PPS Diversidade

Democracia X Totalitarismo: realidades distintas para LGBTs

Estados totalitários definitivamente não são bons para quem é LGBT. Apoiá-los representa um duro golpe contra os princípios mais caros que se pode ter no campo político. A esquerda, que evoluiu após uma importante participação na história, realinhou-se ao redor do globo em um modelo fundado na luta democrática pelo poder. Democracia, nesse sentido, representa o compromisso com a vontade popular, mas também com os direitos das minorias.

O espaço democrático constitui uma possibilidade real de se fazer valer direitos essenciais para a população LGBT. Aliás, a única possibilidade. O totalitarismo tende a ser esmagador a qualquer forma de expressão das minorias. Por isso, defender esse espaço e rechaçar quaisquer tipos de apoios a regimes autoritários, não obstante a eventuais afinidades ideológicas, deve representar uma prioridade máxima para qualquer partido, sobretudo para a esquerda que, a exemplo do nosso período ditatorial brasileiro, conhece a perseguição e a censura.

Em uma retrospectiva histórica, faz sentido evidenciar que Lênin, Fidel Castro, dentre tantos outros revolucionários, consideravam a homossexualidade um desvio burguês, uma anormalidade, que deveria ser combatida inclusive mediante coerção estatal. Trata-se de um corpo ideológico e perigoso para preconceitos internalizados culturalmente. Perseguições, demissões, deportações, castrações e, até mesmo, execuções não eram raras para a população LGBT nas antigas repúblicas socialistas. Campos de trabalhos forçados também eram política de Estado que, não diferente dos horrores nazistas, eram usados de modo a “readequar” esses indivíduos para o padrão valorizado à época.

No recorte contemporâneo, episódios como a ratificação do apoio do PT, do PC do B e do PSOL ao regime de exceção de Nicolás Maduro são execráveis e demonstram uma profunda incoerência de grande parte da esquerda brasileira. Os partidos citados, por exemplo, se posicionam como defensores da população LGBT, mas traem profundamente suas bases ao apoiarem um líder que em mais de uma ocasião proferiu ofensas homofóbicas a seus opositores em um dos países que mais persegue LGBTs no mundo.

No campo do casamento igualitário, as democracias liberais — não sem luta — foram as mais bem-sucedidas em garantir e expandir esse direito à população LGBT. Atualmente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido em 24 países em um processo que se iniciou em 2001 com a vanguarda dos Países Baixos. Pode parecer pouco, mas a legalização, na maior parte desses países, ocorreu após 2010, o que representa uma tendência positiva no âmbito dos direitos das minorias.

Em contrapartida, países com antecedentes comunistas, ainda que não proíbam expressamente a homossexualidade, tendem a ser mais homofóbicos e menos abertos a diversidade. Em 2012, promulgou-se, na Rússia, uma lei que proíbe as paradas LGBTs pelos próximos 100 anos e mais da metade da população, segundo pesquisa do instituto Vtsiom, acredita que a homossexualidade deveria ser punida.

No PPS há o entendimento de que o socialismo revolucionário foi corretamente derrotado pela história. Os erros passados da esquerda se mostraram claros no sentido de indicarem a necessidade de uma mudança para um modelo ideológico que valorizasse a tolerância, o humanismo e o diálogo como a forma mais efetiva de se alcançar uma sociedade verdadeiramente justa e plural.

Bruno Couto - Coordenador Estadual do PPS Diversidade (RJ) e Romeu Tavares - PPS Diversidade (São Gonçalo)


Eliseu Neto: “Ainda há muito a se fazer no combate ao preconceito contra a população LGBT”

Preconceito no país ainda é muito forte, avalia o ativista e coordenador nacional do PPS Diversidade

Germano Martiniano

Em sequência às entrevistas especiais com palestrantes do II Encontro de Jovens Lideranças, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) conversa nesta quinta-feira (6/7) com Eliseu Neto, ativista e coordenador nacional do PPS Diversidade. Ele participará da palestra “Democracia da inclusão - reconhecer diferenças para garantir direitos", prevista para o dia 12 de julho. O encontro será realizado na Colônia de Férias Kinderland, em Paulo de Frontin (RJ), entre os dias 11 a 15 de julho.

