Bolsonaro

Luiz Carlos Azedo: Salvadores da pátria

O sebastianismo é uma herança tão forte quanto o velho patrimonialismo das oligarquias brasileiras. Até caminham de mãos dadas, embora aparentemente se contraponham

A face mais popular do iberismo no Brasil é o sebastianismo, um mito messiânico originário do desaparecimento do D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, a 4 de agosto de 1578. Menino ainda, assumiu o trono; o rei de Portugal morreu aos  24 anos e não deixou herdeiros. Em consequência, a primeira nação da Europa ocidental, que vinha de um exitoso ciclo de expansão marítima, mergulhou num período de frustração e desgoverno, sendo anexada pela Espanha em 1580. À época, o episódio personificou o mito do Encoberto, muito conhecido entre os cristãos-novos, por causa das profecias de Gonçalo Antônio Bandarra, um sapateiro de Trancoso, cujas trovas incomodavam a Inquisição:

“Augurai, gentes vindouras, / Que o Rei que daqui há-de-ir, / Vos há-de tornar a vir/ Passadas trinta tesouras. / Dará fruto em tudo santo, /Ninguém ousará negá-lo;/ O choro será regalo/ E será gostoso o pranto.”

Em sua defesa, Bandarra sustentou, perante os inquisidores, que havia se inspirado na Bíblia, ao ler os livros de Daniel, Isaías, Jeremias e Esdras, que profetizavam a vinda de um rei que traria, finalmente, a paz e a justiça aos povos da terra. Esse foi o ponto de partida para criação do mito, que mais tarde seria acalentado nas obras de Camões, do padre Antônio Vieira e até mesmo de Fernando Pessoa, que invoca o velho sebastianismo para mexer com os brios dos portugueses, diante da decadência em que se encontrava o seu país na primeira metade do século passado, desencantado com a República e a humilhação perante a Inglaterra.

Essa profecia de regresso de um salvador da pátria acabou tendo forte influência no Brasil, sobretudo no Nordeste. Ariano Suassuna, em seu Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, reconfigura o mito: “Guardai, Padre, esta espada, porque um dia hei de valer dela com os Mouros, metendo o Reino pela África adentro Dom Sebastião I — ou Dom Sebastião, O desejado — Rei de Portugal, do Brasil e do Sertão”. Descreve o sangrento movimento messiânico do qual participaram os antepassados do personagem-narrador, Pedro Dinis Quaderna, por volta de 1830, na cidade de São José do Belmonte (PE). Depois de sonhar com dom Sebastião, o sertanejo João Antônio dos Santos fundou um movimento messiânico que culminou na morte de 80 pessoas. Em maior escala, o messianismo ressurgiria no Brasil com o místico Antônio Conselheiro, líder dos jagunços de Canudos, no interior da Bahia.

Alguns líderes políticos, de certa forma, encarnaram o sebastianismo ou desejaram fazê-lo. É o caso do líder tenentista Luís Carlos Prestes, que se tornou um mito político depois de percorrer cerca 25 mil quilômetros, em 11 estados, durante dois anos, com sua coluna que chegou a ter 1.200 rebeldes. Cerca de 200 homens cobriram todo o percurso até se dispersarem, uma parte na Bolívia, outra no Paraguai. A adesão de Prestes ao comunismo, porém, reposicionou e limitou sua liderança, que acabou suplantada pelo governador gaúcho Getúlio Vargas, líder da Revolução de 1930, que governou o país por meio de uma ditadura, até 1945.

Espaço vazio

A legislação trabalhista e o salário-mínimo mantiveram inabalado o prestígio de Vargas após 15 anos de ditadura, possibilitando sua volta ao poder em 1950 pelo voto, embora o legado dele fosse além dessa fronteira, em razão da reforma do Estado e do seu papel na industrialização do país. Desde então, amalgamado ao populismo, o messianismo no Brasil tornou-se um fenômeno muito mais político do que místico-religioso, que sobrevive apenas nas festas populares, como nas Cavalhadas.

É nesse leito que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve sua base eleitoral, depois de governar o país por oito anos, com programas compensatórios como o Bolsa Família, que facilitam a construção da imagem de suposto “pai dos pobres”, ainda que sua estratégia de desenvolvimento tenha fracassado e levado o país ao desastre econômico no governo Dilma. Nem de longe se compara ao legado de Vargas.

Do ponto de vista da política, o sebastianismo é uma herança tão forte quanto o velho patrimonialismo das oligarquias brasileiras. Até caminham de mãos dadas, embora aparentemente se contraponham. As alianças de Lula no Nordeste são um bom exemplo disso. No Brasil meridional, porém, o fenômeno não tem a mesma intensidade. O divórcio entre a política e a sociedade está gerando um outro tipo de liderança, de viés conservador e autoritário, que preenche o espaço vazio, no caso, a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC), mas que também se apresenta como “salvador da pátria”.

Os demais candidatos a presidente da República, embora com uma trajetória política mais orgânica e institucional, enfrentam dificuldades para se colocar como real alternativa de poder. O divórcio entre o Estado e a sociedade e a desmoralização dos partidos em razão do envolvimento de seus líderes com a crise ética fazem com que, no âmbito da sociedade civil, muitos procurem um novo São Sebastião fora do mundo da política. A rigor, nada impede que isso ocorra, mas ninguém vai resolver os problemas do país com reza ou num passe de mágica


Sérgio C. Buarque: Quais são os meios?

Todos querem e prometem enfrentar a pobreza, distribuir renda, aumentar o emprego, melhorar a saúde e a educação e enfrentar a violência. Mas quais são os instrumentos e mecanismos adequados e efetivos para alcançar estes objetivos?

Passado o reveillon e a confraternização dos brasileiros, o ano começa já olhando para o momento crucial da história política do Brasil, as eleições de outubro, quando serão escolhidos os futuros governantes do país. Os potenciais candidatos devem, a partir de agora, acelerar os movimentos e as articulações na busca do poder da República. Embora seja muito cedo para especular sobre as chances eleitorais, o quadro de desestruturação social e moral do Brasil cria um campo fértil para os discursos e as propostas populistas e messiánicas. Ao longo do ano, os brasileiros vão ser bombardeados com promessas e retóricas de um país mais justo, sem pobreza e desigualdade, muita saúde, educação e segurança. Quase todos falam a mesma coisa em relação aos fins, sendo Jair Bolsonaro a única voz destoante com sua ideologia autoritária.

Se existe convergência em relação aos objetivos finais do Brasil, o que permite distinguir entre os candidatos e suas ousadas, e quase sempre inviáveis, promessas? São os meios que fazem a diferença. Segundo Isaiah Berlin, “quando existe acordo sobre os fins, os únicos problemas que restam são os referidos aos meios, e estes problemas são técnicos e não políticos” (da versão em espanhol)[1]. Sendo assim, a discussão deveria concentrar-se em torno dos meios mais adequados e eficazes para alcançar os objetivos que, supostamente, são semelhantes. No debate político, entretanto, as divergências em torno dos meios contaminam qualquer análise técnica porque, em última instância, existe uma enorme distância entre o efetivo compromisso com os fins e a sua manipulação com o propósito de conquista do poder.

