Fortaleza

Bruno Boghossian: Formação de frente contra Bolsonaro surge como experiência em Fortaleza

Associação de candidato com presidente empurrou líderes de PT, PSDB, DEM e PSOL para campanha

A dez dias do primeiro turno, Jair Bolsonaro abriu espaço em sua transmissão nas redes e pediu votos em Capitão Wagner (Pros) para a Prefeitura de Fortaleza. “Parece que é minha segunda cidade do Brasil”, disse o presidente. O candidato chegou ao segundo turno, mas agora enfrenta um consórcio político interessado em derrotar essa aliança.

A disputa na capital cearense exibe os traços de uma experiência para a formação de uma frente antibolsonarista. A associação entre Wagner e o presidente empurrou líderes de siglas como PT, PSDB, DEM e PSOL para a campanha de José Sarto (PDT), candidato de Ciro Gomes.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL) deu o tom dessa coalizão ao declarar apoio a Sarto, na semana passada. “É muito importante derrotar o candidato do ódio, o candidato da mentira, o candidato do medo, o candidato do Bolsonaro”, afirmou o parlamentar, em vídeo que foi divulgado numa página de Ciro.

Na segunda-feira (23), o pedetista levou ao ar em seu programa de TV, manifestações de petistas e de Rodrigo Maia (DEM). “Ninguém governa sozinho”, disse o presidente da Câmara para justificar a participação da sigla na chapa do candidato.

Sarto também exibiu uma declaração do senador cearense Tasso Jereissati (PSDB), que já foi chamado por Ciro de “picareta-mor”. Depois de um longo afastamento, os dois ensaiaram uma reaproximação.

A formação desse tabuleiro carrega as marcas do cenário nacional. Líder de um motim da PM, Wagner rejeita o selo de afilhado de Bolsonaro, mas é um nome identificado com suas bandeiras. O alinhamento parece um mau negócio: 47% dos eleitores de Fortaleza consideram o presidente ruim ou péssimo; 26% dizem que seu governo é ótimo ou bom.

Alianças locais seguem as circunstâncias políticas de cada município, mas a disputa na capital cearense sugere que alguns personagens podem esquecer divergências políticas quando têm objetivos comuns –algo que o próprio Ciro se recusou a fazer no segundo turno de 2018.


José Casado: Fracasso na estreia

Na noite de quarta-feira, dia 2, o presidente, o ministro da Justiça, o governador cearense e seu secretário de Segurança foram dormir avisados sobre episódios de violência nos subúrbios de Fortaleza, onde vivem quatro milhões de pessoas. Acordaram coma confirmação de ataques em série, com o caos disseminado.

Jair Bolsonaro (PSL), 63 anos, e o governador Camilo Santana (PT), 50 anos, estavam diante da primeira crise de governo. Hesitaram.

Adversários, permaneciam reféns de palanque. Bolsonaro ainda rumina a acachapante derrota no Nordeste, imposta pela coalizão do PT com PDT, PC doB, PSB e a fração alagoa nado MD B de Renan Calheiros, ex-presidente do Senado. Só conseguiu um de cada três votos válidos dos eleitores nordestinos.

Reeleito com quase 80% da votação no Ceará, Santana e os governadores do Nordeste se recusam a conversar com Bolsonaro, que costuma evocar a lembrança de Lula preso por corrupção: “O presidente deles está em Curitiba.” Eles boicotaram a posse presidencial.

Presidente e governador achavam-se politicamente protegidos pela distância de 2,2 mil quilômetros. A realidade bateu à porta dos palácios, com aviso sobre o risco de naufrágio no caos da insegurança pública.

Na quinta-feira, o governador Santana relutou em enviar (Ofício GG nº 05) um pedido de socorro ao adversário. Quando receberam, Bolsonaro e o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança) vacilaram por horas em decidira ajuda. A improvisada Força Nacional só chegou ao Ceará no quarto dia de pavor nas ruas, patrocinado por delinquentes presos.

A surpresa de Bolsonaro e de Santana expõe mútuas fragilidades. O governador coleciona fracassos na segurança. O presidente mostrou que a curadoria militar do seu governo sucumbiu na estreia: não tinha informação e nem plano para proteger uma população em perigo.

Os dois políticos se veem inimigos. Ególatras, remam juntos, mas hesitam em se entender sobre a sobrevivência nesse barco chamado Brasil.


Fortaleza e a segurança viária: iniciativas da capital cearense para priorizar a bicicleta

Ao lado de São Paulo, Fortaleza está entre as dez cidades selecionadas em 2015 pela Bloomberg Philanthropies para fazer parte de sua Iniciativa para a Segurança Viária Global. 

