Seminário da FAP debate sustentabilidade e inclusão social neste sábado (10), em Brasília

“Não há como dissociar desenvolvimento sustentável e inclusão social da discussão do modelo econômico do país”, afirma a especialista em sustentabilidade Maria Amélia Rodrigues.
Banner do Seminário sobre desenvolvimento sustentável e inclusão social

“Não há como dissociar desenvolvimento sustentável e inclusão social da discussão do modelo econômico do país”, afirma a especialista em sustentabilidade Maria Amélia Rodrigues

Por Germano Martiniano

O desenvolvimento sustentável e a inclusão social são os temas do seminário que a Fundação Astrojildo Pereira realiza neste sábado (10), das 10 às 17h, no auditório da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, em Brasília. O evento, o terceiro a integrar um ciclo de discussões que visam produzir material para o Congresso Nacional do Partido Popular Socialista (PPS), previsto para ocorrer no final deste mês em São Paulo, terá transmissão ao vivo pelo perfil da FAP no Facebook, por meio do endereço facebook.com/facefap/.

Acompanhe ao vivo, a segunda etapa do seminário:

https://www.facebook.com/facefap/videos/1485206521589804

 

Reveja abaixo a primeira etapa do seminário, realizado na manhã deste sábado, 10/03/2018, em Brasília.

https://www.facebook.com/facefap/videos/1484960741614382

 

As discussões que visam produzir material para o Congresso Nacional do Partido Popular Socialista foram iniciadas no último dia 24/2, quando foi realizado o seminário “Novo pacto entre estado e a sociedade brasileira”; e continuadas em 3/3, data do segundo evento, que teve o tema “O Brasil em um mundo em transformação”. Agora, como a temática do desenvolvimento sustentável  ganha, a cada dia, mais notoriedade nas políticas globais, é a vez de se discutir questões como a do aquecimento global e todas suas conseqüências, as quais têm obrigado os países a buscarem alternativas que agridam menos o meio ambiente, de modo a preservá-lo para as gerações futuras. Portanto, qualquer projeto político que se pense hoje para o Brasil, ainda mais em ano de eleições presidenciais, deve trazer ações concretas para os temas da sustentabilidade e da inclusão social.

 

 

Seminário
Na mesa estarão o senador (PPS-DF) e presidente do Conselho Consultivo da FAP, Cristovam Buarque; a economista e PhD em Desenvolvimento Sustentável, Maria Amélia Rodrigues da Silva e o secretário executivo do evento, André Amado. Entre os participantes estarão Alba Zaluar, Aldo Pinheiro da Fonseca, Antonio Carlos Máximo, Benjamin Sicsu, Elimar Pinheiro do Nascimento, Felipe Salto, Francisco Inácio de Almeida, George Gurgel de Oliveira, Lucilia Helena de Carmo Garcêz, Marco Lemgruber, Marcos Terena, Paulo Morais Santa Rosa, Sônia Francine Gaspar Marmo, Victor Missiato e Vladimir Carvalho da Silva.

Para antecipar alguns assuntos da pauta que serão discutidos no seminário, a FAP entrevistou Maria Amélia Rodrigues. Para a especialista em Desenvolvimento Sustentável, tão importante quanto a temática da sustentabilidade é a questão da inclusão social. “Não se pode falar em desenvolvimento sustentável em um país em que 0,5% da população detém a mesma riqueza a base dos 50% ou quando crianças comprometem irreversivelmente sua capacidade intelectual por passarem sua infância com infecções intestinais decorrentes da falta de saneamento básico”, critica.

Confira, a seguir, trechos da entrevista:

FAP – Você afirma que não há como dissociar desenvolvimento sustentável e inclusão social da discussão do modelo econômico do país. O Brasil, historicamente, é um país que é negligente com a natureza. Para a senhora, qual a principal causa do nosso atraso em relação às causas ambientais?

