Day: junho 6, 2022

Arte: FAP

FAP e ITV realizam formatura do curso de formação política na quarta-feira (8/6)

João Vítor*, com edição do coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e o Instituto Teotônio Vilela (ITV) realizam, na quarta-feira (8/6), a partir das 19 horas, a primeira formatura dos concluintes do curso online de formação política para candidatos, candidatas e suas equipes, organizado em conjunto pelas duas instituições. Dos 1.503 matriculados, 508 alunos já estão aptos para a formatura. Os demais vão receber certificados, após concluírem as aulas da capacitação, que segue em andamento.

Curso de formação política ultrapassou 1,5 mil inscritos, em parceria da FAP com ITV

A cerimônia será realizada de forma virtual. O público poderá acompanhar a solenidade pelo aplicativo Zoom. O acesso será enviado, previamente, aos alunos aptos à formatura. Para filiados ao Cidadania, o certificado está disponível na plataforma Somos Cidadania. Integrantes do PSDB devem solicitar o certificado pelo WhatsApp [61 983301402].

De 23 a 27 de julho, 1.220 alunos responderam à pesquisa sobre o perfil dos participantes. Desse total, 584 inscritos (48%) informaram que serão candidatos nas eleições de 2022. As equipes dos candidatos representam 52% do público, com 636 respostas ao questionário. No grupo de futuros candidatos, 73% afirmaram que vão concorrer a uma cadeira nas Assembleia Legislativas espalhadas pelo Brasil. Outros 27% querem ser eleitos para a Câmara dos Deputados.

As informações completas estão disponíveis em relatório neste link.

Veja dados em imagens:

Dados: FAP/ITV
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Qual cargo vai disputar
Dados: FAP/ITV
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O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, afirma que o curso demonstra a força da federação PSDB-Cidadania e reforça a luta em defesa da democracia e do desenvolvimento, com foco na realidade do povo brasileiro. “Temos pré-candidatos, equipes e militâncias verdadeiramente engajados em nosso projeto de transformação do Brasil”, ressalta ele.

Além de apontar o curso como “o primeiro grande marco da federação com o PSDB”, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, destaca a capacitação como forma de garantir eficiência à formação política. “Os palestrantes estão na linha de frente da política nacional e, certamente, agregaram bastante conhecimento a todos. Só temos de comemorar o êxito do curso e desejar sucesso nas campanhas dos candidatos e candidatas”, afirma.

Presidente do Conselho Curador da FAP e ex-prefeito de Vitória (ES) por dois mandatos consecutivos, o médico Luciano Rezende agradece aos profissionais das duas entidades e dos partidos, ressalta a qualidade do curso e lembra que a boa política é feita com o talento, além de capacitação e boas técnicas de gestão para que as pessoas eleitas cumpram mandato de excelência no Legislativo ou no Executivo. “Parabenizo aos alunos participantes e, também, um agradecimento muito especial aos professores e professoras que foram sensacionais, com aulas inesquecíveis”, acentua.

Presidente do Conselho Curador do ITV, o economista Marcus Pestana afirma que o curso “obteve êxito enorme”, foi “uma injeção de ânimo” e já conquistou “qualidade muito grande”. “Creio que foi um passo decisivo. O Cidadania e o PSDB estão de parabéns por proporcionar, aos seus candidatos e às suas candidatas, uma oportunidade de se qualificar para elevar o nível do debate nesta eleição que parece que será tão tensa e radicalizada”, diz.

O diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, lembra que o curso dá continuidade ao objetivo de formação política que vem sendo fortalecido, nos últimos anos, sempre com crescimento no número de inscritos em anos eleitorais. “Ao longo dos próximos meses, outros alunos irão concluir este curso porque ficará disponível na plataforma on-line para quem tiver interesse. O resultado é excepcional”, assevera.

Inclusão Política

Uma das mediadoras do curso, a ativista trans Mariana Valentim diz que o curso aumentou a importância da formação política ao mostrar aos participantes formas reais e práticas de elevar a representatividade e inclusão na política. “Por isso, tanto o ITV quanto a FAP estão de parabéns”, ressalta ela.