Desta forma, a escolha do futuro presidente da República (e dos outros cargos) deve ser feita com base na análise dos meios prometidos e considerados nas suas propostas, na definição do que deve (e que pode ser) feito para, de forma eficaz e viável, transformar a realidade com a redução das desigualdades sociais e o equilíbrio das oportunidades sociais. Todos querem e prometem enfrentar a pobreza, distribuir renda, aumentar o emprego, melhorar a saúde e a educação e enfrentar a violência. Mas quais são os instrumentos e mecanismos adequados e efetivos para alcançar estes objetivos? Todos passam pelo Estado e pelas ações e políticas públicas, tudo depende, antes de tudo, de meios (legais, regulatórios e financeiros) das instituições públicas que podem promover as mudanças que levam ao desenvolvimento. E este Estado, convenhamos, está falido, fragilizado e fragmentado. Por isso, qualquer candidato a presidente que não apresente propostas consistentes e relevantes que reestruturem o Estado brasileiro, recuperando a capacidade de investimentos e de gastos públicos, estará enganando os brasileiros.

[1] Dos conceptos de libertad y otros escritos – Alianza Editorial – Madrid – 2008

*Sérgio C. Buarque é economista


Luiz Carlos Azedo: A razão das incertezas

A primeira grande definição do processo eleitoral está fora da esfera de decisão dos partidos, do Congresso e dos governos: é o julgamento de Lula

Há um grande divórcio entre o que está sendo chamado de centro democrático e a grande massa do eleitorado que busca uma solução segura para os problemas do país, mas que ainda não consegue identificar uma alternativa para isso. Uma vez que as projeções eleitorais para este ano, com base em pesquisas de opinião, apontam uma possível polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), é natural que o cenário eleitoral seja caracterizado como um grande fator de incerteza na vida nacional.

Em circunstâncias normais, esse campo estaria sendo ocupado eleitoralmente pelos dois principais sistemas de poder instalados no país. O principal é o que se articula em torno do governo Temer, encabeçado pelo PMDB e com amplo apoio entre as forças que a aprovaram o impeachment de Dilma Rousseff. O outro é o governo Alckmin, vértice do sistema de alianças protagonizado pelo PSDB a partir de São Paulo. Uma convergência entre os dois polos, nas condições estabelecidas pela reforma política, em tese, seria eleitoralmente imbatível. Entretanto, nem juntos, nem separados, Temer e Alckmin constituem ainda uma alternativa de poder.

Pelo contrário, a expectativa de poder criada em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que pese o enfraquecimento eleitoral e orgânico do PT, vem se impondo gradativamente ao país, com uma retórica populista e de ajuste de contas. O líder petista renasce das cinzas do colapso do governo de Dilma Rousseff, como se nada tivesse a ver com o fracasso do “poste de saias” que ungiu e levou ao poder. Lula ameaça repetir a trajetória de Getúlio Vargas nas eleições de 1950, quando o ex-ditador voltou ao poder nos braços do povo.

Em contrapartida, como resposta à recidiva lulista, Jair Bolsonaro estabelece um outro polo de poder, com um discurso igualmente populista, mas à direita, nucleado por setores reacionários que veem no antigo regime militar um espelho para solução dos problemas do país. Completa com suas ideias autoritárias e conservadoras um cenário de radicalização política que interessa a ambos, pois estreita as possibilidades de surgimento de uma alternativa robusta ao centro do espectro político. Uma candidatura unificadora deste campo que os neutralize está se tornando cada vez mais difícil, por razões que examinaremos a seguir.

Lava-Jato

A primeira razão do não surgimento de uma candidatura unificada a partir do centro do poder é a crise ética. A Operação Lava-Jato atingiu em cheio o núcleo do governo Temer e vem impedindo que o sucesso de sua política econômica tenha reflexos significativos na popularidade do governo. A segunda é o fato de que essa percepção também existe em relação à cúpula do PSDB, ainda que seu líder principal, Fernando Henrique Cardoso, mantenha inabalado prestígio entre as elites do país e parcela da classe média, e o governador Geraldo Alckmin não tenha sido alvejado de forma direta pelas denúncias do Ministério Público Federal (MPF). Mas o fato é que o candidato tucano a presidente da República ainda não foi capaz preencher esse vazio como alternativa de poder e ninguém vai pular numa piscina sem saber se tem água dentro.

É natural, portanto, que outras candidaturas se coloquem em cena para ocupar esse espaço. A mais presente ainda é a de Marina Silva (Rede), mas outros nomes buscam também afirmação, de Ciro Gomes (PDT) a Álvaro Dias (Podemos), passando ainda pela pré-candidatura de Cristovam Buarque (PPS), que permanece à flor da terra, enquanto o presidente do partido, Roberto Freire, sonha com um coelho na cartola: Luciano Huck. Tudo isso faz parte de um cenário único de incertezas, que tem o colorido das flores do recesso.

A primeira grande definição do processo eleitoral que se avizinha está fora da esfera de decisão dos partidos, do Congresso e dos governos: é o julgamento de Lula em segunda instância pelo Tribunal Federal de Recursos da 4ª região, no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre. O petista pode ser condenado, se tornar inelegível e até mesmo ser preso. A disputa passaria a ser polarizada entre Bolsonaro e Marina, num cenário de fácil volatilização por causa da disparidade de armas em relação aos grandes partidos e paridade quanto a candidatos mais ou menos do mesmo naipe de recursos de campanha (fundo eleitoral e tempo de televisão e rádio). Ou seja, o julgamento pode mudar tudo no jogo eleitoral.


Monica de Bolle: A solidão da América Latina

No Brasil, prevalece o embate Lula-Bolsonaro, com um centro pulverizado

Fim de ano é sempre época de escrever colunas e artigos sobre o que esperar para o próximo na política, na economia. É sempre tempo de dar algumas pinceladas nos desafios, aflições, dilemas e agruras. O ano de 2018 será marcado por algo quase sem precedentes na América Latina: cerca de 420 milhões de pessoas serão chamadas às urnas para escolher quem determinará o destino de seus países, dentre os quais estarão três das maiores economias da região – Brasil, México e Colômbia. Ao contemplar o destino incerto e nebuloso desses três países, é impossível escapar da sensação de que 2018 será o ano da política nos tempos da cólera nessa região que, apesar de avanços, solitária permanece. “Pátria imensa de homens alucinados”, assim definiu Gabriel García Márquez a América Latina em seu discurso, cujo título encabeça esse artigo, na entrega do Nobel de Literatura em 1982.

A violência física e econômica da desigualdade, a brutalidade da corrupção, temas de 1982 para García Márquez, temas de 2018 para os eleitores latino-americanos. Os eleitores latino-americanos, habitantes de região tão frequentemente esquecida, carente da atenção mundial, da consideração dos EUA, já que no centro das grandes batalhas geopolíticas não está, por maior que seja, hoje, a presença da China.

