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Ascânio Seleme: O bispo e o voto evangélico

Eleitor evangélico provou que não vota unitariamente nem cai mais em lorotas tão facilmente

Difícil dizer se foi o voto evangélico que abandonou Marcelo Crivella ou se foi o velho bispo da Igreja Universal que o fez correr. O fato é que o eleitor evangélico, que até outro dia parecia apenas parte de um rebanho ideologicamente garroteado, provou que não vota unitariamente nem cai mais em lorotas tão facilmente. O sonho de Edir Macedo, que imaginava fazer uma cabeça de ponte no Rio para daí conquistar o país, virou vexame e ainda pode se tornar pesadelo.

O Rio não votou outra vez no bispo. Crivella ficou curto, apequenou-se. O resultado do primeiro turno da eleição municipal, que deve se repetir amanhã, desvelou uma novidade: os votos dos fiéis foram diluídos entre diversos candidatos. A ordem do pastor não vigora quando o candidato indicado pela igreja é ruim. Ou péssimo, como no caso em questão. Como essa verdade é comum em outros cantos do país, temos uma boa nova: o voto de cabresto religioso perdeu força.

O crescimento da população evangélica, ou a conversão de católicos em protestantes e evangélicos ao longo dos anos, produziu a sensação de que as igrejas dominariam em pouco tempo o cenário político nacional. Da mesma forma que se avalia hoje que em mais 30 anos os eleitores da Bélgica, por exemplo, serão majoritariamente de origem muçulmana. No Brasil, em dez anos, o número de evangélicos cresceu em média 61%. No Rio, seu aumento foi ainda maior, chegando a 64%.

A trajetória de Crivella mostra como foi importante e preocupante o que parecia ser a conformação de um curral eleitoral imbatível por ser administrado pela fé, que se imaginava blindada. O prefeito entrou na vida pública em 2002 se elegendo senador. Foi reeleito em 2010. No intervalo, concorreu sem sucesso a prefeito do Rio e a governador do estado, mas seus resultados foram melhorando. Em 2016, ganhou a prefeitura com 59,6% dos votos. Imaginou-se que o caminho estava consolidado, mas aí apareceu a inacreditável incompetência de Crivella.

Desde a posse, em janeiro de 2016, o capital político do bispo foi se deteriorando a ponto de ele ter hoje um dos maiores índices de rejeição entre todos os candidatos que concorrem neste segundo turno. Na primeira rodada das eleições, ficou com magérrimos 21,9% dos votos. Perdeu um oceano de sufrágios em quatro anos. Pelo que mostram as pesquisas, se Crivella fizer amanhã 30% dos votos válidos, terá perdido a metade dos eleitores que o elegeram em 2016. Dentre eles, incontáveis evangélicos.

A fé pode ser disciplinada e determinada, condescendente e tolerante, mas o fracasso eleitoral de Crivella prova que cega ela não é. O eleitor evangélico percebeu, como cada um dos 6,7 milhões de cariocas, que a gestão do bispo foi um desastre para a cidade. Seu governo sempre foi ineficiente, e não se pode culpar a pandemia pela agonia que a cidade atravessa. O eleitor evangélico também vê isso.

Vê, lê e ouve. A tecnologia da internet também ajudou a desidratar o monolítico voto evangélico. Além de perceber no seu dia a dia a desordem urbana, o eleitor fiel também foi informado pelas redes sociais. Muitas vezes desinformado, com certeza, mas sem dúvida estas ferramentas foram importantes para quebrar a “verdade” absoluta que se ministra nas igrejas evangélicas.

O voto orientado pelo pastor pode ainda dar resultado na eleição de vereadores e deputados, mas para cargo majoritário a iminente derrota de Crivella parece estar mostrando uma nova tendência que o tempo poderá confirmar. Por ora, Rio deve festejar o fim do mandato do bispo como uma benção. Crivella só vai fazer falta a Márcia e aos seus guardiões.

Derrota entre turnos

Jair Bolsonaro perdeu outra disputa política. Esta, depois do primeiro e antes de abrirem-se as urnas do segundo turno. Foi em Santa Catarina, onde o seu zero menor trabalhou incansavelmente para derrubar o governador Carlos Moisés. Bolsonaro e zerinhodespacharam para a capital catarinense a advogada da família, Karina Kufa, para conseguir que o governador fosse afastado e sua vice bolsonarista preservada depois de o governo ter equiparado os salários dos procuradores do estado com os da Assembleia Legislativa. Diziam que o reajuste era ilegal. Deu certo até ontem, quando a comissão que julgava o afastamento de Moisés teve de restabelecê-lo no cargo porque o Tribunal de Justiça do estado decidiu na véspera que ele não cometeu crime algum.

Defesa do Fla

O governo federal é tão desorganizado, atrapalhado e abilolado que lembra em muitos aspectos a defesa do Flamengo. Além de tremer de medo, quando o torcedor vê aqueles dois patetas do Léo Pereira e Gustavo Henrique trocando passes em frente à área, deve pensar imediatamente nos ministros Ricardo Salles e Ernesto Araújo. Com estas duplas, bola no pé do adversário e gol contra é questão de tempo.

Ministro da Logística

Se o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, conseguiu deixar estocado, sem uso, mais de seis milhões de testes de coronavírus em plena pandemia, imagina o que ele seria capaz de fazer se fosse general e cuidasse da logística de uma Força Armada durante uma guerra.

Aliás

A ampliação por mais 12 meses do prazo de validade dos testes esquecidos por Pazuello num galpão em São Paulo levantam uma lebre. Será que os laboratórios não estão estabelecendo validades muito curtas para seus medicamentos de maneira que eles vençam e o consumidor os descarte e compre um frasco novo? Tem alguma esperteza aí ou se trata do exclusivo cuidado com a saúde humana? Pelo preço dos remédios, é melhor que esta história seja muito bem explicada.

Acertos e desacertos

A chance de Guilherme Boulos de acertar se vencer a eleição de amanhã é tão grande quanto a de Bruno Covas. Sua chance de errar, entretanto, é maior. O programa de Boulos é mais ambicioso e muito mais caro do que o de seu adversário. Além disso, gerou uma expectativa entre os seus eleitores que pode se transformar rapidamente em frustração quando as pautas começarem a cair por falta de recursos ou adequações legais.

Boa surpresa

O ministro Luiz Fux devolveu grandeza ao posto de presidente do Poder Judiciário. Ao mandar para o plenário todas as ações penais e inquéritos, Fux resolveu que os casos da Lava-Jato voltarão a ser julgados e não apenas descartados sumariamente pela turminha. Boa também sua recomendação aos larápios de dinheiro público. Não adianta tentar esconder, “se tiver mala de dinheiro a imprensa vai descobrir”.

Carro usado

Aquela máxima “você compraria um carro usado do fulano de tal?” cabe muito bem agora ao ex-deputado, ex-secretário de estado e ex-presidiário Pedro Fernandes. O GLOBO noticiou na terça passada que Fernandes virou corretorde imóveis. O ex-secretário foi preso temporariamente por desvios em contratos na área da assistência social e responde a processo correspondente. Daí, vale perguntar: você compraria uma casa desse sujeito?

Não culpem o Leblon

Bares cheios você vê todos os dias em Ipanema, Laranjeiras, Botafogo, Barra da Tijuca, Taquara ou por onde quer que você ande. Em São Paulo, BH e Recife é assim também. Mas sempre que alguém quer fazer uma referência aos maus hábitos dos jovens baladeiros nesta pandemia cita a Rua Dias Ferreira, o Leblon. É uma injustiça. Não porque a garotada do bairro esteja trancada em casa, claro que não. Mas porque não são os únicos. Gilberto Bueno, leitor do GLOBO, mandou uma carta para o jornal dizendo que o Leblon estava fazendo escola. Será mesmo?

Crime eleitoral

É muito bom o livro “Uma terra prometida”, a autobiografia de Barack Obama, lançado na semana passada pela Cia das Letras com pompa e circunstância. Há inúmeros grandes momentos na narrativa da vitoriosa trajetória do ex-presidente americano. Mas há também dados do cotidiano, triviais. Um deles, que quase passa despercebido, explica como funcionam as campanhas eleitorais nos EUA. Na véspera do caucus de Iowa de 2007, a arrancada das primárias americanas, fazia muito frio e a neve poderia afastar eleitores das urnas. O que a adversária Hillary Clinton fez, como conta Obama, seria crime eleitoral no Brasil. A campanha da candidata distribuiu milhares de pás entre os eleitores alegando que com as ferramentas eles poderiam remover a neve acumulada em suas portas e ir votar.

Diego disse

“Tampouco morto encontrarei a paz. Me utilizam em vida e encontrarão um modo de fazê-lo estando morto”. A afirmação de Maradona, feita em 1996, faz parte de uma coletânea de 1.000 frases organizadaspor Marcelo Gantman e Andrés Burgo no livro “Diego dijo”. Ontem, dia seguinte ao velório, soube-se que os 11 filhos do jogador já iniciaram uma contenda pelo seu espólio.


Ascânio Seleme: A hora de Boulos

O perigo para ele é ser tutelado pelo PT

Uma grande novidade pode ocupar o cenário político nacional no próximo domingo. Guilherme Boulos, que há dois meses era apenas um dos diversos postulantes ao principal cargo em disputa nas eleições municipais deste ano, transformou-se na sensação da campanha e, em três dias, pode perfeitamente ser eleito prefeito de São Paulo. Votos para isso ele parece ter reunido, de acordo com as pesquisas. O importante a discutir agora é se esta é a melhor hora para Boulos.

