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Mauricio Huertas: Vossa Excelência, Bolsolula, o presidente demagogo, hipócrita e mitômano de duas caras

As semelhanças entre o lulismo e o bolsonarismo são gritantes e incômodas para qualquer cidadão essencialmente democrata e isento do fanatismo doentio que se instalou à direita e à esquerda. O que se observa de fora dessa polarização - por uma minoria imune às paixões cegas, minimamente racional e consciente - é a total indigência política, intelectual e moral instituída por esses dois movimentos interdependentes que vivem cada qual em sua bolha ideologizada e idiotizada, mas ambos com os mesmíssimos vícios, radicalismos, ódios, preconceitos e intolerâncias.

As duas bolhas vivenciam suas realidades paralelas e espelhadas, as duas atreladas a falsos mito que, o tempo revela, mostram-se verdadeiros mitômanos. Lula e Bolsonaro são as duas faces da mesma moeda desvalorizada da velha política, mas que insiste em monopolizar o mercado do voto. Como um deles já declarou, embora os dois ajam e pensem de forma idêntica e necessária para manter unidas as suas hordas de fanáticos e milicianos virtuais: "Eu não sou um ser humano, sou uma ideia". Verdade. Duas ideias de jerico.

Pausa para respirar e refletir, com a convicção de que não sou dono da verdade. Ao contrário, faço parte de uma minoria que se propõe em vão - até quando? - a fugir dessa polarização. Assim, feita a abertura desse texto provocativo à maioria dos brasileiros, tendo em vista o resultado das eleições mais recentes que me provam que sou uma voz quase isolada e inexpressiva ante a maioria de bolsonaristas e lulistas, seguirei - se me permitirem - no meu raciocínio anti-Lula e anti-Bolsonaro.

Um minutinho para a palavra do Excelentíssimo Sr. Presidente da República:
1. Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária. Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar.
2. Durante a campanha não fizemos nenhuma promessa absurda. O que nós dizíamos, eu vou repetir agora, é que nós iremos recuperar a dignidade do povo brasileiro. Recuperar a sua auto-estima e gastar cada centavo que tivermos que gastar na perspectiva de melhorar as condições de vida de mulheres, homens e crianças que necessitam do Estado brasileiro.
3. Para repor o Brasil no caminho do crescimento, que gere os postos de trabalho tão necessários, carecemos de um autêntico pacto social pelas mudança e de uma aliança que entrelace objetivamente o trabalho e o capital produtivo, geradores da riqueza fundamental da nação, de modo a que o Brasil supere a estagnação atual e para que o país volte a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social.
4. O pacto social será, igualmente, decisivo para viabilizar as reformas que a sociedade brasileira reclama e que eu me comprometi a fazer: a reforma da Previdência, reforma tributária, reforma política e da legislação trabalhista, além da própria reforma agrária. Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do desenvolvimento nacional.
5. Meus agradecimentos à imprensa, que tanto perturbou a minha tranquilidade nessa campanha, sem a qual a gente não consolidaria a democracia no país. Meu abraço aos deputados, aos senadores, meu abraço aos convidados estrangeiros, dizendo a vocês que, com muita humildade, eu não vacilarei em pedir a cada um de vocês, me ajudem a governar, porque a responsabilidade não é apenas minha, é nossa, do povo brasileiro que me colocou aqui."
Uma perguntinha: você é capaz de identificar o autor desses trechos tirados de discursos presidenciais e reproduzidos acima? Quer fazer uma aposta? O que, na sua opinião, parece ter sido pronunciado por Bolsonaro? Algo tem a cara da Dilma? Ou um toque de Temer? Pode existir algum trecho do Lula? Você arrisca? Talvez tirando o último trecho, com um improvável elogio à imprensa, você diria que o presidente Jair Bolsonaro pode ter pensado tudo isso que aí está? Mas você concorda com o conteúdo?

Pois saiba que todos esses são trechos dos discursos de posse de Lula como Presidente da República em 2003, parte proferida no Palácio do Planalto, outra parte no Congresso Nacional. E lá se vão 16 anos. Depois disso já tivemos a reeleição de Lula em 2006; a eleição e reeleição de Dilma em 2010 e 2014; a posse de Temer após o impeachment em 2016; a eleição de Bolsonaro em 2018 e a sua posse em 2019... e tudo continua irritantemente atual.

Poderia pinçar falas de Dilma e de Temer, ou as promessas de Bolsonaro, ou como cada um dizia que mudaria a política, inovaria na forma de governar e não repetiria os mesmos vícios dos antecessores. Como Lula e Bolsonaro se comprometeram a fazer as reformas. Como Lula e Bolsonaro juraram combater a corrupção, o toma lá dá cá e o fisiologismo partidário. E como PMDB, PT e agora o PSL se tornaram, respectivamente, os maiores partidos brasileiros.

Ainda que em lados distintos, tudo é sempre muito igual. Todos parecem farinha do mesmo saco. A demagogia, a incoerência e a hipocrisia imperam! Do surgimento do PMDB com a chamada Nova República até a fabricação do salvador da Pátria da vez, este que no momento (des)governa o Brasil pelo twitter, um meme que virou presidente, ouvimos as mesmas palavras repetidas. Parodiando a canção da Legião Urbana, "mas quais são as palavras que nunca são ditas?".

