Mauricio Huertas

Maurício Huertas: O “sobe e desce” da política partidária

Se as urnas demonstram que há um esgotamento da paciência da maioria dos cidadãos brasileiros com o atual sistema político-partidário, vide o número recorde de ausências, votos brancos e nulos em todo o país, também é verdade que, enquanto houver a obrigatoriedade de filiação a partidos políticos para se concorrer às eleições, o jogo a ser jogado é dentro das 35 siglas existentes (e outras que ainda estejam por vir).

Parece ser consenso que novas mudanças na legislação partidária e eleitoral são necessárias, muito além do puxadinho chamado de reforma que ocorreu para as eleições municipais de 2016. Correção de distorções à parte e avanços que talvez os atuais mandatários não tenham vontade política de encarar, o fato é que o cenário para 2018 começa a se desenhar a partir da correlação de forças demonstradas neste 2 de outubro.

Todas as análises apontam para o PT como grande derrotado em 2016 e, pelo resultado massacrante e surpreendente em São Paulo, o epicentro político das últimas décadas, Geraldo Alckmin (PSDB) desponta como a liderança política com mais força para a sucessão presidencial. Pensando em números e tratando a política como ciência exata, seria por aí. Mas é claro que há outras variáveis incontroláveis. De todo modo, precisamos partir de um ponto concreto para fazer o mapeamento político nacional.

Pois o que se viu foi Alckmin, padrinho do “não-político” João Doria, que ganhou a Prefeitura de São Paulo no 1º turno com 53% dos votos, impor ao PT (com os 16,7% de votos para Haddad) a maior derrota da sua história. Lembrando que em 1985, quando disputou a sua primeira eleição municipal com Eduardo Suplicy como candidato a prefeito, o PT teve 19,75% dos votos, ficando atrás do vencedor Jânio Quadros, com 37,53% e Fernando Henrique, com 34,16%. Na eleição seguinte, em 1988, ganhou Luiza Erundina (que tinha sido candidata a vice em 1985), e a partir daí o PT sempre esteve na disputa polarizada pela Prefeitura, primeiro contra o malufismo: Maluf (92), Pitta (96) e Maluf (2000); depois contra os tucanos ou seus satélites: Serra (2004), Kassab (2008), Serra (2012) e João Doria (2016). Venceu três vezes, em 1988, 2000 e 2012.

Portanto, nessa balança dos dois pólos mais tradicionais da política atual, que se traduz também desde 1994 nas eleições presidenciais, é inegável que o “lado azul” desponta com amplo favoritismo contra o “lado vermelho” para 2018, sendo que Alckmin se firma como potencial candidato tucano. Dos seus concorrentes internos, José Serra perdeu espaço (a não ser que migre para o PMDB ou se contente com a eleição para o governo do Estado) e Aécio Neves segue com o controle da máquina nacional partidária mas precisa cuidar da franquia mineira (afinal, a sua derrota em Minas, na eleição presidencial de 2014, foi determinante para a vitória de Dilma).

Embora direita e esquerda sejam conceitos cada vez mais anacrônicos, na parcela mais conservadora do eleitorado, à direita do PSDB, destacam-se figuras como Bolsonaro, que não vão vencer eleição majoritária nenhuma, mas indicam um volume crescente do eleitorado mais retrógrado. Ao centro, o PMDB permanece como uma federação de caciques e coronéis locais, agora alçado à Presidência da República para uma transição ainda indefinida.

Partidos como DEM, PSC, PSD, PP, PR e PRB também seguem crescendo ou (re)conquistando municípios importantes. A liderança jovem e mais bem sucedida é ACM Neto, eleito prefeito de Salvador com 74%. Já é nome forte para ser candidato ao Governo da Bahia ou a vice-presidente da República.

À esquerda, o PSOL vai tomando eleitores desiludidos com o PT. A Rede Sustentabilidade de Marina Silva sai da eleição enfraquecida e em crise de identidade. O PT vive um dilema na sucessão da liderança de Lula (às vésperas de se tornar ficha suja na Operação Lava Jato). O próprio Fernando Haddad, apesar da derrota fragorosa, e Eduardo Suplicy, com a votação recorde para vereador, são nomes cotados para um aggiornamento petista, que tem ainda em Ciro Gomes, hoje no PDT, uma alternativa para sobreviver a 2018.

