no segundo turno. A campanha terá ainda 25 dias de emoção em que as posições dos três pode muito bem mudar. Ciro, contudo, tem uma carta na manga, a mais baixa rejeição dentre os candidatos competitivos.

O problema do candidato do PDT é o mesmo de Marina. Sua coligação é ridícula em tamanho, tendo apenas o Avante ao seu lado. Com pouca TV, Ciro terá de se valer do noticiário e dos debates para se manter bem posicionado na disputa. Mas Ciro é um criador de fatos, o que pode ajudá-lo. A sacada do SPC, por exemplo, tem relação direta com o crescimento das intenções de voto no candidato. Resta saber como anda o estoque de ideias do candidato, e se ele ainda não vai dar aquele habitual tiro no pé.

Dentre os três contendores de Bolsonaro, Alckmin é o mais pesado, o mais difícil de ser carregado. A prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) na terça, dia seguinte à pesquisa Datafolha, pode ainda ter reflexos no apoio à sua candidatura. Mas Alckmin tem muita TV, pode construir qualquer discurso com diversas narrativas. Sem dúvida, esta é uma grande vantagem.

O PSDB deve retomar os ataques a Bolsonaro, levando ao eleitor o caráter homofóbico e misógino do candidato do PSL e a ideia de que armar a população resolve o problema da segurança. Este pode ser um trunfo, mas todo cuidado é pouco. Qualquer deslize pode parecer contraditório, já que, no aspecto econômico, Bolsonaro (Paulo Guedes) e Alckmin são bastante parecidos. E, depois, o inimigo de Alckmin a bater é o PT.

Haddad, enfim, entrou na disputa e tem um bom espaço para crescer. Antes mesmo de ser o candidato oficial, já subira cinco pontos no Datafolha. Mas seu ritmo de crescimento terá de ser alucinado. Nas três semanas que faltam até o domingo eleitoral, o candidato terá de dobrar seu rendimento de modo a superar Alckmin, Marina e, sobretudo, Ciro, seu principal adversário e com quem divide os votos da esquerda, dos órfãos de Lula.

Por isso também a sua campanha será feita inteiramente à sombra de Lula. Haddad só voltará a ser Haddad se for eleito. Antes disso, será o estepe do ex-presidente preso. Outro detalhe importante, o discurso de sua candidatura vai centrar fogo no governo Temer, a quem culpará por todos os problemas criados pela gestão de Dilma. Aliás, PT e Haddad vão fingir que Dilma não existiu. Esse discurso é tão fácil quanto falso e, sem desmentidos dos demais candidatos, poderá até colar.


Ascânio Seleme: O grande beneficiado

Jair Bolsonaro, vítima de ataque perpetrado por um lunático que quase lhe tirou a vida, é também o principal beneficiário político do atentado. Desde a tarde de quintafeira, quando foi atingido numa rua de Juiz de Fora, Bolsonaro é o “único” tema da campanha eleitoral nos jornais, nas rádios e nas TVs. A facada garantiu a ele um espaço positivo na mídia que normalmente não teria. As TVs tentam ser milimétricas na concessão de tempo para os candidatos em seus noticiosos, de modo a privilegiar o equilíbrio. E, claro, publicam também pontos negativos da campanha. O atentado subverteu esta ordem.

De vítima, Bolsonaro virou notícia. Notícia boa para ele. Seus poucos segundos no horário eleitoral transformaram-se em dezenas de horas de cobertura. E cobertura noticiosa vale muito mais do que propaganda política. Seus aliados se queixam de que ele terá de suspender a campanha durante a internação. Bobagem. Não existe campanha melhor do que a feita de um leito, especialmente considerando-se as circunstâncias que levaram o candidato para o hospital. Serão de sete a dez dias de intensa campanha eleitoral desde o Albert Einstein.

Com algumas raras exceções, o tema das coberturas é de repúdio à violência, de defesa da democracia, de indignação contra a onda de intolerância que assola o país de maneira crescente. Alguns analistas sugeriram que esta é a hora de união entre todos para que se possa superar a interminável corrente de ódio que divide o Brasil. Nenhuma palavra, ou poucas, para não parecer exagero, contra o discurso de Bolsonaro que defende a ditadura, a tortura e o uso da violência como método. Fica chato atacar o atacado.

Os adversários, surpreendidos pela agressão, se solidarizaram com Bolsonaro, o que é absolutamente razoável em um país civilizado. Repudiaram o ataque, torceram pela pronta recuperação do deputado agredido, mandaram mensagens de apoio à família e pararam de atacar o antagonista. Se até os adversários que acreditam que podem crescer batendo no discurso de trevas de Bolsonaro recuaram, imaginem como poderão se comportar os eleitores quando forem chamados a se manifestar, em outubro.

