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Leandro Colon: Qual é a de Alcolumbre ao silenciar sobre Bolsonaro e os protestos?

Silêncio se agrava quando integrantes do próprio Legislativo atuam pelo ato contra deputados e senadores

O espírito de baixo clero da política que encarnou por anos a vida pública do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), persiste após um ano de sua eleição para dirigir a Casa dos senadores.

Se Jair Bolsonaro não se comporta à altura do cargo que ocupa, o que dizer de Alcolumbre? Sua cadeira representa também a presidência do Congresso. O senador amapaense comanda um dos três Poderes.

Não se ouviu até agora um pio de Alcolumbre sobre o apoio de Bolsonaro aos protestos do dia 15 de março contra o Parlamento. Um silêncio que se agrava quando integrantes do próprio Legislativo atuam pelo ato contra deputados e senadores.

Um deles é a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS). “Eu estou nos bastidores e posso dizer com propriedade: não duvidem do general Heleno”, disse. O que Alcolumbre acha da colega que turbina a ameaça do chefe do GSI ao Congresso?

Nos bastidores, senadores dizem que o presidente do Senado está mais preocupado em eleger o irmão para a Prefeitura de Macapá, em outubro, do que com os assuntos de Brasília.

É fato que se esperava uma reação mais firme de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao episódio do vídeo compartilhado por Bolsonaro. O mesmo vale para o presidente do STF, Dias Toffoli.

Ambos divulgaram notas oficiais frias, burocráticas, como se estivessem cumprindo uma obrigação política de se manifestar (quase pedindo desculpas ao presidente da República). Mas ao menos eles fizeram o papel institucional de reagir a mais um descalabro do Planalto.

Alcolumbre não surpreende. Ao falar sobre os insultos de Bolsonaro à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha, afirmou que eram “página virada”. A declaração foi seguida por frases anódinas, sem repudiar em nenhum momento o comportamento espúrio do chefe da República.

Além do Amapá, a prioridade de Alcolumbre tem sido operar uma manobra casuística na Constituição para permitir sua reeleição à presidência do Senado em 2021. Ele parece não estar nem aí para o resto.

*Diretor da Sucursal de Brasília.


Leandro Colon: Passeando em Guarujá, Bolsonaro vende a ilusão de que as coisas estão bem

Governo não tem uma articulação política e uma base capazes de estabelecer um cronograma de votações

O primeiro mês do ano legislativo de 2020 termina nos próximos dias sem um avanço relevante nas pautas prioritárias e significativas para o governo de Jair Bolsonaro.

Fevereiro foi perdido. Um desperdício de precioso tempo em ano de eleição municipal, quando o Congresso trabalha apenas nos primeiros meses para retornar em novembro, após os resultados das urnas.

A tão esperada reforma administrativa virou lenda na Esplanada. Depois de até ensaiar uma desistência da proposta, o governo parece que enfim deve enviá-la ao Parlamento. Pelo menos Bolsonaro tem dito isso nos últimos dias —se é que é possível levar a sério qualquer coisa que diga.

O Congresso pretende iniciar em março as reuniões da comissão mista da reforma tributária, outro ponto essencial da agenda econômica do ministro Paulo Guedes (Economia).

Enquanto Câmara e Senado duelam pelo protagonismo da tramitação das medidas, o Planalto, sob pressão de setores empresariais, não desce do muro e mantém mistério sobre o que realmente vai sugerir.

Ganha um pacote de confete e serpentina no Carnaval quem disser quando será aprovada a PEC Emergencial, que trata dos gastos públicos. É mais um item da lista de Guedes que dificilmente será votado com o calendário apertado de 2020.

Nada disso seria preocupante se o governo tivesse uma articulação política decente com os partidos e uma base de apoio capazes de estabelecer um cronograma de votações para garantir a aprovação de pontos essenciais de temas aqui citados.

Bolsonaro está cercado no Planalto de militares sem traquejo político. O general Luiz Ramos, responsável pela relação com o Congresso, não tem ideia do que faz no posto. Seu colega Augusto Heleno (GSI) agrediu e ofendeu o Parlamento na crise sobre o Orçamento impositivo.

No fim de semana, Bolsonaro publicou lives no Guarujá sendo abraçado por populares. Quer passar a sensação de que tem respaldo e as coisas estão bem. Uma ilusão carnavalesca que vai custar caro ao país.