A simples presença do candidato do PSOL nesta altura da campanha já areja o ambiente bastante intoxicado desde a eleição do presidente de extrema-direita. Embora o centro e a centro-direita tenham saído dominantes do primeiro turno, diminuindo o tamanho e o espaço de Jair Bolsonaro, a principal joia da coroa está em disputa entre um candidato de centro-esquerda e um de esquerda. Não há como negar, a prefeitura de São Paulo é a mais importante do país e tem orçamento e receita maiores que pelo menos uma dúzia de estados brasileiros.

Politicamente, o prefeito de São Paulo é mais visível e mais preponderante do que qualquer governador, mesmo os de Rio e Minas. Ou alguém acha que Cláudio Castro e Romeu Zema têm um futuro tão amplo quanto Bruno Covas? Tomem a trajetória de João Doria como exemplo. Por isso, o caminho que se abre para Boulos é enorme. Se vencer a eleição, ganha uma projeção que nem os maiores líderes de seu partido jamais conseguiram alcançar.

O problema é como administrar a vitória. Como governar a maior cidade do país mantendo relevância e sem queimar capital político. A primeira questão para Guilherme Boulos, no caso de ser eleito, é a montagem do governo. Quem ele trará para a administração municipal para encaminhar as propostas que apresentou ao eleitor durante a campanha. Como seu partido é pequeno, terá de buscar quadros fora do PSOL, principalmente no PT. E essa pode ser a primeira armadilha que vai enfrentar.

O perigo para Boulos é ser tutelado pelo PT, ou pelo menos ser visto de fora dessa maneira. O risco de ser considerado um braço político do partido de Lula e do próprio ex-presidente é enorme. Não há como governar sozinho, claro, não se toca uma cidade como São Paulo sem um imenso anteparo político. E daí pode nascer a percepção de que Boulos é apenas um novo líder do PT, desidratando o PSOL, que nasceu justamente porque um grupo de petistas discordou dos métodos do partido e se afastou da onda de escândalos daquela era.

A crise econômica que o mundo atravessa em razão do coronavírus é outro problema que pode fazer fracassar um hipotético governo Boulos. Se o programa de governo do candidato exige gastos muito acima do que o município pode arcar em tempos normais, imagine nesta época de vacas magras. E aí cresce a possibilidade de o novo prefeito acabar traindo, mesmo que involuntariamente, seus compromissos de campanha, suas promessas eleitorais, decepcionando os eleitores e enfraquecendo seu partido.

Talvez, e você pode discordar inteiramente, seja melhor para Boulos perder esta eleição. Da mesma forma que foi bom para Lula ter perdido para Fernando Collor em 1989, ele próprio já reconheceu isso. Se sair da eleição com 45% dos votos válidos, como mostrou a última pesquisa Datafolha, se cacifará para se tornar um grande nome em 2022. Como sua curva é ascendente, pode encostar ainda mais em Covas, fortalecendo e amadurecendo a si próprio e ao PSOL, como Lula e o PT também amadureceram.

Mas a alternativa da derrota também guarda um problema. Será que Lula vai permitir que uma luz brilhe mais forte que a sua ou do seu partido? Com todo o poder que tem sobre o PT, Lula não evitou a candidatura de Jilmar Tatto, mesmo quando Boulos já era a alternativa viável. Por quê? Porque não quis. Alegar democracia interna é bobagem. Em 2018, rifou Marília Arraes em Pernambuco, atropelando o diretório regional. Como não dá para confiar em Lula, quem sabe seja esta mesmo a melhor hora para Guilherme Boulos, apesar de todos os riscos.


Ascânio Seleme: Filhos e netos se apropriam do capital político da família para pedir votos

Em Recife, onde uma neta e um bisneto de Miguel Arraes disputam o segundo turno

A história eleitoral brasileira está repleta de casos de filhos e netos que se apropriam do nome e do capital político do patriarca da família para pedir votos e quem sabe passar o resto da vida pagando suas contas com dinheiro público. Quanto mais próximo do primeiro político, melhor. Foi assim com os três zeros pouco qualificados de Bolsonaro, que se elegeram vereador, deputado e senador. Nas eleições municipais deste ano, há um caso que não chega a ser inédito, mas prova que as pessoas apostam mesmo no nome da família para ganhar um cargo. Trata-se de Recife, onde uma neta e um bisneto de Miguel Arraes disputam o segundo turno.

A neta, a deputada petista Marília Arraes, já tem um pouco de estrada e tentou uma outra vez ocupar um cargo executivo. Em 2018, mesmo liderando as pesquisas, teve sua candidatura abortada pelo diretório nacional do PT. O bisneto, João Campos, tem apenas 26 anos. Além de ser neto de Arraes, ele é filho do falecido governador Eduardo Campos. Ungido por dois sobrenomes, foi o deputado federal mais votado em 2018, aos 24 anos, e agora quer ser prefeito. Sua qualificação? É engenheiro, mas nunca exerceu a profissão. Graduou-se em 2016, mas aí já era secretário do governador que sucedeu seu pai dois anos antes.

Em São Paulo, outro neto disputa a eleição. Bruno Covas, neto do ex-governador Mario Covas, está no segundo turno e pode acabar eleito para um mandato inteiramente seu. No primeiro, foi vice de João Doria, que saiu para se candidatar a governador. Bruno foi deputado estadual, deputado federal e secretário estadual de Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. Mas aí, nenhum mérito. Até o nefasto Ricardo Salles foi secretário de Meio Ambiente de Alckmin. No Rio, o sobrenome Garotinho não rendeu votos para Clarissa, que chegou em 11º lugar com apenas 12.178 votos. No caso, o sobrenome mais atrapalha do que ajuda a deputada filha de dois ex-governadores encrencados.

Muito raramente os filhos e netos são tão eficientes ou bons quanto a quem deu origem à estirpe política. Há um caso emblemático no Brasil que mostra ser possível passar qualidade política geneticamente. Estou falando do presidente Tancredo Neves e de seu neto, o deputado Aécio Neves. Tancredo foi político de habilidade incomum e tornou-se um dos mais importantes brasileiros de todos os tempos. Artífice da redemocratização do Brasil em 1985, morreu sem tomar posse, virando quase um mártir político. Seu neto elegeu-se deputado, governador e senador. Muito eficiente e quase tão hábil quanto o avô, conseguiu ser eleito presidente da Câmara, o que não é trivial, e foi candidato a presidente. O problema é que seu futuro desapareceu quando descobriu-se que ele era um escroque.

Há diversos casos de transmissão familiar de prestígio político no país. Exemplos: Nelson Marchezan e Nelson Marchezan Jr., no Rio Grande do Sul; Esperidião Amin, Angela Amin e João Amin, em Santa Catarina; José Richa e Beto Richa, no Paraná; Antônio Carlos Magalhães, Eduardo Magalhães e ACM Neto, na Bahia; Jader e Helder Barbalho, no Pará; Renan Calheiros e Renan Filho, em Alagoas; Nelson e Nelsinho Trad, no Mato Grosso do Sul; os incontáveis Alves de Melo, no Rio Grande do Norte; e os inacreditáveis Iris e Iris Rezende (marido e mulher), em Goiás. E no Rio há ainda os Maia, o pai Cesar e o filho Rodrigo.

Embora a prática se espalhe pelo Brasil de maneira incontrolável, a herança política não é uma jabuticaba genuína. Nos Estados Unidos, desde a mais tenra idade da maior democracia da terra, pais já passavam prestígio para seus filhos. John Adams, um dos fundadores da pátria, foi o segundo presidente dos EUA sucedendo George Washington. Seu filho John Quincy Adams foi o sexto presidente americano. A dinastia Kennedy foi forjada pela tenacidade do patriarca da família e emancipada pelo lendário presidente John F. Kennedy. Até os Bush fizeram escala familiar, com George e George W. E os Clinton, Bill e Hillary, também tentaram, mas foram malsucedidos.

Filhos, netos e outros familiares têm o direito de exercer cargos eletivos depois que o patriarca fez sucesso na política? Legalmente, sim, porque a todos é dado o acesso a uma função pública, desde que cumpridos os requisitos de idade e idoneidade e que tenham concorrido democraticamente para o cargo. Moralmente, não, porque a beleza da democracia é que ela deve dar a todos as mesmas chances e oportunidades, e os que vão para uma disputa ocupando orgulhosamente o papel de filhinho do papai ou de netinho do vovô, já saem na frente e quase sempre com vantagem que todos os demais concorrentes não têm.


Ascânio Seleme: Bolsonaro criminoso

Presidente mentiu categoricamente ao afirmar que a CoronaVac causava morte

A contabilidade passava de uma dúzia de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República quando ele deu uma freada por orientação do Centrão. Não porque não tivesse outras barbaridades para dizer, mais ameaças a proferir, novos crimes para cometer. Mas sim porque precisava dar uma envernizada no seu perfil para que o agrupamento mais fisiológico do Congresso pudesse dele se aproximar. Há dois dias, o escorpião venenoso não conseguiu se conter e voltou a seu estado natural de irresponsável maior da República. Desta vez, o alvo do seu atentado criminoso não foi o Congresso, o Supremo ou a democracia. Agora, ele preferiu golpear a saúde do povo brasileiro.

