ascânio seleme

Ascânio Seleme: Bolsonaro tem razão

Ele foi muito claro ao dizer esta semana que “a ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema?”. Problema nenhum

O presidente está certo. Não dá para impedir e não há nada de mau que as pessoas debatam questões. Ele foi muito claro ao dizer esta semana que “a ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema?”. Problema nenhum. É verdade também que a ideia de que a família Bolsonaro é corrupta também existe. O pessoal debate. Afinal, a casa usou dinheiro vivo e mal explicado para se dar bem. Ao que tudo indica, o dinheiro empregado na compra de imóveis e para pagar contas da família é público. Ou alguém acha que o dinheiro desviado em rachadinhas pertencia aos funcionários que tiveram parte dos salários surrupiada? Claro que não, eram quase todos fantasmas contratados apenas para viabilizar os desvio. Trata-se de dinheiro do contribuinte. Então o pessoal debate, qual o problema?

Foi um festival de gastos com dinheiro vivo que beneficiou Jair, seus filhos, sua mulher, suas ex-mulheres e seus netos. A turma toda tirou lasquinhas do Erário em benefício próprio. Michelle recebeu depósitos de Fabrício Queiroz. As “ex” Rogéria e Ana Cristina também se locupletaram. Ana comprou cinco imóveis com dinheiro vivo. Rogéria, mais modesta, comprou um apartamento em cash. Dois dos três zeros praticaram rachadinha, assim como o pai. Um deles, o zero mais velho, pagou mensalidades escolares dos netos do presidente com dinheiro arrecadado por Queiroz. Ele mesmo comprou uma loja de chocolates para lavar dinheiro. As pessoas estão discutindo isso por aqui. Qual o problema?

Ainda em 2018, soube-se que o então deputado Bolsonaro recebia auxílio moradia da Câmara mesmo tendo imóvel em Brasília. Questionado por um jornalista sobre a irregularidade, respondeu que usava o dinheiro “para comer gente”. O pessoal acha que Bolsonaro usou dinheiro público ilegalmente e de sobra mostrou como é muito mal-educado. Em junho do ano passado, o presidente foi obrigado judicialmente a pedir desculpas públicas à deputada Maria do Rosário, a quem ofendera em 2014 dizendo que não a estupraria por ela ser “muito feia”. E daí surge um outro debate, este sobre a grossura do presidente. Nenhum problema.

O pessoal debate também o espírito antidemocrático de Jair e seus filhos. O fato dele estar calado há um mês e meio é apenas uma cortina de fumaça para esconder a sua natureza profunda e absolutamente autoritária. Ninguém vai se esquecer que ele e seus meninos andaram de braços dados com a turma barra-pesada que falava em fechar Supremo e Congresso e promover uma intervenção militar. Ele entendeu que ficar calado e evitar expor seu lado fascista ajuda. Mas ninguém tem dúvida de que no seu íntimo ele queria mesmo era empastelar jornais, prender e dar porrada em adversários políticos. E até mandar fuzilar alguns privatistas, oras. O pessoal debate isso daí, qual o problema?

No caso do teto dos gastos, o pessoal sabe como pensa o presidente, nem precisa de debate. Ele é da turma do general Braga Netto, do ministro Rogério Marinho e dos ilustres deputados do centrão. Acha que dinheiro público tem que ser gasto, logo e muito. Bolsonaro reconheceu que “há uma briga, no bom sentido” por mais recursos dentro do governo. Poderia ter dito, tratar-se do grupo dele contra o de Paulo Guedes. Ele explicou como entende a questão. “Na PEC da guerra (contra a pandemia), nós já furamos o teto em mais ou menos R$ 700 bilhões, dá para furar mais R$ 20 bilhões?”. E deu a pista de como fazer para gastar acima do autorizado por lei. “Se for para vírus, não tem problema nenhum”. E acrescentou que se for para outra coisa, como água, é só alegar tratar-se da mesma finalidade.

Dez baruscos
A que ponto chegou a corrupção no Brasil. Os valores de desvios medidos há 20 anos chegavam à casa da dezena de milhões de reais. No mensalão petista alcançaram a centena de milhões. No Petrolão, um único homem, Pedro Barusco, cujo nome virou sinônimo de unidade de valor, desviou R$ 100 milhões e os devolveu quando apanhado com a mão na massa. No atacado, chegou-se à casa dos bilhões. Cálculos da Lava-Jato apontam desvios de R$ 6 bi no assalto à Petrobras. Agora, o doleiro Dario Messer, que nunca produziu nem criou nada, nem galinha, vai devolver aos cofres públicos R$ 1 bilhão. Um Messer vale dez Baruscos. Onde vamos parar?

Camaleão
O deputado Ricardo Barros, novo líder do governo na Câmara, é o exemplo mais acabado do que pode e até onde é capaz de ir um membro do centrão. Nunca, em tempo algum, Ricardo Barros trabalhou contra um governo, qualquer governo. Foi a favor e assumiu cargos de liderança com FH, Lula, Dilma e Temer. Agora está com Jair Bolsonaro. Não erra quem apostar que em 2022 estará com quem quer que seja eleito.

Elegante, Salim?
A frase da semana é do ex-secretário da Privatização, o empresário Salim Mattar. Numa entrevista ao GLOBO, quinta-feira, ele disse que Bolsonaro é “elegante, não se envolve e não fica aporrinhando ministro.” Que isso, Salim? Primeiro, Bolsonaro se mete tanto na vida dos ministros que vai derrubando os que não aceitam sua interferência. Casos de Moro e Mandetta, por exemplo. E, fala sério, pode-se chamar o presidente de tudo, menos de elegante.

Mundo da lua
Projeto da Amazon prevê lançamento de três mil satélites na órbita da Terra nos próximos dez anos. Será o que já está sendo chamado de uma constelação de satélites. Hoje, 2,6 mil desses equipamentos, privados e públicos, circulam ao redor do Globo. O projeto Kuiper, de Jeff Bezos, vai mais do que dobrar o tráfego orbital. Faltará espaço no céu para quem gosta de ficar olhando estrelas. Já aquela turma de Brasília que vive no mundo da Lua nem vai se dar conta.

Correção
A coluna da semana passada errou ao não dizer que Lula só estará apto para disputar a eleição de 2022 se o STF entender que também foi parcial o julgamento que resultou na sua condenação pelo sítio de Atibaia. Lula já perdeu em duas instâncias neste caso, o que o torna inelegível.

Ilusionista
O presidente disse, ao final da reunião de quarta-feira com os chefes da Câmara e do Senado e com ministros e líderes parlamentares, que “o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor vai reagir à questão da crise”. Mais uma frase para a galera que não se sustenta. Além dos mais de cem mil mortos, o custo da pandemia já chegou aos R$ 700 bilhões. O valor foi calculado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” com base em estimativas de bancos e do próprio Ministério da Economia. Significa quase todo o tamanho dos ganhos a serem obtidos com a reforma da Previdência ao longo dos próximos dez anos. As outras reformas imprescindíveis para o crescimento, a administrativa e a tributária, não andam. E tem mais, o governo não zerou o deficit público e não fez as privatizações prometidas na campanha. Mais grave ainda é que, embora diga o contrário, sua excelência está buscando um dinheirinho extra para fazer mais despesas e pagar “bondades”, porque afinal a eleição está logo ali.

Ilusionista 2
O líder da turma da gastança que acha ser esta a melhor fórmula para se garantir a reeleição de Bolsonaro é o ministro Braga Netto. Embora seja reconhecido como bom administrador, não se sabe o que o general entende de economia?

Culpado errado
Paulo Guedes reclamou outro dia do que chamou de resistência do meio político em se engajar na agenda de reformas. Um ingrato, este ministro. Sem o total apoio do Congresso, Guedes jamais teria aprovado a reforma da Previdência. Deveria reclamar de Bolsonaro. As reformas não andam por culpa do governo.

Bobinho
Tem coisa que apenas criança faz para tentar esconder suas traquinices, uma vez que ainda não sabe medir consequências. Ao responsabilizar os governadores pelo número de mortes causadas pela Covid-19, Bolsonaro agiu como um menino. Se há um responsável pelo avanço descontrolado do coronavírus no Brasil, trata-se do próprio presidente, um negacionista de carteirinha. Quase todos os governadores seguiram o receituário da OMS. As medidas de distanciamento social não deram inteiramente certo em parte devido ao discurso da gripezinha.

Ninguém é poupado
Nas últimas duas semanas de julho, 97 mil crianças menores de dez anos foram diagnosticadas com a Covid-19 nos Estados Unidos de Donald Trump.


Ascânio Seleme: Só terremoto salva

Mesmo com cenário ruim, 38% dos brasileiros querem reeleger Bolsonaro

Fernando Henrique Cardoso pode até não admitir, mas no fundo deve estar arrependido por haver se empenhado tanto pela aprovação do princípio da reeleição em 1997. Com o falso objetivo de consolidar o Plano Real, criou um monstrengo que atrapalha governos e confunde eleitores. Por sua causa, governantes em primeiro mandato trabalham principalmente para ganhar o segundo, e os eleitores acabam sendo enganados ao julgar os mandatários com base em suas “bondades”. Todos os presidentes foram reeleitos desde a aprovação da emenda, mesmo os enrolados.

