clima

Brasil na contramão do mundo tem alta de 9,5% nas emissões na pandemia

Desmatamento explica piora no cenário

Emilio Sant’Anna / O Estado de S.Paulo

Mesmo com a pandemia que derrubou a economia do País, e na contramão do mundo, o Brasil teve em 2020 um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa em relação ao ano anterior.  A tendência mundial no ano passado foi de queda de quase 7%. A causa do sinal trocado brasileiro: a alta no desmatamento da Amazônia e do Cerrado, enquanto em países desenvolvidos a redução na poluição esteve ligada a menores atividade industrial e demanda de geração de energia. A fragilização no combate aos crimes ambientais tem feito a gestão Jair Bolsonaro ser alvo de críticas de grupos econômicos, sociais e científicos no Brasil e no exterior. 

Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, que reúne 70 organizações ligadas à área ambiental, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Na próxima semana, começa a 26ª edição da Conferência do Clima (COP-26), em Glasgow, onde o Brasil pretende cobrar dos países desenvolvidos verbas para manter a floresta em pé por aqui.

De acordo com o relatório do Observatório do Clima, as emissões brutas atingiram 2,16 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) no ano passado, ante 1,97 bilhão de toneladas em 2019. Desde 2006, esse é o maior volume de emissões do País. 

Em alta, o desmatamento na Amazônia em 2020 chegou a 10.851 km², segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O SEEG utiliza os dados do consórcio MapBiomas. Os dados apresentam tendências semelhantes: alta na derrubada da floresta, que ocorre em meio ao avanço da grilagem de terras, do garimpo ilegal e da extração irregular de madeira.


previous arrow
next arrow
 
previous arrow
next arrow

As 782 milhões de toneladas de CO2e. emitidas no ano passado na Amazônia pelas mudanças no uso do solo fazem que a floresta sozinha seja uma das maiores fontes de emissão do planeta. Se fosse um país, seria o 9º maior emissor do mundo à frente, por exemplo, da Alemanha. Se somadas às 113 milhões de toneladas de CO2e lançadas na atmosfera a partir do Cerrado, os dois biomas juntos poderiam ser o 8º país com a maior emissão entre todos.

Ou seja, em um ano em que a economia brasileira teve queda de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB), as emissões do País cresceram e a maior parte delas foi decorrente de uma atividade ilegal e que não gera nenhum tipo de riqueza para o Brasil. Pior: no geral, as emissões que de fato criam renda (como a agropecuária e a indústria) estão gerando menos, afetadas pela pandemia e o aumento do desmate na Amazônia e no Cerrado. Em 2019 o País gerava US$ 1.199 por tonelada de CO2e emitida, esse valor caiu para US$ 1.050 em 2020.

Em relação às emissões globais, o Brasil é o 5º entre os maiores poluidores, com cerca de 3,2% do total mundial, atrás apenas de China, Estados Unidos, Rússia e Índia. O impacto do desmatamento nessa conta é tão grande que distorce até mesmo a média de emissão per capita e coloca o brasileiro em situação pior do que a média do resto do mundo. Em 2020, a média de emissão de CO2 por brasileiro foi de 10,2 toneladas brutas, ante 6,7 da média mundial.

Dos cinco setores da economia responsáveis pela quase totalidade das emissões do Brasil, três tiveram alta (mudanças no uso da terra, agricultura, setor de resíduos), um teve queda (energia) e um permaneceu estável (processos industriais). A aceleração da crise econômica sobre o Brasil, impulsionada pela pandemia, fez com que as emissões do setor de energia regressassem para os níveis de 2011. As mudanças do uso da terra, no entanto, foram responsáveis por lançar na atmosfera 23,6% a mais, em relação a 2019, gases de efeito estufa. 

Assim como nos anos anteriores, as mudanças de uso da terra foram responsáveis pela maior fatia das emissões no Brasil: 46% do total bruto, o que representa 998 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2 e). Quando o parâmetro são as emissões líquidas (descontando as remoções, ou carbono sequestrado, por florestas secundárias, áreas protegidas e terras indígenas), esse índice cai para 24%, ou 362 MtCO2 e.

Ainda em relação às emissões brutas, a agropecuária é a segunda maior fonte: 27%, o setor de energia, com 18%, e os processos industriais, com 5% do total  aparecem na sequência.

O SEEG foi criado em 2012 atendendo a uma determinação da Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC). O decreto que regulamenta a PNMC estabeleceu que o Brasil deveria produzir estimativas anuais - o que nunca foi feito pelo governo federal. Os inventários nacionais são publicados apenas a cada cinco anos. 

Organizações processam governo por meta climática insuficiente

O Observatório do Clima protocolou na quinta-feira, 26, uma ação civil pública na Justiça Federal do Amazonas contra a União e o Ministério do Meio Ambiente, para cobrar a atualização do Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que o Brasil foi o país que mais recuou em suas metas de cortes de emissões de gases de efeito estuda entre as principais economias do planeta. 

O afrouxamento da meta do Brasil é fruto de alteração na base de emissões calculadas em 2005, de onde se devia partir para chegar a uma redução de 43% de corte dos gases de efeito estufa até o início da próxima década. Se o ponto de partida das emissões fica maior, o limite de gases sobe, ainda que a meta de corte mantenha a mesma proporção.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-emissoes-gases-efeito-estufa-desmatamento,70003882541


El País: Clima e a lei mais urgente do mundo

A palavra “clima” não aparece na Constituição Federal brasileira

Carlota Aquino e Paula Johns / El País

O Conselho de Direitos Humanos da ONU reconheceu, no começo de outubro, que ter o meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano fundamental. Com a decisão, o Conselho pediu aos Estados em todo mundo que trabalhem em conjunto e com outros parceiros para implementar esse novo direito reconhecido. No Brasil, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado já consta da nossa Lei Maior. Todavia, o desafio da questão climática ainda não aparece nela de forma explícita.

Também este mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que as mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde da humanidade. No mesmo dia, um artigo publicado na Nature Climate Change revelou que 85% da população já são afetados por mudanças climáticas induzidas pelo ser humano. O 6o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU, lançado em agosto passado, foi ainda mais alarmante em relação ao fato de que as mudanças do clima e seus impactos já estão afetando a todos em todo o planeta.

Embora as alterações do clima sejam a maior ameaça ambiental atualmente e o Governo possa fazer muito para garantir a segurança climática dos cidadãos, a palavra “clima” não aparece na Constituição Federal. Explica-se: a Constituição é de 1988 e a convenção de mudança climática foi assinada quatro anos depois, na Rio 92. Isso não significa que seja aceitável: essa ausência permite que Governos atuem contra o melhor interesse de seus cidadãos neste tema —como, por exemplo, no fraco combate ao desmatamento, que não só turbina as emissões nacionais de gases de efeito estufa, como já está afetando o regime hídrico do qual dependem nossa segurança energética, hídrica e alimentar. Para piorar, atividades econômicas altamente emissoras de gases do efeito estufa e nocivas à saúde ainda recebem muitos incentivos fiscais.

Mais informações: ONU diz que países devem dobrar metas climáticas para evitar “catástrofe”

Os compromissos que o Brasil assumiu sob o Acordo climático de Paris —nossa NDC— nos colocam no caminho de um aumento médio da temperatura global de 2,5ºC a 3,0ºC até o fim do século, o que exporia o país a impactos gravíssimos. Alguns deles já começam a ser sentidos porque estamos muito perto do limite de 1,5C, que poderá ser ultrapassado já na próxima década. Isso significa que teremos secas mais frequentes e severas. A maior irregularidade e redução da pluviosidade afeta diretamente os reservatórios que abastecem o país de água e energia elétrica. A água é também um insumo estratégico para a agropecuária. E afeta a todos, mas sobremaneira as populações mais carentes das periferias urbanas e rincões rurais que pouco ou nada usufruem de investimentos em adaptações às mudanças do clima.

Ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas trarão sérias consequências para a saúde pública. Há, ainda, o risco apresentado por eventos meteorológicos extremos que causam inundações e deslizamentos. Não raro, as consequências são fatais. Ao longo de nossa extensa costa ficam populosas cidades que vão perder área pela elevação do nível dos oceanos. O aumento da temperatura do mar e as mudanças na salinidade oceânica, por sua vez, afetam a pesca. O aumento do nível do mar afetará a logística dos portos, com impactos sobre o setor de exportações e commodities. Adaptações na infraestrutura serão inevitáveis. Por qualquer ângulo que se olhe, os riscos são consideráveis e não podem mais ser ignorados.

É este o contexto da minuta de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para inserção da segurança climática. Não por acaso, ela está sendo chamada de Lei Mais Urgente do Mundo. Ela propõe a inserção da segurança climática expressamente em três dispositivos estruturantes de nossa Constituição: no artigo 5º —cláusula pétrea, como Direito Humano Fundamental; no artigo 170 – princípio da Ordem Econômica e Financeira Nacional; e no artigo 225— núcleo essencial do Direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado.

O objetivo é assegurar que o Estado brasileiro, independentemente do Governo vigente, trabalhe para mitigar o risco climático. Ao ser integrada à Constituição, nos três pilares citados, servirá também para salvaguardar o país e seus biomas dos desmandos de governantes, Presidentes e ministros do Meio Ambiente eventualmente adversos ao tema e à preservação, como tivemos nos anos mais recentes, e ainda vemos no momento atual.

