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Fogo matou 17 milhões de vertebrados no Pantanal em 2020

Trinta cientistas de diversas instituições aplicaram modelos matemáticos para estimar mortalidade

WWF-Brasil

Pelo menos 17 milhões de animais vertebrados foram mortos diretamente pelo fogo durante as queimadas que, ao longo de 2020, devastaram 27% da cobertura vegetal do Pantanal brasileiro. A estimativa foi feita por um grupo de 30 cientistas de diferentes instituições, em um estudo inédito coordenado pelo pesquisador Walfrido Moraes Tomas, da Embrapa Pantanal. 

A metodologia utilizada na pesquisa incluiu a contagem, em campo, das carcaças de animais mortos em áreas de queimadas, em um período de 24 a 48 horas após a passagem do fogo. O trabalho foi realizado ainda durante a ocorrência das queimadas históricas de 2020.  

Os dados obtidos a partir do levantamento em campo foram submetidos a métodos estatísticos e modelagem matemática para estimar quantos animais - e de quais grupos - foram mortos pelo fogo em todo o bioma, de acordo com Tomas. Um trabalho em uma área tão extensa, em período tão curto, em áreas de difícil acesso, sob pressão de grandes incêndios, representou um desafio logístico e científico considerável, segundo o pesquisador.  

Para contar as carcaças de animais, aplicando um protocolo rigoroso, os pesquisadores se engajaram em uma extensa força-tarefa que percorreu áreas atingidas pelo fogo em 126 trechos lineares - ou transectos - distribuídos de norte a sul do Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O trabalho foi realizado entre agosto e meados de novembro de 2020. 

Ao avistar as carcaças, os pesquisadores registravam uma a uma, com datas e coordenadas geográficas, além do posicionamento e distância de cada uma delas em relação à linha de referência. Quanto mais longe da linha, menor a chance de enxergar as carcaças de animais, quando presentes. Calculando essa probabilidade de detectar uma carcaça, os cientistas elaboraram um modelo matemático capaz de corrigir o erro de detectabilidade e estimar o número de carcaças presentes em toda a área. 

Segundo Tomas, esse tipo de técnica, conhecida como "amostra de distâncias em linhas", é amplamente empregada pelos biólogos na contagem de populações de animais, mas nunca havia sido utilizada para a contagem de animais mortos por incêndios. 

"Foi um trabalho pioneiro no mundo com o uso dessa técnica para esse tipo de estudo e conseguimos resultados bastante robustos. O que importa nesse tipo de levantamento é o número de registro de carcaças e nós conseguimos quase 400. Isso permitiu a elaboração de uma estimativa com uma margem de erro bastante pequena e os números são muito confiáveis", explica Tomas. 

Como o Pantanal é um bioma variado e estava queimando de norte a sul, a força-tarefa precisou se distribuir em dezenas de transectos. Segundo o protocolo, a contagem deveria ser feita até 48 horas após a passagem do fogo. Para isso, os cientistas monitoravam as novas queimadas por imagens de satélites e enviavam uma equipe para o levantamento. 

"Com todo esse esforço conseguimos fazer 126 linhas de contagem, em algumas áreas de acesso dificílimo. Se tivéssemos mais recursos, teríamos incluído um número ainda maior de transectos", diz Tomas. Segundo ele, o levantamento tinha custo elevado, com aluguéis de carros, combustível e alimentação para os participantes. 

O estudo teve participação de pesquisadores da Embrapa Pantanal, ICMBio, Ibama, das universidades federais de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, do Instituto Smithsonian de Biologia da Conservação, do Instituto de Pesquisa do Pantanal, do Instituto do Homem Pantaneiro (IHP) e de diversas outras instituições de pesquisa.  

Na região sul do Pantanal, a maior parte dos recursos foi fornecida pelo Programa Biota-MS, da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) de Mato Grosso do Sul. O WWF-Brasil colaborou com parte dos recursos para a pesquisa em Mato Grosso. Houve também apoio financeiro e logístico de instituições como o Museu Paraense Emílio Goeldi, Embrapa, SESC-Pantanal, ECOA, IHP e Panthera Foundation. 

"Foi um trabalho pioneiro no mundo com o uso dessa técnica para esse tipo de estudo e conseguimos resultados bastante robustos. O que importa nesse tipo de levantamento é o número de registro de carcaças e nós conseguimos quase 400. Isso permitiu a elaboração de uma estimativa com uma margem de erro bastante pequena e os números são muito confiáveis", explica Tomas. Foto: Juliana Arini/ WWF-Brasil

"Várias das instituições disponibilizaram recursos próprios, como o IHP e o ICMBio, que também disponibilizou um pessoal muito experiente em campo e foram parceiros muito importantes", diz Tomas. 