A primeira prova de que o princípio torna nebulosa a gestão do postulante a um segundo mandato foi dada pelo próprio FH, que em 1998 segurou artificialmente o câmbio para não atrapalhar sua reeleição e, quando teve de soltá-lo em janeiro do ano seguinte, causou um tsunami na economia. O governante usa sem escrúpulos a máquina administrativa para se reeleger, mesmo que disso resultem quebradeira de empresas e escalada do desemprego. E ainda há um outro elemento que torna praticamente imbatível um presidente candidato, a admiração incondicional do brasileiro médio por homens poderosos.

A reeleição de Lula é um caso já estudado e explica essas premissas. O ex-presidente se valeu tanto da imagem de pai generoso quanto da de gestor poderoso, que distribui dinheiro entre os mais necessitados. Dinheiro público, claro. Lula estava envolvido até o pescoço no escândalo do mensalão, embora tenha dito que “não sabia” das movimentações criminosas do deputado cassado José Dirceu. O PT pagava a partidos e parlamentares pelo apoio que eles davam ao governo. Mais uma vez, era dinheiro público que remunerava os aliados. Um escândalo desse tamanho não foi o suficiente para impedir seu segundo mandato.

Dilma foi reeleita mesmo tendo feito um primeiro governo antipolítica. A ex-presidente passou quatro anos torpedeando partidos, especialmente o MDB do seu vice Michel Temer. Foi tão omissa que acabou permitindo a eleição de seu algoz Eduardo Cunha para presidente da Câmara, no início do segundo mandato. Na economia, expandiu gastos desordenadamente e reduziu juros na marra, resultando no aumento da inflação e do desemprego. Em janeiro de 2013, para combater o monstro que havia criado, pediu aos prefeitos de Rio e São Paulo que não dessem aumento de ônibus. O preço represado da passagem foi majorado em junho, e o que se viu em seguida virou história. Mesmo assim, Dilma foi reeleita.

E então chegamos a Bolsonaro. O presidente colecionou erros grosseiros nos seus primeiros 18 meses de governo. Os mais óbvios foram menosprezar o Congresso, ultrajar o Supremo e incentivar manifestações antidemocráticas. O país assistiu abismado àquela famosa reunião ministerial em que Abraham Weintraub disse que, se dependesse dele, “prendia estes vagabundos”, apontando para a Praça dos Três Poderes, “a começar pelo Supremo”. Além disso, os filhos do presidente, sua mulher e suas ex-mulheres estão envolvidos numa rede de gastos com dinheiro vivo de origem mal explicada, muito provavelmente das rachadinhas praticadas por toda a família.

O presidente ainda ignorou agressões ao meio ambiente e alertas globais. Mais adiante, fez pouco caso da epidemia de coronavírus, debochou das mortes por ela causadas e gerenciou mal o combate. O grande momento da sua presidência, e ainda assim dependendo do ângulo que se olhe, foi a aprovação da reforma da Previdência. Mas, como ele não se mobilizou a seu favor, a reforma deve ser atribuída ao Congresso. Seu único e verdadeiro mérito foi ter se mantido calado nas últimas cinco semanas. Não poderia haver um cenário pior para um presidente. E, mesmo assim, pesquisa revela que 38% dos brasileiros querem reelegê-lo.

Para agravar o quadro, não há no horizonte sinal de entendimento entre os diversos matizes da oposição. Lula caminha solitário à esquerda. Moro bate cabeça à direita. O centro não tem vigor nem empatia. Você pode dizer que é cedo, tudo bem. Mas, se não houver mudança radical nesse cenário já, somente um terremoto poderá evitar a reeleição de Bolsonaro.


Ascânio Seleme: Fascistas e antifascistas

Quando o deputado Eduardo Bolsonaro atacou as manifestações antifascistas de junho passado, chamando seus participantes de terroristas, as pessoas relevaram, embora fosse a palavra do terceiro zero do presidente da República. Tratava-se de mais do mesmo. O personagem já havia demonstrado inúmeras vezes seu desamor à democracia. E, depois, embora fosse filho do homem, não era o homem. Não era o governo, não representava a nação. Levou os pitos habituais e a vida seguiu.

Agora, não. Acabaram as dúvidas daqueles que ainda viam o governo simplesmente como liberal de direita ou dos que o classificavam apenas como conservador. A revelação de que um obscuro departamento do Ministério da Justiça monitora um grupo antifascista formado por servidores públicos da área de segurança e professores universitários críticos ao governo explicitou definitivamente seu caráter extremista. Quem fiscaliza e faz dossiê sobre pessoas e instituições que pregam contra a restrição da liberdade pode ser chamado, no mínimo, de antidemocrático.

Parece piada, mas não é. O repórter Rubens Valente, do UOL, revelou na sexta-feira da semana passada, que uma Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça investiga e já produziu um dossiê sobre o movimento Policiais Antifascismo e sobre professores que se opõem ao governo Bolsonaro. Trata-se na verdade de uma investigação subterrânea, sem objetivo, por não haver crime, e sem acompanhamento do Ministério Público ou de um juiz. Uma investigação ilegal, criminosa.

Para o Ministério da Justiça, a xeretice da Seopi tem a intenção de prevenir práticas ilegais dos funcionários públicos e de garantir a segurança. O argumento é ridículo. O objetivo é político. A investigação ilegal é uma forma de monitorar e manter sob vigilância opositores de Bolsonaro. Porque, e agora é oficial e tem carimbo do Ministério da Justiça, o governo trata antifascistas como perigosos inimigos. Inimigos políticos a serem investigados, denunciados e abatidos. Aliás, estes em questão já foram de certa forma denunciados.

O dossiê sobre os professores e os policiais antifascistas foi distribuído entre órgãos de segurança nos estados e no Distrito Federal. Na prática, estimula a repressão, uma vez que sugere que os dois grupos são capazes de desestabilizar a segurança. Trata-se de uma rematada bobagem. Eles representam exatamente o contrário disso. Ao se posicionarem contra o fascismo, dizem claramente serem contra autoritarismo e violência.

Observação necessária. A Secretaria de Operações Integradas, um órgão de inteligência, que em português verdadeiro significa espionagem, foi criada no atual governo, ainda na gestão do ministro Sergio Moro. Mas, de acordo com a reportagem do UOL, o dossiê foi elaborado já no comando do ministro terrivelmente evangélico André Mendonça. Nenhuma dúvida quanto ao seu caráter, certo?

Outro detalhe importante. O zerinho de Bolsonaro voltou a falar depois que a matéria teve repercussão. Agora, como se fosse em nome da administração. Ele indagou no Twitter se as pessoas querem que o governo tenha em seus quadros pessoas ligadas ao movimento antifas. Foi um deboche, se fosse uma pergunta séria, a resposta seria SIM! O governo seria melhor. Apontaria para a tolerância e a civilidade. Mas o zerinho tem razão, não dava mesmo para esperar por este gesto de grandeza de um governo tão pequeno.

Nenhuma saudade
No dia 27 de agosto de 1980, há 40 anos, uma carta-bomba explodiu nas mãos da secretária do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Dona Lyda Monteiro da Silva morreria logo depois, ao dar entrada no Souza Aguiar. O artefato decepou-lhe um dos braços e provocou diversas mutilações no seu rosto e em seu torso. Outras três bombas foram enviadas para a Câmara Municipal do Rio, para a sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e para o jornal “Tribuna da Luta Operária”, órgão do Partido Comunista do Brasil. A da Câmara deixou seis feridos, a da “Tribuna” era de baixa potência, explodiu de madrugada e só causou danos materiais. A da ABI foi desmontada, depois de o presidente da entidade, Barbosa Lima Sobrinho, ter sido alertado por um telefonema anônimo. Eram os facínoras da ditadura tentando impedir a abertura em curso no governo do último general. Um ano depois, dois desses gorilas implodiram eles mesmos e o regime no atentado malsucedido do Riocentro. Ao contrário de Regina Duarte, o país não tem nenhuma saudade daqueles dias sombrios. Por Isso, todo movimento antifascista é bem-vindo.

Perda da confiança
A diferença fundamental entre Collor e Bolsonaro, a despeito de tantas semelhanças entre os dois, é que Bolsonaro não confiscou a poupança dos brasileiros. Três dias depois da posse, Collor perdeu a confiança dos seus eleitores. Ele decepcionou tanto que caiu na primeira boa chacoalhada. Nestes dias de silêncio do capitão, alguns envergonhados voltam a falar abertamente em seu favor. Tudo o que o eleitor não bolsonarista de Bolsonaro quer é uma desculpa para dizer, nem que seja para ele mesmo, que não errou.

Mitos
Até a segunda metade do século 19, as pessoas não acreditavam que pandas existissem de fato. Achavam que era uma lenda, um mito. Os primeiros a comprovar que os ursos com cara de bonequinho de pelúcia frequentavam a terra de Deus foram cientistas. Só Bolsonaro não enxerga que os cientistas estão sempre um ou dois passos na frente do resto de nós.

Rede de ódio
Quer saber como funciona o “gabinete do ódio”? Quer entender como ele opera? Como funciona seu mecanismo de criação e distribuição de fake news? Quer conhecer as consequências políticas que ele é capaz de gerar e até onde pode chegar? Então assista ao filme “Rede de Ódio”, do diretor polonês Jan Komasa. Disponível na Netflix.

Ecoanxiety
Relatório da Associação Americana de Psicologia descreveu uma nova síndrome neurológica. Trata-se do que a entidade chamou de “ecoanxiety”, o que seria, em tradução livre, uma ansiedade ecológica. Ela define um novo comportamento social que se traduz na forma de um “medo crônico da falência ambiental”. Enquanto isso, no Brasil, Ricardo Salles segue sendo ministro.