Ouvimos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro. Palavras... Mas o fato concreto é que um ciclo se encerra, iniciado no festejado ponto final dos 21 anos de ditadura e, feito um círculo vicioso, retrocedendo cinco décadas para uma possível (Deus nos livre!) interrupção desta nossa jovem democracia com a retomada do poder pelos saudosos daquela decrépita ditadura. O perigo é iminente. Só não vê quem não quer.

O problema é que o fracasso da esquerda democrática no imaginário popular - muito em razão da frustração com a falsa esperança que nos deram Lula e Dilma e que acabaram nos levando para o buraco - ressuscitou tudo aquilo que parecia enterrado nesses 35 anos de reabertura democrática, de consolidação do estado de direito e do amadurecimento dos princípios republicanos. Enfim, o que nos parecia um círculo virtuoso desmoronou nas nossas cabeças. Mas a saída para o novo não virá pelos extremos. O choque de realidade exige uma resposta equilibrada, sensata, coerente. Temos alguma?

Para concluir, mais palavras tiradas do discurso de um líder político: "A verdade não tem valor enquanto houver a ausência da vontade indomável de transformar essa percepção em ação!". Dica: quem disse isso foi um verdadeiro calhorda, ser repugnante, asqueroso. Lula? Bolsonaro? Não! Adolf Hitler. Resumindo: Falar, até papagaio fala. Não precisamos apenas de palavras, necessitamos de ações. À direita e à esquerda temos muita demagogia, hipocrisia, mitomania. Então, olhos abertos, ouvidos atentos e, vacinados contra esses canalhas de duas caras, sigamos em frente!

 


Mauricio Huertas: Chegou a hora de soltar o Lula. Ou o Brasil prende todo político corrupto ou não prende ninguém, tá ok?

Sei que é uma tese polêmica e aparentemente até simplória, que vai gerar discordância, revolta, xingamento e mal-entendido. Ainda mais num ambiente tóxico e polarizado, cheio de ódio, preconceito e intolerância como esse que adentramos politicamente e não vemos saída fácil. Soltar o Lula? Tá louco? Não, não estou, mas confesso que a boçalidade do meme que virou presidente, seus rebentos sem caráter e seus seguidores fanáticos virulentos me fazem voltar a ter alguma empatia pelo petista. A boa política faliu. É a minha opinião.

No Brasil de hoje, da ditadura das bolhas nas redes sociais, todos temos que estar automaticamente de um lado ou de outro. Vivemos a era do "idiota da aldeia", ou da "legião de imbecis", definidos com propriedade por Umberto Eco. Não existe meio termo, bom senso, diálogo, racionalidade. Para sobreviver sem ser massacrado, sem ter minha reputação execrada ou ser jogado num gueto virtual, preciso escolher minha bolha: sou de esquerda ou de direita? Sou lulista ou bolsonarista? Sou honesto ou corrupto? Sou cidadão de bem ou cúmplice de político mafioso? Mas será que é tão simples reduzir o mundo real a esse pensamento binário?

Que p**** é essa? Assuma logo que você aderiu ao #LulaLivre e quer encontrar argumentos para se justificar. Vira-casaca! Vendido! Ah, cala a boca, defensor de bandido! Vai pra Cuba, seu lixo esquerdista! Petralha! Comunista enrustido! Mas... Espera lá! Não, eu não acho que o Lula é inocente. Estão aí os episódios do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia com fartos indícios de lavagem de dinheiro e de corrupção. São crimes passíveis de prisão. Fora o caixa 2, o aparelhamento do Estado, o loteamento do governo entre quadrilhas partidárias e a usurpação do poder. Portanto, Lula não é um injustiçado. Cadeia nele!

Uai, então por que tanto mimimi? Qual é a tua? Quanta contradição, hein, meu caro? Decida: Lula é inocente ou culpado? Um preso comum ou herói do povo brasileiro, como quer fazer colar a narrativa petista? Ou você quer dar uma de "isentão" e estar bem com todo mundo? Pensa que alguém é trouxa? Não percebe que sua opinião não agrada nem convence ninguém, de nenhum dos lados? Você consegue irritar ao mesmo tempo petistas e bolsonaristas, otário! (Isso! É mais ou menos por aí! Esse é um dos objetivos e dane-se a censura alheia!)

Tenho convicção de que Lula se beneficiou da passagem pela presidência para, no mínimo, cometer tráfico de influência. Isso é crime e pronto! Afinal, alguém duvida que ele se aproveitou da posição privilegiada e de suas conexões com pessoas influentes ou com algum grau de autoridade para obter vantagens ou benefícios para si próprio e para terceiros, geralmente em troca de favores ou pagamento? Isso é meio evidente, não é? Ou o que falta para nos convencer? Recibo assinado da propina? Transferência da posse dos imóveis em cartório? Não sejamos ingênuos.

Mas quantos outros políticos, dos mais diversos partidos, estão presos por esses mesmos crimes e contravenções? Diga aí os nomes. Difícil, né? O petista será o primeiro de muitos ou ele nos basta como bode expiatório? O maior pecado de Lula foi trair a confiança e a esperança da maioria do povo brasileiro ao copiar os velhos métodos dos políticos que prometeu combater. Ao contrário, acabou se associando e se igualando aos outros, com o PT, para se perpetuar no poder.

