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Folha de S. Paulo: Caça Gripen começa fase de testes supersônicos no Brasil

Nova aeronave de combate da Força Aérea supera barreira do som sobre o interior de SP

Igor Gielow, Folha de S. Paulo

O novo caça brasileiro, o Saab Gripen E, iniciou sua fase de testes em velocidade supersônica sobre os céus do interior paulista.

Os voos começaram no dia 26 de fevereiro em Gavião Peixoto, interior de São Paulo.

É lá que fica a fábrica da Embraer e o centro de desenvolvimento do Gripen brasileiro, em parceria com a fabricante do avião, a sueca Saab.

Dos 36 modelos comprados por 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 25,8 bilhões se fossem pagas hoje) em 2014 pelo Brasil, 15 serão produzidos naquela unidade.

Os testes supersônicos são vitais para aferir os limites dos sistemas da aeronave. A Saab não revela qual velocidade máxima atingida até aqui —o avião vai até duas vezes a velocidade do som, cerca de 2.400 km/h.

Quando a barreira é quebrada, pouco depois dos 1.200 km/h, um grande estrondo é ouvido. Para evitar incomodar moradores, os testes estão sendo feito em uma região mais desabitada, a noroeste de Gavião Peixoto, a uma altitude de 5.000 metros.

A velocidade máxima visa levar a aeronave rapidamente a seu ponto de emprego, mas o combate ocorre de forma mais lenta.

Por ora, os testes são conduzidos por um piloto sueco. Uma turma de pilotos da Embraer já voltou ao Brasil, tendo feito o primeiro voo solo com o Gripen em novembro, e desde janeiro militares da FAB estão em treinamento operacional na Suécia.

Segundo a FAB, três aviadores da Força e dois da Embraer já foram treinados nos bipostos Gripen D, a geração anterior do caça.

O avião, matrícula FAB4100, chegou ao Brasil em setembro do ano passado.

Ele ficará em teste durante toda a campanha de desenvolvimento do Gripen E, monoposto, e F, de dois lugares.

Será a última aeronave a ser entregue para a FAB. Outras quatro deverão ser apresentadas à Aeronáutica até o fim deste ano, segundo o cronograma da Saab.

O modelo F está sendo desenvolvido em parceria com a Embraer, que irá produzir os 8 aviões do tipo da encomenda inicial de 36 –além de 7 para um piloto.

O desenho da parte frontal do F, com dois lugares, está sendo feito no Brasil. O primeiro voo deverá ocorrer em 2023.

Em Gavião Peixoto, são testados parâmetros de voo, exposição ao clima tropical e a integração de armas e sistema de comunicação criptografada.

Além disso, são avaliados todos os sistemas do Gripen num simulador em solo chamado S-Rig, instalado em 2019.

“Com esta plataforma, novos hardwares e softwares podem ser testados em um ambiente simulado e controlado, para investigar erros, replicar eventos de falha e treinar as tripulações”, diz a Saab.

Ao todo, desde sua chegada ao Brasil, o 4100 fez cerca de 30 voos de teste.

Do ponto de vista militar, a certificação da aeronave para uso no Brasil é feita pelo Instituto de Fomento de Coordenação Industrial, em São José dos Campos.

O órgão também avalia o cumprimento da transferência tecnológica para a FAB, Embraer e demais empresas brasileiras no programa.

Até o ano que vem, os equipamentos de apoio à operação do Gripen serão instalados na Ala 2, em Anápolis (GO), a base do avião no Brasil.

O Brasil gasta cerca de R$ 1 bilhão por ano para manter a produção do avião, valor que é creditado como adiantamento ao financiamento de 25 anos feito pelo governo sueco.

O desenvolvimento do avião sofreu atrasos entre 2015 e 2016 devido à recessão, e a entrega do último Gripen passou de 2024 para 2026, segundo a estimativa atual.

Os Gripen substituirão progressivamente os F-5 e AMX em serviço no país. A FAB sonha com uma frota expandida a 120 aviões, o que esbarra em dificuldades orçamentárias, enquanto Saab e Embraer vislumbram usar a base brasileira para fabricar caças para o mercado externo.