Em um assunto que infelizmente sofre com a radicalização dos extremos ideológicos, é auspicioso que esta proposta tenha sido desenvolvida por um grupo de deputados membros da Frente Parlamentar Ambientalista, mas também de diversos campos políticos da direita à esquerda, com o apoio da sociedade civil, ambientalistas e pesquisadores. Mais de 100 deputados já apoiam sua tramitação, mas ainda precisamos de mais 71 para que passe a tramitar formalmente pela Câmara. No Senado, PEC similar infelizmente está paralisada na Comissão de Constituição e Justiça (PEC 233/2019).

Às vésperas da Conferência do Clima, é urgente que o Congresso Nacional paute a votação da lei que impõe ao Estado brasileiro a garantia da segurança climática aos seus cidadãos e ecossistemas, ao lado de outros direitos fundamentais, como o direito à vida, à dignidade da pessoa e à saúde. Sem um clima seguro, não há meio ambiente ecologicamente equilibrado, saúde e vida digna.

Carlota Aquino é diretora executiva do IDEC-Instituto de Defesa do Consumidor

Paula Johns é diretora geral da ACT Promoção da Saúde

Fonte: El País
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-10-26/a-lei-mais-urgente-do-mundo.html


Atuais promessas de emissões resultam em aumento de 2,7 ºC, alerta ONU

Promessas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa deveriam ser sete vezes maiores, diz ONU

DW Brasil

A poucos dias da COP26, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que os novos compromissos da comunidade internacional são insuficientes para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, que podem causar neste século uma elevação da temperatura do planeta em 2,7 ºC em relação à era pré-industrial – quase o dobro da meta de 1,5 ºC.

O alerta consta no Emissions Gap Report de 2021, publicado nesta terça-feira (26/10) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) cinco dias antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) – principal fórum político para enfrentar o crise climática –, em Glasgow, Escócia.

"A fim de ter uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, temos oito anos para reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa. O relógio está correndo ruidosamente", enfatizou a diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, após a divulgação do relatório, intitulado The heat is on  (O aquecimento está ligado).

Segundo o documento, que está em sua 12ª edição, as emissões previstas por 120 países e as medidas de mitigação anunciadas ainda são insuficientes para atingir o objetivo traçado pelo Acordo de Paris de 2015: limitar a menos de 2 ºC (idealmente, a 1,5 ºC) o aumento da temperatura em relação ao período pré-industrial.

Para atingir esse objetivo, seria necessária uma redução anual adicional, acima dos compromissos atuais, de 28 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (medida cuja sigla em inglês é GtCO2e, usada para quantificar a massa dos gases-estufa a partir de seu potencial de aquecimento).

Emissões reais bem longe do ideal

Porém o relatório estima que, na taxa atual, as emissões globais anuais serão de cerca de 60 gigatoneladas de GtCO2e em 2021. Diante desse cenário, os compromissos assumidos por 49 países, em conjunto com a União Europeia, para chegar a um estado de neutralidade de carbono – zero emissões líquidas de CO2 – poderiam fazer "uma grande diferença" e reduzir o aquecimento global em mais 0,5 ºC.

No entanto, os planos atuais são "muito ambíguos" e não estão refletidos na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), um documento apresentado por cada país, contendo as emissões e políticas esperadas.

O Pnuma destaca ainda a necessidade de reduzir as emissões de metano – o segundo gás de efeito estufa que mais contribui para o aquecimento global –, já que os compromissos atuais resultariam em apenas um terço da redução necessária para atingir a meta de 1,5 ºC. O relatório compara, ainda, as reduções de emissões reais com as necessárias para desacelerar o aquecimento global.

Antecipando a reunião de duas semanas que começa em Glasgow, na Escócia, no domingo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que as concentrações de gases-estufa atingiram um recorde em 2020 e que o mundo está "bem longe" de conter o aumento das temperaturas.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/atuais-promessas-de-emiss%C3%B5es-resultam-em-aumento-de-27-%C2%BAc-alerta-onu/a-59632993


Elio Gaspari: O caminho do vexame em Glasgow

Se o Itamaraty cuidar, ele será evitado

Elio Gaspari / O Globo

Faltam três dias para a ida de Jair Bolsonaro à reunião do G-20 de Roma e mais um para o começo, no domingo, da reunião da ONU sobre mudanças climáticas, a COP-26. Se a conduta das delegações brasileiras for conduzida por profissionais do Itamaraty, será possível evitar que o Brasil saia satanizado de Glasgow. Se a orientação sair da copa do presidente Bolsonaro, arma-se um vexame. Essa preocupação é legítima quando se sabe que, em setembro, a copa do Alvorada deu o tom do discurso pedestre do capitão na abertura da Assembleia Geral da ONU.

A entrega da chefia da delegação brasileira ao ministro Joaquim Leite, do Meio Ambiente, foi um mau sinal. Não só pelo currículo e pela falta de experiência dele em assembleias internacionais, mas também pelo desconhecimento dos antecedentes históricos da encrenca em que se meteu. Ele disse que a proposta da Comissão Europeia de criar uma taxa de carbono sobre produtos importados seria “uma forma de proteger as indústrias europeias de concorrentes estrangeiros que não cumprem os mesmos padrões de redução das emissões de gases de efeito estufa”.

Traduzindo: os europeus usam a proteção ao meio ambiente para proteger suas economias. Essa ideia é compartilhada pelo ministro da Economia, doutor Paulo Guedes. Vá lá que haja um fator econômico na querela. Mesmo assim, acreditar que a preocupação mundial com o clima seja um joguinho de papeleiros “revela um despreparo enorme”, para usar uma expressão do próprio Guedes detonando a fantasia de um Plano Marshall diante da Covid-19.

O pelotão palaciano viajou no tempo para escorregar numa casca de banana do século XIX. Quando o Império defendia a escravidão e o contrabando negreiro, argumentava, quase em surdina, que o abolicionismo era um ardil dos ingleses para proteger sua produção. Em benefício da elite da época, esse argumento nunca foi vocalizado por ministros. O Barão de Penedo, embaixador em Londres, nunca disse essas tolices por lá.

Passou o tempo e, novamente em surdina, a ditadura dizia que a política de defesa dos direitos humanos do presidente Jimmy Carter era uma nova face do imperialismo americano.

Omitiam-se dois fatos essenciais: o Império assentava-se na escravidão, e a ditadura amparava-se na tortura. Hoje, tenta-se embaralhar a questão climática reciclando a ignorância. É perda de tempo porque, salvo na cabeça dos agrotrogloditas, as queimadas da Amazônia estão na agenda do mundo.

Se o Brasil for para a reunião do G-20 de Roma e para Glasgow oferecendo um vago projeto verde, falando em protecionismo e cobrando recursos dos países ricos, pagará um mico. Em situações semelhantes, defendendo posições escalafobéticas, a diplomacia brasileira soube deixar o país fora da vitrine. Foi assim quando defendeu a insana política de reserva de mercado na informática, aquela que proibia a importação de computadores. Depois de um surto nacionalista, deixou o Acordo Nuclear com a Alemanha ir para a sepultura sem muxoxos.

Um presidente que não toma vacina e divulga a mentira de que ela provoca reações letais pode ser um ícone para seus convertidos, mas suas ideias em relação ao meio ambiente não são produto de exportação.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/opiniao/o-caminho-do-vexame-em-glasgow-1-25252788


WRI Brasil: 4 questões essenciais definirão o sucesso da COP26

COP26 precisa reconstruir a confiança de que a ação global pode resolver desafios da humanidade

WRI Brasil

Depois do relatório preocupante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em meio a meses de eventos climáticos extremos sem precedentes e com impactos devastadores, governos e outros atores devem ir a Glasgow determinados a reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE) ainda nesta década e a enfrentar os impactos climáticos presenciados em todo o mundo.

Atual situação da ação climática

O mundo tem feito avanços importantes na luta contra as mudanças climáticas. A transição para veículos elétricos, por exemplo, tem acelerado rapidamente, o uso de energia renovável tem crescido de forma exponencial, algumas nações apresentaram metas ambiciosas de redução de emissões para 2030 e muitos países e empresas têm se unido em busca de metas ambiciosas de emissões líquidas zero.

Ao mesmo tempo, os atuais compromissos climáticos nacionais (ou NDCs, sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) ainda não são suficientes para que o planeta não ultrapasse o limite de 1,5°C de aquecimento. E os países mais vulneráveis ​​ao clima não estão recebendo o apoio que precisam para proteger as florestas, adotar o uso de energia mais limpa ou se proteger melhor dos impactos do clima.

Durante ou antes da Cúpula dos Líderes Mundiais, que acontece nos primeiros dois dias da COP26, os chefes de estado precisam chegar a um nível ainda maior de comprometimento – especialmente aqueles entre os grandes emissores e que ainda não aumentaram suas metas de redução de emissões ou de financiamento. As negociações formais devem fornecer uma trajetória bem definida para preencher as lacunas ainda abertas e acelerar ainda mais as ações para atingir os objetivos do Acordo de Paris.

A resposta de tomadores de decisão e dos principais atores às quatro perguntas a seguir vai determinar o sucesso da COP26:

Os países terão grandes cortes expressivos de emissões até 2030 e farão um acordo para manter viva a meta de 1,5°C?