O atentado melhorou Bolsonaro? Normalmente, pessoas que correram risco de morte mudam para melhor. Não creio que Bolsonaro mudará. Duvido que ele arrede pé do discurso que lhe garantiu até aqui 22% do eleitorado. Seria contraditório e representaria prejuízo eleitoral. Não consigo ver o capitão liderando uma campanha pelo desarmamento de ânimos e espíritos ao sair do hospital. Mas com certeza o ataque melhorou a imagem do candidato.

E é justamente a imagem envernizada que pode jogá-lo ainda mais adiante. O fato de ser vítima ajuda muito a Bolsonaro. Vejam como Lula cresceu ao exacerbar nas redes sociais e com militantes sua falsa condição de vítima de uma perseguição política. No caso de Bolsonaro, não, ele é vítima de verdade de um grave atentado que por pouco não o matou. O ganho eleitoral será imenso com a “humanização” da sua figura.

A imagem lustrada pelo ataque sozinha não garante necessariamente novos votos, mas consolida os votos atuais. E, mais importante, poder fazer reduzir o nível de rejeição do candidato do PSL. E o futuro da eleição presidencial reside exatamente nesta questão. O eleitor que hoje deixa de rejeitar um candidato amanhã pode votar nele. Se o atentado resultar numa queda da rejeição do capitão-candidato, restará aos seus adversários disputar entre eles quem ocupará a outra vaga no segundo turno.


Ascânio Seleme: A intransigência vem desde a eleição de 2002

O atentado contra Jair Bolsonaro aprofundou ainda mais a crise de tolerância que dilacera o país

O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro coroa a magnífica onda de intolerância que atravessa o país desde a campanha presidencial de 2002. Inúmeras vezes militantes de PT e PSDB trocaram sopapos em nome de seus candidatos. Uma militante arrancou a dentada um dedo da mão de adversária com quem batia boca num bar do Leblon, no Rio de Janeiro.

A partir daí a intolerância cresceu e passou à etapa de contágio durante o mensalão. O início foi parlamentar, a falta de razoabilidade tomou conta do Congresso durante a CPI dos Correios e do julgamento do escândalo no Supremo Tribunal Federal. Em seguida ganhou as ruas e contaminou o Brasil.

Nas manifestações de 2013 ela apareceu mascarada e atendia pelo nome de black blocs. Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff e ao longo do julgamento, da condenação e da prisão do ex-presidente Lula ganhou o ar sombrio do dilúvio. Uma caravana petista com a presença do ex-presidente foi objeto de atentado ao ser atingida por bala numa estrada no Rio Grande do Sul.

As redes sociais fundaram guetos em que os manifestantes mais bem qualificados eram aqueles que mais virulência empregavam ao atacar seus “inimigos”. Amizades de anos foram desfeitas. Achava-se que o fundo do poço havia sido alcançado. Não fora, como se viu ontem, em Juiz de Fora.

O atentado contra Bolsonaro aprofundou a crise de tolerância que dilacera o país. Lula, professor titular da cadeira “Nós contra eles”, precisa ser mencionado. Embora tenha sido objeto de atentado no Rio Grande do Sul, foi autor das mais importantes páginas de intolerância deste país.

O próprio candidato do PSL agora agredido alimentou essa onda com seu rotineiro discurso de ódio.

Há dois dias, num palanque no Acre, Bolsonaro disse que queria ter uma arma na mão para “metralhar os petralhas”.

A facada em Jair Bolsonaro, o tiro contra a caravana de Lula, o dedo arrancado a dentada, os guetos das redes sociais são ingredientes da mesma fogueira que arde no Brasil. Se opor à opinião do outro com intransigência pode mesmo acabar de maneira brutal e sinistra.


Ascanio Seleme: Lula está fora, e agora?

É hora de saber como os candidatos que valem vão se apresentar na campanha

Apesar de Lula ser carta fora do baralho eleitoral desde sexta-feira, vamos ainda ouvir muito do PT e de sua militância o discurso do injustiçado, do perseguido. Mas a História registrou o inequívoco, Lula foi condenado pela quinta vez. Pelo juiz de primeira instância, Sergio Moro, pelo TRF-4, pelo Superior Tribunal de Justiça, pelo Supremo Tribunal Federal e agora pelo Tribunal Superior Eleitoral. Quatro órgãos colegiados se manifestaram contra Lula. É preciso acreditar em bruxas para aceitar a hipótese da perseguição.

