Mauricio Huertas

Mauricio Huertas: Um novo nome para um novo ser e um fazer diferente

Tchau, velha política. Ninguém aguenta mais esses partidos decadentes, obsoletos, fechados em si mesmos, com falsos líderes que não representam nada além dos seus próprios interesses.

Não chega a ser novidade que a sociedade clama por mudança. Das manifestações espontâneas de 2013 ao resultado das urnas em 2018, não foram poucos os recados da população descontente com o atual sistema e descrente nos representantes da mesmice. Agora basta!

O Brasil exige renovação de nomes, métodos, práticas e conceitos. Busca entre um extremo e outro a saída, errando e aprendendo. O que nós precisamos, deste lado do balcão, é oferecer uma alternativa democrática, sensata, honesta, viável e coerente. Estamos empenhados, portanto, para que tenha sucesso essa nova formatação política que pode ser originada do diálogo do PPS com a Rede Sustentabilidade e os movimentos cívicos surgidos da desilusão com os partidos tradicionais.

A democracia brasileira vive o fim de um ciclo iniciado com a chamada "Nova República", em 1985. Naquela onda das Diretas Já e da esperança com a vitória de Tancredo no colégio eleitoral, a ditadura militar tinha virado entulho histórico. Veio o primeiro baque com o governo Sarney, que forjou Collor, que acarretou Itamar, que projetou FHC, que gerou Lula, que inventou Dilma, que alçou Temer e que culminou em Bolsonaro, sepultando de vez esse período festivo da democracia.

O fracasso e os malfeitos do PT frustraram a esperança da maioria do povo que o elegeu quatro vezes consecutivas, traíram a história de uma geração e enxovalharam todo um campo político democrático que havia derrotado com honra e mérito a ditadura no Brasil. Tanto fizeram que provocaram não apenas ojeriza, ódio e antipatia à esquerda democrática, mas reanimaram os sentimentos mais abjetos daquela direita truculenta execrável que parecia morta, mas que somente hibernava nas últimas três décadas.

A tarefa que se coloca agora aos integrantes deste campo democrático é defender as conquistas do estado de direito, com seus princípios republicanos e as garantias fundamentais da cidadania. O Brasil pode e deve mudar seus representantes a cada eleição, isso é salutar. O que não podemos é andar para trás. Seguiremos firmes no combate ao populismo, à polarização burra e simplória, aos extremismos de direita ou de esquerda e à forma fisiológica, corrupta e patrimonialista de se fazer política.

Temos como pauta mínima a defesa das instituições democráticas, dos direitos e liberdades individuais e coletivas, tais como a liberdade de opinião, de expressão e pensamento, a proteção constitucional às minorias, o direito de ir e vir, a livre organização e associação, e a liberdade de imprensa, bem como a urgência das reformas do Estado brasileiro e a efetividade do desenvolvimento sustentável, com ações objetivas em favor da qualidade de vida, seja no âmbito econômico, ambiental ou da justiça social.

O nosso maior desafio é consolidar essa nova formatação política diante da crise do atual sistema eleitoral-partidário e do esgotamento (aqui e no mundo) deste modelo da democracia representativa em vigor, que já não atende a demanda da população diante dos avanços tecnológicos e dos anseios por uma participação mais direta e objetiva nas decisões que afetam o nosso dia-a-dia e projetam o futuro da sociedade.

Que esse novo movimento de cidadania possa erigir livre das armadilhas burocráticas e das amarras hierárquicas dos velhos partidos, permitindo que se faça uma política verdadeiramente nova e diferente das práticas usuais tão deploráveis, que seja mais acessível, palatável e inteligível para as novas gerações.

Que mantenha sua lisura e independência, que defenda e exercite a plena liberdade de expressão e a pluralidade ideológica, contribuindo para o aperfeiçoamento constante da democracia, com princípios e valores republicanos compartilhados para a construção de uma sociedade mais justa, civilizada, solidária, democrática e sustentável.

 

 


Mauricio Huertas: Presidente Bolsonaro, conte comigo… na oposição!

Dentro da normalidade democrática, a alternância de poder é salutar. Um aditivo republicano que evita que os políticos se perpetuem nos cargos, com os mesmos vícios, e garante a soberania exercida pelo povo.

Portanto, eleito Jair Bolsonaro pela vontade da maioria do eleitorado brasileiro, dentro das regras da democracia, resta a quem não votou nele nem acredita neste “novo” presidente, como é o meu caso, ser oposição em todos os 1.461 dias do seu governo.

Essa é, inclusive, uma garantia para a manutenção das nossas conquistas e para o bom funcionamento das nossas instituições. Que sigamos vigilantes e mobilizados na luta contra qualquer retrocesso.

Porém, aqui entra um detalhe importante que nos diferencia do tradicional oposicionismo petista, patenteado desde os anos 80: o Brasil precisa de uma oposição responsável, não meramente ideológica ou recomendada pelo marketing estratégico e eleitoreiro de ser “do contra”. Sistemático deve ser o papel fiscalizador da oposição, jamais o “quanto pior, melhor”, o ódio, o revanchismo ou a intransigência.

Para levantar uma situação objetiva, concreta: se houver o encaminhamento correto das reformas estruturais tão necessárias para reorganizar o modelo de gestão do país, entre outras urgências, é preciso debater com seriedade, fazer os ajustes cabíveis e também ajudar a aprová-las. Ou não?

A fiscalização ao governo deve ser diária, permanente, minuciosa e disciplinada, para que os arroubos totalitários demonstrados durante a campanha não tenham sido nada além de bravatas e peças de retórica. Para que nenhum abuso seja cometido. Para que nenhum direito seja suprimido. Para que nada que não esteja previsto constitucionalmente seja imposto, sob qualquer pretexto, sem o devido amparo do estado democrático de direito.

O fato é que só agora vamos saber de verdade quem é o presidente Bolsonaro, pois conhecemos apenas o candidato de um partido fictício (que nesta eleição se tornou o segundo maior do Brasil) e teve limitada a sua presença em raros debates no 1º turno, com pouquíssimo tempo de propaganda oficial e mobilidade cerceada desde o dia 6 de setembro pelo atentado cometido contra ele. O fenômeno, o mito, vai ter que descer do pedestal, arregaçar as mangas e botar os pés no chão.

Chegou a hora, afinal, de descobrir o que tem a oferecer aquele seu tão propalado “posto Ipiranga” para a economia e o desenvolvimento do Brasil. O que ele pretende para a Reforma da Previdência, por exemplo? E para a Educação? Vai continuar com essa bobagem de fundir a Agricultura com o Meio Ambiente, sem entender que muitas vezes terá que mediar interesses antagônicos do agronegócio e da sustentabilidade? Como enfrentará o que chama indevidamente de “coitadismo” de negros, gays, mulheres e índios? Teremos ativistas perseguidos? Liberdades ameaçadas? Minorias desassistidas?