Além de festejar um hipotético fracasso da vacina que está sendo testada pelo Instituto Butantan, órgão do governo de São Paulo, onde identifica um inimigo na figura do governador, disse em rede social que ganhava mais uma sobre João Doria. E mentiu categoricamente ao afirmar que a CoronaVac causava morte, invalidez e anomalias. Foi um crime contra a dignidade, a honra e o decoro do cargo que ocupa, previsto na lei do impeachment. Mas deste mato não sai cachorro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, único com poder para dar andamento a pedidos de afastamento do presidente, já sentou em cima de mais de 30. Se um novo ocorrer, vai ser aquecido sob a mesma pilha gorda.

Talvez o Tribunal de Contas da União possa identificar um outro crime, de interferência indevida do presidente numa agência reguladora, se tocar para valer a investigação solicitada pelo Ministério Público. Difícil não enxergar essa interferência diante do que se viu antes e logo depois da decisão da Anvisa de suspender as pesquisas do Butantan. Para começar, a nota noturna da Anvisa suspendendo os testes já apontava o caminho pelo qual transitaria o capitão logo em seguida. Ao afirmar que houve um evento adverso grave, e mesmo já sabendo se tratar de possível suicídio, listou o que podem ser esses eventos (morte, invalidez, anomalias), dando munição a Bolsonaro.

Todos os erros cometidos pela Anvisa parecem deliberados. 1) A agência não esperou nem sequer o amanhecer para tomar a decisão de suspender a pesquisa. 2) A Anvisa não aceitou a ponderação do Butantan sobre a morte do homem que testara a vacina por não a considerar formal (queria um boletim de ocorrência da polícia), ao contrário do Comitê Internacional Independente e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. 3) O contra-almirante Antônio Barra Torres, presidente da agência, disse não ser parceiro do Butantan. Patético. Os responsáveis pelos testes mereciam confiança, e o BO poderia se ver depois; claro que a Anvisa poderia esperar mais detalhes antes de suspender os testes. E, evidentemente, todos deveriam estar do mesmo lado contra a pandemia.

O contra-almirante e os dois subordinados que deram entrevista explicando a decisão apressada foram instrumentos do presidente. O que Bolsonaro queria era ter um ganho político sobre Doria na reta final da eleição municipal. Seu candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, vai tão mal que talvez nem chegue ao segundo turno. Doria, por sua vez, torce para que ele avance e seja o adversário de Bruno Covas, para dar uma coça em Bolsonaro. As explicações da trinca da Anvisa, Barra Torres, Alessandra Bastos Soares e Gustavo Mendes, na entrevista de terça-feira foram ridículas. Mesmo sabendo desde a véspera que a morte não se devia à vacina, insistiram que o aspecto formal era inevitável. Não era. Tanto que recuaram 24 horas depois.

Sabia-se desde sempre que o contra-almirante era um bolsonarista sem máscaras. Nos bastidores da Anvisa comenta-se que o mandato da diretora Alessandra Bastos Soares vence em abril do ano que vem, e ela busca sua recondução para o cargo. Talvez isso explique a condescendência com decisão baseada em premissas tão frágeis. Sobre o papel do técnico Gustavo Mendes, que disse na entrevista estar falando em nome de todos os seus colegas sem apresentar procuração, sabe-se na Anvisa que ele é daqueles quadros em que os chefes podem sempre confiar.


Ascânio Seleme: O fim de um pesadelo

A iminente derrota de Donald Trump, muito mais do que a vitória de Joe Biden, tranquiliza o mundo e acalma os sentidos da humanidade

A iminente derrota de Donald Trump, muito mais do que a vitória de Joe Biden, tranquiliza o mundo e acalma os sentidos da humanidade. Esta talvez seja a única boa notícia de 2020 até aqui. Melhor do que isso, quem sabe, pode ser o desenvolvimento final de uma vacina eficiente contra o coronavírus. Mas ainda assim, e apesar de a vacina ter o poder de salvar milhares de vidas que seriam perdidas prematuramente, a saída de cena do megalomaníaco Trump produz um grau também muito elevado de relaxamento, porque era grande o risco dele permanecer infernizando o mundo por mais quatro anos.

A saída de Trump representaria um recomeço para o mundo. Desaparecera a espada que pairava sobre o globo presa apenas nas mãos de um líder errático, egocêntrico e mentiroso. Se o mundo respirar aliviado com a vitória de Biden, os Estados Unidos terão de procurar entender o recado das urnas. O mais importante deles talvez seja a mensagem de respeito absoluto à democracia, onde quem manda é o eleitor, e ponto final. Mesmo com as imperfeições do modelo eleitoral americano, quem votou e deve eleger um novo presidente foi o eleitor.

Outra vencedora desta eleição foi a verdade. O maior mentiroso que já ocupou o Salão Oval deve deixar o poder acumulando extraordinárias 20 mil mentiras contabilizadas pelo jornal “The Washington Post” até agosto. Embora metade do país tenha votado em Trump, e destes muitos compraram e seguirão comprando as lorotas do presidente derrotado e seus alucinados seguidores, o fato é que a maioria foi às urnas e votou também massivamente num partido que absolutamente não é socialista, como Trump insistia em proclamar.

Restabelecida a verdade, falta ainda aos EUA recuperarem sua dignidade. Trump transformou o país numa chacota global, como Bolsonaro fez com o Brasil. A diferença entre os dois é que um é periférico e outro comanda a maior potência econômica e militar do planeta. Joe Biden é muito bem talhado para esta tarefa. Não importa como seja a saída de Trump, confirmada sua derrota, se esperneando como um menino mal-educado ou de modo civilizado, quem deverá mandar a partir do dia 20 de janeiro de 2021 será um homem educado, tolerante e conciliador.

Mesmo que Trump bata o pé e faça birra, insistindo com suas diversas ações nos tribunais regionais e na Suprema Corte, o resultado final será mais uma derrota para ele. Sem qualquer evidência que sustente as acusações de fraudes eleitorais que fez, as ações são ridículas e serão desconsideradas pela Justiça. Nesta empreitada, Trump já perdeu o apoio da sua maior aliada na mídia, a Fox News, que condenou a iniciativa. Falta perder o suporte do seu partido.

Ao ser retirado do ar na noite de quinta-feira por emissoras de TV americanas, quando fazia um pronunciamento na sala de imprensa da Casa Branca, Trump mentia descaradamente sobre como as alegadas fraudes se processavam. Os veículos que o silenciaram disseram que não podiam permanecer trazendo ao público americano mentiras que desinformavam quando sua missão é exatamente o contrário, bem informar a população.

Se a onda azul esperada não aconteceu, é verdade também que a vitória desenhada de Biden não será por pequena margem como se chegou a imaginar. O número de delegados no Colégio Eleitoral de Biden pode ser exatamente igual àquele que levou Trump para a Casa Branca em 2016. As filas de votação em plena pandemia, onde pessoas passaram até dez horas para votar, provam que os americanos entenderam o que estava em jogo. Por isso também esta eleição teve recorde de eleitores e o vencedor passa a ser o presidente com o maior número de votos da História.

No Brasil temos um problema interessante a ser considerado a partir de agora. Confirmada a vitória de Biden, o presidente Jair Bolsonaro terá de se adaptar aos novos tempo. Vai ser difícil. Por ora, o governo do Brasil pode se tornar em adversário das duas maiores potências globais, a China e agora os EUA. Para se reposicionar globalmente, terá de dar uma guinada de 180° na política externa e demitir o aloprado chanceler Ernesto Araújo. São novos tempos, absolutamente diferentes do que vivemos até aqui. Quem não se recolocar rapidamente, vai comer poeira.

Escapamos, Lenin

“A democracia alimenta os germes da sua própria destruição”. A frase é de Vladimir Ilyich Ulyanov, o Lenin, líder máximo da revolução soviética de 1917. “A democracia dá a cada um o direito de ser o seu próprio opressor”. Esta é do poeta, escritor, diplomata e abolicionista do século XIX James Russell Lowell. O que ambos queriam dizer é que é bem possível transformar uma democracia numa outra coisa qualquer através do voto. Basta votar errado. Os Estados Unidos tiveram tempo e clareza e estão prestes a impedir que o erro cometido em 2016 seja consolidado este ano.

Não sonhe

Quem acha que o presidente Jair Bolsonaro vai se reagrupar globalmente se Donald Trump for derrotado é melhor colocar as barbas de molho. Se internamente houve um reagrupamento, ele se deu em razão da habilidade do centrão e da fraqueza política do capitão. No plano externo, o Brasil vai precisar retomar o caminho da lucidez e do bom senso, no caso de Biden vencer. Além de demitir o chanceler Ernesto Araújo, o Brasil terá também de rever sua política ambiental, se quiser construir um entendimento com a nova Casa Branca. Neste caso, Ricardo Salles também terá de pirulitar.

Era da lorota

Eles se parecem até nisso. O filho de Donald Trump é tão primário quanto os três zeros de Bolsonaro. Não é necessário citar as besteiras que Eric Trump escreveu no Twitter, que as apagou por atentarem contra a democracia. No Brasil, você viu, o zerinho Eduardo Bolsonaro atacou a eleição americana e acusou Biden de fraudá-la. Claro que sem provas. O que os iguala é a impressão que têm de que as pessoas vão engolir todas as mentiras e invenções que colocam nas suas redes sociais. Pelo que se viu nos EUA, a era da lorota parece estar chegando ao fim.