De acordo com Eliseu Neto, ainda há muito se fazer no campo de combate ao preconceito contra a população LGBT. “No Brasil o preconceito ainda é muito forte. Temos uma enorme influência religiosa e moralista, fazendo que sejamos o pais que mais mata LGBTs”, disse o ativista.

Sobre o II Encontro, Eliseu espera que os jovens possam, por meio do convívio, perceber que o respeito é fundamental e que piadas são os primeiros passos para a destruição da vida de outros jovens. “Acredito na formação política e que a interação pode trazer uma visão mais humana dentro das diretrizes do PPS”, finalizou. Confira, a seguir, alguns trechos da entrevista:

FAP: O tema que você irá abordar lembra muito uma frase de Boaventura Souza Santos, em que ele diz que “temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”. O Brasil é um país, que por mais que exista grande miscigenação, ainda não sabe conviver com as diferenças sociais, religiosas e de gênero?
Em relação a frase de Boaventura, estou de acordo com o intelectual português. É preciso discriminar, diferenciar, estabelecer diferenças, para então aceitar as diferenças, nomeá-las para fazer com que elas tenham força, peso. É isso o que pode dar sustentação a possibilidade de vivermos todos juntos e cada um com suas diferenças e peculiaridades. No caso do Brasil, o preconceito ainda é muito forte. Temos uma enorme influência religiosa e moralista, fazendo que sejamos o país que mais mata LGBTs. Nossa sociedade ainda não entendeu o conceito de crime de ódio, que é onde alguém é morto, atacado ou vilipendiado apenas por ser quem é!

FAP: Você trabalha muito com a temática LGBT. Alguns meses atrás você foi o responsável por um evento em Brasília que tratava da falta de políticas públicas em relação a população LGBT. O maior consenso no debate foi que faltava educação, a educação de base para que as pessoas pudessem entender melhor este universo. O que você diz sobre isso?
Paulo Freire dizia, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor". Na lei de diretrizes e bases da educação, em seu artigo segundo, é dito claramente que a função da escola é preparar para a vida. Isso significa lidar com as diferenças, respeitar, etc. Infelizmente as escolas hoje são mais focadas em provas e aprovação no ENEM do que em auxiliar os jovens a ter uma visão humana, respeitosa e diversa. A escola ainda é um espaço que propaga preconceito ao invés de enfrentar.

FAP: Falta maior participação LGBT na política brasileira? Qual motivo leva a isso? Não se abrem espaços para aumentar essa participação?
Existem a população LGBT e o movimento LGBT. A população precisa se politizar mais, conhecer os partidos, apoiar, entender a força que um evento como a Parada LGBT possui, assim como os editais do Minc (Ministério da Cultura) e a campanha do Ministério da Saúde. Por outro lado, o movimento LGBT é partidarizado demais, acaba inviabilizando a luta para defender partidos ou ideologias. Isso é lamentável. Vi Paradas LGBTs que deveriam ser sobre direitos das transexuais sendo usadas para atacar o governo. Vi seminários LGBTs nos quais somente políticos falavam e sobre questões partidárias! Temos que parar de ser usados pelos partidos e aprender a usá-los!

FAP: O II Encontro terá a participação de jovens do Brasil inteiro, várias culturas, vários estilos e, provavelmente, jovens do PPS Diversidade. Qual a importância cultural deste evento?
Fundamental. Sei do cuidado que a Fundação Astrojildo Pereira teve em inserir os jovens que são do movimento social. Espero que, da mesma forma que aconteceu no primeiro evento, os jovens possam, por meio do convívio, perceber que respeito é fundamental, que piadas são um primeiro passo para destruir a vida de outros jovens. Acredito na formação política e que a interação pode trazer uma visão mais humana dentro das diretrizes do PPS.

FAP: Que mensagem pode ser dita aos jovens que vão participar do II Encontro?
Deixe seu ódio de lado, pois o amor vai passar. Devemos minimamente nos amar. Cabe aos jovens a função de mudar o mundo para melhor enfrentar a onda reacionária que vem surgindo.