eleições 2020

Vera Magalhães: Reocupar o centro

Mesmo premida pela pandemia, eleição 2020 pode ser início do resgate da política

Foi só na semana passada que as pessoas parecem ter acordado para o fato de que hoje tem eleição. Nos últimos dias, três debates tiraram a campanha de São Paulo da clandestinidade imposta pela pandemia e pela omissão de quem a usou como desculpa para se esquivar do seu dever de promover a discussão como combustível da democracia.

O que esses debates e as pesquisas mostraram é que, mesmo driblando as restrições do ano do vírus e privado de informações, o eleitor parece ter chegado à conclusão de que é preciso votar com a cabeça, e não com o fígado ou com o coração. As disputas municipais vão resgatando a política, feita de bode expiatório em 2018, e escanteando a nova política estridente e feita de lacração nas redes sociais.

Com o pesadelo que é aguentar Jair Bolsonaro e sua Presidência buliçosa todos os dias há quase dois anos, depois de dois governadores eleitos na sua aba defenestrados, seu partido implodido e seus náufragos boiando dispersos por legendas amorfas, parcela significativa do eleitorado que votou nele (porque votaria até no demônio para não votar no PT) parece ter acordado do transe psicótico.

No outro lado, também sumiu da praça o eleitor negacionista dos descalabros do PT, aquele que fez ouvidos moucos para uma série de revelações baseadas em fatos e provas que mostravam que houve um assalto sistemático ao Orçamento público e ao patrimônio de estatais como forma de perpetuar um projeto de poder.

Isso era razão para se eleger um deputado ligado a milícias, com a família inteira empregada na política e se locupletando dela na forma de desvio de recursos de gabinetes para engordar patrimônio, defensor de tortura, assassinato de Estado, apologista do estupro e da homofobia? Certamente não. Portanto podem guardar o blablablá da falta de simetria porque não é disso que eu falo.

Justamente porque os ventos da política sopram rápido, a rápida corrosão da imagem fake do justiceiro minou as chances de simulacros de Bolsonaro de Norte a Sul do País. O presidente, ainda enebriado por aquela popularidade transitória do auxílio emergencial no meio do ano, achou que seria bom cabo eleitoral e se jogou no palanque.

Não satisfeito em conspurcar todas as instituições em 23 meses, enfiou mais o pé na jaca ao fazer lives diárias para promover seus candidatos. O resultado? Esses e os que levaram o capitão à TV viram suas chances minguarem. Enquanto isso, o centro, humilhado nas urnas em 2018, parece ter voltado a ser um lugar de conforto para um cidadão traumatizado por morte, doença, desemprego, inflação e falta de perspectiva.

Políticos experimentados, sem histrionismo, e uma nova esquerda não-petista avançam em capitais e cidades importantes.

A lição para partidos e lideranças de centro será clara: é pela via da política que o Brasil construirá uma saída para seu impasse, como fizeram os Estados Unidos.

Não se trata de correr para achar um dublê de Joe Biden, ou perder tempo nas redes sociais com a discussão ridícula de se vai ter frente ampla ou não, e quem pode entrar nela. Mas de reconhecer a emergência de se construir pontes para o dissenso democrático, que reconheça adversários e suas pautas como legítimos e representativos de parcelas da sociedade.

É só assim que o legado de destruição do tecido social, institucional e civilizatório de Bolsonaro poderá ser superado em 2022. Ele não é carta fora do baralho, e tem dois anos para tentar construir sua sobrevivência, a depender da economia. Além disso, eleição municipal nem sempre é prévia de nacional.

Com todas as ressalvas, é alentador que tenha sido o eleitor, quietinho numa campanha quase fantasma, a apontar o caminho para superar essa distopia. A bola agora está com os políticos.


Marco Aurélio Nogueira: Bolsonaristas perdem ímpeto

Nas capitais, o eleitor não se dispôs a apoiar candidatos vinculados ao presidente da república

A pandemia não impediu a realização das eleições de 2020. É um marco para a democracia brasileira, tão maltratada ultimamente. Em ano tão atípico e cruel, algo para comemorar. Como sempre, a disputa foi aguda nas capitais, onde os temas locais prevaleceram sem que a política nacional deixasse de ressoar. Novos polos ganharam destaque, deslocando o embate PT x PSDB. Na corrida paulistana, todos bateram em Bruno Covas e tentaram associá-lo ao governador João Doria. O PT minguou, em benefício do candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O quadro ficou diferente.

O bolsonarismo procurou sobreviver girando em torno de um "anticomunismo" estapafúrdio, que não adere aos fatos da vida. Nas capitais, o eleitor não se dispôs a apoiar candidatos vinculados a Bolsonaro. Em São Paulo, a aposta em Russomanno foi um fiasco. Assim também no Rio, com Crivella. Os bolsonaristas perderam o ímpeto de 2018, perturbados pela charlatanice errática do presidente.

Despontaram caras novas: Manuela D’Avila em Porto Alegre, Boulos, Marina Helou e Arthur do Val em São Paulo, João Campos e Marilia Arraes no Recife. Sinal de que pode estar amadurecendo uma nova geração política. Entre os candidatos a vereador, muita disposição renovadora. O fim das coligações para as Câmaras Municipais fez os partidos mostrarem a cara, mas não ajudou a unificá-los. Os velhos caciques da política mal apareceram.

Nas grandes cidades, a disputa foi para saber quem irá ao segundo turno. Na capital paulista, a candidatura de Bruno Covas à reeleição ultrapassou 30% das intenções de voto. Chegará com força ao segundo turno, ainda sem saber quem o enfrentará.

Falou-se a língua das cidades: mobilidade, transporte, saneamento, enchentes, habitação, lixo. Os debates entre os candidatos foram pobres. Pouca atenção foi dada ao problema ambiental, à saúde pública e à batalha contra a covid-19, temas que dramatizarão a pauta dos próximos gestores. A omissão evidenciou o despreparo dos candidatos e as incertezas que cercam a evolução do vírus e as perspectivas de vacinação.