Lula, em seus 40 anos de vida pública, subiu e despencou no conceito popular com a mesma intensidade. Venceu todos os preconceitos que carregava como líder sindical, superou a resistência das elites, virou presidente da República, conseguiu se reeleger e fazer sua sucessora. Mas ao cair na vala comum dos maus políticos - logo ele, a quem não era dada essa regalia - viu a cisma, a hostilidade e o antipetismo voltarem com força redobrada. Lula tropeçou nas próprias pernas.

Então, de alguma forma estão certos tanto os que consideram a prisão justa quanto os que apontam perseguição política. Não que Lula seja inocente, mas é exceção entre os homens públicos presos, num país em que liminares de juízes do Supremo libertam quem lhes convém, que o crime organizado controla mecanismos institucionais da sociedade e que os assassinos de uma vereadora preta e lésbica seguem impunes porque o sistema prefere assim (Quem matou Marielle? Quem mata tanto preto, tanto gay e tanto pobre?).

Que republiqueta é essa que garante saidinha do dia das mães para Suzane Richthofen, liberdade provisória para feminicidas, que deixa soltos os devastadores de Mariana e Brumadinho, os piromaníacos do Ninho do Urubu, os laranjas de partidecos fictícios, os fabricantes de fake news que interferem no resultado das eleições, outros ladrões do erário e até "cidadãos de bem" que corrompem por uma multa, um atestado ou uma licença - e que não medem as consequências das suas infrações enquanto apontam o dedo sujo para a transgressão do vizinho?

O Brasil não deu certo. Ou passamos tudo a limpo, recomeçamos do zero, refazemos tudo com ética, correção, equidade e justiça, ou vamos nos afundar cada vez mais nesse lamaçal de arbitrariedade, desigualdade, ilegalidade, impunidade, polarização e desrespeito. Lula é um mau político? Errou? Claro, por isso está preso há quase um ano. Que seja punido! Mas cadê os outros? Ou prendemos todos os corruptos ou não prendemos ninguém!

A minha divergência com Lula se dá no campo partidário, político, ideológico, ético, até moral. Mas com esses Bolsonaros e seus clones, além das discordâncias políticas e ideológicas, tenho aversão no aspecto humano, existencial. Pelo amor de Deus, não é possível que essas figuras execráveis, asquerosas, repugnantes, representem a cara e a alma do novo Brasil que desejamos construir. Precisamos mostrar que somos melhores que isso aí, tá ok? Senão, f****!

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Mauricio Huertas: É hora de tirar a bunda da cadeira, levantar do berço esplêndido e fazer a diferença na política

Nem dois meses e já são evidentes os estragos desse governo do meme que virou presidente. Um despreparado, cercado de filhos patetas e um time de ministros medíocres, com um trio especialmente imbecil (precisa dar nomes?). Todos deslumbrados pelo poder, insuperáveis no fornecimento de doses diárias de vergonha alheia.

Eu não votei no Bolsonaro, graças a Deus (Brasil acima de tudo, Deus acima de todos), nem votei no PT, mas isso não me exime das responsabilidades de cidadão nem me torna um "isentão". Não sou eleitor petista nem bolsonarista, não acredito que o Lula é injustiçado, não acho que o impeachment foi golpe mas também não via capacidade (nem legitimidade) na presidência interina do Temer (que devia ter caído junto com a Dilma).

Quer dizer, está difícil me encaixar em algum lado dessa polarização. Na verdade, eu diria mesmo que é impossível, até porque nenhum deles me representa. Assim se descobre na prática que criticar os gurus do petismo e/ou do bolsonarismo é comprar briga com verdadeiras milícias partidárias e ideológicas nas redes sociais. Ao menos se você escolhe um dos lados, você tem essa trincheira para se defender da artilharia inimiga. É declaradamente de esquerda ou de direita, demarca seu território (como o cachorro que faz xixi no poste), paga um preço por isso e ponto final.

Agora, desafiar o senso comum, não escolher seu malvado favorito e ser leal apenas à sua própria consciência é um problemão. Você passa a ser achincalhado pela direita chucra como comunista, esquerdalha e saudoso da mortadela do PT. Na mão inversa, a esquerda fanática te chama de golpista, bolsominion e faz outros ataques do tipo, que nivelam por baixo os dois lados - até porque são limitados e não entendem (ou não aceitam) que você pode ser crítico de ambos. Aliás, cujo modus operandi é idêntico.

Então há esse vácuo político entre os dois extremos que digladiam e se acusam diariamente. Um vazio partidário entre essas torcidas uniformizadas de um lado e de outro que precisa ser ocupado por gente íntegra, sensata, preparada, disposta e bem intencionada. Que seja uma alternativa viável aos padrões e visões mais tradicionais e às posturas ideologizadas que não convencem mais ninguém além dos próprios convertidos.

