Dinamarca

Qual o segredo de série dinamarquesa que atrai brasileiros? Henrique Brandão explica

Em artigo publicado na Política Democrática Online de novembro, jornalista analisa Borgen e cita diferenças dos dois países

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Borgen (Castelo) é uma série televisiva escandinava que tem feito sucesso no mundo inteiro não tem detetives, nem mafiosos e tampouco navegadores vikings como tema, mas tem conquistado os brasileiros. A análise é do jornalista Henrique Brandão, em artigo que publicou na revista Política Democrática Online de novembro, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Todos os conteúdos podem ser acessados, gratuitamente, no site da entidade.

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“Mas qual é o segredo da série entre os brasileiros?”, questiona o Brandão, para, em seguida, explicar. Antes, porém, o jornalista lembra que a série é um drama político contemporâneo, que mostra os jogos de interesses que se desenvolvem na política dinamarquesa. Chama-se. O nome vem da forma como se referem ao Palácio de Christianborg, local que abriga as três esferas do poder dinamarquês.

“A série foi exibida na Dinamarca entre 2010 e 2013, o que deu nova dimensão ao folhetim foi o fato de a Netflix tê-la comprado e incluído as três temporadas (10 episódios cada) na programação. O êxito foi tanto que a gigante do streaming pensa em nova leva de episódios”, afirma o autor.

Na avaliação de Brandão, a série atrai os brasileiros porque, segundo ele, mostra com naturalidade a forma como a política é encarada na Dinamarca. “Ocupar altos cargos na administração pública ou nas esferas de base da estrutura partidária não é encarado como algo proveitoso, do qual se deve tirar vantagens, mas como parte da vida coletiva”, acentua.

Por isso, de acordo com o autor do artigo publicado na revista Política Democrática Online, brasileiros veem na série a futura primeira-ministra indo de bicicleta para o Parlamento, assim como vários de seus pares, e surpreendem com o fato de como a liturgia inerente ao cargo soa pouco pomposa por lá. 

“Para além da indiscutível qualidade artística, é na comparação entre as realidades dos dois países que a série se impôs por aqui”, diz o jornalista. “A diferença entre as sociedades – a nossa comparada com a deles – é enorme”, acrescenta. Para se ter uma ideia, ele lembra, em 2011, a Dinamarca foi considerada, segundo o índice de Gini, o país com o menor grau de desigualdade social do mundo.

“Em tempos de enfrentamentos toscos e baixarias vis, acompanhar a trajetória de Birgitte Nyborg é um bálsamo. A série acabou atraindo desde comunistas convictos até o mais empertigado dos liberais. Um feito e tanto”, avalia.

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RPD || Henrique Brandão: Borgen - No reino da Dinamarca, a política vira sucesso na TV

Uma das melhores séries políticas em cartaz atualmente nas redes de streaming mostra os intestinos da política na Dinamarca, um dos países mais desenvolvidos e civilizados da Terra

A série televisiva escandinava que tem feito sucesso no mundo inteiro não tem detetives, nem mafiosos e tampouco navegadores vikings como tema. É um drama político contemporâneo, que mostra os jogos de interesses que se desenvolvem na política dinamarquesa. Chama-se Borgen (Castelo). O nome vem da forma como se referem ao Palácio de Christianborg, local que abriga as três esferas do poder dinamarquês.

A série foi exibida na Dinamarca entre 2010 e 2013. O que deu nova dimensão ao folhetim foi o fato de a Netflix tê-la comprado e incluído as três temporadas (10 episódios cada) na programação. O êxito foi tanto que a gigante do streaming pensa em nova leva de episódios.

No Brasil, Borgen faz muito sucesso. Mas qual é o segredo da série entre os brasileiros?

Creio que uma das chaves para a resposta está na naturalidade com que a política é encarada na Dinamarca. Ocupar altos cargos na administração pública ou nas esferas de base da estrutura partidária não é encarado como algo proveitoso, do qual se deve tirar vantagens, mas como parte da vida coletiva.  

Por isso, quando nós, brasileiros, vemos na série a futura primeira-ministra indo de bicicleta para o Parlamento, assim como vários de seus pares, nos surpreendemos como a liturgia inerente ao cargo soa pouco pomposa por lá.  

Ao chegar em casa, a primeira-ministra vai para a cozinha preparar o jantar. Tarefa que é dividida com o marido. Os afazeres domésticos são compartilhados por todos, pais e filhos. Convenhamos, seria difícil algo semelhante acontecer em Brasília. Para servir o sofisticado café da manhã preferido do Presidente, pão com leite condensado, vários criados ficam à mercê de Sua Excelência.

Não é apenas essa diferença gritante de costumes que faz o sucesso da série. Ela tem ótimo roteiro, diálogos inteligentes e belas atuações, principalmente do elenco feminino. Sidse Babett Knudsen interpreta a primeira-ministra, Birgitte Nyborg, líder dos Moderados. Sua atuação passa credibilidade à personagem, uma mulher decidida na política, mas que na vida afetiva tem suas fragilidades. Sidse tem o apoio luxuoso de Birgitte Hjort Sorensen, que faz o papel de Katrine Fonsmark, uma jovem e sexy jornalista de TV, batalhadora e ambiciosa, que acaba virando sua assessora de comunicação. Benedikte Hansen também brilha como uma veterana e alcoólatra jornalista da mesma emissora. O peso do elenco feminino não é à toa: como a trama espelha a sociedade dinamarquesa, a presença das mulheres na história é expressiva.

A Dinamarca é uma monarquia constitucional, com sistema parlamentarista de governo. As negociações entre as forças políticas que possibilitam a montagem de maiorias parlamentares são intensas, nos mostra a série. É dessa forma que a primeira-ministra assume o poder. E da mesma maneira também o perde. Existem barganhas, chantagens, alianças frágeis, traições. No entanto, as crises de gabinete são encaradas como normais – a série deixa bem claro que raposa política é um animal universal.  

Outro aspecto retratado é o peso enorme da mídia no dia a dia da política. O assessor de imprensa tem mais importância que muitos dos ministros. E os veículos – jornais, TV, sites –, dependendo dos interesses em jogo, não se furtam a dar a notícia conforme lhes convêm.  

Para além da indiscutível qualidade artística, é na comparação entre as realidades dos dois países que a série se impôs por aqui. A diferença entre as sociedades – a nossa comparada com a deles – é enorme. Para se ter uma ideia, em 2011 a Dinamarca foi considerada, segundo o índice de Gini, o país com o menor grau de desigualdade social do mundo. As marcas do Welfare State – saúde, bem-estar, assistência social e educação universal – são indeléveis. Além disso, em 2008 o país foi classificado como o menos corrupto do mundo pelo Índice de Percepção de Corrupção.

Em tempos de enfrentamentos toscos e baixarias vis, acompanhar a trajetória de Birgitte Nyborg é um bálsamo. A série acabou atraindo desde comunistas convictos até o mais empertigado dos liberais. Um feito e tanto.

Nossa realidade política não tem nada da civilidade imanente de Borgen. Está mais para os golpes abaixo da cintura desferidos por Francis Underwood, o personagem vivido com maestria por Kevin Spacey em House of Cards. Qualquer semelhança entre ele e o sinistro capitão que habita o Palácio da Alvorada talvez não seja mera coincidência. Está mais para retrato falado.

* Henrique Brandão é jornalista.