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Hélio Schwartsman: Sem Trump, o normal volta?

Assim como Trump sucedeu Obama, nada impede que Biden seja sucedido por um neo-Trump

Derrotado Donald Trump, a política nos Estados Unidos volta ao normal? É difícil fazer previsões, mas acho que há duas afirmações que podemos fazer desde já.

A primeira é que, embora a iminente demissão de Trump nos poupe das cenas mais constrangedoras do populismo, as condições socioeconômicas que favoreceram a eleição do magnata laranja em 2016 estão longe de superadas. Assim como Trump sucedeu Obama, nada impede que Biden seja sucedido por um neo-Trump.

A segunda é que está nas mãos dos republicanos definir qual será o jogo daqui para a frente. Não gosto de pintar a história em termos de heróis e vilões, mas é forçoso reconhecer que os republicanos levaram bem mais longe do que os democratas a ideia de que vencer é mais importante do que manter o "fair play" democrático. O Partido Republicano (GOP) precisa decidir se seguirá nessa rota ou tentará algo diferente.

A demografia conspira contra o GOP. As populações que mais crescem nos EUA (hispânicos e negros) costumam votar em democratas. A crescente urbanização reforça a tendência. Ao apostar na tática de guerrilha, os republicanos ampliam seu poder por um tempo, mas não evitam a asfixia demográfica.

Faria mais sentido, creio, modificar o ideário do partido para torná-lo mais convidativo para as minorias que vão ganhando espaço. Os recentes avanços da legenda com latinos da Flórida mostram que isso é factível.

No mais, o posicionamento ideológico de partidos não é algo inscrito em pedra. Inicialmente, o GOP é que era a legenda progressista, defendendo a abolição e reformas econômicas. A troca de posições só ocorreu a partir do início do século 20 e foi lenta. Até os anos 60, os democratas é que representavam o conservadorismo racista no sul do país.

A dificuldade para mudar é que alguém precisaria pensar na sobrevivência do partido além dos dois ou quatro anos que são o horizonte de operação dos políticos.