Como o presidente vai se portar diante das exigências formais do cargo? Respeitará a independência e a harmonia dos poderes? Como será a relação com esse Congresso sabidamente conservador, fragmentado e fisiológico? Que tipo de reação terá com uma oposição que se anuncia ruidosa e rigorosa? Como vai se desenrolar a Operação Lava Jato e outras investigações do tipo contra a corrupção envolvendo políticos e partidos, muitos dos quais também vão estar na sua base de sustentação?

Outra coisa importante, que descobriremos com o tempo, é como o governo vai reagir quando essa onda bolsonarista baixar – o que é natural – e o presidente deixar de surfar nesses índices gigantescos e fenomenais de popularidade. Os problemas corriqueiros do dia a dia, as frustrações, a burocracia para ver implantadas as suas ideias. Até que ponto irá a paciência da população que buscou eleger um salvador da Pátria? Cadê as soluções mágicas para a insegurança e o desemprego? Por que segue aumentando a conta de luz, a passagem do ônibus e o preço do feijão no supermercado?

Então é isso, presidente. Parabéns pela sua eleição, mas saiba que a partir de 1º de janeiro de 2019 acaba a festa e começa a cobrança e o trabalho duro. Conte comigo… na oposição! Sempre! Não pretendo dar um dia de trégua na fiscalização. Mas não vou torcer pelo seu insucesso, ao contrário. O Brasil não merece outro governo interrompido pela incompetência, pela irresponsabilidade, pela mediocridade ou pela falta de caráter de seus mandatários.

Vamos testar na prática a sua conhecida truculência. Que tenha ficado para trás, pelo bem de todos. Falo por mim, neste artigo assinado, mas sei que posso estar representando o pensamento de muitos, que por ora se recompõem em partidos reformulados e nos movimentos cívicos, nas redes e nas ruas. Nosso reencontro está marcado para 2022, nas urnas, democraticamente. E que Deus nos proteja dos fantasmas do passado que rondaram a sua eleição e insistem em nos assombrar.

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: O Brasil que eu quero e vou buscar em 7 de outubro

O Brasil que eu quero, parodiando a campanha que se encerra na TV, é muito mais justo, colorido, feliz, fraterno, sustentável e igualitário. Tem espaço para as nossas crenças e ideias, para a sua e a minha ideologia e para o livre desejo de viver, cada um como bem entender, respeitando o direito de todos e a múltipla diversidade.

No Brasil que eu quero, como ensinaram na insistente chamada global, o celular devia ficar deitado, mas o povo necessita seguir de pé, firme, altivo, combativo, alerta. Em berço esplêndido, só vai repousar eternamente a nossa história. Porque o dia-a-dia é de luta incessante, travada nas ruas e nas redes sem descanso. É a nossa hora!

No Brasil que eu quero, está liberado o porte de ALMA. Todo cidadão de bem precisa e merece andar AMADO. No Brasil que eu quero, cabe preto, cabe branco e cabe índio. Cabe mulher, cabe homem e cabe aquilo que para mim ainda parece indefinido. Cabem os direitos humanos e os direitos dos bichos.

No Brasil que eu quero cabe tudo e todo mundo, menos o ódio, a intolerância e o preconceito. Porque grita mais alto o orgulho do que cada um é e ainda pode ser, com o devido respeito. Pode ser hétero, pode ser gay, pode ser trans, pode ser ou não ser. Rico ou pobre, jovem ou velho, sulista ou nortista, conservador ou liberal. Pode ser ateu, evangélico, católico, espírita e macumbeiro. Pode querer. Pode não querer. Sim é sim. Não é não.

No Brasil que eu quero, nossos filhos vão à escola. Não vão para o farol pedir esmola. Voam alto nos sonhos de criança, não viram avião do tráfico como única esperança. Tem creche, tem merenda, tem bala e doce, não tem bala perdida. No Brasil que eu quero tem casa, tem emprego, tem segurança e riqueza dividida. Tem praça, tem parque, tem saúde preventiva, médico e hospital para quem precisa.

No Brasil que eu quero a política é a oportunidade da mediação dos interesses, palco de negociação da coisa pública, não o teatro da esperteza interesseira dos oportunistas da República. É a independência dos poderes, que funcionam em harmonia. Não a ladainha dos poderosos, que transformam a democracia em circo, o plenário em picadeiro e a tribuna em rinha. É o espaço para a vocação dos bons, não o despacho para a invocação do mal.

No Brasil que eu quero não precisamos de falsos heróis, salvadores ou profetas. Dispensamos saídas extremistas à direita ou à esquerda. Preferimos a mão dupla, mais acessível, acolhedora, mediadora, equilibrada, ambidestra. O Brasil que eu quero está logo ali no horizonte do dia 7. Está ao alcance do meu e do seu dedo. Pois então que apontemos certo na urna para o Brasil que queremos.

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


FAP Entrevista: Mauricio Huertas

"Autismo político" do centro democrático brasileiro poderá custar uma derrota já no primeiro turno, avalia Maurício Huertas

Por Germano Martiniano

Nesta semana, Fernando Haddad foi oficialmente lançado pelo PT para substituir Lula na disputa presidencial. A pouco menos de um mês das eleições, a entrada do petista deixa uma questão: qual será a capacidade de transferência de votos de Lula para o atual candidato?

A última pesquisa publicada pelo Datafolha trouxe Bolsonaro na liderança, com 26% das intenções de voto; Ciro e Haddad com 13%, Marina com 9% e Alckmin com 8%. Esses dados deixaram os eleitores de Marina e Alckmin preocupados, uma vez que seus candidatos, considerados de centro, não decolam nas pesquisas.

Neste contexto, a série FAP Entrevista traz o jornalista, secretário de Comunicação do PPS/SP e também dirigente da Fundação Astrojildo Pereira, Mauricio Huertas, como o entrevistado desta semana. Questionado sobre as razões que levam as eleições se afunilarem em torno de candidatos extremistas, à direita ou à esquerda, Huertas foi enfático sobre o centro democrático. “A culpa é de líderes e partidos desgastados e dissociados do mundo real das ruas e das redes. O autismo político poderá nos custar uma derrota já no 1º turno."

A entrevista faz parte da série publicada aos domingos pelo portal da FAP, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