*Marco Aurélio Nogueira é professor Titular de Teoria Política da Unesp


Marcus Pestana: A reinvenção da democracia e o poder local

Amanhã elegeremos os novos prefeitos e vereadores dos municípios brasileiros. Muito papel e tinta têm sido gasto para discutir a crise da democracia representativa no mundo contemporâneo. No Brasil, além das características universais tivemos um processo específico e radical que foi a crise, entre 2014 e 2018, envolvendo simultaneamente recessão, desemprego, impeachment, Lava Jato e a desmoralização do sistema partidário tradicional. O resultado foi uma eleição em 2018 completamente disruptiva, com a eleição de outsiders para a Presidência da República e diversos governos estaduais nas asas da “nova política”.

Pouco a pouco, e as dificuldades dos governadores do Rio de Janeiro, Santa Catarina e Amazonas não nos deixam mentir, fica claro que a “nova política” já nasceu velha. A própria oscilação do governo federal entre o presidencialismo de confrontação e o de coalizão, ao procurar apoio parlamentar do chamado “Centrão”, embaralham os conceitos de novo e velho, ainda mais a partir do esvaziamento da pauta anticorrupção, com a saída de Moro, e da perspectiva econômica modernizante, com a fragilização clara e crescente do antigo Posto Ipiranga, o Ministro Paulo Guedes.

As eleições municipais nunca tiveram carga ideológica elevada. A população é pragmática e quer saber quem é o líder local que pode melhor potencializar as energias presentes na sociedade municipal e ser o melhor gerente para a garantia de serviços públicos de qualidade para todos. Tanto que a polarização entre bolsonarismo versus petismo é totalmente periférica nesta eleição segundo a projeção das pesquisas.

Cada vez mais as pessoas desconfiam de salvadores da Pátria, heróis onipotentes, demagogos irresponsáveis. A democracia é um processo permanente de experiências, decepções, êxitos e aprendizado. Depois da explosão catártica das eleições de 2018, creio que características essenciais como história pessoal, realizações, experiência, competência, capacidade de liderança, aptidão para o diálogo e a negociação, estão sendo revalorizadas. Não se vê a absolutização do novo pelo novo, nem a condenação do “velho” por ser velho, embora algum grau de renovação seja sempre importante.

Tenho convicção enorme que se há algum plano que pode revitalizar a democracia brasileira é o poder local. A grande proximidade entre líderes e gestores e o cotidiano da população é fundamental para a construção de novos modelos de governança pública. Neste nível de governo são possíveis experiências profundas e verdadeiras de participação, transparência e controle social, difíceis de se concretizarem nos planos estadual e federal. É importante fortalecer o orçamento dos municípios. Embora na votação dos royalties do petróleo e do minério tenha estudado profundamente e verificado que não obrigatoriamente as cidades mais ricas têm os melhores indicadores de educação e saúde. Às vezes pequenos municípios pobres têm resultados muito melhores graças à qualidade da gestão local.

Amanhã o destino das cidades brasileiras estará nas mãos da população. Um bom prefeito e bons vereadores são os que podem assegurar a verdadeira construção de uma rede boa e integral de atenção à saúde ou uma escola ativa, vibrante e de qualidade ou uma competente governança do espaço urbano e dos serviços municipais. Portanto, voto é escolha, mãos a obra.

*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)


Maria Cristina Fernandes: O que esperar de um eleitor machucado

Se as eleições de 2016 foram marcadas pelo cansaço, as de 2020 o serão pelas perdas - de vidas, empregos e perspectivas

A campanha eleitoral transcorreu num ano em que a pandemia matou 160 mil pessoas, desempregou 12 milhões, e deixou 7 milhões sem aulas. Por mais que as disputas municipais tratem do que o jargão dos candidatos chama de zeladoria, não há como subtrair da corrida pelas prefeituras e Câmaras de Vereadores, o drama nacional.

Mais do que o cansaço de 2016, pavimento para a praga da antipolítica que se esparramaria pelo país em 2018, a disputa de domingo será marcada pela perda - de vidas, empregos e perspectivas. Foi este o denominador comum das pesquisas feitas por Nilton Tristão ao longo de 2020.

De tão discreto, o instituto que dirige (Opinião) nem perfil em redes sociais tem, mas passou pelo crivo rigoroso do site Pindograma, que analisou quase 2 mil pesquisas no país, como o de maior grau de acerto. Por não seguir a metodologia estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral, que classifica de binária, Tristão não publica suas pesquisas. Trabalha por encomenda de candidatos.

Do que tem colhido nas pesquisas - quantitativas e qualitativas - conclui que nunca houve distância tão abissal entre os anseios de um eleitor machucado e a oferta do mercado de candidatos. Desse fosso, aposta, sairá a maior taxa de votos em branco, nulos e abstenção de uma eleição municipal desde a redemocratização.

É bem verdade que não se trata uma aposta arriscada. O próprio TSE, lembra Tristão, tem alertado na sua propaganda eleitoral que, na presença de quaisquer dos sintomas da covid-19, o eleitor deve se abster de votar. Mas aqueles que forem aos locais de votação, aposta, não estarão propensos a bravatas e propostas contra-tudo-o-que-está-aí.

O cansaço de 2016 fez ascender gente que se dizia avessa à carreira que estava a abraçar - os empresários João Doria (São Paulo), Alexandre Kalil (BH) e Hildon Chaves (Porto Velho), além do professor universitário Clécio Vieira (Macapá) - e de outros, como Marcelo Crivella (Rio) que, apesar de agarrado à política há muito tempo, ainda age e fala como se num templo estivesse.

As perdas de 2020 dão o tom da moderação. De radical, basta a conjuntura. Basta ver as bem-sucedidas campanhas de Guilherme Boulos, em São Paulo, e de Manuela d’Ávila, em Porto Alegre. O candidato do Psol conteve as ironias que marcaram sua campanha presidencial. Agora faz blague de si mesmo, ou de seu “celtinha prata”, o carro com 120 mil quilômetros rodados que nunca o deixou na mão.

