Tabata Amaral

Cristovam Buarque: Quem tem medo de Tabata Amaral

Causa preocupação imaginar que militantes de esquerda se comportam desta forma por discordarem de votos progressistas

Blog Matheus Leitão / Veja

Causa repulsa a grosseria de um machista dizendo que se encontrar a Deputada Tabata Amaral na rua vai bater nela; causa indignação perceber militantes que se dizem feministas e democratas não discordarem desta posição, pelo fato de o autor ser do seu partido; é triste constatar a semelhança como funciona o gabinete do ódio da direita e o gabinete do ódio da esquerda: ameaçam e xingam manipulando informações com mentiras, para criar um clima de medo e ódio.

Mas a repulsa, a indignação e a tristeza são sentimentos individuais, sem consequências políticas. Causa preocupação social e política imaginar que os militantes de esquerda se comportam desta forma por discordarem de votos progressistas, democráticos e responsáveis da Deputada Tabata. As agressões à Deputada mostram comportamento antidemocrático e nostalgia de militantes que em vez de arautos do futuro passam a defender o status quo.

Criticam votos por reformas necessárias para desfazer prática populista, que as forças conservadoras de direita ou de esquerda sempre usaram no Brasil, impedindo o país de avançar e fazendo o povo pagar, com inflação e dívida pública, os privilégios de minorias e os investimentos em projetos quase sempre socialmente excludentes. Dizer que os votos da deputada Tabata são contra educação, repete o combate à  abolição da escravidão dizendo que a economia seria prejudicada, ou a luta contra a obrigatoriedade de vacina dizendo que é um instrumento comunista. Nada pior para a educação do que financiar com inflação os gastos públicos que beneficiarão sobretudo às classes privilegiadas, jogando desempregados na miséria e remunerando o empregado, inclusive professor, com o cheque sem fundo da moeda desvalorizada. Obrigando o professor a fazer greves para recuperar perdas de seus salários.

A reação agressiva de “exquerdistas” deve ter razão psicanalítica:

sabem que assumiram o negacionismo diante das mudanças no mundo, ficaram sem rumo e sem vigor transformador, caíram na nostalgia e reagem ao ver as posições progressistas e corajosas da Deputada Tabata, votando por reformas que o futuro exige, que a eficiência precisa e a justiça carece.

O ódio à Tabata vem do medo à Tabata.

Ao apontar para o futuro progressista, responsável e democrático ela desmascara o reacionarismo, a irresponsabilidade, o populismo, o corporativismo, o machismo e o antidemocratismo dos que a xingam. Sem espírito democrático, sem propostas transformadoras nem vigor reformista, prisioneiros do corporativismo e do passado e sem argumentos convincentes optam pela ameaça para esconder o próprio reacionarismo. A decadência que se percebe no Brasil, devido décadas de políticas populistas irresponsáveis e insustentáveis, agravada por um presidente desequilibrado, indica que Tabata Amaral está mais comprometida com o progresso, do que seus acusadores reacionários, tanto os de direita quanto os de “exquerda”.

A política continua dividida entre os que querem construir um mundo melhor e mais belo, com justiça, eficiência e sustentabilidade, e aqueles que nostalgicamente querem a volta ao passado: a manutenção do mundo injusto, ineficiente e insustentável. A direita assume sua nostalgia perversa

Sem dor na consciência, a “exquerda”, envergonhada pelo obsoletismo de suas ideias e por defender privilégios, alia-se à direita em sonhos e promessas nostálgicas. Tabata Amaral faz parte de um grupo de jovens políticos responsáveis, progressistas e democráticos em busca de futuro melhor e mais belo para o Brasil e o povo; representa o novo e isto irrita e desperta ódio aos que trocaram a luta pelo futuro, pela defesa do passado. Assusta aos que fazem política com slogans, no lugar de ideias, e reagem ameaçando bater nela até a polícia chegar.

Discordo da Deputada Tabata quando ela manifesta dúvida sobre a conveniência de voto no Lula ainda no primeiro turno, mas entendo sua preocupação diante de um governo Lula rodeado por esta “exquerda”. Assusta o risco de trocar um ministro da cultura que usava símbolos nazistas por outro que ameaça bater em uma deputada, porque discorda dos votos progressistas que ela tem a lucidez e a coragem de afirmar.

*Cristovam Buarque é ex-senador, ex-governador e ex-ministro. É também uma das vozes mais lúcidas da política brasileira

Fonte: Veja
https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/quem-tem-medo-de-tabata-amaral-por-cristovam-buarque/


Guilherme Mendes: Previdência - 379 a 131

Eu não acredito que a reforma da previdência esteja separando ainda mais a esquerda da direita. Essa votação está dividindo os políticos responsáveis dos políticos irresponsáveis e populistas.