Antonio Carlos Moretti Bermudez: A FAB e o legado de Santos-Dumont para o País

O Dia do Aviador nos proporciona a chance de relembrar a história da nossa instituição

O Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira (FAB) é celebrado em 23 de outubro e representa a data em que Alberto Santos-Dumont, patrono da Aeronáutica Brasileira, em 1906, deu asas ao seu grande sonho, logrando êxito de fazer decolar e voar o primeiro aparelho mais pesado que o ar, o 14-Bis. Esse dia nos proporciona, a cada ano, a oportunidade de relembrarmos o nascimento e a história da nossa instituição, que este ano completou 79 anos de existência.

São quase oito décadas bem-sucedidas, que se iniciaram quando nossos integrantes pioneiros bravamente lutaram na 2.ª Guerra Mundial. Aqueles militares nos inspiram até hoje como exemplos de coragem, dedicação e amor à profissão. Eles nos mostraram que mesmo em meio às dificuldades devemos fazer sempre o nosso melhor.

A FAB destaca-se hoje pela alta capacidade operacional, com inúmeros exemplos em curso. Em apoio à sociedade brasileira, nossos militares trabalham simultaneamente em missões coordenadas pelo Ministério da Defesa, como a Operação Acolhida, a Operação Pantanal, a Operação Verde Brasil 2 e a Operação Covid-19, além da atuação em transporte de órgãos, evacuações aeromédicas e transportes aéreo logísticos, entre outras atividades.

Num ano tão desafiador como este de 2020, a Força Aérea Brasileira está ainda mais presente na vida dos brasileiros. Transportamos materiais de saúde e equipes por todo o território nacional, contribuímos na desinfecção de espaços públicos e organizamos ações solidárias em benefício de comunidades que necessitam, entre outras atividades. Os integrantes da FAB estão engajados em contribuir ainda mais diretamente com iniciativas que envolvem o apoio à sociedade brasileira, como uma campanha de doação de sangue realizada para abastecer bancos que passam por baixas em seus estoques neste período de pandemia.

Além de todas essas missões, realizadas em território nacional, nossa Força tem um relevante histórico de assistência humanitária internacional e cada uma dessas operações representa um momento gratificante para todos os que colaboram para salvar ou melhorar vidas. Este ano, temos como exemplo a assistência prestada ao Líbano após a trágica explosão em 4 de agosto, com o transporte de toneladas de material de saúde e alimentos até a capital libanesa, Beirute.

Para o cumprimento dessa importante missão uma aeronave KC-390 Millennium realizou sua primeira viagem internacional com tripulação composta por integrantes da FAB. Foi mais um capítulo na jovem trajetória – já agraciada com os prêmios Grand Laureate, na categoria Defesa, e o Laureate Awards, na categoria “Melhor Novo Produto” de Defesa – deste que é o maior avião militar multimissão desenvolvido e fabricado no Hemisfério Sul e que temos o privilégio de operar após termos colaborado ativamente em sua concepção e em seu processo de fabricação. Desde a chegada da primeira unidade, as aeronaves KC-390 Millennium são empregadas principalmente em transportes relacionados à Operação Covid-19, demonstrando sua eficiência para integrar o território brasileiro.

Assim como o KC-390 Millennium passou de um projeto para a realidade, o novo caça F-39 Gripen se aproxima cada vez mais do início da sua operação pela FAB. O desenvolvimento e a fabricação do smartfighter – caça inteligente – também vêm sendo acompanhados de perto pelos integrantes da Força Aérea e envolvem profissionais de diversas empresas brasileiras. Este dia 23 de outubro de 2020, portanto, é ainda mais especial, pois contamos com a apresentação oficial do primeiro F-39 Gripen a chegar ao Brasil.

A atualização de sistemas, meios e equipamentos também é vital no âmbito da defesa aérea e estamos constantemente buscando novas soluções e tecnologias para melhorar o trabalho prestado ao País dentro das nossas ações de controlar, defender e integrar 22 milhões de quilômetros quadrados. Em continuidade ao processo de modernização da rede de radares de vigilância do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (Sisceab) e aprimorando o controle do espaço aéreo na fronteira do Brasil, inauguramos em agosto, em Corumbá (MS), uma nova estação radar composta por radares primário e secundário. A entrada em serviço desses equipamentos aumenta a capacidade de detecção de tráfegos não autorizados ou de emprego ilícito, colaborando decisivamente para o êxito das ações de policiamento do espaço aéreo.

