RPD || Entrevista Especial – Alessandro Vieira: ‘Bolsonaro foi uma decepção completa de A a Z’

Entrevistado especial desta 32ª edição da Revista Política Democrática On-line , o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acredita que a CPI da Covid no Senado terá condições de oferecer um relatório final contundente, responsabilizando diretamente o chefe do Executivo pelo quadro de pandemia descontrolada ao qual o Brasil chegou
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Por Caetano Araújo, Arlindo Fernandes de Oliveira e André Amado

Grande crítico do presidente Jair Bolsonaro durante as sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID no Senado, que apura possíveis falhas e omissões do governo federal no combate à pandemia, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) tem se destacado pela forma contundente como participa dos interrogatórios conduzidos pela comissão.

Delegado da Polícia Civil e senador em primeiro mandato, Alessandro Vieira avalia que o país vive um momento histórico com a CPI, porque ela poderá oferecer condições para a apresentação de um relatório com provas contundentes de como o Brasil chegou a um quadro de pandemia descontrolada. “Já temos vários indicativos que apontam para uma responsabilidade direta do presidente da República, no rastro de teorias conspiratórias, da negação da vacina, da defesa de remédios sem nenhum tipo de validação científica”, informa.

Para o senador do Cidadania-SE, episódios como o vivido atualmente no país com a CPI permitem que se abra uma janela de esperança, de oportunidade para as pessoas enxergarem diferenças de conduta em relação às pessoas que elas elegeram. “Ficaria satisfeito se o brasileiro saísse desse processo entendendo a importância do voto, a importância de avaliar melhor o voto, porque, assim, jamais contrataria um cara com o perfil do Bolsonaro para levantar um muro na sua casa, pintar uma parede, porque é claramente ineficiente, despreparado, equivocado”, avalia. Infelizmente, completa Vieira, “a gente o contratou como presidente da República, e as consequências, até por conta da pandemia, ficaram ainda mais visíveis”.

“Já temos vários indicativos que apontam para uma responsabilidade direta do presidente da República, no rastro de teorias conspiratórias, da negação da vacina, da defesa de remédios sem nenhum tipo de validação científica”

Bolsonaro é um “desastre” que poderia ter sido evitado, acredita Alessandro Vieira, que afirmou ter votado no atual chefe do Executivo. “Faço mea culpa, meu voto foi equivocado. No primeiro turno, votei na Marina Silva, mas, no segundo turno, fui levado a abraçar o desconhecido e errei. Estou na cota dos arrependidos”, diz. “Jamais votaria no projeto do PT, um projeto de todo contrário à minha história, na forma de pensar, de aparelhamento do Estado e destruição do aparato de repressão a crimes graves de colarinho branco. Só que Bolsonaro foi uma decepção completa de A a Z”, critica Alessandro Vieira.

“Politização das Forças Armadas e das polícias, negacionismo homicida, boçalidade e mentira como método de governo, pandemia descontrolada e fome. Os problemas do Brasil seguem aumentando, mas vamos manter o foco: SALVAR VIDAS e evitar que o desastre se repita. E ele tem nome: Jair Bolsonaro”, escreveu o parlamentar em seu perfil no Twitter no último dia 3/6.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista do senador Alessandro Vieira à Revista Política Democrática On-line.

Revista Política Democrática On-line (RPD): Considerando a tradicional desconfiança da população quanto aos resultados de CPIs, qual sua expectativa de que desta vez nem tudo terminará em pizza?
Alessandro Vieira (AV): 
É importante, de início, modular as expectativas, entender que uma CPI não vai prender ninguém, não vai condenar ninguém, não vai fazer impeachment. Vai oferecer condições para a apresentação de um relatório robusto, com provas contundentes, de como o Brasil chegou a um quadro de pandemia descontrolada. Já temos vários indicativos que apontam para uma responsabilidade direta do presidente da República, no rastro de teorias conspiratórias, da negação da vacina, da defesa de remédios sem nenhum tipo de validação científica, de uma postura política de claro boicote às iniciativas que vinham de São Paulo, do Butantan, do governo de São Paulo, boicote do fornecimento pela China. Tudo desemboca na linha da responsabilidade do presidente da República. Mas é importante que o cidadão entenda, como disse antes, que a CPI não vai gerar automaticamente o impeachment, nem condenar, nem mandar prender ninguém. Eu acredito que nós vamos, sim, conseguir reunir dados suficientes, para que esse relatório final seja consistente e contenha dados concretos. Na remota hipótese de o relatório oficial não apresentar essas características, apresentaremos um relatório paralelo, alternativo.

