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Bernardo Mello Franco: O inferno visto de fora

O sonho de Ernesto Araújo se realizou. Com o bolsonarismo no poder, o Brasil virou um pária aos olhos do mundo. O país já despertava preocupações pela escalada autoritária, pela devastação da Amazônia e pela liberação indiscriminada de armas. Agora também é visto como uma ameaça à saúde global.

Na sexta-feira, as Nações Unidas fizeram um apelo por medidas para conter a pandemia. “A intensificação da curva de óbitos, a falta de medidas restritivas efetivas e a falta de uma estratégia nacional de vacinação estão levando o país a uma catástrofe”, alertou Marlova Jovchelovitch Noleto, coordenadora da ONU no Brasil.

Em Genebra, a Organização Mundial da Saúde definiu a situação brasileira como um “inferno furioso”. A entidade reforçou que não adianta esperar pela chegada de vacinas: o país precisa de isolamento social para frear a transmissão do coronavírus.

Fatos, dados e alertas não são capazes de convencer quem não quer ser convencido. Na quarta, Jair Bolsonaro fez mais um comício contra as medidas de distanciamento. “Não vamos aceitar a política do fique em casa”, repetiu, em Chapecó. O presidente dividia o palanque com o prefeito João Rodrigues, que já foi condenado e preso por fraude em licitação. Agora ele tapeia eleitores com a fábula do tratamento precoce.

O capitão apresentou o município catarinense como um exemplo no combate à Covid. A realidade mostra outra coisa: a cidade registra mais mortes do que a média nacional, está com as UTIs lotadas e já precisou transferir pacientes para o Espírito Santo.

Os editoriais da imprensa internacional refletem a apreensão com o descontrole da pandemia. Na terça, o jornal britânico “The Guardian” definiu Bolsonaro como “um perigo para o Brasil e para o mundo”. O texto critica a sabotagem às medidas sanitárias e aponta sua consequência: o surgimento e a disseminação de uma variante mais letal do vírus.

A mutação P1 também foi citada pelo americano “The Washington Post”, que apontou a “incompetência assombrosa” do presidente. “As medidas necessárias para frear as novas infecções são virtualmente inexistentes”, resumiu o jornal. No fim de março, a revista britânica “The Economist” já havia classificado Bolsonaro como “uma ameaça à saúde”.

O olhar de fora reforça a gravidade da tragédia que nos assombra. Na última semana, o país ultrapassou a marca de 4 mil mortes diárias pela Covid. Com menos de 3% da população mundial, passou a concentrar um terço dos óbitos no planeta.

“Estamos falando de milhares de vidas que estão sendo perdidas por falta de ações assertivas para conter a pandemia”, ressaltou a coordenadora da ONU. Bolsonaro faz política com o nome de Deus, mas está transformando o Brasil num inferno.

O choro de Witzel

“Não deixei a magistratura para ser ladrão”, disse na quarta-feira o governador afastado do Rio. Diante do tribunal do impeachment, Wilson Witzel embargou a voz e se debulhou em lágrimas. Nem parecia o valentão que se fantasiava de policial e prometia abater criminosos com “tiro na cabecinha”.


Bernardo Mello Franco: O voo do garimpo nas asas da FAB

Num sábado de carnaval, um major e um capitão arrombaram o depósito de munições da Base Aérea dos Afonsos, no subúrbio do Rio. Os dois levaram armas e explosivos até um bimotor Beechcraft. Com o avião carregado, decolaram rumo ao sul do Pará para iniciar um levante contra o governo.

A dupla de aloprados queria derrubar o presidente Juscelino Kubitschek, que havia acabado de tomar posse. O plano era organizar um exército de índios e caboclos e articular o golpe a partir da selva amazônica. A Revolta de Jacareacanga teve vida curta: começou e terminou em fevereiro de 1956. Depois de 64 anos, a Aeronáutica volta a se enrolar na cidade paraense.