FAP Entrevista - A última pesquisa presidencial trouxe Bolsonaro na liderança e Haddad e Ciro empatados tecnicamente. Marina caiu três pontos e Alckmin vem atrás. Por que Alckmin, mesmo com o apoio do Centrão, não decolou?
Maurício Huertas - Primeiro, é importante ressaltar que a 20 dias da eleição tudo ainda pode mudar. O que temos são indicativos, tendências, movimentos pontuais captados pelas pesquisas de intenção de voto - mas que podem mudar de uma hora para outra com qualquer novo fato político. De todo modo, o que os números indicam, hoje, é quase a certeza de Bolsonaro no 2º turno e uma briga no escuro de quem vai conseguir chegar em segundo lugar para enfrentá-lo e supostamente vencê-lo com facilidade, o que é outro equívoco.
Desde o início a estratégia de Alckmin foi criticar o extremismo, à direita e à esquerda, e pregar uma saída mais racional e moderada. A aposta dos tucanos e partidos coligados, verbalizada pelo próprio Alckmin em todas as entrevistas que lhe cobravam números mais expressivos nas pesquisas de intenção de voto, era que o crescimento se daria a partir do início do horário eleitoral no rádio e na TV. Portanto, calculou-se que o bônus de ter mais tempo na propaganda oficial valia o ônus de se aliar aos partidos do Centrão, todos claramente identificados pela população como beneficiários dos esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.
Porém, havia ao menos três sérios riscos nessa estratégia. Primeiro, ter acreditado que a coligação frankenstein do Alckmin e seu tempo monopolizado de TV bastariam para convencer ou cativar um eleitor arredio, indignado, revoltado com as formas tradicionais de fazer política. Segundo, achar que a razão e o bom senso do eleitorado prevaleceriam sobre o apelo mais radical, emotivo e extremado da campanha. Por fim, em terceiro, julgar que a maior tendência desta eleição seria repetir a polarização PT x PSDB que assistimos desde 1994. Esses estrategistas davam como certa a "desidratação" da candidatura do Bolsonaro, possibilidade que se houvesse uma visão mais isenta e realista do atual momento da política teria se mostrado improvável, como de fato os números de hoje indicam.

Analistas das eleições acreditam que a última chance de Alckmin para subir nas pesquisas seria contar exatamente com o voto útil, ou seja, atrair os votos de Amoedo, Henrique Meirelles, Álvaro Dias e até Marina, com intuito de se evitar um confronto entre PT e Bolsonaro. O senhor acredita que isso pode dar certo ou disputa será entre Bolsonaro x Ciro ou Haddad?
É certo que vai se acentuar nesta reta final o discurso do "voto útil". De fato parece ser a última esperança de Alckmin e dos seus apoiadores, dentro deste movimento que se convencionou chamar de "centro democrático e reformista", ou seja, a esperança de reunir o voto de todos aqueles que não desejam um 2º turno entre Bolsonaro e Haddad. Será intensificado esse último apelo para atrair tanto o eleitor anti-Bolsonaro quanto o anti-PT. Eu realmente acho que o voto útil é que vai definir o resultado desta eleição. O problema, indicado aqui pelas pesquisas mais recentes, é que o voto útil não está migrando para aqueles candidatos que imaginávamos e desejávamos, seja Alckmin ou Marina. O que estamos vendo é o voto útil anti-petista se encaminhar para Bolsonaro. E, por outro lado, o voto anti-Bolsonaro se mobilizando em torno de Haddad e de Ciro.
E nós, do chamado centro democrático, eleitores de Alckmin, Marina, Álvaro, Amoêdo e Meirelles, corremos o risco iminente de assistir do lado de fora, todos de mãos dadas, o 2º turno entre esses dois extremos que até o momento fomos incompetentes de neutralizar e de mostrar ao eleitorado quão nocivos podem ser às nossas jovens e frágeis instituições democráticas e republicanas.

Dos candidatos considerados de centro, apenas Ciro desponta. Por que a população brasileira tem preferido opções mais extremistas? Onde o centro errou?
A dúvida que fica é exatamente esta: Por que o eleitorado não identifica em Alckmin ou em Marina a melhor opção para a Presidência? Por que a maioria enxerga uma realidade diferente de nós? Será que nós estamos sempre certos e os outros supostamente estão errados? Ou será que nós é que não entendemos que o eleitor procura algo diferente? Obviamente, nossa tarefa e desejo, para o bem do Brasil e da democracia, é não ter um 2º turno entre Bolsonaro e Haddad. Aí entra o apelo ao voto útil. Mas a "culpa" não é do eleitor que não concentra o voto em um único candidato e se dispersa entre Alckmin, Marina, Álvaro, Meirelles ou mesmo Ciro. A culpa é de líderes e partidos desgastados e dissociados do mundo real das ruas e das redes. O autismo político poderá nos custar uma derrota já no 1º turno.
Por outro lado, a sobrevida da liderança de Lula e o crescimento de Haddad se devem à narrativa da vitimização que colou. Qual a mensagem que eles conseguiram transmitir? “Todos são corruptos, mas ao menos Lula governou para os pobres, melhorou a vida das pessoas”. É a reedição do rouba mas faz, atrelada à cultura e tradição nacionais. Fora a fé cega no lulismo, que é uma religião.

Caso a disputa se afunile entre Bolsonaro e Haddad, o que significa para o Brasil ter um destes dois governos no poder?
A preocupação legítima de todo democrata com essas duas candidaturas marcadas pelo radicalismo, pelo ódio e pelo revanchismo é vermos o Brasil retroceder várias décadas no dia 7 de outubro. Podemos odiar, podemos discordar, podemos não aceitar, achar ambos toscos, mas é inegável que diante de todos os indícios, pesquisas de intenção de voto, reação das pessoas nas ruas e nas redes, as chances de um 2º turno entre Haddad e Bolsonaro são enormes.Devemos concentrar nossos últimos esforços para combater esses nossos dois adversários nas suas fragilidades, em vez de reforçarmos involuntariamente o que está muito além da razão nessa motivação puramente subjetiva e emocional que leva a maioria do eleitorado a escolher seu candidato. Do contrário, estaremos ajudando a eleger algum destes extremistas de tanto que insistimos em fazer uma política que não existe mais.
Haddad e Bolsonaro não são os melhores candidatos para o Brasil, longe disso. Mas talvez sejam aqueles que tiveram até o momento mais competência e sensibilidade para entender e atender a demanda da maioria da população - que não necessariamente faz a melhor escolha. E esse é um efeito colateral da democracia, já devíamos ter aprendido. Temos 20 dias para abrir os olhos e viabilizar rapidamente alguma opção anti-PT e anti-Bolsonaro, se não quisermos lamentar pelos próximos quatro anos, no mínimo. Qual é a saída? Este é o nosso desafio. Resta pouquíssimo tempo para uma resposta.

O que o senhor espera do novo presidente do Brasil?
O que precisamos é conscientizar e mobilizar os brasileiros para a criação e a manutenção de um ambiente social saudável, com um presidente que lidere as reformas estruturais necessárias e que governe para todos, com sensibilidade e responsabilidade. Também deve ser papel do novo presidente, fechadas as urnas, chamar as lideranças sociais e políticas para a construção de um país mais humano, justo, ético e solidário. Que sinalize para uma gestão com políticas públicas e parcerias sociais que possibilitem mais rapidamente a inserção dos excluídos, a radicalização da democracia, a plena transparência e independência dos poderes, a diminuição de privilégios e a construção mais sólida e eficaz das bases da cidadania.
Que não nos faça reféns de um bando de políticos corruptos, desqualificados e incompetentes, muitos deles eleitos exatamente com a bandeira da mudança. Mas, sobretudo, que atue com ética, moral, sensatez e com o desafio de construirmos uma verdadeira Nação, que respeite a nossa história, fortaleça democraticamente as estruturas republicanas e apresente um programa viável para conquistarmos mais dignidade, igualdade e justiça social. Enfim, que nos dê motivos reais e concretos para acreditarmos em dias melhores.