RPD: No entendimento de que poderia haver um relatório paralelo tanto do grupo chamado G7, como do grupo chamado G4, a circulação concomitante desses relatórios não poderia afetar os efeitos, pelo menos jurídicos, não políticos, desta CPI?
AV: 
É importante entender que operamos no terreno da política, em que prevalecem as narrativas. Estamos presenciando isso com relação tanto às vacinas, quanto à cloroquina. Apesar da documentação, apesar das provas, apesar das mortes, as pessoas persistem na narrativa. Um depoimento, para mim muito simbólico, da Doutora Mayra Pinheiro, confronta que ela revelou conhecer vários estudos, de alta qualidade científica, de rejeição à hidroxicloroquina, e sua persistência em recomendar seu uso. Hoje temos maioria para aprovar um relatório correto, contundente, bastante duro, em que Renan Calheiros vem trabalhando com consciência e afinco.

RPD: Há uma expectativa de que essa CPI contribua para valorizar a política parlamentar, a política vinda das instituições, em contraponto a ações que se possam qualificar de incompetentes e até irresponsáveis de parte do governo. É esse papel que a população brasileira estaria esperando do Senado, no contexto da gestão do governo da pandemia?
AV: 
Acredito que sim. Não sou um político tradicional, nunca fui político, ingressei na política há dois anos e, logo, no Senado. Mas me dei ao trabalho de estudar e tentar entender as ferramentas que estão disponíveis. Parece-me claro que o momento exige do Senado uma responsabilidade no trato dessa questão, e estamos atuando nesse sentido, ainda que de forma claudicante. A iniciativa do auxílio emergencial brota no Congresso e é ajustada no Senado, projeto legislativo do qual fui relator. As iniciativas relativas a orçamento, à garantia de verbas, ao excesso legislativo de garantia, à viabilidade da contratação da Pfizer e de outras vacinas que exigiam seguro internacional puderam caminhar graças à atuação do Senado, que muito ajudou a destravar o processo político.

“A CPI não vai gerar automaticamente o impeachment, nem condenar, nem mandar prender ninguém. Eu acredito que nós vamos, sim, conseguir reunir dados suficientes, para que esse relatório final seja consistente e contenha dados concretos”


É preocupante que alguns de meus colegas não percebam as responsabilidades em jogo. Talvez por falta de preparo intelectual e o impulso irresistível de atuar numa dimensão eminentemente paroquial, não se consiga entender a gravidade da situação e se insista em privilegiar emendas com fins sobretudo eleitoreiros, fisiologismo que compromete a credibilidade do Senado perante a opinião pública. Critica-se Bolsonaro por seus ataques às instituições. Mas a crítica central deveria ocorrer de dentro das instituições, quando seus membros elidem suas responsabilidades. Isso não é demérito específico do Senado ou do Congresso; tenho colegas que respondem a sete, dez, quinze processos. Outro foi preso com dinheiro dentro da cueca. Outro ainda tomou posse de seu mandato de dentro da cadeia. Ocorre também no Judiciário . Na Suprema Corte, um juiz votou em uma delação em que ele era delatado. Tudo isso é lastimável, desmoraliza as instituições e pode estar adubando o terreno para iniciativas autoritárias.