Solitários, desiludidos com seus governantes, enraivecidos uns com outros ante a polarização crescente que caracteriza tudo e todos, eleitores que representam quase 80% do PIB da região escolherão os próximos homens e mulheres que hão de compor seus governos no ano que vem. Tais decisões não estarão circunscritas às fronteiras de cada nação. Os novos governos e suas diretrizes econômicas fadados estão a influenciar o restante da América Latina e seus eternos conflitos.

Quais são esses conflitos? O controle da economia pelo mercado versus o controle da economia pelo governo; a eficiência versus a justiça social; a tomada centralizada de decisões versus a transparência democrática. Esses conflitos, hoje, estão exacerbados na região pelos escândalos sucessivos de corrupção, e pela capacidade desses escândalos de atravessar fronteiras.

Há alegações de envolvimento ilícito de construtoras brasileiras na alçada da Operação Lava Jato em diversos países latino-americanos, incluindo México e Colômbia, além de Peru, Equador, Argentina, Chile, Uruguai, República Dominicana, Costa Rica, Guatemala, Panamá e Honduras. Como revela ampla literatura sobre os efeitos da corrupção, ela geralmente vem acompanhada de maior desigualdade, prejudica a capacidade do Estado de prover bens e serviços à população, distorce incentivos na alocação de talentos e recursos, e reduz a legitimidade do governo. Isso dificulta o complexo debate sobre o equilíbrio entre o papel do governo e o papel do mercado na economia, levando a reflexões simplórias do tipo “melhor privatizar tudo para eliminar a roubalheira”.

Privatizações podem aumentar a eficiência e reduzir a corrupção, mas podem também aumentar o poder econômico de alguns em detrimento de outros. Como sempre, as melhores soluções e recomendações de política econômica estão no meio, no centro.

Mas, como encontrar o centro, hoje tão solitário em meio à polarização? É essa a pergunta que as eleições latino-americanas de 2018 terão de responder. Na Colômbia, onde se dará o primeiro dos pleitos presidenciais em maio, há a Coalizão Colombiana, cujo objetivo é beneficiar-se da rejeição aos partidos e políticos tradicionais. Há os partidos tradicionais que apoiam o atual presidente Juan Manuel Santos, e há o partido do ex-presidente Álvaro Uribe, o Centro Democrático, cujo viés populista de direita “dura” é claro. Uribe se opôs ferrenhamente ao acordo de paz do governo Santos com as Farc, e o candidato endossado por sua coalizão provavelmente será o principal opositor de Germán Vargas Lleras, candidato respaldado por Santos.

No México, destaca-se a candidatura de Andrés Manuel Lopez Obrador por seu próprio partido, o Morena, de viés populista de esquerda – candidatos mais ao centro, por ora, não aparecem bem nas pesquisas para as eleições de julho. No Brasil, prevalece o embate Lula-Bolsonaro – ao menos até que o destino do ex-presidente seja definido – com um centro pulverizado e repleto de políticos que pouca inspiração trazem ao eleitorado.

Três eleições, várias possibilidades de que delas saia um líder mais extremado, inclinado a desfazer parte das reformas implantadas pelos governos anteriores ou, ainda, sem definição clara do que faria na economia. Colômbia e México têm algum estofo para enfrentar essas incertezas: são países que mantiveram taxas de crescimento razoáveis frente aos desafios internos e externos recentes, que têm economias bem administradas, que não passaram por convulsões institucionais severas.

Já o Brasil não tem a mesma sorte. O País tenta a duras penas engatar uma recuperação cíclica após dois anos de fortíssima recessão em meio a um ruidoso quadro político e convulsões institucionais diversas. A economia ainda necessita de profundo ajuste fiscal ante os déficits projetados para os próximos anos, o governo incapaz será de adotar reformas que sustentem o teto dos gastos públicos erguido há um ano – alguém acredita que a diluída reforma da Previdência será mesmo aprovada em 2018? E a campanha política promete ser das mais sangrentas e insubstanciais que já tivemos.

Tudo isso com o invólucro de uma administração instável nos EUA, de problemas geopolíticos em profusão mundo afora, da sanha populista que se alastra pelo Leste Europeu, pela Turquia de Erdogan, pelas Filipinas de Duterte, e que ameaça, ainda, a estabilidade da Europa.

Disse García Márquez em seu discurso de 1982 que a América Latina “não quer nem tem por que ser um bispo de xadrez sem arbítrio”. Referia-se à falta de vontade própria, à facilidade de ser a região manipulada pelas “potências”. Trazendo seu discurso para a atualidade, a América Latina não tem por que ser manipulada por seus piores instintos, refletidos na pobreza do debate político e suas perversas consequências para a economia. Saberemos em 2018 o destino dos homens alucinados distribuídos nessa imensa pátria.

* Monica de Bolle é pesquisadora do Peterson Institute for International Economics

 


Merval Pereira: O fator Bolsonaro

Na análise da maioria dos políticos e dos comentaristas, em que me incluo, a provável saída da disputa presidencial do ex-presidente Lula em decorrência da Lei da Ficha Limpa, devido à condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre (TRF-4), vai afetar diretamente a candidatura do deputado Jair Bolsonaro, que se mantém há meses em segundo lugar nas pesquisas eleitorais.

Isso porque o apelo de Bolsonaro junto ao eleitorado seria muito mais o de anti-Lula, a radicalização de um incentivando a do outro, polarizando a disputa entre os extremos, Lula pela esquerda, Bolsonaro pela direita. Além de reviver uma divisão para muitos superada na teoria política, a de direita e esquerda, as pesquisas demonstram ser anacrônica não apenas na teoria, mas na realidade, quando se analisa o eleitorado de um e outro.

A começar pelo fato de que uma parte dos eleitores de Lula se diz hoje disposta a ir para Bolsonaro, e viceversa. Nas simulações em que Lula não aparece, 6% dos seus apoiadores afirmam que escolheriam o deputado federal Jair Bolsonaro. No sentido oposto, a mudança é ainda maior: até 13% dos eleitores que votariam no parlamentar responderam que poderiam apoiar o petista. É o voto Bolsolula, ou Lulanaro.

Mas o perfil dos eleitores é diverso. A distribuição regional do eleitorado de Bolsonaro mostra que ele não é um fenômeno restrito ao Sudeste. Com exceção do Nordeste, onde Lula domina e ele tem apenas 10%, o deputado tem um patamar de 15% a 17% nas outras quatro regiões.

Popular nas redes sociais, Bolsonaro pontua melhor entre os jovens. No cenário em que tem 15% no conjunto de eleitores, atinge 20% no grupo dos que têm entre 16 e 24 anos, sua melhor faixa etária. Segundo o Datafolha, sua popularidade decresce gradualmente conforme aumenta a idade do eleitor, até chegar a 7% de intenção de voto quando considerado apenas o grupo com 60 anos ou mais.