Biden e as artes

Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos a arte não precisa necessariamente do dinheiro de empresas privadas e muito menos de dinheiro público para sobreviver. Os negócios da cultura são muito bem consolidados, e o público americano é mais maduro que o brasileiro. Mas ainda assim, é reconfortante saber que o provável presidente eleito Joe Biden é um entusiasta e um estimulador da arte. Segundo reportagem de Graham Bowley, do jornal “The New York Times”, Biden sempre viu a arte como “um instrumento importante para a economia, um gatilho para a ação política e um agente de construção comunitária”. De acordo com depoimento ao “NYT” feito por Robert L. Lynch, presidente do movimento “Americans for the Arts”, a atitude de Biden em relação à arte “é menor do ponto de vista do consumidor de cultura e mais de acordo com os valores inspiracionais e de transformação” que ela pode produzir na sociedade.

O que vale mais

“Em campanha eleitoral não importa apenas o que você apoia, mas também o que você é contra”. A frase é do personagem Eli Gold, um estrategista político da série “The Good Wife”. Ele explica a Alicia Florrick, a estrela da série e candidata a um cargo eletivo, que não basta apenas você apontar os bons caminhos que pretende percorrer se eleito, mas também os caminhos que vai necessariamente evitar na jornada. Biden deve ganhar porque disse claramente aos eleitores americanos que não seguiria pela trilha do moribundo Trump.

Bom para o Brasil

A eleição dos Estados Unidos prova a força do eleitor. Mesmo em meio a uma pandemia letal, milhões de eleitores bateram recorde e foram às urnas para julgar o governo de Donald Trump. O mesmo vigor que rejeitou Hillary Clinton há quatro anos, pode sabotar agora o homem que a derrotou. O exemplo americano precisa ser observado mundo afora, e especialmente aqui, porque todos sabem que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil.

Gota a gota

Você pode dizer tudo sobre a eleição presidencial americana, menos que ela não foi emocionante.


Ascânio Seleme: Frustração, vergonha e medo

Uma parcela gigantesca da população acreditou e segue acreditando em Trump

Mesmo que Joe Biden ganhe a eleição, o fato que se sobrepõe é que os poderosos Estados Unidos são uma nação aterrorizada pelo medo. Há diversas explicações para os milhões de votos dados a Donald Trump, o mais antidemocrático presidente americano de todos os tempos, mas o fantasma do radicalismo de esquerda é de longe o fator mais importante. Uma parcela gigantesca da população acreditou e segue acreditando na acusação de Trump de que Biden e os democratas são perigosos socialistas. Uma bobagem sem tamanho. Nas questões econômicas, os democratas estão mesmo à direita dos republicanos.

Ainda assim, o discurso de que políticas socialistas dos democratas mudariam a cara dos EUA se Biden ganhasse conquistou número astronômico de eleitores. O avanço de Trump sobre os votos hispânicos, tradicionalmente democratas, ajuda a explicar esse medo. Trump disse ao longo da campanha, e mesmo antes dela, que os democratas abririam as fronteiras. Mentira. Mas, se fosse verdade, poderia se supor que seria uma boa novidade, porque enfim os imigrantes se reuniriam com familiares que ficaram para trás. Nada disso. Mais de 75% dos hispano-americanos nasceram nos EUA, seus círculos familiares e pessoais estão lá assentados, e uma abertura ampla para imigração ameaçaria diretamente seu posto de trabalho.

Deve-se considerar também que os hispânicos são religiosos e conservadores. Na Flórida, onde Biden perdeu, os cubano-americanos lideram a comunidade e extravasam seu ódio ao comunismo desde 1960, quando Fidel Castro tomou o poder em Cuba. Nos últimos 20 anos, um grande contingente de venezuelanos imigrou para o estado americano, fugindo da política de Chávez e Maduro, e trouxe na bagagem o mesmo espírito. Além disso, ao redor dos Estados Unidos, o medo do desarranjo econômico que os “esquerdistas radicais” poderiam produzir também impulsionou a campanha de Trump.

Apesar de a economia americana ter sofrido um impacto enorme com o coronavírus, como de resto o mundo inteiro, americanos médios que acreditam na retórica de Trump tremem de pavor só em pensar que a situação pode se degradar ainda mais sob o comando dos “radicais” democratas. A aposta de que a economia poderia definir uma eleição e o slogan “America First” (América em primeiro lugar) mais uma vez acalentaram corações assustados.

A verdade, até este ponto da apuração, é que os votos no presidente que busca a reeleição surpreenderam os republicanos e frustraram os democratas. Todos, uns efusivos e outros calados, esperavam uma vitória clara e incontestável de Joe Biden. O que se vê, mesmo que as projeções estejam certas e ocorra uma vitória democrata, é que as pesquisas mais uma vez erraram. A eleição que se esperava dar com uma vantagem categórica pode acabar nos tribunais.

A diferença entre a expectativa e o resultado que emergiu das urnas, que também se explica pelo medo, tem um outro componente, visto reiteradamente em eleições ao redor do mundo. As pessoas mentem aos pesquisadores por vergonha, sobretudo numa eleição como esta, inflamada pelo descaso do presidente com o coronavírus e pela campanha “Vidas negras importam”. Muitos dos que queriam manter Trump na Casa Branca por razões genuinamente políticas podem ter se sentido constrangidos em apontar corretamente seu voto. Poderiam parecer negacionistas ou, pior, aliados dos supremacistas brancos.

Claro que os Estados Unidos saem desta eleição mais divididos do que nunca. Isso já foi dito pelos analistas, desnecessário acrescentar qualquer coisa. Mas é importante ressaltar que a chance de se reconstruirem pontes é muito mais provável se Biden for o eleito. O democrata é um conciliador pragmático que saberá desobstruir canais e aproximar opostos em torno de objetivos comuns. Esse é seu perfil. O contrário, a reeleição de Trump, seria mais do que a manutenção do estado de beligerância interna, seria seu aprofundamento. Nesse caso, nada mais atual que o velho provérbio americano: “A única coisa que se aprende em uma nova eleição é que não aprendemos nada com a última”.


Ascânio Seleme: Saúde é o que interessa

Nos Estados Unidos esse debate ocorre em todas as campanhas presidenciais

Como alguém pode defender a suspensão do financiamento público para a assistência à saúde de uma importante parcela da população num debate eleitoral e obter voto com isso? O que você acha que aconteceria no Brasil se um candidato a presidente defendesse o fim do SUS? Outro dia mesmo, o governo Bolsonaro teve de recuar e se retratar menos de 24 horas depois de aventar a possibilidade de privatizar postos de saúde. Imagine o que ocorreria na França se o presidente Emmanuel Macron resolvesse parar de usar recursos da federação para pagar o equivalente a 60% dos custos nacionais com a saúde. Nem a pandemia seguraria as pessoas em casa. Macron seria escorraçado do Palácio do Eliseu e o candidato brasileiro seria varrido da política.

Nos Estados Unidos esse debate ocorre em todas as campanhas presidenciais. Agora mesmo, Donald Trump ataca seu adversário Joe Biden em razão do Obamacare, uma lei promulgada pelo ex-presidente Barack Obama que, se nem de longe se parece com o atendimento universal dado pelo SUS, garante planos de saúde com preços mais acessíveis e financia com recursos públicos o atendimento aos comprovadamente pobres. Trump ataca a lei com o argumento de que seu custo impacta sobre todos os que pagam impostos e chama Biden e os democratas de socialistas radicais em razão desta política. Uma piada.

Estaria frito se fosse aqui. Mesmo os eleitores da direita bolsonarista aprovam a política de proteção social brasileira. Por isso, aliás, o governo quer ampliar o Bolsa Família. Nos EUA, contudo, o argumento dá votos. A pergunta que se faz é como Trump pode atrair eleitores com um discurso que se lido de forma correta significa deixar sem tratamento médico, sem atendimento hospitalar e sem remédios, para morrer em casa, qualquer pessoa que ganhe pouco ou esteja desempregada? O fato de os Estados Unidos serem um país rico não responde nem explica a questão. O país é rico, mas seu povo nem tanto.

Os bolsões de pobreza se espalham por todos os EUA. São 41 milhões de pobres, ou 13% da população, de acordo com pesquisa oficial baseada na renda e nas necessidades nutricionais das pessoas. Todas estas pessoas, absolutamente todas, têm acesso negado por restrições financeiras a médicos e hospitais e não possuem recursos ou reservas que lhes permitam comprar medicamentos. Milhões de outras, com renda superior a US$ 25 mil ano (R$ 145 mil), não conseguem pagar planos de saúde. São inúmeros os casos de americanos que são obrigados a vender suas casas para poder pagar a conta de hospitais. Trata-se de uma tragédia, e toda a nação sabe disso.

Um sexto da população (1,5 milhão de pessoas) de Nova York, a cidade mais rica do mundo, depende da distribuição comunitária de comida para se alimentar, conforme revelou O GLOBO na quinta-feira passada. Neste caso, a pobreza foi acentuada pela pandemia que ceifou empregos urbanos e impediu a comercialização de produtos de milhares de produtores estabelecidos no cinturão agrícola da cidade. Mas uma boa parcela desse contingente não tem qualquer renda e vive às custas de indivíduos e instituições privadas que as recolhem, abrigam e alimentam, com ou sem coronavírus.

Na campanha americana que se encerra terça-feira, Trump tem torpedeado sistematicamente o Obamacare. Ele fez a mesma coisa na campanha de 2016, quando ganhou de Hillary Clinton. Eleito, conseguiu introduzir uma emenda, enfraquecendo a lei. Biden quer ampliar o plano, pagando com dinheiro público os planos de saúde de quem não conseguir arcar com seus custos. O plano obviamente beneficia os mais pobres e as comunidades mais vulneráveis. Segundo o “Politico”, um site americano de notícias, os ataques de Trump ao Obamacare ameaçam essas minorias e as comunidades negras, que já foram desproporcionalmente atingidas pelo coronavírus.