Como surgiu a ideia de criar a TV FAP?
A Fundação Astrojildo Pereira já era uma instituição respeitada no meio político, acadêmico e cultural, justamente pelas suas publicações, atividades, estudos e debates das questões da atualidade, além de reunir um grupo suprapartidário altamente qualificado intelectualmente. Faltava algo para arejar, amplificar e trazer um público novo para este trabalho da FAP na difusão dos ideais democráticos e dos princípios republicanos, da ideia de liberdade com responsabilidade, da igualdade de oportunidades, da cidadania plena e da justiça social.
Nada mais atual, portanto, do que criar um canal de TV na internet para atingir de forma direta, eficaz e objetiva um grande número de pessoas, numa quantidade até então impossível com as excelentes publicações editoriais da FAP, e dialogar tanto com aqueles que já transitam por esse meio político e acadêmico, quanto poder atrair para as ações da FAP essa nova geração, ou os chamados nativos digitais, que começam a tomar conhecimento daquilo que fazemos e desejamos para o Brasil e para o mundo, que não é muito diferente do que eles também buscam: um mundo melhor, mais tolerante, pacífico e conectado, com menos desigualdades, que respeite a diversidade e priorize a educação, a cultura, a ciência e a tecnologia.

Como funciona a TV FAP? Como é possível assistir os programas? Quais dias são veiculados e como são selecionados os temas?
Como indica o próprio nome, a TVFAP.net pode ser acessada neste endereço eletrônico de batismo. O principal produto é o "Programa Diferente", que pode ser assistido no Portal da FAP, nos endereços TVFAP.net e ProgramaDiferente.com, ou facilmente encontrado no Google, no Youtube e nas redes sociais pela hashtag #ProgramaDiferente.
Estamos fechando a quarta temporada com uma fórmula bem simples e objetiva: apresentamos semanalmente um programa temático de meia hora, além de matérias jornalísticas, entrevistas, debates, notícias e prestação de serviços, sempre amparados por um conteúdo abrangente e bem apurado que nos garante respeito, credibilidade e quase 5 milhões de views nas mais variadas plataformas, tudo isso escorado por um olhar isento, informativo, crítico, colaborativo e alternativo ao da imprensa tradicional.
Nestes quatro anos, a TVFAP.net vem se destacando por um jornalismo qualificado, com pautas diferenciadas e uma abordagem leve, plural e democrática, ouvindo diversas personalidades das mais diversas áreas: política, artes, cultura, direito, educação, esportes, meio ambiente, urbanismo, tecnologia, comunicação, redes sociais etc.
O foco da nossa programação é ajudar a debater a crise do país e a buscar saídas e soluções criativas para os problemas políticos, sociais e econômicos. Dentro das nossas possibilidades, o objetivo também é discutir e promover a cidadania, a qualidade de vida, a diversidade, a justiça social, a igualdade de direitos e de oportunidades, e a chamada governança democrática, acima de preconceitos e de divisões partidárias e ideológicas, além de valorizar ações sustentáveis, empreendedoras e responsáveis, através de iniciativas culturais, comportamentais, políticas, acadêmicas e tecnológicas que apontem para cidades inteligentes, modernas e inclusivas.

Como o senhor analisa atualmente o papel da imprensa, em que as mídias sociais estão "substituindo" o jornalismo tradicional? O jornalismo responsivo poderá sobreviver a este processo?  
É natural que essa revolução tecnológica que estamos vivendo cause profundas transformações. Vemos isso na política, nas relações pessoais, na comunicação de modo geral. O jornalismo não passaria incólume. O imediatismo da notícia e o fato de cada cidadão ter se tornado ao mesmo tempo emissor e receptor de informação online com seus smartphones muda totalmente a visão que havia do jornalista profissional da imprensa escrita, do rádio e da TV. O que não deve mudar é a busca pela informação de qualidade. Estão aí as "fake news" que reforçam essa preocupação. É incrível como até pessoas instruídas acreditam em qualquer bobagem que se publica nas redes sociais. Portanto, o bom jornalismo, que traz a informação bem apurada, não pode morrer em nome dessa facilidade de se noticiar tudo o tempo todo. Dá para fazer um paralelo com a medicina: podemos buscar informações sobre qualquer doença na internet, mas o “Dr. Google” jamais substituirá uma consulta presencial, convencional, com um bom médico. Espero que com o jornalismo também seja assim.


Mauricio Huertas: Deu “match” entre Geraldo Alckmin e o “centrão”

Confirmado o apoio dos partidos do chamado “centrão” à candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, o jogo começa a ser jogado verdadeiramente, após meses de apostas, achismos e especulações.

Deu “match”, como nesses aplicativos de relacionamentos. O tucano se torna enfim um “player” competitivo – para usar o termo comum tanto aos fãs dos games quanto dos pretensos analistas das tendências eleitorais. Uma opção mais racional – e tradicional – contra as alternativas extremadas que polarizam as pesquisas até então, personificadas à esquerda e à direita nas figuras quase folclóricas de Lula e Bolsonaro.

Uma coligação com o reforço de siglas como DEM, PP, PR, PRB, Avante e Solidariedade, somadas ao desgastado mas ainda relevante PSDB (que já tinha atraído também PTB, PSD, PV e PPS), consolida a frente ampla e capilarizada tão desejada por aqueles que pregavam a construção de uma candidatura consensual deste campo que se convencionou denominar “centro democrático e reformista”. Democrático, sem dúvida. Afinal há uma salada mista de vozes e interesses ali reunidos. Reformista, um tanto inverossímil. Até mesmo pela profusão de exigências que cada partido fez para firmar apoio nesse leilão informal dos presidenciáveis.

Portanto, é inegável que a candidatura de Geraldo Alckmin parte com fôlego e entusiasmo renovados para a largada oficial da campanha eleitoral. Resta saber até que ponto o eleitorado será influenciável ou refratário a essas alianças partidárias formais, reunindo as mais diversas lideranças da política institucional, uma profusão de cabos eleitorais espalhados país adentro e o domínio massivo e absoluto da propaganda no rádio e na TV.

O primeiro desafio de Alckmin será o de crescer nas pesquisas e provar que ele estava certo quando afirmava que mostraria o seu favoritismo e começaria a ser percebido pelo eleitorado depois de passada a Copa do Mundo, com a formalização das coligações partidárias e iniciada a propaganda eleitoral nos meios de comunicação. Se era isso que faltava (e perdoe o clichê), ele está agora com a faca e o queijo na mão. Um teste de fogo para o seu poder de empolgar a sociedade. A conferir.

Por outro lado, candidaturas como as de Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), que tentavam igualmente se colocar como alternativas racionais à polarização entre petistas (as viúvas carpideiras de Lula) e anti-petistas (encarnados momentaneamente por Bolsonaro e seu exército de boçais), sofrem um grande baque com o apoio do “centrão” a Geraldo Alckmin. Terão de provar, em escassos dois meses, que as alianças da velha política e o tempo de propaganda na mídia tradicional já se tornaram desprezíveis na hora de o eleitor decidir seu voto. Improvável, mas não impossível.

