Day: novembro 26, 2021

Bernard Appy: "É preciso simplificar impostos para a economia crescer"

Reforma tributária precisa trazer mais racionalidade e equilíbrio para o Brasil ganhar competitividade, avalia o economista

João Rodrigues, da equipe da FAP

O injusto e complexo sistema tributário brasileiro é o tema principal da edição número 37 da revista Política Democrática Online, lançada na última semana pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP). Conduzida pelo diretor-geral da FAP, o sociólogo e consultor legislativo do Senador Federal Caetano Araújo, e pelo diretor da revista, o embaixador aposentado André Amado, a entrevista especial foi realizada com o economista Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF).

O episódio desta semana do podcast Rádio FAP analisa a importância de uma reforma tributária ampla, que simplifique o pagamento de tributos no Brasil. No programa, são destacados os principais pontos da matéria de capa da RPD Online deste mês de novembro, com Bernard Appy.

A reforma do imposto de renda, interesses setoriais na reforma tributária em discussão no Senado, a importância da cooperação internacional e o combate aos paraísos fiscais estão entre os temas do programa. O episódio conta com áudios da TV Brasil, Jovem Pan News, Rádio Bandeirantes, Nexo Jornal, programa Roda Viva, Jornal da Gazeta e Band Jornalismo.



O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google Podcasts, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues. A edição-executiva é de Renato Ferraz.

RÁDIOFAP




Bolsonaro pode ir a debates em 2022, mas sem perguntas sobre família

Argumento serve para evitar questionamentos sobre as investigações criminais envolvendo os filhos

Natália Bosco / O Globo

BRASÍLIA — O presidente da República Jair Bolsonaro disse que tem a intenção de participar dos debates eleitorais no ano que vem, mas com uma condição: não ser questionado sobre família e amigos. Segundo o presidente, esse tipo de pergunta “não vai levar a lugar nenhum”.

Leia também: Moro disputa com Bolsonaro grupos de apoio decisivos em 2018; saiba quais

— É para falar do meu mandato. Até a minha vida particular, fique à vontade. Mas que não entrem em coisas de família, de amigos, porque vai ser algo que não vai levar a lugar nenhum — disse o presidente em entrevista  ao programa "Agora com Lacombe", da RedeTV!, na noite dessa quinta-feira.


Motociata Acelera pra Jesus. Foto: Alan Santos/PR
Motociata Acelera pra Jesus. Foto: Alan Santos/PR
Bolsonaro cumprimenta o general Eduardo Villas Boas, em cerimônia no Planalto. Foto: Alan Santos/PR
Entrega de espadim aos cadetes na Aman. Marcos Corrêa/PR
Entrega de espadim aos cadetes na Aman. Marcos Corrêa/PR
Presidente visita estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte. Foto: Marcos Côrrea/PR
Cerimônia de entrega de residenciais no Cariri. Foto: Marcos Corrêa/PR
Entrega da "Ordem da Machadinha" em Joinville (SC). Foto: Alan Santos/PR
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Motociata Acelera pra Jesus. Foto: Alan Santos/PR
Motociata Acelera pra Jesus. Foto: Alan Santos/PR
Bolsonaro cumprimenta o general Eduardo Villas Boas, em cerimônia no Planalto. Foto: Alan Santos/PR
Entrega de espadim aos cadetes na Aman. Marcos Corrêa/PR
Entrega de espadim aos cadetes na Aman. Marcos Corrêa/PR
Presidente visita estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte. Foto: Marcos Côrrea/PR
Cerimônia de entrega de residenciais no Cariri. Foto: Marcos Corrêa/PR
Entrega da "Ordem da Machadinha" em Joinville (SC). Foto: Alan Santos/PR
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Caso Adélio: PF reabre investigação sobre atentado a faca em Bolsonaro

A restrição é uma maneira de o chefe do executivo evitar questionamentos sobre as investigações que envolvem seus filhos e aliados. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) são suspeitos de fazerem parte de um esquema de desvio de salário de funcionários de seus antigos gabinetes legislativos, conhecido como "rachadinha". Já Renan Bolsonaro, o Zero Quatro, é alvo de um inquérito da Polícia Federal que apura suspeita de tráfico de influência. Todos os filhos negam qualquer irregularidade.

Saiba mais: Proposta que amplia idade para vaga no STF, como alternativa à 'PEC da Vingança', dá chance a favoritos do Centrão

— Eu pretendo participar de debates. Não pude da última (vez, em 2018) porque estava convalescendo ainda (por conta da facada). Da minha parte não vai ter guerra, eu tenho 4 anos de mandato para mostrar o que fiz agora, eu não posso aceitar provocação, coisas pessoais, porque daí você foge da finalidade de um bom debate.

Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro também afirmou que participaria dos debates, mas não compareceu a nenhum após a facada.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/bolsonaro-diz-que-pretende-participar-de-debates-em-2022-mas-restringe-perguntas-sobre-familia-amigos-1-25293344


“Não estamos vivendo nada de novo no cinema”, diz especialista

Avaliação é da doutora em História e Estética do Cinema Lilia Lustosa, em artigo na revista de novembro

João Vitor*, da equipe FAP

Doutora em História e Estética do Cinema pela Universidade de Lausanne, na França, Lilia Lustosa critica a possível falta de ideias originais no meio cinematográfico mundial que, segundo ela, causa um “surto de remakes no cinema”. Ela abordou o assunto em artigo que produziu para a revista Política Democrática online de novembro (37ª edição).

As refilmagens ou remakes, na avaliação de Lilia, são “uma forma de oferecer ao público uma versão melhorada de um hit do passado, usando tecnologia de última geração”. “Um tiro aparentemente certeiro para atingir grandes bilheterias. Afinal, cinema, além de arte, é também negócio”, continua.

A revista é editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. A instituição disponibiliza, gratuitamente, em seu portal, todo o conteúdo da publicação mensal na versão flip. Lilia também é especialista em marketing.

Clique aqui e veja a revista Política Democrática online de novembro

A autora do artigo analisa o recente lançamento do longa Duna, dirigido por Denis Villeneuve, remake do filme homônimo já convertido em cult, realizado por David Lynch em 1984, como uma possível escassez de ideias para novos roteiros.

Contudo, ela orienta que não haja generalização, pois, conforme ressalta, em alguns casos, pode haver, de fato, razão importante para a reprodução de um sucesso do passado. “Na passagem do cinema mudo para o cinema falado muitos estúdios refizeram alguns de seus títulos no intuito de modernizá-los, já que o público à época não queria mais saber de filme mudo”, afirma.

Na avaliação da autora, o cinema está cada vez mais negócio do que arte. “Mas uma coisa não se pode negar, o tal fim capitalista às vezes pode render uma versão artística de melhor qualidade, como é o caso do novo Duna”, analisa.

A especialista faz um pedido de desculpas aos fãs de Lynch, pois, para ela, a versão de Villeneuve está bem mais interessante e bonita do que a original. “Resta agora aguardar a segunda parte do novo Duna, com previsão para outubro de 2023, para ver se de fato o remake compensa”, pondera.

Veja lista de autores da revista Política Democrática online de novembro

A íntegra do artigo de Lilia Lustosa pode ser conferida na versão flip da revista, disponível no portal da FAP, gratuitamente.

A nova edição da revista da FAP também tem reportagem especial sobre as novas composições familiares e entrevista especial com o economista Bernard Appy, além de artigos sobre economia, cultura e política.

Compõem o conselho editorial da revista o diretor-geral da FAP, sociólogo e consultor do Senado, Caetano Araújo, o jornalista e escritor Francisco Almeida e o tradutor e ensaísta Luiz Sérgio Henriques. A Política Democrática online é dirigida pelo embaixador aposentado André Amado.

*Estagiário integrante do programa de estágios da FAP, sob supervisão do jornalista Cleomar Almeida

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Veja todas as edições da revista Política Democrática online! 


Marco Aurélio Nogueira: Tapetes vermelhos e saia justa

Lula escorregou quando posto diante da questão democracia vs. autoritarismo

Marco Aurélio Nogueira / O Estado de S. Paulo

Nada mais sugestivo da indigência política atual do que a polêmica em torno das declarações de Lula na recente entrevista a El País.

Lula desenhou sua caravana europeia como expediente para se reapresentar ao mundo como o estadista de que se necessita, vivinho da silva depois das acusações de corrupção e da prisão. Deitou e rolou nos tapetes vermelhos que lhe foram estendidos, reiterando suas críticas a Bolsonaro e seus compromissos com o fim da fome, do desemprego, da desigualdade. As audiências apreciaram.

Mas Lula escorregou feio quando posto diante da questão democracia vs. autoritarismo. Afirmou-se um democrata, o que de fato é, mas falou sempre na primeira pessoa, em tom peremptório: eu farei, não permitirei, hei de, não admitirei, e assim por diante. O pior mesmo veio quando perguntado sobre os governos de Nicarágua, Cuba e Venezuela. “Por que Merkel pode governar 16 anos e Ortega, não?”, tascou, para depois acrescentar: greves e protestos existem em todo lugar, não só em Cuba, e em todos os lugares a polícia bate, prende e arrebenta. “O problema em Cuba não é o governo, mas o boicote norte-americano”. Um verdadeiro nonsense para tentar escapar da saia justa.

