RPD || Editorial: Esticar a corda

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*Editorial da Edição 32 da Revista Política Democrática Online

Dois são os fatores principais a determinar a qualidade da atmosfera política atual. Em primeiro lugar, o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar responsabilidades sobre erros e omissões acontecidos no combate à pandemia.  

Vêm à tona, dia após dia de trabalho, a extensão dos erros cometidos, assim como sua relação direta com o crescimento assustador do número de casos e de óbitos no país. Procedimentos corretos foram ignorados ou ostensivamente desencorajados, ao passo que fórmulas comprovadamente ineficazes, quando não contraproducentes, foram incentivadas por representantes do governo federal. Tudo isso em transmissão direta pela televisão do Senado Federal, que atinge recordes de audiência. 

A continuidade dos trabalhos da Comissão sinaliza tendência de queda nos percentuais de aprovação do governo, cujo primeiro movimento já foi capturado pelas pesquisas. A reação governista a essa tendência constitui o segundo fator relevante que pesa sobre o clima da política hoje.  

Vimos, há pouco tempo, o General Pazzuello responder sem convencer, em longa arguição na Comissão Parlamentar de Inquérito. Poucos dias depois, vimos o mesmo personagem num cortejo político organizado em apoio ao Presidente da República, no Rio de Janeiro, na condição de orador. 

Sabemos todos que a manifestação política é vedada aos militares da ativa, a bem da democracia e da ordem pública. A violação dessa regra é considerada quebra da disciplina, que deve necessariamente acarretar a aplicação de alguma punição, dentro do rol de penalidades previstas. Não foi o que ocorreu. Inexplicavelmente, no caso do General Pazzuello, o Comando do Exército decidiu aceitar os argumentos apresentados pela defesa e isentar o faltoso da punição devida. 

Desde a eleição, manifestantes e acólitos governistas submetem o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal a críticas desqualificadoras, advogando a subordinação dos demais Poderes da República ao Executivo. A manifestação política impune do general Pazzuello acrescenta um novo alvo na sua batalha permanente contra a ordem constitucional: a disciplina militar, fundamento da democracia e da ordem pública. 

A intenção é cristalina. Semear a anarquia hoje, para amanhã colher os frutos do autoritarismo.  

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