O segundo – maior e mais extraordinário – desafio de Alckmin será, se e quando superado o primeiro, governar essa babel partidária, garantir maioria no Congresso, montar um governo moderno, eficiente, ético, reformista e transformador da realidade do brasileiro, diferente dos 13 anos petistas e dessa transição pós-impeachment de dois anos empacados na história do Brasil. Mas isso é um outro capítulo. Vamos por partes. Antes do “Viveram felizes para sempre” precisamos iniciar com o “Era uma vez, em um país nem tão distante…”. Que futuro construiremos a partir deste contexto que se apresenta?

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: Como nunca antes na história deste País…

Faltam exatos cinco meses para as eleições de 7 de outubro, com pelo menos 23 pré-candidatos à Presidência da República, inclusive um ex-presidente preso. Não por muito tempo, ao que parece: tanto essa quantidade exagerada de candidatos quanto o regime fechado para Luiz Inácio Lula da Silva, que terá seu destino julgado pela turma da bagunça, a 2ª turma do Supremo Tribunal Federal. De qualquer modo, já podemos parodiar Lula e dizer que vivemos uma situação “como nunca antes na história deste país”.

Um ex-presidente preso e 23 presidenciáveis. E a vida segue. Quem diria? Dentro de uma semana, o técnico Tite deve anunciar os 23 jogadores convocados para a Copa do Mundo da Rússia. Pela primeira vez na história do Brasil, os 11 titulares serão menos conhecidos da população que os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Uma situação absurda e impensável até uns anos atrás. Beira o ridículo, graças à bandidagem que tomou conta da política (e do futebol, diga-se).

Afinal, não é todo mundo que identificaria Alisson, Marquinhos, Casemiro, Firmino ou Douglas Costa andando do outro lado da rua. Mas você certamente já cansou de ver e ouvir falar nos últimos tempos sobre Edson Fachin, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli (a 2ª turma que definirá se Lula deve seguir preso), ou ainda Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Marco Aurélio, Luiz Fux, Rosa Webere Luís Roberto Barroso.

Não que o Brasil da camisa amarelinha vá se tornar o país da toga preta. Mas que a paixão pelo futebol está perdendo espaço no coração do brasileiro para o ódio à política parece indiscutível. Fala-se menos da Copa, com início marcado para 14 de junho, que da Operação Lava Jato. Nas ruas você vê mais referências a políticos e juízes do que a tradicional decoração verde-amarela ou a eterna reverência aos craques da seleção. Sinal dos tempos.

Enquanto não saem os 23 convocados do Tite, temos os seguintes 23 presidenciáveis, em ordem alfabética: Aldo Rebelo (Solidariedade), Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo(Avante) Ciro Gomes (PDT), Fernando Collor (PTC), Fernando Haddad (PT), Flávio Rocha (PRB), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), Jaques Wagner (PT), João Amoêdo (Novo), João Vicente Goulart (PPL), Joaquim Barbosa (PSB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix(PRTB), Lula (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB), Marina Silva (Rede), Michel Temer (MDB), Paulo Rabello de Castro (PSC), Rodrigo Maia (DEM) e Vera Lúcia (PSTU).

Destes 23, tirando os figurantes folclóricos (Eymael, Levy Fidelix, Collor), os candidatos ideológicos (Manuela, Vera Lúcia, Amoêdo) e as figurinhas repetidas, como Temer ou Meirelles (ou ninguém) pelo MDB, ou ainda Haddad ou Jaques Wagner para substituir o inelegível Lula pelo PT, sobra muito pouco de aproveitável nesse extrato eleitoral.

À esquerda, todos brigam pelo espólio de Lula. Porém, é improvável que qualquer nome do PT chegue ao eventual 2º turno, muito menos algum herdeiro mais à esquerda, como Guilherme Boulos (PSOL), único que desponta como “novidade”, apenas por ser oriundo dos movimentos sociais. O presidenciável Ciro Gomes (PDT) sonha com os votos lulistas (muito além do PT), mas quem tem alguma identidade e afinidade para dividir esse eleitorado são Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB).

À direita, a preferência disparada é mesmo por Jair Bolsonaro (PSL), embora Flávio Rocha (PRB), com maior quantidade de neurônios funcionando, tente se apresentar como o mais credenciado para ocupar um vácuo que, imaginava-se (e há quem continue desejando), seria preenchido pela candidatura de João Doria, que por enquanto segue como candidato do PSDB ao Governo de São Paulo (mesmo batendo de frente com Marcio França, do PSB, e Paulo Skaf, do MDB)

É no entendimento deste centro político que está a fórmula possível para definir os rumos da eleição. A maioria ainda aposta na decolagem do nome de Alckmin (PSDB), embora a profusão de pré-candidatos do mesmo campo (DEM, MDB, PRB, PSC e Podemos) dificulte mais o que já não seria tarefa simples e se complica dia a dia (principalmente vencer a rejeição do eleitorado fora do eixo sul-sudeste aos tucanos e fazer crescer a intenção de votos a ponto de consolidar uma candidatura vitoriosa).

Claro que, a essa altura e diante de múltiplos cenários possíveis, é tudo tentativa de adivinhação. Mas quanto maior a fragmentação de votos deste chamado “campo democrático”, distanciado das opções mais extremadas e intolerantes, maior também a distância do 2º turno e maiores as chances de Bolsonaro estar lá. Contra quem? Não seria impossível ou improvável uma eleição JB x JB, seria? Jair Bolsonaro x Joaquim Barbosa? Será esse o destino do Brasil? Faltam 69 dias para a final da Copa e 153 dias para as eleições. Boa sorte para todos nós. E que só a contagem seja regressiva.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: Hoje só nos resta desejar: Feliz 2019, Brasil!

Num 2017 que termina com o tal “insulto” natalino do presidente Michel Temer para um terço dos condenados na Lava Jato; com a liberação de um sorridente mensaleiro (Henrique Pizzolato, aquele que fugiu do Brasil se passando pelo irmão morto), juntando-se a outros indultados famosos, como José Dirceu, José Genoíno eJoão Paulo Cunha; com o mercado comemorando um reaquecimento ínfimo (que beneficia os investidores da bolsa, enquanto para o trabalhador o desemprego volta a subir, em plena época natalina); com a demissão de um ministro do Trabalho que ninguém sabe quem é (e a entrada de outro, idem!), isso num ano em que se aprovou uma reforma trabalhista e se discute a reforma previdenciária; só nos resta mesmo desejar aos brasileiros um Feliz 2019!

Se já sabíamos que entraríamos num período de transição no pós-impeachment de Dilma Rousseff, este 2018 será o auge desse rito de passagem. Com o agravante de uma eleição presidencial determinante, mas completamente imprevisível, num cenário de descrença generalizada nas instituições democráticas e republicanas, e um porto nada seguro para o novo ciclo que se iniciará com o resultado a ser proclamado em outubro de 2018.

