Marta Suplicy

Marta Suplicy: Pulsão de morte

Como seria bom ter um líder que lutasse pela vida

Tenho pensado sobre o que ocorre no Brasil desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência. O país vive em constante turbulência, incentivada por falas e atitudes do presidente. Não se tem paz nem harmonia.

Existe uma necessidade, intrínseca à sua personalidade, de caminhar sempre para o afrontamento, a violência, o desrespeito, a destruição e, finalmente, a morte. Seja de parceiros, mulheres, quilombolas, indígenas, ministros, Poderes institucionais. São exceções sua família e um ou outro apaniguado, enquanto não desgostar ou ameaçar a popularidade presidencial. Estes são desautorizados, fritados e demitidos. Não aparece sofrimento. Ao contrário, a vitória sobre a morte acalma. Assim como sua obsessão com sexo e suas insinuações com ministros namoram a vida, enquanto lutam com o precipício da morte. Não é intencional, é uma força psíquica e inconsciente. Por isso, difícil de entender.

A maioria das ações de Bolsonaro não aponta em direção à vida ou à agregação. Coitados de nós, governados por uma pessoa tão comprometida emocionalmente. São atitudes na direção da destruição do meio ambiente, da extinção de animais já em risco, de indígenas que não conseguem sobreviver à queimada e à poluição de seus rios. Enfrentando e ameaçando os outros dois Poderes, o presidente cria insegurança no Judiciário e no Legislativo e posterga votações fundamentais ao desenvolvimento do país.

Fazendo apologia e aumentando a liberação da posse de armas, o que já resultou no aumento de assassinatos e feminicídios, contribui fortemente para o perfil de um país cada vez mais violento. Não está nem aí. Sente-se até mais seguro. Dentre todas essas ações desvairadas, as mais sérias —pois são as de maiores ​consequências— são contra o isolamento social e o deboche do uso de máscaras. Não creio que registre a responsabilidade do que significa a autoridade máxima apoiar e ter posturas contrárias à proteção das pessoas.

Sua pulsão de morte aplaude. Há semanas faz campanha contra a vacinação, o que já teve impacto no número de crianças que deixaram de serem vacinadas. Agora faz disputa política contra a vacina de origem chinesa, fabricada no Butantan.

A atitude de questionar a qualidade ou a necessidade de vacinação contra este terrível vírus coroa a política genocida do presidente. Será diretamente responsabilizado, assim como o foi na postura contra o uso da máscara, pela morte de milhares de desavisados ou seguidores que serão levados pela sua fala a evitarem a vacinação.

Como seria bom ter alguém agregador, que buscasse e lutasse pela vida: sua e dos outros.

A Frente Ampla, movimento suprapartidário que acredita na democracia e que podemos ser agregadores, tem a consciência de que o Brasil precisa reagir e mudar de rumos.

Impõem-se a união para a construção de consensos, superação de divergências e foco no que mais interessa: a defesa intransigente da democracia, a articulação de uma nova perspectiva e de um projeto para uma sociedade com menos desigualdade social.

É possível. Votemos pela vida.


Marta Suplicy: Focar e ousar para transformar

O incêndio e o desabamento no largo do Paissandu revelam mais do que a falta de moradia digna e a especulação imobiliária no centro da capital

Buenos Aires se refez ao renovar Puerto Madero, região abandonada havia mais de cem anos. Paris foi posta abaixo, virando um enorme canteiro de obras por 20 anos, fazendo a glória do prefeito Haussmann (1809-1891) e da Cidade Luz!

Foram processos diferentes e distantes do que me atrevo a formular, mas ilustram que cidades são organismos vivos, e chega um momento em que é "aquele" para iniciar uma ação ousada de transformação. São Paulo pode e, entendo, deve ser repensada amplamente. Não será algo terminado em poucos anos, mas apontará, como o fizeram seus dois últimos Planos Diretores, para uma cidade humana e do século 21.

O incêndio e o desabamento no largo do Paissandu revelam mais do que a falta de moradia digna e a especulação imobiliária no centro da capital. É uma falência maior, e exige uma resposta que pode ser legado do jovem prefeito.Diferentemente de quem critica, considero importante uma força-tarefa da prefeitura para vistoriar 70 prédios invadidos na cidade. Não é uma situação fácil de administrar, pois a maioria das famílias se nega, por motivos variados, a ir para os abrigos da prefeitura. Porém, o poder público não pode mais se omitir.

Isso não é abonar a ideia de culpar vítimas e colocá-las para fora. É tornar mais seguro e humano o espaço, enquanto se tomam providências.

Não é justo transferir todas as responsabilidades para os mais vulneráveis, e o bolsa-aluguel de R$ 400 não aluga nada no centro. É o mesmo que encaminhar as pessoas para novas invasões (aliás, esse é o custo que os "coordenadores" de invasão cobram).