Assiste de dentro de um carro à abordagem de uma repórter de sua campanha a eleitores que temem sua fama de invasor para depois aparecer com um sorriso a explicar os pressupostos do Estatuto das Cidades. Exibe a entrevista-depoimento com o apresentador José Luiz Datena que o conheceu, na virada do século, pelas histórias que seu pai, o epidemiologista Marcos Boulos, fonte do jornalista, lhe contava. Do relato, sai quase um São Francisco de Assis redivivo.

Nas viradas, uma transmissão por 24 horas de sua vida, o eleitor teve acesso ao aquário de suas filhas e à mesa de café da manhã da família - sem leite condensado no pão. A intimidade não explica como montaria uma maioria na Câmara de Vereadores, mas ajuda a moderar a imagem e aproximá-la do paulistano médio. Se conseguir o voto útil dos petistas, chegará ao segundo turno contra o prefeito Bruno Covas (PSDB), que tem na sua luta pessoal contra o câncer o maior ponto de adesão com este eleitorado machucado pela pandemia.

Também é outra Manuela aquela que se apresenta ao eleitor de Porto Alegre. A candidata do PCdoB, vice de Fernando Haddad em 2018, se apresenta como alguém que “sofreu e aprendeu”. Tanto ela quanto Boulos podem vir a ser beneficiados pelo comparecimento do eleitorado jovem, presumivelmente maior do que a média por causa da pandemia. Não têm uma eleição fácil, mas se passarem para o segundo turno já terão conseguido dar o tom da esquerda para 2022. E não apenas da esquerda.

De candidato da antipolítica em 2016, Alexandre Kalil (PSD) virou o conciliador pragmático que só não transige com o coronavírus. Quando o presidente da República culpou os prefeitos pelas mortes, respondeu: “Muito ajuda quem não atrapalha”. Cartola do Atlético Mineiro, vetou a presença de público em estádio de futebol durante a pandemia como queria Bolsonaro - “É coisa de débil mental”. Chega ao fim do primeiro turno mantendo Belo Horizonte com uma taxa de transmissão da covid abaixo de 1 (o que indica desaceleração do contágio) e caminha para se reeleger facilmente no primeiro turno, derrotando um candidato abertamente bolsonarista.

Daqueles mais identificados com o presidente da República, só Wagner Gomes, o deputado federal Capitão Wagner (Pros), tem chances de passar para o segundo turno em primeiro lugar. Para isso, precisou se afastar de Bolsonaro. O candidato do Republicanos em São Paulo, Celso Russomanno fez o mesmo movimento, mas não adiantou. Talvez porque quando ele diz que morador de rua não pega covid por não tomar banho ninguém sabe se é ele ou Bolsonaro quem esteja falando.

Levada para as “lives” do Palácio do Alvorada - pode TSE? - por outro frequentador e sanfoneiro do evento, o presidente da Embratur Gilson Machado, a candidata do Podemos no Recife, a delegada Patrícia, despencou. A capital do Estado ruma para ser a única no país com dois candidatos de esquerda, os deputados federais e primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). É o oposto do que se vê nas capitais do Centro-Oeste. Nesses oásis do agronegócio, onde os marqueteiros paulistas que lá estão reclamam do preço dos restaurantes, a esquerda não tem qualquer chance de chegar ao segundo turno.

A eleição nas capitais está longe de refletir o conjunto do país. São 5.568 disputas diferentes comandadas pelas realidades locais. Só o medo da morte e da fome os une. O resultado eleitoral de domingo não determina o futuro de Bolsonaro. No limite, pode mostrar um presidente da República dissociado do sentimento do eleitor. O que é metade do caminho para 2022.


RPD || Benito Salomão: Eleições 2020 e seus reflexos para 2022

Primeira eleição após a reforma política realizada pelo PLC 75/2015, pleito deve ser marcado pelo barateamento dos custos das campanhas eleitorais em todo o País e pela concentração partidária, avalia Benito Salomão

Em 15 de novembro, data próxima à da publicação desta Revista, serão escolhidos, em primeiro turno, prefeitos em 5.475 municípios brasileiros com número de eleitores inferior a 200 mil. Nos outros 95 municípios em que a massa eleitoral supera esse contingente, poderá haver uma disputa em segundo turno. A injeção de cerca de R$ 230 bilhões na economia, no rastro do auxílio emergencial, deve favorecer a reeleição ou continuidade de governos que estariam fadados à derrota no atual contexto de pandemia, agravada pela recessão. Por continuidade quero dizer a não exclusão de políticos tradicionais diante do fracasso da “nova política”, plasmado pela eleição em 2018 de figuras pouco expressivas e sem currículo como Bolsonaro, Witzel, Zema e tantos outros.

Esta é, ainda, uma eleição atípica, por ser a primeira após a reforma política realizada pelo Projeto de Lei Complementar (PLC) 75/2015, que mudou inúmeras regras para as eleições no Brasil. A primeira mudança consiste na forma de financiamento das campanhas políticas, com a suspensão dos aportes de origem empresarial e a criação do fundo eleitoral público. Duas consequências devem ocorrer a partir desta nova regra: A primeira é o barateamento dos custos das campanhas eleitorais em todo o Brasil. Quem caminha pelos grandes centros brasileiros e percebe a ausência de campanhas pelas ruas tende a imaginar que se trata de mais um efeito da pandemia, mas, na verdade, boa parte dos candidatos recebeu apenas recursos para financiar os programas de televisão. Em segundo lugar, a tendência à consolidação dos partidos tradicionais. Levantamento do IBOPE em 30/10, abrangendo 23 capitais, mostra clara tendência de concentração em alguns poucos partidos.

Democratas e PSDB são os que estão sendo mais bem avaliados pelas pesquisas, cada um liderando em 5 capitais. PMDB e Podemos estão à frente em outras 3, cada. O PSD desponta como vencedor em 2 capitais. PP, PC do B, PSB e PDT lideram em 1 capital cada um.