RPD: Esta CPI poderá ajudar a renovação da política no Congresso, em geral e, no Senado, em particular, já nas próximas eleições?
AV: 
Não é possível antecipar. A CPI poderia gerar resultado muito diverso se contássemos com figuras que não respondessem a processos criminais tão graves, como respondem. Se tivéssemos parlamentares com um mínimo de preparo intelectual, que não exibissem, em plena CPI, uma caixinha de cloroquina, mas não temos. É possível, assim, que reeditemos, infelizmente, o vício brasileiro da fulanização, em decorrência do qual alguns personagens saiam valorizados do processo, mas não a instituição, como um todo.

O Senado teve a maior renovação da história recentemente. Eu mesmo entrei nessa corrente. Mas tenho colegas que, com quatro meses de mandato, já tinham desistido. Continuam Senadores, permanecerão por oito anos, talvez até venham a ser governadores, mas desistiram da parte da batalha política. “Nessa selva, tudo é muito complicado, dizem: Não quero ter que negociar com essa turma”, justificam-se.

O eleitor tem razão ao se perguntar onde está a renovação que buscou com seu voto. Nada acontece além do discurso em redes sociais. Dou como exemplo o senador Eduardo Girão, entrou comigo no Senado, identifica-se como independente, é milionário, não depende financeiramente de ninguém, nem de partido algum, mas atua dentro de um esquema previamente armado, negacionista, que desvaloriza a instituição. A gente tem vários colegas, Eduardo Girão, por exemplo, que está se destacando na CPI, como negacionista. Bota mais fermento nesse bolo do autoritarismo, que é o que o Bolsonaro faz todo dia, com a ajuda de pessoas que não têm a menor ideia do que estão fazendo, das consequências de seus atos, mas que colocam o país em uma situação progressiva de risco.

RPD: Não obstante sua curta experiência parlamentar, mas com a autoridade de ter sido eleito para o Senado, que horizontes podemos discernir para o Brasil, tendo em mente as eleições de 2022?
AV:
 O brasileiro é vocacionado para ter esperança, mesmo contra todas as circunstâncias. A cada episódio – e a CPI é um episódio histórico –, abre-se uma janela de esperança, de oportunidade para as pessoas enxergarem diferenças de conduta. Ficaria satisfeito se o brasileiro saísse desse processo entendendo a importância do voto, a importância de avaliar melhor o voto, porque, assim, jamais contrataria um cara com o perfil do Bolsonaro para levantar um muro na sua casa, pintar uma parede, porque é claramente ineficiente, despreparado, equivocado. Só que a gente o contratou como presidente da República, e as consequências, até por conta da pandemia, ficaram ainda mais visíveis. Torço para que uma camada do eleitorado consiga entender isso e se convença que tenha de pensar melhor na próxima vez que for votar , não pode simplesmente votar contra o PT.

Eu mesmo votei em Jair Bolsonaro no segundo turno. Jamais votaria no projeto do PT, um projeto de todo contrário à minha história, na forma de pensar, de aparelhamento do Estado, destruição do aparato de repressão a crimes graves de colarinho branco. Só que Bolsonaro foi uma decepção completa de A a Z. Faço mea culpa, meu voto foi equivocado. No primeiro turno, votei na Marina Silva, mas, no segundo turno, fui levado a abraçar o desconhecido e errei. Estou na cota dos arrependidos.

“Ficaria satisfeito se o brasileiro saísse desse processo entendendo a importância do voto, a importância de avaliar melhor o voto, porque, assim, jamais contrataria um cara com o perfil do Bolsonaro para levantar um muro na sua casa, pintar uma parede, porque é claramente ineficiente, despreparado, equivocado”

Esse exercício público de reconhecimento do erro é importante, amadurece o sentido de cidadania. Continuo não querendo votar no PT, mas não posso ter uma pessoa no nível de despreparo do Bolsonaro. Tenho de trabalhar com todas as forças para garantir uma terceira via, um terceiro nome, que represente de verdade o Brasil e assegure uma gestão minimamente eficiente. Dentre os pecados de Bolsonaro, a incompetência talvez seja o mais grave. É um governo profundamente incompetente, em quase todas as áreas, exceção feita à agricultura e à infraestrutura – e ainda assim de maneira qualificada. Olhem a destruição que seu governo está fazendo na educação, vai penalizar toda uma geração.