Resta a chamada esquerda democrática, fundamentalmente representada por PPS, PV e PSB, que até pode se aliar pontualmente ao PSDB, mas que trabalha para superar a polarização tradicional e definitivamente se diferencia das práticas e dos conceitos da velha esquerda que não resistiu à queda do muro de Berlim. Está aí nesses partidos, e no que aflorar da Rede, o caminho que pode reaproximar a boa política das novas demandas da sociedade. Aguardemos.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor-executivo da FAP e apresentador do #ProgramaDiferente


Fonte: pps.org.br


Mauricio Huertas: Caia quem for preciso para o Brasil ficar em pé!

Será que alguém ainda precisava ouvir o grampo do Romero Jucá para ter um pé atrás com o PMDB?

Ora, meus caros petistas… Como vocês vem posar de indignados contra os corruptos flagrados no partido do Michel Temer se foram vocês que mantiveram os coronéis peemedebistas no núcleo do poder nestes 14 anos da coalizão chefiada por Lula e Dilma?

Se agora é o PMDB quem herda a Presidência da República com o impeachment de Dilma Rousseff, não se enganem: tudo isso acontece por obra e graça do petismo, que jamais rompeu com o partido que é governo praticamente desde a chegada de Cabral. Não tenham dúvida: o sujeito que corrompeu o primeiro índio com espelhinhos e badulaques já devia estar filiado ao PMDB.

Vamos falar sério! A tal narrativa do golpe (e aí é impossível não mencionar Ruy Castro na deliciosa crônica “Clichês”, que merece ser lida e emoldurada) só convence dois tipos de gente: os inocentes úteis e os indecentes inúteis. É verdade que há um descontentamento crescente com o governo transitório do Temer, mas já falamos e não cansamos de repetir: Toma que o Temer é teu, PT!

Intelectuais, uni-vos! Os poucos sinceros e bem intencionados com os muitos desonestos e oportunistas. Se bem que, vá lá… Não há como discordar de quem sai às ruas e adentra às redes para descer o cacete nos corruptos do PMDB. Mas quem aqui defende esses políticos, meu Deus? O que não dá, isso sim, é para ter indignação seletiva: militantes sectários que atacam os corruptos dos outros para defender os seus bandidos de estimação. Aí é muita cara-de-pau, né?

Então, vamos repactuar as nossas posições, para deixar tudo bem explicadinho: nós não votamos no Temer para presidente (aliás, nem para vice). Foram VOCÊS que fizeram isso. Se hoje ele é presidente em exercício, foi porque a presidenta de vocês está afastada constitucionalmente pelo Congresso Nacional, num ato jurídico e político legal, que do princípio ao fim será avalizado pelo Supremo Tribunal Federal.

Falam de mídia golpista, mas foi a mesma que vocês bajularam e sustentaram com polpudo patrocínio estatal nestes 14 anos. Criticam o baixo nível dos políticos (os mesmos, diga-se, que detém as concessões da mídia), mas tentem apontar um só deles que não estava lado a lado na base de sustentação de Lula e Dilma enquanto parecia conveniente a ambos. Desqualificam a população que hoje apóia o “fora Dilma” e o “fora PT” como uma ralé despolitizada e manipulável, mas se esquecem que foi justamente essa parcela flutuante do eleitorado que possibilitou as vitórias petistas em 2002, 2006, 2010 e 2014.

Portanto, meus queridos, antes de dar tchau, vamos reiterar: o Temernão é o presidente dos sonhos de nenhum brasileiro. Ainda que tenha a legitimidade do voto de 54 milhões de cidadãos que o elegeram junto comDilma justamente para esta função: substituir a titular do cargo nos casos previstos em lei. E responderá pelo exercício da Presidência até que possamos votar melhor em 2018 ou até que alguma ilegalidade também o afaste. Que seja!

O que estiver dentro da legalidade, dos preceitos constitucionais e dos princípios republicanos, terá o nosso mais sincero apoio. Não paramos no “fora Dilma” e “fora PT”, ao contrário da lógica da velha política polarizada. Isso não nos basta. Seguiremos no “fora Cunha”, “fora Jucá”, “fora Renan” e quantos mais tiverem de cair para manter de pé o Brasil e a nossa jovem Democracia. Doa a quem doer.


Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor-executivo da Fundação Astrojildo Pereira e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: Não-petistas, graças a Deus! (Dias melhores virão…)

Bastaram as primeiras horas do afastamento da presidente Dilma Rousseff para a República (ou a “coisa do povo”, literalmente) começar a retomar os rumos habituais: o elenco da política mais tradicional retorna ao palco central do poder e o PT também volta a fazer aquilo que mais sabe (além de montar esquemas de corrupção e desvio de dinheiro público, claro), que é exercer um papel combativo na oposição.