Seis anos atrás, em Paris, os países concordaram em cortar as emissões de GEE para ajudar a limitar o aquecimento global, de preferência a no máximo 1,5°C, e evitar as consequências mais perigosas e onerosas caso as temperaturas continuem a subir. Para evitar a violação desse limite, as emissões precisam ser reduzidas pela metade até 2030 e atingir o zero líquido por volta da metade do século.

Até a COP26, os países podem submeter compromissos climáticos nacionais atualizados para 2030, a fim de avançar em direção às metas do Acordo de Paris. Até agora, mais de 120 enviaram suas NDCs, enquanto muitos também anunciaram compromissos de zerar emissões líquidas. Como eles estão frente ao que é necessário?

análise recente das Nações Unidas das NDCs de 112 países e da União Europeia (apresentadas até 30 de julho) concluiu que, até 2030, essas nações diminuiriam juntas suas emissões em 12% em relação aos níveis de 2010. No entanto, se considerados os compromissos existentes de todos os países – incluindo aqueles que ainda não submeteram NDCs atualizadas –, as emissões globais até 2030 devem aumentar em 16% em relação aos níveis de 2010. A situação está muito longe do necessário, que é a redução das emissões globais pela metade.

<p>Fazenda eólica Rampion Offshore, no Reino Unido</p>

Fazenda eólica Rampion Offshore, no Reino Unido. Os países precisam tomar medidas veementes para reduzir as emissões para além de 2030 e zerar as emissões líquidas o mais rápido possível (foto: Nicholas Doherty/Unsplash)

Outra análise do WRI e do Climate Analytics avaliou as trajetórias de temperatura. O documento descobriu que os atuais compromissos climáticos, combinados com metas obrigatórias de zerar emissões líquidas, colocariam o mundo na rota de 2,4°C de aquecimento até o final do século. Considerando ainda as metas adicionais que foram anunciadas pelos países do G20, mas ainda não adotadas formalmente, o aumento da temperatura poderia ser limitado a 2,1°C. O documento também descobriu que, se todas as nações do G20 definirem metas ousadas de redução de emissões para 2030 e atingirem emissões líquidas zero até 2050, o aumento da temperatura global pode ser limitado a 1,7°C – mantendo a meta de 1,5°C ao alcance.

Desde que esses dois relatórios foram divulgados, a África do Sul anunciou metas muito mais robustas para 2030 que colocam o país próximo de uma trajetória alinhada ao limite de 1,5°C. A notícia foi muito bem-vinda, especialmente por vir de um grande país em desenvolvimento. O Japão também se comprometeu formalmente a cortar suas emissões entre 46% e 50% em relação aos níveis de 2013 até 2030. Trata-se de um avanço significativo em relação ao plano fraco apresentado no ano passado. Mas é preciso muito mais. China, Índia, Arábia Saudita e Turquia – juntos responsáveis por 33% das emissões globais de GEE – ainda não divulgaram seus planos. Se esses países apresentarem planos mais fortes até a COP26, podem ajudar a preencher parte dessa lacuna.

A Austrália, por sua vez, submeteu um plano sem uma meta mais forte para 2030, enquanto Brasil e México estabeleceram metas mais fracas do que as anteriores. É fundamental que esses países voltem a se juntar à comunidade global com compromissos sérios pela redução de emissões.

Mais um obstáculo: mesmo as reduções ambiciosas para 2030 da UE, dos Estados Unidos e de alguns outros países do G20 não estarão totalmente alinhadas a uma trajetória dentro do limite de 1,5°C. A meta de redução de emissões do Reino Unido para 2030 acerta o alvo, mas o país ainda precisa fortalecer as políticas para chegar lá, além de fornecer mais financiamento para as nações em desenvolvimento.

Os principais países emissores que ainda não apresentaram NDCs mais fortes precisam fazê-lo até a COP26. E, durante a conferência, os governos devem entrar em um acordo para que os principais emissores cujas metas para 2030 não estão alinhadas ao limite de 1,5°C as tornem mais ambiciosas até 2023, quando as nações finalizam a avaliação de seu progresso coletivo como parte do balanço global (global stocktake) do Acordo de Paris.

Fortalecer as metas climáticas novamente até 2023 pode ser um remédio difícil de engolir para os líderes políticos – e os países ainda terão que apresentar novos planos em 2025 como parte do ciclo regular do Acordo de Paris –, mas o fato é que não há escolha. Se falharmos coletivamente em reduzir as emissões de GEE ainda na década de 2020, a meta de 1,5ºC ficará fora de alcance. E as consequências assustadoras de romper esse limite são impensáveis ​​e devem ser evitadas a todo custo.

Os países também precisam tomar medidas veementes para conter as emissões além de 2030 e zerar emissões líquidas o mais rápido possível. Houve um grande aumento nos compromissos nesse sentido nos últimos anos. Até o momento, 63 países (representando 54% das emissões globais) possuem metas de emissões líquidas zero – incluindo muitas nações vulneráveis ​​e diversos grandes emissores, como China, UE, EUA e Brasil. No entanto, Brasil e China, entre outros, ainda precisam assumir compromissos de curto prazo que garantam um caminho consistente com seus compromissos.

Para garantir trajetórias confiáveis, os negociadores devem chegar a um acordo sobre um resultado da COP26 que convoque os países a continuarem desenvolvendo estratégias de longo prazo – e revisando-as com regularidade. Essa ação forneceria o caminho de longo prazo necessário para alcançar o zero líquido nas emissões globais até a metade do século e seria uma maneira de acompanhar o progresso em direção a essa meta de forma transparente.

Os países em desenvolvimento conseguirão o financiamento e o apoio que precisam?

Em Glasgow, os países precisam chegar a um acordo em relação a um pacote que atenda às necessidades dos países mais vulneráveis, que enfrentam a pior parte dos impactos climáticos – atualmente e no futuro. Além de cortes ambiciosos de emissões por parte dos principais emissores, a COP26 precisa apoiar os esforços das nações em desenvolvimento na proteção das florestas e na transição para fontes de energia mais limpas, bem como reconhecer a importância da adaptação e do tratamento de perdas e danos. Todos esses esforços exigem que as principais economias forneçam muito mais financiamento climático, um passo crucial para reconstruir a confiança junto às nações em desenvolvimento.

<p>fazendeiro coleta algas marinhas em uma fazenda de algas em Nusa Penida, na Indonésia</p>

Um fazendeiro coleta algas marinhas em uma fazenda de algas em Nusa Penida, na Indonésia. Muitos países vulneráveis ​​ao clima enfrentam impactos tão graves que não são mais uma questão de adaptação, como o aumento do nível do mar invadindo construções costeiras (Foto: deskcomm/Shutterstock)

Uma breve descrição do que é necessário:

Financiamento climático: Em Copenhague, em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020, de fontes públicas e privadas. Estimativas recentes da OCDE mostram que o financiamento total para o clima atingiu US$ 79,6 bilhões em 2019, reforçando a probabilidade de que a meta não seja cumprida.

Na Assembleia Geral da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que os EUA duplicariam sua promessa de financiamento climático novamente, chegando a US$ 11,4 bilhões por ano até 2024. Trata-se de um bom passo e na direção certa, mas que ainda não representa uma parcela justa do esforço para cumprir a meta dos US$ 100 bilhões.

Antes da COP26, Alemanha e Canadá anunciarão um “plano de entrega” para os US$ 100 bilhões anuais, elaborado em consulta com as nações em desenvolvimento, a pedido da Presidência britânica da COP26. Antes e durante a COP26, mais países desenvolvidos devem aumentar suas próprias contribuições para chegarmos lá. Além disso, também devem concordar em oferecer pelo menos US$ 500 bilhões para o período 2020-2024.

Iniciar o processo para estabelecer uma meta de financiamento climático para o período pós-2025 é outra prioridade da COP26.

Decisões anteriores forneceram uma orientação geral, mas, em Glasgow, os negociadores devem ser mais concretos. Diversas abordagens gerais foram sugeridas, incluindo algumas ideias para alcançar a nova meta de financiamento climático que deve ser definida antes de 2025, partindo de um piso de US$ 100 bilhões por ano.

É essencial criar um processo robusto que considere as necessidades e prioridades das nações em desenvolvimento, bem como as metas de longo prazo do Acordo de Paris. Os países também precisarão considerar se e como as negociações sobre a nova meta vão tratar questões como: o aumento do financiamento público para o clima; uma meta específica para o financiamento da adaptação; e a alocação de fundos para esforços transversais que ajudem a conter as emissões e aumentar a resiliência, como soluções baseadas na natureza.

Adaptação. Além de reduzir as emissões, o Acordo de Paris estabeleceu uma meta de adaptação global que visa aumentar a resiliência climática e reduzir a vulnerabilidade aos impactos do clima. Alcançar essa meta requer o monitoramento e a avaliação do avanço conjunto dos países até agora.

Na COP26, espera-se que os países discutam as opções e entrem em acordo sobre como avançar o trabalho referente à meta de adaptação. Dada a contínua falta de clareza sobre o que é necessário para isso, o IPCC poderia produzir diretrizes específicas ou um relatório especial para ajudar a medir, avaliar e estimular o avanço.

Além disso, nações em desenvolvimento precisam de aumentos previsíveis e significativos no apoio financeiro para se adaptar e construir resiliência aos impactos das mudanças climáticas.