Marchons, marchons
Um milhão e meio de galões de vinho da Alsácia vão virar álcool em gel. O maravilhoso vinho branco da região Nordeste da França, ao longo da fronteira alemã, será transformado em álcool e distribuído em hospitais e postos de saúde. A primeira razão, claro, é a pandemia de coronavírus que exigiu um aumento brutal da fabricação desse higienizador de mãos. Em segundo lugar, um boom na produção de vinho local. Os vinicultores, contudo, prefeririam estocar o excesso e vender em ano de baixa. Mas, enfim, guerra é guerra.

Paula e Caetano
Uma das melhores brincadeiras digitais dessa pandemia são as conversas de Paula Lavigne com Caetano Veloso, em que ela insiste para ele fazer um vivo numa rede social. Os diálogos entre os dois são fabulosos. Caetano, todo mundo sabe, é um gênio. Muito bom ver um gênio na versão caseira. O resultado é até mais interessante do que uma live que, aliás, vai sair. Melhor que eles, só o Adnet.

Nota de 200
Fala sério. Para quê o governo vai confeccionar a nota de R$ 200? Não tem sentido. Por três razões, aliás. Primeira e óbvia, cada dia mais as pessoas usam cartões de crédito e débito para pagar contas. Segunda, o avanço das compras on-line impulsionado pela pandemia veio para ficar. Terceira, troco para nota de R$ 100 já é difícil, imagina para a de R$ 200.

Pra quê direito?
Projeto de lei que impõe limites à arrecadação de direitos autorais a autores e intérpretes de música recebeu esta semana alguns adendos. Além da isenção da cobrança em quartos de hotéis e de navios de cruzeiro, que é sua motivação original, o projeto agora inclui cultos ou eventos realizados por organizações religiosas, pelas Forças Armadas, pelas polícias militares e pelos corpos de bombeiros.

Errado
Estudo mostra que 97% de todas as pesquisas on-line no Brasil são feitas por meio do Google. Tem alguma coisa muito errada por aqui.


Ascânio Seleme: E se Trump ganhar?

Desdobramentos políticos impactarão todo o mundo

Nenhum analista político pode cravar, é cedo, mas evidentemente as chances de Donald Trump perder a eleição em novembro parecem bastante razoáveis. Neste momento, as pesquisas apontam que ele está pelo menos dez pontos percentuais atrás de Joe Biden, o candidato democrata a presidente dos Estados Unidos. Desde o início da pandemia de coronavírus, que teve um efeito devastador sobre a sua liderança, Trump vem perdendo apoios e ganhando antipatias. Os erros em sequência cometidos no enfrentamento do vírus e a deterioração da economia foram os principais elementos para turvar a impressão que os americanos têm de seu presidente.

Sua única possibilidade de reverter o quadro é ver as coisas mudarem daqui até novembro, mês da eleição americana. Para sua sorte e azar do mundo, já há sinais de que estão mudando. Na economia, a recessão aparentemente acabou ainda em abril. Em junho, mais de quatro milhões de empregos foram criados nos EUA. As vendas no varejo cresceram 25% nos últimos dois meses. Uma recuperação importante, que não foi vista em nenhum outro país, mesmo os que já vivem a pós-pandemia. Outros indicadores puxados por estes dois também melhoraram no final do primeiro semestre.

Além de apontar para a pujança da maior economia do mundo, os dados mostram que Trump não está morto. Crescimento econômico com criação de emprego é cabo eleitoral de primeira grandeza em qualquer lugar. Muitos eleitores votam com o bolso, com a geladeira cheia, com o carro na garagem, com a hipoteca da casa paga. Mas há um outro elemento no qual o republicano aposta. Trata-se do voto dos que Trump chama de seus “eleitores invisíveis”. São, na verdade, os envergonhados, que votam num determinado candidato porque intimamente se identificam com ele, mas publicamente não conseguem assumi-lo.

Para seus eleitores conservadores Trump mantém a política de permanente confronto com os manifestantes do “Black Lives Matter”. Estes chamam manifestação de baderna e não se importam com a truculência policial contra negros. Embora não admitam publicamente, muitos concordam com a tese dos supremacistas, são racistas e querem manter a dominância branca na política e na economia. Os envergonhados por vezes dizem o oposto, mas no escuro do seu âmago odeiam manifestações e manifestantes. O envio de tropas federais para conter distúrbios em Portland, no Oregon, na segunda-feira, teve esse cálculo político. Trump quis mostrar ao seu eleitor que continua sendo Trump.

Aos demais, tenta pintar um novo autorretrato. O mais inusitado foi apresentado na semana passada aos jornalistas que cobrem a Casa Branca, durante entrevista sobre o coronavírus. Trump entrou sozinho na sala de briefing, fez uma breve declaração sobre a situação do dia e abriu para perguntas. E então, surpreendentemente, respondeu a cada uma delas sem arrogância, sem ataque a jornalistas, sem ódio. Falou de maneira tranquila e respondeu a todas de modo correto, como deve ser feito, civilizadamente, mesmo as mais venenosas. Estava introduzindo um novo elemento na campanha, que por ora pode ser chamado de Trumpinho Paz e Amor.

Além disso, duas vacinas contra a Covid em testes finais em laboratórios americanos podem estar disponíveis ainda em setembro ou outubro. Será seu último trunfo contra Biden. O tempo dirá, mas a chance de Trump receber das urnas um segundo mandato não pode ser descartada tão cedo, apesar da enorme vantagem de seu oponente. E se ele ganhar, os desdobramentos políticos impactarão todo o mundo.

No Brasil, claro, fortaleceria Bolsonaro. O problema para o capitão reside na derrota de Trump. Ele teria de explicar aos democratas o apoio tão descarado quanto indevido que deu ao presidente republicano. Na verdade, mais do que isso, foi “vergonhoso e inaceitável”, como reclamou anteontem o deputado democrata Eliot Engel, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Referia-se a um dos três zeros de Bolsonaro, que publicou em redes sociais vídeo da campanha de Trump atacando Biden.


Ascânio Seleme: O Brasil é melhor assim

Sem as asneiras do capitão, o governo continua sendo ruim, mas deixou de ser ele próprio um elemento desestabilizador da harmonia entre os demais poderes

Há 37 dias os brasileiros não ouvem uma ameaça ou uma bravata do presidente da República. A última foi em 17 de junho, na véspera da prisão do queridinho Fabrício Queiroz, quando Bolsonaro falou a apoiadores na porta do Alvorada sobre a quebra de sigilos de parlamentares da sua base. Ele reclamou do Supremo Tribunal Federal pela medida e acrescentou: “Eles estão abusando. Está chegando a hora de tudo ser posto no devido lugar”. Foi o seu último rompante antidemocrático. Seu isolamento em razão da contaminação pela Covid-19 também contribui para o silêncio.

Desde então não ocorrem mais aquelas rotineiras e ridículas manifestações a favor do fechamento do Congresso e do Supremo e pela intervenção militar com Bolsonaro no poder. Se havia alguma dúvida, ela não existe mais. Era mesmo o presidente, seus três zeros e o resto da sua turma do ódio que incentivavam e indiretamente organizavam aquelas aglomerações em frente à rampa do Planalto. Com o capitão mudo, os “manifestantes” recolheram suas bandeiras e faixas e sumiram. Também não se ouve mais falar dos “300 do Brasil”, que não eram nem 30 e tinham como líder a patética Sara Giromini.

Sem as asneiras do capitão, o governo continua sendo ruim, mas deixou de ser ele próprio um elemento desestabilizador da harmonia entre os demais poderes constituídos. Vida que segue. Não se pode pedir a Bolsonaro mais do que isto, embora a demissão de Ernesto Araújo e Ricardo Salles ajudasse. O fato é que sua pauta conservadora foi eleita com ele, sua política econômica foi explicitada aos eleitores ainda na campanha, quando ele apresentou o seu Posto Ipiranga ao país. Cabe ao presidente tentar aprová-las no Congresso Nacional. Uma questão normal de um governo normal que joga de acordo com normalidade democrática.

A aprovação da sua pauta é outra questão. Na verdade, um problema político para ele. A base original do governo no Congresso é pequena, desarticulada e fisiológica. Os parlamentares que seguem apoiando Bolsonaro, depois das muitas caneladas que ele deu em aliados desde que tomou posse, sofrem derrotas seguidas e agem muitas vezes como cegos em meio a um tiroteio. Seus discursos são desalinhados e muitos querem apenas mostrar a cara, fazer presença, pouco se importando com aprovação ou rejeição de matérias do governo. Os quadros com um pouco mais de tutano saíram ou foram expelidos da base.

O governo perdeu quase todas as questões que levou ao Congresso. Numa lista rápida é obrigatório citar a ampliação do acesso ao Benefício de Prestação Continuada; a flexibilização do orçamento impositivo obrigando o governo a executar as emendas das bancadas estaduais; a ajuda aos Estados e municípios sem a obrigatoriedade de não aumentar salários de todos os servidores; a rejeição do “Plano Mansueto”; e a devolução do Coaf para a Economia. Na reforma da Previdência, caiu o sistema de capitalização sonhado por Guedes, e os arranjos no Congresso reduziram a economia em dez anos de R$ 1,1 trilhão para R$ 800 bilhões.