Por isso também o melhor é eleger Joe Biden.

Petrobras 1

Por que a Petrobras se nega a entregar para a defesa de Lula os documentos dos três acordos que fez nos Estados Unidos em razão dos escândalos da era petista? A estatal diz que os dados (mais de 75 milhões de páginas) não tratam de corrupção, mas de apenas falhas contábeis, e que por isso não interessam à defesa do ex-presidente. Quem escarafunchou a papelada diz que não é bem assim, que os documentos enviados ao Departamento de Justiça (DOJ), à SEC, que é a comissão de valores local, e à Justiça de Nova York têm um capítulo inteiro só sobre corrupção. E nele, a petroleira não cita Lula nem o PT, acusando apenas cinco ex-diretores da companhia e dois ex-governadores. As ações foram abertas nos EUA para indenizar investidores que perderam dinheiro com a queda do valor de mercado da estatal em razão do escândalo.

Petrobras 2

No Brasil, a Petrobras participou dos diversos julgamentos da Lava-Jato como assistente da acusação, e assinou as denúncias em que Lula é acusado de chefiar uma organização criminosa, de enriquecimento ilícito, de lavagem de dinheiro y otras cositas más. A incoerência entre o que a Petrobras assinou aqui e os documentos que enviou à Justiça americana, que beneficiaria Lula, só se tornará oficial se os dados forem entregues aos advogados do ex-presidente por ordem judicial. Depois de ter sua petição negada pela primeira instância em Curitiba e pelo STJ, a defesa aguarda agora manifestação final de Edson Fachin. O ministro do STF prestaria um bom serviço à Justiça liberando os documentos.

Petrobras 3

Para não virar ré nos EUA, a Petrobras concordou em pagar US$ 4,8 bilhões (R$ 27,7 bi) em multas. O valor é sete vezes maior do que as sentenças da Lava-Jato devolveram aos cofres da estatal.

Meio paulista meio bolsista

O PT está mal nas eleições municipais mesmo nos locais onde sempre foi grande. No seu berço paulistano, onde controla sindicatos, tem ascendência nas universidades e opera muito bem com o funcionalismo, viu Guilherme Boulos (PSOL) jogar poeira sobre Jilmar Tatto. No Nordeste, onde controlou o eleitorado por mais de uma década com sua política de bolsas, também patina enquanto velhos e novos adversários voam. Só está bem em Porto Alegre, onde manteve por anos uma disputa acirrada com o PDT de Brizola, mas lá aliou-se à Manuela D’Ávila (PCdoB) e abriu mão da cabeça da chapa.

Manuela e Boulos

Resta saber se Manuela e Boulos já entenderam que estão ficando grandes. Se observaram que o farol da esquerda está jogando luz em outra direção. Difícil dizer, mas o mais provável é que o espírito nanico os faça sair dessa eleição ainda incensando o PT.

O disco do João

João Santana, o ex-marqueteiro petista que foi preso por lavagem de dinheiro e hoje cumpre prisão em regime aberto, deu entrevista ao programa Roda Viva na segunda-feira passada, onde aproveitou para lançar um disco que foi para o streaming na mesma noite do encontro na TV Cultura. Você pode até concordar com algumas das histórias contadas por Santana, mas duvido que consiga se alinhar a ele quando a questão é a música e letra, a menos que concorde que “o ouro é o suor do sol e a prata é a lágrima da lua”. Seu disco é uma porcaria.

Off

Ao pedir que ministros não falem em off, Bolsonaro mostrou que não apenas desconhece a alma humana como não tem a menor noção de como se faz comunicação social. Mas, claro, sua assessoria nessa área simplesmente não existe. O que ele tem no Planalto é um grupo despreparado, que se diz ideológico e que só sabe fazer política. Pedir para ministro não falar nunca funcionou, excelência. Outros já tentaram e nenhum jamais conseguiu calar a boca dos fofoqueiros. Não vai ser agora.

Lastro ideológico

Esta é a denominação que se usa para justificar qualquer absurdo ou profanação do bem comum que se cometa na Praça dos Três Poderes ou na Esplanada dos Ministérios. E tem quem acredita na bobagem.

Se virando

O Old Vic Theater, teatro londrino inaugurado em 1818, vendeu 30 mil ingressos em 73 países ao longo da pandemia para peças que encena ao vivo pelo streaming. Considerando que tem 1.067 assentos, o velho teatro fez o equivalente a 28 noites de lotação esgotada. Ou nove fins de semana (de sexta a domingo) de casa cheia. Nada mal.

Blitz

A Airbnb e a Booking.com, duas das maiores plataformas de venda de hospedagem no mundo, foram intimadas pelas autoridades tributárias do Distrito Federal para colaborarem numa operação contra a sonegação. Elas devem informar ao fisco o volume das operações realizadas em 2019, indicando nomes e cpfs de quem vendeu estadias ao longo do ano passado e quanto eles faturaram. A indústria hoteleira considera a atividade como concorrência desleal. A ação tem tudo para fazer barulho.

Humilhação

O pavor de Donald Trump não é perder a eleição e sair da Casa Branca quatro anos antes do planejado. Sua agonia é a vergonha que terá de passar por ser considerado um “loser”, um fracassado. Na história recente, só Jimmy Carter e George Bush pai foram presidentes de um mandato só. Trump se somaria a estes, mas sem a coragem do primeiro e a elegância do segundo.


Ascânio Seleme: É dando que se recebe

Maracutaia ocorre no mundo inteiro

Uma das melhores séries políticas em cartaz nas redes de streaming mostra os intestinos da política na Dinamarca, um dos países mais desenvolvidos e civilizados da Terra. Chama-se “Borgen” e é excelente, feito goma arábica, de tanto que gruda. A história começa com a eleição do Parlamento e a construção de um novo governo de centro, em substituição a um de direita. Embora ficcional, a obra apresenta um bastidor imaginário do poder que não deve ser muito diferente do real, já que o roteiro é de três dinamarqueses. E esse é um valor extra que a série tem, além do entretenimento, pois se enxerga como funciona a realpolitik local.

Aquela aura de incorruptibilidade que se vislumbra sempre que um país nórdico é mencionado desvanece logo nos primeiros episódios. Claro que nada se compara ao Brasil, onde corrupto carrega dinheiro enfiado entre as nádegas, e operações políticas desviam bilhões de cofres de empresas públicas para contas de partidos. Mas nem por isso o que ocorre em Borgen é a quintessência do puritanismo na vida pública. Muito pelo contrário. Já no primeiro episódio, o primeiro-ministro que está de saída se vê na contingência de pagar compras da mulher com cartão corporativo oficial. Foi por acaso, pois ele estava sem a carteira. Mas, na chance que teve para devolver o dinheiro, foi convencido por um assessor de que era possível resolver aquilo jogando o gasto numa rubrica qualquer do gabinete.

Em seguida, passada a eleição, ocorre uma intensa negociação de cargos em troca de apoio. Até aí, tudo normal, está se construindo um novo governo, e partidos que são próximos politicamente repartem os ministérios entre si. Se é assim no presidencialismo, imagine no parlamentarismo, como o dinamarquês. Formado o governo, no momento em que a nova primeira-ministra tenta aprovar seu Orçamento, começa um festival de chantagens e traições. Dissidentes de um partido da base exigem dela a construção de uma estrada em troca de seus votos. E o que faz a primeira-ministra? Arruma seis bilhões de coroas (R$ 5,4 bi) para comprar os chantagistas. Mais alguns bilhões são dirigidos como subsídios a um setor da indústria local, de maneira a garantir o apoio de outro grupo.

Mais adiante, de forma a conseguir a extensão do prazo para aprovar o mesmo Orçamento, a primeira-ministra negocia com seu antecessor. Promete sentar em cima das investigações sobre aquele gasto privado do cartão corporativo, que acabou se tornando público durante a eleição, se ele a apoiasse na questão. Feito o acordo, a investigação sobre o crime é encerrada no dia seguinte, com o governo anunciando não ver elementos para seguir com o inquérito. De qualquer ponto que se olhe o caso, o que se vê é um escândalo. Não tem as dimensões tsunâmicas brasileiras, mas não é bobagem em se tratando do país menos corrupto do mundo, segundo o ranking da Transparência Internacional.

Na série há também ataques à imprensa. Pelo menos duas vezes jornalistas são abertamente constrangidos por membros do governo. Na primeira, uma repórter é intimidada na própria casa. Na segunda, a polícia entra numa redação de TV local que denunciava um caso e informa que os jornalistas estão sendo processados por interceptação de produto de roubo. O produto são fotos, repassadas a repórter por fonte militar, que mostram que aviões americanos pousaram em base dinamarquesa com prisioneiros ilegais. Apesar de a primeira-ministra ficar fula da vida com a incursão policial antes de ela acontecer, ela ocorre mesmo assim.

O leitor pode estar se perguntando o que o articulista quer provar com isso. Nada. Trata-se, como já foi dito, de uma ficção. Obviamente não se pretende igualar a Dinamarca ao Brasil, à Somália ou ao Sudão. Mas parece claro, pelo menos para os roteiristas de “Borgen”, que maracutaia ocorre no mundo inteiro. Todo país tem um centrão para chamar de seu.


