Barcelona

Luiz Carlos Azedo: As velhas raposas

O velho Piantella não perde a majestade. Na noite de quarta-feira, ao contrário da maioria dos deputados que gostam de futebol e foram assistir ao clássico Flamengo e Botafogo pela televisão (um zero a zero dos mais sem graça, no campo do Engenhão, no subúrbio carioca do Engenho de Dentro), um grupo de velhas raposas do Congresso se reunia nos fundos do velho reduto dos deputados Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA). Ambos pontificaram na política nacional tecendo grandes acordos políticos que garantiram a transição à democracia, o primeiro, e o sucesso do Plano Real, o segundo. Ambos deixaram discípulos na arte da política.

Estavam lá o atual decano da Casa, Miro Teixeira (Rede), eleito pela primeira vez nas eleições de 1974 com um caminhão de votos, Heráclito Fortes (PSB-PI), Benito Gama (PTB-BA), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Rubens Bueno (PPS-PR) e Tadeu Alencar (PSB-PE), que é novo no grupo, mas respeitado porque é muito sensato e bom advogado, o que é muito importante nessas horas nas quais a criatividade pode selar o destino do país com uma boa saída jurídica. O assunto da conversa entre essas velhas raposas da política não poderia ser outro: desatar o nó da reforma política, em discussão na Câmara, que havia acabado de encerrar a sessão sem conseguir votar nenhuma proposta. Motivo: absoluta falta de clareza da maioria sobre o que fazer com o sistema eleitoral e o financiamento das campanhas.

Nessa roda de conversa, todos são contrários ao “fundão” de R$ 3,6 bilhões e a favor de uma forma de financiamento privado, com limite de arrecadação e previamente controlado pela Receita Federal. Se a fórmula que discutem será emplacada, não será a primeira vez que isso acontece. O grupo costuma jogar conversa fora em público e garante grandes acordos nos bastidores do plenário da Câmara. A maioria articulou os dois impeachments aprovados na Casa, do Collor de Melo e de Dilma Rousseff. Algumas conversas decisivas foram em almoços e jantares fechados na casa de Heráclito, no Lago Sul, sem a presença de jornalistas, lobistas e boquirrotos. Quem vaza conversas nesses encontros está fora do jogo. O convidado mais recente do grupo foi o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que resolveu sair da toca por causa do prefeito paulistano, João Doria.

Não há acordo no grupo sobre a outra proposta polêmica, o “distritão”, projeto que tem como um dos seus patronos o deputado Miro Teixeira. Seu amigo Rubens Bueno é radicalmente contra a proposta. Para Miro, o “distritão” não é problema, é solução. Elege-se com facilidade e se livra das amarras da Rede, embora não diga isso em nenhum momento. Para Rubens, é o fim dos partidos, principalmente os pequenos, com menos tempo de televisão e recursos, porque o leilão do troca-troca partidário já é uma realidade na Câmara. Benito Gama se diverte com a polêmica. Como bom baiano, ironiza a situação. E comemora o fato de o Congresso reagir às pressões da opinião pública. “Quem vai dar uma solução para crise política somos nós, os políticos, não são os juízes, promotores e militares. Democracia é assim!”

Essa é a questão de fundo da crise ética. Não há a menor possibilidade de uma solução a la Emmanuel Macron, o novo presidente francês, que deixou o governo do socialista de François Hollande, criou um movimento que, em um ano, filiou 200 mil militantes e derrotou gaulistas e socialistas, os tradicionais partidos franceses, levando de roldão a direita chauvinista de Marine Le Pen. A solução da crise terá que sair das eleições de 2018, é a regra do jogo democrático, cuja primeira condição é a manutenção do calendário eleitoral; a segunda, a possibilidade de alternância de poder.

Mas as regras da eleição estão sendo decididas por muitos líderes políticos acuados pela Lava-Jato e um baixo clero à beira de um ataque de nervos por causa do desgaste do Congresso. É nesse universo que essas raposas jogam no meio de campo e armam suas jogadas. A sociedade já detonou o “distritão” e o “fundão”. Até ministros do Supremo que votaram a favor do financiamento público já estão revendo suas posições contrárias ao financiamento privado. Miro Teixeira já queima as pestanas pra encontrar uma fórmula que salve o “distritão” do naufrágio. No momento, a ideia é “distritão” com voto em legenda. É uma tremenda jabuticaba, não existe em lugar algum. Mas ainda não colou!

Las Ramblas

Em 23 de junho, em férias, estava flanando por Las Ramblas, cujo nome é uma corruptela do árabe “ramla”, tão comum na Península Ibérica, que nesse caso significa leito de rio seco. A longa avenida de 1,2 km tem um grande calçadão que desce da Praça da Catalunha ao Porto Velho, no coração de Barcelona, pelo qual transitam diariamente de 230 mil a 310 mil pessoas. O atentado de ontem deixou ao menos 13 mortos e uma centena de feridos, de pelo menos 18 nacionalidades. Nenhum brasileiro, embora seja impossível fazer aquele trajeto sem ouvir os sotaques de diversas regiões do nosso país. O mundo está cada vez mais perigoso, não é só o Rio de Janeiro que tem motivos de sobra para se vestir de branco pela paz universal. (Correio Braziliense – 18/08/2018)


Cidades colapsadas

É urgente aplicar medidas para conseguir uma mobilidade que contamine menos, evite o colapso do tráfico e permita recuperar espaço urbano

Como campanha de conscientização e experimentação, as medidas adotadas em diferentes cidades para marcar o Dia Sem Carros podem ser boas, mas não devemos nos enganar sobre seu alcance. Pouca eficácia terá essa maior consciência da opinião pública se não existirem alternativas eficientes ao uso do transporte privado. É verdade que muitas pessoas o usam por comodidade, mas é um erro pensar que tudo depende da vontade do povo. A maioria dos que usam transporte privado para trabalhar nos horários de pico fazem isso pois são forçados, especialmente se tiverem que fazer trajetos metropolitanos. Não se pode culpar os cidadãos por um modelo de mobilidade que não escolheram por que gostam, mas por necessidade. Apenas oferecendo uma alternativa igualmente rápida e mais barata é possível esperar mudanças significativas nas decisões sobre mobilidade.