As muitas derrotas obrigaram Bolsonaro a buscar apoio do Centrão, o que o levou a engolir uma das suas mais emblemáticas promessas de campanha, a de jamais negociar cargos em troca de apoio no Congresso. Mas essa turma também parece servir pouco para aprovar projetos. Nesta semana, mais uma vez o governo perdeu, agora na tentativa esdrúxula de desviar recursos do Fundo de Manutenção e Assistência da Educação Básica (Fundeb) para fazer assistencialismo político. Perderam Guedes e o deputado Arthur Lira, um dos líderes do bloco, que quis adiar a votação quando percebeu que não levaria. A votação não foi adiada, e o Fundeb foi aprovado com 499 votos a favor e sete contra.

O Brasil é melhor assim, sem um presidente falastrão. O problema é saber se vai durar. Tem gente que aposta que não, sobretudo porque algumas contas que ele e seus zeros devem à Justiça já foram emitidas e mais cedo ou mais tarde vão chegar.


Ascânio Seleme: Futuro do PT será determinado pela prevalência de um grupo

No partido há dois grupos: o de Lula, que manda, e que entende que é urgente um entendimento entre as forças políticas democráticas

A coluna de sábado passado, em que defendi o perdão ao PT e a sua reinclusão no debate político nacional, sem ressentimento e sem ódio, gerou uma enxurrada de mensagens e comentários que chegaram por e-mail, WhatsApp e outros meios digitais ou foram publicados em sites e blogs. Muitos deles partiram de uma premissa errada, de que o meu texto representava a opinião do GLOBO. Como obviamente não é este o caso, não precisam ser comentados. Mas o que a maioria revelou, de ambos os lados do espectro político, é que uns não querem ser perdoados e outros se recusam a perdoar.

Claro que não se trata de uma amostragem confiável, que represente a média brasileira. Ao contrário, os que se manifestaram são sobretudo militantes ou pessoas engajadas que redistribuem tudo o que recebem nas suas timelines sem refletir um pouco mais. Mas são formuladores, influenciadores, que de um modo ou de outro acabam contaminando o resto do seu segmento político. Nenhuma surpresa na reação dos que apoiam cegamente Bolsonaro. Destes, o que se viu foram respostas iradas, agressivas e grosseiras que melhor alinham seus emissores ao perfil patológico do presidente.

Mas houve também eleitores do capitão, mesmo os arrependidos, afirmando que só se pode perdoar quem mostra arrependimento e pede perdão. E este não foi o caso do PT, que, segundo eles, jamais fez um mea-culpa e nunca tentou se alinhar às forças políticas democráticas. Embora seja exagerado, faz muito sentido esse raciocínio. Grande parte dos petistas, a começar pela sua presidente, deputada Gleisi Hoffmann, entende que o PT não cometeu crime algum para ser perdoado. Eles afirmam que Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe e que Lula foi preso sem provas. Não admitem que houve desvios bilionários da Petrobras, e por segurança nem tocam no assunto, e afirmam que o mensalão foi uma invenção da direita e da mídia.

Se o Partido dos Trabalhadores se organiza internamente através de algumas tendências políticas que lutam pelo poder na legenda, do lado de fora se consegue ver apenas dois PTs distintos. Um deles é o de Lula, o que manda, e tem entre seus expoentes Gleisi Hoffmann e José Dirceu. Estes não querem nem ouvir falar de entendimento político, de frente contra Bolsonaro. Apostam na ruptura como única forma de retomar o poder. Entendem que um alinhamento com as demais forças do campo democrático pode resultar na eleição de um não petista. Além disso, afirmam que se a rejeição ao PT acarretar a reeleição de Bolsonaro, esse será um problema do Brasil, não do partido.

Mas há um outro PT, tão de esquerda quanto o de Lula, ou até mais do que este, que entende que é urgente superar a etapa do “nós contra eles” e que um grande entendimento entre as forças políticas democráticas não é apenas necessário, é urgente. Essa turma, liderada pelo ex-ministro, ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato a presidente Fernando Haddad, já reconheceu publicamente os erros do PT e se mostrou pronta para reconstruir e reerguer o partido. Esse grupo não tem as amarras populistas de Lula e companhia, é mais moderno, pensa no futuro e não se contenta apenas com o atendimento de interesses imediatistas e corporativistas.

O futuro do maior partido de esquerda do Brasil será determinado pela prevalência de um grupo sobre o outro. Hoje, o PT de Haddad é minoritário, sofre aberta censura do campo majoritário e muitas vezes precisa se calar para sobreviver e seguir brigando internamente pela transformação do partido. Enquanto o dono da bola se recusar a sentar à mesa para trabalhar em conjunto em favor de todos, quem perde é o Brasil. Um país como o nosso, com um abismo social que mantém dezenas de milhões de brasileiros à margem do bem estar e do progresso, precisa de um partido de esquerda forte, moderno e eficiente. Coisa que o PT de Lula não é.

Reforma para quem?
A urgente reforma tributária que vai começar a caminhar mais uma vez no Congresso tem que levar em conta duas premissas fundamentais. A primeira e mais evidente é que ela tem que atender ao cidadão, ao contribuinte, e só depois ao Estado. Além disso, as pessoas querem redução na carga e simplicidade na forma. O sistema tributário brasileiro é um paraíso para os contadores. Só eles conseguem navegar com alguma inteligência nas malhas tributárias e apenas eles sabem onde encontrar aquele gatilho para reduzir o imposto a pagar. O brasileiro está cansado de gatilhos.

O atleta burro
A explicação é do vice-presidente Hamilton Mourão. Para quem não viu, trata-se de uma entrevista que ele concedeu à GloboNews. Mourão disse que Bolsonaro saiu do Exército “no posto de capitão, onde você é muito mais físico do que intelectual”. E que ele não viveu na sua carreira militar a etapa em que “você muda da parte do físico para o intelectual”. Agora dá para entender a explicação do presidente de que a Covid-19 bateria nele como uma gripezinha dado o seu passado de atleta.

Bolsonaro desafia
Ao afirmar na sua live de quinta-feira que o general Pazuello fica no Ministério da Saúde, Bolsonaro desafiou o Exército. Todos sabem da insatisfação dos militares pela associação da sua imagem à pandemia do coronavírus, ressaltada na semana passada pelo ministro Gilmar Mendes. Forçar a permanência de Pazuello acarretará em um desgaste ainda maior para o conjunto das Forças Armadas ou na aposentadoria precoce de Pazuello sem a cobiçada quarta estrela.

Progressão fatal
Se o ritmo do crescimento das infecções por coronavírus continuar como verificado nos últimos 30 dias, quando o número dobrou, em sete meses todos os brasileiros estarão contaminados. Trata-se ou não de um genocídio?

Por outro lado
Nos estados americanos onde a maconha é liberada, o consumo aumentou 50% em junho em relação ao início de maio. No Brasil, as estatísticas que temos são apenas policiais, mas estas valem pouco em tempo de pandemia.

À bala ou pela língua
Todos sabem que Paulo Guedes gosta de usar figuras de linguagem fortes e muitas vezes faz graça com coisa séria. Mas, agora, ele corre o risco de se dar mal. Disse numa entrevista na quinta que só sai do governo “abatido à bala”. Essa foi a gracinha, o perigo de se dar mal foi ter voltado atrás. O ministro se corrigiu em seguida afirmando: “Isso é uma linguagem desagradabilíssima, não posso nem brincar com isso”. Como quem demite é um presidente armamentista, que aumentou o volume de munições que os cidadãos comuns podem comprar e revogou portaria que estabelecia o rastreamento e a identificação de armas, dizer que o tema é desagradável demais pode dar dor de cabeça.

Passando a boiada
Queimadas sazonais acontecem no mundo inteiro e não são exclusividade da Amazônia. Vejam o exemplo da Califórnia, que arde a cada ano provocando mortes e prejuízos importantes. Elas ocorrem também na Europa, na Ásia, na África e na Oceania. Quem não se lembra das tragédias do último verão australiano? No Irã, de acordo como jornal “The New York Times”, houve mais de 1.000 queimadas espontâneas nas florestas locais no últimos três meses. Todo mundo sabe que queimadas espontâneas precisam ser monitoradas e as ilegais devem ser combatidas. No Brasil, as ilegais são incentivadas e as naturais são ignoradas.

Segura as pontas
Dispositivo digital que monitora a forma de dirigir de um motorista está sendo empregado por companhias de seguro americanas nos carros dos segurados que autorizarem sua aplicação mediante um desconto de até 20% no valor que pagam sobre suas apólices. Ajuda muito quem não tem pressa e não acelera. Para o motorista abusado, o resultado do monitoramento pode ao final aumentar o custo da apólice ou levar a companhia a não renovar o seguro.

Que medo é esse
Eles nem existem mais, mas ainda tem gente no Brasil que morre de medo de comunistas, que enxergam em todos os que pensam de maneira diferente da sua. São normalmente pessoas que não gostam muito de pensar. E são tão mal informadas que chegam ao ponto de chamar de comunista até quem se manifesta contra o racismo.


Ascânio Seleme: A turma de Bolsonaro

Colocar um general comandando o Ministério da Saúde durante uma epidemia foi um erro grosseiro

O deputado Jair Bolsonaro passou 30 anos no Congresso convivendo com o que havia de pior no baixo clero. Seus interlocutores foram parlamentares como ele próprio, gente sem brilho, sem ideias, sem projetos, sem protagonismo. Quando se elegeu presidente num descuido da história, se deu conta de que não iria encontrar naquela turma quadros de bom nível para ocupar as importantes funções públicas que se descortinariam com a sua posse. Onde insistiu com gente da patota, se deu mal. Como é o caso da ministra Damares Alves, ex-assessora do ex-senador Magno Malta.