O calendário do ano novo (novo?) está posto, com aquela estranha sensação de déjà vu logo na sua chegada: manifestações contra o aumento de 20 centavos no transporte público de São Paulo estão marcadas para 11 de janeiro (onde certamente teremos a monótona repetição de cenas de depredação e violência); além do julgamento de Lula em segunda instância no dia 24 de janeiro – e isso nos remete ao início deste texto, quando mencionamos o indulto concedido aos bandidos do Mensalão e da Lava Jato. Teremos afinal a condenação do chefe dessas duas quadrilhas? Ele estará afastado das eleições? Vai recorrer para sair candidato? Será preso ou responderá em liberdade?

Mas isso é só o começo de janeiro, neste ano (de novo: novo?) que entramos com ranço dos anos 70 e 80: afinal, temos Paulo Maluf e José Maria Marin atrás das grades; enquanto Jair Bolsonaro e Lulalideram livres, leves e soltos as pesquisas de intenção de voto. Nada mais emblemático destes velhos novos tempos. O que mais virá por aí entre o Carnaval, logo no início de fevereiro, a Copa do Mundo no meio do ano, seguida pelas campanhas eleitorais, a eleição em si e… 2018 vai voar!

De todo modo, será uma boa chance para a (re)definição dos campos partidários e talvez até para o necessário surgimento de novas lideranças. Crise é oportunidade, diz a sabedoria milenar. Esse último suspiro do (des)governo Temer – na súbita e típica melhora do paciente terminal antes da morte – pode clarear um pouco o horizonte político ao atrair para o seu entorno oportunistas de todas as matizes que se reunirão para dilapidar o que resta da máquina estatal. Do lado oposto, o vitimismo dos que construíram a narrativa do golpe e o queremismo redivivo do pai dos pobres.

Isso abre um flanco estratégico para uma candidatura equidistante do governo e da oposição tradicional, ambos comprovadamente quadrilheiros e indesejáveis para o país que desejamos construir para o futuro – e que aí sim poderemos estufar o peito e encher a boca para bradar: UM BRASIL NOVO! Renovado, reformado, recuperado, reestruturado, reconstruído.

Sem os Malufs e Marins, sem os Temers e Lulas, sem os Bolsonarosou Meirelles, políticos vetustos com novos disfarces, que tentam esconder a velha política com as suas práticas obsoletas, deletérias e condenáveis. Não precisamos de mais do mesmo! Basta de indultos aos maus políticos! Basta da complacência da sociedade com tudo aquilo que empurra o Brasil para o buraco, que arrasa com a nossa esperança por dias melhores e que coloca em risco a nossa jovem estabilidade democrática.

Se queremos felizes 2019, 2020, 2021 (…) precisamos construir isso nos próximos meses. Não vamos delegar aos mesmos enganadores e exterminadores de sonhos, o nosso futuro. Vamos assumir a nossa responsabilidade e exercer o nosso protagonismo para forjar a mudança que desejamos. Vamos criar, inovar, fazer nascer e crescer um novo Brasil! Já!

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Mauricio Huertas: A democracia é uma equilibrista na corda bamba

Tem guerra de facções no morro, tem guerra de facções no Planalto. Uns traficam drogas, assaltam carros-fortes e em tese roubam dos ricos. Outros, traficam influência, assaltam cofres públicos e na prática roubam dos pobres. Uns se impõem pela força, outros pelo voto. De resto, é igualmente o crime organizado que domina a sociedade e a política.

Nesse contexto, a democracia é uma equilibrista que caminha na corda bamba com uma rede de proteção esgarçada pelo mau uso. A vítima (e, às vezes, o cúmplice) é o eleitor, que elege canalhas para representá-lo no Parlamento e no Executivo, propiciando foro privilegiado e o acesso mais fácil aos esquemas de ilicitudes que corroem e dilapidam a República há décadas.

Não são bandidos todos os políticos – como a média da população parece acreditar, com cada vez mais indícios e total convicção. Mas há quantidade excessiva de ladrões, corruptos, criminosos e mafiosos nos partidos e na política – e estes precisam ser combatidos, punidos exemplarmante e defenestrados da vida pública.

Tolerância zero com o mau-caratismo, a improbidade, o corporativismo e a venalidade. É por isso que não dá, sinceramente, para tolerar o “moralismo seletivo” de determinados figurões da imprensa e de partidos políticos indignados com apenas um dos lados da mesma moeda que tilinta nos dutos da corrupção brasileira. Eu não tenho bandido de estimação. Você tem?

Ora, que moral tem o sujeito que se enraivece com corrupto petista e passa a mão na cabeça de vigarista tucano (ou peemedebista, democrata, liberal, socialista etc.)? Que defende o impeachment de presidente tratante mas poupa vice-presidente comparsa? Que ataca a esquerda como antro de delinquentes políticos e ideológicos mas fia-se em quadrilheiros de uma direita tão ou mais totalitária, obtusa, inepta e facínora?

Tem se falado e buscado construir o que se convencionou chamar de “candidatura do centro democrático” para 2018. Alguma liderança que não se perca pelo extremismo, pela intolerância e pela radicalização do discurso ou das práticas da velha política, empurrando para fora da corda bamba a nossa jovem democracia equilibrista.

Afinal, quem, em sã consciência, poderia se opor ao diálogo civilizado entre os vários partidos e movimentos do campo democrático no sentido de construir consensos e evitar a polarização entre o que a direita e a esquerda oferecem hoje de pior, triste cenário que as últimas pesquisas sugerem para as eleições de 2018?

Esse espírito de unidade entre cidadãos íntegros, republicanos e fichas limpas é bastante simbólico. Mas não basta o discurso demagógico se não nos diferenciarmos verdadeiramente nas ações concretas e objetivas para enfrentarmos a descrença da população na política e nos políticos. Ou seja, qualquer conchavo que não leve em conta a opinião pública já nascerá fracassado.

Necessitamos de novas lideranças, com brio, decência e honradez para construirmos um contraponto efetivo e viável a este governo federal tíbio, cambaleante, indecente e de caráter frouxo, que segue nas mãos de políticos velhacos que pouco se distinguem daqueles que já estão atrás das grades por motivos que levaram multidões às ruas para protestar.

Precisamos resgatar a esperança do povo, defender a boa política e a interlocução dos partidos renovados com a sociedade viva. Precisamos transformar o nosso modo de pensar, agir e articular. Precisamos reafirmar o nosso repúdio intransigente ao fisiologismo e à corrupção, o nosso compromisso com as reformas estruturais do Estado e com a estabilidade democrática e constitucional do País.

A corda bambeia, balança. O esquilibrista titubeia, vacila. O Brasil pende de um lado para outro, esbarra à esquerda, colide à direita, mas não cai. Não pode cair! Assim como na emblemática canção de João Bosco e Aldir Blanc:

“A esperança / Dança na corda bamba / De sombrinha / E em cada passo / Dessa linha / Pode se machucar…/ Azar! / A esperança equilibrista / Sabe que o show / De todo artista / Tem que continuar…”

A democracia se equilibra na corda bamba… Na corda… Acorda, Brasil!

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS-SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Mauricio Huertas: A transição pós-PT, o presidencialismo de cooptação e as penas que voam no ninho tucano

Não chega a espantar toda a polêmica e o stress causado pela mais recente propaganda partidária do PSDB, mencionando genericamente os erros que a legenda teria cometido (sem, contudo, listá-los) e criticando o “presidencialismo de cooptação” – que, segundo o programa tucano, neste momento em que é preciso pensar no país, deveria ser substituído pelo parlamentarismo.