Divide Ciros Gomes de Tabatas Amarais

Por que a jovem Tabata é a favor da Reforma da Previdência?

1. Se a reforma da previdência vai sair 83% dos que ganham até 2.000 reais, segundo Ciro?

Porque esse número te induz ao erro. É evidente que 35 milhões de aposentados no setor privado vão economizar mais dinheiro, em valores absolutos, do que apenas 700 mil servidores públicos. Por outro lado, a economia por cabeça atinge 5x mais o servidor público, que hoje se aposenta com R$ 9.179 em média (Insper) contra os R$ 1.200 em média dos trabalhadores do setor privado.

2. Se a expectativa de vida no Maranhão é de 70 anos e em Santa Catarina de 80, fazendo assim que apenas as pessoas do Sul e Sudeste possam se aposentar antes de morrer?

Porque esse raciocínio não faz sentido se a gente levar em conta a demografia. Expectativa de vida ao nascer é uma coisa e dentro dessa estatística estão as pessoas que morrem assassinadas, em acidentes, no nascimento, por doença crônica, etc. Expectativa de vida dos aposentados é outra coisa e aí os Estados ficam mais próximos. Um aposentado morre, em média, aos 83 em Rondônia e aos 86 no Espírito Santo. A diferença cai muito entre o Estado com pior e melhor estatística.

3. Se o trabalhador dos Estados do Sul e Sudeste se aposentam 8 anos mais cedo que o trabalhador do Norte e Nordeste?

Porque essa é justamente uma das principais desigualdades que a Reforma da Previdência corrige. O trabalhador do Sul e Sudeste se aposenta antes porque se aposenta por “tempo de contribuição” - comprova facilmente porque consegue empregos estáveis, fica a maior parte da vida na formalidade. Já o trabalhador do Norte e Nordeste se aposenta por “idade mínima”, já que passa a maior parte do tempo na informalidade, sem emprego com carteira assinada. Com a reforma, os trabalhadores serão submetidos todos à idade mínima para se aposentar, o que obrigará os sulistas e do Sudeste a trabalharem mais.

4. Se a proposta de modificar o BPC (Benefício de Prestação Continuada) é ruim para as pessoas em situação de miserabilidade?

Porque essa modificação no BPC é mesmo prejudicial, e não será realizada, a Comissão Especial tirou isso do texto.

5. Se as DRU (Desvinculações de Receitas da União) flexibilizam o orçamento público, permitindo retirada de dinheiro da seguridade para pagar dívidas públicas com bancos, por exemplo?

Porque as DRU retornam integralmente como recursos de livre alocação para cobrir as despesas da seguridade, inclusive da previdência, isso segundo o relatório final de fórum criado pela própria Dilma Rousseff.

6. Se a grande maioria da população pobre vai ter sua aposentadoria rebaixada, e essa é uma reforma racista pois a maioria da população pobre é negra?

Porque isso simplesmente não é verdade. Se a pessoa contribuir os 20 anos mínimos (homem) e 15 anos mínimo (mulher), ela se aposenta com 60% da média salarial durante a vida, e ganha 2% por ano a mais trabalhado até atingir 100% com 40 anos. Como o salário mínimo aumentou muito nas últimas décadas, a reforma da previdência atrela o piso ao salário mínimo.

7. Se o trabalhador rural vai ser prejudicado?

Porque essa modificação é mesmo prejudicial, e não será realizada, a Comissão Especial tirou isso do texto.

8. Se os banqueiros, partidos e empresários, que devem à previdência poderiam ser cobrados, e assim não haveria necessidade de reforma.

Porque isso não faz sentido econômico. Nem político. Economicamente, empresas devem R$ 500 bilhões à previdência, mas apenas 9% disso (45 bilhões) seria possível de recuperar, pois a maioria das empresas decretou falência ou simplesmente não tem condições de arcar com a dívida. Politicamente, essa discussão não faz sentido porque o PL 1646/2019 já tramita em regime de prioridade e visa justamente criar mecanismos para evitar novas dívidas e para acelerar a cobrança das atuais dívidas ativas.

9. Se os militares ficarão de fora da reforma?

Porque isso não é verdade. Os militares estão incluídos na reforma e economizarão R$ 90 bilhões em 10 anos. A questão é que a reforma de seu plano de carreira vai trazer uma despesa da ordem de R$ 80 bilhões, o que reduz a economia deles em R$ 10 bilhões. Essa despesa, entretanto, está sendo gasta com gente da ativa. Vamos então discutir sobre os salários do judiciário, legislativo e dos servidores federais? Acredito que eles não vão gostar de debater sobre isso.