Conseguiu juntar alguns nomes razoáveis, como os ministros da Agricultura, Teresa Cristina, e da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, porque ouviu conselhos de gente ajuizada. Na Economia encontrou um técnico que faria qualquer coisa para ser ministro. Paulo Guedes ainda ganhou com a ignorância do chefe nos assuntos da sua área, e virou um Posto Ipiranga com muito gosto. Mas a maioria do seu primeiro escalão foi formada por apoiadores ideológicos, puxa-sacos ou militares. Estes últimos ganharam relevo e cada vez mais espaço na medida em que Bolsonaro ia se desvencilhando de civis por ciúmes ou porque não obedeciam às suas ordens absurdas.

O presidente julgou que os militares formavam a sua verdadeira turma. E inflou seu ministério com generais. Foi com tanta sede ao pote da caserna que acabou nomeando generais da ativa, um óbvio equívoco. Mais grave, contudo, foi o fato de as Forças Armadas concordarem com o engano. O primeiro general da ativa instalado no governo, Luiz Eduardo Ramos, ocupou uma função burocrática na Secretaria Geral da Presidência da República, uma espécie de ajudante de ordens de luxo de Bolsonaro, mas ainda assim acabou pedindo transferência para a reserva. O segundo foi pior do que um escândalo. Colocar um general comandando o Ministério da Saúde durante uma epidemia foi um erro grosseiro.

O presidente não apenas associou as Forças Armadas, o Exército especialmente, às suas loucuras negacionistas, como ajudou a enterrar de vez o mito da competência dos militares. O general Eduardo Pazuello chegou com ar de xerife. Trocou médicos e sanitaristas por coronéis e majores achando que estava chefiando um departamento de logística do Exército. Deu com os burros n'água. Ele suspendeu as entrevistas diárias, que alertavam e adequadamente paravam o país, e passou a endossar as teses não científicas do presidente.

Pazuello viu o número médio de mortes diárias saltar de 685 para 1056. Em outra frente, o laboratório do Exército passou a fabricar em escala industrial comprimidos de cloroquina, porque o presidente comprou a falsa ideia de que o remédio era eficiente no combate da Covid-19. E coube a Pazuello desovar as milhões de unidades estocadas. O Exército, que produzia 120 mil comprimidos por ano, passou a fabricar 500 mil por semana. O remédio, que era distribuído nas regiões onde a malária é endêmica, e para a qual a cloroquina serve, hoje vai para os hospitais do SUS.

As Forças Armadas, que toparam fazer parte da turma de Bolsonaro, têm que arcar com as consequências e com as críticas aos desastres que seus homens ajudarem a produzir. Ninguém pode atacar o Exército por erros porventura cometidos pelo ministro Augusto Heleno, general que está na reserva desde 2011. Mas é perfeitamente aceitável que o ministro Gilmar Mendes critique a associação dos militares com o que ele chamou de genocídio provocado pelo negacionismo oficial na medida em que a Saúde está sendo tocada por um general que ainda bate continência ao comandante da força.

P.S - Sobre texto que publiquei aqui no sábado passado, afirmando estar na hora de perdoar o PT e readmiti-lo no debate político nacional, muita gente comentou em blogs e redes sociais que se tratava de um recado do Grupo Globo ao PT, do qual eu seria um porta-voz. Nada mais equivocado. Os colunistas do GLOBO são absolutamente independentes e seus artigos representam unicamente o seu ponto de vista. O texto em questão é um exemplo desta independência.


Ascânio Seleme: É hora de perdoar o PT

Ódio dirigido ao partido não faz mais sentido e precisa ser reconsiderado se o país quiser mesmo seguir o seu destino de nação soberana, democrática e tolerante

Não há como uma nação se reencontrar se 30% da sua população for sistematicamente rejeitada. Esse é o tamanho do problema que o Brasil precisa enfrentar e superar. Significa a parcela do país que vota e apoia o Partido dos Trabalhadores em qualquer circunstância. Falo dos eleitores, não apenas dos militantes. Me refiro aos que acreditam na política de mudança do partido, não aos seus líderes. Os que acreditam e sustentam o PT são a maioria do terço de eleitores perenes do partido, não os que foram flagrados nos dois grandes escândalos de corrupção que marcaram as gestões petistas.

Esse agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional. Passou da hora de os petistas serem reintegrados. Ninguém tem dúvida de que os malfeitos cometidos já foram amplamente punidos. O partido teve um ex-presidente e seu maior líder preso e uma presidente impedida de continuar governando. Outros líderes históricos também foram presos ou afastados definitivamente da política. Hoje, respeitadas as suas idiossincrasias naturais, homens e mulheres de esquerda devem ser convidados a participar da discussão sobre o futuro do país. Têm muito a oferecer e acrescentar.

A gritaria contra a roubalheira já cansou, não porque se queira permitir roubalheiras, mas porque é oportunista politicamente. Claro que houve desvios de dinheiro público na gestão de Lula e Dilma, as provas são abundantes e as condenações não deixam dúvidas. Mas o PT é maior que isso e, como já foi dito, para ladrões existe a lei. Imaginar que o partido repetirá eternamente os mesmos erros do passado é uma forma simples, fácil e errada de se ver o mundo. Os erros amadurecem as pessoas, as instituições, os partidos políticos. Não é possível se olhar para o PT e ver só corrupção. O petismo não é sinônimo de roubo, como o malufismo.

Superada esta instância, que é mais fácil, terá de se ultrapassar também a índole autoritária que um dia foi semeada no coração do PT e vicejou. Exemplos são muitos, como a tentativa de censurar a imprensa através de um certo “controle externo da mídia”, de substituir a Justiça por “instrumentos de mediação” em casos de agressão aos direitos humanos, ou de trocar a gestão administrativa por “conselhos populares”. Se estas tentações foram barradas no passado, quando até o centrão apoiava o PT, certamente não prosperarão num ambiente muito mais polarizado como o de hoje.

O fato é que o ódio dirigido ao PT não faz mais sentido e precisa ser reconsiderado se o país quiser mesmo seguir o seu destino de nação soberana, democrática e tolerante. Não pode se esperar essa boa vontade dos que carregam faixas pedindo intervenção militar e fechamento do Supremo e do Congresso, um grupelho ideológico, burro e pequeno que faz parte da base do presidente Jair Bolsonaro. Mas é bastante razoável ter esta expectativa em relação a todos os outros, sejam eles de direita, de centro-direita ou de centro.

Não se pode negar que parte considerável do Brasil é de esquerda. Como tampouco há como se ignorar a força da direita nacional. Ambos os campos existem e precisam ser representados politicamente. O Brasil não tem tempo para esperar por uma outra esquerda, renovada e livre da influência do PT. O país precisa se reencontrar logo para construir uma alternativa ao bolsonarismo, este sim um problema grave que deve ser enfrentado por todos. Perdoar o PT não significa abrir mão de convicções. Ao contrário, significa pavimentar caminhos pelos quais pode se chegar ao objetivo comum de paz e prosperidade.

Outras fake news
Dois exemplos de fake news que mudaram a História do país e devem ser consideradas como alertas para os perigos que significam. 1) O golpe de 1937, que fechou o Congresso, redigiu nova Constituição, suspendeu a eleição presidencial do ano seguinte e manteve Getulio Vargas no poder por mais oito anos, foi construído sobre notícia falsa. Foi o fictício Plano Cohen, uma mirabolante invenção dos getulistas que descrevia uma iminente tomada de poder pelos comunistas. Foi decretado o estado de guerra contra a falsa insurreição e com ele deu-se o golpe. 2) A segunda fake news que mudou o andamento da política no Brasil foi a dos “marmiteiros”. O candidato favorito da eleição presidencial de 1945, Eduardo Gomes, fez um discurso dias antes do pleito atacando “esta malta de desocupados que apoia o ditador (Getulio)”. O getulista Hugo Borghi checou no dicionário o significado da palavra malta, que para o candidato queria significar súcia ou bando, mas também designava operários que percorriam linhas de ferro e levavam sua comida em marmitas. Borghi fez então um artigo no jornal “O Radical” dizendo que Eduardo Gomes ofendera e não precisava dos votos dos marmiteiros, dos trabalhadores, dos pobres. O artigo transformou-se numa campanha em rádios e jornais que apoiavam o candidato de Getulio, general Eurico Dutra, que virou e ganhou a eleição.

Os mentirosos
Trump já mentiu 20 mil vezes desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos. Bolsonaro mente mais de duas vezes por dia e já está chegando na marca de 1,5 mil mentiras desde a posse. Claro que Trump mente mais e é muito mais perigoso para o planeta do que o nosso Pinóquio Tupiniquim. Mas, calma lá, mesmo que os estragos gerados pelas lorotas de Bolsonaro sejam cobrados em reais, eles vão custar caro.

Além do Face
Na França, a caça a conteúdos de ódio extremistas vai além do Facebook e seus filhotes. Na quarta-feira, o YouTube suspendeu a conta de dois ultradireitistas, Dieudonné M’bala e Alain Soral, que usavam o canal para difundir mensagens fascistas, antissemitas e xenófobas. Passa da hora de uma investigação sobre os conteúdos nacionais no YouTube.

Os negacionistas lideram
Os negacionistas Donald Trump, Jair Bolsonaro e Boris Johnson ocupam as três primeiras posições em casos de mortes pelo novo coronavírus. Absolutamente não se trata de coincidência. O fato é que, por ora, apenas o britânico chorou e se arrependeu. Mas porque pegou a gripezinha, foi internado, entubado e passou aperto na UTI. Vamos ver como reage Bolsonaro nos próximos dias. Por falar em negacionistas, por onde anda o ex-médico Osmar Terra?

