PD #49 – Jarbas de Hollanda: Reformas versus corporações e populismos. Agora e no embate maior de 2018

Deixada para trás a segunda denúncia do ex-chefe da Procuradoria Geral da República, Rodrigo Janot,  contra  o mandato do presidente Michel Temer, e superados os maiores riscos institucionais por ela gerados, temos  à  frente  –  daqui até às eleições do próximo ano – um complexo e tenso cenário dominado pelo confronto em torno  de  medidas  e  propostas  para enfrentamento da aguda crise fiscal do  país  e  para reformas  da economia entre seus apoiadores e forças corporativas e populistas (de apelo esquerdista ou direitista), com reações agressiva- mente contrárias.
Foto: Beto Barata/PR
Foto: Beto Barata/PR

Deixada para trás a segunda denúncia do ex-chefe da Procuradoria Geral da República, Rodrigo Janot,  contra  o mandato do presidente Michel Temer, e superados os maiores riscos institucionais por ela gerados, temos  à  frente  –  daqui até às eleições do próximo ano – um complexo e tenso cenário dominado pelo confronto em torno  de  medidas  e  propostas  para enfrentamento da aguda crise fiscal do  país  e  para reformas  da economia entre seus apoiadores e forças corporativas e populistas (de apelo esquerdista ou direitista), com reações agressivamente contrárias.

Tais reações à agenda reformista  (corretamente  reassumida como prioritária pelo presidente da República), que vão juntar grande parte da elite do funcionalismo com os autointitulados “movimentos sociais”, a rigor antissociais, terão seus alcance e legitimidade esvaziados pela crescente evidência do imperativo de respostas – duras mas essenciais – à dramática crise fiscal legada pelo lulopetismo ao atual governo: de  uma  dívida  pública  bruta  que aumenta R$ 50 bilhões, a cada ano, até a explosão da criminalidade (sobretudo mas não só no Rio de Janeiro) como um dos múltiplos efeitos dessa crise nos governos das três esferas político-administrativas.

A cobrança das referidas respostas vai passando a ser feita não apenas pelo conjunto do empresariado mas também por muitos segmentos da população, de par com um progressivo reconheci- mento dos ganhos já conseguidos: o fim da recessão com um PIB positivo, a queda da inflação e dos juros básicos, reversão do desem- prego, o desmonte do custosíssimo e corrupto gigantismo estatal, com o saneamento da Petrobras e a privatização da Eletrobras.

Ignorando os enormes custos econômicos, sociais e éticos da desastrosa herança dos governos petistas e na contramão dessa cobrança, o ex-presidente Lula, em suas caravanas de “perseguido do juiz Sérgio Moro”, propõe um referendo para anulação das medidas de ajuste fiscal, como o teto de gastos estatais, e das reformas já institucionalizadas e em tramitação no Congresso, como a do Ensino Médio, a Trabalhista, a Tributária, a da Previdência. Anulação também proposta por Ciro Gomes e outros igualmente empenhados em substituir Lula como candidato após sua esperada condenação em 2ª instância, entre eles o ultrarradical Guilherme Boulos.

O conflito entre uma agenda modernizadora do país e a de uma volta ao populismo estatizante e inflacionário passará a configurar-se como predominante eixo de polarização no embate presidencial de 2018. Num contexto em que a convergência, conclusiva, em favor do candidato mais competitivo do campo reformista se dará num processo tenso e demorado, sujeito a influências e desdobramentos das investigações da Lava-Jato. E envolvendo legítimas disputas internas nos principais partidos e entre estes e movimentos de setores empresariais, de forte teor reformista, fortalecidos pelo elevado déficit de credibilidade que afeta significativamente os primeiros. Os quais, porém, deverão prevalecer, apoiados sobre- tudo nas regras partidárias e eleitorais estabelecidas.

A configuração (do referido eixo) começa a evidenciar-se no intenso debate sobre as MPs publicadas no Diário Oficial da União, de 31 de outubro (que vão garantir ao Tesouro Nacional R$ 12,6 bilhões de recursos extras, com economia de despesas e aumento de receita) e a retomada da PEC da Previdência (na tentativa da aprovação de pontos básicos do relatório produzido no Senado, meses atrás).

O enfrentamento decidido da crise fiscal, de par com a proposta do Executivo dos critérios de privatização da  Eletrobras,  motivarão, de  um  lado,  agressivas  reações  corporativas  e  esquerdistas.  E, de outro, deverão favorecer a reafirmação de posturas reformistas de grande parte da bancada de deputados do PSDB, bem como   da do PPS e de parlamentares de outros partidos com posturas similares que – a meu ver, compreensivelmente mas equivocada- mente – posicionaram-se pelo  acolhimento  da  denúncia  da  PGR  de Janot contra o presidente.

Quanto ao oposicionista Jair Bolsonaro certamente tentará, nesse debate, combinar a capitalização do aumento da criminalidade (que é seu forte) com votos contrários às MPs restritivas de ganhos da elite do funcionalismo.

Privacy Preference Center