Leandro Colon: Caso Secom é hora da verdade para Comissão de Ética da Presidência

Se a comissão topar manobra de Wajngarten e aplicar inútil advertência, é melhor deixar de existir

A Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência, deve discutir nesta terça-feira (18) o caso de conflito de interesses, revelado pela Folha, envolvendo o chefe da Secom do Planalto, Fabio Wajngarten.

Investigado pela Polícia Federal sob suspeita de corrupção, peculato e advocacia administrativa, Wajngarten aposta em um salvo-conduto do colegiado para estancar o desgaste que vem sofrendo no cargo.

Criada em 1999, a comissão teve poucos efeitos práticos até agora. É um órgão consultivo, sem poder para demitir servidores que corrompam princípios éticos. No máximo, recomenda a exoneração ou aplica uma advertência. Não pune para valer.

Até hoje, por exemplo, apenas um ministro foi alvo do pedido de demissão: Carlos Lupi, no governo de Dilma Rousseff, em 2011, pelas relações promíscuas de ONGs ligadas ao PDT, seu partido, e a pasta que comandava, o Ministério do Trabalho.

Como mostrou este jornal, Wajngarten, ao assumir a chefia da Secom de Jair Bolsonaro, omitiu da comissão da Presidência que era sócio de uma empresa que mantém contratos há anos com emissoras de televisão e agências de publicidade contratadas pelo governo com verbas destinadas pela própria Secom.

A lei 12.813, do conflito entre interesses público e privado, proíbe o servidor de exercer atividade que implique “a prestação de serviços ou a manutenção de relação de negócio com pessoa física ou jurídica que tenha interesse em decisão dele ou de colegiado do qual participe”.

Se não bastasse a omissão dos negócios fora do Planalto, Wajngarten fez uma proposta estapafúrdia à comissão: transferir à sua mulher a empresa da qual tem 95% das cotas.

Hoje, o chefe da Secom distribui verba do governo para seus clientes. Com a mudança sugerida, mandará dinheiro para clientes da própria mulher. O conflito de interesses continua. Por que Wajngarten não rompe seus contratos privados com as emissoras? Se a comissão topar a manobra e ainda aplicar uma inútil advertência, é melhor deixar de existir.

*Leandro Colon, Diretor da Sucursal de Brasília,


Leandro Colon: Com morte de miliciano, perguntas sobre família Bolsonaro podem ficar sem respostas

Sobram pontos de interrogação sobre o envolvimento do clã com Adriano da Nóbrega

A morte do ex-PM Adriano da Nóbrega, apontado como chefe de uma das principais milícias do Rio, pode deixar sem respostas uma série de perguntas sobre suas relações nebulosas com a família Bolsonaro.

A prisão de um dos homens mais procurados do país era importante para esclarecer o esquema das "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, nos tempos de deputado na Assembleia do Rio.

Hoje senador, Flávio empregou até novembro de 2018 a mãe e a mulher de Nóbrega. Na época da exoneração, cada uma ganhava um salário de R$ 6.490,35. A mãe do miliciano, Raimunda, repassou dinheiro para Fabrício Queiroz, policial aposentado e homem de confiança dos Bolsonaros há mais de 30 anos.

Queiroz recebeu R$ 92 mil em 18 depósitos feitos em uma agência próxima a um restaurante de Raimunda e na mesma rua onde seu filho também tinha negócio. Segundo o Ministério Público, contas controladas por Nóbrega abasteciam Queiroz.

As autoridades investigam Flávio e Queiroz pela suspeita de integrarem um esquema de lavagem e ocultação de bens. Funcionários do gabinete de Flávio repassariam parte dos seus salários ao policial aposentado.

Sobram pontos de interrogação sobre o envolvimento da família Bolsonaro com o miliciano. Em 2005, por exemplo, então deputado federal, Jair Bolsonaro usou a tribuna para elogiar Adriano da Nóbrega e criticar as acusações de dentro da polícia contra ele.

Segundo Bolsonaro, Nóbrega era um "brilhante oficial" e estava sendo injustiçado em um caso de homícidio de um guardador de carro.

Como deputado estadual, Flávio homenageou o ex-PM duas vezes. Em 2003, disse que o hoje miliciano morto desenvolvia sua função pública com "dedicação, brilhantismo e galhardia". Dois anos depois, concedeu a ele a Medalha Tiradentes.

Até ser morto neste domingo em uma cidade da Bahia, o foragido Nóbrega era acusado de ligação com homicídios e de comandar a milícia de Rio das Pedras. É também suspeito de ligação com a morte de Marielle Franco.