A ideia de realizar o levantamento surgiu ainda durante as queimadas de 2019, segundo o pesquisador, mas naquela época o projeto foi abandonado por questões de segurança. "Quando os incêndios de 2020 começaram ainda mais fortes, decidimos que era preciso cobrir essa lacuna no conhecimento e medir com mais precisão o impacto do fogo sobre a fauna", declara. 

"Os números que trouxemos não dão a dimensão exata, mas mostram a magnitude do que deve ter acontecido no Pantanal em 2020. Isso nos dá um termo de comparação para avaliar futuros incêndios como esses, caso eles se repitam ao longo dos anos", diz Tomas. 

Impactos desiguais 

Segundo Chirstine Strüssmann, professora de Ecologia e Conservação da Biodiversidade na UFMT, que coordenou uma das equipes em campo, o trabalho fornece uma base para novas pesquisas que possam revelar a dimensão do impacto global do fogo no ecossistema. "Nunca havia sido realizado um estudo dessa magnitude, com uma metodologia única, em uma área tão grande do Pantanal", diz ela. 

Embora a falta de dados prévios impeça uma análise precisa dos impactos sofridos pela fauna em 2020, os pesquisadores verificaram que algumas populações foram mais atingidas. "O número de serpentes que conseguimos ver foi maior que dos outros grupos. Não temos uma base prévia para comparação - e as populações de serpentes podem ser muito maiores que as de outros grupos. Porém, mesmo entre as serpentes, o impacto foi desigual. As aquáticas foram especialmente atingidas", afirma. 

De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade foi alta principalmente entre os répteis, concentrando mais de 79% do total de animais mortos. Destes, mais de 95% eram serpentes, sendo que 97% delas eram aquáticas. Os mamíferos foram pouco mais de 15% do total e os anfíbios, 4%. O número de aves mortas encontradas foi relativamente mais baixo. 

Christine salienta que o fogo provocado pela estiagem faz parte da dinâmica natural do bioma, cujo equilíbrio depende da alternância entre períodos de alagamento e de seca. As espécies que prosperam na temporada úmida têm estratégias que lhes permitem sobreviver à estação seca, recuperando rapidamente o espaço perdido quando cessam as queimadas e voltam as chuvas.  

Esse ciclo de regeneração natural, porém, pode ser comprometido caso queimadas tão intensas quanto as de 2020 ocorram por vários anos consecutivos - um risco bastante real, considerando as mudanças climáticas. 

"Muitos animais têm estratégias para escapar, mesmo onde há o chamado 'fogo subterrâneo', que arde sob a cobertura de turfa quando as chamas já parecem ter cessado. O problema é que o tempo de duração do fogo foi muito grande em algumas áreas e, nesses casos, tanto a fauna quanto a flora têm mais dificuldades de recuperação. Em cada área do bioma a resposta é diferente", afirma a professora. 

Tomas, o coordenador da pesquisa, afirma que o impacto desigual em diferentes populações de animais pode ter impacto imprevisível nas complexas relações ecológicas entre eles.  

"Todos os animais têm funções nos ecossistemas. Os roedores, por exemplo, são presas de carnívoros e dispersam sementes. Quando perdemos as serpentes que se alimentam deles, por exemplo, a população de roedores pode explodir. Isso leva ao fenômeno conhecido como 'ratada', que já está acontecendo em algumas áreas do Pantanal", explica Tomas. 

De acordo com ele, porém, é difícil rastrear todos os impactos ecológicos, especialmente porque a densidade de cada população animal antes dos incêndios era desconhecida. "Estimamos que morreram quase 170 mil primatas, 220 mil aves de médio e grande porte e 85 mil jacarés. Mas a densidade desses animais no bioma é variável e muitos, como serpentes e roedores, morreram embaixo da terra e não puderam ser registrados nos levantamentos. Isso indica que, para animais assim, os números foram ainda maiores do que o calculado", diz. 

Destruição de refúgios

Para o biólogo Danilo Bandini Ribeiro, professor da UFMS que não participou do estudo, uma das consequências mais dramáticas das intensas queimadas de 2020 no Pantanal é que elas atingiram áreas de formação florestal que normalmente não queimam - e isso reduziu drasticamente a disponibilidade de refúgios para os animais, limitando suas estratégias de sobrevivência. 