Advogado especialista em direito eleitoral e um dos professores do curso, Marcelo Nunes destaca a relevância do curso, principalmente em virtude da complexidade das regras eleitorais. “Estimamos expressivo rigor na fiscalização dos recursos públicos que serão destinados nas eleições 2022, e esse curso de formação foi essencial para dirimir dúvidas nesse sentido”, explica.

A Presidente do Tucanafro, o movimento negro do PSDB, Gabriela Cruz, ressaltou a importância do recorte étnico-racial da formação política. “É um objetivo muito central para a militância possa ter uma visão para a promoção equidade racial e promover políticas públicas de igualdade. É importante para que a gente possa ter representatividade e fazer um pacto de humanidade, uma ação conjunta de combate ao racismo e preparação dos candidatos e candidatas dessa agenda tão relevante para o debate nacional”, observou.

Pré-candidata à deputada federal pelo Cidadania do Paraná, Eleangela Cervilha afirma que o curso foi um divisor de águas para seu projeto. “O nível dos palestrantes surpreendeu, e o conteúdo das aulas, muito dinâmico, me motivou ainda mais nesta caminhada. Só tenho a agradecer à FAP, ao ITV, ao PSDB e ao Cidadania23”, diz.

As aulas foram transmitidas, de forma online, de 23 a 31 de maio, na plataforma Somos Cidadania, onde continuam disponíveis para todas as pessoas interessadas.

Confira vídeos do curso:



Serviço

Formatura do curso de formação política para candidatos, candidatas e suas equipes

Data: 8/6/2022 (quarta-feira)

Transmissão: a partir das 19 horas

Onde: https://us02web.zoom.us/j/6612599807

Realização: Fundação Astrojildo Pereira e Instituto Teotônio Vilela

*Integrante do programa de estágio da fundação, sob supervisão do jornalista, editor de conteúdo e coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida


Tatuagem Mein Kampf | Foto: reprodução/Europe1

Revista online | O que nos dizem aquelas tatuagens nazistas do batalhão Azov

Paolo Soldini, com tradução de Luiz Sérgio Henriques, especial para a revista Política Democrática online (44ª edição: junho/2022)

Vimos na televisão suásticas, runas, cruzes célticas, retratos de Hitler tatuados nos corpos dos homens do batalhão Azov. Propaganda russa enviesada, para validar ex post a pretensão de Vladimir Putin pela qual a “operação especial” deveria servir também para “desnazificar” a Ucrânia? Certamente. Não somos ingênuos a ponto de considerar tais corpos um motivo para justificar, ainda que minimamente, o que os russos fizeram, estão fazendo e farão nas terras que ocuparam com a força. E também é difícil evitar a repugnância que sentimos diante da exibição dos prisioneiros, nus, impotentes, num espetáculo para uso da mídia com a marca da obscena propaganda dos vencedores.

As tatuagens nazistas

No entanto, as tatuagens existiam. Nem todos as tinham, por certo, mas muitos, sim, e, apesar de as terem, é como se ninguém entre nós as houvesse visto. Não são um problema, não merecem uma linha ou uma palavra como comentário. Ninguém, ou quase ninguém, sequer as mencionou. O que significa este silêncio? Será que, por terem se comportado tais homens como inimigos dos nossos inimigos, devemos absolvê-los da culpa de ser nazistas? Devemos fingir não saber se, como e em que medida, antes de se encerrarem nos subterrâneos da Azovstal, comportaram-se como nazistas?

Guerra é guerra, e mortes e destruições terminam por anular a potência dos símbolos, mesmo daqueles inscritos com dor na própria pele. Contudo, devemos nos perguntar se é mesmo normal que, num conflito em que se mata sem piedade, todos tendamos a considerar quase um detalhe afirmações de pertencimento ideal que em outras circunstâncias, na normalidade da paz, consideraríamos aberrantes. 

