Celac

Em discurso de abertura, Alberto Fernández mencionou os bloqueios à Cuba e Venezuela, tema que levou à Cúpula das Américas no ano passado. - Reprodução

Líderes aplaudem a volta do Brasil à Celac, na abertura da cúpula da América Latina e Caribe

Brasil de Fato*

A abertura da 7ª Cúpula da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac), em Buenos Aires nesta terça-feira (24), contou com um discurso do mandatário argentino Alberto Fernández, atual presidente temporário do bloco.

Além de elogiar a volta do Brasil à comunidade - abandonada pelo governo Bolsonaro -, ele criticou o avanço da ultra-direita contra as instituições democráticas em toda a região, os bloqueios contra Cuba e Venezuela e os efeitos econômicos e sanitários do mundo globalizado sobre os países latino-americanos e caribenhos.

Fernández adiantou que a presidência da Argentina será concluída hoje. O novo país nomeado para o comando temporário da Celac será conhecido após a plenária, que acontece de forma privada entre os chefes e representantes de Estados e, portanto, não será transmitida.

Ao iniciar sua fala, Fernández pediu um aplauso pelo retorno do Brasil. "Uma Celac sem o Brasil é uma Celac muito mais vazia. Por isso, sua presença hoje nos completa", comemorou o presidente argentino, e logo destacou alguns dos problemas do ano que coincidiu com sua presidência do bloco. "Passamos pela pandemia, pela guerra e com nossas economias em crise."

No primeiro ponto de sua fala, o presidente argentino destacou os efeitos desiguais sobre os países caribenhos em tempos de emergência climática. "Vivemos no continente mais desigual do mundo e devemos, de uma vez por todas, encarar um processo que nos leve à igualdade e à justiça social", disse Fernández. Nesse sentido, mencionou o Fundo de Assistência para o Caribe destinado ao enfrentamento das consequências das mudanças climáticas, que afetam especialmente essa região.

Em seguida, destacou o bloqueio econômico contra Cuba e Venezuela empregado pelos Estados Unidos, um tema que levou como presidente da Celac à Cúpula das Américas, em Los Angeles, no ano passado. "Os bloqueios são métodos muito perversos de sanção não aos governos, mas aos povos. Não podemos continuar permitindo isto", disse.

Neste sentido, ressaltou a necessidade de trabalhar regionalmente para garantir a institucionalidade dos países. "A democracia está definitivamente em risco. Depois da pandemia, vimos como setores da ultra-direita se colocaram de pé e estão ameaçando cada um de nossos povos. Não podemos permitir que essa direita recalcitrante e fascista coloque a institucionalidade dos nossos povos em risco", enfatizou.

Como exemplo, Fernández mencionou ainda os ataques bolsonaristas em Brasília, no último dia 8, a tentativa de assassinato da vice-presidenta argentina Cristina Kirchner e o golpe na Bolívia em 2019. Comemorou a vitória do retorno da democracia ao país e se dirigiu ao atual presidente, Luis Arce – a quem se referiu carinhosamente como "Lucho" Arce –, um dos mais de 15 mandatários presentes em Buenos Aires. 

Além de Arce, participam pessoalmente da cúpula o presidente colombiano Gustavo Petro; Gabriel Boric, presidente do Chile; Xiomara Castro, presidenta de Honduras; Mario Abdo Benítez, presidente do Paraguai; Mia Mottley, de Barbados, Miguel Díaz-Canel, presidente de Cuba; e Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai, próximo destino do presidente Lula, quem também está presente na Celac em Buenos Aires.

Alberto Fernández defendeu o trabalho em união entre os países, para fazer efetiva essa integração tão mencionada durante a cúpula. "Vejo que se abre uma nova oportunidade. A Celac voltou, agora completa com o Brasil, e com uma oportunidade na região. O mundo mudou, e a pandemia evidenciou as carências do sistema econômico. Dez pessoas no mundo tem o patrimônio de 40% da humanidade. Na pandemia, 90% das vacinas eram destinadas centralmente a 10 países, que representa 10% da humanidade. Temos a oportunidade de desenvolvermos unidos. O que temos que fazer é aprofundar nosso diálogo e respeitar nossas diferenças", disse o mandatário.

Mencionou os acordos assinados com Lula no dia anterior como um exemplo do que deve acontecer nos próximos anos na região. "Avançamos na nossa relação bilateral entre Argentina e Brasil, e devemos avançar deste modo em todo o continente", disse. "Temos que transformar todas essas palavras em fatos, e fazer com que a integração seja uma realidade."

Logo, concluiu sua fala com o que pode ser interpretado como um recado para Lacalle Pou, que tem interesse em fechar acordos diretamente com a China, por fora do bloco do Mercosul. "Sozinhos, valemos pouco. Unidos, podemos ser muito fortes. Chegou o momento que o Caribe e a América Latina sejam uma só região que defenda os mesmos interesses para o progresso dos nossos povos."

Posteriormente, o chanceler argentino Santiago Cafiero enumerou os cinco eixos temáticos de ação que foram desenvolvidos entre os países da região durante a presidência pro tempore da Argentina em 2022. Os eixos destacados foram: a recuperação social econômica e produtiva pós-pandemia, com a implementação de um plano de autossuficiência sanitária de países da região; a ciência e tecnologia e a inovação para o desenvolvimento e a inclusão; a cooperação ambiental e a gestão de risco e desastres em um contexto de mudança climática; a cultura e a educação para os povos; e o empoderamento das mulheres e as ações em questões de gênero.

Em termos de agenda extrarregional, o chanceler destacou o vínculo regional com a China, a relação da Celac com a União Africana, com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), a retomada da relação da Celac com a Índia e a confirmação de uma cúpula do bloco com a União Europeia. "Após 4 anos de silêncio, pudemos ativar o mecanismo Celac-UE, com uma agenda de trabalho consensuada durante o ano passado e que se concretizará com um encontro em meados do ano."

Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.