A reforma da previdência incomoda uma boa parcela de políticos porque vai terminar com privilégios da sua classe e daqueles que dependem do Estado para viverem bem. É um atentado ao próprio clã deles.

O Brasil tem hoje a pior previdência social do mundo. Pior que a da Turquia, Grécia e Portugal. Comprometemos, simplesmente, mais da metade dos gastos totais da União apenas com a previdência social (Insper). Isso afasta investidores e diminui nossa capacidade de investimentos em áreas importantes, como infra-estrutura, segurança, educação e saúde.

A reforma que está começando a ser aprovada hoje não divide políticos de esquerda de políticos de direita. Divide políticos irresponsáveis e populistas de políticos que prezam pela eficiência econômica para geração de empregos, riqueza e desenvolvimento.

Divide coronéis Ciros Gomes de Tabatas Amarais. Os que enganam que não pode discenir dos que priorizam o interesse público. Que a sociedade possa identificar isso e ganhar em sabedoria. Não é uma discussão de esquerda e direita. Precisamos de bons políticos de ambos os lados.


William Waack: A escolinha de Brasília

Um choque da política como ela é aguarda os recém-eleitos

Alguns deputados federais recém-eleitos vão para o banco de uma escolinha de política antes de assumirem as cadeiras em Brasília. Conversei informalmente nesta semana numa reunião com quatro desses jovens representantes do povo, que tiveram boa votação por partidos diferentes como PSB, PDT e Novo em Pernambuco, Rio, Minas e São Paulo. Esses quatro novatos na Câmara (João Campos, Tabata Amaral, Paulo Gamine e Tiago Mitraud) pareciam desenvoltos, seguros, articulados e bem falantes – e com claras diferenças políticas entre si.

Em comum, dizem que vão votar pela própria consciência. “Sem caciques?”, veio a pergunta. “Sem caciques”, responderam. “Política como era”, adiantou um deles, “não vai mais ter”. É exatamente o que Jair Bolsonaro disse na terça-feira, no primeiro encontro do presidente eleito com uma bancada partidária, a do MDB. Na saída, o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), disse que seu partido (a expressão consumada da velha política) não vai pedir cargos no novo governo. Todo mundo fingiu que acreditou.

Está decretado o fim do toma lá, dá cá, do presidencialismo de coalizão? Um presidente popular, cavalgando uma onda fortíssima de transformação política, vai conseguir governar sem ter de distribuir cargos, favores, ministérios “porta fechada” a políticos em troca de votos no Congresso? Acho dificílimo beirando o improvável. Por mais que se reconheça o impacto do voto de outubro, o sistema de governo está montado assim.

A renovação da Câmara para 2019 está um pouco acima dos padrões habituais, mas o que interessa sobretudo é a qualidade da renovação – e aqui há tanto boas surpresas quanto muito a desejar. Caciques apanharam, legendas tradicionais foram surradas, mas, paradoxalmente, o novo governo vai sentir falta de operadores capazes de fazer as coisas funcionarem. Afinal, não estamos falando de um ajuntamento de políticos reunidos como se fossem participantes de uma assembleia que só vota sim ou não. O Legislativo é uma instituição não só com muitos poderes, mas também com um acentuado espírito de corpo. Não é à toa que mesmo os recém-eleitos já falam da escolha de um presidente da Casa que não seja “pau-mandado do governo”.

O “fator Lava Jato” (leia-se Sérgio Moro) funcionará como sinal amarelo/vermelho para balizar o comportamento de parlamentares, mas o decisivo será entender que o Congresso continuará funcionando nas comissões técnicas e nas mesas diretoras através de partidos. As tais bancadas suprapartidárias são um ponto de partida, mas não têm a mesma consistência, organização e comando para dar segurança a quem precisa contar com um grande número de votos em matérias complexas. E nesse ponto é que se aguarda, respiração em suspenso, quais lideranças parlamentares surgirão, e como o governo vai lidar com elas.

Os quatro recém-eleitos acima descrevem felizes o fato de não terem dependido de cabos políticos tradicionais, como prefeitos e vereadores – portanto, estão “livres” para votar como quiserem. Mas não é assim com a imensa maioria de Vossas Excelências, que precisam da famosa emenda parlamentar para sustentar a base eleitoral.

Em parte, o governo é refém da promessa de acabar de um golpe só com o fisiologismo. Na ausência de uma profunda e ampla reforma política é temerário acreditar que isso aconteça por súbita “conversão” dos parlamentares (ou pela pressão articulada através de redes sociais). A política tal como ela é, com seus compromissos, negociações, troca de favores e influências – nada disso precisa ser imoral ou ilícito –, é a verdadeira escolinha que aguarda os recém-eleitos.