A cidade é de todos e tem de ser pensada que, quanto maior for o mix de classes, pessoas de diferentes tribos e ofertas, mais dinâmica, interessante e segura ela se tornará. No mundo, todo centro frequentado é mais seguro.

Embora pouco cuidado e perigoso, nosso centro é onde o cidadão ainda consegue trabalho, seja ou não informal, pois transitam milhares de pessoas num ambiente pulsante.

Tenho visitado locais que aguardam regularização fundiária: não têm água, esgoto, luz nem escola. Demoram-se duas horas para chegar a um trabalho. Nesses cenários, entende-se bem por que as pessoas preferem viver mal e correndo riscos no centro do que morar nas franjas da cidade, longe de tudo.

Como reverter? Como diz o urbanista Nabil Bonduki, relator do Plano Diretor, em artigo nesta Folha, os governos já têm "um arsenal de instrumentos" legais para viabilizar a habitação social no centro, mas, de fato, as últimas gestões não enfrentaram esse problema.

São necessárias a efetiva descentralização de gestão e a participação popular, além de ideias como a do retrofit (reabilitar edifícios subutilizados para novos usos); o capital privado reformar prédios e a prefeitura repassar diretamente aluguel social.

O Campos Elíseos Vivo, como apresenta Raquel Rolnik, une ações de urbanismo, serviço social, cultura e saúde, utilizando terrenos e imóveis vazios; é um exemplo possível.

Jorge Wilheim (1928-2014), na elaboração do Plano Diretor (2002), e a nossa gestão (2001-2004), em relação à zona leste, propusemos soluções que passam pela criação de emprego: planejar qualificação, oportunidades e diminuir a necessidade de mobilidade para o centro.

O cidadão tem de encontrar o que precisa mais próximo de si. E deve ser escutado. Se não é possível habitação a todos no centro, vamos tornar a periferia mais atraente: a posse do terreno, a possibilidade de empregos pensados e planejados pelo poder público, postos de saúde, escolas e creches adequadas, a utilização da internet para melhorar a produtividade e a qualidade de vida.

É possível!

* Marta Suplicy é senadora pelo MDB-SP; foi prefeita de São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008, governo Lula) e ministra da Cultura (2012-2014, governo Dilma)


O #ProgramaDiferente entrevista a senadora Marta Suplicy

A senadora Marta Suplicy (PMDB) é a entrevistada desta semana do #ProgramaDiferente, dando sequência à série com os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Ela fala sobre a saída do PT, as razões de uma nova candidatura, a crise do país e critica muito a gestão do prefeito Fernando Haddad, comparando com a sua gestão como prefeita (2001-2004) e debatendo as suas propostas para a cidade. Assista.

O #ProgramaDiferente é exibido pela TVFAP.net e pela TVAberta / Canal Comunitário da cidade de São Paulo todos os domingos, às 21h30, e terças-feiras, à 1h30 da madrugada (Net canal 9, Vivo canal 186 e Vivo Fibra canal 8).


Especial: Meia hora na festa de filiação de Marta Suplicy no PMDB

Quis o destino que a estocada final no PT possa ser desferida por duas mulheres, duas ex-petistas, a partir desta semana conturbada em que a cena da labareda no helicóptero da presidente Dilma Roussef seja talvez a imagem mais ilustrativa do momento de fritura e completo isolamento deste ex-governo que se desmancha no ar.

A oficialização da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que já pesca de arrastão uma série de petistas e outros políticos descontentes em seus partidos, e a festança do poder em torno de Marta Suplicy, na sua chegada de fato ao PMDB, dão o tom do fim agonizante que o PT deve enfrentar.

Enquanto Marta reunia o presidente em exercício da República, Michel Temer, o presidente do Senado,Renan Calheiros, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, além de ministros, governadores, prefeitos e parlamentares de diversos partidos (sobretudo governistas prontos para desembarcar), o PT via fracassar mais uma tentativa de "defender" a presidente Dilma enquanto "ataca" a sua política econômica, num ato de esquizofrenia partidária e autismo político sem precedentes.

Quem duvidava da força de Marina e de Marta pode tirar o cavalinho da chuva. As duas provam desde já que terão papel determinante nas eleições de 2016 e 2018. A Rede Sustentabilidade apresenta seu potencial para resgatar parte do idealismo perdido na política, enquanto o PMDB se coloca a postos com o pragmatismo das suas principais lideranças para assumir o país no pós-PT.

"A gente quer um Brasil livre da corrupção, livre das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais. Afinal, estou no PMDB do Doutor Ulysses, que democratizou o país. E no PMDB do doutor Michel, que vai reunificar o país", afirmou Marta Suplicy.

A senadora disse que decidiu ingressar no PMDB após uma conversa com Michel Temer, a quem ela chamou de "líder conciliador". Citou um por um dos presentes e também o ausente José Sarney, um "gigante da política".