Por que Flávio exaltava tanto o ex-policial e empregava seus parentes? O que levou Jair Bolsonaro a gastar tempo na tribuna para defendê-lo com tanta garra? Por que a mãe do miliciano mandou dinheiro para Queiroz?

Com a morte de Nóbrega, essas perguntas podem nunca mais serem respondidas.

*Leandro Colon, Diretor da Sucursal de Brasília,


Leandro Colon: Os Brasis delirantes de Lula e Bolsonaro

O Brasil do ex-presidente parece tão ou mais surreal do que o de Bolsonaro

Há pelo menos três Brasis em andamento. Um de Jair Bolsonaro, outro de Luiz Inácio Lula da Silva e um Brasil mais real, sem os delírios bolsonaristas nem lulistas.

No Brasil de Bolsonaro, nada do que a imprensa faz presta, tudo não passa de perseguição a um governo perfeito. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, é um exemplo de gestor, e o Enem, um sucesso —só está sob ameaça de sabotagem.

Nesse Brasil, não há conflito de interesse no fato de o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, receber dinheiro de emissoras de TV e agências que levam verba da própria Secom.

E qual o problema em ter trabalhando na Esplanada o ministro do Turismo denunciado por corrupção eleitoral? Para Bolsonaro, nenhum.

Readmitir um assessor que pegou um voo exclusivo da FAB para a Índia seria ok nesse país bolsonarista, se não fosse a reação imediata dos veículos de comunicação, ao noticiar a manobra do Planalto, e das redes sociais, repudiando a renomeação de Vicente Santini na Casa Civil.

O Brasil do ex-presidente Lula parece tão ou mais surreal do que o de Bolsonaro. Enquanto o país precisa de uma oposição serena e construtiva, para contradizer um governo  caótico e ineficaz, Lula vive em um mundo de conluios e conspiratas.

Como bem mostrou a Folha neste fim de semana, o petista acumula declarações falsas e distorcidas desde que saiu da prisão, em novembro.

A sensação é a de que Lula fala sem preocupação com a precisão do que diz. O blá-blá-blá talvez seja intencional. Ele despreza a imprensa e insiste na narrativa sem pé nem cabeça de que um complô americano atuou na Petrobras para desgastar o PT.

Como se o seu governo e o de Dilma não tivessem entregue a estatal a petistas e peemedebistas, entre eles o presidiário Eduardo Cunha, para tomar de assalto os seus cofres.

O Congresso retorna hoje com uma agenda econômica de interesse do país. Bolsonaro continua sem uma base de apoio. A sorte dele é que a oposição, que tem o PT de Lula como principal força, nem faz cócegas.

Leandro Colon é diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.


Leandro Colon: Weintraub já estaria fora do MEC se houvesse meritocracia no governo

O ministro mais falastrão é o que transformou a pasta em palco de ineficiência

O discurso de que a meritocracia seria um pilar do governo Bolsonaro tem falhado no Ministério da Educação, uma das pastas mais importantes da Esplanada.

Faltam argumentos defensáveis em relação à gestão de Abraham Weintraub. Se o critério de meritocracia fosse sério, ele já teria sido demitido do cargo. O ministro mais falastrão é também o que transformou o MEC em um palco de ineficiência.

Os graves erros na correção das notas do Enem e as falhas no Sisu mancham um exame nacional que se consolidou, ao longo dos anos, como a ferramenta de ingresso de jovens nas universidades federais.

No ano passado, foram 5,1 milhões de inscritos na prova. Apenas 11,5% deles tinham acima de 30 anos. Dos participantes, 2,8 milhões foram isentos de pagar a taxa de inscrição devido a critérios de baixa renda.

O Enem é realizado, portanto, por uma maioria de jovens de famílias pobres que encontram no exame uma chance de ascensão profissional e, sobretudo, social. O governo não tem o direito de falhar com eles.

Ações judiciais foram protocoladas em resposta aos problemas. Além do susto e da frustração em receber notas erradas, o estudante se deparou com o acesso ineficaz ao Sisu.

Algumas liminares obrigaram o governo a revisar notas de inscritos. Decisão da Justiça Federal barrou a divulgação do resultado da seleção.

No dia 18, após surgirem as primeiras inconsistências no Enem, Weintraub publicou um vídeo tocando gaita ao lado do irmão Arthur, assessor especial do Palácio do Planalto.

Enquanto sua gestão é um vexame, o ministro da Educação gasta tempo com gaita, stand-up comedy de guarda-chuva, ataques à imprensa e retóricas ideológicas nas redes.