"Embora o fogo faça parte da dinâmica do Pantanal, a extensão das queimadas em 2020 foi anormal. Quase 30% do bioma foi atingido pelas chamas. Isso não seria tão grave se uma área tão extensa queimasse pouco a pouco. Mas tivemos mega incêndios com frente de fogo de até 20 quilômetros. Nessas condições, o fogo se espalha rápido demais, impedindo que se formem refúgios para os animais", explica Ribeiro. 

Ribeiro é coordenador do Projeto Noleedi (fogo, no idioma Kadiwéu), que estudo o efeito do fogo na biota do Pantanal Sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação. O projeto, que é uma parceria da UFMS com o Prevfogo-Ibama, teve apoio do WWF-Brasil.  

"Estamos estudando o efeito do fogo na biota, a fim de estabelecer, entre outras coisas, qual é a melhor época do ano para fazer o manejo do fogo, qual o efeito disso em alguns grupos da biodiversidade que estamos monitorando e qual o efeito histórico do fogo em uma perspectiva de longo prazo", conta Ribeiro.

Manejo do fogo

Ele explica que o Pantanal tem ciclos plurianuais de seca e cheia - e por isso é importante estudar os impactos a partir de uma perspectiva de longo prazo. Segundo Ribeiro, não se sabe ainda se essa sequência de anos secos no Pantanal é resultado de mais um ciclo plurianual, ou se é reflexo das mudanças climáticas. 

"Podemos estar entrando em um ciclo de vários anos de seca, como ocorreu na década de 1970. Mas não temos certeza, porque além das variações anuais e dos grandes ciclos plurianuais, temos a influência das mudanças climáticas, que estão contribuindo para tornar os ambientes mais secos e quentes, com extremos mais pronunciados", diz Ribeiro. 

Para ele, enquanto não há uma conclusão sobre a origem das secas, o melhor caminho a seguir é o aprimoramento do manejo do fogo controlado. "De todos os recursos de que dispomos, em termos de políticas públicas, o manejo do fogo é o que reúne mais evidências científicas de sua eficiência. Acredito que é necessário também aumentar o investimento na prevenção - não apenas montando brigadas para o combate de incêndios, mas termos brigadas o ano inteiro realizando o manejo do fogo", frisa. 

O biólogo afirma que banir o uso do fogo é uma estratégia contraproducente, já que faz parte da dinâmica do bioma. Se não houver fogo controlado, a biomassa seca se acumula e, quando ele ocorre, fica completamente fora de controle. "As queimadas prescritas são a maneira mais eficiente de impedir grandes incêndios descontrolados. Com o manejo da quantidade de biomassa seca, a tendência é que essas áreas manejadas não queimem, ou queimem menos, reduzindo a cicatriz do fogo", diz o pesquisador. 

Fonte: WWF Brasil
https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?80028/Fogo-matou-17-milhoes-de-vertebrados-no-Pantanal-em-2020


STF adia novamente votação do marco temporal

Julgamento do Supremo sobre demarcação de áreas indígenas prossegue na próxima semana

SCO / STF

Com a leitura do relatório pelo ministro Edson Fachin, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar, nesta quinta-feira (26), o Recurso Extraordinário (RE) 1017365, que discute a definição do estatuto jurídico-constitucional das relações de posse das áreas de tradicional ocupação indígena ​e desde quando essa ocupação deverá prevalecer, o chamado marco temporal. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, anunciou que o julgamento prosseguirá na próxima quarta-feira (1º/9) e que estão previstas 39 sustentações orais por partes e interessados. O recurso, com repercussão geral (Tema 1.031), servirá de parâmetro para a resolução de, pelo menos, 82 casos semelhantes que estão sobrestados.

A controvérsia é sobre o cabimento de uma reintegração de posse requerida pela Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Fatma) de uma área localizada em parte da Reserva Biológica do Sassafrás (SC), declarada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como sendo de tradicional ocupação indígena.


PROTESTO EM BRASÍLIA


Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Analisando a questão, o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4) entendeu que não há elementos que demonstrem que as terras seriam tradicionalmente ocupadas pelos indígenas, como previsto na Constituição Federal (artigo 231), e confirmou a sentença que determinou a reintegração de posse ao órgão ambiental.