Bolsonaro tem 60% de eleitores até 34 anos, 30% têm menos de 24 anos. O percentual é significativo quando comparado com a atração ao público jovem de seus principais concorrentes: 45% dos que disseram votar em Lula têm menos de 34 anos. Entre os que preferiram Marina, 49% estão nessa faixa etária.

A atuação nas redes sociais é a explicação mais provável. Bolsonaro tem no Facebook 4,7 milhões de seguidores. Entre seus adversários na corrida presidencial, Lula tem 3 milhões, João Doria, 2,9 milhões. Marina tem 2,3 milhões. Levantamento do Ibope mostra que 68% dos eleitores brasileiros têm acesso frequente à internet, mas entre os eleitores que preferem Bolsonaro o índice é muito maior, chega a 90%.

Assim como aconteceu com Trump nos Estrados Unidos, o eleitor de Bolsonaro relativiza suas declarações polêmicas, ou mesmo em parte gosta delas, como uma maneira de confrontar os políticos tradicionais, embora Bolsonaro esteja em seu sétimo mandato parlamentar.

Como aconteceu com Trump, que não sofreu grandes abalos durante a campanha mesmo quando um vídeo o mostrou na própria voz gabando-se de avanços sexuais explícitos, também Bolsonaro não se abala, mesmo condenado, quando surge declarando que não “estupraria” a deputada petista Maria do Rosário porque ela “não merecia". Prevalece a argumentação de que foi provocado. Seus eleitores alegam que as declarações estavam fora de contexto e que há perseguição por parte de movimentos de esquerda e de grupos feministas e LGBT.

Segundo a análise presente entre seus assessores e apoiadores, Bolsonaro representaria um pensamento conservador típico do “cidadão de bem" brasileiro, que seria religioso, pai ou mãe de família que quer criar seus filhos em paz e em segurança, que é simples, mas honesto, que não concorda com os exageros do politicamente correto, com a liberdade exagerada nos costumes, que não suporta mais a violência desenfreada e a impunidade e que está pouco se lixando se o governo é civil, militar, de esquerda ou de direita, desde que seja honesto e que impeça a bagunça em que o país está.

Na minha opinião, estão completamente equivocados na escolha de quem os representa. De qualquer maneira, dada a resiliência de seu apoio até o momento, talvez seus adversários devessem prestar mais atenção à motivação de seus eleitores, que em boa parte podem estar nessa posição por falta de um candidato de centro-direita que os represente.

 


Luiz Carlos Azedo: Candidato sem partido

Em todos os cenários eleitorais, Bolsonaro oscila na faixa entre 17% e 18% dos votos, mas sobe para 21% nos cenários possíveis sem a presença de Lula

Jair Bolsonaro (PSC), segundo colocado nas pesquisas, virou uma espécie de ronin (um samurai errante, renegado pelo próprio clã) nas eleições presidenciais. Seu partido, sob comando do Pastor Everaldo, não deseja tê-lo como candidato. O nome preferido pela cúpula da legenda é o presidente do BNDES, Paulo Rabelo de Castro. Por essa razão, o ex-capitão do Exército estava de mudança para o PEN, cujo nome mudará para Patriotas, mas algo ocorreu no meio do caminho. Adilson Barroso, presidente do partido, e Bolsonaro, que pleiteia pelo menos “51% das ações” da legenda, não se entenderam sobre o fundo eleitoral. Traduzindo, isso representaria em torno de R$ 5,1 milhões.

Em todos os cenários eleitorais, segundo o último DataFolha (29 e 30/11), Bolsonaro oscila na faixa entre 17% e 18% dos votos, mas sobe para 21% nos cenários possíveis sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse contexto, seria o favorito na disputa, seguido de perto por Marina Silva, que herdaria a outra parte dos votos do petista e subiria da faixa entre 9% e 11% para 16% e 17%. A propósito, Bolsonaro está numa situação muito parecida com a da ex-senadora acriana nas eleições passadas, quando se filiou ao PSB para disputar a eleição porque não conseguiu registrar seu partido, a Rede. A rigor, o ex-capitão do Exército não teria problemas para conseguir uma legenda, mas as negociações com o PSL, que mudou o nome para Livres, também encalharam por causa do tal arranjo acionário: a divisão do fundo eleitoral de R$ 9 milhões.

O deputado federal Luciano Bivar (PE), presidente da legenda, ontem, descartou categoricamente a filiação de Bolsonaro: “Não procedem, de forma alguma, as notícias de que o deputado federal Jair Bolsonaro possa se filiar ao PSL. O projeto político de Jair Bolsonaro é absolutamente incompatível com os ideais do Livres e o profundo processo de renovação política com o qual o PSL está inteiramente comprometido”. Essa vem sendo a maior dificuldade de Bolsonaro, que se viabilizou eleitoralmente como candidato competitivo, mas a imagem de candidato “linha-dura” dificulta a vida junto aos setores liberais, ainda que tente substituir o discurso nacionalista de direita por uma retórica mais alinhada com o mercado. Bolsonaro consolidou a imagem de candidato reacionário.

Na cúpula das Forças Armadas, Bolsonaro não tem o menor trânsito. Não só por causa de suas ideias, mas também por causa da hierarquia militar. Mas tem prestígio na tropa e alguns aliados na oficialidade, colegas de formação militar. Se hoje podemos afirmar que não existe ameaça de golpe de Estado, após as eleições, com Bolsonaro eventualmente no poder, tudo pode acontecer, pois seus discursos são autoritários apontam para a imprevisibilidade. Com 4,9 milhões de seguidores no Facebook, tem hoje uma rede de apoio nacional, que lhe garante audiência certa nos eventos que organiza e uma base real para sua campanha, mas não pode ser candidato avulso. Precisa de um partido.

Fragmentação
O crescimento de Bolsonaro está diretamente relacionado aos avanços do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que ressuscitou o PT nas suas andanças para o país e já é favorito nas eleições do próximo ano. Como a reação do eleitorado conservador está sendo radicalizada no mesmo diapasão dos eleitores petistas, isso realimenta os dois candidatos, porque o eleitorado de centro ainda está muito fragmentado. Marina Silva, uma ex-petista, terceira colocada, não consegue conquistar os eleitores mais conservadores, embora tenha uma trajetória de conduta ética e fortes ligações com o mundo evangélico.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, não consegue decolar, mantendo-se na faixa dos 6% e 7% de preferência dos eleitores. Sem Lula, sobe para 9%, mas isso ainda é pouco para reagrupar os eleitores de centro. Alckmin faz um governo bom em São Paulo, onde goza realmente de grande prestígio, mas está sendo confinado eleitoralmente por causa da crise do PSDB em estados importantes. Quem cresce nesse espaço, sem Lula, é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que sai da faixa dos 6% e 7% para 12% e 13 %. Álvaro Dias, do Podemos, oscila entre 3% e 6% nos cenários com e sem Lula, respectivamente.