Aqui no Brasil, a entrevista foi aplaudida e vaiada, como acontece com tudo o que Lula faz e fala. Seus defensores, invariavelmente passionais, sacaram o que imaginavam ser a carta vitoriosa: Lula nada mais fez do que defender a autodeterminação dos povos. Em nome desse princípio, não se poderia criticar os governos de nenhum país, posto representarem a vontade da população. O princípio impediria a intromissão nos negócios realizados em outras nações, aí incluídas as escolhas eleitorais e as opções governamentais.

Não é bem assim.


Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
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Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Lula participa do Festival “Democracia Para Siempre” na Argentina. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
Viagem Lula à Europa. Foto: Ricardo Stuckert
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O argumento é tosco e manipula sem critério uma cláusula complicada do direito internacional. Antes de tudo porque nem sempre o povo escolhe livremente seus governantes. Depois porque a crítica faz parte da política: quem não é capaz de mudar e seguir os humores do tempo está politicamente morto, ainda que respire. O argumento, além do mais, está sobredeterminado por escolhas ideológicas, afinidades eletivas e alinhamentos estratégicos. Vindo pela esquerda, seria justo criticar Hitler, Pinochet e Bolsonaro, mas não Maduro e Ortega. Ora, ora…

O princípio da autodeterminação dirige-se aos povos, não aos governos. Um governo não está qualificado para representar a autodeterminação de sua população. Se um povo escolhe um tirano para governá-lo, é justo que os adversários da tirania façam a devida condenação. Eleições manipuladas, em que candidatos sejam impedidos de competir livremente, não podem ser jamais aceitas.

Ferir o princípio de autodeterminação seria, por exemplo, defender a invasão de um país por outro, ou atuar para impedir um povo de viver livremente. Governantes que oprimem e restringem a liberdade dos governados estão agindo contra a autodeterminação. Há nuances doutrinários na discussão, evidentemente, mas a ideia de autodeterminação não implica se aceitar, digamos assim, que um governo massacre sua população em nome seja lá de que razão for.

A ambiguidade de Lula desdobra-se numa pergunta incômoda: se ele se propõe a governar democraticamente, como então pode se associar a governos não democráticos? Em nome de quê?

Pode-se alegar que Lula quis adular a direção do PT e seus militantes mais radicalizadas em termos ideológicos. O problema é que, ao fazer isso, perde apoio de outros setores do próprio partido e principalmente da sociedade, que não aceitam a defesa de governos que retiram de seus povos precisamente o direito de se autodeterminar, pois cooptam-no, silenciam-no e o impedem de agir com autonomia, independência e liberdade.

O esforço para poupar de críticas governos com os quais foram estabelecidos nexos ideológicos (Cuba, Nicarágua, Venezuela) carrega consigo uma contradição. Se Lula pretende usar seu prestígio internacional como moeda eleitoral no Brasil, nada tem a ganhar adulando autoritários de esquerda. Ao fazer isso, permite que a extrema-direita tenha espaço para adular autoritários de direita e perde força entre os que têm dúvidas sobre sua postura democrática, atiçando o antipetismo que tanto mal já fez ao Brasil.

Estrategicamente, em termos de política externa, a ambiguidade de Lula deve ter incomodado os políticos mais liberais e de centro-esquerda na Europa, que podem torcer por Lula, mas não aceitam que se fuja da reflexão crítica sobre os governos autoritários onde quer que estejam.

A polêmica ficou presa a uma garra do tempo, mostrando que alinhamentos ao estilo da finada “guerra fria”, de triste memória, ainda insistem em atormentar a consciência dos vivos.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/blogs/marco-aurelio-nogueira/tapetes-vermelhos-e-saia-justa/


Luiz Carlos Azedo: Que falta faz um pouco de harmonia a Dória e Leite

O problema do partido nas eleições de 2022 não é a falta de candidatos

Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

Com origem no grego, harmonia é um substantivo que significa concordância ou consonância. Na música, faz toda a diferença, porque é a combinação de sons simultâneos e a sucessão de acordes, ao longo de uma melodia. É uma ciência e uma arte. Nas escolas de samba, porém, o cargo de diretor de Harmonia não tem nada a ver com a bateria, que tem um mestre de percussão que manda e desmanda em todos os ritmistas. O diretor de Harmonia cuida do sentido filosófico do termo, ou seja, da paz entre pessoas, da concordância de opiniões e sentimentos dos integrantes da escola.

