Caminhos Invertidos

Estudantes lotam auditório da FAP em lançamento do livro Caminhos Invertidos

Autor Victor Missiato participou de debate sobre obra que é resultado de sua tese de doutorado apresentada na Unesp

Cleomar Almeida, da Ascom/FAP

Estudantes universitários, professores e pesquisadores compareceram, na noite desta quinta-feira (21), ao lançamento do livro “Caminhos Invertidos” (Editora Prismas), do historiador Victor Augusto Ramos Missiato. Eles assistiram ao debate que abordou as trajetórias de partidos comunistas no Brasil e no Chile, como tratado na obra, que é resultado da tese de doutorado do autor, sob a orientação do historiador e professor Alberto Aggio.

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O evento foi realizado, das 19h às 22h, no auditório do Espaço Arildo Dória, na parte superior da Biblioteca Salomão Malina – ambos da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) –, no Conic, localizado na área central de Brasília. O público teve a oportunidade de participar de um debate com a presença do autor e de seu orientador, que integra a diretoria executiva da FAP. Além deles, compuseram a mesa de discussão o consultor político Caetano Araújo, também diretor da FAP, e o historiador e professor Marcus Vinicius Oliveira.

O autor, que primeiramente pesquisou o assunto para defender a sua tese de doutorado na Unesp (Universidade Estadual Paulista), explicou ao público que, ao longo dos anos, houve uma inversão nos caminhos do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e do PCCh (Partido Comunista Chileno). Antes, o PCB era chamado de PPS (Partido Popular Socialista) e hoje tem nova identidade de esquerda democrática com o Cidadania.

Segundo o autor, o comunismo chileno adotou uma perspectiva reformista, entre a década de 1920 e o ano de 1973, quando houve o golpe que derrubou o seu então presidente, Salvador Allende. Depois desse golpe, acrescentou ele, o PCCh assumiu uma postura pela via armada para combater a ditadura. Até então, era um partido que, mesmo em situação de maior radicalismo e ilegalidade em alguns anos, manteve a defesa de uma estratégia político-institucional. Já no Brasil, com o passar dos anos, o PCB fez o caminho inverso: abandonou a sua estratégia armamentista para apostar na saída política por meio da democracia.

Oliveira, que também desenvolveu pesquisa sob orientação de Aggio, disse que o livro é “importante”. “Foi produzido por um historiador talentoso”, ressaltou. Segundo ele, a obra é uma opção para compreender melhor o comunismo na América Latina. “Ao tratar da história dos partidos comunistas chileno e brasileiro, o livro busca reconsiderar determinadas visões sobre as esquerdas latino-americanas fixadas exclusivamente na revolução, nos moldes de Cuba, e não na democracia”, destacou.

Esquerda democrática

Na avaliação de Oliveira, o livro transcende a análise meramente sobre o comunismo. “No fundo, o trabalho busca por uma esquerda democrática”, asseverou o debatedor. “O grande ponto é a potência do livro exatamente porque recupera algo que não está muito evidente para nós. É um dilema que os comunistas sempre tiveram: buscar a revolução, com via armada, o que deu certo na União Soviética e em Cuba, por exemplo, e a democracia”, salientou.

Aggio lembrou que o PCCh surgiu do movimento operário, que era muito forte e concentrado na exploração de minas de cobre e de salitre, no Norte do Chile. “Na primeira década do partido comunista, os comunistas chilenos eram verdadeiros assaltantes do céu. Faziam rebelião em todo lugar”, disse o orientador. Ele ressaltou que, a partir dos anos 1930, a sigla começou a entender a importância de uma estratégia política, e não armada, seguindo a orientação geral da então Internacional Comunista.

Segundo Aggio, o PCB conseguiu concretizar seu projeto de ação, transformando-se, ao longo dos anos, em um partido de esquerda, reformista e democrático. “Entrei no PCB porque a política do partido comunista era alusão à democracia, a política era maior do que a ideologia”, afirmou. “Era a política que atraía as pessoas por perceberem que era o mais correto. Vivi a trajetória do esgotamento do PCB e de seu fim, e não lamento, muito pelo contrário. Hoje estamos em um país muito melhor, democratizado, com opinião pública e juventude interessada na vida e na política e que não permite o que a sandice está fazendo no governo federal”, disse, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.

 

 

Ordem política

O professor-orientador destacou, no entanto, que Bolsonaro foi eleito de forma legítima. “Vários perderam. Nós, que perdemos, temos que entender porque perdemos e como podemos ganhar. Não há se que rebelar contra isso, há que se fazer política, organizar a população, discutir os caminhos do presente e do futuro”, sugeriu. “Algumas reformas são necessárias; outras, no entanto, são pensadas de maneira equivocada, e somos contra, mas temos uma ordem política legítima e legitimamos essa ordem. A Constituição de 1988 é o resultado da superação da ditadura no Brasil e da conquista da democracia”, ponderou.

Caetano Araújo observou que o período de clandestinidade de dez anos do partido comunista do Chile foi bem menor que o do PCB. “A clandestinidade, aqui, foi muito longa, e não deve ser romantizada”, destacou. Ele ressaltou que não é possível comparar as duas ditaduras, devido ao contexto específico de cada uma delas.

Assim como Aggio após ser questionado pelo público, Caetano também ressaltou que a questão democrática volta a ser o centro da agenda política “por razões que não são boas”. “A democracia está sob ataque pelo menos por parte do círculo próximo ao presidente Bolsonaro. Vemos apologia à ditadura.  Isso não é loucura, há intencionalidade que tem como objetivo testar, de um lado, os limites da defesa da democracia e, de outro, ir corroendo essas defesas. Trata-se de acostumar, de manter a democracia sob ataque e não podemos ficar omissos diante disso”, afirmou.