Quem acompanha o dia-a-dia da política sabe da divisão partidária existente entre os defensores e partícipes do governo do presidente Michel Temer contra aqueles que cobram o desembarque e a coerência de continuar se opondo aos desmandos e esquemas ilícitos que apenas mudaram de mãos com a troca de mandatário no mesmíssimo consórcio do poder instalado em Brasília.

A crise interna do PSDB é, em maior ou menor grau, reprodução da crise da política e da democracia brasileira, com seus reflexos nos partidos, nas instituições e em toda a sociedade organizada. A realidade opõe quem defende fazer a transição pós-PT dentro deste governo, fechando os olhos e tapando o nariz para a má companhia ocasional, como se os fins justificassem os meios, àqueles que consideram absurdo e inaceitável servir de base de sustentação para os cúmplices de Lula e Dilma por 13 anos, igualmente implicados nas investigações da força-tarefa do Ministério Público, da Polícia Federal, do Judiciário e da Procuradoria-Geral da República.

Uma coisa é certa: do lado de cá, consideramos o petismo águas passadas e queremos avançar. A divergência é sobre como (e com quem) proceder essa transição. Do lado de lá, prossegue a retórica do golpe e o discurso do vitimismo, na tentativa desesperada de sobrevivência após a avalanche de denúncias, delações e condenações. No meio há um fosso enorme aberto pela Operação Lava Jato, que deve servir exatamente para separar os dois lados: e quem, pelos mais inconfessáveis interesses, quiser dar as mãos ao lado oposto para se salvar mutuamente, que afunde solidário, mas não nos puxe junto.

Isso posto, registrado o nosso apoio incondicional à Lava Jato e à punição exemplar de todos os envolvidos em irregularidades, estejam eles no PT, no PMDB, no PSDB ou na “pqp”, voltemos à polêmica da propaganda tucana. Primeiro, uma constatação sobre o formato: o programa feito todo (e apenas) por atores reforça a aversão à política. Passa um atestado da falência da nossa democracia representativa e da miséria dos partidos. Isso é bom? É desejável?

O PSDB afirma e reafirma: Errou! – e a mensagem repetida é a que fica, afinal. “Está na hora de pensar no país”, o programa também repete. Então quer dizer que até agora não pensava? (Hmmmm) Houve ruído para fora e para dentro. Voou pena para todo lado. A peça produzida pelo publicitário Einhart Jacome da Paz – conhecido no meio político como cunhado e marqueteiro de Ciro Gomes nas suas incursões como candidato a presidente em 1998 e 2002, antes disso de FHC em 1994 e 1998, e depois de Lula no 2º turno de 2002 – parece tão confusa e errante quanto o seu currículo profissional.

Diante disso tudo, a defesa do parlamentarismo soa frágil, como tábua de salvação dos políticos tucanos que foram escondidos no seu próprio programa. Há um vácuo entre a intenção da mensagem emitida e a percepção real do eleitor. Como comunicação isso é ruim. Muito ruim. Parece que o estrago que o PT fez à esquerda, o PSDB pode estar fazendo ao parlamentarismo. Tudo porque o discurso não combina com a ação. Não passa credibilidade.

O termo “presidencialismo de cooptação”, que usamos há tempos em outros artigos por aqui e agora tanto desagrada os “players” do governo, incomoda exatamente porque coloca o dedo na ferida. Os cifrões nos olhos dos bonequinhos que representam os deputados na ilustração animada do PSDB indicam uma realidade que os mais pragmáticos preferiam omitir. O sistema político-partidário está falido, nossos partidos agonizam e as velhas lideranças batem cabeça. O passado resiste a partir e o futuro demora a chegar. Então, como agir neste momento? As mudanças se impõe. Mãos à obra.

 


Mauricio Huertas: Para onde caminha o Brasil?

O livre pensar é um direito. Uma conquista. Então, vamos lá: Para onde caminha o Brasil? Parece haver consenso nos dois lados da trincheira, entre governistas e opositores, que o governo do presidente Michel Temer é simplesmente uma transição do pós-PT para algo que está por vir, um futuro ainda desconhecido. A escolha democrática se dará em outubro de 2018. O grupo que está hoje no poder é simplesmente consequência dos caminhos políticos e institucionais trilhados - e não há aqui qualquer julgamento de mérito, apenas uma constatação óbvia dos fatos.

Esteja você do lado que estiver, tendo gritado "Fora Dilma" ou "Fora Temer" (ou ambos), situado mais à direita ou mais à esquerda no velho mapa partidário e ideológico, a sua cota de responsabilidade será cobrada nas eleições de 2018, quando escolheremos o(a) Presidente da República, senadores e deputados federais que guiarão os rumos do país no Executivo e no Congresso Nacional.

Grosso modo, teremos em 2018 um menu bastante variado de opções, possibilitando que os eleitores votem livremente naqueles candidatos que considerem melhores, mais preparados ou mais adequados para o momento que o país vive. Nunca se teve tanta informação e transparência tão reveladora das entranhas do sistema político-eleitoral como se tem agora, o que não se traduzirá necessária e automaticamente na melhoria da qualidade dos eleitos.

É por isso que este convite à reflexão nos parece tão urgente e oportuno. De que adianta seguirmos militando nas redes e nas ruas, manifestando nossas preferências ou, ao contrário, protestando contra tudo aquilo e todos aqueles que repudiamos, às vezes em disputas fratricidas dentro de um mesmo campo democrático e republicano, se não formos capazes de promover ações verdadeiramente transformadoras através do voto?

O cenário das próximas eleições é ainda bastante incerto, mas já começam a se desenhar no horizonte as primeiras candidaturas. Num contexto global de exacerbação do radicalismo, com o quadro nacional propenso também a buscar salvadores da pátria aleatórios diante do descrédito da política mais tradicional, tornam-se preocupantes os destinos do país, da economia, dos direitos sociais e individuais, das garantias constitucionais de liberdade, segurança, desenvolvimento, bem-estar, igualdade e justiça como valores supremos.

Mas não venham apontar a Lava Jato e outras operações da Polícia Federal e do Ministério Público, nem suas gravíssimas implicações na Justiça, como "culpadas" da degradação que macula, desonra e constrange a maioria dos partidos e de seus mandatários. É triste que tenhamos chegado tão fundo do poço moral e ético, mas é alvissareiro que ainda possamos reagir democraticamente para sanear e desenxovalhar a política sem atalhos fascistas, autoritários e antirrepublicanos.

É salutar que velhos caciques, sobretudo os envolvidos em esquemas de corrupção e caixa 2, percam o lugar cativo que mantinham há décadas, abrindo espaço para novas lideranças e organizações que possam arejar a nossa democracia representativa, aprimorar a democracia participativa e instituir mecanismos cada vez mais necessários da democracia direta.