Durante a COP26, os países desenvolvidos devem aumentar o financiamento da adaptação de forma significativa, a fim de atingir o equilíbrio com o nível de apoio mobilizado para reduzir as emissões. Também devem considerar fortalecer a qualidade desses financiamentos – por exemplo, mais alternativas de financiamento concessional, incluindo doações em vez de empréstimos – e garantir maior acesso a todos os financiamentos climáticos.

Perdas e danos. O último relatório do IPCC concluiu que todas as regiões habitadas do mundo já vivem os efeitos das mudanças climáticas. A realidade, porém, é que muitos países enfrentam impactos tão severos que não são mais sequer uma questão de adaptação, como migrações forçadas, perda de terras agrícolas e aumento do nível do mar.

Em 2019, na COP25, foi formada a Rede de Santiago para Perdas e Danos, uma plataforma destinada a catalisar assistência técnica para nações vulneráveis ​​que precisam lidar com perdas e danos. Embora seja um começo, a plataforma em essência é apenas um site; os países precisam de um mecanismo robusto e operacional.

Para a COP26, as nações mais vulneráveis ​​pedem que perdas e danos sejam um item permanente na pauta das negociações da ONU para discutir soluções, incluindo um fluxo exclusivo de financiamento.

Os negociadores concordarão com regras que mantêm a integridade e a ambição do Acordo de Paris?

Três anos atrás, os negociadores concordaram amplamente com as regras que colocam em prática o Acordo de Paris, mas deixaram algumas questões difíceis para a COP25: estabelecer regras para os mercados internacionais de carbono e chegar a um acordo sobre o período que as NDCs deveriam cobrir.

Durante a conferência de 2019, os países continuaram trabalhando nessas questões e avançaram no trabalho adicional de finalizar uma estrutura transparente para relatarem suas ações e esforços de apoio climático.

Na COP26, os negociadores tentarão mais uma vez estabelecer as seguintes regras sobre a “linha de chegada”

Mercados de carbono. Incentivando e maximizando reduções de emissões adicionais em todos os setores e gerando financiamento para a adaptação climática, os mercados de carbono podem ajudar no combate às mudanças climáticas. Sem regras robustas, no entanto, a redução nas emissões pode não ser tão alta quanto se pretendia.

Uma prática que deve ser evitada é a possibilidade de compradores e vendedores de créditos de carbono contarem duas vezes as mesmas reduções de emissões. Outra prática problemática seria permitir que os países alcancem suas novas metas usando créditos antigos gerados pelo Protocolo de Quioto.

Na COP26, os negociadores devem se manter firmes contra a permissão dessas atividades. No que diz respeito aos mercados de carbono, a meta da COP26 não deve ser finalizar as regras a qualquer custo, mas garantir que sejam robustas e alinhadas aos objetivos do Acordo de Paris.

Prazos comuns. Antes da cúpula do clima em Paris, em 2015, as NDCs foram enviadas com prazos diferentes – alguns terminavam em 2025 enquanto outros tinham 2030 como horizonte. Desde então, os países concordaram em alinhar seus futuros compromissos nacionais (os que devem ser implementados de 2031 em diante) usando um prazo comum.

Na COP26, os negociadores precisam decidir qual deve ser esse prazo – de 2031 a 2035 ou de 2031 a 2040, por exemplo.

Dada a urgência do combate à crise climática, o prazo mais curto, de cinco anos, ajudaria os países a ajustar e fortalecer as metas de suas NDCs com mais frequência, permitindo-lhes responder melhor a avanços científicos e mudanças tecnológicas, econômicas e sociais, como as que vimos mesmo nos últimos três a cinco anos. Um prazo menor também apoiaria a implementação efetiva de outras disposições do Acordo de Paris.

Estrutura de transparência. Em 2018, os países conseguiram chegar a um acordo sobre as diretrizes para o aprimoramento da estrutura de transparência do Acordo de Paris. No entanto, naquela época, ficaram com uma tarefa de casa: desenvolver mais detalhes técnicos, como formatos e esboços de relatórios de transparência e um programa de treinamento para revisores técnicos especializados que avaliam esses relatórios. Originalmente, esse dever de casa deveria ter sido entregue em 2020, mas, devido à pandemia do coronavírus, os países precisam entregá-lo agora, na COP26, em Glasgow.

Embora esse seja um tópico bastante técnico, os detalhes serão importantes. Essa estrutura deve fornecer às partes interessadas informações transparentes, precisas, completas, consistentes e comparáveis ​​sobre as ações de cada país, além de que tipo de apoio financeiro e outros auxílios eles fornecem. Trata-se de uma base fundamental para avaliar o progresso e garantir a responsabilidade de cada país em relação aos compromissos no futuro.

Países e empresas se comprometerão com ações revolucionárias que impulsionem uma mudança sistêmica?

A COP26 também é uma oportunidade para revelar novas parcerias e compromissos que podem ajudar a envolver toda a sociedade em mudanças sistêmicas necessárias para enfrentar a crise climática. Nesse escopo, estão incluídas parcerias público-privadas, declarações multilaterais, novas coalizões, iniciativas regionais e outros acordos. Haverá muitas parcerias desse tipo na COP26, algumas das quais permanecerão em segredo até chegarmos lá.

Algumas das áreas que vale a pena acompanhar:

Zero líquido. Em junho de 2020, os Campeões do Clima de Alto Nível da ONU deram início à campanha global Race to Zero (em português, “Corrida pelo Zero) para reunir empresas, cidades, regiões e investidores agindo por uma economia baseada em emissões líquidas zero. O apoio à campanha cresceu substancialmente.

Até o momento, um quinto das principais empresas (por receita) em 15 dos maiores setores da economia está comprometido em reduzir as emissões pela metade ainda nesta década. Mais de 250 bancos, proprietários e administradores de ativos – juntos responsáveis ​​por ativos superiores a US$ 80 trilhões, ou cerca de 77% do total de ativos sob gestão em todo o mundo – se comprometeram a fazer a transição de seus portfólios para emissões líquidas zero no máximo até 2050, sob a Aliança Financeira de Glasgow pelo Zero Líquido (GFANZ, na sigla em inglês).

Até a COP26, a campanha também pretende recrutar mil cidades para reduzir as emissões rápido o suficiente para limitar o aquecimento a 1,5°C. Garantir que esses compromissos sejam cumpridos exigirá metas intermediárias claras (por exemplo, para 2030) e aderir a regras que garantam transparência e integridade.

Depois de um extenso processo de consulta, a iniciativa Science-Based Targets lançará em breve, pouco antes da COP26, um padrão para metas de zero líquido, a fim de ajudar a definir uma abordagem global harmônica e de embasamento científico para o estabelecimento desse tipo de meta pelas empresas.

<p>ciclista passa pela Fazenda Solar Valenzuela, em Manila,</p>

Um ciclista passa pela Fazenda Solar Valenzuela, em Manila, que possui 32 mil painéis. Custos em queda e avanços tecnológicos contribuíram para um crescimento exponencial no setor de energia renovável (foto: Lisa Marie David e IMF Photo/Flickr)

Setor financeiro. A terceira meta do Acordo de Paris é tornar os fluxos financeiros consistentes com uma trajetória de desenvolvimento de baixo carbono e resiliente ao clima. A Aliança Financeira de Glasgow pelo Zero Líquido – parte da iniciativa Race to Zero – é presidida por Mark Carney, ex-administrador do Banco da Inglaterra, que identificou relatórios, gestão de riscos, retornos e mobilização como áreas-chave por meio das quais observar o progresso.

Durante ou antes da COP, a International Finance Reporting Standards Foundation estabelecerá um Conselho de Padrões Internacionais de Sustentabilidade. Da mesma forma, durante a conferência a iniciativa Science-Based Targets apresentará um documento preliminar e dará início a um processo de consulta para desenvolver um padrão de zero líquido para instituições financeiras.

Carvão, petróleo e gás. Recentemente, Coreia do Sul e Japão prometeram interromper o financiamento para usinas de energia à base de carvão em outros países. Na Assembleia Geral da ONU, o presidente Xi Jinping anunciou que a China também interromperia a construção de usinas a carvão no exterior. Hungria e Uruguai foram os últimos países a aderir à Powering Past Coal Alliance, enquanto Dinamarca e Costa Rica recentemente formaram a Beyond Oil and Gas Alliance, comprometendo-se com um plano para interromper a produção de combustível fóssil.

Em setembro, a ONU abriu um chamado para o fim da construção de novas usinas a carvão, a No New Coal (“Nenhum Novo Carvão”). A iniciativa incluiu sete países até agora. Na COP26, espera-se ouvir notícias de mais países, investidores e outros atores que também estão deixando de usar combustíveis fósseis.

Energia renovável. Em 2010, as fontes de energia solar e eólica representaram 1,7% da geração global de eletricidade. Dez anos depois, esse índice subiu para 8,7%. Esse crescimento exponencial superou muito o que os modelos haviam previsto.

Custos em queda e avanços tecnológicos deixaram países e empresas muito mais confortáveis ​​para estabelecer metas ousadas em relação à energia renovável e, provavelmente, veremos mais em Glasgow. Na COP26, Índia e Reino Unido também devem anunciar uma declaração conjunta sobre a criação de uma rede elétrica transnacional para fornecer energia solar em todo o mundo.

