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Arnaldo Jordy: É guerra mesmo

O Brasil não está em guerra no sentido formal, mas é como se estivesse, tal o escândalo dos números do 11º Anuário Brasileiro do Fórum de Segurança Pública, que foram apresentados ao público nesta segunda-feira, 30. Causa estarrecimento saber que a cada nove minutos uma pessoa é morta violentamente no país. Em 2016, foram exatos 61.619 assassinatos, na sua grande maioria por armas de fogo. O número é equivalente às mortes causadas pela explosão de uma bomba atômica na cidade japonesa de Nagasaki, na Segunda Guerra Mundial. Em cinco anos, 279 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais no país, enquanto a guerra na Síria, no mesmo período, matou 256 mil pessoas.

No ano passado, no Brasil, sete pessoas foram assassinadas a cada hora, o que coloca o Brasil entre os cinco com maiores índices de violência do mundo. O aumento em comparação com 2015 foi de 3,8%. A taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes ficou em 29,9 no país no ano passado.

Apesar desses números estarrecedores, os governos federal, estaduais e municipais gastaram 2,6% a menos com políticas de segurança pública em 2016: R$ 81 milhões. A maior redução foi observada nos gastos do governo federal, com um corte de 10,3%. Infelizmente, parece que o assunto não vem sendo tratado com a devida seriedade.

Os jovens negros e pobres são os maiores alvos das forças policiais, 81% das 21.897 pessoas que perderam a vida em confrontos com a polícia entre 2009 e 2016 tinham entre 12 e 29 anos, 76,2% eram negros e 99,3% homens. Só no ano passado, 4.224 pessoas morreram em decorrência de ações das polícias, um aumento de 25,8% em comparação com 2015. Mas os policiais também estão em risco: 437 policiais civis e militares foram vítimas de homicídio em 2016, com crescimento de 17,5% em comparação com 2015.

No caso das mulheres, os números são igualmente alarmantes. Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. Um total de 4.657 mulheres foram vítimas de feminicídio, quando o assassinato decorre da condição de mulher da vítima. Em 2016, cresceu 3,5% a incidência de estupros, com 49.497 ocorrências no ano passado.

As escolas deixaram de ser lugares de aprendizado em segurança, pois, segundo o Anuário de Segurança Púbica, 40% delas não têm qualquer esquema de policiamento e 70% dos professores já presenciaram agressões físicas ou verbais entre os alunos.

Para nosso desespero, Belém continua entre as capitais mais violentas do Brasil, com a segunda maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes, 64,9, atrás de Aracaju e à frente de Porto Alegre. O Estado do Pará inteiro teve 4.209 pessoas assassinadas em 2016, um crescimento de 10,3% em comparação com 2015. A taxa de mortes por 100 mil habitantes no Estado no ano passado foi de 50,9%, ante 46,1% em 2015. O número é a soma dos homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e policiais civis e militares mortos em confronto ou fora de serviço. Nesse triste ranking, somos o sexto Estado mais violento, atrás de Alagoas, Amazonas, Ceará, Espírito Santo e Minas Gerais, e à frente da Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

Esses números estarrecedores colocam em xeque o próprio modelo de segurança pública brasileiro, que precisa ser repensado para o cenário atual da nossa sociedade e democracia. Considero que apenas a repressão já não funciona para conter a criminalidade, já que muitas vezes contribui para acirrar a violência, provocando o aumento do número de mortes. Em vez disso, será preciso pensar a questão de modo estrutural, promovendo mudanças na sociedade capazes de torná-la mais igualitária e menos injusta, além de modernizar e equipar as forças de segurança, para que possam desenvolver seu trabalho de modo mais efetivo e seguro para todos. Além disso, é preciso incentivar o desarmamento da sociedade. Ao contrário do que muitos pensam, quanto mais armas nas ruas, mais inseguros todos nós estaremos. Uma estratégia precisa ser planejada envolvendo o Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, polícias estaduais, com critérios bem definidos, para enfrentar com inteligência o crime organizado, que tem com o pano de fundo o tráfico de drogas, origem de crimes e violência.

* Arnaldo Jordy é deputado federal pelo PPS-PA e líder do partido na Câmara

 


Violência no trânsito faz Brasil perder R$ 56 bi, mostra pesquisa

O Brasil perdeu com a violência no trânsito R$ 56 bilhões em 2014, quando 43.780 pessoas morreram - 2% a mais que o número de vítimas fatais do ano anterior - e cerca de 600 mil ficaram com sequelas permanentes em razão dos acidentes. Os dados são de levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária, divulgado nesta quinta-feira, 17.

De acordo com a pesquisa, todo o valor usado para pagar os custos com as mortes e tratamento das vítimas de acidentes de trânsito corresponde ao total de repasses do governo federal para todos os Estados da Região Norte do País mais os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

De acordo com José Tiago Bastos, professor de Segurança Viária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e responsável pela pesquisa do Observatório, o valor de R$ 56 bilhões contabiliza o custo social com os acidentes de trânsito, considerando desde o gasto com o atendimento médico (resgate, tratamento hospitalar, reabilitação), infraestrutura (conserto de equipamentos de trânsito danificados com o acidente e custos do atendimento da polícia e bombeiros) até perdas de produção (custo previdenciário e a impossibilidade de o acidentado trabalhar).

Das 43,7 mil mortes registradas no trânsito brasileiro em 2014, 7.032 aconteceram em São Paulo, 4.396 em Minas Gerais e 3.076 no Paraná - Estados brasileiros também com as maiores frotas de veículos. Os três Estados concentraram em 2014 um terço das mortes de trânsito. Todas as regiões do País tiveram aumento nas mortes em 2014. O maior foi na Região Sudeste, com aumento de 4% em relação ao ano anterior.