Ou seja, dos atuais 27 partidos com representação na Câmara dos Deputados, apenas nove devem eleger prefeitos. Dos atuais grandes partidos brasileiros, apenas PT e PSL não lideram as pesquisas em capital alguma. O PT corre em 2° ou 3° lugar em algumas capitais; o PSL, nem isso. A se confirmarem esses resultados, pode surgir novo centro de resistência à polarização bolsonarismo x petismo, fenômeno que poderá ser aproveitado por alguma liderança de projeção nacional.

Esta tendência de concentração partidária deverá se refletir também, porém de forma mais imperfeita, na composição da próxima Câmara. Isso porque, a partir de 2022, a cláusula de desempenho para acesso partidário ao fundo de financiamento e ao horário na televisão se tornará mais apertada do que foi em 2018. Na eleição de 2022, de acordo com a PEC 33/2017, o partido precisará ter 2% dos votos válidos em 9 unidades da Federação e ser obrigado a eleger um número mínimo de 11 deputados federais. Somado com o fim das coligações proporcionais, isso tende a reverter o processo de proliferação partidária verificado nos anos 2000 e 2010.

Ainda é cedo para projetar, com base no que suponho possa ser o desempenho eleitoral dos principais partidos nos municípios, a configuração do próximo Congresso. As eleições para deputado federal têm outra dinâmica. Dependem muito do resultado das eleições no interior, tanto mais porque a possível concentração partidária, a ser registrada nesta eleição municipal, pode não se refletir na eleição para o Parlamento, por duas razões:

i) as disputas por prefeituras de cidades menores, espalhadas pelo interior, tendem a favorecer a pulverização partidária; e

ii) o objetivo de alguns candidatos a prefeitos não é tanto superar pesquisas eleitorais adversas e vencer as eleições, mas, antes, cacifar suas campanhas para deputado em 2022. Em outras palavras: partidos como o PSL e o PT, mesmo que não consigam eleger prefeitos em cidades importantes, poderão preparar-se para formar bancadas poderosas nas próximas eleições.

As eleições de 2020 talvez inaugurem nova fase da vida político-eleitoral brasileira. Na minha opinião, fase melhor, com campanhas mais baratas, maior fidelidade partidária, número menor de partidos, com maior eleitorado.

*Benito Salomão é economista.


Ascânio Seleme: Bolsonaro tem razão

Ele foi muito claro ao dizer esta semana que “a ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema?”. Problema nenhum

O presidente está certo. Não dá para impedir e não há nada de mau que as pessoas debatam questões. Ele foi muito claro ao dizer esta semana que “a ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema?”. Problema nenhum. É verdade também que a ideia de que a família Bolsonaro é corrupta também existe. O pessoal debate. Afinal, a casa usou dinheiro vivo e mal explicado para se dar bem. Ao que tudo indica, o dinheiro empregado na compra de imóveis e para pagar contas da família é público. Ou alguém acha que o dinheiro desviado em rachadinhas pertencia aos funcionários que tiveram parte dos salários surrupiada? Claro que não, eram quase todos fantasmas contratados apenas para viabilizar os desvio. Trata-se de dinheiro do contribuinte. Então o pessoal debate, qual o problema?

Foi um festival de gastos com dinheiro vivo que beneficiou Jair, seus filhos, sua mulher, suas ex-mulheres e seus netos. A turma toda tirou lasquinhas do Erário em benefício próprio. Michelle recebeu depósitos de Fabrício Queiroz. As “ex” Rogéria e Ana Cristina também se locupletaram. Ana comprou cinco imóveis com dinheiro vivo. Rogéria, mais modesta, comprou um apartamento em cash. Dois dos três zeros praticaram rachadinha, assim como o pai. Um deles, o zero mais velho, pagou mensalidades escolares dos netos do presidente com dinheiro arrecadado por Queiroz. Ele mesmo comprou uma loja de chocolates para lavar dinheiro. As pessoas estão discutindo isso por aqui. Qual o problema?

Ainda em 2018, soube-se que o então deputado Bolsonaro recebia auxílio moradia da Câmara mesmo tendo imóvel em Brasília. Questionado por um jornalista sobre a irregularidade, respondeu que usava o dinheiro “para comer gente”. O pessoal acha que Bolsonaro usou dinheiro público ilegalmente e de sobra mostrou como é muito mal-educado. Em junho do ano passado, o presidente foi obrigado judicialmente a pedir desculpas públicas à deputada Maria do Rosário, a quem ofendera em 2014 dizendo que não a estupraria por ela ser “muito feia”. E daí surge um outro debate, este sobre a grossura do presidente. Nenhum problema.

O pessoal debate também o espírito antidemocrático de Jair e seus filhos. O fato dele estar calado há um mês e meio é apenas uma cortina de fumaça para esconder a sua natureza profunda e absolutamente autoritária. Ninguém vai se esquecer que ele e seus meninos andaram de braços dados com a turma barra-pesada que falava em fechar Supremo e Congresso e promover uma intervenção militar. Ele entendeu que ficar calado e evitar expor seu lado fascista ajuda. Mas ninguém tem dúvida de que no seu íntimo ele queria mesmo era empastelar jornais, prender e dar porrada em adversários políticos. E até mandar fuzilar alguns privatistas, oras. O pessoal debate isso daí, qual o problema?

No caso do teto dos gastos, o pessoal sabe como pensa o presidente, nem precisa de debate. Ele é da turma do general Braga Netto, do ministro Rogério Marinho e dos ilustres deputados do centrão. Acha que dinheiro público tem que ser gasto, logo e muito. Bolsonaro reconheceu que “há uma briga, no bom sentido” por mais recursos dentro do governo. Poderia ter dito, tratar-se do grupo dele contra o de Paulo Guedes. Ele explicou como entende a questão. “Na PEC da guerra (contra a pandemia), nós já furamos o teto em mais ou menos R$ 700 bilhões, dá para furar mais R$ 20 bilhões?”. E deu a pista de como fazer para gastar acima do autorizado por lei. “Se for para vírus, não tem problema nenhum”. E acrescentou que se for para outra coisa, como água, é só alegar tratar-se da mesma finalidade.

