Ministério das Relações Exteriores

Aloysio Nunes Ferreira: Países mais próximos

Vemos no Oriente Médio nações vibrantes, terra de oportunidades

De hoje a 6 de março, visitarei Israel, Palestina, Jordânia e Líbano. Temos com a região laços históricos e afetivos, pelo papel exercido por imigrantes judeus, libaneses, palestinos e sírios no desenvolvimento nacional e na formação do tecido social brasileiro, e pela contribuição que damos à causa da paz na região, como demonstram nossa participação em operações de paz da ONU e a acolhida a refugiado sírios.

Em Israel, encontrarei o presidente Reuven Rivlin e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel é um país próspero, que se afirma como centro de tecnologia e inovação, com o qual, assim como com a Palestina, o Mercosul mantém acordo de livre comércio. Queremos explorar oportunidades comerciais e de investimento, sem descuidar de outras áreas, em particular a cooperação em defesa, ciência, tecnologia e inovação.

Na Palestina, serei recebido pelo chanceler Riad Malki, pelo primeiro-ministro Rami Hamdallah e pelo presidente Mahmoud Abbas. Vou reiterar o apoio à assistência aos refugiados palestinos e à revitalização do processo de paz, para que a solução de dois Estados possa ser implementada. No âmbito bilateral e multilateral, o Brasil busca executar projetos de cooperação técnica e de assistência humanitária, em áreas como saúde, educação e agricultura. Na Jordânia, encontrarei o chanceler Ayman Safadi, o primeiro-ministro Hani Al-Mulki e o rei Abdullah II. Com a Jordânia, há grande potencial de cooperação que se traduz na exportação de produtos brasileiros para aquele país. Inauguramos, recentemente, mecanismo de consultas, que auxiliará na diversificação de nossas atividades para áreas como agricultura e ciência, tecnologia e inovação.

No Líbano, terei encontros com meu colega Gebran Bassil, com o presidente Michel Aoun, com o primeiro-ministro Saad Hariri e com o presidente do Parlamento, Nabih Berri. Nossos vínculos são históricos e culturais, dado o número de brasileiros de origem libanesa e da comunidade de brasileiros naquele país, e vem se aprofundando nas mais diversas áreas. O Líbano é destino de investimentos brasileiros, tanto na área comercial quanto na infraestrutura. Desde 2011, o Brasil comanda a força-tarefa marítima da ONU incumbida de auxiliar a Marinha libanesa a monitorar o espaço naval e impedir o contrabando de armas.

Ao olhar para essa região, vemos nações vibrantes, dotadas de enorme riqueza cultural, terra de oportunidades formada por pessoas que sonham com um futuro em que paz e prosperidade não sejam um luxo, mas moeda corrente. Viajo com a disposição de escutar e aprender, mas também de transmitir mensagem de amizade e otimismo. Com isso, avançamos na consolidação de uma política externa universalista, que projeta nossos melhores valores, como se espera de um ator das dimensões e responsabilidades do Brasil.

* Aloysio Nunes Ferreira é ministro das Relações Exteriores

 


Aloysio Nunes Ferreira: A diplomacia do biofuturo

Até 2030 a bioenergia precisará ter sua participação duplicada na matriz energética global e seu uso triplicado nos meios de transportes. Projeções elaboradas pela Agência Internacional de Energia Renovável e pela Agência Internacional de Energia indicam que ela será necessária em larga escala, mesmo considerando outras soluções concomitantes, como eficiência energética, energia solar e eólica, eletrificação dos transportes, cidades sustentáveis e maior uso do transporte público.

O setor de transportes – responsável por cerca de um quarto das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) – figura entre os principais desafios para a construção de matriz energética mais sustentável nas próximas décadas. E uma das soluções mais eficazes e de mais rápida implementação para esse setor é a ampliação do uso de biocombustíveis, que produz resultados imediatos na redução da emissão de gases de efeito estufa mesmo em mistura parcial com combustíveis fósseis.

Obstáculos políticos e econômicos, porém, têm dificultado a transição para economia mais limpa no que diz respeito à bioenergia. A difusão de falsa dicotomia entre produção de alimentos e de combustíveis – além da insistente prática do protecionismo agrícola – tem impedido a constituição de mercado internacional para biocombustíveis e sua transformação em commodity global.