RPD: Por que é tão difícil se chegar a um nome da terceira via? É cedo demais, não existe um projeto, ou os dois polos são inexoravelmente mais fortes?
AV: 
Acredito que os partidos políticos pecaram e continuam pecando em não ouvir a sociedade, e esse ouvir a sociedade não é mera pesquisa qualitativa, ainda que seja uma boa ferramenta, é ouvir de verdade as demandas. Em 2018, estava muito claro o perfil do candidato que o brasileiro queria votar, algo vinculado à segurança, ao combate à corrupção, à ruptura de sistema, e os partidos não se esforçaram nem um pouco para proporcionar ao eleitor alternativas que tivessem esse perfil, mas com a honestidade, a racionalidade, a razoabilidade, tudo aquilo que o Bolsonaro não tem.

Lembro de uma pesquisa da XP, que circulou um ano antes, aproximadamente. Minha leitura foi a de que o único que finge melhor estar nesse perfil é o Bolsonaro, porque as pessoas que querem votar em um candidato com esse perfil jamais votarão na Marina, jamais votarão em Geraldo Alckmin, não há como fazer o match da vontade da sociedade. Intuí, então, que os partidos precisavam urgentemente se modernizar, entender melhor a sociedade. Entender que, dentro dos vários perfis demandados, nunca se demandou um fascista, nem quem protegesse um filho que faz rachadinha, nem que propusesse corroer a hierarquia no exército, nem que fosse destruir a saúde e a educação. Tampouco buscava-se alguém que fosse buscar coligação com Paulinho da Força, Valdemar da Costa Neto e toda a turma que está por há décadas.

Hoje muita gente consegue enxergar isso e está comprometida em encontrar um nome novo, de alguém que se adeque às demandas da sociedade. Acho que essa é a pergunta que os partidos deveriam estar ouvindo. Posso visualizar o Luciano Huck, o Eduardo Leite, o Mandetta, tenho conversado com todos eles, e me disponho a trabalhar por qualquer um deles, não estamos em condições de fazer grandes exigências.

RPD: O senhor considera a hipótese ser vice de algum deles?
AV:
 Eu sempre me movo por um sentimento de missão. O que for necessário para mover um país, pode contar com meu esforço. Qualquer esforço. Tenho hoje uma demanda gigantesca, no meu estado , de candidatura ao governo, porque literalmente meu estado é governado pelo mesmo grupo há 30 anos, e os resultados são péssimos. Conseguimos o fenômeno de ser o único estado da Federação com crescimento negativo, em 12 anos. É muito complicado, mas estou disponível para qualquer missão de que me encarregarem.


RPD: De que maneira o senhor vê a relação entre a conjuntura política internacional e a política brasileira, no cenário para 2022?
AV:
 O cenário internacional sinaliza algo que é comum para o Brasil, um sentimento de desconforto com o autoritarismo que chegou com essa nova direita. É isso que acho que o Brasil repete. Mas o que não vejo o Brasil repetir, por conta da fragmentação partidária, é a identificação de alternativas efetivas. O cenário de hoje aponta Lula e Bolsonaro com um piso na faixa de 20%, que é um piso muito elevado, de intenção de votos. No centro, haverá três ou quatro candidaturas fragmentadas e dificilmente passando de um teto de dez, doze. Aí vêm Ciro, Mandetta, se é que já podemos excluir o Luciano Huck. Não consigo ver estímulos partidários para romper essa separação, quando precisamos de uma alternativa de direita, ou de pelo menos de centro-direita, que fragmente a base do Bolsonaro. Minha visão é a de que precisamos de um candidato lavajatista, que não seja alucinado, para agitar as bandeiras fora das bases do bolsonarismo. Caso contrário, esses votos terminarão com Bolsonaro, por falta de opção e ou rejeição ao Lula, que é o pior cenário possível.