O aumento do tráfego urbano e a maior proporção de carros a diesel na frota elevou perigosamente os níveis de poluição nas grandes cidades, que muitos dias excedem o mínimo tolerável. Estima-se que em aglomerações urbanas como Madri ou Barcelona acontecem mais de 3.000 mortes prematuras a cada ano por causa da poluição do ar.

É urgente implementar medidas para conseguir uma mobilidade que polua menos, evite o colapso do trânsito e permita recuperar o espaço urbano para os pedestres. Mas isso não será conseguido com discursos populistas que criminalizam o carro e descarregam sobre os cidadãos um problema cuja solução não depende só deles. Se tudo ficar em um mero gesto vazio, pouco será alcançado. As prefeituras devem abordar com coragem os planos de mobilidade, incluindo uma melhoria substancial do transporte público, a revisão dos planos de acesso aos centros urbanos (incluindo o eventual pagamento), e uma organização do tráfego que priorize as duas variáveis mais importantes: custo e tempo.


Fonte: El País


Barcelona afasta carros das ruas, para ser uma cidade para pedestres

A partir de 2017 a cidade catalã pretende construir 'superblocos', áreas residenciais menores que bairros onde a prioridade serão ciclistas e pedestres

A Câmara Municipal de Barcelona, na Espanha, quer melhorar a mobilidade urbana da cidade. Um projeto de lei pretende construir 'super blocos', áreas onde pedestres terão prioridade e carros terão acesso restrito. Nesses locais, a qualidade de vida será priorizada e assegurada pela revitalização de espaços públicos e pela construção de mais áreas verdes.

A partir de 2017, Barcelona vai começar a se tornar uma cidade para pedestres. Vários blocos residenciais serão transformados em um só, formando os super blocos, que por sua vez serão menores do que os bairros. Dentro deles, veículos de não residentes serão banidos. Habitantes poderão trafegar de carro, mas em velocidades reduzidas. Além disso, a prioridade será de ciclistas e de quem se locomove a pé.

Trajetos serão rearranjados e áreas que costumavam ter muito trânsito serão transformadas em espaços para pedestres. Fora dos super blocos, o trânsito também irá sofrer alterações. O objetivo é eliminar 60% do tráfego de carros ao longo de toda a cidade.

“Os super blocos pretendem colocar um fim na predominância do carro nas ruas, devolvendo o espaço ocupado por ele aos pedestres”, disse Irene Capdevilla, da Agência de Ecologia Urbana de Barcelona, ao site Fast Company.

Foco na sustentabilidade/mobilidade

O ar em Barcelona é tão poluído que extrapola os limites saudáveis estipulados pela WHO (World Health Organization). Segundo a Fast Company, estima-se que 3.500 pessoas morrem todos os anos na cidade espanhola por doenças respiratórias causadas pela poluição. Para melhorar esse cenário, foi aprovado um plano de mobilidade.

O objetivo é que a mobilidade urbana se torne mais sustentável, eficiente, segura, coletiva e saudável nos próximos anos. De acordo com a página oficial do plano, esses conceitos são “sinônimo de progresso social e econômico” e aprimoram a qualidade de vida.

A construção dos super blocos será uma forma de atingir as metas propostas pelo plano de mobilidade. O sistema de ônibus estará de acordo com os princípios estabelecidos pelo projeto. Além disso, habitantes serão encorajados a andar a pé ou de bicicleta, diminuindo a emissão de gases que causam poluição.

Para promover o estilo de vida sustentável, os super blocos serão autossuficientes em energia. Cidadãos serão instruídos a racionar recursos naturais, gastando menos luz e água.

Mudar a relação com a cidade

Para a Câmara Municipal de Barcelona, cidadãos devem viver em harmonia com o espaço público e se apropriar dele. Melhorar a mobilidade urbana já é uma forma de aprimorar a qualidade de vida e mudar a relação do habitante com a cidade.

Para estimular pessoas a usarem o que é público, os super blocos terão áreas recreacionais. Espaços antes inutilizados, ou ocupados por carros, ganharão novos usos para atender necessidades dos cidadãos.

A quantidade de áreas verdes também deve aumentar, tornando o espaço urbano mais agradável e saudável. Mais árvores serão plantadas nas ruas, atraindo espécies de pássaros e oferecendo um habitat para animais.

Outro objetivo do projeto é fomentar a inclusão social e empoderar habitantes. Os super blocos deverão proporcionar atividades produtivas e sociais, criando postos de trabalho e movendo a economia.

Motivar cidadãos a se engajarem em projetos do governo é outra forma de fazer eles se apropriarem do espaço público. Por isso, moradores dos super blocos serão estimulados a participar de projetos públicos e a desenvolver ações que repensem a vida na cidade.


Por Camila Luz, do portal Mobilize - Mobilidade Urbana Sustentável

Matéria publicada originalmente no portal Mobilize - Mobilidade Urbana Sustentável.