Jair Bolsonaro até agora não se manifestou sobre a bagunça no MEC. A crise não é sobre uma declaração polêmica ou um gesto de viés autoritário, episódios comuns no governo.

Desta vez, trata-se de algo que mexe com os sonhos de milhões de pessoas que apostam no Enem como a maior oportunidade de realizá-los.


Leandro Colon: Além de ministro denunciado, governo agora tem assessor em conflito de interesse

Presidente reage sob pressão; caso contrário, barco segue, como nos casos do Turismo e da Secom

As redes sociais amanheceram em chamas na sexta (17) com o nefasto vídeo de Roberto Alvim, então secretário de Cultura do governo, copiando discurso nazista.

Autoridades do Legislativo e do Judiciário repudiaram logo cedo. O mundo político, de esquerda e de direita, se manifestou imediatamente.

Por volta das 10h, a assessoria da Presidência informou por escrito que não comentaria. Somente minutos depois das 13h, Jair Bolsonaro anunciou a demissão de Alvim.

Ele titubeou em mandar embora quem, um dia antes, chamara de “secretário de verdade”. A demissão ocorreu mais em razão da cobrança de outros Poderes do que pela convicção do presidente de que não havia outro caminho a tomar. Bolsonaro só reage sob pressão política. Se demora a chegar, o barco segue.

Alvim, por exemplo, era subordinado ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado pela PF e denunciado à Justiça pelo envolvimento no esquema de laranjas do PSL, uma falcatrua com verba eleitoral. Por ora, para Bolsonaro, é como se nada tivesse acontecido.

Ele diz que pretende manter no posto o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, flagrado pela Folha em um conflito de interesse explícito: gerencia as verbas destinadas a emissoras e agências que possuem contrato com uma empresa dele, a FW.

Não importa se Wajngarten se afastou da gestão da FW, tampouco se foram ou não ampliados os contratos de sua firma desde que assumiu o cargo de confiança em abril de 2019.

Fato é que o chefe da Secom tem negócios em andamento com empresas que dependem de sua caneta para receber milhões de dinheiro público. Aliás, antes de assumir a secretaria, ele informou o Planalto dessa relação comercial?

Foram 67 encontros do assessor de Bolsonaro com seus clientes em pleno exercício de um dos cargos mais estratégicos do governo federal. Assim como no caso do titular do Turismo, o presidente ignora dados concretos e prefere culpar a imprensa pelos malfeitos de sua equipe.


Leandro Colon: O pobre espera a sua vez no governo Bolsonaro

O combate à pobreza é uma incógnita na Esplanada. Não se sabe qual a estratégia de Bolsonaro

O governo Bolsonaro se preocupa com os mais pobres? Tem políticas públicas para diminuir a miséria? Pensa em medidas para reduzir a desigualdade social?

Passado um ano de gestão, a única certeza é que, até agora, o Palácio do Planalto não contou o que quer e pretende fazer. O combate à pobreza é uma incógnita na Esplanada.

O presidente Jair Bolsonaro gastou, nos seus primeiros 12 meses, tempo com bobagens ideológicas nas redes sociais e vocabulário para atacar adversários e jornalistas.

A economia, de fato, deu passos (ainda que curtos) de retomada. No entanto, pouco se sabe qual a estratégia para aqueles que mais precisam de dinheiro e comida na mesa.

Bolsonaro não quer vincular seu governo de direita aos programas sociais da era petista, de esquerda, mas ele não apresenta alternativas. Como mostrou a Folha recentemente, os projetos estão empacados.

Contribuem para essa explícita falta de rumo as divergências entre as alas política e econômica do governo.

O Bolsa Família, principal bandeira social dos períodos de Lula e Dilma, é o maior exemplo. O programa de renda atinge sobretudo Norte e Nordeste, regiões em que Bolsonaro não esbanja popularidade.

O Planalto teve que se virar nos 30 para pagar a 13ª parcela prometida em campanha eleitoral. Tirou recursos das aposentadorias e pensões para tapar o buraco e evitar que as pessoas mais necessitadas ficassem sem o dinheiro no fim do ano.

Ao mesmo tempo, tenta arrancar do papel o que diz ser a reformulação do Bolsa Família. E aí surge outro problema. Uma ideia seria focar em aumento para os brasileiros em situação de extrema pobreza, que representam dois terços dos 13 milhões de famílias que hoje são atendidas.