Florestas. Só em 2020, as emissões de carbono originadas pela perda de florestas tropicais foram mais do que o dobro das emissões de todos os carros que circulam nos Estados Unidos. Na COP26, fique atento à renovação dos compromissos para acabar com o desmatamento, bem como a medidas concretas que demonstrem o reconhecimento de como as florestas absorvem carbono e ajudam comunidades a se adaptar aos impactos climáticos. Iniciativas relacionadas às florestas que devem ser apresentadas na COP incluem a união dos países na promoção de cadeias de abastecimento livres de desmatamento por meio do Diálogo sobre Florestas, Agricultura e Comércio de Commodities (FACT, na sigla em inglês).

Também vale ficar atento a anúncios significativos de financiamento por parte de governos e do setor privado para atingir essas metas, inclusive por meio de iniciativas que utilizam mercados voluntários de carbono, como a Coalizão LEAF, lançada na Cúpula dos Líderes sobre o Clima em abril de 2021.

Veículos elétricos. Grandes fabricantes de automóveis, como Ford, GM e BMW, entre outros, fizeram investimentos substanciais em veículos elétricos, e cada vez mais países e empresas se comprometem a eliminar gradualmente as vendas de modelos com motores de combustão interna. Na COP26, podemos esperar mais promessas ousadas nesse sentido, sinalizando um ponto de inflexão em direção ao transporte limpo.

Metano. O metano é um gás de efeito estufa potente, com 86 vezes mais poder de aquecimento do que o CO2 em um período de 20 anos. Estudos estimam que esforços ágeis para reduzir as emissões de metano podem evitar 0,3°C de aquecimento até 2050.

Para lidar com esse superpoluente, os EUA e a UE anunciaram, na Assembleia Geral da ONU de 2021, o Compromisso Global do Metano, conclamando as nações a reduzir em pelo menos 30% as emissões de metano até 2030, de forma coletiva, em relação aos níveis de 2020. Mais de 30 países indicaram seu apoio à promessa até agora. Na COP26, esperamos ver a continuação desse ímpeto.

Toda a ajuda possível

A COP26 em Glasgow não é apenas um momento para os países demonstrarem seu comprometimento até agora. É também uma oportunidade para que redobrem seus esforços e voltem sua atenção para as próximas e urgentes etapas que precisam ser seguidas para mantermos o limite de 1,5°C ao alcance e respondermos aos efeitos crescentes das mudanças climáticas.

Independentemente de quanto as NDCs dos países vão somar, juntas, em termos de redução de emissões após a COP26, a necessidade de cortar rapidamente as emissões de GEE só seguirá à medida que as temperaturas continuarem subindo e as consequências das mudanças climáticas piorarem.

A COP26 é um momento de reunir toda a ajuda possível, para que todos se levantem e exijam de seus líderes uma ação climática ousada.

Fonte: WRI Brasil
https://wribrasil.org.br/pt/blog/clima/4-questoes-essenciais-definirao-o-sucesso-da-cop26-em-glasgow


Especialistas lamentam retrocessos em novo texto do Código Florestal

Norma já começa a ser alterada de forma a anistiar construções irregulares erguidas em zonas urbanas

Cleide Carvalho e Dimitrius Dantas / O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Aprovado em 2012, o Código Florestal nem foi totalmente implantado e já começa a ser alterado de forma a anistiar construções irregulares erguidas em zonas urbanas. Além de reduzir a área de proteção de 30 para 15 metros nas margens de rios e corpos d’água localizados no entorno de cidades, o projeto aprovado no Senado na noite de quinta-feira diminuiu de três para duas as exigências de infraestrutura necessárias para que a região seja enquadrada como urbana. Esses dois critérios podem ser escolhidos entre sete itens, como fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água, coleta de lixo, rede de esgoto e limpeza urbana, por exemplo.

Leia: 'Achamos por acaso', diz brasileiro que descobriu e deu nome a maior cometa já visto no sistema solar

A versão “menos ruim” chancelada pelos senadores, em relação ao projeto da Câmara, cria, no entanto, um marco temporal que libera de vez todas as construções erguidas antes da promulgação da lei: ou seja, um empreendimento que tenha ultrapassado o limite de 15 metros poderá permanecer no local.

Especialistas admitem a necessidade de discutir a “data de validade” da lei, pois muitas cidades nasceram à beira de rios e era preciso regularizar o que existia antes de 2012, quando o texto original do código foi formulado. Mas, segundo eles, a mudança deveria ter sido melhor estudada. Há críticas, por exemplo, sobre o fato de a área de proteção instituída — que os deputados fixaram em 30 metros, mas o Senado mudou para 15 metros — servir tanto para um pequeno córrego quanto para um rio caudaloso. O certo, dizem eles, seria analisar caso a caso, de acordo com a vazão de água.

— É uma pena, pois essas decisões têm impacto mais amplo do que o interesse de cada um. O Código Florestal demorou duas décadas para ser discutido e já está sendo flexibilizado antes mesmo de ser totalmente implantado — diz Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília e integrante da Academia Brasileira de Ciências.

Apesar das queixas sobre a falta de critérios técnicos, há a percepção de que o Senado conseguiu reduzir alguns dos danos inerentes à proposta aprovada antes, que autorizava os municípios a estabelecerem livremente o tamanho da área de proteção das águas. Os senadores incluíram no texto exigências adicionais, como respeitar os planos de bacias hidrográficas, as regras de saneamento e drenagem e os planos das defesas civis para áreas de risco.

— O Senado conseguiu colocar um limite mínimo. Municípios são muito mais suscetíveis à pressão econômica do setor de construção. Foi o melhor cenário dentro do que era possível no sistema atual do Congresso, que aprova projetos sem critério técnico e em prazo recorde — afirma Roberta Giudice, secretária-executiva do Observatório do Código Florestal.

O biólogo Mário Moscatelli diz que nada mudou em prol da preservação.

Veja fotos: Moradores de Porto Alegre criticam pintura semelhante a uma suástica em parque

— Assim como as leis anteriores, terá pouca ou nenhuma eficácia — diz ele, que coleciona imagens de inúmeras situações em que as construções, no Rio de Janeiro, já avançaram — e muito —sobre os limites agora em discussão.

Malu Ribeiro, da ONG SOS Mata Atlântica, lembra, porém, que a flexibilização do Código Florestal na Câmara foi uma afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal, que ao analisar uma demanda de Santa Catarina, decidiu que a lei de 2012 deveria ser cumprida.

— É um contrassenso que o próprio Congresso, autor da lei, ache que ela não deva ser cumprida. Correram para mudar de forma a proteger ocupações irregulares que ocorreram por omissão do poder público — diz Ribeiro.

Relator do projeto, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) argumenta que o Código Florestal colocou milhares de construções comerciais, residenciais e industriais na ilegalidade em áreas urbanas. Segundo ele, as novas regras vão pacificar as divergências surgidas depois de 2012. Autora da emenda que estabeleceu o limite mínimo de 15 metros de distância da área de preservação, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) diz que a mudança permitiu a aprovação do projeto com a regulamentação de espaços consolidados, o que deixa clara a inviabilidade de novos desmatamentos.

Nesta sexta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão anunciou a retirada de militares que combatem queimadas e incêndios na Amazônia. O decreto, que autorizava a operação, foi publicado em junho e renovado em agosto.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/brasil/meio-ambiente/especialistas-lamentam-retrocessos-em-novo-texto-do-codigo-florestal-25239014


Luiz Carlos Azedo: “Já ganhou” preocupa Lula

Devido ao peso do Estado e à máquina do governo, petista avalia que Bolsonaro ainda não estaria fora da disputa

Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Brasília para conversar com todo mundo, ou melhor, “com quem queira conversar com ele”, destaca o deputado Carlos Zaratinni (PT-SP), que ontem participou da conversa do líder petista com as bancadas de deputados e senadores da legenda. Acompanhado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Lula também se encontrou com os governadores do PT no Nordeste: Camilo Santana (Ceará), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Rui Costa (Bahia) e Wellington Dias (Piauí). Também estiveram na reunião a vice-governadora do Sergipe, Eliane Aquino, e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Domingo à noite, Lula teve um encontro com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE), em mais um passo para consolidar a aliança com o PSB, cujas negociações estão muito adiantadas. Esqueçam o apoio dos caciques do MDB ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Amanhã, Lula jantará na casa do ex-senador Eunício de Oliveira (CE) com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o ex-presidente José Sarney, os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), e os ex-senadores Edison Lobão (MDB-MA) e Romero Jucá (MDB-RR).

Na conversa de ontem com os parlamentares petistas, Lula traçou a linha de suas conversas. Primeiro, não existe “já ganhou”. Devido ao peso do Estado e à capacidade de influência política da máquina do governo, avalia que o presidente Jair Bolsonaro ainda não estaria fora da disputa — pode se recuperar e se reeleger. Obviamente, o petista faz essa avaliação olhando para o final do seu primeiro mandato, quando teve dificuldades para se reeleger em razão dos escândalos do mensalão e dos dólares na cueca de um petista, às vésperas do primeiro turno. Em 2006, teve que disputar o segundo turno com o tucano Geraldo Alckmin.

Segundo, Lula não vai reinventar a roda. Pretende apresentar propostas baseadas nas realizações de seu governo, que lhe garantiram alta aprovação no final do segundo mandato, que agora pretende resgatar. A desconstrução das políticas públicas por Bolsonaro, de certa forma, facilita a comparação entre os dois governos, ainda mais num cenário com alta da inflação, fome e desemprego.