Maria Amélia Rodrigues da Silva – Historicamente não tem sido prioridade aliar produção à qualidade ambiental e equidade social. O agronegócio, por exemplo, teve um crescimento excepcional em biomas, como o Cerrado, mas sua expansão pode comprometer as nascentes dos principais rios do país, além da própria biodiversidade, pelo uso excessivo de adubos químicos, herbicidas, pesticidas e agrotóxicos em geral. Na Amazônia, apesar de 40% das áreas estarem legalmente protegidas, grande parte está sob constante ameaça pelas grandes obras hidrelétricas, empreendimentos agropecuários e minerais, expansão dos eixos de escoamento logístico etc. As marcas da poluição hídrica e atmosférica dos grandes centros urbanos da Região Sudeste são reveladoras do histórico descaso com a questão ambiental, bem como com os problemas sociais, pela proliferação de “aglomerados subnormais” e a falta de acesso a serviços básicos por grande parte da população. E por que essas questões não tem sido prioridade? Porque tem custo. Além do que commodities voltadas para o mercado externo têm isenção de impostos, o que significa menos recursos para os cofres públicos cuidarem das questões socioambientais, por exemplo. Isso sem falar da corrupção, que desvirtua tudo!

O Brasil é um país agroexportador. A indústria do agronegócio tem tido avanços em relação a uma produção mais sustentável, ou ainda se encontra longe disso?

Há avanços louváveis. Nos últimos anos houve um significativo aumento da produção, sem que tenha ocorrido expansão proporcional em termos de área utilizada, isto é, houve aumento de produtividade. Mas, este crescimento tem se dado a partir do uso excessivo de pesticidas, herbicidas, adubos químicos que podem atingir os cursos d’água, o lençol freático, bem como afetar a biodiversidade; a prática da monocultura deixa também o sistema mais vulnerável às pragas, assim como o uso intensivo do solo exaure os macro e os micronutrientes. A desertificação por práticas agrícolas inadequadas é uma realidade crescente na região Nordeste. Mais uma vez, é necessário inserir as questões socioambientais no centro do tema agronegócio e não apenas como uma questão periférica.

Fonte: http://blog.perfarm.com/agricultura-no-brasil/

Desenvolvimento sustentável e inclusão social são políticas que andam juntas? Como se dá este processo?

Certamente, a dimensão social é um dos três pilares da sustentabilidade – os outros dois são o econômico e o ecológico. Não se pode falar em desenvolvimento sustentável em um país em que 0,5% da população detém a mesma riqueza a base dos 50%; quando crianças comprometem irreversivelmente sua capacidade intelectual por passarem sua infância com infecções intestinais decorrentes da falta de saneamento básico.

As cidades brasileiras são o reflexo do desequilíbrio social: moradores de ruas, favelas, falta de saneamento básico e violência, entre outros problemas. Como pensar em inclusão social e desenvolvimento sustentável a partir das cidades? O que falta?

Esse quadro é o reflexo de um modelo político-econômico excludente que, historicamente, não universalizou a cidadania. O que precisamos realizar é o resgate da cidadania. E a educação é a base para a formação desta cidadania, mas uma educação de qualidade que valorize o docente, que promova, de fato, uma formação cidadã reflexiva e não apenas tecno-produtivista. A educação, sem dúvidas, deve estar no topo das prioridades do próximo governo.

No último seminário realizado pela FAP – “O Brasil no mundo em transformação” -, muito se discutiu sobre o papel do Estado e que sua readequação, e até redução se faziam necessárias para o país reencontrar um rumo. Na questão ambiental, como avalia o papel do Estado? Precisamos de um Estado forte e presente?

Até mesmo os defensores dos mecanismos de mercado, enquanto ferramenta indutora de mudança de comportamento, por afetar o bolso, reconhecem a importância dos instrumentos de comando e controle, isto é, da ação enérgica do Estado quando se trata de meio ambiente. Portanto, não se pode prescindir da ação fiscalizadora e coercitiva do Estado, porém se o agente que está cometendo o ilícito ambiental perceber que, em termos econômicos, compensa permanecer nesta circunstância ele, não vai mudar sua atitude. Isso significa que, para ser efetiva, a política ambiental deve ser exercida a partir de uma combinação eficiente de ferramentas, inclusive de instrumentos de comunicação.

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