O peso de 14 anos de governo certamente deixa marcas, tira muito da credibilidade, da coerência e da sinceridade de propósitos, mas petistas e seus partidos e movimentos satélites trazem no DNA a expertise original. Apesar de tudo, ainda são os mais competentes e eficazes oposicionistas do Brasil.

Em abril já antecipávamos aqui no Blog do PPS (em Desfazendo as mentiras: Toma que o Temer é teu, PT!) este que hoje é o principal argumento das viúvas de Lula e Dilma: chamam o presidente em exercício de canalha, senil, misógino, ficha suja e listam um sem-número de defeitos que, curiosamente, não viam até dias atrás, tanto que o escolheram duas vezes vice na chapa petista.

Ora, se Michel Temer virou presidente, dentro da lei, foi por ter sido eleito junto com Dilma, exatamente na função de substituto da titular, com os mesmíssimos 54 milhões de votos.

Pode até se discutir a tese de que os dois deveriam ser cassados solidariamente, por cumplicidade no crime continuado cometido pelo consórcio governista. Mas pintar o vice como vilão e cafajeste a essa altura não cola, né?

Reclamam que políticos investigados foram nomeados para o novo ministério, mas coincidentemente são os mesmos que compunham a base de sustentação deste presidencialismo de coalizão idealizado por Lula & cia. Ora, então que raio de incômodo extemporâneo é este? Indignação seletiva contra os mesmos personagens que tiveram papel de destaque até dias atrás? Que feio!

Apontam a falta de mulheres e negros no primeiro escalão (e é verdade!), mas como se isso tivesse algum significado concreto além do mero simbolismo – e que tantas vezes foi tratado como hipócrita e demagógico.

Afinal, será que esses que criticam Temer hoje o apoiariam se fosse outra a predominância da cor da pele ou do gênero dos seus ministros? Balela!

Queremos políticas públicas de combate à desigualdade e a garantia da diversidade no dia-a-dia, não cotas para preenchimento de cargos (isso até a Globo “golpista” faz nas suas novelas, com núcleos de personagens negros e mulheres libertárias). Queremos mais!

Se não bastassem os argumentos racionais, é difícil fazer crer no preconceito e na suposta misoginia (desprezo ou repulsa ao gênero feminino) de Temer, que por duas vezes aceitou ser coadjuvante de uma mulher absolutamente intragável como Dilma – e, diga-se, inclusive, sempre fez questão de reforçar o papel submisso do vice, função que só homens absolutamente civilizados e de “boa estirpe” teriam estômago para encarar.

Enfim, nunca é demais repetir: Temer não chegou à Presidência da República por vontade nem por ação da oposição, mas em razão das circunstâncias criadas justamente por quem votou 13 nas urnas, duas vezes, em 2010 e 2014. Portanto, se não é o melhor dos governos (quem disse que é?), que seja ao menos a transição possível e menos traumática para o “pós-PT”, aí sim um bálsamo para a crise enfrentada pelo país, e que comece a sinalizar a saída desta corrupção endêmica e nos direcione para as reformas necessárias.

Basta ser minimamente correto e razoável para se tornar infinitamente melhor que aquele desgoverno caótico e criminoso comandado pelo partido do crime, que se apoderou do Brasil na última década e destroçou a mais remota esperança de dias melhores e mais justos, como a esquerda democrática pregava, prestando um desserviço histórico ao nosso campo político e fazendo ressuscitar o conservadorismo mais arcaico, rançoso, rancoroso e retrógrado no cenário nacional.

Teremos muito trabalho para resgatar sobreviventes nestes destroços, mas não vamos desistir do Brasil, nem de uma sociedade mais justa, solidária, sustentável, igualitária e fraterna. A política é muito maior que o PT, graças a Deus! Vamos seguir em frente, botando ordem na casa, para votar melhor em 2018.


Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor-executivo da Fundação Astrojildo Pereira e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: Vamos falar (de novo) das eleições municipais?

Senta que lá vem textão. Desculpa, mas é necessário.

Vamos falar das eleições para a Prefeitura de São Paulo e para a Câmara Municipal. De novo. E o que tem de novo?

Vamos lá…

Na semana passada, falávamos dos dez dias decisivos para a sucessão do prefeito Fernando Haddad (PT) e para a necessária renovação dos vereadores e das suas práticas. São Paulo precisa disso, urgente! Mas, enfim, o que está ao nosso alcance? Hoje ao menos temos um novo cenário já desenhado, como prevíamos. Quais os próximos passos?