“Esse exercício público de reconhecimento do erro é importante, amadurece o sentido de cidadania. Continuo não querendo votar no PT, mas não posso ter uma pessoa no nível de despreparo do Bolsonaro”

A dimensão internacional é importante, sinaliza que essa onda autoritária não é necessariamente permanente, mas o Brasil tem essa dificuldade da fragmentação partidária, o fisiologismo violento, os incentivos que são perversos. Muitos partidos vinculam candidaturas ao parlamento, ao fundo partidário. É um ciclo vicioso, negativo. Confesso que não estou extremamente animado com o cenário que se descortina. Será difícil confrontar PT e Bolsonaro, duas máquinas de destruição, que usam as mesmíssimas ferramentas, desinformação, fake news, impulsionamentos, rede suja, contatos com imprensa etc. Os que estão no centro, inibidos, não usam nada disso, nem devem usar, mas ficam encurralados. Janelas, como a da CPI, dão alguma visibilidade para o centro, mas, ainda assim, nos jornais televisivos mais influentes, as vozes reproduzidas todas as noites à família brasileira costumam ser as dos parlamentares do governo e do PT. Mais recentemente, começou-se a ouvir a voz dos parlamentares independentes e, ainda assim, dentro de modelos polarizados de discussão, em geral, mais fáceis de apreender.

RPD: O senhor não incluiu os nomes de Doria, Sergio Moro e Tasso Jereissati em suas análises. Não comentou tampouco o possível impacto que poderá ter a reaproximação entre os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula. Talvez ainda coubessem alguns comentários sobre o Kassab e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Essas figuras podem ser excluídas de uma possível candidatura de centro-direita?
AV:
 De forma alguma. A começar pelo João Doria, governador de São Paulo, onde vem fazendo boa gestão, ele não pode ser descartado. O problema dele é a construção política que vem fazendo, associada à máquina de difamação do bolsonarismo e do petismo. Isso tem gerado elevada rejeição, rejeição, a meu ver, artificial e injusta. Doria teve a coragem de propor e defender ousado programa de vacinação, que já beneficiou ampla parcela dos brasileiros, apoiado por equipe de trabalho primorosa. Só que sua confrontação aos dois eixos da política brasileira pode não o ajudar a apresentar-se como uma terceira alternativa, tanto mais porque ele é do mesmo partido do Fernando Henrique, que acaba de fazer um movimento político que me parece precipitado.

Todos estamos ansiosos para tirar o Bolsonaro, um fenômeno inaceitável, um risco para a democracia, concordo, mas talvez ainda não signifique que devesse fazer aceno tão firme na direção do Lula, porque, para muitos, o líder petista não representa coisa muito melhor do que o Bolsonaro. O fato de o autoritarismo do Lula não ser violento não me conforta. O processo de aparelhamento das instituições, a destruição das instituições, não começa com o Bolsonaro, começa com o PT, de maneira feroz.

Penso que essa candidatura de direita ou centro-direita tem de ser de alguém que se amolde ao perfil que a parcela significativa do eleitorado de direita busca no Brasil. Não acredito que o Rodrigo Pacheco se enquadre nesse perfil, é um cara qualificado, jovem, inteligente, bem preparado, vem de um grande estado , dado importante para quem quer nacionalizar seu nome – Minas Gerais constitui, sem dúvida, uma vantagem estratégica. Mas ele me parece mais ligado literalmente à política mineira, muito bastidor, muita calma, e só se movimenta na boa. O Kassab muito menos simboliza aquilo que esse eleitor a que me estou referindo deseja. Seguramente, não. Infelizmente, perdemos o Major Olímpio. Era uma figura da base paulista do Bolsonaro, que obteve 9 milhões de votos. Sempre foi muito correto nas relações com os senadores e, a despeito de inúmeras discordâncias, poderia ser um interlocutor confiável para avançar no xadrez das eleições de 22.