Portanto, é difícil afirmar diante das incertezas da política para onde caminha o Brasil, mas seguramente o rumo certo será dado na medida em que o maior número de cidadãos tiver a capacidade de se reunir, refletir e agir com isenção, responsabilidade, consciência, ética, equilíbrio, maturidade e espírito coletivo para enfrentar os desafios que se colocam à nossa frente. Que essas dores do crescimento sejam apenas sintomas naturais da construção de uma verdadeira Nação.

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Maurício Huertas: Lava Jato - Cumpra-se a lei; punam-se os culpados!

Mal comparando – e vai aí uma explicação bastante simplista e simplificada da Teoria Geral da Relatividade de Einstein, buracos negros são regiões que possuem uma quantidade tão grande de massa concentrada, maciça e compacta que nada consegue escapar da atração da sua força de gravidade, nem mesmo a luz. No coração de um buraco negro, o tempo para e o espaço deixa de existir. Em resumo, seria o estágio final de uma estrela após o seu colapso gravitacional.

A publicação das delações dos executivos da Odebrecht mostra, com todos os detalhes sórdidos e uma crueza deprimente, o colapso do nosso sistema político-partidário dominado por uma organização mafiosa que se apoderou do Estado. Por outro lado, a Operação Lava Jato é o foco de luz que desafia as leis do crime e da Física: conseguiremos escapar desse buraco negro?

O escárnio dos delatores narrando a compra de políticos com seus codinomes ridículos (mas apropriados), o envolvimento de legendas à esquerda e à direita, no governo e na oposição, tudo isso regado com o derramamento de dinheiro público para manter essa estrutura putrefata mostra que, não por acaso, chegamos à fase decisiva das investigações no clima que justamente se apelidou de “fim do mundo”.

Agora, neste momento apocalíptico, ou nos perdemos todos na implosão que engole tudo que parecia sólido em nosso universo político (naves, sondas, asteroides, luas, planetas e até resquícios de vida inteligente) após a falência da última missão tripulada do partido da estrela e de seus satélites em governos de coalizão que nos deixaram perdidos no tempo e no espaço, ou nos reinventamos e partimos verdadeiramente para a construção de um novo mundo, com princípios éticos, democráticos e republicanos.

Da suspeita generalizada e empírica de que no Brasil existia uma corrupção empresarial e política sistêmica, arraigada há décadas, partimos para a certeza comprovada da podridão como única regra do jogo, com o mau cheiro típico e o transbordamento de um esgoto a céu aberto que exige saneamento urgente.

O que fazer, então, a não ser defender que se cumpra a lei e punam-se os culpados? Doa a quem doer, sem protecionismo, corporativismo ou partidarismo. Não podemos ser cúmplices, já que fomos todos omissos ou negligentes – para dizer o mínimo – diante dos sinais cada vez mais evidentes da necrose que tomava conta do tecido social, político e institucional que protege a nossa frágil democracia.

Ou reagimos permanentemente, com o máximo rigor, à máfia instalada na máquina estatal, ou damos por barato que todos são venais na sociedade e tudo tem seu preço: das medidas provisórias, licitações, leis, tempos de TV, alianças partidárias, perguntas em debates eleitorais, notícias, fim de greves, impeachments etc. até o pastor, o sindicalista, o servidor, o índio, a polícia, o promotor, o delegado, o juiz, o candidato, o político eleito e o eleitor.

Que sejam punidos exemplarmente corruptos e corruptores, políticos e empresários, delatores e delatados, partidários do campo azul ou do campo vermelho do nosso mapa tão fortemente polarizado mas que – chegamos à triste conclusão – não se diferenciam tanto assim na hora e nos métodos da pilhagem dos cofres públicos para se manterem no poder.

Bandido é bandido, seja rico ou pobre, culto ou ignorante, amigo ou inimigo. Não há como compactuar com esse sistema. Não há como ser condescendente com a corrupção. Que as investigações, apurações e o julgamento das denúncias vá às últimas consequências, com celeridade, independência e responsabilidade. Todo apoio às ações saneadoras do STF, da Procuradoria Geral da República, do Ministério Público e da Polícia Federal. Que se resgate no Congresso Nacional o mínimo de pudor e de espírito público para fazer avançar as reformas estruturais e profiláticas.

Passar o Brasil a limpo deixou de ser força de expressão. É uma necessidade vital. Ou, do contrário, abriremos caminho para salvadores da Pátria que, a pretexto de sanear o País, atendendo aos anseios difusos da turba que se manifesta nas ruas e nas redes contra a corrupção e a imoralidade, descambem para atalhos autoritários e desprezem as conquistas do nosso valoroso Estado Democrático de Direito. A saída, ainda que traumática e tortuosa, é pela Política. Vamos traçar o nosso rumo.

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente

** Foto: Agência Brasil/EBC

 

 


Maurício Huertas: Vaquejada – cultura popular ou pura ignorância?

Instalou-se mais uma polêmica daquelas no estilo Fla-Flu: quem é contra e quem é a favor as vaquejadas. Não há meio termo. Modalidade esportiva? Evento cultural? Ou simplesmente uma herança bárbara de pura maldade, crueldade e desrespeito aos animais?

Segundo seus admiradores, vaquejada é uma “atividade cultural” do Nordeste brasileiro, na qual dois vaqueiros montados a cavalo têm de derrubar um boi, puxando-o pelo rabo.

O Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional uma lei cearense que procurava disciplinar a prática como modalidade esportiva e evento cultural, sob o argumento de que a vaquejada impõe sofrimento aos animais e, portanto, manifestações culturais não se sobrepõem ao direito de proteção ao meio ambiente, consagrado no artigo 225 da Constituição Federal.

Muito popular na segunda metade do século XX, a vaquejada passou a ser questionada por ativistas dos direitos dos animais justamente em virtude dos maus-tratos aos bois, que muitas vezes têm o rabo arrancado ou sofrem fraturas na queda.

Pois então, isso pode ser chamado de esporte? Ser contra a vaquejada é ir contra as tradições nordestinas? É o que dizem seus defensores, entre eles inúmeros políticos do norte e nordeste do país. Ora, mas até a escravatura foi uma tradição no Brasil. Vamos mantê-la?

Ah, mas atletas se machucam por acidente em qualquer esporte, dizem os defensores das vaquejadas. Mas os “atletas”, neste caso, são homens e mulheres conscientes dos riscos que correm na prática de suas atividades esportivas. Não são animais irracionais sofrendo maus tratos para a diversão do público.

Outro argumento: vaquejada é o ganha-pão de muito brasileiro. Proibir a sua prática é tirar o sustento de famílias que dependem dessa atividade para sobreviver. Ok, com esse argumento podemos oficializar até o tráfico de drogas, certo?

Enfim, somos contra qualquer atividade que cause sofrimento aos animais. Simples assim. Se isso nos torna impopulares diante dos defensores desta “tradição”, lamentamos. Não é por isso que vamos defender vaquejada, rinha de galo, farra do boi, tourada ou até animais em circo (que, diga-se, também já é proibido por lei no Brasil).

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor-executivo da FAP e apresentador do #ProgramaDiferente


Fonte: pps.org.br