Terceiro, nada de radicalização. Lula orientou as bancadas petistas a não embarcarem no discurso de ódio e focar a narrativa na questão social, no aumento das desigualdades e injustiças sociais. Sua intenção é apresentar um programa eleitoral com propostas para melhorar a vida do povo, não entrar na polarização ideológica. Por isso mesmo, não contem com o PT para o impeachment de Bolsonaro.

Adversário ideal

O jantar com os velhos aliados do MDB foi encomendado pelo próprio Lula, durante encontro com Eunício Oliveira, no Ceará. Não existe um assunto específico, mas a conversa a entre esses velhos políticos gira sempre em torno de um assunto: a conquista e/ou manutenção do poder. Com um pé no governo e outro na oposição, as bancadas do MDB derivam para o ex-presidente, principalmente no Norte e Nordeste, embora a senadora Simone Tebet (MS) seja pré-candidata a presidente da República e o presidente da legenda, Baleia Rossi (SP), tenha uma aliança forte com os tucanos em São Paulo, tão robusta que a legenda herdou a Prefeitura da capital com a morte do ex-prefeito Bruno Covas.

No momento, o maior temor de Lula é o surgimento de uma candidatura de terceira via que possa deslocar Bolsonaro do segundo turno, caso o governo continue derretendo. Por seu turno, o presidente só não considera Lula o adversário ideal porque o petista é favorito nas pesquisas e ameaça ser eleito já no primeiro turno. Entretanto, Bolsonaro ainda aposta no antipetismo para ganhar as eleições. Todas as pesquisas mostram que ele também teria dificuldades de se reeleger numa disputa de segundo turno com outros candidatos.

A um ano das eleições, o terceiro colocado nas pesquisas de opinião continua sendo o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que continua às turras com os petistas. O governador paulista João Doria (PSDB) continua patinando nas pesquisas. Sua candidatura subiu no telhado, porque o governador gaúcho Eduardo Leite vem recebendo apoios internos importantes. Ninguém sabe qual será o desfecho das prévias tucanas, marcadas para novembro. Essa indefinição estimula outras pré-candidaturas, como as do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ambos do DEM, e a do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que vem se destacando na CPI da Covid.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-ja-ganhou-preocupa-lula

Tudo é incerto em 2022, porque a maioria do Brasil é de desinteressados e/ou indecisos

Não custa lembrar que Lula tem muito esqueleto no armário, e Bolsonaro coleciona desastres

Eliane Cantanhêde / O Estado de S. Paulo

O desconhecido empresário Romeu Zema virou governador de Minas, um dos três principais Estados do País, em quatro dias. Com 43% de indecisos, o eleitorado rejeitava tanto Antonio Anastasia, por representar o PSDB de Aécio Neves, quanto Fernando Pimentel, que concorria à reeleição pelo também vulnerável PT. Os indecisos descobriram Zema, do Novo, num debate na terçafeira anterior às urnas. De quarta a domingo, ele disparou de 5% para 41% e venceu a eleição.

Se Romeu Zema é ou não um bom governador, e a quantas andam sua gestão e aprovação, são outros 500, mas os tucanos usam essa história de 2018 para defender com unhas e dentes que uma “terceira via” entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula é não apenas possível como bastante provável, com muita chance de chegar ao segundo turno e vencer. Até por isso Lula corre atrás de MDB, PSD, PP e PSB.

As pesquisas de hoje cristalizaram a dianteira confortável de Lula e um quarto do eleitorado com Bolsonaro, mas, segundo os tucanos, esse cenário estático só parece irreversível para quem não tem experiência de pesquisas e eleições. “Não é (irreversível). O importante é se há ou não espaço para o sentimento essencial que uma candidatura representa. Se há, o eleitor encontra essa candidatura”, diz o ex-deputado Marcus Pestana, de Minas, um dos coordenadores das prévias de novembro do PSDB.

O governador Eduardo Leite (RS) tem o apoio de Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Ceará, Alagoas, Paraíba e Amapá. O também governador João Doria (SP) tem São Paulo, Pará, DF, Tocantins e Acre. Ainda faltam 13 Estados e o que vale não é o número de diretórios, mas de eleitores. São Paulo, sozinho, tem 32% dos votos.

Para os tucanos, e não só para eles, mas para especialistas em política, terceira via é quase sinônimo de candidatura do PSDB, que venceu as eleições presidenciais em primeiro turno em 1994 e 1998 e disputou o segundo turno em todas as quatro seguintes (2002, 2006, 2010 e 2014), até ficar fora em 2018, com a polarização feroz entre o PT e Bolsonaro.

Na semana passada, enquanto o experiente senador Tasso Jereissati (CE), ex-governador e ex-presidente nacional do PSDB, desistia das prévias em favor do novato Leite, Doria jantava com Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sérgio Moro (sem partido). Os três são vivamente a favor de um nome de centro, mas, assim como Doria está amarrado às prévias tucanas, Mandetta depende da fusão DEMPSL e a Moro interessa menos disputar a Presidência e mais resgatar o legado da Lava Jato.

Vez ou outra, pingam nomes, como o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM, que está nas mãos de Gilberto Kassab, do PSD; o próprio Zema, que precisa encorpar em casa, ou seja, em Minas; João Amoêdo, que não une nem o Novo; e os senadores Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania), que ganharam muita visibilidade na CPI da Covid e têm como bandeira o combate à corrupção, mas estão mais para vices do que para cabeças de chapa.

Correndo por fora, Ciro Gomes (PDT) é bom de palanque, tem o recall de três eleições presidenciais e um marqueteiro top, João Santana, que criou o “Lulinha Paz e Amor”. Ciro, porém, não tem para onde crescer, porque atrai desconfiança. A esquerda está com Lula e a direita olha para ele e vê um esquerdista.

Não custa lembrar que Lula tem muito esqueleto no armário, Bolsonaro coleciona desastres e, tal como em 2018, em Minas, metade do eleitorado ainda está, ou completamente alheio, focado na covid, no desemprego e na inflação, ou muito desconfiado com os dois favoritos. Logo, o que há hoje são incertezas e muita água vai rolar a partir de janeiro, com a definição de nomes, partidos, estratégias e um cenário desconhecido: o pós-pandemia.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,tudo-e-incerto-em-2022-porque-a-maioria-do-brasil-e-de-desinteressados-eou-indecisos,70003859832


Aquecimento pode expor 12 milhões de brasileiros a nível intolerável de calor

Estudo mostra como desmatamento na Amazônia e mudanças climáticas devem tornar fisiologicamente impossível habitar a região em 2100

Edison Veiga, especial para o Estadão

Desidratação, exaustão, cãibras e, em casos graves, um quadro irreversível de hipertermia que leva à morte. Este seria o resultado, sobre o corpo humano, do cenário climático previsto a partir de modelagem computacional para a Região Norte do Brasil em 2100. Tecnicamente, e considerando a demografia atual — ou seja, sem prever deslocamentos, rearranjos ou mesmo variação de tamanho populacional —, 12 milhões de brasileiros estarão expostos a níveis fisiologicamente intoleráveis de calor.

Isto é o que conclui um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e publicado nesta sexta-feira pelo periódico internacional Communications Earth & Environment, revista científica segmentada da britânica Nature. “As florestas fornecem serviços ecossistêmicos benéficos para a saúde humana, incluindo o resfriamento local”, comenta ao Estadão uma das autoras da pesquisa, a enfermeira Beatriz Fátima Alves de Oliveira, pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz em Teresina, no Piauí.

“Em geral, seres humanos possuem uma faixa de temperatura interna ideal para a manutenção da homeostase sistêmica, mas a exposição ambiental às condições extremas de temperatura pode exceder a capacidade do corpo humano em manter a termorregulação, provocando efeitos na saúde, como desidratação, exaustão, cãibras e, em casos graves, morte por hipertermia”, explica ela. Alterações de humor, distúrbios psicológicos e redução de habilidades físicas e mentais também são consequências de uma exposição constante a níveis elevados de calor. 

Nessas condições extremas, ressalta a pesquisadora, os grupos mais sensíveis são os idosos, as crianças e os portadores de doenças prévias. 

De acordo com o estudo, se nada for feito para mitigar os efeitos do aquecimento global e para conter a devastação da floresta amazônica, a região norte do País viverá um clima quente sem precedentes contemporâneos. Enquanto a elevação da temperatura média na maior parte da América do Sul ficará entre 2 e 5,5 graus Celsius, na bacia Amazônica as projeções indicam um aumento de 11,5 graus, considerando o pior cenário. 

Isto tudo por causa da destruição do bioma, que agrava ainda mais as previsões decorrentes das mudanças climáticas. “A savanização da Amazônia acarreta a diminuição do transporte de vapor d’água do Oceano Atlântico para o interior do continente, impactando assim tanto a pluviosidade, com redução das chuvas, quanto o controle da temperatura do ar, as ondas de calor, no interior do País”, contextualiza ao Estadão o meteorologista Paulo Nobre, pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e outro dos autores do trabalho.


previous arrow
next arrow
 
previous arrow
next arrow

Restante do Brasil

As modelagens também serviram para prever o impacto do aquecimento no restante do País. No total, os pesquisadores concluíram que 16% dos 5.565 municípios brasileiros sofreram, em alguma medida, estresse térmico relacionado não só ao aquecimento global, mas também especificamente à savanização da Amazônia. Isso significa 30 milhões de pessoas. 

