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Evandro Milet: Inovação: as competências dos líderes que pensam e agem diferente

Inovação é a prioridade estratégica para qualquer líder de empresa no mundo. Exemplos não faltam mostrando que as empresas de sucesso hoje são aquelas que inovam, principalmente as que inovam de forma disruptiva. Aí fica a questão: a capacidade de um líder para inovar é inata ou pode ser aprendida? O que os líderes de sucesso fazem para inovar?

No clássico “DNA do inovador”, Clayton Christensen, com Jeff Dyer e Hal Gregersen, mostram como os inovadores de sucesso agem, muitas vezes intuitivamente. Descobriram cinco principais competências compartilhadas, todas ou parte delas, por nomes de referência mundial como Steve Jobs, Jeff Bezos ou Larry Page.

Associar, questionar, observar, manter rede de relações(networking) e experimentar, compõem essas competências, que fazem com que eles pensem diferente e ajam diferente.

“Associar” ajuda os inovadores a descobrir novas direções fazendo ligações entre questões, problemas e ideias aparentemente sem relação entre si. Descobertas inovadoras ocorrem muitas vezes na interseção de disciplinas e campos diversos. O autor Frans Johanssen descreveu esse fenômeno como “o efeito Médici”, referindo-se à explosão criativa que ocorreu em Florença quando a família Médici reuniu criadores de um amplo leque de disciplina - escultores, cientistas, poetas, filósofos, pintores e arquitetos. Esse encontro de especialidades deu origem ao Renascimento, uma das mais inovadoras épocas da história.

As outras quatro competências acionam o pensamento associativo, porque permitem aos inovadores aumentar seu estoque de ideias formadoras das quais surgem ideias inovadoras.

“Questionar” é uma dessas competências. Inovadores são grandes questionadores e mostram paixão pelo ato de perguntar. O que, como, onde, porque, quando, e se, por que não, são expressões comuns na cabeça dos inovadores. Querem saber porque as coisas são assim e porque não de outra forma.

“Observar” é a competência para prestar atenção ao mundo em sua volta - incluindo clientes, produtos, serviços, tecnologias e empresas. Ficou famosa a visita de Steve Jobs ao laboratório PARC da Xerox onde ele viu o mouse, a interface gráfica, os ícones, as janelas que lhe inspiraram na revolução feita na aparência dos computadores para sempre. Henry Ford tirou a ideia da linha de montagem para o seu Ford T de uma indústria de processamento de carnes, onde a desmontagem dos animais era feita a partir da suspensão das carcaças em um transportador aéreo que as levava de trabalhador a trabalhador, com cada um fazendo determinado corte.

“Networking” significa manter uma rede, não de recursos ou oportunidades de emprego, mas de ideias. Muitos inovadores fazem um esforço consciente para conhecer pessoas com formações diferentes: que vêm de países, setores econômicos e funções empresariais distintas; que são de idades, gênero, etnias, históricos diversos. As conferências de ideias TED, onde se reúnem empreendedores, acadêmicos, políticos, aventureiros, cientistas, artistas e pensadores de todas as partes do mundo, que apresentam suas mais recentes ideias, paixões e projetos, servem bem a esse propósito.

Por outro lado, fica claro agora que a diversidade de gênero, etnia, idade e formação na composição de equipes, não é apenas uma questão de justiça social ou de desigualdade, mas fator fundamental para inovação nas empresas.

“Experimentar”, a última competência, mostra que os inovadores estão constantemente testando novas experiências e pilotando ideias novas. A maior parte deles não pensa que cometer erros seja motivo de vergonha e mostram a coragem para inovar.

Muitas empresas fracassam em inovação de ruptura porque a alta direção é dominada por pessoas que foram escolhidas por suas competências de execução e não por essas capacidades fundamentais para inovar.


Evandro Milet: A disrupção do cisne negro

No seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, Nassim Taleb nos apresentou o cisne negro(animal que se considerava inexistente até ser visto, pela primeira vez, na Austrália, no século XVII), como ele batizou um evento com três características: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e sentimos como se pudéssemos tê-los previstos, pois são retrospectivamente explicáveis.

A crise do novo coronavírus é um legítimo cisne negro. O mundo sairá dessa crise mais antenado com a possibilidade de novos cisnes negros, mais precavido com sopas de animais exóticos e com terrorismo de armas químicas, biológicas e digitais. O mundo mudou conceitos para evitar novos cisnes negros específicos como foram o 11/9 e a crise do sub-prime - mas o seu momento continuará imprevisível. Taleb critica a nossa ilusão de tentar prever o futuro, considerando os cisnes negros e o número de interações no sistema complexo em que vivemos tendendo ao infinito e desmentindo sistematicamente nossas previsões.

Mas temos que tentar. Provavelmente voltará com força a questão ambiental, momentaneamente adiada, que poderá disparar a qualquer momento o evento de um cisne negro devastador.

Depois do cisne negro da queda do Muro de Berlim, tivemos a impressão que a história havia acabado, como Fukuyama sugeriu, que o capitalismo e a democracia haviam vencido. Aí surge a China, com seu capitalismo de estado ou socialismo de mercado, mas sempre uma ditadura, e cresce aceleradamente colocando dúvidas sobre o fim da história. E mais recentemente despontam as tais democracias iliberais, onde o executivo vai minando as instituições mantendo uma aparência, mas cada menos democrática. A Hungria agora muda de patamar e avança com Orban conseguindo poderes absolutos para governar, sinalizando o exemplo para outros candidatos pelo mundo. O novo cisne negro pode vir da política, que embora dê sinais, não sofreu ainda um baque disruptivo geral.

Enquanto isso, a crise do coronavírus promete transformar o mundo e cada país. Depois de meses de transformação digital forçada, o Congresso terá feito sessões virtuais, a justiça terá atuado remotamente, a medicina e a educação também e os trabalhadores terão se acostumado ao home-office. A maioria não vai querer voltar mais. São consequências positivas deste cisne negro devastador.