A revolução tecnológica que está em curso poderá mudar substancialmente esse panorama. O caso do etanol celulósico ou de segunda geração (E2G) é bom exemplo, já alcançando o estágio de produção em escala comercial no Brasil, nos Estados Unidos e na Itália. Outras tecnologias promissoras começam também a deixar os laboratórios e a atingir escalas de demonstração. O País está na vanguarda da inovação tecnológica na produção de combustível limpo e ambientalmente prudente, fato que contribui para liderança em desenvolvimento sustentável.

A segunda geração de biocombustíveis utiliza como insumo a celulose, a matéria verde que compõe a maior parte da biomassa das plantas. Avanços no uso da celulose podem tornar viável a produção de biocombustíveis em larga escala em diversos países que, de outra forma, não reuniriam as condições para replicar a bem-sucedida experiência brasileira com o etanol de cana-de-açúcar. O aproveitamento da celulose, sem prejuízo de outras formas de biotecnologia, é essencial para o desenvolvimento da bioeconomia, seja como alternativa, seja como complemento da indústria petroquímica na produção de plásticos, químicos e medicamentos.

Subsiste o desafio de alcançar escala de produção. Será preciso aperfeiçoar os processos em todas as etapas da cadeia produtiva e proporcionar ambiente de negócios favorável ao setor. Nessa nascente corrida tecnológico-industrial, o Brasil pode largar entre os líderes mundiais, desde que decisões corretas sejam tomadas.

É importante esclarecer que não há conflito de interesses ou concorrência entre a primeira e a segunda geração de biocombustíveis. O etanol de cana-de-açúcar, de primeira geração, é sustentável, não compete com alimentos e traz benefícios climáticos e ambientais. Essa fase continuará como base da produção no setor, com eficiência incrementada pela segunda geração. O desenvolvimento de uma avançada bioeconomia global, que se fortalece com biocombustíveis de segunda geração e bioprodutos, será de grande benefício para o País, que reúne as condições para ser um dos mais competitivos produtores mundiais.

O Itamaraty, em coordenação com outras áreas do governo e com o setor privado, tem liderado o esforço de disseminação global da bioeconomia de baixo carbono. Exemplo disso, foi lançada em novembro de 2016 a Plataforma para o Biofuturo, iniciativa multilateral que pretende acelerar o reconhecimento do papel dos biocombustíveis de baixo carbono e da bioeconomia na transição energética global. O Brasil conseguiu mobilizar outros 19 países, incluídas as maiores economias do planeta e países-chave para a expansão dos biocombustíveis, como Estados Unidos, China, França, Índia, Reino Unido, Indonésia, Itália e Argentina, para avançar nesse empreendimento.

O Brasil tem muito orgulho de coordenar a Plataforma para o Biofuturo, com apoio de seus parceiros internacionais. Esse mandato está sendo implementado por meio da negociação de uma Declaração de Visão, que deverá emitir forte sinal para o mercado sobre o papel relevante da bioeconomia nas próximas décadas, da construção de diagnóstico pormenorizado sobre o estado global dessa bioeconomia e da organização de conferências internacionais para troca de experiências e convergência de políticas. Por essa razão São Paulo sediará nos próximos dias 24 e 25 a primeira Cúpula para o Biofuturo (Biofuture Summit).

A Plataforma para o Biofuturo já tem correspondente doméstico em gestação, na forma do programa RenovaBio, que pretende reformular as políticas nacionais de biocombustíveis, com foco na redução de emissões e no estímulo à inovação e à eficiência energética.

Levar adiante essa agenda, simultaneamente nos planos interno e externo, deverá impulsionar o desenvolvimento de nossos setores agrícola, industrial e biotecnológico. A Plataforma afirmará também a posição de vanguarda do Brasil em energia limpa, com efetiva contribuição do País à construção de economia global social e ambientalmente sustentável, em consonância com os objetivos da Conferência de Paris.

O Acordo de Paris representou um marco na evolução da consciência global em favor da promoção do desenvolvimento sustentável e da economia de baixo carbono. Sem a utilização em larga escala da bioenergia não será possível atingir as metas de Paris, vitais para a humanidade, e a Plataforma representa um importante passo nessa direção.

*MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, É SENADOR LICENCIADO (PSDB-SP)