Hubert Alquéres: O que há em comum entre Lula e Bolsonaro

Na teoria, o ex-presidente Lula e o deputado Jair Messias Bolsonaro são antípodas. Um está no espectro ideológico da esquerda e outro no da direita. Na prática, a teoria é outra. Há muito mais em comum entre os dois candidatos à Presidência da República, que por ora são os mais bem situados nas pesquisas, do que pode imaginar a nossa vã filosofia. À sua maneira, ambos adotam um discurso sebastianista, vestindo eles mesmos a roupagem do Salvador da Pátria.

Abstraindo as condições históricas que não são possíveis de se repetir, pois o país e o mundo são outros, ambos pregam uma volta a um passado. O “eu era feliz e não sabia” está presente tanto na pregação de Lula, como na de Bolsonaro.

Um faz a elegia do seu governo, para vender a imagem de um período de prosperidade e de pleno emprego. O outro alimenta sentimentos nostálgicos em relação à era do “milagre econômico” do regime militar para provar que à época havia emprego, crescimento e segurança. Conscientemente, hiperbolizam esses dois períodos históricos e jogam para debaixo do tapete a herança maldita que deixaram para os governos posteriores.

A inviabilidade da utopia nostálgica que pregam salta aos olhos quando se analisa mais detidamente os dois momentos. O “milagre econômico” do regime militar sustentou-se em uma conjuntura internacional de petróleo a preços baixíssimos (à época o Brasil não era autossuficiente) e de elevado grau de liquidez internacional.

A crise do petróleo de 1973 levou ao fim do “milagre”, mas o excesso de oferta de petrodólares no mercado internacional financiou o crescimento verificado no governo do general Ernesto Geisel por meio da expansão do intervencionismo estatal na economia.

Em 1979 veio a nova crise do petróleo e já não havia mais financiamento externo a juros baixos. O Brasil entrou em colapso, com uma dívida externa inadministrável e uma inflação de 242,68% no último ano do governo do general João Batista Figueiredo. O “milagre econômico” desaguou no pesadelo da década perdida dos anos 80. É para esse mundo que Bolsonaro quer nos trazer de volta.

A instrumentalização e deturpação do passado para fins eleitorais também é uma arma de Lula, com a sua cantilena do “momento mágico” da economia em seus governos. Como o “milagre econômico” dos anos 70, a expansão do período Lula-Dilma foi financiada pelo “boom” das commodities e turbinada por uma nova onda de intervencionismo estatal.

Quando a bolha da commodities estourou, o desastre da “nova matriz econômica”, iniciada no segundo mandato de Lula, gerou a maior crise econômica da história do país. Ao final dos anos Lula-Dilma, a dívida interna bruta saltou para quase 70% do PIB, a economia recuou 8,2%, a inflação chegou a casa de dois dígitos, voltando a atormentar as famílias. Os juros, por sua vez, dispararam. O modelo de Lula revelou-se uma máquina de destruir empregos, gerando quatorze milhões de desempregados.

Utopias regressivas costumam terminar em tragédias, quando não se reproduzem como farsas.

As semelhanças entre Lula e Bolsonaro vão bem mais além do que suas concepções saudosistas. Os dois sempre apostaram no intervencionismo estatal como motor do desenvolvimento, no expansionismo fiscal, em política econômica heterodoxas. Enfim, em modelos populistas. Também estiveram perfilados na defesa de privilégios de corporações de servidores públicos.

Para agradar o mercado, Messias Bolsonaro vem se apresentando como um convertido ao liberalismo econômico. Como ninguém muda do dia para a noite, estão aí as votações no Congresso Nacional para provar o quanto ele e o PT andaram de mãos dadas em questões fundamentais para o Brasil.

Votou contra o Plano Real - para delírio dos petistas desfilou na Câmara com uma moeda falsa do Real -, também contra o fim do monopólio estatal do petróleo, contra as privatizações das teles, contra medidas de ajustes de contas públicas que cortavam privilégios de servidores, contra a reforma da previdência proposta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Adivinhem como o PT votou nessas questões.

Tampouco foi diferente nos anos do lulopetismo. O blog “O E$pírito das Leis” de Bruno Carazza publicou “Desmistificando Bolsonaro” com gráficos e levantamentos que mostram o comportamento de Jair Bolsonaro nos seus 7 mandatos como deputado federal. A materia revela corporativismo, intervencionismo econômico e conservadorismo mostrando que Bolsonaro votou com o PT ao longo de todo o governo Lula.

“Interessante observar, também, que a parceria Bolsonaro-PT, enquanto existiu, versou justamente sobre temas econômicos – e numa direção que passa longe do discurso liberal adotado pelo presidenciável patriota recentemente. Compilando o texto das ementas dos projetos em que Bolsonaro e PT votaram igual entre 1999 e 2010, nota-se um predomínio de temas associados à Nova Matriz Econômica – visão intervencionista da economia levada a cabo pelo PT. Bolsonaro concordou com o PT nas votações de projetos que tratavam de concessões de benefícios para o setor privado, como incentivos tributários, parcelamentos de débitos, créditos orçamentários, fundos, financiamentos, subvenções, etc. Uma pauta bem distante de políticas econômicas horizontais e não intervencionistas, portanto.”, escreve Carazza.

Diz o site que “a lua de mel entre Bolsonaro e o PT degringola-se a partir do primeiro mandato de Dilma”. É possível que as relações sejam restabelecidas tacitamente, por meio de um pacto de não agressão entre Jair Bolsonaro e Lula durante o primeiro turno, com um atuando como cabo eleitoral do outro para que se encontrem no segundo turno.

Afinal, Bolsonaro é a direita que Lula gosta e Lula a esquerda que encanta Bolsonaro. Como diziam nossos avós, um é a cara do outro. Esculpida em escara.

* Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo


O Estado de S. Paulo: General acusa Temer de fazer balcão de negócios, elogia Bolsonaro e volta a defender intervenção

'Presidente vai aos trancos e barrancos buscando se equilibrar e mediante o balcão de negócios chegar ao final de seu mandato', diz Mourão

Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O general da ativa Antônio Hamilton Martins Mourão afirmou que o presidente da República, Michel Temer, faz do governo um balcão de negócios para manter-se no poder e elogiou a pré-candidatura presidencial do deputado e capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro (PSC-RJ). A Constituição estabelece que as Forças Armadas são, em última instância, subordinadas ao presidente. Ele também voltou a fazer uma defesa da intervenção militar como solução para a crise política no Brasil durante palestra proferida nesta quinta-feira, em Brasília.

“Não há dúvida que atualmente nós estamos vivendo a famosa Sarneyzação (em referência ao ex-presidente José Sarney). O nosso atual presidente vai aos trancos e barrancos buscando se equilibrar e mediante o balcão de negócios chegar ao final de seu mandato”, disse o general.

Em setembro, Mourão falou três vezes na intervenção militar enquanto proferia uma palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, também em Brasília: “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”. Apesar da repercussão negativa, o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS), e o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, acertaram que não haveria punição ao oficial. No governo Dilma Rousseff, ele fez críticas à então presidente e perdeu o comando direto sobre tropas do Sul, passando a ocupar o cargo atual de secretário de Economia e Finanças do Comando do Exército, de ordem administrativa.