Dez baruscos
A que ponto chegou a corrupção no Brasil. Os valores de desvios medidos há 20 anos chegavam à casa da dezena de milhões de reais. No mensalão petista alcançaram a centena de milhões. No Petrolão, um único homem, Pedro Barusco, cujo nome virou sinônimo de unidade de valor, desviou R$ 100 milhões e os devolveu quando apanhado com a mão na massa. No atacado, chegou-se à casa dos bilhões. Cálculos da Lava-Jato apontam desvios de R$ 6 bi no assalto à Petrobras. Agora, o doleiro Dario Messer, que nunca produziu nem criou nada, nem galinha, vai devolver aos cofres públicos R$ 1 bilhão. Um Messer vale dez Baruscos. Onde vamos parar?

Camaleão
O deputado Ricardo Barros, novo líder do governo na Câmara, é o exemplo mais acabado do que pode e até onde é capaz de ir um membro do centrão. Nunca, em tempo algum, Ricardo Barros trabalhou contra um governo, qualquer governo. Foi a favor e assumiu cargos de liderança com FH, Lula, Dilma e Temer. Agora está com Jair Bolsonaro. Não erra quem apostar que em 2022 estará com quem quer que seja eleito.

Elegante, Salim?
A frase da semana é do ex-secretário da Privatização, o empresário Salim Mattar. Numa entrevista ao GLOBO, quinta-feira, ele disse que Bolsonaro é “elegante, não se envolve e não fica aporrinhando ministro.” Que isso, Salim? Primeiro, Bolsonaro se mete tanto na vida dos ministros que vai derrubando os que não aceitam sua interferência. Casos de Moro e Mandetta, por exemplo. E, fala sério, pode-se chamar o presidente de tudo, menos de elegante.

Mundo da lua
Projeto da Amazon prevê lançamento de três mil satélites na órbita da Terra nos próximos dez anos. Será o que já está sendo chamado de uma constelação de satélites. Hoje, 2,6 mil desses equipamentos, privados e públicos, circulam ao redor do Globo. O projeto Kuiper, de Jeff Bezos, vai mais do que dobrar o tráfego orbital. Faltará espaço no céu para quem gosta de ficar olhando estrelas. Já aquela turma de Brasília que vive no mundo da Lua nem vai se dar conta.

Correção
A coluna da semana passada errou ao não dizer que Lula só estará apto para disputar a eleição de 2022 se o STF entender que também foi parcial o julgamento que resultou na sua condenação pelo sítio de Atibaia. Lula já perdeu em duas instâncias neste caso, o que o torna inelegível.

Ilusionista
O presidente disse, ao final da reunião de quarta-feira com os chefes da Câmara e do Senado e com ministros e líderes parlamentares, que “o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor vai reagir à questão da crise”. Mais uma frase para a galera que não se sustenta. Além dos mais de cem mil mortos, o custo da pandemia já chegou aos R$ 700 bilhões. O valor foi calculado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” com base em estimativas de bancos e do próprio Ministério da Economia. Significa quase todo o tamanho dos ganhos a serem obtidos com a reforma da Previdência ao longo dos próximos dez anos. As outras reformas imprescindíveis para o crescimento, a administrativa e a tributária, não andam. E tem mais, o governo não zerou o deficit público e não fez as privatizações prometidas na campanha. Mais grave ainda é que, embora diga o contrário, sua excelência está buscando um dinheirinho extra para fazer mais despesas e pagar “bondades”, porque afinal a eleição está logo ali.

Ilusionista 2
O líder da turma da gastança que acha ser esta a melhor fórmula para se garantir a reeleição de Bolsonaro é o ministro Braga Netto. Embora seja reconhecido como bom administrador, não se sabe o que o general entende de economia?

Culpado errado
Paulo Guedes reclamou outro dia do que chamou de resistência do meio político em se engajar na agenda de reformas. Um ingrato, este ministro. Sem o total apoio do Congresso, Guedes jamais teria aprovado a reforma da Previdência. Deveria reclamar de Bolsonaro. As reformas não andam por culpa do governo.

Bobinho
Tem coisa que apenas criança faz para tentar esconder suas traquinices, uma vez que ainda não sabe medir consequências. Ao responsabilizar os governadores pelo número de mortes causadas pela Covid-19, Bolsonaro agiu como um menino. Se há um responsável pelo avanço descontrolado do coronavírus no Brasil, trata-se do próprio presidente, um negacionista de carteirinha. Quase todos os governadores seguiram o receituário da OMS. As medidas de distanciamento social não deram inteiramente certo em parte devido ao discurso da gripezinha.

Ninguém é poupado
Nas últimas duas semanas de julho, 97 mil crianças menores de dez anos foram diagnosticadas com a Covid-19 nos Estados Unidos de Donald Trump.


Ascânio Seleme: Só terremoto salva

Mesmo com cenário ruim, 38% dos brasileiros querem reeleger Bolsonaro

Fernando Henrique Cardoso pode até não admitir, mas no fundo deve estar arrependido por haver se empenhado tanto pela aprovação do princípio da reeleição em 1997. Com o falso objetivo de consolidar o Plano Real, criou um monstrengo que atrapalha governos e confunde eleitores. Por sua causa, governantes em primeiro mandato trabalham principalmente para ganhar o segundo, e os eleitores acabam sendo enganados ao julgar os mandatários com base em suas “bondades”. Todos os presidentes foram reeleitos desde a aprovação da emenda, mesmo os enrolados.

A primeira prova de que o princípio torna nebulosa a gestão do postulante a um segundo mandato foi dada pelo próprio FH, que em 1998 segurou artificialmente o câmbio para não atrapalhar sua reeleição e, quando teve de soltá-lo em janeiro do ano seguinte, causou um tsunami na economia. O governante usa sem escrúpulos a máquina administrativa para se reeleger, mesmo que disso resultem quebradeira de empresas e escalada do desemprego. E ainda há um outro elemento que torna praticamente imbatível um presidente candidato, a admiração incondicional do brasileiro médio por homens poderosos.