O cenário mais grave, contudo, é o da região Norte, onde 12 milhões de pessoas poderão estar expostas a risco extremo de calor na virada do próximo século. Se nada for feito para conter esse cenário, a previsão é de que haja uma migração em massa, já que essas pessoas não suportariam viver em clima tão hostil. 

Embora difícil, a receita, lembram os cientistas, já existe. “Ações coordenadas de proteção ao meio ambiente a níveis local, regional e global representam uma das formas mais eficazes de ‘seguro climático’ contra as consequências adversas das mudanças ambientais locais e globais”, afirma Nobre. “Não basta zerar o desmatamento amazônico, do Cerrado, da Caatinga, da Mata Atlântica. É preciso reflorestá-las.”

A deterioração ambiental chegou a tal ponto que, para evitar o colapso, não adianta mais simplesmente parar de destruir o meio ambiente. O ser humano necessita recuperar as áreas já degradadas.

Embora o estudo seja circunscrito à realidade ambiental brasileira, os pesquisadores acreditam que outras partes do mundo devem enfrentar problemas semelhantes nas próximas décadas. “Particularmente em regiões que sofrem acelerado processo de desflorestamento”, frisa Nobre. 

E, seguindo a velha máxima de que a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco, evidentemente que os que mais sofrem são aqueles mais desprovidos de meios para se proteger. “Os impactos são mais acentuados em regiões com baixa capacidade de resiliência e alta vulnerabilidade social”, ressalta a pesquisadora Oliveira.

Estrutura de saúde

Ao trazer o debate da crise ambiental para o prisma da saúde pública, os pesquisadores não só demonstram que, na destruição da natureza, o ser humano segue dando tiros no seu próprio pé. Também lançam luz sobre a necessidade, premente, de que o problema seja pensado e planejado dentro das políticas de atendimento às populações que serão mais fortemente afetadas.

Oliveira lembra que é preciso incluir “novas perspectivas nos serviços de saúde que, na maioria das vezes, não estão aptos para diagnosticar agravos decorrentes do aumento da temperatura”. Isso já dificulta registros e notificações de potenciais problemas associados às condições extremas. “Um exemplo é a ausência de dados relacionados a problemas psicossociais pós-traumáticos”, elenca ela.

A enfermeira cobra o fortalecimento da atenção primária e uma melhor capacitação dos profissionais de saúde “para a melhoria na notificação de doenças e agravos fortemente associados às mudanças climáticas”. E diz que é necessário o “desenvolvimento de ferramentas e de sistemas de alerta para identificação de áreas de risco, contribuindo para adoção de respostas rápidas por parte do setor de saúde diante de riscos extremos.”

E, claro, não se pode descuidar do anteparo social. Afinal, quanto mais vulnerável a população, mais suscetível ela está a sofrer de forma irreversível os efeitos do aumento da temperatura. Por isso, Oliveira defende o “fortalecimento da atenção básica” e a “implementação de ações e programas intersetoriais para a redução de vulnerabilidades sociodemográficas, econômicas e de acesso aos serviços de saúde”. “Tudo o que possa reduzir os impactos do aumento extremo da temperatura”, comenta.

Outros estudos

Embora seja inédito por fazer uma previsão de aumento de temperatura considerando os impactos da saúde pública, este não é o primeiro estudo recente a relacionar a crise climática diretamente à sobrevivência humana.

Em maio, a revista Nature Climate Change, também da Nature, publicou um estudo em que foram tabulados registros de óbitos ocorridos entre 1991 e 2018 em 732 cidades de 43 países diferentes. E a conclusão é que o aquecimento global já está matando pessoas. 

Isto porque, de todas as mortes em consequência de calor ocorridas no período, 37% não podem ser explicadas por ocorrências naturais ou sazonalidades, e sim desencadeadas por ação antropogênica, ou seja, feitas pelo próprio ser humano. 

Um dos responsáveis pela análise dos dados brasileiros foi o médico patologista Paulo Saldiva, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). Ele e sua equipe concluíram que 1% das mortes consideradas “de causa natural” atualmente no País já podem ser atribuídas, na verdade, a efeitos adversos decorrentes do aumento da temperatura média.

Em setembro, o periódico científico Lancet publicou um outro estudo com consequências nefastas da degradação ambiental sobre a saúde pública. O grupo de pesquisadores se debruçou sobre dados de internação hospitalar de 2000 a 2015 de 1814 municípios brasileiros, uma estrutura de atendimento que cobre 80% da população nacional. E concluiu que a poluição decorrente dos incêndios florestais já é a causa de internação de 47.880 pacientes por ano — 35 casos por 100 mil habitantes.

Problemas respiratórios, seguidos por doenças cardiovasculares, estão entre os principais problemas de saúde.

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aquecimento-pode-expor-12-milhoes-de-brasileiros-a-nivel-intoleravel-de-calor,70003856365


Aquecimento global: mudanças podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050

Produção agrícola pode cair 30% sem redução de emissões até 2030

Akemi Nitahara / Agência Brasil

A capacidade de adaptação dos países às mudanças causadas pelo aquecimento global pode acabar, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam drasticamente reduzidos nesta década. Segundo relatório da Chatham House, think tank (instituições que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos) britânica de pesquisa sobre o desenvolvimento internacional, fundada em 1920, as mudanças podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050.

O alerta está na Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas, documento desenvolvido para subsidiar as tomadas de decisões dos chefes de Governo e ministros antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), marcada para ocorrer de 31 de outubro a 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.

Para o pesquisador sênior do Programa de Meio Ambiente e Sociedade da Chatham House, Daniel Quiggin, um dos autores do relatório, as metas estabelecidas por muitos países para neutralizar as emissões de carbono e a maior ambição com relação às metas nacionais de redução de gases de efeito estufa são uma esperança. Embora, segundo ele, não passem de promessas.

“Muitos países não têm políticas, regulamentações, legislação, incentivos e mecanismos de mercado proporcionais para realmente cumprir essas metas. Além disso, os NDCs [da sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada] revisados globalmente ainda não fornecem uma boa chance de evitar o aquecimento em 2ºC. Devemos lembrar que muitos cientistas do clima estão preocupados que, além dos 2ºC, uma mudança climática descontrolada possa ser iniciada”, alerta.

As metas nacionais foram determinadas a partir do Acordo de Paris, tratado negociado durante a COP21, em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. O acordo rege a redução de emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020, para tentar manter o aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século, num contexto de desenvolvimento sustentável.

Quiggin alerta que as metas definidas ainda não garantem a neutralidade do carbono.

“O balanço zero líquido das emissões depende de tecnologias de emissão negativa, que atualmente não são comprovadas empiricamente em escala comercial. Em resumo, as metas que os países buscam estão se movendo na direção certa, mas ainda não conseguem evitar a devastadora mudança climática. E as políticas de apoio às metas existentes são insuficientes para atingir essas metas”, disse.

Ondas de calor

A avaliação, lançada essa semana em Londres, aponta que a falta de medidas concretas por parte dos governos pode levar a temperaturas extremas a partir da década de 2030, causando 10 milhões de mortes ao ar livre. Ondas de calor anuais podem afetar 70% da população mundial e 700 milhões de pessoas estarão expostas a secas severas e prolongadas todos os anos.

O documento também alerta para a redução de 30% na produção agrícola até 2050 e que 400 milhões de pessoas não poderão mais trabalhar ao ar livre por causa do aquecimento global. Para 2040, há uma expectativa de perda de rendimento de pelo menos 10% nos quatro principais países produtores de milho: Estados Unidos, China, Brasil e Argentina.

Na virada do próximo século, um aumento de 1 metro no nível do mar pode aumentar a probabilidade das grandes inundações em cerca de 40 vezes para Xangai, 200 vezes para Nova York e mil vezes para Calcutá.

Segundo Quinggin, os atuais esforços globais para conter o aquecimento dão ao mundo menos de 5% de chance de manter o aquecimento abaixo de 2°C.

“Sem ações radicais em todos os setores, mas especialmente dos grandes emissores, temperaturas extremas, quedas dramáticas nos rendimentos agrícolas e secas severas prolongadas provavelmente resultarão em milhões de mortes adicionais na próxima década. Ainda há uma janela de oportunidade real (embora ela esteja se fechando) para uma ambição muito maior de todos os governos, para evitar os impactos mais catastróficos das mudanças climáticas”.

A avaliação da Chatham House indica que o ritmo atual dos esforços de descarbonização podem segurar o aquecimento até 2100 em 2,7°C, mas a chance de a temperatura média do planeta subir 3,5°C é de 10%. O pesquisador explica que as restrições de mobilidade ocorridas por causa da pandemia da covid-19 contribuíram apenas momentaneamente para a redução das emissões.

“Nós consideramos isso, mas dado que as emissões se recuperaram muito rapidamente, e agora estão subindo novamente, o breve alívio oferecido pelos bloqueios nas emissões foi insuficiente para mudar nossa avaliação do ritmo e gravidade das mudanças climáticas”, explica.

A Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas é o primeiro de uma série de relatórios de pesquisa aprofundados que a Chatham House vai lançar até a COP26, analisando as consequências do aquecimento do planeta e indicando as ações que precisam ser tomadas para evitar o desastre climático. O trabalho é feito por cientistas e analistas políticos no Reino Unido e na China.