Houve queda no número de mortes apenas entre pedestres e ciclistas, de 4,5% e 2,6%, respectivamente. Entre os automóveis, motocicletas e ônibus houve aumento de 1,3%, 2,3% e 32,4%, respectivamente de 2013 para 2014.

Para José Aurélio Ramalho, presidente do Observatório, o aumento do número de acidentes de trânsito no Brasil é preocupante. Em dez anos, o País registrou aumento de 23% no número de óbitos. Em 2004, foram 35 mil mortes no trânsito. “E nesse período não foi feito praticamente nada em caráter educacional para mudar essa realidade. Houve aumento de fiscalização e no valor da penalização, mas isso não faz mudar a percepção de risco dos motoristas.”

Para Ramalho, é preciso conscientizar os motoristas. “As pessoas hoje têm medo da penalização, não das consequências de um acidente. Isso tem de mudar.”

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.


Fonte: cidadessustentaveis.org.br


Atropelamento é a causa de 1 a cada 3 mortes nas estradas

Pesquisa de concessionária analisou 19 mil acidentes registrados em 21 estradas de 5 Estados entre janeiro e julho, com 361 mortos

Uma em cada três pessoas mortas nas estradas é vítima de atropelamento. É o que aponta levantamento da Arteris, concessionária que administra 21 rodovias, entre elas a Fernão Dias e a Régis Bittencourt, em São Paulo, com base em casos registrados neste ano. Segundo o estudo, a maior parte dos óbitos acontece à noite e envolve adultos.

A pesquisa analisou 19.164 acidentes registrados entre janeiro e julho, com 361 mortos. O estudo aponta que os atropelamentos são responsáveis por 32% das vítimas em estradas de São Paulo, Rio, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. “Esse tipo de acidente representa 1% das ocorrências, mas quando se fala em gravidade é o que tem o maior porcentual”, diz Elvis Granzotti, gerente de Operações da Arteris. Ele também afirma que as principais vítimas em rodovias são pedestres (28%) e ciclistas (4%) que não estão montados na bicicleta no momento da colisão. Se o ciclista estiver pedalando, o acidente passa a ser classificado como “colisão traseira”. Esse é o segundo tipo mais letal de acidente, com 16% das mortes.

Na visão do especialista, os atropelamentos estão relacionados a uma série de fatores, como o comportamento de motoristas, que desrespeitam limites de velocidade ou trafegam pelo acostamento. “Quando há concentração em uma área, podem ser feitas intervenções: passarela ou calçada”, diz.

O metalúrgico Márcio Aparecido de Camargo, de 40 anos, entrou para a estatística de mortes por atropelamento na Fernão Dias. No domingo, 17 de junho, ele voltava para casa em Bragança Paulista de moto, quando o trânsito parou. Camargo não conseguiu frear e colidiu com o carro da frente. O amigo João Alcides de Souza conta que a batida foi leve, mas Camargo caiu e, quando se levantava, acabou atropelado por um caminhão. O corpo ficou preso à roda do veículo. “O motorista disse que não viu, só parou porque sentiu que algo estava travando a roda”, relata. “O mais difícil foi avisar a família, especialmente a mãe dele. Ele estava em um momento especial, tinha se casado havia poucos meses e estava feliz.”

Em quase trinta anos de experiência, o primeiro acidente do ex-caminhoneiro Domingos Paulo Rosa, de 52 anos, foi tão grave que o tirou da profissão para sempre. Após uma freada brusca de um automóvel à frente, Rosa pisou no freio e tombou. "A polícia acha que foi tentativa de assalto. O motorista do carro da frente entrou na minha frente, me trancando, e freou de repente", afirma. A carreta que dirigia capotou e foi arrastada por cerca de 15 metros.

O ex-caminhoneiro fraturou a tíbia da perna direita, o fêmur da esquerda, a clavícula e quatro costelas. Além disso, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que causou sequelas na visão esquerda e nos movimentos do corpo. O acidente ocorreu em julho de 2015 e até hoje Rosa faz tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional, além de se consultar com psicólogo. "Tem que tomar muito cuidado. Na hora do acidente, não estava pensando em nada. As pessoas precisam ficar atentas", diz.

Em julho, um homem morreu na Fernão Dias, em Atibaia, a 50 metros de uma passarela. “Há quem deixe de usar porque precisa percorrer distâncias curtas ou por questões de segurança, como assaltos”, diz Granzotti. A vítima não portava documentos e não foi identificada pela polícia. Segundo o estudo, 22% dos mortos por atropelamento são andarilhos.

A pesquisa também traça o perfil de veículos, horários e dias dos acidentes. Ao todo, 61% das mortes envolvem carros e 53,7%, motocicletas. Os casos normalmente acontecem entre 18 e 6 horas. “Além do sono, há diminuição de visibilidade, o que aumenta a gravidade do acidente”, afirma Granzotti.

Já na divisão etária, o grupo que concentra a maior parte das mortes é de 35 a 44 anos, com 24,67%. Apenas 5% dos óbitos são de menores de idade.

Fiscalizar

Consultor de trânsito, Flamínio Fichmann diz que o número de acidentes nas rodovias da Arteris impressiona. Para o especialista, o número de acidentes em rodovias pode cair até 50% se houver fiscalização intensiva. “O que diminui acidente é a fiscalização, com blitze em estradas. Mas isso significa aplicação de recursos e aumento de contingente.”

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.


Fonte: cidadessustentaveis.org.br