Para mim, o mais importante seria tentar rebaixar o piso do Bolsonaro. Rebaixar o piso do Lula me parece altamente improvável, porque o Lula, por sua história, por seu currículo, está mais bem colocado para ampliar alianças, tecer coligações, com o Boulos, por exemplo, cujos eleitores mais afinados com a esquerda ética haverão, em seu momento, de se compor como o PT. Por outro lado, rebaixar o piso do Bolsonaro pode resultar mais factível. Nada é fácil, ele já está com o receituário do bolo na mão, receituário prescrito pelo Valdemar da Costa Neto e o Ciro Nogueira, que entoam a proposta de auxílio de 600 reais ano que vem, como se assim desse para correr para o abraço no segundo turno.

“Dentre os pecados de Bolsonaro, a incompetência talvez seja o mais grave. É um governo profundamente incompetente, em quase todas as áreas. Olhem a destruição que seu governo está fazendo na educação, vai penalizar toda uma geração”

Como disse, é mais importante tentar tirar voto do Bolsonaro, mas não vejo hoje movimentação nesse sentido. Vejo uma movimentação, do centro, que caminha na direção da centro-esquerda, segmento em que se encontram bons nomes se arrastando na faixa de três, quatro pontos percentuais. Só que esses potenciais candidatos não dialogam com um público sensível ao discurso da lava-jato, cuja trajetória, com erros e acertos, ainda constitui bandeira relevante no processo de escolha de candidatos. Mandetta, Huck, Leite nunca foram surpreendidos falando do tema. Entendo que a porta para o Moro esteja fechada. Se não tivesse vocação para a política, não deveria ter entrado em cena.

Considero, em resumo, que os políticos que estão pensando em ocupar um espaço no segundo turno têm de dialogar com esse público, senão vai falar com quem, nessa loteria macabra em que se pode transformar a eleição de 22, entre a turma do Lula e a turma do Bolsonaro?


Alessandro Vieira é senador (Cidadania-SE), gaúcho criado em Sergipe desde 1984, tem 45 anos, é casado e tem 03 filhos. É delegado da Polícia Civil em Sergipe há 19 anos, com atuação em áreas como proteção a minorias, combate à corrupção e à lavagem de dinheiro, e repressão a homicídios. Foi Superintendente da Polícia Civil de Sergipe por 14 meses, implantando uma política dura de enfrentamento à corrupção, com prisões e indiciamentos de políticos e grandes empresários, além da recuperação de ativos. Líder RenovaBR e liderança cívica do Movimento Acredito, é Líder do Cidadania no Senado e foi eleito Senador da República por Sergipe (2019 – 2026) com 474.449 votos totalizados (25,95% dos votos válidos).

Saiba mais sobre os entrevistadores

Caetano Araújo é graduado em Sociologia pela Universidade de Brasília (1976), mestre (1980) e doutor (1992) em Sociologia pela mesma instituição de ensino. Atualmente, é diretor-geral da FAP e consultor legislativo do Senado Federal. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica e Sociologia Política.

Alberto Aggio é historiador, professor titular da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e responsável pelo Blog Horizontes Democráticos.

Arlindo Fernandes de Oliveira é advogado, especialista em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Público, IDP, especialista em Ciência Política pela Universidade de Brasília, UnB, bacharel em direito pelo Uniceub. Foi assessor da Câmara dos Deputados e da Assembleia Nacional Constituinte (1984-1992), analista judiciário do Supremo Tribunal Federal (1992-1996) e assessor da Casa Civil da Presidência da República (1995). Professor de Direito Eleitoral no Instituto Legislativo Brasileiro, ILB, desde 2004. Desde 1996, consultor legislativo do Senado Federal, Núcleo de Direito, Área de Direito Constitucional, Eleitoral e Processo Legislativo.

André Amado é escritor, pesquisador, embaixador aposentado e diretor da revista Política Democrática Online. É autor de diversos livros, entre eles, A história de detetives e a ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza.

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