O Estado de S. Paulo: Congressistas têm pior desempenho nas eleições municipais desde 1992

Mesmo considerando os que ainda concorrem ao comando dos Executivos locais, o número de parlamentares eleitos pode chegar a no máximo 18, igualando 2008.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo considerando os que ainda concorrem ao comando dos Executivos locais, o número de parlamentares eleitos pode chegar a no máximo 18, igualando 2008

Daniel Weterman e Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O resultado das eleições municipais 2020 mostra o pior desempenho de deputados federais e senadores na disputa pelas prefeituras em quase três décadas, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Entre os 69 congressistas que se lançaram para os cargos de prefeito e vice-prefeito, apenas quatro se elegeram no domingo e 15 vão disputar o segundo turno. Do total, 50 já perderam a eleição.

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Mesmo considerando os que ainda concorrem ao comando dos Executivos locais, o número de parlamentares eleitos pode chegar a no máximo 18 nas eleições de 2020, igualando 2008, o pior desempenho das últimas oito eleições desde a redemocratização. Isso porque em Recife o segundo turno será disputado entre dois deputados – João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT).

De 1992 para cá, a média foi de 26 congressistas vencedores. Um deputado ou um senador não perde o mandato quando concorre na eleição municipal. Caso ganhe a disputa, um suplente é chamado para ocupar o mandato na Câmara ou no Senado.

Um dos fatores que explicam o baixo número de eleitos é que neste ano também houve o menor número de parlamentares candidatos na série histórica. “Além do ambiente fiscal que os municípios enfrentam, muitos parlamentares preferiram se dedicar ao mandato no Congresso ou por questões partidárias ou incerteza em relação a fazer campanha na pandemia de covid-19”, afirmou o analista político do Diap Neuriberg Dias ao Estadão/Broadcast Político

Com a possibilidade de indicar recursos no orçamento federal e destinar verbas para seus redutos eleitorais, muitos congressistas preferiram ficar na segurança de seus mandatos federais. O cenário difícil para a economia dos municípios após a pandemia do novo coronavírus agrava ainda mais esse quadro, na avaliação do Diap. Dos 69 candidatos, 40 estão no primeiro mandato no Congresso, um número grande de estreantes, de acordo com o analista. “O eleitorado apostou mais na manutenção de políticos experientes na gestão municipal do que em renovação, como se imaginava.”

Dos parlamentares vencedores, apenas dois deputados federais garantiram a eleição para prefeito no primeiro turno: Roberto Pessoa (PSDB), em Maracanaú (CE), e Alexandre Serfiotis (PSD), em Porto Real (RJ). Os outros dois vencedores – Paulinho Marinho Jr (PL), em Caxias (MA), e Juninho do Pneu (DEM), em Nova Iguaçu (RJ) – foram para o cargo de vice-prefeito. No Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO) foi para o segundo turno em Goiânia e Jean Paul Prates (PT) perdeu na primeira etapa da disputa em Natal. 

Para o segundo turno, o PSD e o PT tem três congressistas candidatos, incluindo um senador e deputados. PSB e PSOL contam com dois cada. PDT, Podemos, Solidariedade e PROS tem um deputado federal cada concorrendo na segunda etapa da eleição municipal. 

Com a aposta do eleitorado destoando do quadro da eleição presidencial em 2018, o presidente Jair Bolsonaro elegeu apenas dez candidatos no primeiro turno entre os 59 políticos para os quais pediu votos nas últimas semanas. O cenário também influenciou o baixo desempenho dos congressistas na eleição, de acordo com o analista do Diap.

“A tendência da eleição de 2018 não se confirmou porque o próprio presidente da República saiu do partido depois do primeiro ano de mandato e não criou um novo. Isso enfraqueceu e fragmentou os grupos que vinham ascendendo na política. O eleitor manteve a naturalidade das eleições municipais quando se esperava uma mudança maior”, afirmou Neuriberg Dias.

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