Na quinta-feira, Mourão discursou a convite do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma). Gravações da íntegra da palestra foram divulgadas na internet por grupos de direita defensores de uma intervenção das Forças Armadas.

“Se o caos for ser instalado no País, e o que a gente chama de caos, não houver mais um ordenamento correto, as forças institucionais não se entenderem, não chegarem a uma conclusão daquilo que tem que ser feito, terá que haver um elemento moderador e pacificador nesse momento, atuando exatamente dentro dos três pilares que foram colocados pelo nosso comandante. Mantendo a estabilidade do País e não mergulhando o País na anarquia, agindo dentro da legalidade, ou seja, dentro dos preceitos constitucionais e dos nossos objetivos nacionais permanentes e usando a legitimidade que nos é dada pela população brasileira”, afirmou.

O militar foi questionado sobre o que e o alto generalato pensavam sobre a pré-candidatura do deputado Bolsonaro. Mourão respondeu em sinal de apoio ao parlamentar, que saiu em sua defesa quando ele proferiu a palestra em setembro e escapou de punição.

“O deputado Bolsonaro já é um homem testado, é um político com 30 anos de estrada, conhece a política. E é um homem que não tem telhado de vidro, não esteve metido aí nessas falcatruas e confusões. Agora, é uma realidade, já conversamos a esse respeito, ele tem uma posição muito boa nessas primeiras pesquisas que estão sendo feitas, ele terá que se cercar de uma equipe competente, ele terá que atacar esses problemas todos, não pode fazer as coisas de orelhada, e obviamente, nós seus companheiros dentro das Forças olharmos com muito bons olhos a candidatura”, declarou.

Ao falar sobre cenários de ameaças transnacionais à estabilidade do País, Mourão disse que o Brasil tem um “povinho meio complicado” e fez uma crítica geral à classe política. Ele também condenou tentativas de mudança de regime em momentos de “instabilidade”. O presidente Temer defende a troca do presidencialismo para o parlamentarismo ou semipresidencialismo.

“Os políticos são escravos das pesquisas de opinião, sem compromisso com ideologia, ressalvado aquele núcleo duro ainda está no século 19, no manifesto comunista. Os conceitos de esquerda e direita estão abraçados na corrupção. Temos ladrões de esquerda e ladrões de direita”, disse. “Instabilidade dos regimes Toda hora vamos trocar o regime para ver se o Brasil melhora.”

Procurada, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República não se manifestou a respeito das declarações do general e disse que o governo ainda não havia tratado do caso.

 


Míriam Leitão: Volatilidade política

A dez meses das eleições, há tempo para muita mudança no quadro eleitoral porque os processos eleitorais brasileiros são voláteis. Ciro Gomes, Garotinho, Roseana, nas disputas presidenciais, Celso Russomanno e Francisco Rossi, em São Paulo, conheceram esses movimentos que os levaram a ter altos índices de preferência em ondas que quebraram antes. Lula e Bolsonaro são eventos de natureza diferente.

Lula conhece a volatilidade da intenção de votos, nas duas eleições que perdeu para Fernando Henrique. Agora, o que o mantém na liderança é o recall e a campanha que tem feito com sua experiência e a estratégia de fugir da Justiça. Quando ele deixou o governo, o país estava crescendo 7,5% e a inflação era baixa. A recessão foi provocada pelo governo Dilma, mas Lula pode dizer que nos seus oito anos as famílias estavam usufruindo do aumento da renda e do consumo. Principalmente no Nordeste, endereço de 27% do eleitorado brasileiro. Ao mesmo tempo, Lula segue a estratégia de se fortalecer nas intenções de voto para acuar a Justiça. O Judiciário terá coragem de vetar o candidato que estiver na preferência do eleitorado?

Jair Bolsonaro é outro em campanha intensa e isso explica em parte sua pontuação nas pesquisas. Ele tenta usar o sentimento anticorrupção e tem sido beneficiado pelo pensamento de direita extremada que sempre existiu no Brasil, mas que agora se sente liberado para se assumir. Sua tentativa de se apresentar como um candidato liberal na economia não tem qualquer correlação com tudo o que ele disse e votou ao longo da sua vida pública. Ele sempre seguiu às cegas o que foi feito pelo governo militar na área econômica. Às cegas porque Bolsonaro é incapaz de aprofundar qualquer pensamento econômico. Agora, socorrido por economistas liberais, tenta justificar frases como a ameaça de fuzilar Fernando Henrique pelo programa de privatização. Ao contrário do que supõe seu novo guru, Paulo Guedes, a ordem não vai se encontrar com o progresso na campanha de Bolsonaro. E isso porque a ordem autoritária nunca foi capaz de encontrar o progresso no Brasil. Os principais avanços ocorreram na democracia.

Lula pode estar com o nome na urna. Ou não. Se não estiver, será um grande influenciador. A capacidade de transferência de votos é um dos maiores mistérios da política. Lula conseguiu transferir para Dilma, mas jamais elegeu alguém para o governo de São Paulo. Quem atrair os eleitores de São Paulo tem uma grande alavanca, porque o estado representa 22% do eleitorado brasileiro. Lula terá chances — na hipótese de se livrar da Justiça — se conseguir atrair de novo a classe média e por isso está tentando com uma nova Carta ao Povo Brasileiro. Provavelmente uma parte da classe média ele perdeu definitivamente.

O PSDB, que pode ter boa votação em São Paulo na hipótese da candidatura Alckmin, tem uma infinidade de contradições e fraturas a superar. O partido está em frangalhos, o discurso anticorrupção é difícil após o caso Aécio Neves e a maneira como o partido se portou diante dele. Além disso, sua identidade, como partido da modernização econômica, se perdeu em parte nas contradições da atividade parlamentar.

Marina tem as dificuldades de tempo de TV e de clareza do discurso. Em várias votações a Rede atuou como linha auxiliar do PT. O discurso que Marina sustentou em outras eleições foi o de consolidar ganhos de governos do PSDB e do PT para garantir novos avanços. Isso bate de frente com o histórico de escolhas dos seus poucos parlamentares.

O governo acha que pode ter um candidato porque aposta no cenário de melhora da economia no ano que vem. A economia deve melhorar sim, mas não a ponto de produzir um conforto tal que influencie a massa dos votantes a favor de um governo altamente impopular. O ministro Henrique Meirelles se posiciona para ser esse candidato. O mais importante é que ele tome o cuidado de não usar a força da cadeira na qual está sentado para favorecer esse projeto, porque isso seria irregular e comprometeria o pouco de ajuste fiscal que está propondo.

A eleição ainda está longe, todos os candidatos têm problemas, há parcelas grandes do eleitorado sem preferência, as pesquisas captam apenas as intenções. E elas são voláteis.