No recurso ao STF, a Funai sustenta que o caso trata de direito imprescritível da comunidade indígena, cujas terras são inalienáveis e indisponíveis. Segundo a autarquia,a decisão do TRF-4 afastou a interpretação constitucional (artigo 231) sobre o reconhecimento da posse e do usufruto de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e privilegiou o direito de posse de quem consta como proprietário no registro de imóveis, em detrimento do direito originário dos indígenas.

Desde maio de 2020, o ministro Fachin determinou a suspensão da tramitação de processos sobre áreas indígenas até o fim da pandemia da Covid-19, por entender que medidas como reintegração de posse podem agravar o risco de contágio do vírus. Ao deferir a suspensão, o ministro afirmou que, em decorrência das reintegrações, os indígenas correm o risco de ficar, “repentinamente, aglomerados em beiras de rodovias, desassistidos e sem condições mínimas de higiene e isolamento”.



Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
Ato contra o Marco Temporal - 26/08/21. Foto: Gabriel Paiva/Fotos Públicas
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Fonte: SCO / STF
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=471874&ori=1


Bolsonaro pressiona STF contra indígenas: “Pode ter desabastecimento”

Em live, o mandatário insinuou que os 6 mil indígenas mobilizados são "cooptados" pelo MST

Lucas Rocha / Revista Fórum

Durante transmissão ao vivo realizada nesta quinta-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro disparou ataques contra os 6 mil indígenas que estão mobilizados em Brasília (DF) contra a votação do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). Sem dados, o mandatário disse que a votação pode provocar o desabastecimento de alimentos no país.

“Tem umas 5 mil pessoas acampadas aqui em Brasília. É o pessoal do MST e nossos irmão indígenas que eles cooptam para fazer volume”, disse o presidente em live. Segundo ele, os indígenas em luta “não sabem o que tão fazendo ali”.

“É um crime usar essas pessoas como massa de manobra”, afirmou.

O presidente defendeu a tese dos ruralistas de que os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem em sua posse até a promulgação da da Constituição de 1988 – o chamado marco temporal. Segundo ele, a rejeição disso pode gerar impactos no setor do agronegócio. 

“Podemos ver dobrar a quantidade de terras indígenas, isso vai causar sérios transtornos. Vamos ter problema na balança comercial e a inflação de alimentos, que sim existe, vai aumentar. E ainda pior, pode ter desabastecimento”, afirmou. O presidente não apresentou dados sobre a isso.

Marco Temporal

Após a votação prevista para esta quinta ser adiada, o STF vai analisar na próxima quarta-feira (1º) ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, da TI Ibirama-Laklãnõ. O tema, no entanto, tem “repercussão geral” e servirá de diretriz para todos os procedimentos demarcatórios. Caso o STF vote pela reintegração, vai sustentar uma tese defendida por ruralistas de que os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem em sua posse até a promulgação da da Constituição – ou seja, a tese do Marco Temporal.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que “tese é injusta porque desconsidera expulsões, remoções forçadas e todas as violências sofridas pelos indígenas até a promulgação da Constituição”. “Além disso, ignora o fato de que, até 1988, eram tutelados pelo Estado e não podiam entrar na Justiça de forma independente”, diz.

Indígenas seguem mobilizados

Cerca de 6 mil indígenas de mais de 170 povos ocupam Brasília desde domingo (22) contra ação judicial que pode afetar demarcação de diversas TIs. A luta contra o Marco Temporal promoveu a maior mobilização indígena pós-constituinte.

O acampamento “Luta Pela Vida” conta com intensa programação de plenárias, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Com o lema “Nossa história não começa em 1988”, a mobilização tem como principal objetivo impedir a aprovação do Marco Temporal

Fonte: Revista Fórum
https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-stf-contra-indigenas-desabastecimento


Marco temporal pode ser analisado nesta quinta-feira pelo STF

Julgamento que definirá as demarcações de terras foi adiado para hoje. Mais de 6 mil indígenas seguem acampados em Brasília

Cristina Ávila / Especial para o WWF-Brasil

Pelo menos 250 Xokleng, da Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ, percorreram cerca de 1.400 quilômetros de Santa Catarina até Brasília para acompanhar o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365, que trata de um pedido de reintegração de posse movido contra eles pelo governo do estado e que também servirá de diretriz para as próximas decisões judiciais sobre demarcações de terras. Isso porque está embutido nesse recurso o marco temporal, argumento defendido por ruralistas, segundo o qual somente teriam direito a terras os povos que as ocupavam ou disputavam antes de 5 de outubro de 1.988, data da promulgação da Constituição Federal.