Apoiado pelo núcleo político, o novo programa pode custar mais R$ 16 bilhões aos cofres públicos. A equipe econômica, sob a batuta do ministro Paulo Guedes, resiste ao plano.

Não está claro quando (e se) o governo vai anunciar as mudanças. E o pobre continua esperando a sua vez.


Leandro Colon: Ameaça a Bolsonaro em 2022 tem gabinete na Esplanada

Datafolha mostrou que Moro é a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam

O presidente Jair Bolsonaro começou 2020 sem surpreender. Soltou nos primeiros dias do ano frases desconexas, como a do “montão de amontado de muita coisa escrita” nos livros didáticos, e apoiou desnecessariamente o ataque dos EUA que matou um líder militar iraniano.

No sábado (4), passou 55 minutos em uma live em rede social. Falou de assuntos diversos e transpareceu o que tende a ser sua obsessão a partir deste segundo ano de governo: pavimentar o caminho para disputar a reeleição ao Planalto em 2022.

“Tem alguma liderança hoje em dia para 22? Me respondam. Não tem, não tem. Nenhuma liderança sólida para 22”, disse. “Às vezes o cara é muito bom. Aí você vai ver, é bom para ganhar o voto, mas vai chegar na hora e não vai funcionar”, afirmou.

Bolsonaro negará a intenção, porém não é um despropósito vincular as frases acima ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Ao dizer que não há um nome sólido para 2022, o presidente não considera que o ex-juiz da Lava Jato esteja pronto para sucedê-lo, apesar da popularidade alta, inclusive acima da do próprio chefe da República, segundo o mais recente Datafolha, e de ser um ministro conhecido por 93% dos brasileiros.

Assim como também declara que alguém com potencial de voto, como Moro indica ser, pode não dar certo.

O mesmo Datafolha mostrou neste domingo (5) que o ministro da Justiça é a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam entre 12 figuras do cenário político. Ele supera nomes pesos-pesados, como Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT).

Após a divulgação da pesquisa, com Brasília sob uma garoa chata e ininterrupta, Bolsonaro foi dar uma volta na Esplanada. Rezou na catedral, abraçou e tirou fotos com populares e brincou com crianças.

Logo depois, publicou as imagens em suas páginas. Assim foi também durante a estadia na base naval de Aratu, na véspera do Ano-Novo. O presidente sabe que hoje a maior ameaça à sua candidatura em 2022 não está no campo da esquerda, mas em um gabinete na Esplanada.


Leandro Colon: Por que aprovar ou não o STF?

Diferentemente de outros poderes, o Judiciário não cumpre mandato oriundo das urnas

Pesquisa do Datafolha mostrou que 39% dos brasileiros reprovam o STF (Supremo Tribunal Federal). Para essa parte da população, a atuação da corte é ruim ou péssima.

Foi a primeira vez que o instituto fez essa pesquisa, o que impede a comparação da evolução da satisfação nacional com o Supremo.

Diferentemente dos Poderes Legislativo e Executivo, o Judiciário não cumpre um mandato oriundo dos votos das urnas. Segundo o Datafolha, 45% reprovam o Congresso e 36%, o presidente Jair Bolsonaro.

Um cidadão tem o direito de cobrar o deputado e o senador que recebeu sua confiança na eleição, assim como um presidente, um governador ou um prefeito de sua cidade.

O que faz alguém aprovar ou rejeitar o STF? O desejo de que vote de acordo com suas convicções pessoais? O Supremo deveria julgar levando em conta anseios populares?

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, tratou deste assunto em entrevista concedida no estúdio da Folha e do UOL em Brasília. A conversa, publicada no fim de semana, ocorreu antes da divulgação do Datafolha.

Para Barroso, embora o papel da corte seja, sobretudo, interpretar a Constituição, não há como fazê-lo, segundo suas palavras, num “vácuo”.

“A Constituição deve ser interpretada de acordo com os interesses da sociedade. Isso é diferente de opinião pública, que é passional. Uma vez filtrado o sentimento social pela Constituição, se passar, o Supremo fará muito bem em atendê-lo”, disse.

Ministros divergem de Barroso, entre eles Marco Aurélio Mello, que já criticou movimentos do tribunal decorrentes de pressões vindas de fora.

Em entrevista a este jornal, Sergio Moro (ministro da Justiça) culpou o STF pela percepção ruim das ruas sobre o combate à corrupção pelo governo. Para ele, a decisão contra a prisão de condenados em segunda instância foi crucial para isso.