Suásticas e efígie de Stepan Bandera

O nazismo não é um detalhe da história. Menos ainda nas terras em que, hoje, os ucranianos estão se defendendo da agressão dos russos. Entre as imagens que apareciam na pele dos homens de Azov, havia também a efígie de Stepan Bandera. Para quem não sabe, trata-se do ultranacionalista ucraniano que alinhou seu exército independentista ao lado dos alemães quando estes invadiram a União Soviética. Queria a liberdade do seu povo em face dos russos, mas o subjugou ao Terceiro Reich de Hitler, e as SS ucranianas foram tão impiedosas quanto as austríacas e as alemães para matar judeus.

Bandera foi “reabilitado” em 2010 pelo presidente Viktor Yushchenko. Apesar dos duros protestos das comunidades hebraicas e de Israel, sua imagem reapareceu nas praças durante a revolta de Euromaidan e, desde então, está muito presente, com estátuas e ruas com seu nome, sobretudo na parte ocidental da Ucrânia. Assinala uma continuidade ideal que existe, assim como as tatuagens dos homens que reapareceram das trevas do subsolo de Mariupol.

Veja, a baixo, galeria de fotos:

Estação de metrô na Ucrânia serve de abrigo para milhares de pessoas durante os ataques russos | Foto: Drop of Light/Shutterstock
Mãe segura seu bebê em abrigo antiaéreo na Ucrânia | Foto: Marko Subotin/Shutterstock
Em Varsóvia, na Polônia, uma grande tenda foi instalada para abrigar refugiados ucranianos | Foto: Damian Lugowski /Shutterstock
Mãe refugiada ucraniana atravessa a fronteira para fugir da guerra | Foto: Halfpoint/Shutterstock
Crianças se abrigam em seu porão na cidade de Mariupol, Ucrânia, durante bombardeio pela aviação russa | Foto: Vladys Creator/Shutterstock
Lenço nas cores da bandeira da Ucrânia em fronteira com a Eslováquia | Foto: Vladys Creator/Shutterstock
Famílias ucranianas fogem da guerra por meio de fronteira com a Hungria | Foto: Vladys Creator/Shutterstock
Foto: Dba87/Shutterstock
Alemanha e UE anunciam 'novo Plano Marshalll' para Ucrânia | Foto: reprodução/Flickr
Demonstrators display a banner in the colours of the Ukrainian flag reading "Stop [Russian President] Putin, Stop war" during a protest at Berlin's Brandenburg Gate on January 30, 2022. - Demonstrators criticised Putin's massing of troops near the Ukrainian border and called on Germany to play a more active role in defending Ukraine's interests. (Photo by John MACDOUGALL / AFP) (Photo by JOHN MACDOUGALL/AFP via Getty Images)
Kyiv,,Ukraine,-,Feb.,25,,2022:,War,Of,Russia,Against
Caring,Mother,Holding,Her,Crying,Baby,In,The,Air,Raid
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Mariupol,,Ukraine,-,5,March,2022:,Ukrainian,Kid,,Childrens,Takes
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Hungary-beregsurany,,02.26.2022.,Ukrainian,Families,Flee,The,War,Across,The,Hungarian
Flag,Of,Ukraine.,Illegal,Entry,Of,Citizens,To,Country.,Refugees
Alemanha e UE anunciam 'novo Plano Marshalll' para Ucrânia
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Não os tratemos como heróis

Quem se preocupa com a liberdade dos ucranianos e quer que se criem as condições para a paz tem o dever de exigir que tal continuidade seja quebrada. Que não haja mais nenhuma ambiguidade e que possa ser lançado na lixeira da propaganda mais estúpida o afirmado propósito de Putin de “desnazificar” a Ucrânia.

Depois, poderemos nos ocupar da sorte dos prisioneiros. Esperamos todos que tenham a vida poupada, que sejam tratados como prisioneiros de guerra, que os russos finjam (como nós) não ver as tatuagens e, quem sabe, mandem-nos de volta para casa numa troca de prisioneiros. Mas, por favor, paremos, ao menos nós, de chafurdar nos mares da retórica, tratando-os como “heróis”. Mais do que nunca vale nesta circunstância a advertência do Galileu de Bertolt Brecht: “Infeliz é a terra que precisa de heróis”. 