Não é uma tarefa fácil, pois se trata de respeitar e manter, de forma equilibrada e justa, os interesses das partes do todo. É o diretor de Harmonia, por exemplo, que organiza e arma o desfile da escola de samba na avenida. Quem já viu uma concentração antes do desfile no Sambódromo, tem ideia de como essa tarefa é difícil. BPois não é que o PSDB está como uma escola de samba conflagrada às vésperas do carnaval? O problema do partido nas eleições de 2022 não é a falta de candidatos, é a ausência de Harmonia.

As prévias da legenda para escolha do candidato a presidente da República ameaçam implodir o partido, tamanha a confusão e a confrontação entre os partidários do governador de São Paulo, João Doria — coadjuvado pelo ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Netto —, e o governador do Rio Grande do sul, Eduardo Leite. Concebida para permitir amplo debate político, participação democrática de filiados e mandatários, e uma composição política entre os pré-candidatos, após a apuração dos resultados, para unir o partido, as prévias aprofundaram as divergências. Além disso, foram um vexame organizacional, porque o aplicativo de votação entrou em colapso logo após o início das prévias, no domingo passado.

Ontem, a cúpula da legenda anunciou uma nova rodada de testes de um novo aplicativo, sem ainda definir a data de retomada das prévias. Apenas 8%, dos quase 44 mil votantes previstos, conseguiram confirmar o voto. Há três versões para o episódio: uma seria a falha do próprio aplicativo, desenvolvido por uma universidade gaúcha; outra, a sobrecarga do servidor; a terceira, no terreno das teorias conspiratórias, um ataque de hacker.

Essa hipótese acirra as suspeitas de sabotagem entre os principais protagonistas da disputa. Nos cálculos do grupo de Doria, as prévias já estariam decididas a seu favor, no âmbito dos mandatários da legenda. Para o grupo de Leite, a disputa estaria muito equilibrada e ainda pode ser decidida pelos filiados. Qualquer que seja o resultado, porém, as prévias somente serviram para desgastar os dois governadores, e para ameaçar a própria sobrevivência do PSDB.

Nó apertado
Será muito difícil evitar um racha. Caso Doria vença, a dissidência do ex-governador Aécio Neves e outros caciques da legenda, inclusive de São Paulo, já está contratada. Menos provável, a vitória de Leite implodiria a legenda em São Paulo. Doria e Leite estão sendo atropelados pelo Podemos, com o lançamento da candidatura do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Tradicionalmente, paulistas e gaúchos não se bicam. Protagonistas da expansão territorial do país no período colonial, ambos têm tradição de resolver as disputas pela força e colecionam ressentimentos políticos, em razão da Revolução de 1930 e da Revolução Constitucionalista de 1932. Pode ser que a disputa tucana vire uma Batalha de Itararé, aquela que não aconteceu, no município paulista do mesmo nome, na divisa com o Paraná.

Na Revolução de 1930, quando Getulio Vargas partiu de trem para o Rio de Janeiro, esperava-se que ocorresse um grande confronto com as tropas paulistas no local. Mas a cidade acolheu Getulio na estação ferroviária, permitindo sua entrada em São Paulo. O presidente Washington Luís foi deposto em 24 de outubro daquele ano, após a chegada triunfal dos gaúchos ao Rio de janeiro.

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, porém, Itararé foi uma das frentes de batalha. Os paulistas consideravam que São Paulo estava sendo tratado como terra conquistada, sendo governada por tenentes de outros estados, e sentiam, segundo eles, que a Revolução de 1930 fora feita contra São Paulo. O fotógrafo Gustavo Jansson registrou, em 1934, as ossadas recolhidas no cemitério local como de soldados do 8º Regimento de Passo Fundo (RS), mortos em 32, prova de que houve confrontos entre paulistas e gaúchos, que duraram três dias.

Feito o registro histórico, vem bem a calhar um samba de quadra de Olivério Ferreira, mais conhecido como Xangô da Mangueira, por décadas o diretor de Harmonia da tradicional Estação Primeira. Intitulada A gente com briga não chega lá, diz a canção: “A gente com briga não chega lá/A gente com briga não chega lá/ Afrouxe um pouquinho daí/ Que eu afrouxo um pouquinho de cá/ Vamos afrouxar a corda/ Pra esse nó se soltar/ Quanto mais a gente estica/ Mais o nó vai apertar/ E depois a gente fica/ Com vontade de chorar/ E depois a gente fica/ Com vontade de chorar.”