Terminada a farsesca candidatura de Lula, que desde o começo todos sabiam que não prosperaria, o PT inclusive, é hora de saber como os candidatos que valem vão se apresentar na campanha. Bolsonaro já se sabe como vai caminhar. O seu discurso não se afastará um centímetro do caminho que o trouxe até aqui. Ele decorou algumas frases sobre economia e vai aproveitar a mídia e as redes sociais para ficar no foco, já que seu tempo de TV é ridículo. E vai pregar continuamente contra isso tudo que está aí.

Com o líder das pesquisas fora, a pergunta que se faz é se atacar o segundo colocado ajudaria os demais candidatos a obter uma vaga no segundo turno. Parece pouco provável e há muitas razões para não se acreditar nisso. Primeiro, o discurso de segurança de Bolsonaro, de ataque frontal e sem trégua a bandidos, não pode ser ignorado, menosprezado ou, o que é pior, tratado como mera truculência de candidato de direita. A maioria da população brasileira apoia o combate à criminalidade com o uso de todas as forças.

O primeiro filme da campanha do PSDB, “Não é na bala que se resolve”, é bonito, bem produzido e impactante, mas é óbvio demais. Filme de oportunidade para surfar numa onda do momento. Ocorre que surfa contra a onda e não a seu favor. Não estou dizendo que as pessoas querem resolver tudo na bala, embora haja muita gente que queira. Mas, sim, que a segurança é um dos principais problemas do país. Descuidar no discurso ou na publicidade pode parecer fraqueza ou sinal de que esta não é uma prioridade.

Adotar o papel de anti-Bolsonaro também não resolve. Fora as questões evidentes e graves que afastam Bolsonaro da civilidade, pontos do seu discurso decorado, além do combate à violência, fazem sentido. Enxugar o Estado, acabar com privilégios, cortar gastos são temas que atendem anseios de parte expressiva do Brasil e estão presentes nos discursos de seus adversários. Bater em Bolsonaro pode parecer incoerência, ou na pior das hipóteses, que se está contra essas medidas.

É preciso denunciar Bolsonaro nos seus ângulos verdadeiramente frágeis, nas questões de comportamento, da mulher ou no seu pouco apego à democracia, mas tampouco isso basta para levar uma candidatura ao segundo turno. Os candidatos devem apontar para a ruína econômica do Brasil gerada a partir do segundo mandato de Lula e pelos governos de Dilma e Temer. Os candidatos precisam ter coragem para denunciar os culpados pelo estado de pré-falência nacional. Essa é a raiz dos problemas.

Haddad vai focar em Temer, a quem culpará pelo desastre econômico, e usará o discurso do golpe todos os dias. Se os canhões dos demais candidatos continuarem mirando apenas na direção de Bolsonaro, deixarão que acabe colando a mensagem de que a tragédia em que estamos metidos, com 13 milhões de desempregados, é culpa exclusivamente do atual presidente. E, claro, o PT ignorará todas as denúncias de corrupção.

O plano é muito bom e, com a ajuda de Bolsonaro e seus adversários, pode ser perfeito. Enquanto os demais candidatos cuidam de atacar o candidato do PSL, o PT vai reconstruindo a História, modulando nela o seu papel de maneira a fazer o eleitor acreditar que o partido é inocente e honesto, e que a solução para o país é o seu retorno ao governo. Se esta estratégia vingar, o segundo turno será entre Haddad e Bolsonaro. E Haddad ganhará a eleição.

ECOS DA VOTAÇÃO DO TSE
Antes de votar a favor da manutenção da candidatura de Lula, o ministro Edson Fachin elogiou seu colega Luís Roberto Barroso, o relator da impugnação. “Uma das mentes mais iluminadas do país”, disse ele. Talvez tenha sido por isso que Barroso ganhou de Fachin por 6x1. E a pegadinha do ministro Og Fernandes? Sua primeira frase foi um verso de Chico Buarque. Parecia que votaria com Lula. Votou contra.

CÍRCULO VICIOSO
Se já é difícil renovar o Congresso com as regras políticas em vigor, imagine se à moda tucana de financiamento das campanhas pegar. O PSDB só dará dinheiro do fundo partidário a candidatos a deputado e a senador que já tenham mandato. Os novatos terão que navegar com recursos próprios. Mulheres candidatas novatas são exceção, por lei, mas mesmo essas receberão soma menor do que as senhoras que buscam a reeleição.