É esse papel que cobramos de indivíduos conscientes, sejam cidadãos anônimos ou personalidades reconhecidas, ativistas autorais, influenciadores digitais, formadores de opinião. É esse chamamento que se faz à sociedade organizada, aos movimentos cívicos, aos partidos não atrelados automaticamente à base governista, adesista, fisiológica, nem à oposição sistemática que aposta no "quanto pior, melhor".

Cidadania plena, liberdade, democracia, humanismo, sustentabilidade. A defesa intransigente do estado democrático de direito. O respeito à diversidade. Princípios que esse presidente tuiteiro e a sua geração de youtubers e blogueirinhos lacradores não dão conta de atender simplesmente com memes, selfies, lives, posts e stories que infestam o espaço virtual.

Falta uma ação mais concreta, presencial, objetiva, real. Fazer a diferença no dia a dia. Cortar o cordão umbilical de uma nova geração que vai sacudir essa velha política. Tirar a bunda da cadeira, levantar do berço esplêndido, dar a cara a tapa e mostrar que não somos iguais a esses babacas. Quem se habilita?

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: Se você faz parte da bolha bolsonarista ou da bolha petista, não leia esse texto. Você vai odiá-lo!

Não se trata de ser de direita ou de esquerda. Trata-se de você ser humano ou uma ameba. É natural agir com a razão ou com a emoção, ora uma, ora outra. Mas ao menos faça bom uso do cérebro. Está aí na sua cabeça e é de mais fácil alcance que qualquer aplicativo digital. Eu me obrigo a fazer essa reflexão diante de diversos acontecimentos dos últimos dias e a repercussão extremada que cada um tem nas redes sociais.

Da morte brutal do rapaz sufocado por um segurança desqualificado do supermercado Extra à tentativa de feminicídio e espancamento sofrido pela mulher que recebeu um psicopata em seu apartamento após conhecê-lo pela internet. Da campanha difamatória contra o ator e agora diretor Wagner Moura pelo filme que ainda nem lançou sobre o guerrilheiro Marighella à verdadeira caça aos comunistas imaginários promovida por essa nova direita reacionária emergente, empoderada e armada de tablets e smartphones. Tudo é ideologizado.

O mundo está doente. Vivemos talvez a mais absoluta idiotização política, social, cultural e comportamental da nossa história. Estamos retrocedendo a passos largos ao obscurantismo e à barbárie, com o agravante que a globalização e o avanço tecnológico em curso multiplicam essa estupidez e ignorância, consolidadas por exemplo pela ascensão de figuras emblemáticas como Donald Trump e Jair Bolsonaro, expressões mais caricatas (e até por isso também potencialmente perigosas) do poder dessa camarilha polarizada.

Ao agir como dublê de presidente e achar que vai governar o Brasil pelo twitter, ladeado pela renca de filhos que confundem chefia de estado e de governo com a gestão daqueles antigos conglomerados familiares empresariais, Bolsonaro legitima essa escrotidão que se comporta como manada e só tem coragem de se manifestar escondida no anonimato das plataformas virtuais. Tudo é politizado, partidarizado e vira munição na opinião distorcida dessa maioria medíocre.

É incrível como são semelhantes todos os habitantes da bolha bolsonarista que reúne fanáticos, lunáticos, haters, preconceituosos, intolerantes e extremistas patológicos. Mas reconheçamos também que tal bolha à direita surgiu exatamente como reação ao comportamento idêntico manifestado anteriormente pela cegueira esquerdista que tentou construir a sistemática narrativa de vitimização por perseguições partidárias e golpes político-jurídicos improváveis, enquanto na verdade a própria esquerda traía a esperança transformadora que nela se depositava.

Traduzindo melhor: tanto a direita quanto a esquerda se igualam na boçalidade extremista. O que falta na política brasileira é viabilizar um movimento progressista sustentável que reequilibre a sociedade com bom senso, equidade e justiça, que nos afaste da polarização burra e do ódio persecutório, que ilumine o caminho da cidadania consciente e atuante para mostrar como estão equivocados esses que repelem o diálogo, impedem o contraditório e apostam na radicalização das divergências para destruir o oponente.

Dizendo com todas as letras: petistas e bolsonaristas fazem parte da mesma escória política, com sinais trocados. O modus operandi é idêntico. A reação às descobertas da sua podridão partidária, intestinal, é a mesma: negar as evidências, fingir que não sabiam de nada, esvaziar a importância da acusação, desqualificar o denunciante. Compare como ambos reagem quando são revelados escândalos do PT ou do PSL, crimes dos governos passados de Lula e Dilma ou do neófito no poder executivo, Jair Bolsonaro, e seu séquito de destrambelhados.

Eles cairão por si mesmos, mas é importante que estejamos preparados para o próximo passo, para o dia seguinte ao estouro dessas bolhas em que vivem petistas e bolsonaristas, que por enquanto ainda turvam a visão da maioria bem intencionada da população, carregada a reboque de sucessivos enganos e de promessas delirantes. Afinal, o que resultará depois do fracasso do petismo e do bolsonarismo? Não podemos ter a democracia outra vez em risco.

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Maurício Huertas: O PSL e a Grande Família! Tutti buona gente!