Os Xokleng, que quase foram dizimados por sucessivos ataques, protagonizam agora um caso histórico. O julgamento estava previsto para começar ontem, mas acabou transferido para esta quinta-feira porque a Corte encerrou a sessão do dia sem concluir a análise da ação anterior, que envolve o Banco Central. Apesar do adiamento, os mais de 6 mil indígenas de 176 povos e 20 estados que estão acampados em Brasília no movimento “Luta pela Vida”, que começou no último domingo, não desanimaram. “Estamos de luto, mas estamos aqui”, contou Jaciara Priprá Xokleng, que, mesmo tendo perdido três parentes agora em agosto, fez questão demostrar sua resiliência em Brasília.

O clima de expectativa que tomou conta da Esplanada dos Ministérios se mistura à força e à resistência, mas também à leveza, trazidas pelos povos indígenas, com seus rituais religiosos e cânticos politizados. Nesta quarta-feira, o dia começou com debates políticos no acampamento, mas o auge foi a presença dos artistas Vitão, Maria Gadú e Alok, que desembarcaram na capital federal em solidariedade ao movimento. Sucesso total, confirmado com palmas e gritos de uma plateia entusiasmada.



Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Jacqueline Lisboa / WWF-Brazil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
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Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Jacqueline Lisboa / WWF-Brazil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
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Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Jacqueline Lisboa / WWF-Brazil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
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Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Jacqueline Lisboa / WWF-Brazil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
Indígenas aguardam "julgamento do século" - Marco temporal. Foto: Matheus Alves/WWF-Brasil
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Por volta das 13h30, sob o sol típico da época desértica, quente e extremamente seca, que levanta poeira em Brasília, os indígenas marcharam decididos, cantando, à Praça dos Três Poderes, fizeram rituais religiosos em frente ao STF e assistiram à performance do Greenpeace, que simulou o derramamento do sangue dos povos originários sobre o chão entre a Corte e o Palácio do Planalto. Cerca de 18h, pela quarta vez em dois meses, foi anunciado que a análise do marco temporal havia sido transferida para o dia seguinte.

Manifestações contra o marco temporal, contudo, não se restringiram a Brasília. Jaciara relatou que os Xokleng também fizeram passeatas pacíficas na BR-470, onde moram, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, com a presença dos anciãos e lideranças jovens para chamar a atenção sociedade. A TI Ibirama-La Klãnõ tem nove aldeias e a disputa pelas terras é muito antiga. “Tenho 24 anos e, desde que nasci, meu pai luta, inclusive em movimentos em Brasília, e meu avô também já lutava”, salienta Jaciara. Na realidade, esse povo foi quase exterminado no início do século passado, por chamados “bugreiros”, contratados em Santa Catarina para matá-los.

A jovem Jaciara relata que, durante a pandemia de Covid-19, a maioria dos mil indígenas que vivem no território foi contaminada. “Fizemos barreiras sanitárias, mas invasores não respeitaram, entraram até armados e levaram o vírus em massa para o nosso povo”, disse. Uma das vítimas foi Daniela Caxias, de 26 anos, que morava na área urbana do município vizinho de Vitor Meireles, mas decidiu ir para a aldeia dos parentes se resguardar. Achava que estaria mais protegida lá. Morreu em 12 de agosto. Na mesma semana, morreram também de outras doenças as lideranças que haviam sido caciques dos Xokleng, Aniel Priprá, de 50 anos, e Alfredo Paté, de 80. O luto, porém, teve que esperar.

Leia também:

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A angústia sobre a decisão do STF afeta indígenas de todo o país. Como o histórico integrante das lutas em Brasília desde os processos que antecederam a Assembleia Nacional Constituinte, Megaron Txucarramãe, que participou de rituais religiosos na Praça dos Três Poderes nesta quarta-feira. Entre os milhares de impactados pelo caso que será julgado em Brasília, pontuou Megaron, estão seus parentes Kayapó, que reivindicam uma área no oeste de Mato Grosso.

“O processo de demarcação está parado há 3 anos. A comunidade está muito preocupada com a decisão dos ministros. Se for a favor dos indígenas, nossas terras continuarão garantidas. Senão, vai ter invasor plantando soja, criando boi... Queremos uma resposta do STF. Está muito perigoso”, afirma Megaron, sobrinho do líder Raoni Metuktire, que se recuperou da Covid-19, depois de ser internado no ano passado, mas ainda está de luto por sua esposa Bekwyjka Metuktire.

Fonte: WWF-Brasil
https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?79688/Marco-temporal-pode-ser-analisado-nesta-quinta-feira