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PPS lamenta morte do ex-governador da Bahia Waldir Pires

O presidente do PPS, Roberto Freire, divulgou nota pública lamentando a morte do ex-governador da Bahia, Waldir Pires, aos 91 anos, nesta sexta-feira (22), em Salvador.

Ele teve intensa atuação política no Legislativo e Executivo. Foi deputado estadual, em 1954, e deputado federal em 1958, quando atuou como vice-líder do governo Juscelino Kubitschek. Foi governador da Bahia, entre 15 de março de 1987 e 14 de maio de 1989, e voltou novamente à Câmara Federal, nos períodos 1990-1994 e 1999-2003.

Para o PPS, a “Bahia e o Brasil perderam, no dia de hoje, um modelo de político e de homem público, com formação intelectual e acadêmica das mais destacadas”.

“Perda de um político de rica trajetória
A Bahia e o Brasil perderam, no dia de hoje, um modelo de político e de homem público, com formação intelectual e acadêmica das mais destacadas, o cidadão Waldir Pires, vítima de uma parada cardiorrespiratória, aos 91 anos de idade, em um hospital, em Salvador.

Ele dedicou a sua rica e enriquecedora vida à política e à atividade pública, tendo exercido mandatos populares os mais diversos, e cargos públicos os mais importantes. Foi eleito deputado estadual, em 1954, e deputado federal em 1958, quando atuou como vice-líder do governo Juscelino Kubitschek.

Foi governador do seu querido Estado natal, entre 15 de março de 1987 e 14 de maio de 1989, e voltou novamente à Câmara Federal, nos períodos 1990-1994 e 1999-2003, quando tivemos uma fraterna convivência, e sua última atividade parlamentar foi como vereador de Salvador, entre fevereiro de 2013 e dezembro de 2016.

Em termos de cargos públicos, em 1950, aos 24 anos, foi secretário de Estado da Bahia durante o governo de Pacheco Pereira. No mesmo ano, casou-se com Yolanda Avena Pires, falecida em 2005.

Em 1963, foi escolhido pelo governo João Goulart para o cargo de consultor-geral da República. Com o golpe militar de 1964, deixou o país, aqui retornando após seis anos no exílio, sendo impedido de exercer atividade política, sofrendo perseguições e tendo dificuldades para se empregar. Nesse período, dedicou-se ao trabalho à frente de uma pedreira. Até que em 1978, com o fim do AI-5, recuperou seus direitos e retomou suas atividades políticas.

Destaque-se que ele chegou a ser Ministro de Estado do Controle e da Transparência da Controladoria-Geral da União (em 2003), e Ministro da Defesa (entre 31 de março de 2006 e 25 de junho de 2007), no Governo Lula, e que, além das funções políticas, foi coordenador dos Cursos Jurídicos da Universidade de Brasília (UnB), onde também ensinou Direito Constitucional.

Homem simples, de caráter impoluto (nunca em sua longa trajetória cometeu qualquer deslize de malversação de recursos públicos), era um lúcido combatente pelos ideais da democracia, de um país republicano, sem as absurdas diferenças sociais existentes entre os cidadãos brasileiros.

Em meu nome pessoal, e em nome do Diretório Nacional do Partido Popular Socialista, lamento a imensa perda desta figura exemplar e cuja trajetória nos ilumina na continuidade da nossa batalha, que era também a sua, por um Brasil cada vez melhor, e transmito aos seus familiares nossas fraternas condolências.

Brasilia, 22 de junho de 2018"


Bernardo Mello Franco: O último sobrevivente

Os golpistas já festejavam a vitória quando Waldir Pires se sentou pela última vez diante de sua Olivetti no Palácio do Planalto. Aos 37 anos, o advogado baiano era responsável pela forma jurídica de todos os atos do governo João Goulart. Na madrugada de 2 de abril de 1964, ele escreveu que o presidente havia voado para o Rio Grande do Sul, onde permanecia “à frente das tropas militares legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais”.

O senador Auro de Moura Andrade ignorou a mensagem e declarou vaga a Presidência. Waldir tentou resistir no palácio com Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil. Às duas da manhã, ao ver os militares cercando a área, interpelou o comandante militar do Planalto, Nicolau Fico: “Mas general, o senhor traiu o presidente?”. Menos diplomático, Darcy chamou o oficial de “gorila”. Os dois se mandaram antes que fossem presos.

Nas 36 horas seguintes, Waldir e Darcy viveriam uma aventura de cinema. A primeira tentativa de sair de Brasília fracassou. A dupla quis embarcar num avião da FAB, mas foi informada de que a frota já estava sob comando dos golpistas. “Doutor Waldir, o que o senhor está fazendo aqui?”, surpreendeu-se um major. “Saia logo. Se virem o senhor, vão prendê-lo”, avisou.

No dia 3, o deputado Rubens Paiva começou a montar uma operação para levar os aliados até Porto Alegre. Na madrugada do dia 4, os dois rastejaram pela cabeceira da pista e correram até um monomotor. A torre tentou barrar a decolagem, mas Darcy obrigou o piloto a partir.

Na escala em Mato Grosso, outras más notícias. O combustível não chegou, e a aeronave teve que ser reabastecida com gasolina de caminhão. Pelo rádio, Waldir e Darcy souberam que a resistência havia fracassado. Jango estava em Montevidéu, era preciso mudar a rota para o Uruguai. Na tarde do dia 5, a poucos quilômetros do destino, os viajantes enfrentaram uma tempestade. O piloto precisou forçar o pouso no meio de um rebanho de ovelhas, conta Emiliano José no recém-lançado “Waldir Pires: A Biografia”.

Waldir era o último sobrevivente entre os dez primeiros cassados pela ditadura — a lista incluía Prestes, Jango, Jânio, Brizola, Darcy e Arraes. Mais tarde, seria governador da Bahia, deputado e ministro da Previdência, da CGU e da Defesa. Morreu na sexta-feira, aos 91 anos.