A mediocridade deste governo é gritante. Se não bastasse a leva de oportunistas e incompetentes eleitos na onda do bolsonarismo (leia-se: o antipetismo da vez) e uma tropa de ministros fanáticos e limitados, o presidente Jair Bolsonaro ainda é influenciado de um lado por seus filhos (01, 02 e 03 - como gosta de nominar sua produção em série para a política) e do outro lado pelo fantasioso PSL, o partido que ele alugou para ser eleito, e que agora se mostra um verdadeiro laranjal, ou jocosamente chamado de Partido do Suco de Laranja.

O mais recente dos escândalos é a fritura pública (pelo twitter, no melhor padrão bolsonarista) do ministro Gustavo Bebianno, espécie de faz-tudo de Bolsonaro-pai mas antigo desafeto da prole por desavenças partidárias e eleitorais. Agora um dos filhos (que nunca se sabe qual é, mas também não faz muita diferença, como acontece quando as crianças confundem Patati & Patatá) resolveu escancarar a crise interna, chamando Bebianno de mentiroso. O presidente endossou.

Não é a primeira lavagem de roupa suja em público. Aconteceu com Joice Hasselmann, com Janaína Paschoal, com Alexandre Frota, com Major Olímpio, com Major Vitor Hugo, com Luciano Bivar, com Charles Evangelista... toda a fina flor deste que se tornou o maior partido do Brasil no Congresso Nacional e em diversas Assembleias estaduais, como a paulista. Brasil acima de tudo, PSL acima de todos. Alguém viu o Moro por aí? Socorro!


Maurício Huertas: Uma "nova era" com Bolsonaro, a vanguarda do retrocesso e os emergentes da velha política

Tal como os resíduos tóxicos que transbordam de uma barragem fragilizada e vulnerável pela combinação assassina da negligência com a ganância, também os rejeitos da velha política contaminam o ambiente já debilitado da democracia e das instituições republicanas ao trazer a escória das redes sociais para o palco central das decisões do poder.

Perdoe a metáfora impiedosa, mas vivemos tempos de complexas e profundas mudanças tecnológicas, culturais e comportamentais, que merecem contínua reflexão, análise e consideração. A imagem de um país degradado em meio ao mar de lama é emblemática. Na era das fake news, verdades precisam ser ditas.

É ponto pacífico que necessitávamos de um freio urgente aos desmandos e abusos da máfia estabelecida no governo federal - então não foi à toa a vitória de quem mais soube explorar a radicalização antipetista, ou a aversão ao status quo. Porém, é aquela velha história: a diferença entre o remédio e o veneno está na dose aplicada.

O fato de o Brasil eleger o que já chamamos aqui de "o meme que virou presidente" criou em alguns a ilusão do aprimoramento da participação popular através de uma quase reinvenção da democracia direta, traduzida nessa espécie de ágora virtual, online e responsiva, como manda o código de etiqueta da internet, e instituída de maneira aparentemente espontânea, horizontal e descentralizada.

O brasileiro anônimo, ou o chamado "cidadão de bem" até então excluído daquilo que se entendia como "fazer política" do modo mais convencional e organizado, aliás também fortemente avesso ao sistema partidário e eleitoral vigente, ganha um protagonismo inédito, histórico e revolucionário com as suas intervenções autorais por meio de postagens, memes, lives, stories, curtidas, comentários e compartilhamentos.

Partidos, sindicatos, ONGs e associações tradicionais envelheceram rapidamente, perderam credibilidade e foram substituídos por novas plataformas, grupos no WhatsApp, comunidades no Facebook e perfis no Instagram. Velhas causas e bandeiras foram trocadas por modernas hashtags, reivindicações pontuais e manifestações difusas. A militância de esquerda, com seu antigo charme e líderes maculados pelo fiasco criminoso do PT, foi fragorosamente derrotada pelo pragmatismo dos influenciadores digitais e pelo poder ofensivo dessa nova direita.

O grande problema, na minha modesta e parcial opinião, é que apenas invertemos a mão de direção da má política. Trocamos seis por meia dúzia. Substituímos estúpidos de esquerda por boçais de direita, sem meio-termo. Não há nenhuma inovação nos métodos, práticas e conceitos. Saem os seguidores fanáticos de um lado e entram seus opositores na contramão, tão limitados e danosos quanto seus antecessores.

Ou será que dá para considerar "nova política", ou comemorar o início da tal "nova era", como anunciada pelo fã-clube do bolsonarismo, esse substrato ideológico que tem como guru Olavo de Carvalho e como líderes e principais expoentes Jair Bolsonaro e suas crias, além de Onyx Lorenzoni, Damares Alves, Ernesto Araújo, Ricardo Vélez Rodríguez, Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Bia Kicis, Carla Zambelli, Major Olímpio, Major Vitor Hugo e outros que tais da vanguarda do retrocesso?

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: Jean Wyllys x Bolsonaro - Você tomou partido?

Goste-se ou não de Jean Wyllys, é inaceitável que qualquer cidadão brasileiro, ainda mais um deputado federal reeleito, tenha que sair do país por estar ameaçado de morte em razão de suas atividades políticas, comportamento social, crenças, ideias ou ideologia.

Mais bizarra que a situação que leva a esse abandono do mandato, só mesmo a reação debochada, infantilóide e repugnante do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos criados à sua imagem e semelhança, e de seus seguidores xucros e fanáticos nas redes sociais. Vivemos dias insanos.