Na quinta-feira, o Ministério Público Federal abriu investigação por improbidade administrativa no uso de um avião da FAB. A aeronave pousou em Jacareacanga no último dia 5, a pretexto de apoiar o combate à mineração ilegal na terra indígena Munduruku. Na manhã seguinte, decolou para Brasília com sete garimpeiros a bordo.

“A lei proíbe o garimpo em terras indígenas. O avião da FAB foi usado para transportar criminosos”, resume o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira. “Essa terra indígena já sofria com invasões. Agora há um avanço desenfreado, impulsionado pela valorização do ouro e pelo discurso de cumplicidade do governo”, acrescenta.

Na véspera do voo para Brasília, os garimpeiros se reuniram com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Após o encontro, o governo suspendeu a Operação Verde Brasil 2, que deveria reprimir os crimes ambientais na Amazônia.

Em ofício ao MPF, o Ministério da Defesa afirmou que a Aeronáutica transportou “lideranças indígenas” para “tratativas com o Ministério do Meio Ambiente”. A versão é contestada por associações que representam os munduruku. As entidades afirmam que o cacique-geral da etnia não autorizou a viagem e que o grupo não fala em nome dos povos locais.

“Os passageiros do voo não eram líderes indígenas, eram garimpeiros. Os índios estão frustrados com o fracasso da operação. Muitos deles já sofreram ameaças de morte”, conta o procurador Oliveira. Ele afirma que os donos das máquinas são brancos e aliciam parte dos locais com a distribuição de dinheiro e de cestas básicas.

O clima na região é tenso. Há duas semanas, a Polícia Federal apreendeu veículos e computadores usados pelos mineradores. Agentes do Ibama chegaram a destruir equipamentos da quadrilha. Em represália, garimpeiros ameaçaram derrubar um helicóptero usado pelos fiscais.

“Estamos falando de uma milícia que cooptou indígenas e se sente estimulada pelo governo”, diz o ambientalista Danicley de Aguiar, do Greenpeace. “O garimpo compromete o modo de vida dos povos tradicionais, destrói a floresta e contamina os rios da região. E tudo está sendo feito com a omissão do Estado brasileiro”, critica.

O presidente Jair Bolsonaro não disfarça. Já assinou projeto para abrir as terras indígenas à exploração mineral. Enquanto o Congresso faz cara de paisagem, o ministro Salles tenta passar sua boiada ao arrepio da lei. Falta explicar por que a Aeronáutica aceitou se misturar a essa agenda de destruição.


Bernardo Mello Franco: Energúmeno

Bolsonaro chamou Paulo Freire de “energúmeno”. O educador recebeu 34 títulos de doutor honoris causa. Quando morreu, seu detrator ainda vagava no baixo clero

Depois de atacar uma garota de 16 anos, o presidente resolveu difamar um educador morto. Na semana passada, Jair Bolsonaro chamou a estudante Greta Thunberg de “pirralha”. Ontem ele se referiu a Paulo Freire como “energúmeno”.

A jovem sueca não teve tempo para se abalar. No dia seguinte ao insulto, foi escolhida a Pessoa do Ano pela “Time”. A revista americana reconheceu sua militância em defesa do meio ambiente. Enquanto ela inspirava estudantes de todo o mundo, Bolsonaro despontava como vilão ambiental.

A comparação com Freire também é desfavorável ao presidente. O professor foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz e recebeu 34 títulos de doutor honoris causa no Brasil e no exterior. Morreu em 1997, quando seu detrator ainda vagava no baixo clero da Câmara.

Autor de “O Educador: Um Perfil de Paulo Freire” (Todavia, 256 págs.), Sérgio Haddad explica que seu biografado tinha pouco a ver com a caricatura feita pelo bolsonarismo. “Freire nunca foi comunista. Era um cristão humanista, preocupado com a igualdade e com a justiça social”, afirma.

O professor foi um dos primeiros alvos da ditadura. Treze dias depois do golpe de 1964, os militares extinguiram seu Plano Nacional de Alfabetização. Ele foi preso duas vezes, acusado de ser “um criptocomunista encapuçado sob a forma de alfabetizador”.