JUCÁ ESTÁ FORA MESMO?
Um observador atento pergunta, sem a intenção de ofender, se, além da liderança no Senado, Romero Jucá (MDB) vai devolver os cargos que detém no governo e parar de liberar emendas ao Orçamento com sua ingerência no Planejamento. Vai pedir também para que Dyogo Oliveira deixe o BNDES? E que sua irmã Helga se demita do cargo de assessora especial da Secretaria de Políticas para Mulheres?

A FOTO GENÉRICA
O Senado promoveu na segunda-feira passada um debate sobre fotografia e gênero. Teorizou-se sobre o olhar da mulher na fotografia. Segundo Ramila Moura, jornalista da Procuradoria da Mulher no Senado, “é importante a gente ter este olhar diferenciado de gênero, porque daí a gente vai perceber quem são as pessoas retratadas”. Se essa coluna fosse do Ancelmo Gois, a nota terminaria assim: “É, pode ser”.

É CARO SALVAR VIDAS
No ano passado a Anvisa aprovou o medicamento Spinraza, único capaz de combater a amiotrofia muscular espinhal (AME), doença que acomete uma em cada dez mil crianças nascidas no Brasil. Embora considerado eficiente pela Anvisa, o medicamento não entrou na lista do SUS. Segundo a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do órgão, “a análise de custo-efetividade mostra que o medicamento não apresenta resultados clínicos condizentes com o (seu) preço, e (causaria) um impacto orçamentário da ordem de R$ 1 bilhão que pode comprometer a sustentabilidade do SUS”. Cada dose de Spinraza custa R$ 372 mil. Com seis doses salva-se a vida de uma criança.

 

 


Ascanio Seleme: Uma eleição sem Lava-Jato

Como seria o Brasil de hoje se a Odebrecht e a OAS continuassem dando as cartas?

Se o bombardeio contra a Lava- Jato feito pelo PT e por outros partidos tivesse conseguido destruir a operação, a história desta eleição seria bastante diferente. Apesar da felicidade geral da nação petista, que teria seu Lula livre, o país seria outro. Ou talvez o mesmo de anos atrás. Vamos ver como estaríamos nesse momento caso Moro, Bretas, Dallagnol e suas equipes tivessem sido efetivamente impedidos de prosseguir investigando casos de corrupção e punindo corruptos.

Lula — Estaria em plena campanha eleitoral. Como não poderia viver o papel de vítima, muito provavelmente não teria 37% das intenções de voto. Passaria toda a campanha explicando a corrupção endêmica de seu partido, o desastre do governo de Dilma e as acusações contra ele que não foram adiante com o sepultamento da Lava-Jato. Odebrecht e OAS estariam financiando a campanha pelo caixa 2. Nas folgas da maratona eleitoral, relaxaria no seu tríplex no Guarujá ou no seu sítio de Atibaia.

Dilma — Sem Lava-Jato, o Congresso não teria reunido força política para afastá-la do cargo. Estaria pilotando uma economia agonizante. Seu índice de aprovação seria baixo, mas melhor do que Temer experimenta hoje, porque tem gente que não quer mesmo enxergar. Seguiria no Planalto até se aposentar em 31 de dezembro.

Temer — Teria se desincompatibilizado da vice-presidência para concorrer a uma vaga na Câmara. Como as acusações contra ele não seriam investigadas, muito possivelmente seria eleito na margem de erro.

Antonio Palocci — Esse já estava bastante sujo por falcatruas anteriores à Lava-Jato, mas mesmo assim seria candidato a uma vaga na Câmara. Não seria chamado para ajudar no plano de governo de Lula, muito liberal para este novo PT.

José Dirceu — Cumprida sua pena pelos crimes do mensalão, voltaria a encarnar o papel de guerreiro do povo brasileiro. E muita gente acabaria caindo nessa. Seria, claro, candidato a deputado federal. Não arriscaria uma eleição majoritária.

Eduardo Cunha — Solto, com dezenas de contas milionárias no Brasil e no exterior, continuaria achacando empresas e empresários. Seria o deputado federal mais votado do Rio e financiaria uma bancada gorda com mais de 100 parlamentares em diversos estados. Voltaria a presidir a Câmara.

Sérgio Cabral — Seria o candidato a vice de Lula. Agregaria o perfil do governador pop do Rio, o tempo de TV e o fundo partidário do MDB à campanha petista. Nas folgas de campanha descansaria com a serelepe Adriana Anselmo na sua casa de Mangaratiba cercado de quadros de Romero Brito e garrafas de vinho de US$ 2 mil a unidade.