Ascânio Seleme: Bolsonaro é o grande perdedor das eleições municipais

Dedo de ouro das eleições de 2018 aparentemente virou um dedo podre, pelo menos até aqui

Você pode dizer que ainda é cedo para se fazer projeções, e eu devo concordar. Mas não dá para espiar o desenvolvimento das campanhas municipais sem se constatar o óbvio. Até aqui, o grande derrotado é Jair Bolsonaro. Seu dedo de ouro das eleições de 2018 aparentemente virou um dedo podre. Para onde ele aponta, é dali mesmo que não sai nada. As pesquisas não deixam margem para dúvida. Segundo o Datafolha de quinta passada, Bolsonaro perde em São Paulo, com Russomanno, no Rio, com Crivella, e em Belo Horizonte, com Engler. Os três mereceram o apoio explícito do capitão.

Em BH, o candidato bolsonarista tem apenas 3% das intenções de voto. Está certo que lá o prefeito deve ser reeleito no primeiro turno, mas mesmo assim, onde anda a pujança do presidente? O nome apoiado por ele rasteja por migalhas eleitorais. No Rio, o malfadado bispo Crivella corre sério risco de não ir para o segundo turno. Se os cariocas respiram aliviados com a boa nova, os três zeros do presidente tentam entender por que a coisa vai tão mal na cidade que deveria lhes pertencer. E em São Paulo, Russomanno derrete sob a luz do sol. Se continuar nesse ritmo, também perde a vaga no segundo turno.

Curioso é que os candidatos apoiados por Bolsonaro podem ser passados para trás por adversários de partidos de esquerda, ou de centro-esquerda. No Rio, a delegada Martha Rocha, do PDT, já empatou com Crivella, com uma curva de intenções de votos em ascendência contra a descendente do bispo. Em São Paulo, o quadro não é menos dramático. Em um mês, Guilherme Boulos, do PSOL, subiu de 9% para 14%, enquanto o candidato do capitão despencou de 29% para 20%. E faltam ainda três semanas para o primeiro turno. Bruno Covas (PSDB) lidera com 23%.

Em apenas três capitais candidatos claramente bolsonaristas estão à frente nas pesquisas. Em Fortaleza, o capitão Wagner, do PROS, tinha entre os dias 12 e 14 de outubro, segundo o Ibope, 28% das intenções de voto contra 23% de Luizianne Lins, do PT. Em Goiânia, levantamento do Ibope entre 30 de setembro e 2 de outubro indicava Vanderlan Cardoso (PSD) com 21% contra 20% de Maguito Vilela (MDB). E em Cuiabá, o candidato Abílio Jr. (Podemos) tinha 26%, entre 14 e 16 de outubro, contra 20% dados a Emanuel Pinheiro (MDB).

No restante do país, os candidatos de Bolsonaro comem poeira. Partidos de esquerda e centro-esquerda estão na frente em nove capitais. PSDB em quatro, PSB em duas, PSOL, PDT e PCdoB em uma cada. Em Recife, João Campos (PSB) tem 31% das intenções contra 18% da sua prima Marília Arraes (PT) e 16% da delegada Patrícia (Podemos). Lá, o candidato com a cara de Bolsonaro é o coronel Feitosa (PSC), que tem apenas 2% de acordo com a pesquisa Datafolha de quinta-feira. Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) lidera pesquisa Ibope feita há duas semanas com 24% dos votos, dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado.

O que se vê é um aparente refluxo da onda bolsonarista. E não adianta argumentar de que estas são outras eleições e que pleitos municipais tratam de questões paroquiais e não refletem a grande política nacional. Isso pode ser verdade em Conceição do Mato Dentro (MG), Iguaba Grande (RJ) e Júlio de Castilhos (RS), mas não em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre ou Recife. Pode ser verdade também na mixuruca Jaboticabal, no interior de São Paulo. Mas lá, um dos candidatos tem sobrenome Bolsonaro, se apresenta como primo do presidente, propõe armar a guarda municipal e jura que não vai ceder à pressão de vereadores por cargos na prefeitura. Então, quer pauta mais local do que esta?

Sinais de recaída

Estão ficando cada dia mais claros os sinais de que sua excelência está voltando aos velhos tempos. A estúpida briga em torno da vacina chinesa é apenas um deles. Não há nada mais atrasado do que tentar fazer valer para todo o país suas teorias negacionistas por motivação política. Há os que apostam, ou torcem, para que seja apenas retórica. Pode ser, mas a absoluta falta de hora para a nova bobageira prova a tese de que as coisas não andam bem naquela cabeça. Beligerância burra foi o que se viu nos primeiros 18 meses de governo. Ninguém aguenta mais.

Vermífugo do astronauta

Era só o que faltava. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações veio à público afirmar que descobriu que o vermífugo nitazoxanida é capaz de reduzir a carga viral de pacientes de Covid usando como elemento de convencimento um gráfico genérico comprado de um banco de dados na internet. Ou pirateado, com este governo nunca se sabe. Pior, tratou a questão de maneira oficial, em cerimônia no Palácio do Planalto, sem reunir sequer um elemento que comprove a descoberta. A situação é tão medonha, que o ministério do astronauta disse que não oferecia mais dados porque um artigo com a tese foi oferecido a uma revista científica internacional. Talvez não quisessem tirar o furo da revista cujo nome, aliás, não foi citado.

Boiando

Estudo mostra que o cérebro da maioria das pessoas passa 47% do tempo divagando. Há casos bem piores.

General para a PGR

Se for correta a tese da Procuradoria-Geral da República de que militar da ativa pode exercer posto de ministro, então deve ser possível também que milico com diploma de doutor exerça função no Ministério Público. Augusto Aras que abra o olho, daqui a pouco o capitão pode querer indicar um general com curso noturno de advogado para o seu lugar.

Senado para quê?

O episódio do dinheiro nas nádegas do senador Chico Rodrigues levantou o debate sobre os suplentes, já que o indigitado tem seu filho como segundo e que deve assumir a vaga com seu afastamento. Uma vergonha. Mas, indo um pouco mais fundo, não seria hora de discutir para que serve o Senado Federal? Talvez assim se possa entender porque o Amapá (751 mil habitantes) tem o mesmo número de senadores de São Paulo (44 milhões de habitantes). Davi Alcolumbre, por exemplo, teve 131.695 votos, enquanto o Major Olímpio foi eleito com o sufrágio de 9.039.523 paulistas. Está certo?

Landslide

O debate de quinta deu um fôlego inesperado a Trump. Ele aproveitou a última chance que tinha. Ainda assim, ele deve ser varrido do mapa, mas já não dá para afirmar que será com uma avalanche de votos contra. Quarenta milhões de americanos já votaram antecipadamente, e 90% dos eleitores dizem que não mudam o voto por causa de debate.

E daí?

E, nesse caso, Bolsonaro como vai ficar? Sua birra com a China e o bonezinho Trump 2020 ainda podem render muita dor de cabeça. Não para ele, que não está nem aí, mas sim para o Brasil e seus negócios. Só um detalhe: a China consome 50% de todo metal produzido no planeta.

Restaurante de covid

Estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças nos Estados Unidos mostra que adultos que testaram positivo para Covid-19 foram duas vezes mais a restaurantes nas duas semanas antecedentes ao teste do que as que negativadas.

Paes recomenda

Eduardo Paes está tão preocupado com o crescimento de Martha Rocha nas pesquisas, que vai mexer na campanha para mirar mais na delegada e menos no bispo Crivella. E já avisou aos cabos eleitorais que, onde não for possível ganhar, recomendem voto em Crivella.


Ascânio Seleme: Um político vulgar

Episódio do dinheiro “entre as nádegas” de Chico Rodrigues é mais um símbolo que servirá para balizar estes tempos

‘Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja”. João Guimarães Rosa inicia assim “Grande sertão: veredas”, um dos mais extraordinários romances da língua portuguesa. “Não tem nada a ver (…) querer vincular o fato de ele ser vice-líder com a corrupção do governo”. Jair Bolsonaro encerra desta forma uma das últimas farsas do seu mandato. Referia-se ao senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com dinheiro na cueca, e que, segundo o presidente, “gozava de prestígio e carinho de quase todos”.

Na verdade, Bolsonaro enterrou muito antes a promessa de fazer um governo honesto, distante da banda podre do Congresso Nacional. O primeiro passo foi deixar embarcar no seu bonde a velha e conhecida turma do centrão. O senador de Roraima é um quase nada se comparado aos próceres daquele agrupamento. Gente como Arthur Lira, Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto responde a todo tipo de ação na Justiça: fraude em licitações, formação de quadrilha e organização criminosa, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e até violência doméstica. O centrão foi criado pelo ex-deputado Eduardo Cunha, que se solto estivesse, certamente apoiaria o governo.

O episódio do dinheiro “entre as nádegas” de Chico Rodrigues é mais um símbolo que servirá para balizar estes tempos. Da mesma forma que um outro episódio de dinheiro escondido na cueca marcou o governo Lula em 2005, quando um assessor do líder do PT José Guimarães foi detido num aeroporto de São Paulo com R$ 100 mil escondido nos fundilhos. Símbolos não faltam nos dias de hoje. No caso da corrupção, houve dois, este do senador da cueca e o da demissão do ministro Sergio Moro. Ou mais, se você quiser incluir os casos das rachadinhas dos filhos que obrigou a aproximação do pai ao Supremo.