Assim como Santos-Dumont mudou a história da aviação quando apresentou o 14-Bis ao mundo, estamos sempre em busca do novo, do mais moderno e, principalmente, do aprimoramento de nossos profissionais para acompanharem essas inovações. As Forças Armadas avançam e, junto com elas, a modernidade e complexidade tecnológica em nosso País também evoluem, trazendo benefícios para todos os cidadãos. Uma instituição renovada, solidária e altamente operacional: essa é nossa Força, formada por profissionais capacitados e comprometidos a manterem um legado de excelência – cumprindo nossas missões e colaborando com a sociedade em que vivemos.

TENENTE-BRIGADEIRO DO AR, É COMANDANTE DA AERONÁUTICA


Bernardo Mello Franco: O voo do garimpo nas asas da FAB

Num sábado de carnaval, um major e um capitão arrombaram o depósito de munições da Base Aérea dos Afonsos, no subúrbio do Rio. Os dois levaram armas e explosivos até um bimotor Beechcraft. Com o avião carregado, decolaram rumo ao sul do Pará para iniciar um levante contra o governo.

A dupla de aloprados queria derrubar o presidente Juscelino Kubitschek, que havia acabado de tomar posse. O plano era organizar um exército de índios e caboclos e articular o golpe a partir da selva amazônica. A Revolta de Jacareacanga teve vida curta: começou e terminou em fevereiro de 1956. Depois de 64 anos, a Aeronáutica volta a se enrolar na cidade paraense.

Na quinta-feira, o Ministério Público Federal abriu investigação por improbidade administrativa no uso de um avião da FAB. A aeronave pousou em Jacareacanga no último dia 5, a pretexto de apoiar o combate à mineração ilegal na terra indígena Munduruku. Na manhã seguinte, decolou para Brasília com sete garimpeiros a bordo.

“A lei proíbe o garimpo em terras indígenas. O avião da FAB foi usado para transportar criminosos”, resume o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira. “Essa terra indígena já sofria com invasões. Agora há um avanço desenfreado, impulsionado pela valorização do ouro e pelo discurso de cumplicidade do governo”, acrescenta.

Na véspera do voo para Brasília, os garimpeiros se reuniram com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Após o encontro, o governo suspendeu a Operação Verde Brasil 2, que deveria reprimir os crimes ambientais na Amazônia.

Em ofício ao MPF, o Ministério da Defesa afirmou que a Aeronáutica transportou “lideranças indígenas” para “tratativas com o Ministério do Meio Ambiente”. A versão é contestada por associações que representam os munduruku. As entidades afirmam que o cacique-geral da etnia não autorizou a viagem e que o grupo não fala em nome dos povos locais.

“Os passageiros do voo não eram líderes indígenas, eram garimpeiros. Os índios estão frustrados com o fracasso da operação. Muitos deles já sofreram ameaças de morte”, conta o procurador Oliveira. Ele afirma que os donos das máquinas são brancos e aliciam parte dos locais com a distribuição de dinheiro e de cestas básicas.

O clima na região é tenso. Há duas semanas, a Polícia Federal apreendeu veículos e computadores usados pelos mineradores. Agentes do Ibama chegaram a destruir equipamentos da quadrilha. Em represália, garimpeiros ameaçaram derrubar um helicóptero usado pelos fiscais.

“Estamos falando de uma milícia que cooptou indígenas e se sente estimulada pelo governo”, diz o ambientalista Danicley de Aguiar, do Greenpeace. “O garimpo compromete o modo de vida dos povos tradicionais, destrói a floresta e contamina os rios da região. E tudo está sendo feito com a omissão do Estado brasileiro”, critica.

O presidente Jair Bolsonaro não disfarça. Já assinou projeto para abrir as terras indígenas à exploração mineral. Enquanto o Congresso faz cara de paisagem, o ministro Salles tenta passar sua boiada ao arrepio da lei. Falta explicar por que a Aeronáutica aceitou se misturar a essa agenda de destruição.