“Freire nunca defendeu uma educação partidária. Defendia que os alunos pudessem discutir seus problemas na escola, o que assustava as elites conservadoras da época”, esclarece Haddad. “Agora que estamos vivendo outro momento de intolerância, ele passou a ser usado como bode expiatório para nossos fracassos no setor. Isso faz parte do universo das fake news”.

O dicionário “Houaiss” define “energúmeno” como “pessoa que age com violência, de forma irracional, brutal; desequilibrado, desatinado; indivíduo ignorante, boçal, imbecil”. A palavra não se aplica a quem dedicou a vida à causa da alfabetização. Comnbina melhor com políticos que desprezam a educação, a cultura e o conhecimento.


Bernardo Mello Franco: Bolsonaro inventou o calote ideológico

Bolsonaro inventou uma nova modalidade de calote. Questionado sobre a dívida bilionária do Brasil com a ONU, alegou que a entidade estaria “aparelhada”

Jair Bolsonaro inaugurou o calote com desculpa ideológica. O Brasil deve cerca de R$ 1,7 bilhão às Nações Unidas. Se não quitar parte do débito até o fim do mês, poderá perder o direito a voto.

O Ministério da Economia alertou o Planalto para o risco do vexame diplomático. Ontem o presidente indicou que não pretende coçar o bolso. “Não estou preocupado com isso”, disse. “Muitas decisões da ONU não interessam para a gente. A gente sabe que está politizado esse negócio. Está aparelhado”, acrescentou. Ao ser lembrado de que o Brasil pode ser retaliado, ele deu de ombros. “Paciência”, desdenhou.

O calote internacional não é invenção do atual presidente. Dilma Rousseff também deixou de cumprir suas obrigações com a ONU. Suspendeu os pagamentos em 2014, no início da crise econômica. Deixou uma dívida superior a R$ 1 bilhão, quitada no governo de Michel Temer.

A diferença entre os dois casos é que a petista culpou a recessão e prometeu assinar o cheque quando pudesse. Bolsonaro preferiu se vangloriar do calote. É como se ele dissesse às Nações Unidas: “Devo, não nego, não pago enquanto puder”.

O capitão já deixou claro que não entende a importância da diplomacia. Ontem ele quebrou uma tradição de três décadas ao boicotar a posse do novo presidente da Argentina, Alberto Fernández. Desde a redemocratização, nenhum chefe de Estado brasileiro havia deixado de ir a Buenos Aires para esse tipo de cerimônia.

Em Brasília, o presidente disse estar “torcendo para que a Argentina dê certo”. É pouco para quem tentou interferir nas eleições do país vizinho, lamentou o resultado das urnas e se recusou a cumprimentar o candidato vencedor.

O Brasil não tem nada a ganhar com o isolacionismo. Ao hostilizar a ONU, Bolsonaro tentou imitar Donald Trump, que se lixa para a cooperação internacional. O problema é que o americano também despreza quem o bajula. Foi o que ele demonstrou na semana passada, ao ameaçar impor novas tarifas sobre as nossas exportações de aço e alumínio.


Bernardo Mello Franco: Um livro, um filme, um país

Novo livro da antropóloga Lilia Schwarcz discute as raízes do nosso atraso: mandonismo, desigualdade, confusão entre público e privado

O Brasil tem uma história muito particular. A constatação abre “Sobre o autoritarismo brasileiro”, livro em forma de ensaio da antropóloga Lilia Schwarcz. A autora conduz o leitor por um passado que insiste em se fazer presente. Nele estão as raízes do nosso atraso: o mandonismo, a desigualdade, a confusão entre o público e o privado.

O desprezo pelo ensino superior é uma das chagas mais ancestrais. As primeiras universidades da América Latina datam do século XVI: São Domingos (1538), Lima (1551), Cidade do México (1551). Aqui as elites preferiam mandar seus filhos para a Europa. Só mudaram de ideia no século XIX, depois que Napoleão obrigou a Corte a se refugiar na colônia.