Os candidatos anunciados para o cargo de Haddad (inclusive o próprio) são estes: Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB), Andrea Matarazzo (PSD), Ricardo Young (Rede Sustentabilidade), Marco Feliciano (PSC), Denise Abreu (PMB) e Ivan Valente ou Luiza Erundina (PSOL). Fora esses, podem pipocar aqui e ali mais uns nanicos. Nada sério.

Então vamos avaliar o quadro consolidado sob dois pontos de vista: o do cidadão paulistano e o dos partidos (afinal, este aqui é um blog político). O que é melhor para São Paulo?

Alguns pontos essenciais:

1) Dar um basta à gestão Haddad é o primeiro aspecto que nos une. O prefeito pode até ser gente boa, inteligente, moderninho, descolado (como o marqueteiro João Santana, hoje preso, traçou-lhe o perfil na campanha eleitoral), mas na prática é um dos piores administradores que a cidade já teve. Despreparado, incompetente, inoperante. Uma lástima como gestor público. Bom criador de factóides, mas um terror em saúde, educação, moradia, meio ambiente. Um zero à esquerda, literalmente.

2) Além de Haddad, convenhamos que nomes como Marco Feliciano e Celso Russomanno não podem significar algo minimamente sério para administrar São Paulo, certo? É preciso explicar com mais detalhes ou já nos entendemos? Na dúvida, basta dar um google. Isso se ambos confirmarem de fato as candidaturas, até porque, além de possíveis rearranjos partidários, o imbróglio de Russomanno com a Justiça também pode afastá-lo definitivamente da disputa.

3) Uma outra ala de candidatos entra simplesmente para marcar posição. É o caso do PSOL, sempre o mais emblemático, que neste ano estará prejudicado pela nova legislação eleitoral em vigor. Como tem menos de 9 deputados federais (o número mínimo estabelecido pela lei), não garante presença nos debates de TV, por exemplo, nem espaço na cobertura diária da mídia. Daí a tentativa de convencer Erundina a disputar mais uma eleição, pois provocaria um “interesse jornalístico”. No lado oposto está o Partido da Mulher Brasileira, que aproveitou a “janela” das novas legendas e abocanhou seu quinhão de tempo, fundo partidário e marcará presença nos debates.

4) Um caso à parte é a Rede Sustentabilidade, que também não atingiu a “cota mínima” de 9 deputados e, em tese, ficará de fora dos debates e da cobertura jornalística. Porém, não deve ser descartado o potencial do partido de Marina Silva, seja pelo uso da imagem da sua fundadora na propaganda, nas redes e nas ruas, seja pela possibilidade de fazer uma coligação que some os tais 9 deputados, no mínimo. Aí está claro o papel que o PPS, como aliado preferencial, pode desempenhar se fizer uma coligação com a Rede para lançar Ricardo Young prefeito. Ambos passariam a ter uma candidatura significativa e competitiva, principalmente para fazer uma bancada na Câmara Municipal com as marcas da ética, da governança democrática e da sustentabilidade.

5) Retornamos aos nomes mais tradicionais, e por isso mesmo favoritos para disputar o segundo turno (fora Haddad e Russomanno, que já excluímos por antecipação pelo desastre que representam para a cidade e para a boa política): João Doria (PSDB), Andrea Matarazzo (PSD) e Marta Suplicy (PMDB). Todos eles tem seus prós e contras. Preparo, experiência, inteligência, carisma – em maior ou menor grau – fazem crer que são candidatos que honrariam o cargo de prefeito (ou prefeita).

Neste caso, então, além do ponto de vista do cidadão paulistano, precisamos fazer observações e análises político-partidárias sobre o que representa cada uma destas candidaturas com chances de chegar à Prefeitura e que disputam igualmente o nosso apoio.

Aos nomes, em detalhes:

1) João Doria. É o candidato do maior partido de oposição (na administração municipal e no governo federal) e do governador Geraldo Alckmin. Não é pouca coisa. Porém, o que é uma vantagem aparente também carrega problemas. Os tucanos estão rachados. O processo de prévias e a intervenção do governador provocou traumas irreparáveis. Lideranças como José Serra, FHC, Alberto Goldman, José Aníbal não estão com Doria e Alckmin. Ao contrário. Também não consideram Doria um candidato digno de representar o PSDB. O fato de ser um neófito será positivo, diante da crise, ou vai pesar contra? E até onde vai o “canto da sereia” de Alckmin, envolto em escândalos e sofrendo o desgaste natural após tantos anos no mesmo cargo? Quem arrisca um palpite?