#ProgramaDiferente acompanha as atividades do deputado Jean Wyllys. Já exibimos matérias diversas e até um programa especial sobre o pré-lançamento de um documentário sobre este personagem polêmico (que se chamaria #Eu_JeanWyllys e acabou recebendo o título oficial de Entre os homens de bem).

Ninguém precisa concordar com ele, mas é importante ouvi-lo e tentar compreender a sua luta. Um mínimo de empatia e solidariedade também é válido, até porque o que está acontecendo hoje com ele, amanhã pode ser comigo ou com você, se "sairmos da linha".

Vale refletir sobre os muitos aspectos desse retrocesso político e social que o Brasil vive, por enquanto disfarçados na rejeição da maioria da população aos governos petistas, mas que vem acirrando de forma perigosa o ódio, o preconceito, a intolerância e a ameaça aos direitos individuais e coletivos dos cidadãos brasileiros.

Reveja alguns programas e matérias que refletem bem esses tempos nebulosos:

O #ProgramaDiferente acompanha o pré-lançamento do polêmico documentário #Eu_JeanWyllys e ouve Soninha, Laerte e Suplicy

Matéria seguida do trailler do documentário

Reportagem completa do pré-lançamento

O #ProgramaDiferente especial da Páscoa combate o ódio e a intolerância

#ProgramaDiferente apresenta "Púlpito e Parlamento: Evangélicos na Política"


Maurício Huertas: Cidadania, sustentabilidade e democracia

“Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar…”

(Antonio Machado, poeta espanhol)

Aprendemos no dia a dia, nas relações pessoais e profissionais, na família, na amizade, no casamento, em qualquer texto motivacional, na religião, na política, na vida: a crise pode gerar risco e oportunidade. Estamos neste exato momento de perigo, de dificuldades e conflitos, de mudanças bruscas e manifestações violentas. Precisamos enfrentar essa conjuntura problemática, superar esta crise e impedir consequências mais perversas, danosas e permanentes.

Nós, cidadãos e agentes políticos, devemos agir com responsabilidade. Liderar. Apontar caminhos. Nós, que buscamos o caminho do equilíbrio, das práticas democráticas e dos princípios republicanos, fomos derrotados pela polarização, pelo ódio, pela intolerância, pelo preconceito. Perdemos, com os nossos valores e ideais, para estratégias políticas predatórias, para a descrença de parcela significativa da população nas instituições e para o discurso populista de direita e de esquerda.

Está na hora de reagir, levantar, sacudir a poeira e reerguer pontes para o futuro. Precisamos compreender que esse movimento político que foi vitorioso, tanto quanto a alternativa que se mostrou mais viável quantitativamente no 2º turno das eleições de 2018, são igualmente danosos, retrógrados e ultrajantes para o modelo sustentável de desenvolvimento que desejamos ver implantado no País.

O que nos une, seja a insatisfação com esse sistema obsoleto, involutivo e opressor ou com a forma fisiológica, corrupta e patrimonialista de se fazer política, cria a oportunidade para darmos um passo firme e decisivo na construção de uma nova plataforma para o exercício da cidadania, na qual o cidadão comum possa expressar seu ativismo autoral a serviço da construção de novos paradigmas políticos.

Daí o chamamento que se faz à coletividade, às forças vivas da sociedade, às personalidades públicas e aos brasileiros anônimos descontentes com esse atual cenário polarizado entre as duas faces da mesma moeda da velha política, que hoje atuam não apenas em partidos mais tradicionais e ideológicos, como o PPS, o PV ou a novata Rede Sustentabilidade, mas são também protagonistas desses inovadores movimentos cívicos como Agora, Acredito e Livres, entre outros.

É uma oportunidade única e histórica essa possibilidade concreta e objetiva que temos posta, a partir dos congressos partidários recém-convocados pelo PPS e pela Rede, para a efetivação dessa nova formatação política, como um partido-movimento que se constitua em defesa de um país socialmente justo, politicamente democrático, economicamente inclusivo e ambientalmente sustentável.

Que busquemos incansavelmente o consenso para uma fundamentação programática e estatutária que expresse da melhor forma essa unidade entre os que se identificam com o campo das reformas progressistas, da justiça social, do desenvolvimento sustentável e da defesa da democracia. Mas não podemos deixar escapar das nossas mãos essa chance de construir algo realmente transformador, que absorva e reúna solidariamente as melhores qualidades e o aprendizado acumulado de cada um dos elos formadores dessa nova corrente.

Somos de luta e de paz, meus amigos, em tristes tempos de guerra. Estamos na mesma trincheira da resistência democrática. Não podemos permitir que roubem os nossos sonhos, que ameacem as nossas conquistas, que ofendam a nossa história, que subtraiam a nossa liberdade. É hora de olhar para a frente, juntar forças, seguir adiante, traçar um novo caminho com passos firmes, coragem e altivez. O primeiro passo, por si só, é um ato de Cidadania.

* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Maurício Huertas: Faça o que eu mando mas não faça o que eu faço

Esse é o mandamento "up to date" do bolsonarismo. A última atualização da mais velha e abjeta forma de fazer política. Sinto informar à parcela de inocentes úteis entre os 57,7 milhões de brasileiros que elegeram Jair Messias Bolsonaro para a Presidência da República, mas, se vocês ainda não perceberam, só ajudaram a trocar as moscas. Porque o resto...

A média de um escândalo por dia deste novo governo é mantida com louvor. É uma sucessão de trapalhadas e pataquadas. Lembra até daquele que foi um dos momentos antológicos de Dilma Rousseff na essência do raciocínio dilmês: "Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta."

Estão dobrando a mer... ops, a meta! Viva Bolsonaro, a Dilma de farda! O meme que virou presidente. Saído diretamente das esquetes do CQC para a cadeira presidencial. Um salto e tanto para quem não passava de piada ruim do baixo clero em Brasília. Diretamente da comédia para a tragédia do dia a dia. Mas o que já não tinha tanta graça vai se tornando calamitoso. Dias piores virão.

A notícia mais recente: que negócio é esse de um dos zeros-filhos (aliás, chamar os filhos de 01, 02 e 03 é piada pronta, né? Saem os zeros à esquerda e entram os zeros à direita...), mas, voltando, que negócio é esse de Flávio Bolsonaro pedir (e o STF acatar!) a suspensão da investigação sobre o motorista-laranja Fabrício Queiroz, aquele que movimentou R$ 1,2 milhão em um ano, supostamente recebia devolução de salário dos assessores do gabinete e depositava cheque para a primeira-dama?

Imagina se isso fosse no governo do PT!? Cadê os bolsominions? MBL? Vem Pra Rua? Cadê a Joice Hasselmann? Bia Kicis? Alexandre Frota? Carla Zambelli? Janaina Paschoal? Major Olímpio? Sérgio Moro? Cadê os robozinhos das redes sociais? Estão todos comemorando a posse das quatro armas e esqueceram de ler o resto do noticiário? Ou é tudo fake news da mídia golpista? (não, espera, a mídia é petista ou bolsonarista? Fiquei confuso...)

Do diversionismo da ministra Damares Alves criando polêmicas lá do alto do pé de goiaba para distrair a galera, passando por questões como a instalação de uma base americana no Brasil, as demissões na Apex e na Funai, o inominável novo nomeado do Enem, a despetização fajuta do Onyx, a promoção meritória do talentoso filho do vice... (ah! vai listando aí a proliferação de escândalos, não estou conseguindo acompanhar...) esse governo é de uma incompetência atroz!

Não basta ser retrógrado, autoritário, intolerante, preconceituoso, é preciso também ser contraditório, desonesto, incoerente e incapaz! Se você pegar todos os discursos recentes de bolsonaristas atacando os governos petistas, ou, na mão inversa, as peças de defesa do petismo contra as denúncias e acusações na imprensa e na justiça, vai ver o novo samba do crioulo doido (que bota no bolso a genial criação do saudoso Stanislaw Ponte Preta).

Escândalo no reino! Os bobos-da-corte chegaram ao poder! Estamos fritos!

*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente


Blog do PPS: Que movimento boçal este bolsonarismo, meu Deus!

Que o Blog do PPS faz e fará sempre oposição declarada a esse governo boçal do presidente Jair Bolsonaro não deve ser novidade para ninguém, né?

Tanto quanto fizemos oposição aos (des)governos de Lula e Dilma Rousseff, bem como registramos a nossa posição contrária, crítica e equidistante a Bolsonaro e Haddadno 1º e no 2º turno das eleições de 2018.

Estava muito claro para nós que essas duas saídas polarizadas à direita e à esquerda seriam igualmente equivocadas e prejudiciais ao Brasil. Mas se esta foi a decisão da maioria do eleitorado, não há o que se discutir. Assim funciona o estado democrático de direito, e assim seguimos: eles no governo, nós na oposição. Simples assim.

Aqui da trincheira da resistência à burrificação e ao ódio reinante, que tenta reescrever a História de acordo com as narrativas mais convenientes ao bolsonarismo ou ao lulismo, vamos tentar preservar a racionalidade, o equilíbrio e o bom senso. Trazemos hoje a coletânea de alguns bons textos que fazem pensar e dão em boa medida o retrato desse momento insano que o país vive. Leia:

Henry Bugalho: O avesso da verdade

Celso Rocha de Barros: Os Generais

Esquerda x Direita: Bolsonarismo importa dos EUA teoria conspiratória sobre marxismo cultural

Antonio Prata: A milícia de Brancaleone

Jair Bolsonaro: O meme que virou presidente

Enquanto isso, no mundo surreal da política...


Antonio Prata: A milícia de Brancaleone

“As eleições acabaram, não há lugar para revanchismo”, dizem os supostos arautos da racionalidade, “agora é torcer pra dar certo” — e todos aqueles que não acompanham as primeiras estultices do governo Bolsonaro fazendo coraçãozinho com a mão são petistas ressentidos, incapazes de aceitar as regras da democracia: “Vai pra Cuba!”.

