Marcelo Tognozzi: Um caso de amor com o poder

ACM completaria 92 anos em 4.set. ‘Ganhou, perdeu, mas fez História’.
foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

ACM completaria 92 anos em 4.set. ‘Ganhou, perdeu, mas fez História’

Ele viveu um caso de amor com o poder. Começou conquistando o coração do presidente JK quando ainda era deputado no Rio de Janeiro. Desde então conversou com todos os presidentes. De Jânio Quadros a Lula. Exibia uma habilidade e sofisticação para a política muito próprias; ganhou, perdeu, mas acima de tudo fez História. Antonio Carlos Magalhães, o ACM, completaria 92 anos no último dia 4 de setembro.

Poucos políticos foram tão polêmicos. E raros os que souberam exercer sua autoridade sem abrir mão um milímetro sequer. Ele explicava: “Quando você é eleito as pessoas querem que você exerça sua autoridade, isso é intransferível. Elas querem que você mande e quando você não manda, alguém vai mandar por você”. Esta é a lógica do poder, a mesma que levou o presidente Bolsonaro a dizer em alto e bom som para seu eleitorado que quem manda no governo é ele. ACM demitiu um secretário de segurança depois que um grupo de argentinos foi assaltado em Salvador. Mandou chamar os turistas, pediu desculpas e virou notícia dentro e fora do Brasil.

Na época da Constituinte, foram inúmeras as vezes que os repórteres dos principais jornais e revistas acompanharam as votações no gabinete do então ministro das Comunicações a poucos metros do Congresso. Mandara instalar um sistema de transmissão com alto-falantes igual ao que havia nos gabinetes dos parlamentares. Conforme as sessões da Constituinte avançavam, ia analisando o andamento dos trabalhos, dando dicas. Desta forma seduzia veteranos e calouros. Cada um na sua medida. ACM brincava dizendo que a mídia era safada, mas precisava ser seduzida.

Quem teve a oportunidade de conviver com ele aprendeu a entender seu temperamento: não admitia incompetência, tinha desprezo pelos bajuladores e um prazer todo especial em “tratar os adversários”. “Nada impede que eu pegue o telefone para conversar com um adversário. Prefiro chamá-los de adversários, não de inimigos. Acho que não tenho inimigos. Se tenho, a culpa não é minha. Eles é que se tornaram. Nesse ponto, concordo com o ex-presidente Castello Branco: Eu não sou teimoso, teimoso é quem teima comigo.”

Tinha compulsão por uma boa briga: “O mais importante numa briga é saber escolher com quem a gente vai brigar”. Durante o governo Itamar, criticado pelo então ministro da Justiça, Mauricio Correa, chamou Gaguinho, garçom do Palácio de Ondina, e ordenou que ele respondesse ao ministro. Rompido com o ex-governador João Durval Carneiro, mandou o então deputado estadual Ariston Andrade devolver da tribuna da Assembleia Legislativa uma cueca samba-canção, presente de Sergio Carneiro, filho de João Durval. Brigou com Paulo Maluf, ficou ao lado de Tancredo e se manteve no poder. Foi o principal ministro de Sarney.

Batia e levava. Virou Toninho Malvadeza. Perdeu a eleição de 1986 para Waldir Pires, eleito governador da Bahia com expressiva vantagem sobre seu candidato Josaphat Marinho. Quando governava pela terceira vez a Bahia amargou outra derrota: Lídice da Mata venceu a eleição para a prefeitura de Salvador, derrotando Manuel Castro. Em 2001 foi obrigado a renunciar ao mandato de senador depois do escândalo da violação do painel de votação do Senado na sessão que cassou o mandato de Luiz Estevão. Foram derrotas doloridas. Mas seu pior momento foi a morte prematura do filho Luís Eduardo, ex-presidente da Câmara, vítima de um infarto fulminante em 1998.

Nos seus últimos anos de vida trabalhou para manter o poder na Bahia. Mas acabou sendo vencido por Jacques Wagner, eleito governador pelo PT, reeleito e que manteve o poder elegendo e reelegendo o sucessor Rui Costa. O caso de amor entre ACM e o poder acabaria ali. Ele morreria menos de um ano depois.

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