Aos poucos, e por contingências nunca nobres, Bolsonaro foi se distanciando dos enunciados da sua campanha e confirmando o que se sabia dele desde o começo, trata-se de um político comum. As promessas de campanha não eram nada mais do que blá-blá-blá. Hoje, o presidente mantém apoio apenas às causas mais retrógradas e que ainda aglutinam parte do seu eleitorado: o apoio às armas, às igrejas evangélicas e ao movimento escola sem partido, e a proibição do aborto, por exemplo. Mesmo na economia, embora ainda seja contido eventualmente pelo ministro Paulo Guedes, já falou em furar o teto de gastos, atribuindo a terceiros a vontade de discutir o assunto.

No campo ideológico, foi orientado pelo centrão a se afastar da gangue de Olavo de Carvalho. Acabaram as passeatas com bandeiras pintadas no mesmo galpão pedindo o fechamento do Supremo e a prisão de Rodrigo Maia. Os haters da internet continuam lá, mas não têm mais o beneplácito explícito do capitão e dos seus três zeros. Isso não significa que não possam voltar a qualquer momento, bastando um estalar de dedos de Bolsonaro. Estão de prontidão, ou de “stand by”, como diria Donald Trump. Eles se envergam facilmente e no fundo o que querem mesmo é dinheiro público.

Por isso, o presidente tem causado estupefação na maioria dos seus seguidores. O que foi feito daquele homem de 2018? Nada. Ele simplesmente não existia. O único e verdadeiro é este que se alia ao centrão, que se cerca de parlamentares do baixo clero, que acha que todo homem fardado é um virtuoso, que não sabe falar direito, que ri da desgraça alheia. Um presidente vulgar, igual a qualquer um dos seus bons e velhos amigos, como o Chico Rodrigues, que antes de se eleger senador foi deputado e parceiro de Bolsonaro em quatro dos seus sete mandatos parlamentares.

A delegada do PT

A delegada de polícia Adriana Accorsi é a candidata do PT para a prefeitura de Goiânia. Trata-se de um caso típico de dupla personalidade. Adriana é filha de Darci Accorsi, figura histórica do partido que foi prefeito de Goiânia nos anos 1990. Ao assumir a persona de delegada, Adriana quer atrair os eleitores bolsonaristas que adoram um farda ou um distintivo. Claro que ela é delegada, mas em outros tempos não faria propaganda dessa condição. No Rio, o candidato a vice na chapa do PSOL é um coronel da mal afamada PM carioca. Por estas e outras é que cresceu 21% o número de candidatos fardados desde as eleições de 2016.

A causa do operário

Rui Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), disse, em entrevista ao site companheiro Brasil 247, que o PT abandonou o apoio a Lula na recuperação dos seus direitos políticos. Pimenta também atacou Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, em razão do seu apoio à tese de uma frente ampla contra Bolsonaro. Portador de naniquismo clássico, Rui Pimenta mostra bem como anda mal a esquerda.

Todos querem mais

Dez dos 54 países africanos fazem eleições presidenciais nos próximos cinco meses. E, destes, nove têm seus presidentes concorrendo à reeleição. Não tem erro, todos os que estão no poder adoram uma reconduçãozinha. Basta acompanhar, eles farão o diabo para se reeleger.

Até Lincoln

Aqui e ali sempre se descobrem exageros em manifestações públicas. No início desta semana, grupos de apoio a comunidades indígenas nos EUA derrubaram uma estátua de Abraham Lincoln, o presidente americano que fez uma guerra civil para acabar com a escravidão. Acusaram-no de ter mandado à forca 38 índios que participaram de um levante no estado de Dakota, em 1862. A história conta uma versão diferente. Logo após o confronto, que deixou entre 450 e 800 civis mortos, 303 sioux foram condenados à forca por um tribunal militar. Exercendo seu poder presidencial, Lincoln suspendeu a execução e salvou a vida de 265 deles por entender que os casos estavam mal instruídos.

Carro elétrico

No Brasil, ainda em 1974, um inovador criou e apresentou ao mercado o primeiro carro elétrico nacional. O engenheiro João Amaral Gurgel, que cinco anos antes criara o primeiro carro brasileiro, inventou o veículo elétrico no auge da crise global do petróleo.

No ano anterior, os membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), majoritariamente árabes, embargaram as vendas para países simpáticos a Israel na Guerra do Yom Kippur e, em seguida, quadruplicaram o preço do produto. A invenção de Gurgel tinha tudo para ser um sucesso, mas naufragou. Mesmo no governo do austero e virtuoso general Ernesto Geisel, quem dava as cartas eram as grandes petroleiras.

Nyt x Nyt

Independência é isso. O jornal “The New York Times” produziu uma excelente reportagem denunciando uma jornalista graduada de seus próprios quadros. Este é diferente do caso de Jayson Blair, jornalista do “NYT” acusado em 2003 de fraudar e plagiar reportagens, e que mereceu matéria do próprio jornal depois dele se demitir.

O caso de Rukmini Callimachi, que criou um falso terrorista para dar cores mais vivas a um podcast que faz para o jornal, foi publicado com ela trabalhando regularmente para o veículo. Quem a denunciou foi um repórter de mídia do “NYT”.

Barra pesada

Se fosse aqui, a campanha de Donald Trump teria sido no mínimo multada pelo TSE, tamanha a sua agressividade. Biden é retratado como um velho gagá em todos os spots de propaganda. A campanha democrata também não fica atrás. Embora seja menos agressiva, tripudia com os maneirismos do adversário.

Adeus esporte

Cerca de 30% dos jovens que interromperam alguma prática esportiva em razão da pandemia não querem voltar à atividade depois de passada a crise. Muitos disseram a pesquisadores do Aspen Institute que só reassumirão a prática esportiva se forem muito bem convencidos. É grave a crise.


Ascânio Seleme: A hora da garotada

Ao novo eleitor, a responsabilidade chega enquanto ele ainda amadurece

Há alguns momentos cruciais na vida dos jovens que são excitantes por natureza. A graduação num curso superior é um deles. O formando sabe que, daquele momento em diante, terá total responsabilidade por sua vida. Mesmo que, em alguns casos, ainda haja a quem recorrer, melhor não. Melhor seguir sozinho, dono de seu próprio nariz, orientado pelas suas próprias convicções, remunerado pelo seu próprio trabalho. Outro momento exuberante ocorre ainda mais cedo, quando eles deparam com a urna pela primeira vez.

Ao jovem formando, um mundo absolutamente novo se abre diante dos seus olhos, com inúmeros caminhos e atalhos. É nessa hora que decisões significativas para o resto da jornada terão de ser tomadas. No discurso para os graduandos de Harvard de 2008, J.K. Rowling, autora de “Harry Potter”, disse que a responsabilidade passa para as mãos de uma pessoa no momento em que ela se torna madura o suficiente para tomar a direção.

Ao novo eleitor, a responsabilidade chega enquanto ele ainda amadurece. Claro que, aos 16 anos, erros e equívocos são mais frequentes, até porque esta é uma fase de testes cujos resultados ajudam as pessoas a definir alternativas. No discurso de Harvard, Rowling disse que fracassos fazem parte da vida e devem ser absorvidos para que sucessos possam ser mais bem comemorados adiante. Por sorte, o medo de um jovem formando de errar só é menor do que sua vontade de acertar.

O mesmo medo acomete o jovem eleitor. A diferença é que o fracasso no voto acarreta prejuízo para todos. A responsabilidade, portanto, é ainda maior. Ao público de Harvard, a escritora disse o seguinte: “O jeito de vocês votarem, o jeito de protestarem, a pressão que colocarem sobre os seus governantes terão impacto muito além de suas fronteiras. Esse é seu privilégio e seu fardo”.

O voto não é banal. Não se trata de votar logo cedo, se livrar disso e ir à praia. Cada eleição tem uma dimensão própria, e seu resultado encaminha seu país, seu estado ou sua cidade em determinada direção. É importante que o jovem eleitor entenda desde cedo que seu voto importa. Que, no caso das eleições municipais deste ano, o destino da sua comunidade reside no acerto do seu voto.

O criador e dono do Facebook, que transformou o planeta numa gigantesca comunidade, também falou no púlpito em Harvard de onde J.K. Rowling discursou. No seu commencement speech, ou discurso de iniciação para os formandos, pronunciado nove anos depois da escritora, Mark Zuckerberg falou sobre mudanças. “Mudanças começam localmente. Mesmo as grandes mudanças globais começam pequenas.”

É importante numa eleição entender quando é hora de mudar. Não há um método único para escolher em quem votar. Mas não custa levar algumas dicas em conta. A mais importante delas é parar por algumas horas e analisar os candidatos. No caso de prefeito, a primeira providência é checar as entregas feitas pelo que concorre à reeleição. Se ele foi um bom prefeito, talvez mereça seu voto. Se não foi, é vital descartá-lo e eleger um de seus adversários.

Se cabe mais um alerta aos jovens, o mais importante é iniciar cortando de cara todos os bandidos e todos os corruptos. No Rio, tropeça-se em candidatos milicianos. Lembre que o voto é secreto, não tenha medo, não vote em miliciano.

Em 2018, 276 mil eleitores de 16 anos estavam aptos a estrear seu título de eleitor. Outros 899 mil tinham 17 anos. Os que estavam entre 18 e 24 anos eram 7,9 milhões. Mais 12,6 milhões de eleitores tinham entre 21 e 24 anos. Os meninos e as meninas de 16 a 24 anos somavam, portanto, 21,7 milhões de votos naquela eleição. Considerados os 31,1 milhões que oscilavam entre 25 e 34 anos, tínhamos 53 milhões de eleitores jovens em 2018, mais do que a terça parte de um total de 147 milhões.