 


José Roberto de Toledo: Lula segura Bolsonaro

Sem Lula, eleitores que declaram voto no ex-presidente elevariam o militar reformado a patamar acima de 20%

Não é só ao PT que convém manter viva a candidatura presidencial de Lula, pelo menos por enquanto. Aos partidos que buscam ocupar o centro do espectro político também - especialmente ao PSDB. A mais recente pesquisa Datafolha mostra que, hoje, o petista é um obstáculo ao crescimento mais acelerado de Bolsonaro. Sem Lula, eleitores que declaram voto no ex-presidente elevariam o militar reformado a patamar acima de 20%, um passaporte para o 2º turno.

Com Lula fora do páreo, Bolsonaro aumenta em 26% sua intenção de votos no Datafolha. O militar reformado cresce 4,5 pontos na média dos cenários testados: vai de 16,8% a 21,3% quando o ex-presidente não aparece na lista. Mais: Bolsonaro se distancia de Alckmin e abre 12 pontos do tucano. Esse nem é o único problema do PSDB causado por uma eventual saída prematura de Lula.

Marina Silva e Ciro Gomes herdam ainda mais eleitores lulistas do que Bolsonaro: 6 e 5 pontos, respectivamente. Como resultado, ambos se destacam de Alckmin quando o candidato petista é outro. Com Fernando Haddad, Marina vai de 10% para 16%, e Ciro quase dobra, de 7% para 12%. Ambos deixam o tucano sozinho no quarto lugar, com 9%, e a sete pontos de uma vaga no 2º turno.

É certo que a esta altura da corrida presidencial as pesquisas de intenção de voto não passam de simulações que, olhando-se eleições passadas, guardam pouca relação com o resultado das urnas. Mesmo assim, são ferramentas fundamentais para entender as afinidades, simpatias e antipatias do eleitorado. O que o Datafolha confirma é que Alckmin é o mais atrasado na disputa.

Não estivesse o líder sob grande risco de ser sacado da corrida pela Justiça, os adversários imediatos do tucano estariam ainda mais adiantados do que ele na conquista de votos. O problema de Alckmin não é se tornar conhecido, mas ficar palatável aos eleitores mais pobres, principalmente do Nordeste. É um eleitorado que sabe quem ele é, só não votaria nele.

Hoje, o tucano é apenas a quarta ou quinta opção da massa de eleitores que esteve do lado vencedor da disputa presidencial em 2006, 2010 e 2014. Se, em vez do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, o ex-governador baiano Jaques Wagner vier a substituir Lula na chapa petista, ainda mais tortuoso será o caminho nordestino de Alckmin para chegar a Brasília. Por isso o governador paulista precisa do tempo que a candidatura-tampão de Lula lhe dá, para tentar melhorar sua imagem fora de São Paulo.

O raciocínio também vale para o PT. Se Lula deixasse hoje a disputa, as chances de ele conseguir transferir votos para seu substituto seriam muito menores do que se isso viesse a ocorrer na reta final da campanha, quando a candidatura petista disporá de tempo garantido de TV e rádio para martelar a troca e pregar na cabeça do eleitorado lulista o nome de Wagner ou de Haddad.

Quanto a Bolsonaro, a pesquisa confirma que ele é um fenômeno sem precedente na história das disputas presidenciais pós-ditadura. Nunca antes um candidato que vai ter muito pouco tempo de TV no horário eleitoral na reta final da campanha partiu de um patamar tão elevado quanto Bolsonaro. Collor teve 10 minutos em 1989 - uma eternidade se comparado ao tempo do Patriotas.

A intenção de voto em Bolsonaro só faz se consolidar. É o único que segue crescendo na pesquisa espontânea. Saiu de 3% um ano atrás para 7% em abril, foi a 9% em setembro e chegou agora a 11%. Fora ele e Lula, ninguém supera 1% nesse tipo de pergunta, em que o eleitor responde sem que lhe informem quem são os concorrentes. Bolsonaro tem um eleitorado convicto, que comunga um ideário com ele e é menos propenso a mudar de candidato.


Gaudêncio Torquato: Um deserto de ideias

O que Bolsonaro pensa do Brasil? Que ideia tem trazido ao debate nacional?

E Lula, conhecido pela expressão farta, sempre pronto para atacar adversários e defender o “petismo salvador da Pátria”, que propostas tem apresentado para melhorar a economia ou os serviços básicos de responsabilidade do Estado?

O que pensam Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin ou, ainda, o animador de auditório Luciano Huck?

Quem souber de uma boa sacada, um projeto interessante, uma proposta crível e factível que tenha sido expressa por um desses pré-candidatos à presidência da República, está convidado a trazê-la ao conhecimento público.

O fato é que, até esse momento, sobram blábláblás e falta algo inovador, capaz de chamar a atenção e gerar interesse pela originalidade.

Se as campanhas não conseguem empolgar plateias, seja por ausência de novidade, seja pela sensação de que as propostas mais parecem uma teia de retalhos e fragmentos, dispostos um ao lado do outro sobre o pano de fundo de nossa realidade, imaginem as besteiras que surgem nesse momento.

De Lula em suas caravanas, brotam roças de demagogia, sob um tiroteio ao atual governo, para ele o responsável pelo descalabro que afundou o país nos últimos anos. Como é sabido, a defesa do Lula é o ataque.

O petismo-lulismo, inspiração do dilmismo, afundou a Nação.

Os bolsões que receberam da era petista melhorias para mudar de patamar na pirâmide social acabaram voltando ao estágio inicial.

De Bolsonaro, não se espera grandes coisas. Ele mesmo reconhece que ignora fundamentos de economia. Claro, é capaz de identificar o mapa do Brasil, mas não se cobre dele conhecimento profundo sobre o Nordeste, o Norte, o Centro-Oeste e o Sul.

Nesse instante em que eventuais candidatos à presidência da República começam a povoar espaços midiáticos com suas ideias (???), seria oportuno virem à público para oferecer pautas densas que chamem a atenção pela relevância e oportunidade. Nada disso se vê.

Áreas vitais como saúde, segurança, educação ou polêmicas sobre as reformas (política, previdenciária, tributária) ganham adendos superficiais e bordões escondidos na frou¬xa promessa “vamos continuar isso e aquilo, fazer mais e melhor”. Nunca foi tão importante para o Brasil debater seu futuro.

O atual governo se empenha em desamarrar as reformas necessárias à alavancagem do país. Por que os pré-candidatos não se voltam ao debate substantivo em torno dessas reformas, trazendo subsídios que possam colaborar com o debate, em vez de apenas se posicionar contra ou a favor?

Partidos de oposição, sem enxergar o mérito, tratam a reforma trabalhista, por exemplo, como um atraso, quando ela coloca o trabalho na linha dos avanços.

Velho roteiro
O fato é que, nos últimos tempos, o clima eleitoral puxou novos adereços, decorrentes da tecnologia da informação e sob a fosforescência do Estado-espetáculo, onde os atores procuram esmerar-se na estética e esquecendo a semântica.