2) Andrea Matarazzo. É o nome mais preparado e conhecedor da cidade que o PSDB tinha e descartou. Migra para o partido de Gilberto Kassab, ex-prefeito, atual ministro e aliado do PT no governo federal. Vai ser difícil explicar. Ainda que o PSD se declare “independente”, será que cola? Em 2008, a disputa entre Kassab e Alckmin já provocou um grande racha no PSDB. Naquela oportunidade, Kassab venceu. E agora? E se ambos perderem?

3) Marta Suplicy. Além da experiência e do recall como ex-prefeita, com marcas fortes como os CEUs e o bilhete único, o bom trânsito na periferia, a postura mais humilde ao reconhecer erros como a implantação da taxa de lixo e a explicação didática sobre a saída do PT, terá a força do PMDB que (tudo indica) estará no comando do governo federal e de uma grande coalizão suprapartidária. O que isso irá trazer para a candidatura da ex-prefeita? Ainda é cedo para cravar prós e contras, mas a força e o potencial de crescimento são inegáveis.

Expostos todos os fatos, tanto sob o ponto de vista do cidadão paulistano quanto das análises do quadro político partidário, voltamos à análise puramente doméstica. Estamos no PPS, um partido que desde 2000 vem elegendo habitualmente dois vereadores em São Paulo, tem um posicionamento claro e íntegro na defesa de uma cidade mais justa, moderna e sustentável, e é cortejado hoje para apoiar João Doria, Andrea Matarazzo, Marta Suplicy e Ricardo Young.

Supondo que estes quatro nomes são benéficos para a cidade e representam um avanço inegável perante a atual gestão desastrosa do PT e do prefeito Haddad, qual deve ser o posicionamento do PPS no 1º turno das eleições municipais em São Paulo? Em 2008 e 2012, tivemos decisões acertadas ao defender a candidatura própria do PPS com Soninha Francine para a Prefeitura. O partido cresceu. Pautamos os debates com temas importantes.

E agora, o que deve ser levado em conta? Coligado a qual candidato o PPS teria um maior protagonismo? Em qual chapa o PPS seria mais valorizado, destacado, ouvido? O programa, os conceitos e os princípios do PPS estariam preservados em qual destas candidaturas? Alguém oferece a vaga de vice, por exemplo, para o PPS? Isso é importante para a legenda? Qual opção beneficiaria a eleição dos candidatos e candidatas do PPS à Câmara Municipal?

Essas respostas do PPS devem ser debatidas e tomadas com responsabilidade pelo coletivo partidário. Dirigentes, filiados e candidatos devem se reunir para decidir o nosso futuro, o que é melhor tanto para o partido como para a cidade de São Paulo. Sem ceder a pressões internas ou externas, manipulações, chantagens e cobranças por interesses individuais. É hora de fazer valer com legitimidade a vontade da maioria, honrar a nossa história e provar a nossa força. Por uma São Paulo diferente!


Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor-executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: Coxinha, acarajé e enroladinho

Tem acarajé, tem coxinha, tem enroladinho de sobra. Nada a ver com essa nova onda gourmet, mas com o prato requentado e indigesto da política brasileira com tempero petista. Para completar, tem chefe marqueteiro preso e o pessoal da cozinha do Lula afirmando que o ex-presidente é achincalhado por coxinhas. Então, de estômago embrulhado, resolvi sair do armário. Pensei muito, respirei fundo e decidi assumir. Tomei coragem e vou gritar para todo mundo ouvir: EU SOU COXINHA!

Sou daqueles que a ministra Cármen Lúcia traduziu no voto do STF: “Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo.”

Eu votei quatro vezes no Lula (1989, 1994, 1998 e 2002), botei estrelinha no peito, cantei Lula-lá, xinguei o Collor e a Globo pela edição manipulada do último debate daquela primeira eleição direta, mas agora estou reagindo contra o cinismo e o escárnio. Eu sou coxinha.

Sou fã do Sergio Moro, do Joaquim Barbosa, do Ministério Público e de uma turma de ex-petistas: Luiza Erundina, Marina Silva, Fernando Gabeira, Cristovam Buarque, Heloisa Helena, Soninha Francine, Helio Bicudo, Marta Suplicy.