"O PMDB soube devolver a nós o que há de mais valioso na vida, a liberdade, o direito de ir e vir, de mudar de ideia. Isso foi uma das coisas que eu mais gostei do PMDB. Eu senti que eu caibo por causa disso, é um partido amplo."

"Vocês sabem que tem algumas decisões na vida que são muito difíceis. Mas eu sempre tive como norma que diante de relações conflituosas sem a menor perspectiva de melhora, e que ferem os nossos princípios, o melhor caminho a se tomar, por mais doído que seja, é o do rompimento."

Ao rompimento de Marta com o PT, o presidente Michel Temer respondeu com um "abraço fraterno". A ex-petista afirmou seu discurso que Temer tem todas as qualidades que o momento exige: "Olhei nos olhos de Michel Temer e senti confiança. É um líder, um conciliador, um homem do diálogo, qualidades pessoais essenciais que este momento exige. Eu me sinto à vontade, segura, sob tua presidência. Todos nós estamos com você, Michel."

"O PMDB é um grande partido e, a partir de hoje, com seu ingresso, ele ficou maior ainda. A sua filiação renova o partido. O PMDB vai fazer muito por você, mas eu tenho certeza de que você vai fazer muito mais por nós", afirmou Michel Temer, muito aplaudido. "Todo mundo te recebe de braços abertos. E eu quero te dar um abraço fraternal. Nós professamos as mesmas ideias e professamos isso pelo Brasil."

O recado sobre o rompimento com o governo foi dado também pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha: "O PMDB tem de ter candidatos próprios em 2016 e 2018. Que o PMDB siga seu exemplo, Marta. Vamos largar o PT", afirmou durante evento no Tuca, o teatro da PUC de São Paulo.

"Esse ato simbólico de filiação de Marta mostra o quanto o PMDB está buscando seu próprio caminho. Time que não joga não tem torcida", destacou Cunha.

Para bom entendedor, a sorte está lançada: Marta é candidatíssima à Prefeitura de São Paulo. Estiveram presentes, além de dirigentes do PMDB, também representantes do PTB, PCdoB, PSD, PTC, PR e PPS. Foi dada a largada para a corrida eleitoral. Assista a cobertura exclusiva que a TVFAP.net fez do ato deste sábado, 26 de setembro, no vídeo Meia hora na festa de filiação de Marta no PMDB, do #ProgramaDiferente.


#ProgramaDiferente apresenta uma "Terra de Ninguém" insustentável, desgovernada e desconhecida chamada Brasil

O #ProgramaDiferente desta semana trata, em diferentes escalas, de uma "Terra de Ninguém" existente no Brasil. Seja na política partidária, com a luta da Rede Sustentabilidade de Marina Silva contra obstáculos burocráticos inimagináveis para conseguir a sua legalização, seja no meio da Floresta Amazônica com a polêmica obra da usina hidrelétrica de Jirau, ou mesmo em plena cidade de São Paulo, com abusos e omissões do plano diretor e da lei de zoneamento, o termo figurativo criado na guerra ilustra bem esses territórios não ocupados, entre duas forças beligerantes.
São todos retratos instantâneos de uma realidade desconhecida da maioria da população, mas que tem consequências catastróficas para a cidadania, o meio ambiente, a qualidade de vida, os direitos humanos e a economia do país. Enquanto a grande imprensa segue pautada pela agenda oficial do governo e por interesses do sistema econômico e político, o Brasil real continua distante da TV.

Se diante do olhar atento do mundo, em grandes centros como São Paulo, Rio e Brasília, os escândalos se sucedem num ritmo alucinante, maior até do que a capacidade de fiscalização, controle, investigação e punição, imagine no meio da Floresta Amazônica. É o que vemos no debate sobre a Usina de Jirau, mais um escândalo patrocinado pelo governo federal - este no Estado de Rondônia, marcado por crimes ambientais e trabalhistas.

O vale-tudo ditado pelo poder econômico e político provoca danos irreparáveis à biodiversidade, com forte impacto na vida e na saúde das populações locais. A Sustentabilidade não pode ser apenas um rótulo moderno para ser tratado em rodas de intelectuais, mas uma premissa básica para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna e democrática.

Da obra escondida no meio da floresta, debatida pelos documentaristas da ONG Repórter Brasil, aos problemas urbanos do plano diretor e da lei de zoneamento da cidade de São Paulo, denunciados pela senadora Marta Suplicy. Passando ainda pelo empenho de Bazileu Margarido na luta diária pela legalização da Rede Sustentabilidade.

É esta "Terra de Ninguém" o tema que une todos os convidados desta edição do #ProgramaDiferente. O que buscamos, ainda que pareça uma luta inglória, é uma nova forma de fazer política, com ética, transparência, bom senso, dignidade e coerência. Assista.