O Globo: Em Davos, Moro fala sobre corrupção mas evita comentar caso Queiroz

Ministro da Justiça rejeitou a ideia de que o governo Bolsonaro possa fazer populismo sobre o assunto.
Foto: Valeriano Di Domenico
Foto: Valeriano Di Domenico

Ministro da Justiça rejeitou a ideia de que o governo Bolsonaro possa fazer populismo sobre o assunto

Por Assis Moreira, de O Globo

DAVOS, SUÍÇA — O ministro da Justiça, Sergio Moro, rejeitou nesta terça-feira eventual percepção de que o governo Jair Bolsonaro pode fazer populismo sobre corrupção e defendeu um pacto empresarial no Brasil contra subornos. Em sua primeira participação no Fórum de Davos, na sessão sobre como empresas, governos e sociedade civil podem restaurar a integridade e confiança nas lideranças, Moro foi incisivo ao criticar a cultura da corrupção no Brasil.

No debate, o professor suíço Mark Pieth, que participa de ações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra suborno, disse que sentia um certo desconforto com governos populistas que acenam com a bandeira de combate à corrupção e, uma vez eleitos, não fazem nada contra, decepcionando os eleitores. Ele citou como exemplo Silvio Berlusconi, da Itália.

A representante de Transparência Internacional, Delia Ferreira Rubio, acrescentou que “‘populistas tomam a narrativa da corrupção, mas não tem uma agenda real, só o discurso contra a corrupção”. No debate, Moro observou que a situação com Berlusconi era diferente, porque ele sequer respeitava a separação de poderes e estava envolvido em muitos casos.

Caso Queiroz
Mais tarde, ao ser indagado sobre o risco de o governo Bolsonaro ser afetado por investigações em torno de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro, o ministro foi incisivo.

— O governo tem discurso forte contra a corrupção e vem adotando práticas sobre algo que não foi feito em 30 anos no Brasil, que é não vender posições ministeriais na barganha pelo poder. E nomeou pessoas técnicas. O compromisso do governo é forte contra a corrupção— disse Moro.

Sobre o caso Queiroz, Moro retrucou:

— Não me cabe comentar sobre isso, mas as instituições estão funcionando.

Em sua participação no debate, Moro destacou que o Brasil é um bom exemplo de como a corrupção generalizada mina a confiança. Ele relatou que pagar propinas tinha se tornado um comportamento normal e que os envolvidos costumavam dizer que era a “regra do jogo”. Moro destacou também que o Brasil tem tradição de impunidade contra corrupção. Mas algo mudou no Brasil, segundo ele.

— Mas precisamos de uma reforma geral para reduzir incentivos à corrupção.

Segundo o ministro, setor privado precisa se unir para evitar irregularidades.

— A corrupção generalizada foi ruim não apenas para a confiança pública, como também minou a competição leal no mercado — apontou o ministro. — Empresas pagaram propina para obter vantagens em contratos públicos. O setor público tem grande responsabilidade nisso. E o setor privado deve também se unir para censurar os que tomam passos errados— afirmou.

Moro mencionou iniciativa na Sicília quando um grupo de empresas se uniu para recusar pagamentos à Máfia.

—Talvez algo assim poderia funcionar no Brasil, para assegurar concorrência leal — disse.

Indagado se apresentaria algo nesse sentido, Moro confirmou o interesse em impulsionar “um pacto empresarial contra a corrupção”. Ele ressalvou que pode estimular, pelo discurso, mas não há plano concreto ainda sobre como o governo pode levar a iniciativa adiante.

Participantes do debate em Davos destacaram a importância da tecnologia para denunciar subornos. O sentimento geral é de que a transparência nos setores público e privado é essencial na luta contra a corrupção.

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