Sobre o autor

*Paolo Soldini, jornalista do histórico L’Unità e, também, de Il Riformista e da Radio Tre Rai. Artigo originalmente publicado em strisciarossa (www.strisciarossa.it), em 24 de maio de 2022. Tradução de Luiz Sérgio Henriques.

** O artigo foi traduzido para publicação na revista Política Democrática online de junho de 2022 (44ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não refletem, necessariamente, as opiniões da publicação.

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Moscow | Foto: Shutterstock/ID1974

Moscou está isolada, mas da África à Índia muitos não seguem o Ocidente

Silvio Pons, Gramsci e o Brasil*

A guerra e a narrativa de Putin. As ideias dos socialistas europeus e o risco de um novo, devastador conflito no Oriente. Il Riformista discute a questão com um dos mais respeitados estudiosos do “planeta” russo, Silvio Pons, docente de História Contemporânea na Escola Normal Superior de Pisa, presidente da Fondazione Gramsci. Entrevista a Umberto De Giovannangeli.

Em Bruxelas o senhor participou de um encontro da FEPS (Foundation for European Progressive Studies), que reúne as Fundações e os centros de investigação dos partidos socialistas, social-democratas e progressistas da Europa. Os socialistas e a guerra. Professor Pons, há um ponto de vista comum?

Sobre algumas questões seguramente existe. Defender a Ucrânia como país democrático e independente é um objetivo que unifica todos os socialistas europeus. E o mesmo se pode dizer sobre a afirmação de uma perspectiva de trégua e, depois, de paz, embora seja ainda muito difícil dizer como e quando se verificará. De resto, na tradição do socialismo europeu há uma particular sensibilidade ao tema da agressão de uma grande potência imperialista e à resposta que é necessário dar a esta agressão na perspectiva de uma política da União Europeia, que está num sistema de alianças ocidentais mas deve também definir os próprios interesses como Europa.

Entramos no quarto mês de guerra. Como se modificou, se é que se modificou, a narrativa de Putin?

Há quase um mês a guerra se encontra numa situação de impasse. Tornou-se uma guerra estranha, muito intensa, porque continua a haver muitíssimas vítimas, tanto militares quanto civis, mas ao mesmo tempo não ocorrem significativos deslocamentos de frentes militares no terreno. O mais significativo se verificou quando a Rússia abandonou o objetivo de chegar a Kiev e concentrou suas forças no leste da Ucrânia. Neste cenário Putin mostrou uma certa reorientação. Seu discurso de 9 de maio foi muito mais cauteloso do que esperávamos. Putin deixou de lado os tons mais ameaçadores, naturalmente sem abandonar os objetivos declarados pela Rússia. E também fez referência à exigência de evitar uma escalada da guerra em sentido nuclear, coisa que não fizera no seu discurso de 24 de fevereiro. Neste sentido, diria que o tom de Putin, mais do que a narrativa, é que mudou. A narrativa, ao contrário, me parece ter continuado a mesma.

O que significa...

Putin continua sem reconhecer a Ucrânia como Estado-nação autônomo e soberano. Isto representa o maior obstáculo para uma negociação de paz. Sua narrativa meta-histórica dos laços está voltada para negar toda legitimidade de existência à Ucrânia. O presidente se entregou a uma polêmica antileninista para renegar o princípio de autodeterminação nacional, que, ao contrário, indica como o início do fim da URSS. Putin, no entanto, mais do que à URSS, continua a aludir a um passado imperial, ao “espaço espiritual da nação russa” – palavras do presidente – que parece ser um axioma em conflito com o princípio universalista da democracia. Esta narrativa, é bom repetir, não nasce em 24 de fevereiro de 2022, mas muito antes...

Quando, professor Pons?