Fato é que desde o julgamento do mensalão, em 2012, o STF tem se aproximado mais dos brasileiros. Mas nenhum dos lados ainda entendeu direito o papel do outro.


 Leandro Colon: Alcolumbre apoia manobra casuística para ficar no poder

Seria saudável se mudança na Constituição fosse feita com o compromisso de que só valerá para os próximos presidentes

Eleito presidente do Senado em fevereiro, ao derrotar Renan Calheiros (MDB-AL), David Alcolumbre (DEM-AP) assumiu com a promessa de mudar os ares da Casa.

Em seu primeiro discurso, falou em "construção de um novo Senado". Na última sexta-feira (20), Alcolumbre demonstrou que velhas práticas da política nunca saíram de cena.

O senador confirmou o movimento para mudar a Constituição e permitir que ele, Alcolumbre, dispute a reeleição em fevereiro de 2021 para continuar à frente da Casa. "Se alguém quiser trabalhar, a gente não pode atrapalhar as pessoas", disse.

Ele continuou: "Se Deus continuar me dando saúde e eu continuar tendo uma postura compatível com o que a maioria compreende que é o certo, se alguém levantar esta possibilidade, vou estar à disposição".

A Constituição proíbe hoje a reeleição para as presidências da Câmara e do Senado dentro da mesma legislatura. Alcolumbre diz que estará à disposição se "alguém quiser trabalhar" para mexer na regra.

Ou seja, ele quer que a Constituição seja alterada para favorecê-lo. Nada mais casuístico. E a tentativa de manobra não é nova. Em 2004, os então presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT), e do Senado, José Sarney (MDB), tentaram aprovar uma emenda à Constituição para serem reeleitos no ano seguinte.

A mudança tinha o apoio do então presidente Lula, e articulação de José Dirceu, que chefiava a Casa Civil. Ambos queriam os aliados Cunha e Sarney na direção do Congresso.

Faltaram apenas cinco votos de deputados para a proposta passar. A emenda foi rejeitada em maio de 2004. Renan assumiu o Senado e a zebra Severino Cavalcanti venceu a dura disputa pela Câmara em 2005.

Mais de 15 anos depois, o cheiro de nova manobra percorre os corredores do Congresso. Seria saudável se a discussão fosse feita com o compromisso de que só valerá para os próximos presidentes, sem beneficiar Alcolumbre e muito menos Rodrigo Maia, que pode ir para seu quarto mandato no comando da Câmara.


Leandro Colon: Weintraub não deixará saudades se deixar o MEC

Apenas 32% dos brasileiros sabem quem é o chefe da pasta da Educação do governo Bolsonaro

Tudo indica que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é peça a ser em breve descartada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Weintraub foi chamado para estancar uma crise interna com o primeiro escolhido para a pasta, o até então desconhecido Ricardo Vélez.

O que era para ser uma solução virou um problema. Weintraub revelou-se um caos administrativo, com um comportamento fora dos padrões adequados para um ministro de Estado e da liturgia que o cargo exige. É constrangedora sua presença no primeiro escalão da Esplanada.

Ele acredita que a postura agressiva e errática na bolha das redes sociais é uma fórmula de sucesso com a população. A mais recente pesquisa do Datafolha mostra que o ministro precisa repensar seus conceitos.

Oito meses depois de assumir o comando do MEC, Weintraub é ignorado por dois terços das pessoas.

Apenas 32% dos entrevistados afirmaram saber quem é o chefe da pasta da Educação do governo Bolsonaro. O patamar cai para 23% entre aqueles que ganham até dois salários mínimos. Ou seja, os mais pobres, que necessitam, entre tantas coisas, de uma educação pública e de qualidade, desconhecem o responsável por isso na esfera federal.

Apenas 25% dos jovens entre 16 e 25 anos responderam conhecer o ministro. É justamente a faixa etária dos que têm entre suas prioridades o ingresso no ensino superior.

E somente 17% dessa parcela da população, ciente da existência de Weintraub, avalia como ótima ou boa a performance no MEC. Para 38%, a gestão dele é ruim ou péssima.

O ministro falastrão de Bolsonaro é mais conhecido entre os brasileiros com ensino superior. Segundo a pesquisa, 56% sabem quem é ele, mas 42% desses consideram o desempenho dele ruim ou péssimo, percentual acima dos que que só fizeram ensino médio ou fundamental.

A provável saída de Weintraub do ministério pode ser um sinal positivo para que a área enfim decole no governo Bolsonaro. A população certamente não sentirá saudades dele.