Seu esforço consiste em aparecer bem aos olhos dos eleitores de 2018, recitando slogans, decorado frases de efeito, declamando uma linguagem tatibitate, sem consistência. A campanha eleitoral de 2018 já começou, e o Tribunal Superior Eleitoral ainda não dá conta do fato.

Pré-candidatos circulam para cima e para baixo, fazem caravanas, são recebidos por multidões em aeroportos, usando artifícios de um marketing que parece saturado: militantes com vestes coloridas, passeatas, carros de som entoando refrãos, flagrantes de ruas tomadas pelas mobilizações.

Redes sociais
As redes sociais formam o novo instrumento que as campanhas eleitorais estão adicionando ao arsenal de marketing.

O acesso do eleitor aos candidatos e a seus exércitos se dá por meio do uso de canais eletrônicos da internet.

Da naturalidade das ruas do passado para o artificialismo dos laboratórios do marketing – essa é a mudança nas campanhas. Abertas, emotivas, participativas tornaram-se fechadas, frias, racionais. Em 1950, Getúlio Vargas fez uma das mais brilhantes campanhas da história eleitoral.

Em 10 de agosto, em São Paulo, pronunciava um discurso versando sobre o poderio da terra bandei¬rante, o dever da União para com o Estado, o saneamento financeiro do País, as diretrizes para uma política industrial e as bases do trabalhismo, concluindo com a exaltação do vínculo entre democracia política e democracia econômica.

Regiões e cidades recebiam expressão própria, com diagnósticos e solução para os problemas. O eixo do discurso era a descentralização.

Na peroração de São Borja, em 30 de setembro, Vargas confessava a receita do sucesso: “Da vastidão amazônica a estas fronteiras meridionais, das populações de beira-mar às do Brasil central, o povo me acolheu carinhosamente, e mais me falou dele do que eu de mim, transmitindo-me as suas queixas, as amarguras e dificuldades atuais.” Ouvir o povo, eis o mote.

Quem ouve o povo hoje?
Passemos aos tempos de Juscelino Kubitschek. Na campanha de 1955, fez seis viagens pelo País, percorrendo 168 municípios num DC-3, equipado com escriva¬ninha e cama, e adotando a mesma estratégia de Vargas, ou seja, combinava temas gerais com específicos.

Os roteiros cobriam cidades e capitais próximas, permitindo a ele conhecer e estudar as questões regionais. Grupos de mobilização puxavam o povo para as ruas. As campanhas arrebanhavam multidões. Os comícios terminavam sempre com perguntas formuladas por ouvintes, em “diálogo com o povo”.

As temáticas, entremeando situações nacionais e locais, tinham como foco o desenvolvimentismo, a partir das áreas de energia e transportes, com textos elaborados por figuras tarimbadas, como o poeta Augusto Frederico Schmidt, o romancista Autran Dourado e os jornalistas Álvaro Lins, Horácio de Carvalho e Danton Jobim, entre outros.

Hoje, essa tarefa é de marqueteiros, muitos sem preparo.

Hoje, a descrença e a desmotivação do eleitorado, a pasteurização ideológica, o declínio dos partidos e o distanciamento entre a esfera política e a esfera social mancham a moldura eleitoral. Se o país recuou no campo das grandes ideias, avançou nas técnicas de engodo.

* Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

 


Jose Roberto de Toledo: Voto de juiz vale mais

A campanha presidencial será muitas coisas, menos serena e previsível. Nem é por causa dos #ParadisePapers da vida que, vira e mexe, tiram o sono de candidatos. O principal criadouro de incertezas é a judicialização da eleição. Líderes das pesquisas, Lula e Bolsonaro logo serão julgados por “campanha antecipada”. São os primeiros de muitos julgamentos com impacto determinante nas urnas. A despeito da eleição, a política continuará sendo, em 2018 e além, uma derivada da Justiça.

“Campanha antecipada” é jabuticaba eleitoral brasileira. O tipo de dispositivo legal que encena ignorar o óbvio: que todo político está permanentemente em campanha, antes mesmo de ter certeza de que será candidato. Ou as bilionárias emendas ao orçamento transacionadas com parlamentares pelo atual e por todos os governos passados visam o estrito interesse público?

As emendas não são tão cobiçadas à toa. São armas de campanha, tão ou mais poderosas do que o horário eleitoral na TV e no rádio. Com uma diferença fundamental: só estão disponíveis para quem já está lá e faz parte do clube dos eleitos. Por isso, contra elas quase nenhum partido grita “campanha antecipada”.

Do mesmo modo, o prazo determinado e cada vez mais curto para a campanha eleitoral “oficial” beneficia quem já tem cargo eletivo, já é conhecido e possui eleitorado cativo. Campanhas longas favoreceriam a competição, pois dariam tempo de o público se familiarizar com candidatos desconhecidos – ou de descobrir que os nem tão desconhecidos assim são candidatos.

É falacioso o argumento de que campanhas curtas são mais baratas. Os bilhões liberados em emendas nos últimos meses provam o contrário. Mas não é só isso. As estruturas financiadas com dinheiro público para deputados e senadores manterem escritórios nos seus redutos eleitorais são campanha mais do que antecipada: são comitês eleitorais permanentes. O mesmo vale para as estruturas de comunicação de seus gabinetes.

Nos últimos tempos, as mídias sociais tornaram o conceito de campanha antecipada ainda mais cínico. A quase totalidade dos parlamentares têm conta própria e terceirizada no Facebook, Twitter, Instagram etc. Alguns, de tão viciados nessas plataformas, estão trocando as visitas de fim-de-semana às chamadas bases eleitorais por “lives” – as transmissões de vídeo a vivo pela internet. É parte da campanha virtual sem fim.

Foram vídeos transmitidos via mídias sociais que levaram o Tribunal Superior Eleitoral a julgar Lula e Bolsonaro. O que estará em julgamento não é nada amplo ou profundo. É o detalhe do detalhe. O candidato pode fazer quase tudo, menos pedir voto e dizer que é candidato. Mentir e dizer que não é o que é pode.

O faz-de-conta se torna ainda mais ridículo ao se acompanhar as investigações sobre o quanto a Rússia conseguiu influir nas eleições presidenciais do ano passado nos EUA. Em um dos exemplos mais eloquentes, US$ 250 gastos em “impulsionamentos” no Facebook foram suficientes para os russos insuflarem dois grupos antagônicos a fazerem manifestações de rua ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Resultado: pancadaria generalizada.

No Brasil, isso não parece estar entre as preocupações do Judiciário. Terceiros podem fazer campanha para candidatos – os próprios candidatos não. Quer dizer, podem desde que neguem.

A campanha antecipada não é o único vetor da judicialização eleitoral. O ministro Fux, do ex-Supremo, antecipou seu voto para o julgamento mais importante: contra Lula, condenado, obter registro como candidato. Outros acham que o petista conseguirá, mesmo que sua candidatura venha a ser cassada depois. Seja como for, votos nos tribunais pesarão tanto ou mais que os nas urnas.