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FAP realiza lançamento do livro Caminhos Invertidos, de Victor Missiato, em Brasília

Resultado de tese de doutorado, obra aborda trajetórias de partidos comunistas do Brasil e do Chile

Cleomar Almeida, da Ascom/FAP

A FAP (Fundação Astrojildo Pereira) realizará, nesta quinta-feira (21), a partir das 19 horas, o lançamento do livro “Caminhos Invertidos” (Editora Prismas), do historiador Victor Augusto Ramos Missiato, em Brasília. Aberto ao público, o evento será realizado no auditório do Espaço Arildo Dória, na parte superior da Biblioteca Salomão Malina, no Conic, um importante centro comercial e de atividades culturais da capital federal.

O livro é resultado da tese de doutorado de Missiato, defendida, em 2016, na Unesp (Universidade Estadual Paulista), sob a orientação do historiador e professor Alberto Aggio, que também é membro da diretoria executiva da FAP. Durante o lançamento, o autor e o orientador participarão de um debate sobre a obra, no próprio local, ao lado do consultor político e diretor da fundação Caetano Araújo.

Missiato desenvolveu, entre 2013 e 2016, a pesquisa comparando as trajetórias do PCB (Partido Comunista Brasileiro) – que antes era chamado de PPS (Partido Popular Socialista) e hoje tem nova identidade de esquerda democrática com o Cidadania – e do PCCh (Partido Comunista Chileno).

De acordo com o autor, houve uma inversão nos caminhos dos dois partidos comunistas, ao longo dos anos. Ele explica que o comunismo chileno adotou uma perspectiva reformista, entre os anos 1920 e 1973, quando houve o golpe que derrubou o seu então presidente, Salvador Allende. O PCCh era um partido que, mesmo em situação de maior radicalismo e ilegalidade em alguns anos, manteve a defesa de uma estratégia político-institucional.

“Quando houve o golpe de Augusto Pinochet, o PCCh adotou, até 1985, a perspectiva da via armada para o combate à ditadura no Chile. Isso por causa da desilusão e do impacto da derrubada do governo de Allende”, afirma. “O partido comunista chileno, ao dar esse giro, abandona as estratégias de aliança política, se desfaz da relação com a então União Soviética, que iria acabar, e adota uma nova perspectiva nacionalista. Não mais colocando o seu ano de nascimento como 1922, mas voltando para o ano de 1912, quando foi fundado o Partido Obrero Socialista - que mudou de nome em 1922”, diz.

Já o PCB, entre os anos 1920 e 1950, assumia um posicionamento mais radical e uma estratégia insurrecional, com a perspectiva da via armada. Segundo Missiato, o partido, principalmente a partir de 1958, em meio à ditadura no Brasil, passou a transformar a sua estratégia política, saindo da via armada como principal foco para adotar o que historiador Raimundo Santos, da UFR-RJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), chama de pecebismo contemporâneo. “É uma estratégia de luta revolucionária em favor do sistema democrático. Em outras palavras, uma defesa do reformismo”, acentua.

“Quando tivemos o Golpe de 64, o PCB manteve a estratégia principal de defender a democracia. Mesmo com a perspectiva da revolução, todos os comunistas do século 20 criticavam a democracia burguesa, defendiam outra democracia, sob a perspectiva socialista”, afirma o autor. “Durante o regime militar, para os comunistas do PCB, a democracia passa a ter um valor universal no final da década de 1970, conforme cita o intelectual Carlos Nelson Coutinho, como elemento central da estratégia comunista”, ressalta ele.

PESQUISA INOVADORA
Na avaliação do orientador Alberto Aggio, o livro mostra o resultado de uma pesquisa inovadora com comparação das trajetórias de dois partidos comunistas. “Isso tem um valor em si do ponto de vista do conhecimento porque, naquela época, os partidos comunistas nem sempre seguiam a ferro e fogo a orientação da União Soviética”, avalia. “Pensar que a história do comunismo na América Latina é só uma repetição daquilo que vinha da Internacional Comunista ou, depois, da União Soviética é uma visão ultrapassada, como mostra o livro”, salienta.

No Brasil, conforme observa o professor da Unesp, a construção da democracia é um paradoxo. “No país, a corrente política que acabou defendendo radicalmente a democracia se extingue no momento em que o Brasil conquista uma democracia mais plena”, pontua Aggio. “No caso do PCB, a partir do momento em que assimila a perspectiva da democracia como valor universal, essa força política acaba trilhando novos caminhos”, analisa o orientador.

“Extinguiu-se o comunismo pecebista porque, de certa forma, triunfou-se o estabelecimento de uma democracia mais plena, baseada na Constituição de 1988. É uma história complexa porque o PCB vai se definhando apesar de sua política ir triunfando. É difícil de ser compreendida por causa desse paradoxo”, ressalta ele.

IMPORTÂNCIA
Caetano Araújo ressalta a importância da obra para compreender a conjuntura política de parte da América Latina. “É um trabalho de comparação. Tem, em comum, a vinculação ao comunismo internacional, representado pela União Soviética”, analisa o diretor da FAP.

A fundação, que apoia o lançamento do livro da Editora Prismas em Brasília, tem entre as suas linhas de atuação a publicação de obras sobre fatos relevantes, da luta pela democracia e mobilizações sociais no Brasil. “Uma obra como essa tem u lado histórico, mas vai além disso. A obra fala sobre democracia. Na conjuntura política de hoje, é uma obra atual. Não aborda só o passado. Fala do presente político”, assevera.