Bicicletas de uso gratuito e integradas à rede de transporte coletivo da cidade. A proposta do programa Bicicleta Integrada, lançado em Fortaleza em primeiro de junho, chama a atenção pelo avanço. Pioneiro no país e sem custo para os usuários, o novo sistema foi planejado com o objetivo de integrar dois dos principais modos de transporte sustentável: bicicletas e ônibus.

A capital cearense já contava com o Bicicletar, programa de compartilhamento de bicicletas semelhante aos de outras capitais brasileiras, e agora dá um passo à frente na priorização do modo. Para utilizar as bicicletas do novo programa, basta ter o Bilhete Único, cartão utilizado na cidade, e fazer o cadastro no sistema. Uma vez retirada a bicicleta, o usuário pode permanecer com ela por até 14 horas – o que implica a possibilidade de retirar a bike depois do trabalho, por exemplo, ir para casa com ela, e devolvê-la na manhã seguinte. Além disso, nos fins de semana e feriados, as horas não são computadas, de forma que as bicicletas retiradas a partir das 17h de uma sexta ou véspera de feriado podem ser devolvidas até as 9h do dia útil subsequente.

A estações terão espaço para em média 50 bicicletas cada e serão instaladas em terminais de integração, como é o caso do Terminal da Parangaba, que recebeu a primeira estação inaugurada. O entorno será equipado com as infraestruturas cicloviárias necessárias para o uso das bicicletas, como paraciclos. O novo programa é uma entre as ações previstas no Plano Diretor Cicloviário, lançado pela cidade em setembro de 2015.

Cidade segura

Ao lado de São Paulo, Fortaleza está entre as dez cidades selecionadas em 2015 pela Bloomberg Philanthropies para fazer parte de sua Iniciativa para a Segurança Viária Global. Desde então, a capital cearense vem trabalhando na implementação de uma série de medidas para qualificar e priorizar o transporte ativo e intensificar a segurança viária, a fim de evitar acidentes e salvar vidas no trânsito.

O Plano Cicloviário foi traçado a partir da visão de Fortaleza para o futuro: ser reconhecida como a cidade mais ciclável do Brasil. Para isso, foram estabelecidos metas e prazos e as medidas necessárias para atingi-los. No que diz respeito à malha cicloviária, o objetivo é triplica-la em quatro anos e alcançar a marca de 524 quilômetros de rotas para ciclistas. Atualmente, a cidade conta com 155 quilômetros; até o final do ano, essa extensão deve chegar a 216 quilômetros.

Readequação da infraestrutura cicloviária existente, implantação de bicicletários e paraciclos, ações de educação incentivo e fiscalização e a criação de uma coordenadoria de gestão cicloviária são outros tópicos estabelecidos pelo Plano.

O programa Bicicletar, sistema de compartilhamento de bicicletas convencional da cidade, começou a operar também em 2015. Com 80 estações e quase 900 mil viagens registradas em um ano e meio de operação, o sistema é o mais utilizado do Brasil entre as capitais. Contagens volumétricas nas principais ciclovias também apontaram para o crescente número de ciclistas e a demanda existente por esse tipo de serviço. Assim, todos os domingos, são liberados dez quilômetros de ciclofaixas de lazer, entre as 7h e as 13h, por onde circulam cerca de quatro mil ciclistas.

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Tanto para as bicicletas quanto para a segurança viária de forma mais ampla, o cenário em Fortaleza é promissor. Por meio do Programa de Ações Imediatas de Trânsito e Transportes (PAITT), a cidade também introduziu outras medidas em prol da segurança viária. Já foram implementados 17 prolongamentos de calçadas em pontos estratégicos, nove travessias elevadas, faixas diagonais (duas concluídas, duas em andamento), além de uma área de trânsito calmo na Rua Alexandre Baraúna, compreendendo quatro quarteirões entre as ruas Capitão Francisco Pedro e Papi Júnior, onde o limite de velocidade será de 30 km/h.

Em todo o mundo, cidades tidas como referências no uso da bicicleta como meio de transporte, como Copenhague e Amsterdã, não chegaram aonde estão hoje ao acaso ou de um dia para o outro. São décadas de trabalho, conscientização e implementação de infraestruturas para de fato priorizar o transporte sustentável e transformar o ambiente urbano. Fortaleza já deu início a esse processo. Se o trabalho feito até aqui seguir avançando, podemos esperar uma cidade mais humana, segura e sustentável no futuro.


Por Priscila Pacheco

Matéria publicada no portal The City Fix Brasil.