Vai faltar vaga
Está ficando grande demais a lista de candidatos a uma vaga no STF. Bolsonaro tem tanta conta a pagar que os mais chegados vão acabar ficando de fora. De saída, tem o procurador Augusto Aras e o ministro João Otávio de Noronha para atender. O primeiro pelos serviços que ainda vai prestar, o segundo pelo desempenho amigo no STJ desde o começo do governo. Como só vão abrir duas vagas até 2022, se o presidente for agradecido aos blindadores, terá de deixar de fora o queridinho da família Jorge Oliveira, o “terrivelmente evangélico” André Mendonça, e o terrivelmente católico Ives Gandra Martins Filho. Ives Filho está sendo cotado desde que Ives pai defendeu a tese de que Constituição permitiria a intervenção das Forças Armadas para equilibrar os Poderes. É dura a vida.

Autêntico Covas
O falecido Mario Covas, ex-prefeito, ex-governador e ex-senador de São Paulo, era daqueles políticos que gostam de ir às ruas, falar com os cidadãos, tocar nas pessoas. Outra característica sua era a ranzinzice. Certo dia, entra ao seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes o secretário de Comunicação, Oswaldo Martins, e avisa: “Governador, trago uma boa notícia”. Covas olha para o assessor e manda ele embora: “Hoje, não. Hoje, eu quero ficar puto o dia inteiro”.

Semana curta
O sonho francês de semana de apenas quatro dias de trabalho já está em vigor, mas muito longe de Paris e em apenas uma empresa. Trata-se da Killer Visual Strategies, uma firma de design de Seattle, que descobriu em pesquisas internas que seus empregados produzem nas sextas-feiras a metade do que conseguem entregar nas segundas. Tem outras empresas pensando que esta pode ser uma solução pós pandemia, cortando um dia de trabalho e reduzindo os salários proporcionalmente, mais ou menos como já funciona no Brasil por força dos arranjos legais tomados durante a crise. A Killer Visual, que aposta na satisfação pessoal como forma de engajamento no trabalho, paga salários integrais.

FlaTV
Estava certa a repórter Luana Trindade da FlaTV quando mencionou o nome de João de Deus na transmissão de Flamengo e Boavista, na semana passada. Errado estava este colunista por esquecer que Jorge Jesus tem um auxiliar técnico com o mesmo nome do charlatão de Abadiânia.

Tirando onda
Recebi mensagens questionando o uso da palavra surfista por jornalistas quando querem designar um político que aproveitou uma onda momentânea para obter alguma vantagem. Dizem que surfistas fazem parte da população que não se identifica com esse tipo de político, e que o surfe é um esporte que requer uma vida saudável de aplicação e dedicação. E que ninguém pega onda por acaso. Feito o registro.


Ascânio Seleme: Fake news podem matar

Ao longo da história houve diversos casos que foram emblemas do perigo que notícias falsas representam para as instituições, a política e a vida humana

Não é de agora que corações e consciências são contaminados por fake news. Hoje, a contaminação é mais rápida, quase instantânea, em razão da internet e das redes sociais. Mas ao longo da história houve diversos casos que foram emblemas do perigo que notícias falsas representam para as instituições, a política e a vida humana. Sobretudo se elas forem patrocinadas pelo Estado. Vale destacar como se empreendeu uma das primeiras fake news brasileiras, no final do século 19, e que se encarregou de construir uma imagem falsa de Antônio Conselheiro, quais os seus objetivos e quem patrocinava sua pregação mística em Canudos. O resultado foi uma guerra de três anos com quatro expedições armadas que deixaram cerca de 25 mil mortos.

Antônio Conselheiro era um homem desiludido que vagou pelos sertões do Nordeste por 25 anos, desde que flagrou sua mulher o traindo com um sargento da força pública. Ao longo de sua peregrinação foi ganhando notoriedade como curandeiro e pastor. Em 1893, ele se estabeleceu no Arraial de Canudos, lugarejo baiano quase inabitado. Com sua presença, a vila cresceu a ponto de ter mais de cinco mil casas de taipa na data da sua capitulação. Ele declarou o local independente e o batizou de Belo Monte. Sua pregação contra a República, instalada no Brasil quatro anos antes, se dava porque o novo regime voltava suas costas para o interior do Brasil, de onde apenas recolhia impostos.

Conselheiro transformou-se num inimigo a ser batido. Em seu território no sertão da Bahia, os poderes constituídos não entravam, e a pregação anti-República gerou um pavor de que poderia crescer e se espalhar, dada a sua capacidade de arregimentar pessoas, sobretudo os mais pobres e os abandonados. Para convencer os cidadãos que viviam no Rio, em São Paulo e outras grandes cidades, os adeptos do então presidente Floriano Peixoto passaram a difundir a informação de que Antônio Conselheiro era monarquista, e Canudos estava sendo armada e financiada pela Inglaterra. Uma mentira deslavada.

O resultado dessa fake news foi uma grande adesão à República, contra os monarquistas, contra Conselheiro e todos os que fossem apontados como simpáticos à sua causa. O fracasso das três primeiras incursões armadas a Canudos insuflou ainda mais as pessoas. A mentira de que os monarquistas eram ligados a Conselheiro gerou quebra-quebras. Monarquistas eram perseguidos e alguns foram mortos, como o dono do jornal “Gazeta da Tarde”, Gentil de Castro. Acusado pelos jacobinistas florianistas, partidários de Floriano Peixoto, de ter mandado armas e dinheiro para Conselheiro, Gentil foi assassinado, seu jornal empastelado e sua casa apedrejada.

Euclides da Cunha provaria em “Os Sertões” que Conselheiro e seus seguidores não passavam de um bando de miseráveis famintos. Nunca foram e jamais seriam conspiradores monarquistas. Nenhuma libra britânica foi enviada a Canudos. Soube-se também que Gentil de Castro nunca teve qualquer contato ou ligação com Antônio Conselheiro e muito menos mandou armas ou dinheiro para Canudos. Ele era um monarquista, sim, mas dialogava civilizadamente com republicanos, pessoalmente ou através de artigos publicados em seus jornais. Mario Vargas Llosa, em “A Guerra do Fim do Mundo”, sobre Canudos, diz que “a mentira repetida dia e noite vira verdade”.

Conto outra
Outra fake news histórica foi patrocinada pelo governo dos Estados Unidos após o atentado de 11 de setembro de 2001. Para poder invadir o Iraque e desbaratar a Al Qaeda, os EUA sustentaram com dados falsos ou forjados que Saddam Hussein fabricava armas químicas e que poderia utilizá-las em território americano. Em 2003, as forças armadas de uma coalizão de países capitaneados por George W. Bush bombardearam e depois invadiram o Iraque. O secretário de Estado americano da época, general Colin Powell, hoje arrepende-se por ter endossado a mentira que levou à guerra e à morte de 400 mil civis desde a invasão até a retirada das tropas americanas, em 2011.


Ascânio Seleme: Quem são os inimigos?

Extremos devem ser isolados, impedindo-se que cresçam e se espalhem

A índole antidemocrática do presidente Jair Bolsonaro, um extremista de direita e falso liberal, enseja uma discussão entre as forças políticas sobre quem são de fato os inimigos a serem combatidos. A esta altura deve estar evidente para a esquerda e para centro-esquerda que os inimigos não são os seus reflexos com sinal trocado do outro lado do espectro político. Estes são seus adversários. Da mesma forma, direita e centro-direita devem enxergar assim quando olham para o campo antagônico. Os inimigos de verdade residem nos extremos. São os que atropelam leis, desrespeitam outros poderes, ameaçam a democracia, ou os que pregam a ruptura democrática.

De um lado desses extremos estão agremiações como o Partido da Causa Operária (PCO) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Do outro lado, estão partidos por onde trafega Bolsonaro, como o Patriotas e o Partido Social Liberal (PSL). Ao lado destes, os satélites de sempre, que são de direita mas podem ser de extrema direita se levarem alguma vantagem pecuniária com isso. Alguns, bem pagos, já foram até de esquerda. Nem partidos são. Formam uma aglomeração fisiológica e navegam sempre a favor do vento.

Ficou evidente nesses primeiros 18 meses do governo Bolsonaro o perigo permanente que o extremismo representa. Aqueles grupelhos de poucas dezenas de pessoas que começaram a aparecer quase clandestinamente nas manifestações contra o governo Dilma, que carregavam faixas pedindo intervenção militar, se multiplicaram e passaram a ser abraçados em praça pública pelo presidente e alguns de seus ministros. O que parecia uma piada ridícula em 2016 virou um problema desde o início desta administração.

Os brasileiros que consideram a democracia a melhor forma de governo são 75%, segundo o Instituto Datafolha. Eram 69% em outubro de 2018. Um pequeno declínio desse desejo foi captado pelo instituto em dezembro do ano passado, quando a retórica presidencial convenceu alguns desavisados, e o apoio à democracia desceu para 62%. Ainda assim, a maioria absoluta a defendia. O salto positivo visto agora reflete os seguidos atentados cometidos pelo presidente da República contra a própria democracia. O assunto ocupou de tal maneira o noticiário e as redes sociais que teria virado conversa de botequim, se estes estivessem abertos.

