herança

Marcello Cerqueira - A herança maldita

Cada preso político dava aulas no setor de sua especialidade

Leio artigo do estimado Frei Betto no GLOBO de 2 de janeiro e copio seu texto final: “Basta analisar o índice de reincidência criminal daqueles que, em Presidente Venceslau, passaram pelo curso de ensino médio e as oficinas de pintura, teatro e estudos bíblicos. Todos administrados por nós, meia dúzia de presos políticos inseridos na massa carcerária.”

Embora preso político, Frei Betto e meia dúzia de companheiros, na Penitenciária de Presidente Venceslau, lograram a adesão de muitos detentos comuns às atividades que ele acima narra.

Antigo advogado de presos políticos, quero dar minha contribuição ao momento que estamos vivenciando das tragédias em penitenciárias, revelando as origens da organização de presos comuns que resultaram, hoje, em comandos que se digladiam.

Com o acirramento da luta, a partir de ações contra estabelecimentos bancários pela resistência armada à ditadura militar, esta emitiu o Decreto-Lei nº 898, de setembro de 1969, que não fazia diferença entre presos políticos e comuns, nos termos abaixo:

“Artigo 27. Assaltar, roubar ou depredar estabelecimento de crédito ou financiamento, qualquer que seja a sua motivação: /Pena: reclusão, de 10 a 24 anos./ Parágrafo único. Se, da prática do ato, resultar morte:/ Pena: prisão perpétua, em grau mínimo, e morte, em grau máximo.”

Dessa forma, presos políticos e comuns foram abrigados, na Ilha Grande, em um espaço que os guardas chamaram de Pavilhão da Segurança Nacional.

Lembro-me de, mais de uma vez, com o saudoso amigo Antônio Modesto da Silveira, ter esbarrado com Lúcio Flávio, Fernando CO, Horroroso, Marta Rocha e outros na Segunda Auditoria do Exército.

Os presos comuns habituaram-se ao comando dos presos políticos. Cada preso político dava aulas no setor de sua especialidade. O que recebiam de casa (cigarros, balas, bolos, frutas, produtos de higiene pessoal) era rigorosamente dividido entre todos. Com a anistia de 1979, os presos políticos que ainda estavam na ilha foram libertados, e os comuns mantiveram, tanto quanto possível, a organização que lhes foi ministrada.

Esse é o nascimento da Falange Vermelha, imediatamente modificada para Comando Vermelho. Afinal, o Comando Vermelho se multiplicaria nas prisões, e surgiram outras organizações como o PCC.

A lei da ditadura militar, que reuniu em um mesmo pavilhão presos políticos e comuns, é responsável pela organização carcerária que hoje, multiplicada, patrocina tragédias e desafia os confusos governos federal e estaduais.

É mais um legado maldito da ditadura militar.

Marcello Cerqueira é advogado


Fonte: gilvanmelo.blogspot.com.br


Herança Maldita: Mais de 50% da população na faixa dos 30 anos estão inadimplentes

Brasileiros na faixa dos 30 anos são os que mais atrasam contas, diz SPC.

50,19% da população nesta faixa etária terminou o semestre no vermelho.
Total de pessoas com contas em atraso aumentou 3,21% em junho.

Mais da metade dos brasileiros com idade entre 30 e 39 anos tem contas em atraso, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (11) pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

De acordo com a pesquisa, 50,19% da população nesta faixa etária terminou o último semestre com o nome inscrito em alguma lista de devedores, totalizando aproximadamente 17,0 milhões de inadimplentes em número absoluto.

“Geralmente, nessa idade as pessoas já são chefes de família e têm um número maior de compromissos a pagar, como aluguel, água, luz, entre outras despesas domésticas. Todos esses fatores aliados à falta de planejamento orçamentário e os efeitos da crise econômica, impactam negativamente na capacidade de pagamento”, explicou em nota a economista-chefe do SPC Brasil Marcela Kawauti.

A proporção de inadimplência entre as pessoas com idade de 25 a 29 anos também chama atenção. Segundo a pesquisa, 48,58% das pessoas dessa faixa etária está negativada, o que representa 8,3 milhões de consumidores.

Entre os mais jovens, com idade de 18 a 24 anos, a proporção cai para 22,14% – em número absoluto, são 5,29 milhões de inadimplentes. Na população idosa, considerando-se a faixa etária entre 65 a 84 anos, a proporção é de 28,89%, o que representa, em termos absolutos, 4,39 milhões de pessoas que não conseguem honrar seus compromissos financeiros.

Aumento da inadimplência

O número de pessoas com contas em atraso aumentou 3,21% em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o SPC Brasil e a CNDL. Já na comparação com maio, o número de inadimplentes caiu 0,77%.

Em números absolutos, o SPC Brasil estima que aproximadamente 59,1 milhões de pessoas físicas terminaram o primeiro semestre de 2016 inscritas em cadastros de devedores – o que representa 39,76% da população com idade entre 18 e 95 anos. Em maio, esse número era um pouco maior, estimado em 59,25 milhões.

Alta menor

O aumento no número de devedores na comparação anual foi o menor em seis anos, desde o início da pesquisa. Mas, para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, a desaceleração do indicador não pode ser interpretado como um sinal de que os consumidores com contas em atraso estão quitando suas dívidas, mas como um reflexo do crédito mais restrito.

“Os juros elevados, a inflação corroendo o poder de compra e a perda de dinamismo do mercado de trabalho tornam os bancos e os estabelecimentos comerciais mais rigorosos e criteriosos na política de concessão de financiamentos e empréstimos, o que implica em uma menor oferta de crédito na praça. Por sua vez, essa menor oferta de crédito funciona como um limitador do crescimento da inadimplência”, explicou o presidente em nota.


Do G1, em São Paulo.