O Brasil foi o último país das Américas a abolira escravidão. Lili a observa que a Lei Áurea libertou, mas não integrou. Depois de 131 anos, a clivagem racial persiste. Os jovens negros têm 2,5 mais vezes de chance de ser assassinados que os brancos .“Criamos uma nação profundamente desiguale racista ”, escreve.

A antropóloga desmonta o discurso de que haveria “coitadismo” ou “mimi-mi” na luta por inclusão. “Faz parte dos discursos conservadores ignorar e desautorizar demandas das minorias”, afirma. “Enquanto persistir o racismo, não poderemos falar em democracia consolidada.”

O brasileiro gosta de se ver como “tolerante” e “pacífico”. Essas definições, argumenta a autora, têm pouca conexão coma realidade. “Não sobrevivem a um enfrentamento no campo, a uma batida da polícia nas cidades, a uma discussão entre políticos, a uma briga no trânsito.”

A política, por sinal, ocupa boa parte do livro. Lilia lembra que a captura do Estado por interesses particulares vem de longe. “Por aqui sempre fez falta o interesse pelo coletivo”, observa. “Como nossa República é frágil, ela se torna particularmente vulnerável ao ataque de seus dois principais inimigos: o patrimonialismo e a corrupção.”

Num salto histórico, a antropóloga vê nas manifestações de 2013 a origem de um processo de radicalização que ainda parece longe do fim. Na visão dela, o impeachment de Dilma Rousseff destampou de vez o “caldeirão de ressentimentos”, liberando os discursos de ódio e a polarização. Ambiente ideal para a ascensão de “pretensos outsiders, políticos autoritários, oportunistas e populistas, que se dizem acima e além dos demais”, escreve. Mais uma vez, o passado ajuda a entender o presente.

Estreia dia 19, na Netflix, o documentário “Democracia em vertigem”. O filme de Petra Costa mergulha nos bastidores da queda de Dilma. Numa das melhores cenas, servidores do Palácio da Alvorada carregam retratos, roupas e até o colchão usado pela presidente deposta. O filme mostra como um deputado do baixo clero conseguiu se projetar na onda antipetista. Numa sequência, ele recebe a equipe de filmagem e exibe, orgulhoso, uma galeria de retratos dos presidentes da ditadura. O dono do gabinete era Jair Bolsonaro.

A coluna volta em julho. Até lá.


Bernardo Mello Franco: Dobradinha suprema

Ofensiva contra a Lava-Jato é o lance mais ousado da dupla Toffoli-Gilmar. Um abriu inquérito; o outro chamou procuradores de ‘gentalha’

O ministro Dias Toffoli iniciou os trabalhos da quinta-feira com um pronunciamento fora do script. Em tom grave, anunciou a abertura de inquérito sigiloso para apurar “denunciações caluniosas” contra o Supremo Tribunal Federal. Alegou a existência de ameaças “à honorabilidade e à segurança” da Corte.

Na sequência, o ministro Gilmar Mendes disparou seu ataque mais radical à Lava-Jato. Chamou os investigadores de “desqualificados”, “cretinos”, “covardes”, “despreparados” e “gentalha”. “Assim se instalam as milícias. O esquadrão da morte é fruto disso”, sentenciou.

Ao fim da sessão, soube-se que o inquérito de Toffoli investigará procuradores de Curitiba e auditores da Receita. O presidente do Supremo dispensou o sorteio eletrônico e delegou o caso ao ministro Alexandre de Moraes. Em outro lance incomum, a Procuradoria-Geral da República não foi consultada ou convidada a participar das apurações.

A ofensiva é o movimento mais ousado da dobradinha Toffoli-Gilmar. Os dois ensaiavam uma ação conjunta desde fevereiro, quando se descobriram na mira do Fisco. Um relatório ligou Gilmar, sua mulher e a mulher de Toffoli a suspeitas de irregularidades financeiras.