Aécio Neves — Como Temer não teria sido presidente, a série de eventos provocados pelas gravações de Joesley não ocorreria. Aécio não teria sido flagrado chafurdando nos cofres dos Batistas e seria, portanto, o candidato do PSDB a presidente. O “bom moço” de Minas chegaria embalado pelo enorme recall de 2014 com chances de ir para o segundo turno.

Gleisi Hoffmann — Seria coadjuvante no cenário nacional. Mas certamente se candidataria mais uma vez ao governo do Paraná.

Lindbergh Farias — Não se conheceria o seu lado aloprado e não teria a visibilidade que ganhou com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Por isso, suas chances de sucesso na reeleição seriam menores.

Marcelo Odebrecht — Estaria hoje um pouco mais pesado, já que não teria passado dois anos na cadeia sem nada para fazer a não ser ginástica. Teria mantido o Departamento de Operações Estruturadas de sua empresa e continuaria jorrando dinheiro desviado do público para campanhas privadas. Todos os outros empreiteiros estariam muito bem, obrigado.

Léo Pinheiro — Já teria sido chamado para fazer algumas reformas e ajustes no tríplex dos Lula da Silva no Guarujá.

Petrobras — Não teria recuperado os R$ 2,5 bilhões com a Lava-Jato. A sangria continuaria em curso.

Pedro Barusco — Não seria conhecida a medida monetária em que um Barusco equivale a 100 milhões de reais.

Alberto Youssef — Com o dólar a R$ 4, estaria nadando de braçada.

Tesoureiros — Todos os do PT estariam bem e felizes. Nenhum teria sido preso.

Marqueteiros — João Santana e Mônica Moura estariam cuidando da campanha de Lula. Duda Mendonça continuaria no mercado.

Advogados — Alguns dos maiores do Brasil teriam dezenas de milhões de reais a menos em suas contas. E Zanin... que Zanin? Ninguém conheceria Cristiano Zanin.
Airbnb na mira

O presidente da Riotur, Marcelo Alves, encomendou a especialistas em tributação um esboço de projeto de lei para taxar os aluguéis feitos através da Airbnb no Rio. A ideia é cobrar tributos por quarto alugado. Claro que o imposto haveria de variar levando-se em conta o tamanho do quarto alugado e a sua localização. Hoje, a plataforma de locação de imóveis por temporada, uma gigante mundial, não paga um centavo sequer de imposto, embora movimente centenas de milhões de reais.

Presidente nada pode
Ingênuos são os que acreditam que Bolsonaro, eleito, vai botar pra quebrar, prender e arrebentar bandido. Não vai porque não pode. Sem o Congresso, presidente vai a lugar nenhum. O Congresso, por mais porcaria que seja, não dará apoio a qualquer aventura típica da bolsonaria. E mais, o Parlamento brasileiro sempre será de centro, não adianta querer caminhar para os extremos. Vejam o exemplo recente do PT.

Poste com vontade
Haddad não vê a hora da sua unção. Ele não aguenta mais falar do líder máximo, repetir que Lula tem que ser solto, que o Brasil atenta contra a democracia. O candidato está ansioso para mostrar o que ele próprio pensa. Mas não fala e ataca quem fale sobre tomar atalhos para se livrar logo de Lula preso. Vai que Lula ouve.

Quem tem medo do STF
Apesar de tudo, o STF impõe respeito. Talvez seja por esta a razão que apenas 22 de 214 parlamentares recorreram contra o envio de seus processos do Supremo para a primeira instância, como revelou a repórter Carolina Brígido. Melhor na Justiça original, com seus múltiplos recursos, do que correr o risco de não pegar a Segunda Turma.

Sorte mesmo tem o Genu
Sem qualquer amigo no STF, João Cláudio Genu calhou de estar ao lado de José Dirceu na hora crucial em que foi apanhado com a mão na botija. Foi solto e agora teve confirmada sua liberdade pela turma da Segunda Turma. Este homem, sim, tem estrela.

Favreto
O que houve com aquele juiz aloprado? Alguma punição, censura?

Campanha da Vale
Muito bonita a campanha Redescobrir da Vale. Mostra uma empresa bem posicionada em algumas das questões que mais importam ao país. A exploração sustentável dos recursos naturais, por exemplo. Pelas imagens e pelo discurso, trata-se mesmo de uma companhia do primeiro time. Só faltou mencionar o Rio Doce, ou o que sobrou dele depois do desastre da Samarco, empresa da Vale que até agora enrola os brasileiros que perderam suas casas e sustento com o lamaçal tóxico que a empresa deixou vazar.