Economia melhora, mas apoio ao governo diminui. É até inacreditável que um governante chegue ao ponto em que o presidente Michel Temer chegou. Apenas 3% de brasileiros acham que seu governo é bom ou ótimo. É um número tão ínfimo e, como a margem de erro é de dois pontos, pode-se dizer sem medo de errar que ninguém o apoia a esta altura. Mesmo assim, as notícias econômicas têm melhorado, o que mostra que o país sabe por que o rejeita.
A melhora da economia reduz o desconforto econômico. A inflação está bem baixa, alguns alimentos tiveram queda de preço, houve queda dos juros, está havendo uma redução no endividamento das famílias, e até os números do desemprego mostram uma pequena melhora nos últimos tempos. O governo Temer tomou medidas acertadas que produziram efeitos concretos na vida das pessoas, como a liberação de R$ 40 bilhões em contas inativas no FGTS e agora outros R$ 15,9 bilhões do PIS/Pasep. Mesmo assim, enquanto a liberação do FGTS fazia diferença na vida de milhões de famílias, aumentou de 70% para 77% os que consideram que o governo é ruim ou péssimo.
As quedas da taxa de aprovação sempre aconteceram no passado nas pioras do quadro econômico, principalmente as súbitas. A recessão começou no final de 2014, mas com toda a campanha publicitária da eleição, o governo Dilma terminou aquele ano com 40% de ótimo e bom e três meses depois estava com apenas 12%. Caiu mais um pouco e chegou a 9% no final de 2015 quando começou a tramitar o impeachment. Uma das razões foi o aumento súbito da inflação. Isso, somado à recessão, derrubou o apoio ao seu governo. Neste ambiente, criaram-se as condições para o afastamento da presidente.
Sempre que há uma piora do quadro econômico, principalmente quando há alta súbita de inflação, a popularidade do governante cai. Foi assim também com o presidente Fernando Henrique em janeiro de 1999.
Com Temer, a situação econômica até melhorou. A inflação que estava perto de 10% está abaixo de 3%. A recessão foi atenuada nos últimos trimestres. Mesmo assim, sua popularidade permanece em queda e chegou a um ponto inimaginável para qualquer governante. Quem pode presidir um país com apenas 3% de aprovação, que pode ser 1%, com a margem de erro? Esse patamar é inédito no Brasil, mas provavelmente deve ser um recorde no mundo.
Nesse quadro de absoluta rejeição, o presidente Temer empreende sua luta para se manter no poder. A população não se deixa levar pela tal agenda positiva. Mesmo quando a notícia é boa, como a da liberação de dinheiro que fica fora do alcance do seu dono, como o do FGTS e o do PIS/Pasep, a população a vê como deve ser vista: uma boa notícia que não altera a avaliação que se faça do governo ou do governante.
O governo entrou de novo em modo de denúncia, quando passa a tramitar pela segunda vez na Câmara um pedido para processar o presidente. Em ambiente assim, a administração piora um pouco mais. E saem coisas como o que saiu ontem no Diário Oficial, em que 70 funcionários do antigo território de Rondônia foram transformados em servidores da União. Essa transposição de funcionários bate de frente com tudo o que se falou até agora de atrasar reajustes salariais de funcionários ou fazer um ajuste na folha de servidores. Só toma uma decisão contraditória assim um governo que, sem qualquer apoio na população, briga para permanecer no poder.
As notícias mais lembradas pelos entrevistados da pesquisa CNI/Ibope foram, pela ordem: “notícia sobre corrupção”, “Lava-Jato”, e a terceira é o dinheiro do ex-ministro Geddel encontrado no apartamento do seu amigo. Ou seja, grande parte da rejeição vem da corrupção.
Como um governo assim, mal avaliado, ligado às notícias de corrupção, com um percentual mínimo de pessoas que o qualificam como “bom ou ótimo” pode se manter? A única explicação é a da corrente formada pelos políticos que se sentem diante da mesma ameaça que paira sobre o governo: as denúncias do Ministério Público. Mesmo assim, eles cobram caro pelo apoio que dão. E isso continuará ocorrendo nos próximos dias na relação entre o governo e a Câmara dos Deputados. Eles tirarão das gavetas os pedidos encalhados porque consideram que agora o governo vai atendê-los em troca do voto na Câmara.