A reeleição de Lula é um caso já estudado e explica essas premissas. O ex-presidente se valeu tanto da imagem de pai generoso quanto da de gestor poderoso, que distribui dinheiro entre os mais necessitados. Dinheiro público, claro. Lula estava envolvido até o pescoço no escândalo do mensalão, embora tenha dito que “não sabia” das movimentações criminosas do deputado cassado José Dirceu. O PT pagava a partidos e parlamentares pelo apoio que eles davam ao governo. Mais uma vez, era dinheiro público que remunerava os aliados. Um escândalo desse tamanho não foi o suficiente para impedir seu segundo mandato.

Dilma foi reeleita mesmo tendo feito um primeiro governo antipolítica. A ex-presidente passou quatro anos torpedeando partidos, especialmente o MDB do seu vice Michel Temer. Foi tão omissa que acabou permitindo a eleição de seu algoz Eduardo Cunha para presidente da Câmara, no início do segundo mandato. Na economia, expandiu gastos desordenadamente e reduziu juros na marra, resultando no aumento da inflação e do desemprego. Em janeiro de 2013, para combater o monstro que havia criado, pediu aos prefeitos de Rio e São Paulo que não dessem aumento de ônibus. O preço represado da passagem foi majorado em junho, e o que se viu em seguida virou história. Mesmo assim, Dilma foi reeleita.

E então chegamos a Bolsonaro. O presidente colecionou erros grosseiros nos seus primeiros 18 meses de governo. Os mais óbvios foram menosprezar o Congresso, ultrajar o Supremo e incentivar manifestações antidemocráticas. O país assistiu abismado àquela famosa reunião ministerial em que Abraham Weintraub disse que, se dependesse dele, “prendia estes vagabundos”, apontando para a Praça dos Três Poderes, “a começar pelo Supremo”. Além disso, os filhos do presidente, sua mulher e suas ex-mulheres estão envolvidos numa rede de gastos com dinheiro vivo de origem mal explicada, muito provavelmente das rachadinhas praticadas por toda a família.

O presidente ainda ignorou agressões ao meio ambiente e alertas globais. Mais adiante, fez pouco caso da epidemia de coronavírus, debochou das mortes por ela causadas e gerenciou mal o combate. O grande momento da sua presidência, e ainda assim dependendo do ângulo que se olhe, foi a aprovação da reforma da Previdência. Mas, como ele não se mobilizou a seu favor, a reforma deve ser atribuída ao Congresso. Seu único e verdadeiro mérito foi ter se mantido calado nas últimas cinco semanas. Não poderia haver um cenário pior para um presidente. E, mesmo assim, pesquisa revela que 38% dos brasileiros querem reelegê-lo.

Para agravar o quadro, não há no horizonte sinal de entendimento entre os diversos matizes da oposição. Lula caminha solitário à esquerda. Moro bate cabeça à direita. O centro não tem vigor nem empatia. Você pode dizer que é cedo, tudo bem. Mas, se não houver mudança radical nesse cenário já, somente um terremoto poderá evitar a reeleição de Bolsonaro.


Ricardo Noblat: O plano para reeleger Bolsonaro passa por Lula candidato

De volta ao passado

Cresce o número de vozes nas cercanias do presidente Jair Bolsonaro que não achariam nada mal que seu principal adversário nas eleições de 2022 fosse Lula. Para isso, o Supremo Tribunal Federal teria de concluir que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial ao condenar Lula no processo do tríplex do Guarujá.

Talvez ainda este ano, a Segunda Turma do tribunal julgue um pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente que levanta a suspeição de Moro. Se concedê-lo, a segunda condenação de Lula, no caso do sítio de Atibaia, poderá cair, uma vez que Moro participou de algumas fases do processo.

Com o eventual desmanche das duas condenações, Lula recuperaria seus direitos políticos e estaria livre para ser outra vez candidato a presidente. O medo de Lula se eleger e a falta de outros nomes capazes de derrotá-lo fortaleceria Bolsonaro e inflaria suas chances de conseguir o segundo mandato.

Recentemente, Lula obteve duas importantes vitórias na Segundo Turma do Supremo. A primeira: finalmente, sua defesa vai poder acessar todos os documentos usados no acordo de leniência fechado pela Odebrecht com o Ministério Público Federal, inclusive os que se encontram nos Estados Unidos e na Suíça.

A segunda vitória: a delação do ex-ministro Antonio Palocci não pode ser utilizada nesta ação em que Lula é acusado de ter supostamente recebido R$ 12 milhões da Odebrecht. Moro passou recibo dos dois sérios reveses que colheu. Em silêncio, o governo celebrou as decisões da Segunda Turma do Supremo.

No momento, são convergentes os interesses do governo Bolsonaro e do PT de Lula. Com vantagem para Bolsonaro que terá dois anos pela frente para penetrar mais fundo na principal base eleitoral de Lula, o Nordeste. O que ele tinha a perder com o fracasso do combate ao coronavírus, já perdeu. Jogo jogado.

O que pode vir a ganhar com o pagamento do auxílio emergencial e com a substituição do programa Bolsa Família pelo mais generoso programa Renda Brasil ainda está por ser calculado, mas não será pouca coisa. Cuide-se Paulo Guedes, ministro da Economia, que será obrigado a arranjar dinheiro para obras de infraestrutura.

Ministro nega dossiê, mas confirma relatório sobre servidores antifascista

Que diferença faz? Nenhuma

Está em qualquer dicionário da língua portuguesa que “dossiê é uma coleção de documentos relativos a um processo, a um indivíduo ou a qualquer assunto”. E que relatório “é uma exposição escrita, minuciosa e circunstanciada relativa a um assunto ou fato ocorrido. O objetivo de um relatório é comunicar uma atividade desenvolvida ou ainda em desenvolvimento durante uma missão.”

Como o jornalista Rubens Valente, no seu blog do portal UOL, chamou de dossiê a coleção de documentos produzidos por uma secretaria do Ministério da Justiça sobre quase 600 servidores federais que se declararam antifascistas nas redes sociais, o ministro André Mendonça negou a existência do tal dossiê. Negou até em comunicado enviado ao Supremo Tribunal Federal.