Essa força tem que ser entendida. Não pelos caçadores de votos, que esses já a têm muito bem mapeada, mas pelos donos da força, a garotada que já tem maturidade para tomar a direção e a quem cabe mudar o mundo. Para melhor.


Ascânio Seleme: A beleza da rotatividade

O novo time de Bolsonaro havia esquecido que o Supremo tinha um novo presidente

Nada como um dia depois do outro. Até o final de setembro, as articulações dos novos aliados de Bolsonaro contra a Lava-Jato andavam de vento em popa. A indicação de Kassio Marques para a vaga de Celso de Mello era o ponto alto do entendimento entre o centrão, o Planalto e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal. O presidente afastava, pelo menos provisoriamente, a ideia de nomear um nome terrivelmente evangélico ou um advogado despreparado para o posto, o tribunal seguia na sua solene altivez, e o centrão ganhava um ministro que ajudaria a torpedear a saga punitivista, engordando a ala garantista da Segunda Turma do STF. Aí chegou o Fux.

O novo time de Bolsonaro havia esquecido que o Supremo tinha um novo presidente. Acostumado com a simpatia e a amizade de Dias Toffoli, batia bola como se nada houvera. Foi um erro. O mundo estava diferente. E esta é a beleza da rotatividade no comando do STF. Se Toffoli fosse presidente vitalício, como funciona na Suprema Corte dos Estados Unidos, Bolsonaro nadaria de braçada. Mas, não, por aqui o sabiá muda de cantiga a cada dois anos. E o canto da vez é o de Luiz Fux, que reagiu à manobra do capitão com outra manobra, e tirou poder da Segunda Turma sobre a Lava-Jato.

Sem entrar no mérito de quem tem razão, se os garantistas ou os punitivistas, é fato que se Bolsonaro e o centrão estão de um lado, tudo indica que o outro lado é melhor. Se o lado de Bolsonaro e do centrão também tiver a simpatia do PT de Lula, mais forte fica esta convicção. Foi o que se viu com a indicação de Kassio Marques. O festival de elogios ao magistrado não teve qualquer contenção partidária. O PT sentiu-se à vontade para falar bem alegando que o indicado já havia sido conduzido para o TRF pela ex-presidente Dilma. Mas é mais do que isto, além de tentar enterrar a Lava-Jato, Kassio provavelmente se somará aos que querem punir e desautorizar Sergio Moro, anulando a sentença de Lula no caso do tríplex do Guarujá.

O ex-sumido senador Renan Calheiros também entrou no circuito ao lado de Bolsonaro, do centrão e do PT de Lula, reforçando a tese de que o outro lado é melhor. Há três semanas, Renan recebeu Lula num hospital de São Paulo, onde se convalescia de uma cirurgia. “Vou vingar o senhor, presidente”, disse Renan ao visitante. Dias depois, saiu do hospital e voltou a operar com toda a desenvoltura que o distingue. Junto com seu ex-desafeto, o presidente do Senado Davi Alcolumbre, Renan organizou a paz entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia; ajudou a consolidar a vida de Bolsonaro no STF; está azeitando o caminho de Kassio no Senado e incentivando a punição a Moro.

Renan trabalha por Lula, com o seu aval, e por Bolsonaro, com o OK do presidente. Foi para atender ao capitão que ele acionou a senadora Kátia Abreu, a organizadora do jantar que reuniu Guedes e Rodrigo. E para contemplar também o petista, Renan se uniu a Alcolumbre em favor do rito rápido na aprovação do garantista Kassio e da votação para a suspeição de Moro. Se depender de Renan e dos novos aliados de Bolsonaro, a maquiagem do currículo do indicado não o impedirá de ser aprovado pelo Senado. Com isso, ganham centrão, Bolsonaro e Lula. E ganha o reinserido Renan.

Não foram poucas, como se vê, as articulações que reuniram sob o mesmo guarda-chuva Bolsonaro, Lula, Renan, Gilmar, Toffoli, Alcolumbre e o centrão. Não importa a força e o poder que um grupo desse possa ter, o problema é que sempre há um outro lado. E de dois em dois anos a fila anda.

Transparência

Pode-se falar tudo de Dias Toffoli, menos que não seja transparente. Tem o currículo que tem e não se acanha. Não inventou mestrados, doutorados ou pós-docs. Sabe-se que lecionou numa universidade meia boca de Brasília e nunca escondeu que tentou ser juiz e foi reprovado em dois concursos. Ele é o que é. E ponto final.

Grande negócio

Sabe qual o melhor investimento hoje no Brasil? Esqueça Bolsa, dólar ou fundos de investimento. Na Justiça é que a grana rola. Qualquer sentença judicial que envolva pagamento em dinheiro, rende 1% ao mês se a parte condenada recorrer da decisão. Assim, quando uma pessoa ou empresa é sentenciada e recorre, a dívida vai sendo ajustada mensalmente até a sentença em instância derradeira. Se o caso tramitar por mais de dez anos e a decisão final confirmar a sentença inicial, o devedor deverá pagar juro de 1% ao mês por todo o período. Numa simulação feita pelo TJ do Rio, uma dívida de R$ 10 milhões vai pagar R$ 20,6 milhões só de juros. Somam-se a isso a correção monetária e os honorários advocatícios, e a facada final chega a R$ 42,1 milhões.

Esfarrapadas

A cordialidade entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia, quando fizeram as pazes publicamente, deve ser vista com muita atenção para se saber quem mesmo se desculpou com o outro. Na entrevista do perdão, Rodrigo disse com os olhos marejados fitando Guedes: “Eu fui grosseiro e pedi desculpas”. Na sua vez, Guedes foi muito menos inflamado: “Caso tenha ofendido alguém inadvertidamente, peço desculpas”. Claro que Paulo Guedes não se desculpou. Na verdade, nem acha que ofendeu Rodrigo Maia ao desautorizar membros da sua equipe a se reunir com o presidente da Câmara.

Huck Bobeou

Tucanos da nova geração de São Paulo acham que Luciano Huck perdeu uma grande chance de testar sua capacidade eleitoral e ganhar corpo para uma disputa presidencial mais adiante. Huck poderia ter se candidatado à prefeitura do Rio, dizem os tucanos, com grande chance de ganhar. Partido não lhe faltaria, e o PSDB chegou a sondá-lo neste sentido. Se ganhasse, estaria se qualificando para 2022, além de obter experiência na administração pública. Se perdesse, aprenderia a jogar, o que lhe daria um pouco mais de segurança para o pleito seguinte.

Lema

Para os que vivem se lamentando pela vitória de Bolsonaro, vale a pena lembrar o lema americano de convivência democrática: “Vote, eleja, aguente, aprenda”. Nos Estados Unidos, a máxima está em vigor desde a eleição de Donald Trump, em 2016. Os americanos votaram, elegeram e depois aguentaram, resta saber se aprenderam. Aqui no Brasil, vai-se saber se houve algum aprendizado desde Bolsonaro já nas eleições municipais.

Agulha no palheiro

Um mil e 800 candidatos de 33 partidos se apresentam para concorrer a um mandato de vereador na Câmara do Rio. Tem todo tipo de gente. Tem doutor, tem cabo, sargento e tenente, tem corretor, bombeiro e pastor. Tem até um que se apresenta como “advogado de Deus”. O eleitor terá de vasculhar para encontrar agulhas neste palheiro. Mas com esforço e determinação, vai encontrar candidato que presta. Não desanime, nobre eleitor.

Serial killer

É incalculável o número de vidas ceifadas pelo negacionismo de Donald Trump em relação ao coronavírus. Mas tem gente calculando quantas pessoas ele matou nos últimos cinco dias, desde que tuitou que as pessoas têm de enfrentar o vírus sem medo e tirou a máscara em cadeia de TV ao voltar para a Casa Branca depois de sua internação.

Reza o contrato

A gigante Pinterest, uma rede social de compartilhamento de fotos, pagou US$ 90 milhões a uma empresa imobiliária para desfazer contrato de leasing de um prédio de 46,5 mil metros quadrados em São Francisco. Com a pandemia, a empresa aprendeu que dá para manter muita gente em casa e seguir suas operações a custos bem mais baixos. O detalhe curioso é que o prédio ainda nem foi construído.

Que susto

Certo dia um senador que atende pelo apelido de Vulcabras foi a São Paulo receber uma propina de um empresário local. Chegou ao escritório da empresa, contou o dinheiro e levantou-se para sair, quando o empresário lhe ofereceu um carro blindado para levá-lo ao aeroporto. No meio do caminho para Cumbica, o veículo parou por falta de gasolina. Em dois minutos uma patrulhinha da PM estacionou ao lado do carrão. O senador, que achou que tinham armado contra ele, se identificou com os policiais e pediu ajuda. Pois não, excelência. Os PMs então empurraram o carro blindado e pesado, que carregava um senador com uma mala cheia de dinheiro, até um posto de gasolina.

Dinos do Planalto

A Christie’s leiloou na terça passada em Londres o esqueleto de um Tiranossauro Rex. Conseguiu oferta final de US$ 31,8 milhões (R$ 177,2 milhões) pelos restos da fera do período cretáceo. Se viesse garimpar em Brasília, a leiloeira levantaria uma fortuna.