Diante desta incontestável realidade, os partidos que não estão nos extremos deveriam começar a trabalhar contra o inimigo comum, sem concessões, e já. É hora de ouvir o Brasil. O entendimento deve incluir as votações de matérias no Congresso Nacional e as eleições municipais deste ano. Respeitadas as diferenças de programa intransponíveis, todos os demais pontos da pauta política podem e devem ser alinhados, debatidos, negociados e viabilizados por PT, PDT, PSB, PSOL, PV, PSDB, Rede, MDB, DEM, Novo, e todos os demais partidos dentro do arco que vai do primeiro ao último desta lista. E juntos devem isolar os extremos, impedindo que cresçam e se espalhem.

Bolsonaro, que deu alguns sinais de apaziguamento nos últimos dias, não é confiável. Obviamente, é possível conviver mais dois anos e meio com ele, desde que se contenha ou seja contido. O problema maior não é o seu governo, são os seus métodos. Estes devem ser combatidos sem trégua pelas forças democráticas brasileiras e por instituições como partidos políticos e entidades representativas da sociedade civil. Todos os instrumentos da democracia devem ser usados para defendê-la. Só assim, um dia poderemos olhar para o passado e ver o governo Bolsonaro com a mesma incredulidade com que hoje vemos a permissão de fumar em avião, que um dia também existiu.

Facebook, o castigo
Depois de Unilever, Coca e Pepsi-Cola, Starbucks, Ford, Adidas e Microsoft, chegou a hora de Itaú, Bradesco, Vale, JBS, Braskem, Oi, CSN e Gerdau deixarem de anunciar no Facebook. Discurso de ódio para valer é aqui mesmo. No Brasil, o golpe é baixíssimo e trafega livremente pelas páginas da rede mãe. E pelos seus filhotes também.


Ascânio Seleme: Silêncio, medo e ameaças

Bolsonarinho Paz e Amor apareceu de repente, graças ao tranco que o Bolsonarão sofreu com a prisão do amigo Fabrício Queiroz

Mais uma vez sua excelência tenta dar um ar de sobriedade ao seu governo bizarro. Bolsonarinho Paz e Amor apareceu de repente, graças ao tranco que o Bolsonarão sofreu com a prisão do amigo Fabrício Queiroz. Reina uma paz no Palácio do Planalto somente vista nos primeiros 45 dias de governo. Naquela época, contudo, havia uma euforia decorrente da nova investidura que hoje não se vê. Todos os gabinetes agora estão calados, esperando para ver se a coisa se consolida de verdade. Melhor mesmo fazer pouco barulho para não assustar a fera. Vai que ela se irrita e desperta outra vez aquela ira insana.

Os generais acham que a paz pode ser duradoura. A nomeação de Carlos Alberto Decotelli para o Ministério da Educação mostra que há uma disposição do presidente de buscar um pouco de calmaria no meio da tempestade. A ameaça sobre o mais velho dos seus zeros parece ter refluído um pouco depois da decisão do Tribunal de Justiça do Rio de tirar o caso das rachadinhas da primeira instância e dar ao acusado foro especial. Até por estar contaminada politicamente, a decisão do TJ, mesmo contrariando determinação do Supremo Tribunal Federal, colabora para manter o farol baixo do capitão. Da mesma forma que ninguém se mexe no Planalto para não despertar o bicho por ora acorrentado, Bolsonaro talvez ache melhor ficar quietinho em favor da segurança do filho.

O problema, todos sabem, é que o instinto belicoso do presidente é maior do que ele mesmo. Basta o cenário se deteriorar um pouco para que ressurja em toda a sua pujança. Imaginem o que pode ocorrer quando (não se trata de se, mas quando) a mulher de Queiroz for encontrada e presa. Márcia não vai se calar. Queiroz vai espernear e ameaçar. O zerinho vai chorar e o papai dele com certeza vai estourar. Tomara que eu queime a língua, ou a ponta dos dedos, mas não consigo ver a menor chance deste estado de espírito prosperar e durar. Se não for hoje, a explosão vai acontecer amanhã ou depois de amanhã. Não pense que se trata de torcida, não é. Pelo Brasil, o ideal seria que este governo chegasse ao fim, sem maiores solavancos, e depois se dissipasse.

Ocorre que há outra bomba à espreita do presidente e de seus filhos. Trata-se de mais um velho amigo, o advogado fanfarrão Frederick Wassef. Ele já mandou avisar que não vai aceitar ser abandonado, que não gosta que lhe voltem as costas. Na entrevista que deu à revista “Veja”, Wassef disse que recolheu Queiroz em sua casa de Atibaia porque “o presidente simplesmente cortou contato ou relação com ele (…) da mesma forma Flávio se distanciou completamente”. Ele acrescentou que deu guarida ao operador das rachadinhas no gabinete do zero porque passou a ter “informação de que Fabrício Queiroz seria assassinado (…) ele seria executado no Rio (…) quem estivesse por trás desse homicídio iria colocar isso na conta da família Bolsonaro”.

Fala sério, alguém acredita nesta ajuda “humanitária”, como o próprio Wassef a definiu? Difícil de engolir. O que se viu na entrevista do advogado outrora falastrão foram recados claros para o presidente. Primeiro, se ele não aceita que se abandonem outros, como fizeram com o Queiroz, imaginem o que pode fazer se abandonarem a ele. Depois, essa história de queima de arquivo foi uma inequívoca lembrança da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, amigo de Queiroz, Flávio e Jair Bolsonaro. Encurralado numa casa de fazenda na Bahia, era fácil mantê-lo sob vigilância até que se entregasse. Mas, não, a PM invadiu a casa e metralhou o miliciano.

E tem mais. O miliciano deveria ser usado por Wassef para dar fuga a Queiroz e família, caso fosse necessário. Márcia, a mulher do chefe das rachadinhas, foi à casa da mãe de Adriano no interior de Minas Gerais tratar dessa questão. A bagunça é grande. Envolve um advogado inescrupuloso, um assassino profissional, um funcionário ladrão e um primeiro filho corrupto. É um prato cheio capaz de desestabilizar qualquer um. Imaginem o efeito que produzirá sobre Jair Bolsonaro quando suas pontas mal aparadas começarem a ser reveladas no inquérito em curso.

Francamente, doutor
Um juiz deveria ser afastado compulsoriamente das suas funções sempre que fossem apresentadas denúncias contra ele. Um magistrado denunciado por associação com uma pessoa que superfaturou serviços prestados à saúde pública, por exemplo, deveria parar de julgar casos até ele próprio ser julgado e inocentado. Continuaria recebendo até o julgamento. Se condenado, seria demitido sumariamente. Se for fotografado empunhando uma arma de uso exclusivo das forças policiais, da mesma forma deveria ser retirado da sua vara até que se esclarecessem as circunstâncias em que a imagem foi obtida. Suspeitos não podem julgar.

Embaixada para quê?
Foi-se o tempo em que as embaixadas americanas tinham em seus quadros pessoal de inteligência que informava ao Departamento de Estado sempre que um fato apresentava algum risco para os Estados Unidos. Vejam o caso Weintraub. Menos de uma semana antes de viajar para Miami com passaporte diplomático fajuto ele esteve numa manifestação em Brasília, sem máscara, cercado por pelo menos uma dúzia de outras pessoas também sem máscaras. Todo o brasileiro que entra nos EUA tem que se recolher em quarentena, a menos que seja uma autoridade em viagem de trabalho, obviamente. O filhote de Olavo se enquadra no primeiro grupo mas age como se fosse do segundo. Comete um crime pelo qual poderia ser deportado. Mas já não se fazem mais embaixadas como antigamente.

Aos trancos
Maria Cristina Boner Leo, a ex-mulher de Frederick Wassef, vem se envolvendo em rolos com órgãos públicos pelo menos desde 1999. Em abril daquele ano, a empresa TBA, da qual era dona, foi acusada de vender equipamentos da Microsoft para órgãos federais sem concorrência pública. Maria Cristina alegava ser representante exclusiva da Microsoft e amiga de Bill Gates. O caso foi parar no Congresso e na Secretaria de Direito Econômico.

Não adiantou
O secretário de Educação do Paraná, “o jovem” Renato Feder, fez um enorme esforço para assumir o posto do sinistro Abraham Weintraub. Chegou ao ponto de chamar de estadista o pior presidente da História da República brasileira. De nada adiantou o puxa-saquismo explícito, além de colar para sempre em seu perfil a embevecida admiração que tem por Bolsonaro.

Quem manda mais?
Já tem gente dizendo que o deputado Arthur Lira (improbidade administrativa, obstrução de Justiça, enriquecimento ilícito, desvio de recursos públicos, violência doméstica), líder do centrão, manda mais hoje na Câmara que o presidente da casa, Rodrigo Maia. Se ficar nessa leveza toda nos seis meses que restam de sua presidência, Rodrigo corre o risco de não conseguir fazer seu sucessor, imagina tentar uma reeleição.

Já Alcolumbre…
Legalmente, Rodrigo e Davi Alcolumbre não podem se reeleger para a mesa. O regimento impede dois mandatos na mesma legislatura. Rodrigo cumpre o segundo mandato seguido porque o primeiro foi na legislatura passada. Antes, teve um mandato tampão com a saída de Eduardo Cunha, e o STF julgou que aquele termo não deveria ser considerado. Mas há um precedente e nele se agarra Alcolumbre. O falecido Antônio Carlos Magalhães conseguiu, em 1999, se reeleger numa mesma legislatura graças a um parecer da advocacia do Senado que foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça. O poder de ACM então era imenso, tanto que se reelegeu com 70 votos a favor e apenas três contra. Resta saber se Alcolumbre reúne tanta força. Na Câmara, Rodrigo parece já ter jogado a toalha.