Tenho dificuldade em torcer para o governo Bolsonaro “dar certo”, não por ser um “petista ressentido” —no infinito rol dos inimigos da pátria criado por esta direita neo-jurássica estou mais para “esquerda-caviar”. O problema é que não compreendo o que seria este governo “dar certo”. Se for Bolsonaro e sua milícia de Brancaleone conseguirem pôr em prática boa parte do que prometeram na campanha e começaram a tentar implementar nas últimas duas semanas —com exímia incompetência, felizmente—, estou fora.

Sejamos francos: estes caras são uns lunáticos. Como não chamar de maluco quem acredita que o aquecimento global é um “plot marxista”? Quem acha que a Folha (“Foice”) de S.Paulo e a Globo (“Red Globo”) são comunistas? Quem vê um plano da esquerda, infiltrada em todas as ramificações do ensino e da cultura, para destruir a família? Para Olavo de Carvalho, o Osho da seita Jair messiânica, o “plot” é ainda mais doido: a esquerda é manipulada pelo grande capital que, minando a família do trabalhador, poderá explorá-lo melhor.

“A sociedade que o ‘multiculturalismo’ anuncia” —escreveu aqui na “Foice”, em 2017, o Rajneesh dosbolsominions— “(...) é uma sociedade de tipo romano em que só os ricos e poderosos têm o privilégio de possuir uma família estruturada, enquanto o povão se esfarela numa poeira de átomos soltos, sem pais nem mães, nem tradição, nem passado, nem referência —a massa de manobra ideal para os engenheiros sociais a soldo da elite bilionária”.

Imagina o grau de delírio da pessoa para, toda vez que vê a bunda do Zé Celso, enxergar a carteira do George Soros? Nem no Centro Acadêmico de Ciências Sociais eu me lembro de testemunhar paranoia tão delirante. E olha que lá no CA o pessoal misturava Foucault com maconha, Kaiser quente e Bakunin —coquetel, agora sei, preparado pelos ocultos barmen da “elite bilionária”.

Voltando à terra: imagino que a maioria dos que torcem para o governo “dar certo” se refere à recuperação da economia. Sim, todos queremos crescimento, empregos, riqueza. Mas o que viria na esteira deste crescimento? Porte de arma para a população no país que já é o campeão mundial em mortes por bala? “Ponto final em todos os ativismos no Brasil”, i.e., mais violência contra mulheres, negros, LGBTs? Destruição das florestas, extinção das reservas indígenas? Execuções sumárias pela polícia? Murundu na política externa só para lamber as botas do Trump?

Os mesmos jedis da racionalidade que “torcem pelo Brasil” costumam reduzir tudo à economia, como se o nosso grau de desenvolvimento pudesse ser medido em toneladas de soja e as pautas de “costumes” fossem perfumaria. Ora, “costume” não é dar um ou dois beijinhos. É uma questão de costume escravizar ou não escravizar seres humanos. Uma mulher morrer assassinada a cada duas horas é uma questão de costume. (Eis a tradição que se preserva com a cretinice do azul e do rosa). Desigualdade e injustiça: costume. O que separa a Noruega do Brasil não é a economia, o DNA, a providência divina: são os costumes.

Sinceramente, não sei para o que torcer. Parece-me que a tragédia dell’arte que ora se desenrola diante de nossos olhos não tem como “dar certo”.

*Antonio Prata é escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”, e colunista do jornal Folha de S. Paulo.


Mauricio Huertas: Jair Bolsonaro, o meme que virou presidente

O título é bom, tá ok? Dá livro. Dá documentário. O personagem (ame-o ou odeie) é ótimo. O ator, um "mito" canastrão, típico do período no qual adentrou o Brasil. Vivemos tempos em que transbordam o ódio e a intolerância. A velha esquerda vazou pelo ladrão. A direita mais chucra verte da fossa sanitária. A podridão da política é evidente. Obscurantismo, preconceito, retrocesso, fake news são as marcas dessa "nova era". Deprimente.

Se isso é o novo, que tristeza! Indigência moral, penúria intelectual. A onda da mediocridade varre as redes e as ruas. A generalização dos maus políticos contamina todo o sistema e anula os bons. Tira o espaço essencial da política como mediadora dos interesses públicos e joga todo mundo na vala comum da politicagem, das negociatas e do oportunismo. É a desforra do até então chamado baixo clero do parlamento. Nivelou por aquilo de pior que existia.

Vale o registro desse período. O Blog do PPS faz isso há 13 anos. Informa, relata, analisa, cobra, investiga, compara, opina. Incomoda (Ufa! Que bom!). Seguiremos nessa tarefa, queiram ou não.  Desagradando gregos e troianos. Abaixo, um resumo do que temos publicado sobre Jair Bolsonaro e esse recorte singular da nossa História. Tristes tempos.

Oi, sumido! Quantos likes vale esse governo?

Problema vai ser quando o monstro sair do armário

Das fake news ao fake gov: Será o início do fim?

Presidente Bolsonaro, conte comigo... na oposição!

Cota de malucos de Bolsonaro já está preenchida?

Uma oposição responsável contra Haddad e Bolsonaro

Democracia e Sustentabilidade por um Brasil melhor

Boa política é a maior derrotada neste 2º turno

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O Brasil que eu quero e vou buscar em 7 de outubro

O Brasil nas mãos de quem o brasileiro quiser

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