Mas apertado por deputados federais e senadores em sessão secreta na última sexta-feira, ele confirmou que a secretaria produziu, sim, um relatório sobre os servidores monitorados. Por monitorados, entenda-se: espionados. Porque é disso que se trata. Não faz diferença se foi dossiê ou relatório. O que se discute é se a secretaria poderia fazer o que de fato fez, e por que.

A bola – ou melhor: o comunicado despachado por Mendonça ao Supremo – está nas mãos da ministra Carmen Lúcia, autora de um pedido de explicações. Dossiê ou relatório, à ministra caberá dizer se o Ministério da Justiça pode espionar um grupo de pessoas por pensaram de um jeito ou de outro. Ou porque o governo simplesmente não gosta do jeito que elas pensam.


FAP lança Guia Eleitoral para candidatos do Cidadania

Publicação também traz a plataforma eleitoral do partido que será apresentada aos eleitores brasileiros

Com o objetivo de orientar, mas também inspirar os candidatos do Cidadania que disputarão as eleições municipais 2020, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) lançou o Guia Eleitoral, que deixa clara não só as posições do partido sobre a pauta nacional, como apresenta a plataforma eleitoral que apresentará aos eleitores brasileiros este ano.

A pandemia do Coronavírus que levou ao adiamento das eleições municipais de outubro para novembro e deverá alterar completamente a forma de se fazer campanha, reforçou a percepção do Cidadania de que a nova realidade impõe, mais do que nunca, um novo modelo de gestão para os municípios, que pode ser definido a partir de 3 conceitos: Cidade Inteligente, Governo Digital e Gestão Compartilhada.

A nova realidade do Brasil e das cidades brasileiras levou escolas a implantarem diferentes modelos de ensino a distância e empresas ampliaram, o máximo possível, o home office para seus funcionários.

Clique na imagem para o download do guia ou clique aqui!

A partir de experiências bem-sucedidas, como a do prefeito de Vitória, Luciano Rezende, no Espírito Santo, o Cidadania decidiu incluir entre suas bandeiras eleitorais para este ano um novo modelo de governança para os municípios brasileiros, que usa a inovação e tecnologia para fazer mais, melhor e com menos recursos.

Também consideramos fundamental que nossos candidatos e candidatas estejam cientes e preparados para enfrentar os desafios impostos pela pandemia às cidades e à sociedade.

Cientistas políticos adiantam que a primeira pergunta que eleitor vai fazer ao escolher seu candidato nas eleições deste ano é a seguinte: O que você fez ou propõe para resolver os meus problemas ao longo desta pandemia Oferecer uma resposta concreta a essa pergunta pode ser um bom começo para o planejamento de sua campanha eleitoral.

Experiência só se ganha com o passar dos anos, mas é possível queimar etapas a partir de sugestões e ideias compartilhadas por gente que já esteve na linha de frente na construção de políticas públicas.

Foi o que fez o ex-governador, ex-ministro da Educação, ex-senador e professor Cristovam Buarque, oferecendo soluções criativas para se melhorar a gestão municipal. Muitas delas testadas e aprovadas pela população da capital federal durante o período em que governou o Distrito Federal, que continuam atuais, até porque muitos dos problemas dos municípios brasileiros seguem sendo os mesmos.

Segue então um Guia Eleitoral, ao qual você poderá recorrer a qualquer momento para se inspirar ou tirar dúvidas durante a campanha deste ano. Sua participação é decisiva para manter a democracia brasileira viva, ainda mais diante de uma sociedade polarizada e carente de verdadeiros líderes.


Alon Feuerwerker: Agendas capturadas

Qual é a melhor receita para uma oposição? A que define objetivos simultaneamente ao alcance dela e impossíveis de capturar pelo governismo. Ou, pelo menos, objetivos que se o governismo ou o paragovernismo quiserem assumir pagarão um preço político alto. E a agenda da oposição precisa conectar-se também às metas históricas dela.

A oposição de esquerda ao governo Jair Bolsonaro é: 1) contra a austeridade econômica, 2) a favor de programas de complementação de renda, 3) contra a agenda dita anti-ambiental, 4) contra o conservadorismo nos costumes e contra o armamentismo e 5) contra o que considera ameaças autoritárias vindas do Executivo.

É fácil notar que após um ano e meio de bolsonarismo a maior parte da agenda da oposição de esquerda ou foi capturada pelo governo ou pelo paragovernismo. Mesmo que este último ande em luta para dar a Bolsonaro o mesmo destino de Dilma Rousseff e Fernando Collor. Ou, pelo menos, para construir uma alternativa competitiva rumo a 2022.

Alguma hora é possível que o discurso da austeridade volte, mas por enquanto o auxílio emergencial vai vitaminando a simpatia por Bolsonaro nos bolsões resistentes a ele em 2018. E isso tem poder de convencimento no Planalto. E a Covid-19 faz a renda básica brilhar em dez entre dez discursos e artigos de economistas liberais.

No ponto 3, a aversão à política governamental para o meio-ambiente vai sendo não apenas encampada, mas quase comandada pela grande finança. A polarização neste quesito deixou de ser entre direita e esquerda, agora é entre nacionalismo e cosmopolitismo, e este encaixa quase naturalmente uma esquerda cada vez mais divorciada do anti-imperialismo.

Idem para o quarto ponto, que congrega talvez a frente antibolsonarista mais ampla, sob clara liderança liberal. Detalhe: aqui o bolsonarismo beneficia-se da boa (medida nas pesquisas) sustentação social da agenda conservadora.

Já no ponto 5 o assunto diluiu depois que o presidente da República conteve o verbo dos apoiadores dele, parou de produzir fatos conflitivos diários e entrou firme nas negociações com os demais poderes constituídos. Não se sabe se é estratégico ou apenas tático, mas alcançou-se o objetivo de dar uma acalmada.

Na maior parte dos anos de resistência ao regime militar persistiu um consenso vago sobre a redemocratização, mas só a esquerda defendia a anistia ampla geral e irrestrita e que a nova institucionalidade fosse construída por uma assembleia nacional constituinte livre, democrática e soberana. Qual é exatamente a bandeira que hoje só a esquerda defende? O que a distingue do resto?