O cálculo do centrão
Ao bater o pé na manutenção das datas do primeiro e segundo turnos das eleições municipais deste ano, o centrão trabalha com cálculos eleitorais bem específicos. Diabolicamente, torce para que a epidemia perdure até outubro, o que afugentaria muitos quarentenistas das urnas, mas não impediria a presença em massa de embandeirados negacionistas. Por quê? Porque estes votam a favor e aqueles votam contra.

Entreouvido por aí
“Dois anos depois de sair do governo, Temer segue aprovando mais reformas do que Bolsonaro”. A frase é do jornalista Felippe Hermes, do Spotniks, e foi pronunciada depois da aprovação do marco regulatório do saneamento, que tramita no Congresso desde 2018. Rs.

Se fosse no Brasil
O presidente de Portugal deu uma aula on-line para crianças portuguesas. Tratou da pandemia de coronavírus, deu um show. Se fosse no Brasil, nosso presidente talvez preferisse outro tema, já que sabe nada de Covid-19. Poderia ser uma corriqueira aula de tiro ao alvo. Ou lições de interrogatórios, modeladas pelos exemplos deixados pelo coronel Brilhante Ustra, seu herói. Poderia ser também uma aula de homofobia ou de machismo, com foco na humilhação de terceiros e na agressão aos mais frágeis.


Ascânio Seleme: Um homem cada vez mais só

Este é o momento de maior isolamento de Jair Bolsonaro desde o dia 18 de fevereiro de 2018, quando iniciou sua caminhada para a solidão com a demissão de seu primeiro ministro, Gustavo Bebiano da Secretaria-Geral da Presidência. Aos poucos, mas com uma determinação impressionante, que parece um auto flagelo deliberado, o presidente foi construindo muros e destruindo pontes de modo a ficar praticamente ilhado. Hoje, além dos seus três zeros, de alguns ministros que se identificam ideologicamente com ele, dos puxa-sacos habituais e dos que ganharam uma boquinha no governo, Bolsonaro não tem com quem contar. Nem com os seus generais.

Não vale citar a turma desvairada das redes sociais. Muita gente ali nem gente é, todos sabem como funcionam os robôs do bolsonarismo, e com que velocidade. Os alucinados que vão às ruas com cartazes contra o STF e o Congresso tampouco importam neste cálculo. No Congresso, o centrão se aproxima, mas basta um vento leve para fazê-lo mudar de direção. O pragmatismo desse agrupamento político é que o orienta. Vai sugar o que for possível do governo, mas sem se comprometer com o seu fracasso.

O presidente nem partido tem. Ao romper com o PSL, arrumou uma dúzia de novos desafetos com mandatos federais. Está cada vez mais claro para quem faz política partidária que não vai ser fácil para Bolsonaro recompor sua base, que já era pequena, mesmo distribuindo ministérios, diretorias de estatais e de autarquias, contrariando frontalmente a sua mais importante promessa eleitoral, de não entrar no jogo de troca cargos por apoio político. No caso, aliás, o que Bolsonaro busca não é apoio para governar, mas sim para não cair antes do fim do seu mandato. Para governar, o presidente precisaria do apoio de 257 deputados. Para barrar seu impeachment, bastam 172.

Bolsonaro perdeu esta semana a cumplicidade dos generais do Palácio. Embora continuem no governo, dando suporte administrativo ao presidente, Heleno, Braga e Ramos não topam defender os malfeitos dos filhos. A prisão de Fabrício Queiroz disparou o alarme. O caso é grave e tem desdobramentos que podem chegar ao presidente, embora legalmente ele seja inalcançável. Mesmo que ele e sua mulher sejam incriminados em razão do dinheiro que Queiroz depositou na conta de Michelle, o crime terá sido cometido fora do mandato e Bolsonaro só terá de se explicar à Justiça depois de terminado o seu mandato. Ainda assim, os generais preferem não se misturar com essa bagunça.

Com a prisão de três dos 30 que se intitulavam 300, sumiram os parcos apoiadores mais barulhentos. Restam os que rasgam dinheiro e carregam faixas pela intervenção militar, mas estes também são poucos e, como já dito, importam tanto quanto uma garrafa vazia. Bolsonaro tem ainda as milícias. Estas serão suas enquanto ele estiver ajudando. Embora sejam agradecidas por portarias como a que suspende as normas de rastreamento de armas no país, as milícias podem se afastar do capitão caso ele se torne um problema tão grande que acabe jogando luz sobre a sombra em que praticam suas atividades ilegais. Outra vez o alarme de Queiroz.

Finalmente, pesquisas mostram que o presidente tem 30% de apoio popular. Este é o número mágico no qual ele se agarra para tentar provar que vai bem. O problema é que do outro lado estão os 70% que não o apoiam. Bolsonaro está se isolando na medida em que permite absurdos como os cometidos por Abraham Weintraub, que foram esquentando e aumentando até que sua permanência no ministério se tornasse insustentável. A situação do presidente é muito grave, e ao final ele pode não ter com quem contar.

Quem É o manda-chuva?
A pose arrogante e desafiadora de Abraham Weintraub diante de um Jair Bolsonaro contido e visivelmente desconfortável aparentemente queria mostrar quem manda na casa. O anúncio da demissão do estrupício do Ministério da Educação foi feito pelo próprio. Ele disse também que vai preparar a transição para um novo ministro, que ainda não sabe se será permanente ou interino, e avisou que vai para o Banco Mundial, com salário de R$ 100 mil por mês. Como no vídeo o demitido parecia ser Bolsonaro, o ato apenas serviu para explicitar quem é o manda-chuva. Trata-se do chefe do estorvo, que nunca foi Bolsonaro, mas sim Olavo de Carvalho, o terraplanista de Richmond que deve indicar o substituto.

Foi péssimo, mas pode piorar
Weintraub foi o pior ministro da Educação de todos os tempos. Nunca na História desse país viu-se tamanho disparate na gestão da Educação brasileira. O ministro demitido foi um zero, um nada, um coisa nenhuma. O setor passou os últimos 14 meses paralisado com Weintraub, ultrajado pelos seus métodos, estupefato pela sua ignorância e pelo tamanho da sua incapacidade. Já que no Brasil o que é ruim sempre pode piorar, não custa esperar pelo seu substituto. E como quem deve nomeá-lo é o homem que mandou Bolsonaro enfiar suas medalhas naquele lugar, é bom estar preparado para qualquer coisa.

‘Armistício patriótico'
Talvez o objetivo do novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, tenha sido sensibilizar o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal. Com certeza foi essa a impressão que deve ter causado em Bolsonaro, seus zeros e sua turma mais próxima ao pregar um “armistício patriótico”. Agora, francamente, o que Congresso e Supremo poderiam fazer para atender ao pedido do ministro? O STF teria de suspender todas as ações contra os criminosos amigos e familiares do presidente? Ou o Congresso precisaria abaixar a cabeça e deixar passar todas as barbaridades oficiais, como a MP dos Reitores? A recomendação de Faria, na verdade, só cabe ao presidente da República. Mesmo assim, parece que a sugestão chegou tarde. Bolsonaro já cometeu crimes demais para assinar qualquer armistício.

Que isso, doutora?
A delegada Denisse Dias Rosas deve ser afastada do grupo que investiga as ações dos bolsonaristas determinada pelo STF. Será o mínimo que a instituição pode fazer por causa do pedido que ela fez ao ministro Alexandre de Moraes para “postergar” uma ação contra o grupo para não trazer “risco desnecessário à estabilidade das instituições”. Uma delegada tem todo o direito de sugerir alternativas ao juiz de uma causa por questões objetivas, nunca em razão de uma reflexão política. Pode recomendar o adiamento de uma operação por ter recebido dados de inteligência que recomendam cautela ou pela falta desses dados. Ou por causa da chuva. Mas não porque o presidente está irritado com a PF e a hora não é boa. Convenhamos. A delegada deve seguir a carreira sentada atrás de uma mesa no almoxarifado da corporação.

Demissão exemplar
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, não é mocinho. Não se pode dizer que é bandido, ainda é cedo, mas mocinho ele não é. Feita essa ressalva, é preciso aplaudir o governador pela demissão do coronel Sérgio Luiz Ferreira de Souza, subcomandante que ocupava o comando da PM do DF em razão da ausência do titular hospitalizado. O militar se omitiu, segundo Ibaneis, ao não impedir que os cretinos do grupo 300, que nunca passaram de 30, soltassem rojões sobre o STF. É preciso colocar algum freio nas PMs nestes dias, impedir que um viés ideológico se infiltre e acabe influenciando decisões de segurança. A demissão do coronel foi exemplar.

Avisa a mãe
Coisa mais fofa. Preso, Fabrício Queiroz usou o seu direito de dar um telefonema para ligar para casa. Falou com a filha, disse que foi preso e deu a orientação: “Avisa a mãe”. Claro que se tratava da uma senha. Poderia ter dito “avisa a mãe que me ferrei e manda ela fugir”. Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, é “bem conectada” e pode estar longe uma hora dessas. O Ministério Público, segundo O GLOBO, baseou seu pedido de prisão de Queiroz e Márcia nas negociações da mulher com a milícia do Rio para um plano de fuga dela e do marido. Aliás, já foi dito aqui, a milícia é uma das poucas “forças” que ainda não abandonaram Bolsonaro, seus filhos e seus amigos.