ECONOMIA EM CRISE

Fome mata mais que covid, aponta reportagem da RPD Online

Reportagem especial da revista mensal da FAP cita dados de estudo da Oxfam divulgado neste mês

A fome, no país e no restante do mundo, pode matar 11 pessoas a cada minuto, até o final deste ano, no planeta, caso nada seja feito, segundo relatório da organização internacional Oxfam, publicado na reportagem especial da revista mensal Política Democrática online de julho (33ª edição).

Veja a versão flip da 33ª edição da revista Política Democrática online (julho/2021)

Para exemplificar o drama, a reportagem mostra a vida de pessoas como a idosa Maria Amélia da Conceição de Fátima, de 72 anos, e sua família, que vivem entre catadores de lixo no Setor de Clubes Sul, na capital federal, e comumente se alimentam de restos e migalhas. A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. Todos os conteúdos podem ser acessados, gratuitamente, no portal da entidade.

O Brasil está entre os focos emergentes da fome, ao lado da Índia e da África do Sul, conforme lembra a reportagem, baseada no estudo. A taxa de mortalidade de quem não tem o que comer é maior que a da Covid-19, que é de sete pessoas por minuto.

Desde o início da pandemia, as mortes por Covid-19, no país, ficaram em terceiro lugar no mundo, enquanto o percentual de brasileiros em extrema pobreza quase triplicou – de 4,5% para 12,8%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).



reportagem também cita dados da pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), segundo a qual, no final de 2020, mais da metade da população – 116 milhões de pessoas – enfrentava algum nível de insegurança alimentar, das quais quase 20 milhões passavam fome.

A publicação da FAP cita, ainda, o dado de que, no ano passado, 11% das famílias chefiadas por mulheres conviviam com a fome, enquanto mais de 10% das famílias negras enfrentavam o problema, em comparação com mais de 7% das famílias brancas.

Confira todos os autores da 33ª edição da revista Política Democrática Online

Na revista Política Democrática online de julho, os internautas também podem conferir entrevista exclusiva com a jurista Eliana Calmon. Também há artigos sobre políticas nacional e externaeconomiameio ambiente e cinema.

Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.

LEIA TAMBÉM:

Bolsonaro tem queda contínua de popularidade, diz Política Democrática Online
Governo Bolsonaro é desastroso no combate à pandemia, diz Eliana Calmon
Clique aqui e veja todas as edições da revista Política Democrática online!


RPD 33 || Isaac Roitman: Os caminhos para a conquista de uma democracia plena

Se analisarmos nossa história e o presente, vamos concluir que não alcançamos ainda uma democracia plena. The Economist publica, desde 2006, um ranking que classifica os sistemas políticos de 167 países no exercício da democracia. No último, o Brasil ocupa a 49ª posição e é considerado como um país com “uma democracia falha”. A avaliação compreende sessenta indicadores, reunidos em cinco categorias amplas: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política democrática e liberdades civis. Em uma verdadeira democracia, as instituições públicas devem contribuir para o bem comum, para a coletividade. Quando as políticas e ações públicas beneficiarem grupos ou pessoas, principalmente com desvios de recursos e outros desmandos, com uma política econômica que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, não teremos uma democracia plena. 

A corrupção no Brasil é antiga e inimiga da democracia.  Já no século 16, os funcionários coloniais exportavam por conta própria especiarias, tabaco, metais e peças preciosas. Seguiu-se a traficância dos escravos, a manipulação dos contratos para obras públicas, a corrupção eleitoral do Império, o voto de cabresto da República, o “rouba, mas faz”, escândalos financeiros e tantos outros. Que vergonha! Até no combate da pandemia da Covid-19 desviaram recursos públicos.  Se não conseguimos superá-la no passado, temos a oportunidade de superá-la no presente, para proteger nosso futuro.  

A conquista de uma democracia plena é um processo construtivo longo e contínuo. Winston Churchill já dizia: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. No Brasil, a construção da democracia foi interrompida em vários momentos como no Estado Novo (1937-1945) e na Ditadura Militar (1964-1985). 

Os avanços no processo democrático envolvem a disponibilidade de educação pública de qualidade para todos, incluindo crianças e jovens, independentemente da classe social, bem como uma formação profissional de bom nível, a aquisição e consolidação de valores e virtudes, tais como ética, solidariedade, compaixão, bondade, caridade, fraternidade, respeito à diversidade e à natureza. Ao mesmo tempo, devem contribuir para exterminar a vergonhosa injustiça social brasileira por meio de uma política econômica que assegure vida digna e bem-estar social. O fortalecimento do Sistema Único de Saúde é fundamental para que todos tenham à disposição a promoção da saúde e uma assistência de qualidade diante das diferentes patologias.

O fortalecimento do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, com investimentos contínuos em nossas Universidades e Centros de Pesquisa é uma prioridade absoluta. Estamos hoje com a pandemia da Covid-19. Pagando pelos erros cometidos na interrupção de projetos de pesquisas em todas as áreas do conhecimento. Provavelmente, nossos pesquisadores já teriam produzido várias vacinas para combater essa catastrófica epidemia. Além disso, o desenvolvimento científico e tecnológico nos tiraria da posição de país periférico e permitiria que o Brasil tivesse destaque social e econômico na Era do Conhecimento. 

Uma reversão da atual política ambiental é uma emergência. Nossos recursos naturais e nosso bioma estão correndo riscos devido a políticas predatórias, estimuladas por lucros imediatos. O estrangulamento de nossa rica cultura e o retrocesso na conquista de direitos humanos completam esse cenário desolador que ameaça o futuro de nosso país. Não podemos ser reducionistas ligando o conceito de democracia simplesmente vinculado ao exercício do sufrágio. A apatia política é uma doença e a vacina para combatê-la é a educação para a cidadania.  

No entanto, as democracias contemporâneas passam por crises por não terem alcançados os seus objetivos éticos de justiça social.  Vamos todos juntos nos inspirar em Geraldo Vandré: 

“Caminhando e cantando /e seguindo a canção / Somos todos iguais/ braços dados ou não/ Nas escolas, nas ruas, campos, construções/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Vem, vamos embora, que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora, não espera acontecer/ Vem, vamos embora, que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. 

Isaac Roitman é doutor em microbiologia, foi chefe de departamento, decano e é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)