No universo dito progressista, o debate predileto do momento é sobre a frente ampla versus a frente de esquerda. Na real, a dúvida de fundo é sobre a conveniência ou não de considerar desde agora o apoio a um “centro” em 2022. Mas a falta de clareza programática faz hoje a esquerda nem ter ideia do que reivindicar, de diferente, na eventualidade de ter de apoiar outra alternativa num possível segundo turno contra o bolsonarismo.

*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação

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Publicado originalmente na revista Veja 2.697, de 29 de julho de 2020


Síndrome do sapo cozido instiga aula de ética da Jornada da Cidadania

Saúde pública digital, fiscalização da prefeitura e pesquisa para defesa de causa estão entre assuntos da nova aula do curso da FAP

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A síndrome do sapo cozido é uma metáfora que mostra um problema da humanidade. “Estamos sendo cozidos e tolerando o intolerável”, analisa a psicóloga Terezinha Lelis, mestre em educação, em novo pacote de aula multimídia da Jornada da Cidadania, disponibilizado, a partir desta quarta-feira (22), na plataforma de educação a distância totalmente online, interativa e com acesso gratuito. O curso de formação política é realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília.

Na principal videoaula do novo pacote de conteúdos da Jornada da Cidadania, Terezinha aborda ética e integridade partindo da metáfora do sapo cozido. Ela mostra como os diversos problemas da sociedade colocam a humanidade diante de paradoxos éticos, sobretudo. A professora cita catástrofes ambientais, política antidrogas e aumento de dependentes químicos, por exemplo.

“Temos conhecimento e tecnologia para diminuir a fome e todas as pessoas viver com dignidade”, afirma, lembrando que o número de miseráveis ainda é muito grande. “A humanidade está em uma encruzilhada. Vivemos em crise de civilização. Ao mesmo tempo em que há soluções e propostas de saídas, só conseguimos piorar mais. Como resolver esse paradoxo?”, questiona.

Na sequência de conteúdo multimídia, os alunos poderão conferir a pequena videoaula do prefeito de Vitória (ES), Luciano Rezende, sobre case de saúde pública digital. O cientista político e cofundador do Movimento Agora, Leandro Machado, continua, em seguida, o conteúdo da principal videoaula do último pacote de conteúdo, com dicas sobre pesquisa para defesa de uma causa.

O ex-vereador e ex-deputado federal Arnaldo Jordy (Cidadania-PA) explica como fiscalizar a prefeitura. Além disso, os alunos também deverão ver parte do vídeo Cordeiros e Carrascos e ler o texto A Regra do Jogo, do livro Bilhões e bilhões, de Carl Sagan. Depois, terão de ouvir o podcast sobre 10 dicas para viver com integridade, antes de responder ao questionário e à pesquisa de satisfação.

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Depois da epidemia: Cristovam Buarque participa de live da Jornada da Cidadania

Líder político vai avaliar perspectivas para o mundo após o coronavírus; acesso é exclusivo a alunos de curso de formação política

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

O que as pessoas podem esperar de si próprias e umas das outras após o auge do coronavírus? Egoísmo e individualismo cederão lugar à solidariedade e empatia? O modo de vida voltará a ser o mesmo? Diversos são questionamentos e respostas que tomam conta do mundo inteiro e alguns deles serão discutidos, nesta sexta-feira (24), pelo ex-senador Cristovam Buarque, na live “Depois da epidemia”. Mediada pelo jornalista e colunista político Luiz Carlos Azedo, a conversa será realizada pelo curso de formação política Jornada da Cidadania, da FAP (Fundação Astrojildo Pereira). Será das 19h às 20h.

O acesso à live será exclusivo a alunos cadastrados na Jornada da Cidadania. Eles poderão acessar a plataforma do curso de formação política, com login e senha, clicar na opção “meus cursos” e, em seguida, na sala virtual de Cristovam. “Nós tínhamos e temos de escolher entre continuar o velho conceito de progresso, que é depredador da natureza, baseado no excesso de consumo, ou encontrar o novo rumo, um conceito alternativo ao progresso, capaz de conviver com a natureza em equilíbrio e quebrar a desigualdade social”, afirma. “A epidemia pode apressar a busca de um novo rumo, ou não”, destaca.

Durante a segunda live da Jornada da Cidadania, os internautas poderão interagir, enviando perguntas para Cristovam. De acordo com ele, o mundo já estava em uma “encruzilhada” antes mesmo de a epidemia explodir. “Não acho que a epidemia seja revolucionária”, observa. “Como nós, que defendemos mudanças, estamos muito acomodados, em vez de criar esperança na nossa luta, estamos criando esperança no vírus. É um acomodamento”, afirma.

Depois de descoberta a vacina contra o coronavírus, conforme analisa Cristovam, tudo poderá continuar como era antes da epidemia, com exceção de alguns costumes que poderão ser alterados. “Salvo as técnicas que vieram para ficar, como ensino a distância, e-commerce, o trabalho de casa”, exemplifica. Segundo ele, as relações de trabalho também poderão mudar, apesar de não acreditar que o coronavírus leve a uma “revolução da mentalidade”.

Cristovam ressalta que, neste momento, as pessoas que ficam em casa estão apenas vivendo uma autodefesa. “As pessoas estão vivendo uma defesa, ficando em casa, consumindo menos porque não podem ir às ruas. Mas não creio que haverá mudança de mentalidade para que as pessoas passem a consumir menos. Passada a epidemia, voltam a voracidade no consumo e o egoísmo”.

Primeira live
No dia 20 de março, a Jornada da Cidadania realizou a sua primeira live, com a participação do jornalista Luiz Carlos Azedo, colunista político e especialista em mídias digitais, e do publicitário Moriael Paiva, pioneiro no uso de mídias digitais no segmento político. Eles abordaram o impacto da pandemia do novo coronavírus na vida das pessoas em tempos de comunicação em rede.

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