Até aqui, a dupla conseguiu ganhar no grito. O ministro da Economia, Paulo Guedes, aceitou a pressão e transformou investigadores em investigados. O secretário da Receita, Marcos Cintra, prometeu “ações punitivas”. Chegou a chamar subordinados de“meliantes”.

O entrosamento entre Toffoli e Gilmar ficou conhecido nas sessões da Segunda Turma. No entanto, a sintonia não se limita aos julgamentos de políticos acusados de corrupção. Em ao menos dois episódios, o ministro mais antigo saiu em socorro do mais novo.

Em 2015, Gilmar livrou José Ticiano Dias Toffoli, ex-prefeito de Marília e irmão de quem o nome indica, de uma ação de inelegibilidade. No ano seguinte, ofereceu um escudo quando o colega foi citado na delação da OAS. Disse que era preciso “colocar freios” nos procuradores, a quem acusou de embarcar em “delírios totalitários”. “Calcem as sandálias da humildade”, prosseguiu. Se o ministro já tiver encontrado um par do seu número, ninguém ficou sabendo.

Há seis meses, a dobradinha ganhou poder inédito com a chegada de Toffoli à presidência do Supremo. Ele já retribuiu o apoio do colega ao comandar a reação contra a Receita. O maior risco para a dupla é exagerar na dose. Em vez de parar os ataques, a nova ofensiva atiçou a militância bolsonarista. Sua nova cruzada é para convencer o Senado a abrir um processo de impeachment contra Gilmar.

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De um ministro que ficou vencido na quinta-feira, quando a Corte despachou para a Justiça Eleitoral processos contra políticos acusados de caixa dois e corrupção:

“Se depois disso a gente ainda derrubar a prisão em segunda instância, vão depredar o prédio do Supremo. E eu sou capaz de sair para jogar pedra também”.


Bernardo Mello Franco: Documentário expõe lado farsesco do impeachment de Dilma

Numa reunião a portas fechadas, senadores discutem estratégias para defender o mandato de Dilma Rousseff. Sem o tom inflamado da tribuna, a petista Gleisi Hoffmann admite que a queda da presidente é questão de tempo. “Nós vamos perder na comissão, isso está claro”, diz. “Vamos falar sério aqui. Se ela voltar, não tem condição de governar”, acrescenta.

A cena está em “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que chega aos cinemas na semana que vem. Será a primeira estreia da safra de documentários filmados durante a crise do impeachment.

A diretora focou suas lentes no Senado, onde se desenrolou o último capítulo da novela. A ação vai de abril a agosto de 2016, quando a presidente é afastada definitivamente. Foram quatro meses e meio de debates inúteis. Quando a partida começou, os dois lados já sabiam qual seria o placar. Mesmo assim, era preciso cumprir o rito previsto na Constituição.

O filme expõe o lado mais farsesco do processo que instalou Michel Temer no poder. Os senadores se atrapalham com os termos da acusação, baseada em pedaladas fiscais e decretos de crédito suplementar. No fim, a autora do pedido de impeachment reconhece que era tudo pretexto. Nas palavras dela, Dilma não seria derrubada por “questões contábeis”.

A professora Janaína Paschoal é responsável por alguns momentos de alívio cômico. Depois de uma fala histriônica, ela repõe as energias atacando uma caixa de Toddynho. Em outra passagem, o peemedebista Raimundo Lira pede a troca da campainha usada para silenciar os colegas. Ele explica que o volume não estava “à altura do momento histórico no Brasil”.

Na maior parte do tempo, não há motivos para rir. Os fatos se sucedem em ritmo monótono, sem muita novidade para quem acompanhou o noticiário da época. A produção também carece de bastidores da ala pró-impeachment. O ponto de vista dominante é o da defesa, que repete o discurso do golpe à exaustão.

O documentário ganha força quando expõe as contradições do processo. Num ponto alto, o ex-ministro Gilberto Carvalho ensaia uma rara autocrítica sobre a derrocada do PT. Com mais de duas horas de duração, o filme fica devendo outras cenas fora do script.