Fonte: Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-09/aquecimento-global-mudancas-podem-ser-irreversiveis-entre-2040-e-2050


IHU Online: O oceano é crucial em nossas vidas e precisa de cuidado

Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômica

"É preciso mais atenção aos desafios do oceano, pois, embora a temática esteja presente na agenda internacional, não há muito a comemorar", escreve Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, em artigo publicado por EcoDebate, 17-09-2021.

Eis o artigo.

Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, além de colocar em risco os serviços ecossistêmicos e benefícios providos para as pessoas, reduzimos oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas sustentáveis e ameaçamos o simbolismo do mar em nossa cultura.

Fonte de inspiração para a música, a literatura, as artes plásticas e as mais diversas manifestações da cultura popular, o oceano desempenha um papel crucial em nossas vidas. Mas, mesmo com sua enorme importância para a economia, a saúde, a alimentação, a ciência, o bem-estar, entre outras áreas, e frente aos reconhecidos serviços ecossistêmicos essenciais para a manutenção da vida no planeta, o oceano ainda parece distante de muitos de nós. Sem conhecê-lo, deixamos de estabelecer a conexão necessária para protegê-lo.

Desde a Rio 92, a histórica conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, realizada no Rio de Janeiro em 1992, líderes mundiais buscam formas de fazer frente aos desafios e ameaças que o oceano enfrenta. No entanto, a mobilização internacional ganhou um pouco mais de força apenas em 2009, quando foi estabelecido o Dia Mundial do Oceano, lembrado no dia 8 de junho, que surgiu com o intuito de celebrar a nossa ligação com o mar, bem como aumentar a conscientização sobre a necessidade de cuidar melhor dele.

Esse hiato de 17 anos teve consequências para a saúde do oceano. A degradação é como um câncer que rapidamente se alastra e que demanda imediata remediação. Demorar em tomar atitudes pode ser a diferença entre a vida e a morte. E quanto antes as medidas forem tomadas, inclusive na prevenção, melhor tende a ser o resultado. Essa morosidade em cuidar do oceano pode ser considerada como negligência da humanidade em relação a um grande aliado de sua existência. Por outro lado, essa demora pode também ilustrar uma falta de clareza dos líderes mundiais sobre esse papel central do oceano na sustentabilidade do planeta.

Recentemente, o movimento em prol do oceano recebeu reforços. Além de contar com um dia para lembrar sua importância, em 2017, a ONU propôs que a década entre 2021 e 2030 fosse dedicada à Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Surgia assim a proposta de somar esforços em nível global entre os governos nacionais, convidando também a sociedade civil organizada a se engajar na luta por um oceano limpo e saudável.

É preciso mais atenção aos desafios do oceano, pois, embora a temática esteja presente na agenda internacional, não há muito a comemorar. A qualidade do ambiente marinho continua sendo perdida ao longo do tempo. Infelizmente, o mar torna-se um grande sumidouro dos rejeitos gerados pelas atividades humanas, como o esgoto, o lixo e os poluentes industriais, a exemplo do petróleo e do mercúrio, e também sofre com outros tipos de agressões. Extinções de espécies que sequer foram conhecidas pela ciência; invasão de espécies exóticas; destruição de ambientes como manguezais e recifes de coral; pesca irregular, ilegal e não reportada; e mudanças do clima correspondem a importantes ameaças que ilustram a ampla crise que assola o oceano.

Essas alterações se desdobram em catástrofes para a humanidade. Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios providos para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas, como turismo, pesca e aquicultura. Estamos falando de cerca de 20% do Produto Interno Bruto do Brasil, valor que depende direta e indiretamente do oceano. Estamos falando de oportunidades para ampliar a oferta de alimento e a segurança alimentar para o planeta. Estamos falando de condições para gerar milhões de empregos e produzir a energia limpa e renovável que tanto precisamos para caminharmos na direção de uma economia de baixo carbono e combatermos os efeitos das mudanças climáticas.

"Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios providos para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas, como turismo, pesca e aquicultura" - Alexandre Turra Tweet

Mas perdemos mais ainda. Perde-se o próprio simbolismo que o oceano tem para a humanidade. Sem o simbolismo do oceano não teríamos a suíte dos pescadores de Dorival Caymmi, os quadros de José Pancetti, os romances de Jorge Amado, os contos populares compilados por Câmara Cascudo e as aventuras de Júlio Verne.

Essa simbologia move inúmeras pessoas a conhecer o mar. Cito duas histórias que repercutiram amplamente e que ilustraram a magia que o mar exerce sobre as pessoas. Em 1995, Maria do Carmo Jerônimo, mineira de 124 anos, conheceu o mar. Tendo sido escrava até os 17 anos, aguardou muito tempo até ter podido realizar esse desejo, uma segunda alforria, que só se igualava à sua vontade de conhecer o Papa.

Em 2021, Pâmella Rocha, uma menina goiana de 9 anos, também conheceu o mar. Com um câncer em fase avançada e que levou à amputação de uma de suas pernas, Pâmella tinha um enorme desejo de estar próxima ao mar. E ela o fez. Junto com sua família e diversos apoiadores, o sonho virou realidade e ela veio a conhecer o que achava que era uma “grande represa”. “Foi maravilhoso ver os olhinhos dela brilhando”, registrou sua mãe, Vannina Rocha.

A exemplo de dona Maria do Carmo e de Pâmella, cerca de 70 milhões de brasileiros nunca tiveram a oportunidade de ver, sentir e se banhar no mar. De sentir a energia das ondas, o sal no corpo, a brisa na face e a areia salpicando na pele. De ver o sol nascer, “emergindo” de um horizonte oceânico.

"Podemos aproveitar a Década do Oceano para refletirmos e para nos questionarmos sobre o que de fato conhecemos sobre ele, sobre o entendimento que temos a respeito da importância dele para nossas vidas e sobre o papel de nossas atitudes cotidianas na saúde do oceano" - Alexandre Turra Tweet

Podemos aproveitar a Década do Oceano para refletirmos e para nos questionarmos sobre o que de fato conhecemos sobre ele, sobre o entendimento que temos a respeito da importância dele para nossas vidas e sobre o papel de nossas atitudes cotidianas na saúde do oceano. Mas, mais que isso, que possamos resgatar o simbolismo do oceano em nossas vidas, renovando a importância dele para a garantia da nossa saúde e a necessidade de seu uso sustentável para superarmos as mais desafiadoras adversidades e progredirmos enquanto humanidade. Falando em simbolismo, considerando o planeta como um ser vivo, certamente o oceano seria sua alma. E sem alma jamais seremos um planeta efetivamente vivo!

Leia mais

Fonte: IHU Online
http://www.ihu.unisinos.br/612958-o-oceano-e-crucial-em-nossas-vidas-e-precisa-de-cuidado


ONU alerta que pandemia não freou aquecimento global

Chefe das Nações Unidas diz que será impossível alcançar meta do Acordo de Paris sem cortes de emissões imediatos e em grande escala

Um relatório sobre as mudanças climáticas divulgado pela ONU nesta quinta-feira (16/09) alerta que a pandemia de covid-19 não diminuiu o ritmo das mudanças climáticas.

A desaceleração econômica e os lockdowns relacionados ao coronavírus causaram apenas uma queda temporária nas emissões de CO2 no ano passado, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

"Houve quem pensasse que os lockdowns devido à covid teriam um impacto positivo na atmosfera, mas não foi o caso", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em entrevista coletiva.

O documento reúne os últimos dados científicos e descobertas relacionadas às mudanças climáticas, afirmando que, entre janeiro e julho, as emissões globais de CO2 associadas ao uso de combustíveis fósseis nos setores de energia e indústria já voltaram ao mesmo nível ou estão acima do mesmo período em 2019, antes da pandemia.

O Acordo de Paris sobre mudanças climáticas de 2015 estabeleceu como objetivo limitar o aumento da temperatura global a até 2 °C em relação ao nível pré-industrial, ficando idealmente mais perto de 1,5 °C.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que essa meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C será impossível sem cortes de emissões imediatos. "Ainda estamos significativamente atrasados para cumprir as metas do Acordo de Paris", disse.

"A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, será impossível limitar o aquecimento a 1,5 ºC, com consequências catastróficas para as pessoas e o planeta do qual dependemos", acrescentou o chefe da ONU. "Este é um ano crítico para a ação climática", disse, avisando que os resultados do estudo trazem uma "avaliação alarmante de quão longe estamos do rumo".

Intitulado Unidos na Ciência 2021, o relatório foi publicado por várias agências da ONU e parceiros científicos poucas semanas antes da reunião de cúpula do clima COP26. O texto alerta também que a mudança climática e seus impactos estão acelerando.

Pausa pandêmica foi breve

A OMM disse que as reduções de emissões durante a primeira onda de covid-19, no início do ano passado, representaram um "breve lapso".

"As reduções gerais de emissões em 2020 provavelmente reduziram o aumento anual das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa de longa duração, mas esse efeito foi muito pequeno para ser distinguido da variabilidade natural", concluiu o relatório.

Neste ano, embora as emissões de CO2 provenientes do tráfego rodoviário tenham ficado abaixo dos níveis anteriores à pandemia, as concentrações dos principais gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global continuaram a aumentar, de acordo com o relatório.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/onu-alerta-que-pandemia-n%C3%A3o-freou-aquecimento-global/a-59202494