Leio a Veja antes da Carta Capital, assisto Danilo Gentilli e Marcelo Adnet na “mídia golpista”, tuíto com o Lobão, assino a Folha e… Preciso confessar com um certo constrangimento: eu me identifico mais com o movimento do Kim Kataguiri do que com o do Guilherme Boulos.

Tenho asco por políticos como Bolsonaro e Feliciano, blasfemo contra o Malafaia e o Edir Macedo, mas (vou falar!) fui pra rua nas manifestações pelo impeachment da Dilma. Aliás, voltei às ruas, onde estreei ainda criança, nas diretas-já, permaneci adolescente como cara-pintada e, velho de guerra, agora divido espaço com o boneco Pixuleco.

Eu ajudo a combater o preconceito contra negros e minorias, contra a intolerância, contra o ódio nas redes, contra o machismo, contra a homofobia. Eu quero um mundo melhor para a minha filha, defendo a justiça social, a sustentabilidade, a igualdade de oportunidades, o fim do alistamento militar obrigatório e a liberação da maconha (apesar de não fumar). Sou reformista e milito numa sigla que teve origem no Partido Comunista (sem ser comunista, óbvio). Mas sou coxinha.

Não frequento a Oscar Freire, debocho das dondocas dos Jardins que se julgam politizadas por terem posado de verde-e-amarelo para a Caras no último domingo ensolarado de protestos ou saído uma noite em caravana para o sopão dos moradores de rua. Ao contrário delas, sei que Costa e Silva não é apenas o nome de um viaduto. Faço compras, sem nenhum constrangimento, em liquidação de loja de departamentos no shopping. Grife, tanto faz. Tem um xing ling legal lá na Vinte e Cinco. Mas sou coxinha.

Vibro com essa história de reocupar o espaço público, com o fechamento da Paulista e do Minhocão. Sou amplamente favorável às ciclovias, apesar de não andar de bicicleta para não chegar suado e extenuado no trabalho. Economizo menos água do que deveria porque tomo dois banhos diários. Uso carro. Ônibus, muito pouco. Metrô, às vezes para ir ao centro ou assistir o Corinthians no Itaquerão. Mas acho a gestão Haddad uma ruindade. Então, sou coxinha.

Tenho casa própria. Aliás, um “apertamento” que precisa de uma reforminha (Alô, Odebrecht! Alô, OAS!). Defendo parques, áreas verdes e mananciais contra a ocupação de movimentos de moradia. Contribuo como voluntário para criança carente, velhinho e o hospital do câncer. Pego da rua animais abandonados para cuidar. Admiro o trabalho da Luisa Mell e do Luciano Huck.

Eu sou coxinha. Será um caso perdido? Em busca da resposta, nessa minha jornada interior (sem nenhuma pitadinha do charme da Julia Roberts em Comer, Rezar, Amar), recorro novamente ao já histórico voto da ministra do STF: “Quero avisar que o crime não vencerá a Justiça”. Agradeço pelo alimento que coloca na nossa mesa. Um minuto de silêncio pela alma dos petralhas. Amém.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor-executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente


Mulheres presas no Brasil: discriminação, preconceito e violência

O tema das mulheres presidiárias no Brasil está em pauta: da notícia de uma presa grávida que deu à luz em solitáriano Rio, após detentas de celas vizinhas pedirem ajuda em vão, passando pelo livro "Presos que Menstruam: A Brutal Vida das Mulheres Tratadas como Homens nas Prisões Brasileiras", da jornalista Nana Queiroz (veja entrevista exclusiva), até o artigo "Prisões Femininas", da socióloga Julita Lemgruber, publicado nesta semana no espaço de Marcelo Freixo, na Folha de S. Paulo, em apoio ao movimento #AgoraÉQueSãoElas, o fato é que está se discutindo como nunca o assunto das mulheres encarceradas.

Não que seja um problema novo. Ao contrário. A história se repete há décadas, mas é tabu. Se as mulheres livres nas ruas já sofrem preconceito, discriminação e violência, imagine como é a vida atrás das grades. O livro da jornalista Nana Queiroz deve virar filme em 2016. O curioso é que, há 24 anos, o jornalista Mauricio Huertas - então um jovem estudante universitário - já tratava do mesmo tema em documentário.

A TVFAP.net exibe com exclusividade o documentário "As Filhas da Culpa", produzido em 1991. Apesar de passado tanto tempo entre um trabalho jornalístico e outro, a atualidade do assunto impressiona.