Remonta a 2005, quando Putin, num célebre discurso, definindo o colapso da URSS como a pior catástrofe geopolítica do século XX, aludia à perspectiva de recuperar um papel influente da Rússia na Eurásia. A Ucrânia representava o centro de gravidade de tal visão pós-imperial, em evidente rota de colisão com as perspectivas de ampliação da UE. Uma visão que Putin não abandonou. O presidente russo rompe com Bruxelas para construir um espaço eurasiático maior, com Moscou no centro. Considera que a Federação Russa deva construir um polo autônomo no poder mundial e só possa fazê-lo com o uso da força, dados os limites da sua economia. Putin ainda aposta nas linhas de fratura no Ocidente e no mundo que possam abrir espaço para a influência russa, como bem vimos no Oriente Médio. Aqui termina a parte racional. Agredindo a Ucrânia, pela primeira vez Putin enveredou pelo caminho de uma aventura perigosa, exatamente na medida em que seus objetivos não são claros. Não o eram no início da guerra e não o são hoje.

Macron afirmou que não se obtém a paz com a humilhação da Rússia. Outros ressaltam a necessidade de indicar uma “honrosa” exit strategy para Putin.

Penso que os europeus deveriam ter e praticar o objetivo de encontrar uma exit strategy para todos, não só para Putin. Devemos pensar em sair da guerra de um modo que seja aceitável, antes de tudo, para os ucranianos e, também, compatível com uma negociação com a Rússia. O problema é que até agora os Estados Unidos, apoiados pela Grã-Bretanha, e a Otan expressaram predominantemente o objetivo de um enfraquecimento estratégico, estrutural, da Rússia. A pergunta é se este tipo de estratégia pode funcionar e se conciliar com a busca de uma paz sustentável, mas também com os interesses da UE e dos países que dela fazem parte. Uma coisa é afirmar que se deve enfrentar no terreno a Rússia para forçá-la a negociar. Outra é sustentar que se deve chegar a um enfraquecimento estrutural da Rússia ou mesmo à sua derrota. Este segundo argumento me parece que leva mais a uma provável escalada do que à paz. A pergunta é onde e como se posicionam os europeus em relação a tudo isso.

Pergunta ainda mais decisiva à luz do risco de que o conflito russo-ucraniano seja utilizado para acertar outras contas no Oriente. Refiro-me às declarações do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre Taiwan e a China.

Esta é uma ótima pergunta. Até agora falamos sobretudo da Europa, do retorno da guerra ao nosso continente, do problema das relações não resolvidas entre a Rússia e a Europa, bem como das perspectivas. Isto naturalmente permanece o ponto central, do qual, de resto, trata também o plano de paz da Itália, que me parece um movimento importante porque assinala talvez a primeira iniciativa mais sólida por parte de um país europeu e põe o problema da paz a partir, também, do impasse da situação militar. Um caminho que a Itália não deve abandonar, apesar da rejeição da parte russa. Além disso, há outro aspecto relativo à guerra que está surgindo com força...

Qual?

Suas repercussões globais. Penso sobretudo na crise energética mas também na alimentar, que agora atinge vários países africanos. A urgência de encontrar uma solução diplomática de paz deve nascer também daí. E a Europa terá tanto mais credibilidade quanto mais estabelecer conexão entre uma paz aceitável para os ucranianos, que previna o mais possível uma Rússia revanchista mas também leve em conta as repercussões globais. Se não for assim, muitos atores globais não nos seguirão. Dizemos muitas vezes que a Rússia está isolada. Isto é verdade do ponto de vista das alianças claramente políticas, e a atitude até aqui mantida pela China, que se demonstrou um aliado “morno” de Moscou, o demonstra. Mas também é verdade que muitos países no mundo não seguem em absoluto as posições do Ocidente. Penso na Índia, na África do Sul, no Brasil, no Marrocos, no Senegal. E devemos ter a capacidade de enfrentar a questão da guerra inclusive à luz das consequências que tem para outros países fora da Europa.

*Texto publicado originalmente em Gramsci e o Brasil